Desde os primeiros tempos do cinema os animais foram usados pelos realizadores de filmes, fossem eles verdadeiros ou falsos, construídos por meio de truques. No filme em que o jovem D. W. Griffith estreou como ator, Rescued from an Eagle’s Nest / 1908, aparecia uma águia de mentira que pegava um bebê e voava com ele – Griffith era o lenhador que salvava a criança.
Rescued from an Eagle’s Nest
No início da cena muda os animais selvagens eram falsificados: alguém vestido com uma pele de leão ou de gorila. Porém quando as platéias se tornaram mais sofisticadas, um número extraordinário de animais de todas as espécies, passaram a ser utilizados. Mack Sennett possuia uma das maiores coleções particulares de animais vivos em cativeiro.
Gloria Swanson (ainda uma bathing beauty) e Teddy
Além de Teddy, o cão dinamarquês que dirigia um trem e tinha o seu próprio dublê, Sennett possuia Luke, o companheiro de Fatty Arbuckle nas suas comédias; Props, um cão vadio que apareceu um dia no estúdio, arrancou lágrimas de um bebê, e foi logo contratado; e Cameo, que fumava charutos e bebia gin. Sennett tinha ainda a elefoa Anna May, os leões Numa, Jackie e Duke, o gato Pepper, a galinha Susie, a macaca Josephine – que jogava bilhar e golfe, e conseguia dirigir um carro -; e a gata Pepper, considerada tão esperta que, quando seu parceiro Teddy morreu e puseram um cão parecido com ele como substituto, ela fugiu do palco de filmagem. Astro de mais de 18 filmes, o filme mais famoso de Teddy foi Teddy at the Throttle / 1917, típico das comédias da Keystone. O filme combinava cenas absurdas, inclusive uma corrida contra o tempo para salvar a heroína (a bathing beauty de Sennett, Gloria Swanson) de ser atropelada por um trem.
Fatty Arbuckle e Luke
Além dos cachorros de Sennett surgiram: Sandow, Brownie, Silverstreak, Ranger, Fangs, Thunder, Peter the Great, Dynamite, Lightning, Peter the Second, Fido, Napoleon Bonaparte e outros; porém os mais famosos durante o período silencioso foram a border collie Jean e o pastor alemão Strongheart.
Jean, também conhecida como The Vitagraph Dog (houve outra cadela, Shep, denominada “The Thanhouser Collie”) foi o primeiro astro canino a ter o seu nome no título de seus filmes. Ela era de propriedade de Laurence Trimble, um aspirante a escritor e ator residente no Maine, que se mudou para Nova York em 1906. Trimble escreveu um artigo para uma revista sobre a realização de filmes, que o levou ao estúdio da Vitagraph em Brooklyn. Por acaso ele estava em um palco de filmagem quando o diretor procurava um cão para contracenar com Florence Turner, atriz conhecida como a “Vitagraph Girl”. Trimble sugeriu que seu cão poderia desempenhar o papel, e ele e Jean passaram a integrar a equipe permanente da Vitagraph. Trimble tornou-se um diretor importante na empresa, dirigindo a maioria dos filmes de Florence Turner e John Bunny, assim como os de Jean.
Jean, The Vitagraph Dog
Em dezembro de 1912, Jean deu à luz seis filhotes – dois machos e quatro fêmeas – e foi o assunto de um documentário curta da Vitagraph, Jean and Her Family / 1913. Em março de 1913, Trimble e Jean deixaram a Vitagraph e acompanharam Florence Turner à Inglaterra, onde ela fornou sua própria companhia, Turner Films. Em agosto de 1915, Trimble e seu astro canino retornaram aos Estados Unidos.
Jean morreu em 1916 e Trimble e sua esposa, a dramaturga e roteirista Jane Murfin encontraram outro cão em uma viagem à Alemanha. Eles compraram um pastor alemão chamado Etzel von Oeringen, que teria sido treinado como cão policial e servido à Cruz Vermelha Germânica, mudaram seu nome para Strongheart, e ele se tornou o primeiro maior astro canino do cinema americano.
Strongheart atingiu o estrelato em Chamado Silencioso / The Silent Call / 1921. Ele interpretava um cão chamado Flash. Seu dono, Clark Moran (John Bowers) é apaixonado por Betty Houston (Kathryn McGuire), e quando Clark se ausenta da cidade, Flash, que era metade lobo, vema ser acusado do assassinato de ovelhas e condenado à morte pelos fazendeiros locais. Flash escapa para as montanhas onde encontra uma fêmea. O pai de Betty é capturado por um bando de ladrões de gado que recebem ordens de Luther Nash (James Mason), rival de Moran. Betty também é raptada, e através de Flash, o bando acaba encurralado pelo xerife, e a moça e seu pai são salvos. Flash cai com o chefe do bando Ash Brent (William Dyer) nas correntezas de um rio, e apenas o cão sobrevive. Há um momento na narrativa em que Strongheart volta para seu abrigo e vê que uma explosão havia bloqueado a entrada da caverna, deixando seus filhotes presos lá dentro. Esta cena fez muita gente chorar e tornou o astro canino uma atração de bilheteria. Logo, ele estava respondendo numerosas cartas e mandando fotografias para os fãs, que eram autografadas com a marca de uma pata.
Rith Dwyer, Strongheart e Theodore Von Eltz em White Fang
Dos seis filmes do “cão sábio” (como Strongheart era anunciado no Brasil), além de Chamado Silencioso, passaram nas telas de nosso país: Miragem do Norte / Brawn of the North / 1922, Estrela do Norte /North Star / 1925, Garras Brancas / White Fang / 1925, A Vitória do Bem / The Return of Boston Blackie / 1927, ficando The Love Master / 1924 inédito entre nós. Em 1929, quando estava sendo filmado, Strongheart tocou acidentalmente uma luz muito quente do estúdio e se queimou. Essas queimaduras causaram-lhe um tumor, que acabou ocasionando sua morte naquele mesmo ano. Strongheart foi o maior rival de Rin-Tin-Tin, para quem acabou perdendo o primeiro lugar na afeição do público.
Lee Duncan e Rinty filhote
A história de Rin Tin Tin começou na manhã de 15 de novembro de 1918, quando o soldado americano, Cabo Lee (Leland) Duncan, encontrou em um canil alemão abandonado, uma cadela com cinco cachorrinhos recém-nascidos, que ele resgatou, eventualmente levando dois deles para os Estados Unidos. Duncan chamou seus filhotes, uma fêmea e um macho, de Nanette e Rin Tin Tin, inspirado nos nomes dos bonequinhos de boa sorte (Nénette e Rintintin) que os soldados francêses levavam consigo durante a guerra. Nanette morreu assim que chegou em Nova York, mas Rin Tin Tin sobreviveu.
Lee Duncan e Rinty em 1926
Quando participava de um show no Shepherd Dog Club of America, Rin Tin Tin empolgou o público com sua capacidade de pular uma cerca bem alta. Um homem chamado Charles Jones filmou esta cena e a vendeu para companhia Novagraph, que enviou um cheque de 350 dólares para Duncan, em troca de sua permissão para usá-la em um de seus cinejornais. Percebendo a extraordinária capacidade de aprendizagem e o magnetismo do seu cão, Duncan decidiu treiná-lo para o cinema.
A primeira aparição de Rinty na tela deu-se em The Man from Hell’s River / 1922, contratado pela Irving Cummings Productions. O próprio Cummings autou como produtor, roteirista, diretor e ainda como ator, ao lado de Eva Novak e Wallace Beery. Cummings era o mocinho, um membro da Policia Montada Canadense e Beery, o vilão, apelidado de The Wolf (O Lobo). No desenlace, Rinty matava O Lobo e salvava a heroina Mabelle, interpretada por Eva Novak.
Rinty em Camarada é Camarada
Em 1923, agora integrado à Warner Bros., Rinty estreou em Onde o Norte Começa / Where the North Begins, no papel de um filhote de pastor alemão adotado por uma alcateía, tornando-se um cachorro-lobo. Ele fez 21 filmes na Warner, todos exibidos no Brasil (além de Onde o Norte Começa: Sombras do Norte / Shadows of the North / 1923; Procura Teu Dono / Find Your man / 1924; O Farol da Ponta do Mar / The Lighthouse by the Sea / 1924; Perdidos nas Regiões Geladas / Tracked in Snow Country / 1925; Colisão de Feras / Clash of Wolves / 1925; Os Cães Iguais aos Homens / Below the Line / 1925; O Herói das Grandes Neves / Hero of the Big Snows / 1926; O Grito da Noite / The Night Cry / 1926; Enquanto Londres Dorme / While London Sleeps / 1926; O Terror das Montanhas / Hills of Kentucky / 1927; No Meio do Abismo / Tracked by the Police / 1927; Camarada é Camarada / A Dog of the Regiment / 1927; Maxilas de Aço / Jaws of Steel / 1927; A Vitória de Rin Tin Tin / A Race for Life / 1928; Rin Tin Tin no Deserto / Rinty of the Desert / 1928; O Heroismo de Rin Tin Tin ou Ódio e Recompensa / Land of the Silver Fox / 1928; Na Pista do Mistério / The Million Dollar Collar / 1929; Fome de Ouro / Frozen River / 1929; Mulher de Vontade / Tiger Rose / 1929; A Parada das Maravilhas / The Show of Shows / 1929. No período sonoro, Rinty fez três filmes (On the Border / 1930; The Man Hunter / 1930; O Trovão / Rough Waters / 1930) e dois seriados (Sentinela Avançada / The Lone Defender / 1930 e O Grande Guerreiro / The Lightning Warrior / 1931, ambos produzidos pela Mascot em 12 episódios). Curiosamente, em 1929, Rin Tin Tin foi indicado para o Oscar de Melhor Ator.
O diretor Malcolm St. Clair, Lee Duncane Rinty “ensaiam”
Rinty morreu em 10 de agosto de 1932 nos braços de Jean Harlow, vizinha de Lee Duncan. Ele foi substituído na tela por Rinty Jr., um de seus filhotes nascidos de sua união com a cadela que Duncan comprara, também chamada Nanettte. Rinty Jr. não teve o mesmo sucesso do pai e surgiu até um boato na época para explicar o por quê. Houve rumores de que ele tinha um latido agudo e desagradável, que não podia se equiparar ao urro forte de seu pai. Os mexeriqueiros chegaram até a dizer que o latido de Rinty Jr. era na verdade produzido por um ator e depois dublado na trilha sonora, o que foi negado por Duncan com muita indignação.
Embora não tivesse o mesmo talento interpretativo de seu progenitor, Rinty Jr. apareceu em dez filmes nos anos trinta (Orgulho Cativante / Pride of the Legion / 1932; Heróis das Selvas / The Test / 1935; A Patrulha da Fronteira / Skull and Crown / 1935; O Bom Inimigo / Tough Guy / 1936; Vingança do Lobo / Vengeance of Rannah / 1936; A Mina de Prata / The Silver Trail / 1937; Hollywood em Desfile / Hollywood Cavalcade / 1939; Death Goes North / 1939; Fangs of the Wild / 1939; A Lei do Lobo / Law of the Wolf / 1939) e três seriados (Cachorro Lobo / The Wolf Dog / 1934; Dominador das Selvas / The Law of the Wild / 1934; As Aventuras de Rex e Rin Tin Tin / The Adventures of Rex and Rinty / 1935).
Seu sucessor, Rinty III, fez apenas um filme, The Return of Rin Tin Tin / 1947, ao lado de um jovem Robert Blake; mas seu maior crédito foi ter ajudado a promover o uso de cães pelos militares durante a Segunda Guerra Mundial. Ele serviu como garoto-propaganda no destacamento conhecido como Unidade K-9, sediada em Camp Haan, na Califórnia.
Antes mesmo que Rin Tin Tin saísse de cena em Hollywood, Lassie chegou. Seu treinador, Rudd Weatherwax, não era nenhum novato na “Terra do Cinema”. Ele já havia treinado alguns cães que conquistaram uma boa parcela de fama nos filmes. Um deles foi Asta (cujo verdadeiro nome era Skippy), o fox terrier que aparecia com William Powell e Myrna Loy na série de comédias de detetive “Thin Man” (1934-1947). Outro de seus “discípulos” foi Daisy (cujo nome verdadeiro era Spooks), uma mistura de cocker spaniel/poodle/terrier, que aparecia sempre com a familia Bumstead na série Blondie (1938-1950).
Elizabeth Taylor e Lassie em A Força do Coração
Roddy MacDowall e Lassie em A Força do Coração
Em 1940, pouco depois de Rudd e seu irmão Frank terem inaugurado um canil e escola de treinamento, um freguês trouxe-lhes um collie chamado Pal, esperando que o cachorro perdesse o hábito de latir demais. O freguês acabou decidindo que não queria mais o animal e Rudd ficou com ele. Pal figurou como Lassie para a MGM em sete filmes: A Força do Coração / Lassie Come Home / 1943; O Filho de Lassie / Son of Lassie / 1945; A Coragem de Lassie / Courage of Lassie / 1946 – todos com Elizabeth Taylor; O Mundo de Lassie / Hills of Home / 1948; Sol da Manhã / The Sun Comes Up / 1949; Desafio de Lassie / Challenge to Lassie / 1950; O Herói das Montanhas / The Painted Hills / 1951.
Lassie e seu treinador Rudd Weatherwax
Todos os filmes de Lassie renderam bons lucros para a MGM, mas a produção de um filme por ano começou a desgastar a fórmula. A MGM perdeu interesse por Lassie e cedeu os direitos para Weatherwax em troca de algum dinheiro que lhe devia. Pal/Lassie morreu em 1958 e Weatherwax continuou fornecendo outras Lassies para a televisão.
Pete the Pulp
Pete the Pulp e Os peraltas
Dentro do período clássico de Hollywood posso apontar ainda Pete the Pup, da série Os Peraltas / Our Gang, também conhecido como “Pete, o cachorro com um anel em torno do seu olho”; Buck, o cão metade lobo de O Grito da Selva / Call of the Wild / 1935; Mr. Smith (também personificado por Skippy / Asta), que quase roubou a comédia Cupido é Moleque Teimoso / The Awful Truth / 1937 de Cary Grant e Irene Dunne; Toto (cujo verdadeiro nome era Terry), o cãozinho cairn terrier de Dorothy (Judy Garland) em O Mágico de Oz / The Wizzard of Oz / 1939; Ace, que era o cão Devil do Fantasma Voador no famoso seriado; Chinook, que entre 1949 e 1954, atuou ao lado de Kirby Grant em sete filmes da Monogram e mais três para a Allied Artists, versando sobre a Polícia Montada Canadense; e talvez os leitores se lembrem de mais algum.
Buck e Clark Gable em O Grito da Selva
Skippy/Asta, Cary Grant e Irene Dunne em Cupido é Moleque Teimoso
Terry / Toto com Judy Garland em O Mágico de Oz
Ace / Devil e Tom Tyler no seriado O Fantasma Voador
Chinook e Kirby Grant
Para falar sobre os cavalos no cinema, tenho que começar pelos animais dos grandes cowboys. Inteligentes, corajosos, leais e incansáveis eles repartiam o estrelato com seus donos. William S. Hart e seu cavalo Fritz (homenageado recentemente por Quentin Tarantino através de uma citação em Django Livre / Django Unchained / 2013, somente percebida pelos velhos fãs de cinema), iniciaram a série de cowboys e seus cavalos famosos.
W.S. Hart e Fritz
Um chefe Sioux chamado Lone Bear, teria trazido Fritz para a Califórnia em 1911. Hart viu o cavalo malhado pela primeira em Inceville, o rancho do produtor Thomas Ince, e se apaixonou por ele. No primeiro filme que fizeram juntos, Fritz, apesar de ser um cavalo pequeno, impressionou o ator por sua força. O script pedia que ele carregasse Hart e um outro ator, com suas armas e uma sela pesada, durante horas. A ação culminava com Hart fazendo Fritz cair, para usá-lo com escudo em um tiroteio. O ator relatou na sua autobiografia que o pequeno cavalo corajoso mas cansado, lhe deu um olhar de agradecimento, como se estivesse dizendo: “Obrigado por ter me dado aquela queda”.
Para a filmagem de Coragem, Crença e Afeição / Singer Jim McKee / 1924, Hart tinha que galopar até o alto de um despenhadeiro e cair no abismo lá em baixo. Felizmente para Fritz, Hart achou que a cena era muito arriscada e usou um boneco pintado que parecia com sua montaria. A cena ficou tão real que pessoas escreveram para o estúdio protestando contra tal tratamento de um cavalo, o que levou Hart a viajar para Nova York com Fritz, com a finalidade de levantar fundos para a American Humane Association, e exibir um filme curto, mostrando como a cena foi conduzida, a fim de evitar a censura e provar a saúde de seu célebre companheiro.
Após o término da filmagem de Coragem, Crença e Afeição, Fritz desapareceu das telas (aliás, ele já havia sumido durante dois anos por causa de uma disputa entre Hart e Thomas Ince sobre salário, tendo sido substituído neste período por um cavalo chamado Brownie) e, portanto, não apareceu em O Rei do Deserto / Tumbleweed / 1925, o derradeiro e um dos melhores filmes de William S. Hart. Fritz viveu o resto de seus dias no rancho de Hart em Newhall, California, onde morreu em 1938.
Tom Mix e Tony
Tom Mix tinha dois cavalos maravilhosos, Old Blue e Tony, bem como um cão dinamarquês chamado Duke. Nos seus primeiros filmes entre 1910 e 1918, Tom montou um outro cavalo, Colt 45, e Old Blue. Após a morte de Old Blue em 1919 (eutanasiado por ter quebrado uma perna no seu curral), Tom usou Tony (Tony Boy) em todos seus filmes mudos, e depois Tony Jr., nos sonoros.
Tony, manteve-se vivo por muito anos. Uma razão para a sua longevidade foi o amplo uso de dublês. Embora o público nunca soubesse de nada, houve na verdade três ou quatro “Tonys” (vg. Buster, Argie, Satan) pois o verdadeiro era poupado das cenas mais arriscadas, ficando reservado para ser usado nos momentos em que poderia demonstrar seu repertório de truques, tais como desatar um nó com seus dentes.
Tony apareceu com Tom Mix em um filme da Selig, No Coração do Texas / The Heart of Texas Ryan /1917, quando tinha três anos de idade; porém foi somente depois da morte de Old Blue em 1919, que o ator começou a usar Tony permanentemente, sob a supervisão do treinador Pat Chrisman. Apelidado de “The Wonder Horse”, era um especialista em livrar Tom Mix de situações difíceis, socorrer mocinhas em perigo e participar de cenas eletrizantes, mas, como já foi dito, costumava ser substituído por dublês. Uma égua grande, Black Bess, costumava ser usada no lugar de Tony nos planos mais afastados, porque seu tamanho registrava melhor no filme.
Embora a aposentadoria de Tony tivesse sido anunciada oficialmente em 1932, seu último papel creditado foi em O Roubo do Diamante / The Big Diamond Robbery em 1929. Quando Mix voltou à tela no filme falado da Universal, A Volta de Tom / Destry Rides Again / 1932, ele cavalgava uma nova montaria, Tony Jr., tal como seu predecessor, um alazão – mas com uma mancha branca mais larga na testa.
Buck Jones e Silver
Ken Maynard e Tarzan
Cada astro-cowboy tinha seu cavalo maravilhoso (ou mais de um). Havia Buck Jones e seu cavalo Silver; Ken Maynard e Tarzan; Tim McCoy e Starlight; Hoot Gibson e Goldie; Tex Ritter e White Flash; Charles Starrett e Raider; Rex Allen e Koko; Monte Hale e Partner; Bill Elliott e Thunder; Hopalong Cassidy e Topper; Gene Autry e Champion; Roy Rogers e o seu lindo palomino Trigger etc.
Hopalong Cassidy e Topper
Roy Rogers, Lynne Roberts e Trigger
Gene Autry e Champion
Poucos cavalos tornaram-se astros por conta própria como foi o caso de Rex (cujo verdadeiro nome era Casey Jones), também conhecido como “Rex the Wonder Horse” e “King of the Wild Horses”, um garanhão da raça Morgan, que estrelou filmes e seriados nos anos 20 e 30.
Rex
Rex foi o único astro equino na História de Hollywood que era muito perigoso de ser montado e tinha a predisposição de investir contra a equipe de filmagem com intenção homicida. Isto aconteceu, por exemplo, na filmagem de Dominador das Selvas / The Law of the Wild / 1934. Rex não obedeceu as ordens de seu treinador, Jack “Swede” Linden (que estava atrás das câmeras de chicote na mão), e causou um tumulto no set, derrubando vários refletores e obrigando os membros do elenco e da equipe técnica a procurar abrigo. Ele chegou a perseguir um ator que tentava se esconder debaixo de um carro.
Rex havia sido encontrado na estrebaria de um reformatório em Golden, Califórnia, onde estava sendo guardado para fins de procriação. Ele foi colocado em isolamento solitário durante muitos anos, o que pode ter sido a causa de sua agressividade
Roddy MacDowall e Flicka
Um cavalo que gozou de certo prestígio foi Flicka (em Minha Amiga Flicka / My Friend Flicka / 1943), a ponto de desencadear uma continuação, Fúria Selvagem / Thunderhead, Son of Flicka /1945. Vale registrar que foram precisos seis cavalos para interpretar Flicka, a maioria deles árabes; mas a égua principal era uma american saddlebred chamada Country Encino.
Assim como os gorilas no cinema sempre tiveram a reputação de serem mais perigosos do que eles realmente são, o chimpanzé se beneficiou de sua preconceituação como um animal inofensivo e brincalhão, um bicho de estimação ideal.
Esta imagem foi estabelecida principalmente pelos filmes de Tarzan, nos quais a chimpanzé Cheetah fazia parte de uma família da selva, composta por Tarzan, Jane e Boy. Quando a familia estava pacificamente em casa, Cheetah dava cambalhotas e batia palmas; em tempo de perigo, ela estava sempre pronta para levar mensagens, desatar os nós das cordas com as quais os bandidos haviam amarrado seu dono ou chamar os elefantes para salvá-lo de outra situação díficil.
Maureen O’Sullivan, Johnny Weissmuller e Jiggs / Cheetah
A personagem de Cheetah era um papel múltiplo, criado através do uso de vários animais atores. De acordo com uma pesquisa feita pelo jornalista R. D. Rosen, “em cada filme de Tarzan, o papel de Cheetah era interpretado por mais de um chimpanzé, dependendo de que talentos a cena necessitava (cf. “Lie of the Jungle – The Truth about Cheetah the Chimpazee”, Washington Post Magazine, 7 de dezembro de 2008).
Um desses chimpanzés chamava-se Jiggs e foi ele que apareceu com mais destaque nos dois primeiros filmes de Tarzan da MGM, Tarzan, o Filho das Selvas / Tarzan the Ape Man / 1932 e A Companheira de Tarzan / Tarzan and His Mate / 1934, e provavelmente no terceiro, A Fuga de Tarzan / Tarzan Escapes / 1936. Treinado por seus donos, Tony e Jacqueline Gentry, Jiggs trabalhou também em Tarzan, o Destemido / Tarzan, the Fearless com Buster Crabbe e (no papel de Nikima) com Herman Brix em As Novas Aventuras de Tarzan / The New Adventures of Tarzan / 1935, bem como em outros filmes (vg. Idílio na Selva / Her Jungle Love / 1938, no papel de Gaga, ao lado de Dorothy Lamour). Jiggs morreu em 1938, de pneumonia.
Jacqueline Wells, Buster Crabbe e Jiggs
Não posso esquecer de mencionar o primeiro chimpanzé que interpretou o papel de Cheetah. Chamava-se Joe Martin. Ele apareceu ao lado do primeiro Tarzan da tela, Elmo Lincoln em um filme de 1918 intitulado O Romance de Tarzan / The Romance of Tarzan, o segundo a ser feito com o formidável personagem de Edgar Rice Burroughs depois de O Homem Macaco ou Tarzan dos Macacos / Tarzan of the Apes, lançado antes no mesmo ano. Neste último filme, ocorreu um incidente hilariante. Elmo Lincoln segurava uma faca que lhe deram para matar um leão idoso. Após certa dificuldade, Lincoln apunhalou o velho leão e, como estava previsto no script, colocou seu pé triunfantemente no animal morto. Quando ele fez isto, o leão emitiu um rugido feroz que fez o ator dar um salto e sair correndo de medo. Ocorreu que o leão estava realmente morto e que o rugido fôra o resultado da pressão do pé de Lincoln, que expeliu o ar dos pulmões da besta.
O Tarzan de Elmo Lincoln
O suprimento de leões e outros animais selvagens para filmes tornou-se um negócio lucrativo para treinadores que mantinham criações de animais perto de Hollywood. Raramente um filme de Tarzan abria mão de uma luta até a morte entre Johnny Weissmuller e “O Rei dos Animais”. Na vida real, o leão costumava ser drogado ou empalhado, para se obter o máximo de segurança; se necessário, o leão era verdadeiro e um dublê substituia Weissmuller. Os leões eram “mortos” como uma faca falsa e o sangue que espirrava não era verdadeiro. Weismuller gostava muito de um leão chamado Jackie e sua elefoa predileta atendia pelo nome de Emma.
Arthur Lubin, Ray Milland e Jan Sterling na filmagem de Há Um Gato Em Minha Vida
Houve muitos filmes com gatos como, por exemplo, Há Um Gato em Minha Vida / Rhubarb / 1951, que mostrava um gato herdando um time de beisebol, o Brooklyn Dodgers, de um milionário excêntrico. Rhubarb era interpretado por um gato malhado chamado Orangey, de propriedade do treinador Frank Inn. Orangey foi o único gato que ganhou dois Patsy Awards (a versão do Oscar para animais), o primeiro pelo papel título de Há Um Gato em Minha Vida e o segundo pela sua interpretação de “Cat” em Bonequinha de Luxo / Breakfast at Tiffany’s / 1961. Orangey era chamado de “o gato mais malvado do mundo” por um executivo de estúdio. Ele costumava arranhar e morder os atores e muitas vêzes fugia depois de ter filmado algumas cenas, fazendo com que a produção ficasse suspensa até que ele fosse encontrado.
Reservei para o final, os simpáticos Francis, o Mulo Falante e Felpudo, o Cão Feiticeiro, porque eles entram em uma categoria intermediária entre os animais de verdade e os inventados (vg. King Kong, Mighty Joe Young, Moby Dyck)
Donald O’Connor e Francis
Francis estreou no filme da Universal … E O Mulo Falou / Francis / 1950, que estabeleceu a fórmula para as seis sequências que se seguiram: Francis nas Corridas / Francis Goes to the Races / 1951; Francis na Academia / Francis Goes to West Point / 1952; Francis, o Detetive / Francis Covers the Big Town / 1953; Francis entre as Boas / Francis joins the WACS / 1954; Francis na Marinha / Francis in the Navy / 1955; Francis entre Fantasmas / Francis in the Haunted House / 1956. Esses espetáculos, cheios de humor por causa da fantasia das situações, foram estrelados na sua maior parte por Donald O’ Connor, e a voz do burro mais sábio do que muitos humanos foi emprestada por Chill Wills, salvo no filme derradeiro da série, quando foi substituído por Paul Frees.
Levou um ano para que a Universal decidisse fazer uma sequência de … E O Mulo Falou. Enquanto os executivos do estúdio deliberavam, Francis estava comendo – comendo tanto, que engordou barbaramente. Seu treinador, Jimmy Phillips foi avisado de que, caso o animal não emagrecesse, perderia o papel. Foi preciso uma combinação de dieta rigorosa e exercício vigoroso para afinar Francis até que ele atingisse o peso desejado.
Fred Mac Murray e Felpudo
Felpudo estreou em Felpudo, o Cão Feiticeiro / The Shaggy Dog / 1959, que foi a primeira comédia com atores (live-action) produzido por Walt Disney. No enredo, um adolescente, Wilby Daniels (Tommy Kirk), cujo pai (Fred Mac Murray) tem alergia ao gênero canino, é transformado em Shaggy, um enorme cão pastor, por meio de um anel encantado, que pertencera aos Borgia. Shaggy foi interpretado por um cão chamado Chiffon.
A idéia, bastante original, foi explorada como muita verve cômica. Os momentos mais engraçados do filme são aqueles que envolvem gags visuais simples do pastor alemão desempenhando tarefas humanas como escovar seus dentes, gargarejar, vestir pijamas, e dirigir um carro. No final, a visão de um cachorro grandalhão e felpudo no volante e diversos policiais (acusados por seus superiores de embriaguês), tornou-se digna de ser incluída em uma antologia de melhores cenas de comédia de todos os tempos.