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PAUL FEJOS: CINEASTA E CIENTISTA

Fejös Pál (1897-1963) nasceu em Budapeste na Hungria, estudou medicina, serviu como médico na Primeira Guerra Mundial, e depois ganhou a vida como pintor de cenários de teatro, antes de iniciar uma carreira cinematográfica peripatética que, por mais de quinze anos, conduziu-o da Hungria para Hollywood, França, Austria e Dinamarca.

Paul Fejos

Paul Fejos

Entretanto, nos meados dos anos trinta, suas frustrações com os constrangimentos comerciais da sétima arte, levou-o a realizar uma série de documentários etnográficos em Madagascar, Indonesia, Nova Guiné e Tailândia, instalando-se finalmente em Nova York para uma bem sucedida trajetória como antropologista e diretor do Viking Fund, fundação dedicada à pesquisa antropológica, posteriormente denominada Wenner-Gren Foundation.

fejos wenner-gren

Antes de partir para a América, entre 1919 e 1923, Fejos realizou na Hungria filmes experimentais e alguns longa-metragens entre eles Arsène Lupin utolsó kalandja e Egri csillagok, mas nenhum ambos se perderam. Seus primeiros dias no novo país foram difíceis, passados na mais profunda pobreza, sem conhecer ninguém, até que arrumou emprego como bacteriologista em um laboratório do Rockefeller Institute, e então se envolveu com alguns grupos de teatro. Porém ele ficou obcecado com a idéia de trabalhar em Hollywood, e rumou para a Califórnia em 1926.

Sua chance de ingressar na indústria de cinema ocorreu quando conheceu um jovem chamado Edward M. Spitz, que tinha cinco mil dólares, queria investir em um filme, e estava procurando um diretor e um script. Fejos, que era um homem dotado de um charme pessoal considerável, imediatamente se ofereceu para a tarefa e conseguiu convencer Georgia Hale (a atriz de Em Busca do Ouro / The Gold Rush / 1925 de Charles Chaplin) a trabalhar de graça, porém somente nos dias em que ela não tinha outros compromissos.

Georgia Hale

Georgia Hale

Ele então alugou espaço em um estúdio de hora em hora em vez de uma base diária, encarregando-se de usar os cenários que estivessem no palco na ocasião para outros filmes. Fejos comprou filme virgem e uma câmera a crédito e arranjou um fotógrafo, Leon Shamroy (vencedor de quatro Oscar por sua cinematografia no futuro), que estava querendo uma oportunidade para amostrar sua capacidade em um filme de longa-metragem. Fejos então escreveu um roteiro que lhe permitisse jogar com os vários recursos disponíveis – usando uma dublê como stand-in para Georgia Hale em todos os planos que não fossem close-ups – e, dentro de três mêses, The Last Moment foi finalizado.

Cena de The Last Moment

Cena de The Last Moment

Eis o resumo da história: nos últimos momentos de sua vida, uma pessoa visualiza os instantes marcantes de sua existência. A primeira cena do filme mostra um homem (Otto Matieson) debatendo-se na água. Sua mão se ergue, indicando que ele está se afogando. Segue-se uma série de planos rápidos: duplas e triplas superposições da cabeça de um Pierrot, rostos de mulheres, faróis de automóveis piscando, rodas girando, um punhado de estrelas, uma explosão, um livro de criança. O rítmo do filme desacelera para resumir a vida do homem: tempos de colégio, mãe amorosa, pai severo, uma cerimônia de crisma; uma festa de aniversário, o circo, um romance adolescente com uma atriz do circo, discussão com seu pai, a partida do lar, passageiro clandestino em um navio, perambulando em uma taberna no porto, declamando para os beberrões, sendo atropelado por um carro, uma operação e a convalescença em um hospital, tornando-se um ator, casando-se com a enfermeira que cuidou dele, uma briga, divórcio, a morte de sua mãe, o enterro, um caso amoroso com uma mulher casada, um duelo com o marido dela, a guerra e seu amigo morrendo em seus braços. Ele retorna à vida civil, retoma sua profissão de ator, apaixona-se pela sua parceira, eles se casam, ela morre. Vestido como Pierrot, ele caminha para casa,   chega ao lago, olha para seu reflexo, e entra na água até que somente sua mão fica visível. A mão desaparece, e o filme termina com umas bolhas subindo à superfície.

Leon Shamroy

Leon Shamroy

Infelizmente, estamos falando de um filme perdido até o presente momento, e a originalidade de estilo e estrutura, que tanto intrigou os críticos contemporâneos, só pode ser julgada pelos relatos sobre o filme fornecidos pelas resenhas da época.

A National Board of Revue Magazine de fevereiro de 1928 fez uma síntese detalhada (reproduzida por George C. Pratt em Spellbound in Darkness – A History of the Silent Film, 1973) dos aspectos mais importantes do filme, e concluiu que, “trata-se de cinema autônomo, como a pintura, a poesia, a música … um filme libertado de seu modelo estabelecido e esforçando-se por uma forma mais pura”. O Variety classificou The Last Moment como “filme de arte interessante, excêntrico e ligeiramente mórbido”, mas com possibilidades comerciais”. Welford Beaton, do Film Spectator, colocou como título de sua matéria: “Introduzindo para vocês Mr. Paul Fejos, Gênio” e Tamar Lane, redator do Film Mercury, proclamou-o “um dos filmes mais extraordinários jamais apresentados na tela”. Charles Chaplin assistiu o filme na sua casa em Beverly Hills, concordou com Beaton, e a United Artists decidiu distribuí-lo.

A maioria dos chefões dos principais estúdios de Hollywood ficou tão impressionada com o filme, que Fejos recebeu inúmeras propostas para trabalhar para eles. Entretanto, sua insistência em reter o contrôle do roteiro, escolha dos atores e montagem de qualquer projeto futuro era um impedimento, e somente Carl Laemmle, Jr. da Universal mostrou-se disposto a aceitá-lo nesses termos.

Fejos rejeitou polidamente a sugestão de Laemmle de fazer um filme “sexy limpo” com Billy Dove e passou algum tempo examinando os scripts que estavam à disposição no estúdio, considerando-os totalmente desinteressantes. Finalmente, ele encontrou uma sinopse de três páginas de uma história que lhe agradou, escolheu para atores principais uma desconhecida, Barbara Kent e o então muito popular Glenn Tryon, e realizou Solidão / Lonesome.

fejos lonesome poster

O enredo é simples: viver na cidade de Nova York é uma coisa monótona para Mary, uma telefonista e para John, um operador de máquina de furar, duas pessoas solitárias que não sabem que moram na mesma pensão. Acompanhando uma multidão festiva a Coney Island, ele se encontram por acaso na praia, e experimentam o amor à primeira vista. Em uma montanha russa, eles são separados por um outro casal que senta nos lugares errados, irrompe um incêndio, e Mary desmaia. Em um esforço para chegar até Mary, cujo nome ele desconhece, John é interrompido por um policial, e levado para a delegacia. Quando é sôlto, Mary desapareceu. Cada qual volta para casa desesperado. Eles descobrem alegremente que são vizinhos.

Cena de Solidão

Cena de Solidão

O filme começa à maneira das sinfonias da cidade européias dos anos vinte, como Berlim: Sinfonia da Metrópole / Berlim: Die Sinfonie der Grosstadt / 1927 de Walter Ruttmann e Homem com uma Câmera / Chelovek s kinoapparatum / 1929 de Dziga Vertov, na verdade antecipando-as, com uma montagem da grande cidade despertando. Como observou Philip Lopate no folheto que vem junto com o dvd da Criterion Collection, Fejos via o cinema primordialmente como um meio de imagens em movimento, de poesia visual, tendo a ver com luz e sombra, efeitos atordoantes para o deleite dos olhos – em suma, mais associado com a pintura do que com a literatura. Seu estilo combinava o trabalho de câmera fluente de F.W. Murnau e da escola expressionista germânica com a montagem rápida dos russos. Para um filme que foi algumas vêzes apontado como precursor do neo-realismo, percebe-se uma boa dose de estilização a todo momento com influências do Art Deco, superposições múltiplas e movimentos de câmera vertiginosos, e as sequências em Coney Island aproximam-se do surrealismo. Fejos quase põe tudo a perder pelo abuso de virtuosismo técnico, que se torna repetitivo, e acaba causando certa monotonia – mas é sempre atraente.

Barbara Kent em Solidão

Barbara Kent em Solidão

Barbara Kent e Glenn Tryon em Solidão

Barbara Kent e Glenn Tryon em Solidão

Cena colorida de Solidão

Cena colorida de Solidão

Glenn Tron e Barbara Kent em Solidão

Glenn Tron e Barbara Kent em Solidão

Barbara Kent e Glenn Tryon em Solidão

Barbara Kent e Glenn Tryon em Solidão

A vontade vanguardista de experimentar do diretor conjuga-se com a sua sensibilidade social. A percepção do “homem comum” esmagado pelo anonimato da cidade grande lembra a de King Vidor no seu clássico também realizado em 1928: A Turba / The Crowd. No filme de Fejos, um intertítulo enfatiza o problema específico da solidão: “No redemoinho da vida moderna – a coisa mais difícil é viver sozinho”. Inicialmente, Solidão era todo silencioso com cenas coloridas à mão e por estêncil e tingidas, mas após o sucesso de O Cantor de Jazz / The Jazz Singer / 1927, foram acrescentadas cenas “faladas” e efeitos sonoros (Movietone). Todavia, a organização estática das breves cenas de diálogo contrasta desfavoravelmente com o estilo visual fluido do resto do filme.

Fejos na filmagem de Cena Final (ele é o último à direita).

Fejos na filmagem de Cena Final (ele é o último à direita).

O filme seguinte de Fejos na Universal, Cena Final / The Last Performance / 1929, deu-lhe a oportunidade de trabalhar com o ator Conrad Veidt, que faz o papel de Erik, um mágico e hipnotizador, apaixonado pela sua jovem assistente, Julie (Mary Philbin). Além de Julie, ele tem outro comparsa, Buffo (Leslie Fenton). Certa noite, um rapaz faminto, Mark Royce (Fred Mackaye), é apanhado roubando comida no apartamento de Erik. Por sugestão de Julie, Erik coloca o rapaz como auxiliar de Buffo. Antes de iniciar sua nova temporada em Nova York, o mágico dá uma festa de aniversário para Julie, planejando anunciar o noivado deles. No decorrer da reunião, o ciumento Buffo mostra a Erik, Julie e Mark abraçando-se em um jardim. Erik finge que aceita a união do casal. Durante o espetáculo, em um número no qual Buffo entra em um baú, e é espetado por Mark com espadas, aquele é morto. Mark é acusado do crime porém, no seu julgamento, Erik pede ao juiz para mostrar como foi feito o número com o baú, esperando que seja Mark a ocupar o lugar de Buffo. Entretanto, é Julie que entra no baú, e então Erik, desesperado, confessa o crime, e se mata com uma das espadas.

Cena de Cena Final

Cena de Cena Final

Conrad Veidt em Cena Final

Conrad Veidt em Cena Final

Cena de Cena Final

Cena de Cena Final

Conrad Veidt e Mary Philbin em Cena Final

Conrad Veidt e Mary Philbin em Cena Final

Filmagem de Cena Final

Filmagem de Cena Final

Este terceiro filme de Fejos na América, não posso comentar devidamente, porque a cópia oferecida pela Criterion, cotejada com o resumo da história feito pela revista A Scena Muda, é incompleta. Pude apenas observar que o diretor insistiu nos efeitos técnicos (sombras, superposições, enquadramentos esquisitos etc., notando-se ainda o emprego prematuro da lente zoom), porém imprimiu um rítmo mais calmo à trama melodramática, diferentemente dos seus dois filmes anteriores. O título de abertura “Esta é uma história estranha de hipnotismo, fetiçaria e um baú e doze espadas afiadas”, promete muito, porém o espetáculo não chega a arrebatar. A interpretação de Conrad Veidt é exagerada, a do par romântico, inexpressiva, e o final não é convincente. Fejos revelaria mais tarde que só aceitou fazer esse filme, porque lhe daria a oportunidade de trabalhar com o Veidt.

fejos broadway poster

Ainda sob o patrocínio de Carl Laemmle, Jr., Fejos foi em seguida designado para dirigir uma superprodução (Universal Super Jewel) Broadway / Broadway /1929, uma mistura de musical de bastidores e melodrama de gangster (filmado em uma versão silenciosa e outra com som no sistema Movietone e sequências em Technicolor), estrelado por Glenn Tryon, Evelyn Brent e Merna Kennedy.

Boa parte do orçamento financiou a construção de um cenário de boate Art Deco gigantesco (desenhado por Charles Hall) e de uma grua enorme, inventada por Fejos e pelo fotógrafo Hal Mohr, que deslizava velozmente em todas as direções. Vendo os trechos do filme contidos no dvd da Criterion, suspeito de que essa era única atração do espetáculo (embora esse virtuosismo fôsse meio a êsmo), porque achei a trama pouco interessante e os números musicais mal apresentados.

Cena de Broadway

Cena de Broadway

Todavia, em uma época em que a nascente tecnologia de gravação do som estava inibindo o movimento expansivo da câmera, que marcara os últimos melhores filmes mudos, Fejos merece tanto crédito quanto Ernst Lubitsch ou Rouben Mamoulian, por ter ajudado a libertar a câmera.

O filme fez um sucesso razoável, mas Fejos não ficou satisfeito com as restrições que lhe foram impostas e este descontentamento se prolongou no seu próximo compromisso, A Marselhesa / Captain of the Guard / 1930, durante a filmagem do qual, logo no início, ele se feriu (possivelmente de propósito), e teve que ser substítuido (por John S. Robertson).

CaptofGuarfejos captain of the guard

Barbara Ken†, Paul Whiteman e Paul Fejos ensaiando para KIng of Jazz - Foto Cortesia de Sergio Leemann

Barbara Ken†, Paul Whiteman e Paul Fejos ensaiando para KIng of Jazz – Foto Cortesia de Sergio Leemann

Fejos tinha grandes esperanças de dirigir Sem Novidade no Front / All Quiet on the Western Front / 1930, mas este projeto foi entregue aos cuidados de Lewis Milestone e, para ele, foi entregue a direção de O Rei do Jazz / King of Jazz / 1930, um tributo a Paul Whiteman. Embora tudo indique que Fejos trabalhou no filme, este foi oficialmente creditado a John Murray Anderson.

Créditos da versão francêsa de O Presídio

Créditos da versão francêsa de O Presídio

Finalmente, Fejos rompeu seu contrato com a Universal e ficou na “lista negra” durante algum tempo até que a MGM o convocou para dirigir as versões francêsa e alemã de O Presídio / The Big House / 1930, que alguns críticos acharam melhor do que o filme original, dirigido por George Hill. Porém Fejos estava farto de Hollywood, e decidiu abruptamente retornar à Europa em 1931.

fejos fantomas poster

Ele foi primeiro para a França, onde, contratado por Pierre Braunberger e Roger Richebé, supervisionou a comédia L’Amour à l’Américaine / 1931 (dir: Claude Heyman) e dirigiu Fantômas / 1932 (com Jean Galland no papel-título). Depois voltou para a Hungria, levando consigo a linda e popular atriz francêsa, Annabella, com quem fez Tavaszi Zápor / 1932 (cuja versão francêsa intitulou-se Marie, Légende Hongroise e foi exibida no Brasil como Lenda de Amor ) e Ítel a Batalon / 1932, com elenco húngaro. Fejos partiu em seguida para a Austria, onde realizou dois filmes: Sonnenstrahl / 1933 (novamente com Annabella, cuja versão francêsa chamou-se Gardez le Sourire) e Frühlingsstimmen / 1933, interpretado por atores locais.

fejos marie legende poster

Lenda de Amor é um conto pungente e poético sobre uma moça seduzida e abandonada. Marie (Annabella), é empregada em uma grande mansão. O pretendente da filha de sua patroa a engravida. A patrôa a despede. Ela dá a luz uma menina, sai de sua aldeia e vai trabalhar em um cabaré suspeito da cidade. Um dia durante o servço e as prostitutas cuidam da criança. Um dia, em uma cerimônia religosa, Marie, vestida com um traje folclórico, vai apresentar seu bebê à Virgem, mas um comitê de assistência pública arranca-a de seus braços. Louca de dor, Marie se embriaga em uma taberna, penetra em uma igreja para maldizer a Virgem, e morre diante do altar. Lá do céu ela vê sua filha com um namorado debaixo da mesma árvore que ela outrora estivera com seu sedutor, e despeja um aguaceiro sobre eles. A jovem volta precipitadamente para casa, e Marie solta uma gargalhada.

Annabella

Annabella

Cena de Lenda de Amor

Cena de Lenda de Amor

Cena de Lenda de Amor

Cena de Lenda de Amor

Maria é uma vítima do egoismo de um sedutor, da burocracia que vai lhe separar de sua filha, de uma sociedade empedernida e injusta para compreender a miséria dos fracos. Fejos, como Frank Borzage em Hollywood, afeiçoa-se aos desamparados. No final melodramático, surge a lenda: Marie, no futuro, protegerá as jovens virgens. Esta “jóia solitária do cinema húngaro” (István Nemeskürty) foi considerada como um dos melhores filmes do início do cinema falado”(Jacques Lourcelles), no qual a graciosa e frágil Annabella, favorecida pela extrema economia dos diálogos, encontra em Marie um dos papéis mais comoventes de sua carreira.

fejos gardez le sourire poster

Gardez le Sourire também tem algo a ver com Borzage (O Paraíso de um Homem / A Man’s Castle / 1933), ao mostrar as alegrias e as aflições de um jovem casal , Jean (Gustav Frölich) et Marie (Annabella), confrontado com os problemas do desemprego, seus sonhos e decepções. Sozinho no mundo, sem emprego, cansado de lutar, Jean decide se afogar. Ele encontra na margem do rio com uma jovem deseperada como ele, Marie, e lhe diz palavras que a confortam. Para se sustentarem, eles exercem mil e umas profissões, casam-se, e vivem enfim felizes com o taxi que Jean conseguiu comprar. Fejos chama atenção para a imagem e diversos planos podem facilmente rivalizar com as mais belas pesquisas visuais dos grandes mestres do cinema mudo.

Cartaz da versão alemã de Gardez le Sourire

Cartaz da versão alemã de Gardez le Sourire

Gustav Fröhlich e Annabella em Gardez le Sourire

Gustav Fröhlich e Annabella em Gardez le Sourire

Convidado pela Nordisk Film, que queria aumentar o prestígio dos filmes dinamarquêses no exterior e imaginando que um diretor com experiência em Hollywood pudesse ajudar tal objetivo, Fejos fez três filmes para essa companhia: Flugten fra millionerne / 1934, Det gyldne smil / 1935 e Fange nr.1 / 1935, mas nenhum deles obteve o sucesso esperado e, a essa altura, o diretor estava cansado de tentar agradar a produtores que raramente entendiam ou aceitavam sua visão.

Entretanto, os donos da Nordisk recusaram-se a interromper seu contrato e então Fejos anunciou que faria um novo filme para eles, somente se pudesse rodá-lo em Madagascar. Para espanto seu, o estúdio concordou, e ele produziu ali o primeiro de seus inúmeros documentários etno-antropológicos que o ocuparam exclusivamente até 1941.

fejos jungle of chang poster

Eles foram rodados variadamente na Ásia, África e América do Sul, e neles o cineasta demonstrou o maior respeito e simpatia pelos povos nativos, que estava fotografando. A única exceção a esse processo de simplesmente registrar aspectos de sua vida cotidiana e rituais foi Man och kvinna /1940 (exibido no Brasil como Maldição das Selvas, distribuido pela RKO com o título americano de The Jungle of Chang), filmado na Tailandia, que combinava documentário e elementos narrativos.

Em 1941, Fejos foi convidado para ser diretor de pesquisa no récem-criado Viking Fund em Nova York – depois denominado Wenner-Gren Foundation, em homenagem ao seu grande benemérito, o industrial sueco Axel Wenne-Gren. Fejos depois tornou-se presidente da instituição e chefiou várias expedições através do mundo, entre elas a que levou à descoberta de duas cidades incas nos Andes, segundo uma reportagem publicada no Correio da Manhã de 5 de março de 1941.

Paul Fejos morreu em 1963, deixando uma herança pequena, mas rica de filmes importantes, que finalmente estão ganhando o reconhecimento que merecem.

O FILME PARA A FAMÍLIA NO CINEMA AMERICANO 1930-1960

No período silencioso do cinema americano, alguns filmes poderiam ser considerados filmes para toda a família, tal como o entendemos hoje, co por exemplo, os filmes de Mary Pickford, as comédias de Charles Chaplin ou Harold Lloyd, os westerns de Tom Mix, os curta-metragens da série Os Peraltas / Our Gang de Hal Roach (1922-1944), os seriados – mas eles não foram realizados com esse fim específico.

Mary Pickford

Mary Pickford

Foi somente nos anos 30, após o enrijecimento do Código Hays, levado a efeito pela MPPDA para pôr fim aos excessos cometidos nos filmes no início do cinema falado, foi que a indústria cinematográfica americana “inventou” estrategicamente um tipo especializado de filme de longa-metragem destinado para “as famílias”; um filme que podia ser desfrutado por toda a família conjuntamente e que continha pouco ou nenhum conteúdo violento ou sexual.

Os Peraltas

Os Peraltas

A sobrevivência de Hollywood nessa época de uma auto censura fortalecida dependia muito do êxito de suas tentativas de provar que havia amadurecido como uma respeitável e socialmente consciente instituição “familiar”. No decurso de várias décadas, Hollywood engendrou o termo, tornando-o uma marca altamente lucrativa porque, além do fator moral, havia também um interesse comercial: garantir uma base consumidora mais ampla.

Cena de As Aventuras deTom Sawyer

Cena de As Aventuras deTom Sawyer

familia skippy posterNo início do cinema sonoro os filmes com temas adultos predominavam no esquema de produção das principais companhias. Nessa ocasião, houve uma tentativa de atrair as platéias infanto-juvenís com os chamados kiddie films. O chefe de produção da Paramount, B.P. Schulberg saiu ao encalço dos espectadores adolescentes lançando As Aventuras de Tom Sawyer / Tom Sawyer / 1930, Skippy / Skippy / 1931, Mocidade Feliz / Huckleberry Finn / 1931, Sooky / Sooky / 1931.

A Universal também fez uma tentativa de arrastar as crianças e seus pais para os cinemas com A Volta de Tom / Destry Rides Again / 1932, o primeiro filme falado com Tom Mix, o astro-cowboy da era silenciosa enquanto Mary Pickford manifestou seu desejo de estrelar uma versão animada de Walt Disney de Alice in Wonderland ou Peter Pan.

familia tom mix melohor

Entretanto, nenhuma das outras majors demonstrou a intenção de abandonar a produção de filmes adultos muito menos a Warner Bros. com seus filmes de gângster tais como Alma do Lôdo / Little Caesar / 1931 e Inimigo Público / Public Enemy / 1931. Em 1932, os filmes que possuiam um atrativo familiar especial tornaram-se mais raros do que nunca.

Joseph I. Breen

Joseph I. Breen

Embora o Código Hays sob o comando ferrenho de Joseph I. Breen tivesse sido o fator principal para que Hollywood se dispuzesse a produzir filmes especialmente orientados para a família, ele foi apenas um dos catalizadores. Como explica Noel Brown (The Hollywood Family Film, I. B. Tauris, 2012), também importante foi a disseminação de uma pseudo cultura, advinda do acesso à literatura e outras formas de “alta” cultura, oferecida para um vasto público de leitores pelos clubes de leitura, que abasteciam os assinantes com obras recentemente publicadas escolhidas por especialistas.

Houve ainda, segundo Brown, pressões internas sobre os produtores, principalmente pela MPPDA, mas também por figuras influentes como o pesquisador de mercado George Gallup (cujo Audience Research Institute foi empregado pela RKO e Disney durante os anos 30 e 40), que chamou a atenção para o fato de que adaptações de obras literárias tinham uma audiência garantida por causa da popularidade do material adotado.

Cena de Quatro Irmãs

Cena de Quatro Irmãs

Cena de A Ilha do Tesouro

Cena de A Ilha do Tesouro com Jackie Cooper e Wallace Beery à esquerda

Freddie Bartholomew e W. C. Fields em David Copperfield

Freddie Bartholomew e W. C. Fields em David Copperfield

C. Aubrey Smith, Freddie Bartholomew e Dolores Costello em Um garoto de Qualidade

C. Aubrey Smith, Freddie Bartholomew e Dolores Costello em Um Garoto de Qualidade

Os produtores então se convenceram de que os clássicos da literatura eram um exemplo típico do contéudo “para a família” e, entre 1933 e 1940, foram levados à tela: Quatro Irmãs / Little Women / 1933; A Ilha do Tesouro / Treasure Island / 1934; Grandes Esperanças / Great Expectations / 1934; David Copperfield / David Copperfield / 1935; Sonho de Uma Noite de Verão / A Midsummer’s Night Dream /1935; Um Garoto de Qualidade / Little Lord Fountleroy / 1936; Romeu e Julieta / Romeo and Juliet / 1936; Pobre Menina Rica / Poor Little Rich Girl / 1936; Marujo Intrépido / Captains Courageous / 1937; O Prisioneiro de Zenda / The Prisoner of Zenda / 1937; As Aventuras de Tom Sawyer / The Adventures of Tom Sawyer / 1938; A Princezinha / The Little Princess / 1939; O Mágico de Oz / The Wizard of Oz; O Pássaro Azul / The Blue Bird / 1940.

Cena de O Mágico de Oz

Cena de O Mágico de Oz

Outra causa importante da adoção estratégica dos “family movies”, teve a ver com uma série de reformas educacionais, introduzindo a “apreciação crítica dos filmes” nos currículos das escolas secundárias. Logo que a iniciativa começou a ser implantada em 1928 em Newark, New Jersey, educadores abordaram executivos de Hollywood, a fim de solicitar a produção especializada em filmes educativos próprios para adolescentes; porém os produtores mostraram-se indiferentes, insistindo que o rótulo “educativo” significava “fracasso” nas bilheterias.

A situação mudou bastante em 1933 quando, após um período de experimentação, professores representantes de 17 Estados votaram a favor do estudo educativo dos filmes, que foi consequentemente introduzido em aproximadamente 2.500 escolas do país. Cada semana os alunos assistiriam a um filme de longa-metragem de Hollywood e escreveriam uma redação de 600 palavras sobre o mesmo.

Os guias, chamados comumente de “Photoplay Studies” ou “Group Discussion Guides” continham 16 páginas, tratando da história do filme, seu fundo histórico ou literário, o tratamento fílmico do tema, diversas perguntas para discussão e sugestões de livros para leitura. Inicialmente, os estúdios patrocinavam esses manuais. Depois, a indústria manteve seu apoio, fornecendo para as escolas pôsters e fotografias de cena dos filmes, dossiês de imprensa e ingressos gratuitos para “crianças desprivilegiadas”.familia king kong

Porém surgiu um obstáculo prático aos filmes para a família: um grande número de crianças e adolescentes tinha pouco interesse em Quatro Irmãs ou David Copperfied, preferindo filmes como King Kong / King Kong / 1933 ou os do ciclo de horror da Universal apesar de sua suposta inadequabilidade em razão de seu conteúdo assustador. De modo que os alvos principais desse empenho “familiar” nas telas foram os líderes religiosos, os women’s groups (grupos de mulheres que se encontram regularmente com o objetivo de organizar campanhas) e os educadores; e não as crianças e adolescentes. O que o movimento realmente conseguiu foi embutir firmemente a idéia do “filme para a família” na consciência nacional, protegendo Hollywood da ameaça de uma lei de censura federal (que a MPPDA procurara evitar criando a autocensura) e estabelecendo uma tendência pública de boa vontade para com a indústria.

Diferentemente do movimento de adaptações literárias o ciclo dos child-stars originou-se não de um cuidadoso planejamento e cooperação, mas de uma resposta rápida a questões sociais – neste caso, a Grande Depressão. Prefaciada pelo colapso de Wall Street em 1929, a Depressão causou prejuízos consideráveis à indústria cinematográfica no curto prazo, mas também reanimou o público norte-americano e mais adiante consolidou os filmes para a família no íntimo da consciência popular.

Shirley Temple e Jane Withers em Olhos Encantadores

Shirley Temple e Jane Withers em Olhos Encantadores

Embora Mary Pickford e Jackie Coogan tivessem desfrutado de um status de celebridade durante a era silenciosa, a popularidade de Shirley Temple não teve precedente. Após ela chegar à proeminência em Olhos Encantadores / Bright Eyes / 1934 com a idade de seis anos, e ter capturado a imaginação do público, muitos grandes estúdios tentaram explorar sua popularidade, contratando artistas infantís promissores e colocando-os em filmes, nos quais poderiam exibir seus talentos.

Judy Garland e Mickey Rooney em um filme da série Andy Hardy

Judy Garland e Mickey Rooney em um filme da série Andy Hardy

Entre a metade e o final dos anos 30, a MGM tinha Jackie Cooper, Judy Garland, Mickey Rooney e Freddie Bartholomew sob contrato; a Twentieth Century Fox contratou Shirley Temple e Jane Withers; a Warner Bros. contratou os gêmeos Billy e Bobby Mauch, Sybil Jason e Bonita Granville; a Columbia contratou Edith Fellows e a Universal contratou Deanna Durbin. Embora vários atores infantís estivessem sob contrato com a Paramount e a RKO durante os anos 30 (tais como Jackie Searl e Virginia Weidler) nenhum desses estúdios adotou o instrumento do child star film.

Billy e Bobby Mauch

Billy e Bobby Mauch

Shirley temple e Sybil Jason

Shirley Temple e Sybil Jason

Edith Fellows

Edith Fellows

Deanna Durbin

Deanna Durbin

Mesmo sem a adesão desses dois estúdios os anos 30 foram a época de ouro dos filmes com astros infantís e a persona de Shirley Temple, com seu forte otimismo, mais do que a de todos os outros, era talhada para as platéias da Depressão. Uma medida de sua imensa popularidade é que ela foi a maior atração de bilheteria entre 1935 e 1938.

Cena de Feira de Amostras

Cena de Feira de Amostras

Mickey Rooney e Wallace beery em Fúrias do Coração

Mickey Rooney e Wallace beery em Fúrias do Coração

Jed Prouty e Spring Buyington em um filme da série família Jones

Jed Prouty e Spring Buyington em um filme da série família Jones

Cena de Quatro Filhas da série da família Lemp

Cena de Quatro Filhas da série da família Lemp com Claude Rains, as irmãs Lane e Gale Page

Jimmy Lydon em um filme da série Henry Aldrich

Jimmy Lydon em um filme da série Henry Aldrich

Outro ciclo de filmes especializados para a família foi o do filme de família de pequena cidade do interior (small town family film). Além de longas-metragens classe A (v. g. Feira de Amostras / State Fair / 1933; O Juiz Priest (TV) / Judge Priest / 1934; Fúrias do Coração / Ah, Wilderness! / 1935) surgiram alguns filmes B: a série da família Jones da Fox (1936-1940) com Jed Prouty e Spring Byington; a série da famíla Hardy da MGM com Mickey Rooney (1937-1946); a série de três filmes da família Lemp da Warner Bros. (1938-1941) com Claude Rains, Gale Page e as irmãs Lane (Priscilla, Rosemary e Lola); a série Henry Aldrich da Paramount (1939-1944) com Jackie Cooper nos dois primeiros filmes e Jimmy Lydon nos demais. E houve duas tentativas frustradas: a da Universal de desenvolver a série da família Pierce a partir do filme The Family Next Door / 1937 (com Hugh Herbert como George Pierce) e a do produtor independente Harry M. Popkin de reproduzir o sucesso da família Hardy com uma família negra – os Browns: apenas um filme, One Dark Night / 1939 (com Mantan Moreland como Samson Brown) chegou a ser produzido.

Cena de Três Pequenas do Barulho com Deanna Durbin no centro

Cena de Três Pequenas do Barulho com Deanna Durbin no centro

Muitos dos mais memoráveis filmes para a família dos anos 30 foram lançados na época de Natal, considerado um período ideal para o comparecimento da família às salas de projeção (v. g. Era Uma Vez Dois Valentes / Babes in Toyland / 1934; Três Pequenas do Barulho / Three Smart Girls / 1936; Noite de Natal / A Christmas Carol / 1938). De Ilusão Também se Vive / Miracle on 34th Street da Twentieth Century Fox fez um tremendo sucesso no Natal de 1947 e foi visto pelo estúdio como um “filme anual” com potencial para ser reprisado nas festas natalinas subsequentes. O mesmo aconteceu com o clássico  A Felicidade Não se Compra / It’s a Wonderful Life / 1946 de Frank Capra, nas suas exibições pela televisão.

Cena de Noite de Natal

Cena de Noite de Natal

Cena de De Ilusão Também Se Vive com Edmund Gwenn, Natalie Wood e Maureen O'Hara

Cena de De Ilusão Também Se Vive com Edmund Gwenn, Natalie Wood e Maureen O’Hara

A série de Tarzan estrelada por Johnny Weissmuller – que começou na MGM em 1932 com perfil adulto e padrão classe A sob os auspícios de Irving Thalberg e acabou como filme B produzido pela RKO e orientado principalmente para as crianças – foi um bom exemplo de como o Código de Produção robustecido de 1934 impôs mudanças nos hábitos de Hollywood. A introducão do personagem Boy (Johnny Sheffield) já se constituira em uma tentativa clara de maior comprometimento com os espectadores jovens. Quando a franquia foi absorvida pela RKO em 1943, a série adotou um estilo de história em quadrinhos ainda mais afinado com o público juvenil.

Johnny Weissmuller e Johnny Sheffield em O Filho de Tarzan

Johnny Weissmuller e Johnny Sheffield em O Filho de Tarzan

Embora tivessem atingido o auge na era silenciosa, os seriados ainda estavam sendo produzidos nos anos 30, 40 e 50, porque eram um divertimento escapista ideal para as crianças. Adaptações em seriados de Buck Rogers, Flash Gordon, Superman, Captain America, Batman etc, foram produzidas pelas companhias especializadas nos serials, Republic, Universal e Columbia.

Larry Williams, Bonita granville e Frankie Thomas em um filme da série Nancy Drew

Larry Williams, Bonita granville e Frankie Thomas em um filme da série Nancy Drew

Uma das séries orientadas para as crianças mais populares foi Nancy Drew, baseada nos livros de aventura de “Carolyn Kane” (pseudônimo de vários autores) e produzida pela First National. Quatro exemplares (Nancy Drew, a Detetive / Nancy Drew: Detective, Nancy Drew, a Repórter / Nancy Drew … Reporter, Nancy Desvenda um Crime / Nancy DrewTrouble Shooter, Nancy Drew e a Escada Secreta / Nancy Drew and the Hidden Staircase) foram produzidos entre 1938 e 1939, cada qual girando em torno das façanhas de uma adolescente intrépida, interpetada por uma Bonita Granville de quinze anos de idade.

Frankie Darro e Mantan Moreland

Frankie Darro e Mantan Moreland

Já a série da Monogram, protagonizada por Frankie Darro, pode ser vista como uma precursora dos teen pic ou youth films dos anos 50 (que não se confundem com os filmes para a família). Nela apareceram astros infantís já em declínio (Jackie Moran e Marcia Mae Jones), que estavam então no final da adolescência.

Cena de Agora Seremos Felizes vendo-se em primeiro plano Leon Ames e Mary Astor

Cena de Agora Seremos Felizes vendo-se em primeiro plano Leon Ames e Mary Astor

Cena de Nossa Vida Com Papai

Cena de Nossa Vida Com Papai

Clifton Webb em Papai Batuta

Clifton Webb em Papai Batuta

Nos anos 40 e início dos anos 50, o filme para toda a família foi representado pelas celebrações nostálgicas de famílias do passado recente (v. g. Agora Seremos Felizes/ Meet Me in St. Louis / 1944; Noites de Verão / Centennial Summer/ 1946; Nossa Vida com Papai / Life with Father / 1947; Idílio para Todos / Summer Holiday /1948; Papai Batuta / Cheaper by the Dozen / 1950; Meus Braços Te Esperam / On Moonlight Bay / 1951; Lua Prateada / By The Light of the Silvery Moon / 1953)

Roddy McDowall e Flicka

Roddy McDowall e Flicka

Elizabeth Taylor e Lassie

Elizabeth Taylor e Lassie

Elizabeth Taylor em A Mocidade é Assim mesmo

Elizabeth Taylor em A Mocidade é Assim mesmo

Claude Jarman, Jr. em Virtude Selvagem

Claude Jarman, Jr. em Virtude Selvagem

e por filmes sobre animais endereçados para as crianças (v.g. Cachorro Vira-Lata / The Biscuit Eater / 1940; Minha Amiga Flicka / My Friend Flicka / 1943; A Força do Coração / Lassie Come Home / 1943; Amor Juvenil / Home in Indiana / 1944; A Mocidade é Asssim Mesmo / National Velvet / 1944; O Filho de Lassie / Son of Lassie / 1945; Fúria Selvagem / Thunderhead – Son of Flicka / 1945; A Coragem de Lassie / Courage of Lassie / 1946; Beleza Indomável / Black Beauty / 1946; Virtude Selvagem / The Yearling / 1947; Os Prados Verdes / Green Grass of Wyoming / 1948; Desafio de Lassie / Challenge to Lassie /1949) que, tal como as comédias-dramáticas da cidade pequena, ofereciam essencialmente um instantâneo nostálgico da vida rural, porém provocando uma identificação juvenil mais evidente, com o seu foco habitual no relacionamento entre uma criança e um animal.

Percy Kilbridge e Marjorie Main em um filme da série Ma and Pa Kettle

Percy Kilbridge e Marjorie Main em um filme da série Ma and Pa Kettle

Donald O' Çonnor e Francis

Donald O’ Çonnor e Francis

Elizabeth Taylor e Spencer Tracy em O Papai da Noiva

Elizabeth Taylor e Spencer Tracy em O Papai da Noiva

Surgiram ainda: a série Ma and Pa Kettle (1949-1957), iniciada com Nem Tudo Que Reluz é Ouro / Ma and Pa Kettle; a série Francis (1950-1956), iniciada com E … O Mulo Falou / Francis, The Mule; O Papai da Noiva / Father of the Bride / 1950 e Os Noivos de Mamãe / Louisa / 1950 – cuja popularidade levou o Variety a observar otimisticamente, que o “family film” era a espinha dorsal da bilheteria.

Bobby Driscoll e Robert Newton em A Ilha do Tesouro

Bobby Driscoll e Robert Newton em A Ilha do Tesouro

Cena de A Cidadela dos Robinsons

Cena de A Cidadela dos Robinsons

O advento da televisão mudou a natureza dos frequentadores de cinema e embora Walt Disney tivesse mantido a animação concomitantemente com filmes de ação ao vivo (A Ilha do Tesouro / Treasure Island / 1950; Robin Hood, O Justiceiro / The Story of Robin Hood / 1952; Entre a Espada e a Rosa / The Sword and the Rose / 1953; O Grande Rebelde / Rob Roy: The Highland Rogue / 1953; Felpudo, O Cão Feiticeiro / The Shaggy Dog / 1959; Pollyana / Pollyana / 1960 e A Cidadela dos Robinson / Swiss Family Robinson / 1960, ambos com a primeira child star genuina de Disney, Hayley Mills), monopolizando o mercado do filme familiar, iniciou-se uma busca de um novo filme para a família, que pudesse atrair um público cuja maioria estivesse entre as idades de 16 a 29 anos, mas que seduzisse também espectadores mais velhos.

familia 7th voyage of sinbad

Russ Tamblyn em O Pequeno Polegar

Russ Tamblyn em O Pequeno Polegar

Depois de uma fase na qual predominaram os filmes de produtores independentes como Ray Harryhausen (Sinbad e a Princesa / The 7th Voyage of Sinbad / 1958); George Pal (v.g. O Pequeno Polegar / Tom Thumb / 1958); Robert B. Radnitz (Doce Aurora da Vida / A Dog of Flanders / 1959) e do sucesso de Mary Poppins / Mary Poppins / 1964, os estúdios eventualmente diversificaram as formas genéricas do filme para a família, criaram departamentos para a sua produção (“family film” divisions) e intensificaram as franquias “kidult”, filmes de fantasia capazes de agradar a todas as gerações (E. T. – O Extraterrestre / E.T. – The Extraterrestrial, as séries Star Wars, Indiana Jones, Back to the Future, Jurassic Park, Toy Story, Harry Potter, Pirates of the Caribbean etc.) e os aparentemente infinitos filmes derivados dos heróis dos quadrinhos, comprovando que o filme para a família foi e sempre será uma das mais comercialmente exitosas e amplamente consumidas formas de entretenimento cinematográfico do mundo.