ROBERT SIODMAK E SEUS FILMES NOIRS III

Existiram poucos filmes na filmografia de R. Siodmak que foram realizados com uma independência real, tanto sob o ponto de vista da elaboração do argumento como da filmagem. Baixeza / Criss Cross / 1948, beneficiou-se de uma concordância íntima do estilo, do assunto abordado e da personalidade do cineasta e foi a sua obra-prima, o filme noir mais trágico de todos.

Seu tema é o aviltamento de um homem fraco e apaixonado. Steve Thompson (Burt Lancaster) retorna a Los Angeles, após ter viajado por todo o país, para esquecer Anna (Yvonne De Carlo), sua ex-mulher. Ainda obcecado por ela, Steve vai à boate que costumavam frequentar. Fica surpreso ao vê-la na pista de dança e percebe seu relacionamento com Slim Dundee (Dan Duryea), um gângster. Encorajado por Anna, e apesar das advertências por parte de seus familiares e do amigo detetive, Peter Ramirez (Stephen MacNally), Steve começa a se aproximar de novo da ex-mulher.

Yvonne De Carlo e Burt Lancaster em Baixeza

Yvonne de Carlo e Burt Lancaster em Baixeza

Um dia, Anna não aparece. O garçom da boate informa Steve de que ela está em Yuma e se casou com Dundee. Seis meses mais tarde, Steve avista Anna na estação ferroviária, onde acabara de se despedir de Dundee. Anna diz que se casou com Dundee devido à hostilidade de sua família e porque Ramirez ameaçou prendê-la, se não saísse da cidade. Conta também que Dundee costuma bater nela, mostrando as marcas de ferimentos nas costas.

Burt Lancaster e Yvonne De Carlo em Baixeza

Dundee os surpreende na casa de Steve e este improvisa uma explicação: diz que tem planos para roubar a empresa de transporte de valores em que trabalha e pede o auxílio de Dundee. Combinam que o dinheiro roubado ficará com Anna, até que possam se encontrar para repartí-lo. Steve pretende pegar sua parte e fugir com Anna enquanto Dundee planeja matá-lo durante o roubo. No decorrer do assalto, o velho Pop (Griff Barnett), companheiro de Steve no carro-forte, é morto. Steve reage e, apesar de ferido, consegue recuperar metade do dinheiro, passando por herói.

Alan Napier, Yvonne De Carlo, Burt Lancaster e Dan Duryea em Baixeza

Dundee manda raptar Steve no hospital, pois quer saber do paradeiro de Anna. Steve consegue subornar seu raptor para que o leve até a cabana perto do mar em Palos verdes, onde Anna está escondida. Aterrorizada com a presença de Steve, pois sabe que Dundee virá atrás deles, a jovem se prepara para abandoná-lo, ferido e amargurado. Antes que possa partir, levando o dinheiro consigo, Dundee chega. Ele mata Steve e Anna. Ao sair da casa, ouve o som das sirenes dos carros de polícia que se aproximam.

Yvonne De Carlo e Burt Lancasrer em Baixeza

Cena final de Baixeza

O filme começa de uma maneira bastante original. A câmera sobrevoa o aeroporto todo iluminado de Los Sngeles, vai descendo como um pássaro, e depois segue em direção a Steve e Anna, que se abraçam entre dois carros na escuridão de um estacionamento. O espectador é introduzido repentinamente no curso da ação, tomando logo conhecimento do triângulo amoroso. (“Dei uma fugida, enquanto ele estava dançando”… “É melhor voltar, antes que ele comece a procurar por você”… “Depois que tudo acabar e nós estivermos seguros, seremos só eu e você. Do jeito que deveria ter sido desde o princípio”), que é a chave de todo o drama. No dia seguinte, Steve dirige o carro-forte para San Raphaelo, onde vai ocorrer o assalto e, durante o percurso de quarenta minutos, recorda o passado.

Yvonne De Carlo e Burt Lancaster em Baixeza

O diretor R. Siodmak soube dominar um enredo de estrutura complexa e criar uma esplêndida atmosfera de amargura e fatalismo, complementando muitas vezes a narração na primeira pessoa com uma quantidade de planos subjetivos que acentuam alguns pontos temáticos muito importantes. Por exemplo, a solidão de Steve é expressa em uma tomada na qual surpreende o irmão beijando a noiva, na visão dele, sentado no sofá da sala de visita.

Robert Siodmak dirige Yvonne De Carlo e Burt Lancaster em Baixeza

Mais tarde, R. Siodmak usa inúmeros planos subjetivos para obrigar a platéia a participar da situação aflitiva e de suspense do protagonista, aguardando a vingança de Dundee. Imobilizado na cama do hospital, Steve percebe, pela porta entreaberta, a presença de um homem no corredor. A enfermeira diz que é um visitante, chamado Nelson. Steve manda chamá-lo. Nelson (Robert Osterloh) se apresenta como caixeiro-viajante e diz que sua mulher foi ferida em um acidente. Steve pede-lhe que passe a noite com ele. Nelson senta-se dentro do quarto e parece que vai adormecer. Assim que a enfermeira sai, ele se levanta e volta com uma cadeira de rodas. Aproximando-se do leito, acorda Steve e se identifica como mensageiro de Dundee. Corta as cordas do contrapeso que sustenta o braço engessado de Steve e a imagem sai de foco, sugerindo um desmaio.

Robert Osterloh e Burt Lancaster em Baixeza

No seu retorno a Los Angeles, Steve tenta enganar os próximos e a si mesmo, dizendo que já se libertou da ex-mulher, mas ali está ele, triste e desamparado, procurando por ela na boate, onde sabe que vai acabar encontrando-a. Até que o desejo se concretiza em uma sequência notável, na qual mostra toda a fascinação que Anna exerce sobre ele: Steve entra no Rondo Club. Vemos os pares dançando uma rumba executada pela orquestra de Esy Morales, Esy tocando sua flauta travessa, Anna rodopiando na pista, linda e sensual, outro plano de Esy, e finalmente Steve, em plano americano – e depois em primeiríssimo, durante um intercutting – , inteiramente subjugado.

Yvonne De Carlo e Tony Curtis dançam a rumba em Baixeza

Steve confunde sua própria passividade com as maquinações do destino. “Estava escrito nas cartas ou foi o destino, ou o azar, ou o que você quiser”, diz ele no começo do retrospecto. “Estava nas cartas, e não havia como impedí-lo”, conforma-se, quando recebe a notícia do casamento de Anna. É a convenção noir do homem vítima de um destino inexorável. Porém, na realidade, o destino não teve nada a ver com os problemas de Steve. Podem ter ocorrido certas coincidências, mas significaram muito pouco. Não foi o destino que fez Steve perder sua força de vontade, que está sempre se desintegrando na presença de Anna. Ele simplesmente não consegue se libertar de seu encanto.

Cena do Assalto em Baixeza

Cena do assalto em Baixeza

A sequência do assalto é estilizada, deliberadamente irrealista. Uma câmera diretamente do alto mostra o carro-forte dirigindo-se para o seu destino. Quando Steve e Pop saltam com as sacolas de dinheiro, as bombas de gás lacrimogêneo explodem. Uma nuvem sufocante invade toda a rua e Dundee e seus homens colocam suas máscaras. Soa o alarme, que não vai parar de tocar durante toda a sequência. Dundee surge do meio da fumaça e dispara vários tiros contra Pop. Steve vê Dundee matar seu amigo e muda de idéia. Ele alveja um bandido e tenta pôr as sacolas em segurança dentro do carro-forte. Dundee atira nele. Os dois entram em luta corporal. Steve fere Dundee na perna e depois recebe um tiro no ombro. Ouvem-se as sirenes dos carros de polícia. Os bandidos fogem. Toda essa movimentação, com os homens meio perdidos no nevoeiro de gás, alguns com as estranhas máscaras contra gases, parece um sonho febril, um estranho balé, encenado com muita noção de cinema.

Em 1949, Dore Schary, chefe de produção da MGM, acatou a idéia de um de seus produtores, Gottfried Reinhardt (um dos dois filhos de Max Reinhardt), de entregar a R. Siodmak a realização de O Grande Pecador / The Great Sinner, um “filme de prestígio” de orçamento vultoso, baseado em um grande clássico da literatura, “O Jogador”, de Fiodor Dostoievski.

Ava Gardner e Gregory Peck em O Grande Pecador

O filme é uma evocação hollywoodiana suntuosa do mundo do jogo e dos jogadores. Dirigindo-se a Paris, um escritor russo (Gregory Peck), encontra no trem uma mulher fascinante (Ava Gardner) e decide interromper sua viagem inicialmente prevista, a fim de não perdê-la de vista em Wiesbaden. Ali, ela reencontra seu pai, um general (Walter Huston), que uma paixão devoradora pelo jôgo o leva todas as noites ao cassino da cidade. O militar, quase arruinado, é por assim dizer obrigado a ceder a mão de sua filha para o diretor do cassino (Melvyn Douglas). Decidido a salvar a linda mulher dessa triste sina, o romancista tenta também sua chance no jôgo e fica rapidamente possuído por essa paixão infernal.

Gregory Peck, Ava Gardner e Melvyn Douglas em O Grande Pecador

Ava Gardner, Walter Huston, Ethel Barrymore e Gregory Peck em O Grande Pecador

Cena de O Grande Pecador

A adaptação não foi totalmente feliz – houve certa confusão durante a elaboração do roteiro, interferência por parte do produtor que ordenou cortes em sequências inteiras bem como a introdução de cenas suplementares feitas por outros diretores (provavelmente Jack Conway e / ou Mervyn LeRoy), e a imposição de um final feliz; porém, apesar dessas desvantagens, R. Siodmak conseguiu retratar muito bem a fauna de possuídos que assediam a roleta, destacando-se os momentos onde arriscam seus destinos nas apostas desesperadas. Sob este aspecto, a morte da velha senhora mãe do general (Ethel Barrymore), na mesa de jôgo, é um momento antológico.

Depois da MGM, R. Siodmak foi solicitado pela Paramount, onde o produtor Hal B. Wallis lhe ofereceu o projeto de A Confissão de Thelma / The File on Thelma Jordon / 1950, que seria o seu derradeiro filme noir.

Barbara Stanwick e Wendell Corey em A Confissão de Thelma

Thelma Jordon (Barbara Stanwick) entra na Delegacia de Polícia de Los Angeles, para dar parte de uma tentativa de furto. Cleve Marshall (Wendell Corey), assistente do promotor público (Barry Kelley) está ali diante do inspetor Scott (Paul Kelly) bebendo, para esquecer as mágoas conjugais. Depois que Scott sai, Cleve convida Thelma para um drinque e continuam saindo juntos às escondidas, enquanto sua esposa Pamela (Joan Tetzel) e o filho estão ausentes de férias em uma praia. Thelma diz a Cleve que vive separada do marido, Tony Laredo (Richard Rober) e mora com sua tia rica, Vera (Getrude Hoffman). Uma noite, Vera aparece morta. Thelma pede que Cleve venha imediatamente e o mordomo de Vera ouve por uma extensão a conversa entre os dois. Quando Cleve chega, Thelma revela que certa vez falou com Tony sobre um colar de esmeraldas caríssimo da tia, e receia que ele pode tê-la assassinado. Entretanto, as suspeitas recaem sobre ela, pois Tony tem um alibi indiscutível. Ao investigar o caso, Scott não consegue identificar o autor do misterioso telefonema, que foi apelidado de “Mr. X”, e que o mordomo viu deixando a cena do crime. Acreditando na inocência de Thelma, Cleve contrata anônimamente um advogado, Kingsley Willis (Stanley Ridges), e faz com que ele requeira a desqualificação do promotor público, para que ele, Cleve, possa assumir a tarefa de acusação. Cleve providencia um libelo propositadamente inepto, conseguindo absolver Thelma. Agora, herdeira de uma grande fortuna, ela volta a atrair o interesse de Tony, que nunca fôra seu marido, mas sim seu amante. Cleve faz uma visita final a Thelma durante a qual Tony obriga-a a admitir que eles enganaram Cleve e que ela matou a tia. Tony derruba Cleve e parte com Thelma. Ela se separa de Cleve, embora o ame e, desesperada, agride o amante enquanto este dirige o carro, que se precipita em uma ribanceira. No hospital, onde está agonizando, Thelma conta toda a verdade para Scott, porém se recusa a identificar “Mr. X”. Ela morre, e o promotor percebe que Cleve é “Mr. X”. Cleve se demite e pede a Scott, que ele informe Pamela de que ele a verá mais tarde.

Cena de A Confissão de Thelma

Cena de A Confissão de Thelma

O filme dispõe de todos os ingredientes para ser considerado um noir autêntico: mulher fatal destruindo a vida de um homem até então íntegro, corrupção, duplicidade de aparências, pessimismo, iluminação expressionista. Entretanto, Thelma é uma mulher fatal diferente. Ela subjuga o ingênuo Cleve, para assegurar o sucesso de um plano criminoso em proveito próprio e de um outro homem – mas se apaixona por sua vítima. Não é tão fria como Phyllis Dietrich, que a mesma Barbara Stanwyck interpretou em Pacto de Sangue / Double Indemnity / 1944. Age impulsivamente. Não é de todo má, “Passei a vida toda lutando entre o Bem e o Mal. Willis disse que eu era duas pessoas. Será que não podem deixar só uma parte de mim morrer? “, diz ela a Cleve no leito do hospital, pouco antes de expirar. O espetáculo sofre de alguma monotonia no trecho inicial, mas depois se desenvolve melhor, reconhecendo-se a força do estilo de R. Siodmak em algumas cenas, como por exemplo, o crime e depois o pânico da assassina e do seu protetor ante a aproximação do mordomo e o plano-sequência com a grua que segue Thelma da prisão ao tribunal através de uma multidão que a acompanha.

Os outros filmes americanos de R. Siodmak antes de retornar à Europa, foram: Deportado / Deported / 1950, O Direito de Viver / The Whistle at Eaton Falls / 1951 e O Pirata Sangrento / The Crimson Pirate / 1952.

Jeff Chandler e Marta Toren em Deportado

Rodado na Itália para Universal-International, Deportado, mostra como um gângster (Jeff Chandler) extraditado dos Estados Unidos para Nápoles, planeja uma maneira de trazer os cem mil dólares que roubara e nunca fôra recuperado pela polícia: ele manda a pessoa que está escondendo seu dinheiro, usá-lo para comprar alimentos e medicamentos e enviá-los para a aldeia onde fôra criado, a fim de que possa depois desviar a carga e revendê-la muito mais caro no mercado negro. Entrementes, ele se enamora de uma viúva aristocrática (Marta Toren) responsável pelo abastecimento local, que o apresenta como um benfeitor da cidade. Diante disso, muda de idéia e tem que enfrentar um ex-parceiro (Richard Rober), que quer a sua parte no roubo e os mafiosos locais.

Lloyd Bridges e Lenore Lonergan em O Direito de Viver

Dorothy Gish em O Direito de Viver

Rodado em New Hampshire para o produtor Louis de Rochemont (apoiado pela Columbia), O Direito de Viver, focaliza um conflito social entre operários e o patronato da costa leste. Um líder de sindicato (Lloyd Bridges) que a viúva de um industrial (Dorothy Gish) promoveu a presidente de uma pequena fábrica de plástico – única indústria em atividade em uma região duramente perturbada por greves – por força de um aumento dos custos de produção e das ferramentas arcaicas da firma, é obrigado a despedir operários temporariamente. Estes, excitados pelos sindicalistas à serviço da concorrência, ameaçam destruir as instalações da fábrica; porém após alguns confrontos entre trabalhadores leais à empresa e grevistas e a utilização de um processo de fabricação de plástico mais eficiente a paz social é reinstaurada.

Nick Cravat e Burt Lancaster em O Pirata Sangrento

Burt Lancaster e Eva Bartok em O Pirata  Sangrento

Rodada na sua maior parte em exteriores na Europa para a Hetch-Norma Pictures e distribuido pela Warner Bros., O Pirata Sangrento, conta as façanhas de um pirata do século XVIII (Burt Lancaster) no Mar das Caraíbas, que dá apoio a um revolucionário (Frederick Leicester), desafiando um tirano (Leslie Bradley) a serviço do Rei da Espanha, sempre acompanhado nessa aventura por um companheiro fiel (Nick Cravat); no decorrer dos acontecimentos, surgem um inventor bizarro (James Hayter) e a filha do chefe rebelde (Eva Bartok), por quem o intrépido pirata se apaixona.

Burt e Cravat em O Pirata Sangrento

Dos três filmes citados, apenas este último merece destaque pelo bom-humor, eloquência das situações absurdas (acompanhadas de invenções anacrônicas) e capacidade atlética e vitalidade dos dois artistas-acrobatas (Lancaster e Cravat), que conferem um sabor todo especial ao espetáculo.

O derradeiro período da carreira de R. Siodmak, compreende: A Grande Paixão / Le Grand Jeu / 1954, refilmagem do filme de Jacques Feyder; Quando o Amor é Pecado / Die Ratten / 1955; Mein Vater der Schauspieler / 1956; O Diabo Ataca à Noite / Nachts, wenn der Teufel kam / 1957; Dorothea Angermann / 1959; Retrato de uma Pecadora / The Rough and the Smooth (EUA) ou Portrait of a Sinner / 1959 (Inglaterra); Katia / Katia / 1959; Mein Schulfreund / 1960; O Advogado do Diabo / L’Affaire Nina B / 1961; Tunel 28 ou Escape from East Berlin / 1962; Der Schut / 1964; Der Schatz der Azteken Die Pyramide des Sonnengottes / 1964 – 1965; Os Bravos Não se Rendem / Custer of the West / 1967; O Último Romano / Kampf um Roma I – II (Der Verrat) / 1968 -1969.

Em A Grande Paixão / França – Itália, um jovem e brilhante advogado (Jean- Claude Pascal) que, por amor a uma amante indígna (Gina Lollobrigida) cometeu um desfalque, deixa a França, e aguarda em vão na Argélia, que ela se junte a ele. Desonrado e sem dinheiro, alista-se na Legião Estrangeira e encontra uma prostituta (Gina Lollobrigida), muito parecida com a sua amante na taberna de propriedade de uma cartomante (Arletty), que ele e mais dois companheiros frequentam. Lendo as cartas, a cartomante prevê a morte de seus dois companheiros, um (Raymond Pellegrin) morto por ele acidentalmente e o outro (Peter Van Eyck) durante uma patrulha. Desmobilizado, o rapaz decide voltar para a França na companhia da sósia de sua amante, que o ama sinceramente. Entretanto, depara-se com a antiga companheira, que o rejeita mais uma vez. Desesperado, ele deixa a sósia partir sozinha, e se reengaja. Antes de se unir à sua unidade, a cartomante faz uma “grande cartada”, na qual aparece o signo da morte. Ele parte voluntariamente em direção ao seu destino fatal.

Heildemarie Hatheyer e Maria Shell em Quando o Amor é Pecado

Em Quando o Amor é Pecado / República Federal Alemã, uma mulher estéril (Heildemarie Hatheyer), dona de uma lavanderia, com medo perder o marido, que deseja muito ter um filho, o faz acreditar que está grávida. O acaso vem em seu socorro na pessoa de uma jovem polonêsa (Maria Shell) sem dinheiro e sem visto de permanência no país, que está à procura de seu amante que sumira na República Federal da Alemanha e do qual espera um filho. A criança nasce e as duas mulheres concordam que a estéril manterá o recém-nascido como seu filho. Depois, a jovem se arrepende e, pensando que é o seu, rapta o filho doente de uma vizinha, que morre em seus braços. Apavorada pelo rumo dos acontecimentos, a “mãe estéril” intima seu irmão (Curd Jürgens) a dar um jeito para que a jovem “desapareça” de Berlim. O crápula tenta em vão convencer a moça a deixar a cidade e finalmente tenta estrangulá-la; porém durante a luta que se segue, ela consegue se desvencilhar dele e o mata, usando uma pedra como arma. A mãe solteira finalmente recupera seu filho e o marido da mulher estéril consola sua esposa.

Em Mein Vater, der Schauspieler (Meu Pai era Ator) / República Federal Alemã, uma atriz célebre (Hilde Krahl) casa-se com um novato e mais jovem que ela (O. W. Fischer): eles formam um par ideal, festejado pela imprensa, e dividem o cartaz durante alguns anos até o dia em que a atriz tem que ceder seus papéis para uma concorrente mais jovem. Amargurada e enciumada com o sucesso crescente do marido, ela abandona o domicílio conjugal e morre em um acidente na estrada. Inconsolável, seu esposo se entrega à bebida, arruina sua carreira, e acaba tentando o suicídio; mas é o seu jovem filho, até então sacrificado pela ambição dos pais, que salva sua vida, alertando os vizinhos.

Claus Holm e Hannes Messemer em O Diabo Ataca à Noite

Em O Diabo Ataca à Noite / República Federal Alemã, uma série de mortes sádicas permanecem inexplicáveis. Auxiliado por sua secretária (Annemarie Düringer), um comissário (Claus Holm) conduz a investigação. Ele não acredita na culpabilidade de um suspeito que todos os indícios acusam. Sua teoria é defendida pelo chefe da SS (Hannes Messemer) que, por ambição, quer uma solução espetacular, que permita reforçar a repressão. Por ordem de Hitler, as oitenta e duas mortes cometidas devem permanecer secretas. Desmascarado pelo comissário, o verdadeiro assassino (Mario Adorf) não vai a julgamento, porque é nazista e ariano puro. Apesar dos esforços do comissário, o inocente é condenado à morte (e depois libertado e abatido por “tentativa de fuga) e ele, como castigo, enviado para a frente russa enquanto o assassino é liquidado secretamente pela SS.

Ruth Leuwerik e Bert Sotlar em Dorohtea Angermann

Em Dorothea Angermann / Suiça, uma jovem (Ruth Leuwerik), filha de um pastor hipócrita e intolerante (Alfred Shieske), vagueia por uma discoteca, chama um guarda e se acusa da morte do marido. No tribunal, o pastor renega publicamente sua filha, apoiando-se em versículos bíblicos. Ela não reage, e descreve em retrospecto uma existência sem alegria, passada entre a cozinha e o presbitério. Obrigada a casar com sujeito brutal (Kurt Meisel), a jovem resiste, mas ele a estupra, e ela dá a luz uma criança natimorta. A moça então se entrega à bebida enquanto o marido, vilipendiando o dote do pastor, organiza orgias a domicílio. Quando decide ir para Hamburgo com seu antigo noivo – um engenheiro (Bert Sotlar), o marido, ferido no seu orgulho masculino, ameaça-a com uma faca. Ela atira um vaso no crânio dele, matando-o involuntariamente. No julgamento, uma testemunha inesperada inocenta a jovem mulher, que encontra o noivo na saída da côrte de justiça. Seu pai se aproxima dela e lhe pede perdão.

Em Retrato de uma Pecadora / Grã Bretanha, um jovem arqueólogo (Tony Britton) da alta sociedade londrina prestes a partir em expedição ao Oriente Próximo, rompe seu noivado com uma herdeira riquíssima, para seguir uma desconhecida loura e lasciva (Nadja Tiller), que encontrara na rua. Ele descobre que esta criatura é ao mesmo tempo relacionada com um rufião traficante de heroína e com seu antigo patrão (William Bendix), um dono da boate arruinado, que acaba por se suicidar. Todos os esforços do arqueólogo para tirá-la desse meio são inúteis. Desiludido, amadurecido e desprovido de suas economias, o rapaz volta aos braços puros da noiva, deixando seu “anjo perverso” sossobrar na prostituição.

Curd Jürgens e Romy Schneider em Katia

Em Katia / França , na Rússia de 1861 a 1881, ao visitar o Instituto Smolny, o Tzar Alexandre II (Curd Jürgens) conhece a jovem Katia, (Romy Schneider), loucamente apaixonada por ele. Quando o monarca percebe que a ama, julgando este amor impossível, ele a envia a Paris. Alguns anos mais tarde, em visita oficial na capital francêsa, o Tsar revê Katia. Não podendo mais viver sem ela, ele a faz retornar a São Petersburgo e decide esposá-la quando a Imperatriz more. Porém, ferido em um atentado, ele morre nos braços de sua bem-amada.

Em Mein Schulfreund (Meu Colega de Classe) / República Federal Alemã, um funcionário do Correio (Heinz Ruhmann) exerce escrupulosamente o seu trabalho, mas os horrores da guerra o incomodam, e ele resolve escrever uma carta para seu antigo colega de classe Herman Goering (que sempre colava dele nas provas), na qual implora que o poderoso Reichsmarschall use de toda a sua influência para fazer cessar a carnificina nazista. A missiva é interceptada pela Gestapo e o modesto funcionário torna-se um preso político, passível de sofrer a pena de morte. Avisado sobre o incidente, Goering poupa a vida de seu antigo condiscípulo, fazendo com que ele seja declarado um doente mental irresponsável. O problema é que, após o fim da guerra, o funcionário não pode ser reintegrado ao seu trabalho por causa de sua condição de demente. Aí começa sua odisséia tragicômica para contactar as pessoas que poderiam atestar sua sanidade – porém elas estão mortas, presas ou se recusam a testemunhar por medo de atrair a atenção da imprensa sobre seu pasado. Finalmente, seu advogado o aconselha a cometer um delito punível que levará a um novo exame psiquiátrico. A manobra é bem sucedida e o funcionário, condenado com sursis, recebe enfim a consideração e as indenizações a que tem direito.i

Em O Advogado do Diabo / França, Nina B (Nadja Tiller), no enterro do Senhor B (Pierre Brasseur), um ex-condenado, chofer (Walter Giller) e homem de confiança do falecido, introduz a narração através de um retrospecto. Ele relata o suicídio frustrado de Nina B (Nadja Tiller), esposa-objeto do defunto, um poderoso financista da Alemanha após-guerra. O Senhor B dispõe de documentos que comprovam a participação de seus rivais em crimes de guerra e pretende usá-los contra eles. Seus inimigos fazem com que ele seja preso sob pretexto de fraude fiscal e o chofer fica com a pasta contendo os documentos comprometedores sendo exposto aos ataques dos antigos nazistas. Nina torna-se amante do chofer e tenta manobrá-lo para seus próprios fins. Libertado por seu advogado, o Senhor B utiliza as provas em seu poder para obter a capitulação de seus concorrentes, mas seu próprio advogado o trai, e ele, às vésperas de ser novamente preso, tem um enfarte do miocárdio. Ou foi o efeito do veronal que sua esposa teria substituído aos remédios que o marido tomava contra ataques cardíacos? Ninguém saberá.

Christine Kauffman e Don Murray em Tunel 128

Em Tunel 28 / USA – República Federal Alemã, o motorista (Don Murray) de um major da Alemanha Ocidental vê um amigo ser morto, ao tentar atravessar o Muro de Berlim com seu caminhão. Ele é persuadido pela irmã (Christine Kauffman) do falecido, a planejar uma fuga para a Alemanha Ocidental. Com a ajuda de um grupo de pessoas, o rapaz cava um túnel por debaixo do Muro, por onde eles escaparão do jugo comunista. Seus esforços para evitar a suspeita dos guardas da Alemanha Oriental, seu medo de uma traição por parte de vizinhos e a exaustão são apenas algumas das dificuldades encaradas pelos fugitivos.

Lex Barker em Der Schut

Em Der Schut / República Federal Alemã – Itália – França – Iugoslávia, por volta de 1870, na Albânia, um bandido apelidado de “o diabo amarelo”, que se disfarça em um rico mercador de tapetes (Rik Battaglia), espolia os viajantes nas montanhas controladas teoricamente pela administração otomana. Acompanhado de um fiel servidor (Ralf Wolter) e de um aristocrata inglês (Dieter Borsche), o intrépido teutônico “Kara Ben Nemsi”(Lex Barker) parte em busca de um amigo francês sequestrado pelo bandido. Seguem-se cavalgadas, emboscadas, traições noturnas, aldeias incendiadas, orelhas cortadas, etc. até o momento em que a polícia turca, alertada por uma bela cativa (Marie Versini) cerca o refúgio do vilão, que acaba no fundo de um precipício.

Em Der Schatz der Azteken / República Federal Alemã – França – Itália – Iugoslávia, na época da Guerra Civil Americana, um médico alemão (Lex Barker), enviado secreto de Juarez (Fausto Tozzi) junto a Lincoln (Jeff Corey), a fim de obter apoio financeiro na sua luta contra Maximiliano, instalado como imperador do México pelo govêrno francês – no curso de várias aventuras que envolvem seu assistente, um cowboy americano (Kelo Henderson); um capitão traiçoeiro de Juarez (Rik Battaglia); um rico proprietário rural simpático à causa revolucionária (Friedrich von Ledebur) e seu filho pródigo (Gérard Barray); um fabricante de relógios (Ralf Wolter); e uma princesa Azteca (Theresa Lorca) – descobre, nas galerias de uma pirâmide, onde se refugiam os antigos descendentes dos aztecas, o tesouro legendário outrora cobiçado por Cortez.

Robert Shaw em Os Bravos Não se Rendem

Em Os Bravos Não se Rendem / Estados Unidos (rodado na Espanha), após uma brilhante carreira na Guerra Civil, o jovem General George Armstrong Custer (Robert Shaw) vai para o Oeste, acompanhado de sua esposa (Mary Ure), assumir o comando do 7º Regimento de Cavalaria. Ao reprimir os índios que estão se rebelando contra a política do govêrno de reservas territoriais, ele entra em conflito com dois oficiais (Jeffrey Hunter, Ty Hardin), que são simpatizantes da causa indígena, e aperta a disciplina entre seus homens. Mais tarde, Custer recebe uma visita surprêsa do General Sheridan (Lawrence Tierney), que lhe ordena um ataque a uma aldeia cheyenne, para acalmar os políticos de Washington. Custer cumpre a ordem, mas suas tropas massacram de uma maneira selvage mulheres e crianças. Embora ele se recuse a uma aproximação conciliatória com o Chefe Dull Knife (Kieron Moore), Custer conclui que a receptividade do govêrno a interesses privados deve ser controlada, a fim de que a paz seja garantida. Uma patrulha de Custer deserta depois que é descoberto ouro na reserva e ele é obrigado a executar o líder dos desertores (Robert Ryan). Em seguida a uma emboscada dos índios contra uma nova linha férrea que atravessa suas terras, Custer é chamado a Washington. Ele denuncia políticos da administração do presidente Grant, que foram subornados para atuar como porta-vozes da estrada de ferro e de mineradores e, em consequência, é dispensado do seu comando. Ele fica desolado ao saber que seus homens vão marchar contra os índios sem ele. Entretanto, através da diplomacia de sua esposa, Custer recebe permisão para retornar ao Dakota e liderar seus soldados na batalha. Em Little Big Horn suas tropas são dizimadas pelos índios e Custer é o último a morrer.

Orson Welles e Sylva Koscina em O Último Romano

Em O Último Romano / República Federal Alemã – Itália – Rumênia, na corte de Ravenna, capital do efêmero império ostrogodo, o pérfido Cethegus (Laurence Harvey), o “último dos romanos”, encorajado pelo imperador de Bizâncio Justiniano (Orson Welles) e sua esposa Theodora (Sylva Koscina), semeia a discórdia entre as duas filhas do falecido rei Teodorico (Honor Blackman, Harriet Anderson), esperando assim livrar a Itália dos bárbaros. Depois que a côrte de Ravenna foi dividida e enfraquecida pelas intrigas, a cidade de Roma é ocupada à força pelo exército bizantino e depois assediada sem sucesso pelos ostrogodos. A história termina com os protagonistas sendo assassinados, envenenados ou cortados em pedaços em uma das quatro grandes batalhas – quando não se suicidam simplesmente (como Cethegus). Os ostrogodos sobreviventes levam os corpos de seus chefes e se estabelecem, com a ajuda da frota viking, na ilha de Gotland no mar Báltico.

A mudança de ares infelizmente não favoreceu ao cineasta. Como se vê pelos resumos dessas suas quatorze últimas realizações, alguns argumentos eram até bem interessantes e poderiam ter ocasionado bons filmes, porém ele, por cansaço ou apatia, submeteu-os a uma direção pesada, resultando espetáculos monótonos e medíocres, sem nenhum vestígio da plenitude artística, atingida na fase americana de sua carreira. Siodmak nunca esteve no mesmo plano de criadores da sétima arte como Fritz Lang ou Alfred Hitchcock, pois era somente um artesão de muita competência, mas deixou obras marcantes na cinematografia além dos tão elogiados filmes noirs, causando espanto o final melancólico, para não dizer trágico, do seu percurso cinematográfico.

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