Ele foi o diretor mais popular e bem sucedido comercialmente do cinema americano clássico, e um dos seus eminentes pioneiros. É comumente lembrado como realizador de superespetáculos que, apesar de suas falsidades históricas, vulgaridade e moralismo, demonstravam uma inspiração épico-plástica, e nunca deixaram de agradar à milhões de espectadores. DeMille era um exímio contador de histórias, que levava as multidões aos cinemas, e nunca as decepcionou, oferecendo-lhes exatamente o que elas queriam ver. Sabia se promover muito bem, apresentando seus próprios trailers, narrando seus próprios filmes, comandando o Lux Radio Theatre. Nenhum outro diretor em Hollywood manteve-se com forte prestígio no meio cinematográfico durante um período tão longo de tempo, criando grandes atrações em cada uma das suas cinco décadas.
Durante o cinema mudo, no início de sua carreira, ele contribuiu com alguma inovação formal para época e abordou temas originais (v. g. Ferreteada! ou A Embusteira / The Cheat / 1915, Vassalagem ou Mumúrios da Consciência / The Whispering Chorus / 1918). Posteriormente à Primeira Guerra Mundial, o cineasta avaliou a nova civilização que emergira após o conflito, e chegou à conclusão de que os espectadores estavam fundamentalmente curiosos apenas por dinheiro e sexo. Para alcançar objetivos comerciais ele iniciou uma série de comédias de costumes ou, como diziam os críticos, “farsas de alcova sofisticadas” (v. g. Macho e Fêmea / Male and Female / 1919 e Por Que Trocar de Esposa? / Why Change Your Wife? / 1920) com heroínas glamourosas, vestidas provocantemente e uma decoração de interiores luxuosa, que exprimiam os costumes e a moral da sua época. DeMille dedicou-se também aos grandes espetáculos religiosos (ele se gabava de “ter feito mais pessoas lerem a Bíblia do que ninguém”) como Os Dez Mandamentos / The Ten Commandments / 1923 e O Rei dos Reis / The King of Kings / 1927, com os quais, além de auferir rendimentos polpudos, apazigou os grupos de pressão moralistas impressionados com os famosos escândalos no meio hollywoodiano (Roscoe Arbuckle, William Desmond Tayor, Wallace Reid), salvando toda a indústria de Hollywood, que iria ficar em breve sob autocensura, controlada rígidamente por Will H. Hays.
No período silencioso, o cineasta abordou ainda outros gêneros – o western (v. g. Pela Felicidade Dela / The Virginian / 1915), a comédia romântica (v. g. A Noite de Sábado / Saturday Night / 1922), o drama histórico (v. g. Barqueiro do Volga / The Volga Boatman / 1926), o drama social (v. g. De Qualquer Forma / Kindling / 1915, o drama criminal (v. g. Tentação! / Temptation / 1916), o drama de guerra (v. g. A Intrépida Americana / The Little American /1917), o drama social (Mulher Sem Deus / v.g. / 1929) etc., demonstrando sempre perfeito domínio da narrativa cinematográfica.
De Mille realizou 70 filmes, sendo 52 mudos e 18 falados. Dos 52 filmes mudos sobreviveram 45, mas nem todos estão atualmente disponíveis. Como não conheço toda a obra silenciosa de DeMille, posso apenas comentar alguns filmes dele anteriores ao cinema falado, que pude ver em boas cópias.
CARMEN / CARMEN / 1915
Quando Don Jose (Wallace Reid), um novo oficial em uma cidade da costa da Espanha recusa o suborno dos traficantes para deixá-los trazer bens ilegais, Carmen (Geraldine Farrar), uma cigana tempestuosa que vive com eles nas montanhas, é enviada para seduzí-lo. Ela consegue emprego em uma fábrica de cigarros e dança à noite na taverna, onde Morales (William Elmer), um outro oficial e Escamillo (Pedro De Cordoba), um toureador, a cortejam. Don Juan fica enfeitiçado por Carmen, e é induzido a abandonar seu posto, a fim de permitir a passagem dos traficantes. No dia seguinte, durante uma briga, Carmen fere Frasquita, uma colega da fábrica, e é presa por Don Jose. Depois que este permite que ela passe pela taverna, Morales, embriagado, insulta Don Jose, eles lutam, e Morales é morto. Carmen e Don Jose fogem para as montanhas. Depois que Carmen, dizendo que não pertence a homem algum, parte com Escamillo para Sevilha, Don Jose os segue. No portão da arena, durante a tourada, Carmen diz a Don Jose que está tudo acabado entre eles. Ele a esfaqueia e ela morre enquanto a multidão aplaude o vitorioso Escamillo.
DeMille achou que Carmen era um papel ideal para a famosa soprano Geraldine Farrar, mas devido ao alto preço dos direitos autorais do libreto da ópera de Bizet, ele preferiu adaptar o romance de Prosper Merimée, que havia caído no domínio público e que contava basicamente a mesma história.
Neste, que foi o segundo – mas o primeiro a ser lançado – dos seus 14 filmes (além de Carmen, ela fêz mais cinco sob as ordens de DeMille: Amor Vingado / Maria Rosa / 1915, Tentação ! / Temptation / 1916, Joana D’Arc, a Donzela de Orleans / Joan the Woman / 1917, A Mulher que Deus Esqueceu / The Woman God Forgot / 1917, A Pedra do Diabo / The Devil Stone / 1917), G. F. esforça-se para transmitir a sensualidade da personagem, mas seus dotes físicos não ajudam.
Os cenários, embora elaborados, são muito teatrais. Entretanto, DeMille conseguiu realizar um filme compacto (59’) – algo inusitado em sua carreira – e sem moralismo -, outra raridade tratando-se do cineasta. Essa concisão faz com que acompanhemos o drama de Mérimée, sem desgrudarmos nossa atenção da narrativa, resultando um espetáculo bastante apreciável para a sua época.
FERRETEADA! OU A EMBUSTEIRA / THE CHEAT / 1915.
Edith Hardy (Fannie Ward), mulher entediada e gastadora, diverte-se na companhia de seu admirador, Hishuru Tori (Sessue Hayakawa), japonês muito rico enquanto seu marido Dick (Jack Dean), corretor de valores, está tentando concluir um bom negócio. Acreditando nas informações que lhe foram dadas por um negociante rival de seu marido, Edith “toma emprestado” dez mil dólares de um fundo de socorro da Cruz Vermelha, do qual ela era tesoureira, para investir em ações de uma mineradora. Entretanto, o preço das ações da companhia despenca, e Edith é forçada a pedir ajuda a Tori, prometendo-lhe que, em troca do dinheiro, ela irá ao encontro dele na próxima noite. Quando Dick conta para Edith que sua transação comercial foi bem sucedida, ela tenta pagar Tori em dinheiro, porém este insiste para que ela cumpra sua promessa. Edith se recusa e Tori, enraivecido, marca-a com um um ferro em brasa. Edith dispara sua arma contra Tori e foge, mas seu marido descobre o japonês ferido, e é preso pelo crime. No julgamento, Dick é condenado, e está prestes a receber a sentença, quando Edith conta a verdade e mostra a marca no seu ombro. A multidão presente no tribunal quase lincha Tori. Dick é libertado e deixa o recinto com Edith em seus braços.
Neste melodrama sombrio, enfrentando o tabu da atração interracial, a maior parte da ação tem lugar na residência do milionário japonês. O motivo oriental de sua casa permite o uso frequente de sombras em um painel de papel feito de palha de arroz transparente e outras decorações. Várias cenas importantes são apresentadas em silhueta através desses painéis, como ocorre no momento climático, no qual o japonês é alvejado, cai em cima de um painel, e uma mancha de sangue se espalha enquanto o corpo dele tomba no chão.
O estilo visual desenvolvido por DeMille, pelo fotógrafo Alvin Wycoff e pelo diretor de arte Wilfred Buckland, deixa os personagens na escuridão, exceto por uma única fonte de luz (mostrando, por exemplo, apenas metade do rosto de um ator). Essa técnica de iluminação recebeu o nome de “Rembrandt lighting”, porque se assemelhava ao tratamento da luz que o grande pintor usava nos seus quadros, e serviu como modelo para a fotografia no cinema entre 1915 e 1918.
A esposa de Sessue Hayakawa, Tsuru Aoki, era mais conhecida do que ele na época, tendo estrelado diversos filmes para Thomas Ince porém, a partir de Ferreteada!, Hayakawa tornou-se um astro no cinema americano até partir para a Europa em 1923. Hoje, ele é mais conhecido por seu trabalho como o comandante japonês em A Ponte do Rio Kwai / The Bridge on the River Kwai / 1957. No filme original, o personagem de Hayakawa era definido claramente como japonês. Quando Ferreteada! foi exibido em 1915, a comunidade nipo-americana sentiu-se ultrajada e protestou, embora ninguém tivesse ouvido seus gritos. Em 1918, quando o Japão se tornou um aliado na Primeira Grande Guerra, o nome e a nacionalidade do personagem foram mudados: Tori passou a ser Haka Arakau, um bramanês rei do marfim – presumivelmente porque os produtores acharam que não havia um número de bramaneses suficiente no país para promover um novo protesto.
JEANNE D’ARC ou JOANA D’ARC, A DONZELA DE ORLEANS / JOAN THE WOMAN / 1917.
Enquanto luta na França durante a Primeira Guerra Mundial, um soldado inglês, (Wallace Reid) encontra na trincheira uma espada medieval e sonha com Joana d’Arc (Geraldine Farrar), que lhe pede para morrer pela França, a fim de expiar os pecados inglêses contra ela. Então, ele a vê tornando-se a líder das forças de Carlos VII (Raymond Hatton) contra os britânicos e capturando Orleans do inimigo, proporcionando assim a Carlos a sua maior vitória. No combate, Joana prende o comandante britânico, Eric Trent (Wallace Reid), que ela conhecera na sua aldeia algum tempo atrás, nascendo uma simpatia mútua. Joana pede a Carlos VII que liberte Trent, e este depois é forçado a capturar Joana em uma emboscada. Na prisão, Trent pede perdão a Joana e jura seu amor por ela; porém Joana lhe responde que seu coração pertence à França. Julgada por heresia pelo Bispo Cauchon (Theodore Roberts), Joana é condenada à morrer queimada na fogueira. Trent invade a prisão e tenta em vão salvá-la, mas é impedido pelos guardas de Cauchon. Joana perece nas chamas. Inspirado por esta visão, o soldado inglês, quando acorda, sacrifica-se em um ataque noturno audacioso contra as trincheiras germânicas.
Joana D’ Arc serviu como modelo para os superespetáculos posteriores de DeMille, destacando-se a longa cena de batalha – com ajuda de 17 câmeras e um grupo de assistentes de direção entre eles William deMille, George Melford e Donad Crisp – e o recurso ao retrospecto histórico (que seria usado em vários de seus filmes) para que o diretor pudesse incutir alguma grandeza épica e explorar o seu interesse – e o da sua colaboradora mais assídua, a roteirista Jeannie Macpherson – pela reencarnação.
Nota-se ainda: o emprego do processo de pintura por meio de estêncil patenteado pelo gravador Max Handschiegl e pelo fotógrafo Alvyn Wycoff, notadamente nas chamas, quando Joana é queimada; a imponência dos cenários de Wilfred Buckland; o uso da “Rembrandt lighting”; o estilo de interpretação formal e estilizado dos atores principais.
Apesar de ser mais velha do que a verdadeira Joana, Geraldine Farrar expressa corretamente as caraterísticas mais importantes da heroína, evitando parecer muito feminina, para assumir os traços de uma mulher rústica e forte. O “romance” de Joan com Trent obviamente nada tem ver com a História, mas enseja algumas cenas belas como a da separação dos dois na prisão, que termina com Joana ajoelhada diante do altar.
VASSALAGEM OU MURMÚRIOS DA CONSCIÊNCIA / THE WHISPERING CHORUS / 1918.
Atolado de dívidas, o contador John Trimble (Raymond Hatton) dá um desfalque na firma em que trabalha. Quando uma investigação nos livros da companhia ameaça expor seu crime, John foge, e se refugia no meio de uma floresta. Ele descobre um cadáver em um reservatório de água próximo e assume a sua identidade, deixando indícios para fazer crer que o cadáver é o dele, John, que teria sido assassinado. A polícia descobre o corpo e cai no laço. Sob o nome usurpado de Edgar Smith, John perambula por Chinatown e se torna vendedor ambulante. Entrementes, Jane, acreditando que ele está morto, casa-se com George Coggeswell (Elliott Dexter), que se torna governador do Estado. Cada vez mais infeliz, John decide visitar sua progenitora (Edythe Chapman). Ela morre logo depois de revê-lo. Com o nome fictício de Edgar Smith, John é preso pelo assassinato … de sí mesmo. Jane a príncipio não o reconhece, mas depois, muito perturbada, vai visitá-lo na prisão. Compreendendo que uma revelação pública da verdade arruinará a felicidade de Jane (e do filho que ela teve com Coggeswell), John ouve a voz da sua consciência (the whispering chorus), e prefere manter o silêncio. Ele vai para a cadeira elétrica com uma rosa na mão, que ganhou daquela que outrora fôra sua esposa.
Estudo psicológico mórbido através do qual DeMille aborda um tema recorrente na sua obra: o do mundo dominado por uma providência divina, cujas leis são impenetráveis. Este conteúdo é acompanhado por uma pesquisa formal bem sucedida, notadamente na materialização do pensamento do protagonista por superimpressões de rostos alternadamente ferozes ou serenos. DeMille utiliza também a montagem paralela com eficiência, por exemplo, a cerimônia de casamento entrecruzada com o encontro amoroso de Tremble com uma prostituta chinesa. A sequência na casa da morte é construída com detalhes precisos, até a cena final poética. A mão de Tremble é amarrada na cadeira elétrica. Elas manuseiam as pétalas de uma rosa. A chave para a eletrocução é acionada. As pétalas caem no chão.
MACHO E FÊMEA ou DE FIDALGA A ESCRAVA / 1919
William Crichton (Thomas Meigham) é mordomo de Lord Loam (Theodore Roberts) e de sua família indolente. Ele ama secretamente Lady Mary Lasenby (Gloria Swanson), filha do conde e, por sua vez, é amado por “Tweeny” (Lila Lee), criada da mansão do lorde. Durante um cruzeiro de férias a família e a criadagem naufragam em uma ilha deserta. Eles descobrem que a condição social nada significa na selva. Pela sua liderança e habilidade de sobreviver naquele ambiente primitivo, Crichton torna-se um “rei” na ilha. Quando está prestes a receber Lady Mary em casamento, surge um navio e resgata os náufragos. De volta à Inglaterra, todos reassumem suas antigas posições na sociedade.
Terceiro dos seis filmes que DeMille fez com Gloria Swanson (os outros foram: Não Troqueis Vossos Maridos / Don’t Change Your Husband / 1919, A Renúncia / For Better, For Worse / 1919, Por Que Trocar de Esposa? / Why Change Your Wife? / 1920, Alguma Coisa Em Que Pensar / Something To Think About / 1920, As Aventuras de Anatólio / The Affairs of Anatol / 1921), Macho e Fêmea foi baseado em uma peça de J. M. Barrie, “The Amirable Crichton”, que lida comicamente com o tema da consciência de classe. Na ilha, em plena natureza, as hierarquias sociais artificiais desaparecem e o mordomo e a aristocrata se relacionam de acordo com seus desejos e qualidades verdadeiros. Em Londres, cada qual retoma a sua situação anterior na sociedade. Chrichton casa-se com Tweeny e parte com ela para uma existência idílica em uma fazenda americana. Lady Mary confirma seu casamento com Lord Brokelhurst (Robert Cain).
Em uma sequência onírica, apresentada em flashback. Gloria Swanson é uma prisioneira que resiste à luxúria do rei babilônio (Thomas Meigham), mordendo sua mão. Em consequência, ela é jogada em uma cela à mercê dos “leões sagrados de Ishtar”. Gloria está deitada no chão, um leão de verdade se aproxima e põe as patas nas suas costas. Quando a filmagem terminou, a atriz dirigiu-se ao escritório de DeMille e lhe informou que estava tremendo de medo e provavelmente não poderia vir trabalhar no dia seguinte. DeMille então mostrou-lhe uma caixa cheia de jóias, para que ela escolhesse algo que lhe acalmasse os nervos. “Eu peguei uma bolsa de malha dourada com um fecho de esmeralda e inediatamente me senti bem melhor”, disse ela ao se lembrar deste fato tempos depois.
Neste retrospecto histórico, que serviu como pretexto para a exibição de um vestuário (de Mitchel Leisen) e um cenário (de Wilfred Buckland) extravagantes tão ao gôsto do diretor, aparece Bebe Daniels como a favorita do rei. Durante as cenas passadas na Inglaterra, Gloria Swanson, tal como em todos os seus filmes com DeMille, veste roupas incríveis: robes enfeitados com guarnição de peles, longos colares de pérolas, turbantes enfeitados com penas ou plumas, vestidos de noite com caudas longas adornadas de arminho, dorme em lençóis de cetim, senta-se em cadeiras forradas de brocado e entra em um banheiro luxuriosamente decorado. O público gostava de Gloria, mas apreciava também as roupas, as camas, as cadeiras, e especialmente os banheiros.
A NOITE DE SÁBADO / SATURDAY NIGHT / 1922.
Iris Van Suydam (Leatrice Joy) e Richard Wynbroock Prentiss (Conrad Nagel), um rico casal da alta sociedade, estão noivos. Entretanto, Iris é atraída pelo seu motorista Tom McGuire (Jack Mower), que está apaixonado por ela; e Richard conhece Shamrock O’Day ( Edith Roberts), filha de uma lavadeira, e se rende aos seus encantos. Consequentemente, Iris e Richard cancelam seu noivado e cada qual se casa com o parceiro de sua preferência. Mais tarde, eles descobrem sua incapacidade para se ajustar a outro meio social. Tom sente-se deslocado no mundo de ópera, boates da moda e concêrtos de Iris; enquanto Shamrock não fica à vontade em um banquete formal e se embriaga. Uma noite, após uma festa, Tom e Shamrock dão uma fugidinha até Coney Island, onde ficam presos no alto de uma roda gigante durante várias horas; ao voltar para casa eles encontram Richard e Iris aguardando por eles. Tom declara seu amor por Shamrock e uma luta entre ele e Richard é interrompida por um incêndio. Depois do resgate de Iris por Richard, efetuam-se os divórcios. Tom casa-se com Shamrock e Richard com Iris.
A maior parte dos efeitos cômicos provém do choque causado pela transferência de uma jovem da classe pobre para um ambiente rico e reciprocamente uma jovem da classe rica para um ambiente pobre. Inicialmente a situação parece mais fácil para a lavadeira do que para a herdeira rica. Ela tem que se acostumar a tomar banho todos os dias e não somente no sábado à noite e evitar beber muito vinho. A herdeira tem que viver em um apartamento minúsculo perto de uma linha de trem na companhia de sua sogra, que a acolhe mandando-a para a cozinha e lhe dizendo alegremente: “Eu comprei um esfregão novo, assim você não precisará lavar o chão muitas vêzes”. Mas eventualmente a lavadeira não consegue suportar a sensação de que seu marido sente vergonha dela. Ela lhe explica porque prefere estar com o marido de Iris, que se tornou seu chofer: Gosto de Tom porque ele gosta de goma-de-mascar, cachorro-quente, e jazz! Assim como você e Iris gostam de óperas e azeitonas – e coisas parecidas”.
O tom geral leve do filme é contrastado com duas cenas de ação espetaculares. Quando a herdeira rica sai para um piquenique com seu chofer, ela decide dirigir o carro, e segue por um atalho pela linha da ferrovia; um trem chega, e eles só têm tempo para saltar para fora do carro, e ficarem dependurados em uma ponte enquanto o trem se choca com o carro, fazendo-o despencar de muitos metros de altura. Durante a cena na casa de Tom, quando Shamrock diz a Richard que não pode mais viver com ele, irrompe um incêndio, o prédio é evacuado enquanto os bombeiros tentam extinguir o fogo, e Richard penetra nas chamas para salvar Iris. Por sua vez, o instinto visual de DeMille pode ser apreciado nas imagens da sequência do baile de Halloween e do parque de diversões em Coney Island, onde ocorre uma situação depois muito copiada: a roda gigante para e Shamrock e Tom ficam seis horas presos lá no alto.
Substituindo Gloria Swanson como atriz preferida de DeMille, Leatrice Joy, estrelaria, sob suas ordens, A Homicida / Manslaughter / 1922 e Triunfo / Triumph / 1924, e faria o papel de Mary Leigh na primeira versão de Os Dez Mandamentos. Mas quem chama mais atenção no filme é Edith Roberts, que demonstra uma vivacidade encantadora.
A COSTELA DE ADÃO / ADAM’S RIB / 1923.
Após dezenove anos de casamento, Marian Ramsey (Anna Q. Nilsson), negligenciada pelo seu marido Michael (Milton Sills), negociante de trigo de Chicago, está sendo cortejada por Monsieur Jaromir (Theodore Kosloff), o rei deposto de Morania. A filha deles, Mathilda (Pauline Garon) embora esteja apaixonada pelo reputado (e distraído) antropólogo, Professor Nathan Humboldt Reade (Elliott Dexter), tenta salvar a reputação de sua mãe, conquistando as atenções do rei. Ao descobrir o romance entre sua mulher e Jaromir, Ramsay procura um meio de se livrar do seu rival. Ao saber que Morania está precisando muito de dinheiro, ele oferece aos ministros que estão no poder comprar todo o trigo do reino em troca de milhares de dólares, desde que o rei seja reconduzido ao trono, e se case com uma condessa local. O Professor Reade por sua vez, fica decepcionado com a conduta de Mathilda, e se afasta dela. Entretanto, após alguns incidentes, Marian percebe a impropriedade de sua conduta e aceita o marido como ele é, enquanto Mathilda recobra a confiança do Professor Reade. Jaromir volta para o seu trono e cumpre o prometido.
O filme começa como uma comédia sobre adultério e decepção amorosa e termina como um melodrama convencional. Ele poderia ter sido melhor, se não tivesse abrigado um episódio ridículo e interminável passado na pré-história, que prejudica o andamento da narrativa. O retrospecto – uma mania do diretor – ao tempo das cavernas, além de ser perfeitamente dispensável, recebeu uma moldura cênica de mau gôsto e os atores estão grotescamente maquilados.
Curiosamente, o espetáculo encerra ainda uma sequência em um museu com o par de namorados e um esqueleto de dinossauro, que teria uma descendência famosa, pois Howard Hawks nela se inspirou para encenar uma situação análoga em Levada da Breca / Bringing Up Baby / 1938 .
Melhor do que tudo é o título introdutório: “A idade perigosa da mulher é de três a setenta anos”.
OS DEZ MANDAMENTOS / THE TEN COMMANDMENTS / 1923.
Primeira Parte: O povo hebreu, reduzido à escravidão, trabalha arduamente na construção das pirâmides e outros edifícios destinados a eternizar na pedra a glória dos egípcios. Durante o transporte de uma esfinge, um homem é morto. Moisés (Theodore Roberts) pede a Ramsés (Charles De Roche) a libertação de seu povo, mas este recusa. Deus faz morrer primogênitos das famílias egípcias. Moisés reitera seu pedido, que então é aceito. Os hebreus deixam o Egito. Não obtendo de seu Deus a ressurreição de seu filho (Terrence Moore), Ramsés lança seus carros de combate à perseguição do povo de Israel em marcha. Os carros chegam às margens do Rio Vermelho. Uma muralha de fogo se eleva para separar judeus e egípcios, e depois as águas se abrem, deixando passagem para os judeus. Os egípcios seguem o mesmo caminho, e morrem afogados. Moisés chega ao Monte Sinai, onde o texto dos Dez Mandamentos aparece sob uma chuva ofuscante de faíscas e explosões. No acampamento, lá em baixo, Aaron (James Neill), irmão de Moisés manda fabricar um Bezerro de Ouro. Enquanto isso, Moisés grava os mandamentos em tábuas. Orgias se desenrolam em torno do Bezerro de Ouro. A rainha da festa fica leprosa. Moisés joga as tábuas sobre a multidão. Um raio destrói o Bezerro de Ouro. Segunda Parte: Em San Francisco, dois irmãos, Dan (Rod La Rocque) e John (Richard Dix), tomam decisões opostas. John segue os ensinamentos de sua mãe. Mrs. Tavish (Edythe Chapman) baseados nos Dez Mandamentos, e se torna um pobre carpinteiro; Dan, infringe todos eles, e enriquece. John se apaixona por Mary Leigh, uma jovem faminta que lhe roubara a comida, quando ele almoçava em uma lanchonete; porém ela se casa com Dan, que se tornara um construtor corrupto. Dan constrói uma igreja com cimento de má qualidade. Um dia, sua mãe vai visitá-lo na obra, e uma parede cai sobre ela, matando-a. A partir daí, começa a ruína de Dan. Ele sofre uma chantagem e, para arranjar dinheiro, rouba as jóias de sua amante, Sally Lung (Nita Naldi), uma asiática. Quando esta reage, ele a mata. Dan tenta fugir para o México em uma lancha, mas sofre um desastre, e morre. John e Mary se unem para sempre.
O roteiro do primeiro filme bíblico de DeMille foi escrito a partir de uma sugestão recebida através de um concurso promovido pelo Los Angeles Times. DeMille e Macpherson optaram por uma construção dramática incluindo um prólogo bíblico, recriando os principais episódios do Livro do Êxodo, e uma historia moderna alegórica baseada na idéia original fornecida pelo vencedor do concurso, um cidadão do Michigan, F. C. Nelson, que escreveu esta frase: “Você não pode destruir os Dez Mandamentos – porque eles te destruirão”.
Na história moderna, quatro personagens interpretam os Dez Mandamentos de maneiras diferentes. Mrs. Tavish observa os Dez Mandamentos de maneira errada. Ela é fanática, intolerante, beata. Mary Leigh não se importa com os Dez Mandamentos de jeito nenhum. Ela é uma boa moça, mas passou tanto tempo trabalhando, que não aprendeu a Lei das Doze Tábuas. Dan McTavish conhece os Dez Mandamentos, mas os desafia. John McTavish acredita nos Dez Mandamentos como leis imutáveis do universo, tão praticáveis em 1923 como eram no tempo de Moisés.
Os cenários egípcios de Paul Iribe são espetaculares. A cidade de Ramsés foi erguida nas dunas de areia de Guadalupe no Norte do Condado de Santa Bárbara. Um aglomerado de tendas, apelidado de Camp DeMille, surgiu para acomodar o elenco e a equipe técnica. De acordo com as estatísticas da produção, divulgadas na época, foram utilizados 500 carpinteiros, 400 pintores e 380 decoradores para construir os projetos de Iribe. Esses dados costumam ser inflacionados para fins de publicidade, mas fotos tiradas durante a construção dos sets parecem confirmar tais estatísticas. Cerca de 2.500 figurantes foram usados nas cenas do Êxodo, fornecendo-se refeições e vestuário para todos eles. Os Dez Mandamentos foi um empreendimento gigantesco.
Pela primeira vez, desde Pela Felicidade Dela / 1914, Alvin Wycoff não esteve atrás da câmera em um filme de DeMille. Para Os Dez Mandamentos, DeMille escolheu Bert Glennon para comandar a equipe fotográfica constituida ainda por J. Peverell Marley, que se tornaria um dos fotógrafos favoritos do diretor e Archie Mayo, especialista na filmagem de exteriores. Ray Rennahan, da Technicolor Motion Picture Corporation filmou cenas coloridas do Êxodo, tendo sido também usado o processo de estêncio Handschiegl.
Na sequência do Mar Vermelho, o diretor técnico de DeMille, Roy Pomeroy combinou cenas dos israelitas rodadas nas dunas de Guadalupe com as cenas filmadas em ação lenta e inversa de uma grande quantidade de água cascateando sobre uma barragem de gelatina.
A grandiosidade e a audácia do prólogo bíblico faz a história moderna parecer anti-climática porém, para a segunda parte do filme, DeMille providenciou mais duas cenas impressionantes: o desabamento de uma catedral e uma tempestade no mar durante a tentativa de fuga de Dan.
O BARQUEIRO DO VOLGA / THE VOLGA BOATMAN / 1926.
Enquanto cavalgava pelas margens do Rio Volga na companhia de seu noivo, Príncipe Dimitri Orloff (Victor Varconi), oficial do Exército Branco, a Princesa Vera (Elinor Fair) conhece Feodor (William Boyd), um barqueiro. Com o desenrolar da Revolução, o castelo do Príncipe Nikita (Robert Edeson), pai de Vera, é assaltado, e um revolucionário é morto por um criado. Feodor, o comandante dos revolucionários, pede uma vida em troca, e Vera é aprisionada. Porém ficando a sós com ela, Feodor não tem coragem de matá-la; quando a multidão retorna, ele simula sua morte. Entretanto, Mariuscha (Julia Faye), uma camponesa que ama Feodor, descobre a trama, e chama seus companheiros. Feodor e Vera conseguem fugir, e chegam a uma estalagem, onde Feodor declara que Vera é sua esposa. O Exército Branco invade o local e Feodor e Vera são presos. Vera é oferecida para o entretenimento dos oficiais, porém Dimitri, reconhece sua noiva, e ordena que Feodor seja executado. O Exército Vermelho toma a cidade, e Vera Feodor, Dimitri e os aristocratas, são obrigados a puxar um barco sob a chibata dos revolucionários. Os três são julgados por um Tribunal Revolucionário, que lhes dá a seguinte opção: servir à Revolução ou o exílio. Dimitri escolhe o exílio. Vera fica com Feodor, e sonham em ajudar a construir uma Nova Rússia.
Parece estranho que um republicano-conservador como DeMille pudesse fazer um filme sobre a Revolução Russa, mas em 1925 o mundo ainda estava excitado com a derrubada do Czar, e a arte e os filmes soviéticos, eram admirados no meio intelectual. Por isso, essa aventura histórica não toma partido de nenhuma das partes envolvidas – tanto os revolucionários como os amigos de Nicolau II têm seus heróis e vilões.
DeMille não se preocupou com a autenticidade (v.g. o barqueiro não era usado no Volga havia muito tempo) e o conjunto do filme é constantemente inverossímil, mas sob o ponto de vista do entretenimento, o filme é impecável, registrando-se ainda algumas cenas antológicas como aquela em que a Princesa Vera, confundida com uma campesina, é desnudada pelos soldados tsaristas: não se vê Vera despida, apenas os rostos dos soldados, enquadrados cada vez mais de perto, nos informando sobre o que está acontecendo.
JESUS CRISTO, O REI DOS REIS ou O REI DOS REIS / THE KING OF KINGS / 1927.
Sucedem-se episódios dramáticos da vida de Jesus (H.B. Warner). Na primeira parte, a expulsão dos sete pecados capitais de Maria Madalena (Jacqueline Logan), a ressurreição de Lázaro (Kenneth Thompson), a expulsão dos mercadores do templo, e o ensinamento do Padre Nosso. A segunda parte descreve a Paixão: a Última Ceia, a traição de Jesus por Judas (Joseph Schildkraut), o julgamento diante de Pôncio Pilatos (Victor Varconi), a Via Crucis, a Cucificação, a Ressurreição, e a Ascensão.
O espetáculo revela seu propósito evangélico desde o início, quando um letreiro diz que o filme foi feito em obediência ao comando de Cristo, de que sua mensagem fosse espalhada para os lugares mais remotos da Terra. Entretanto, as sequências de abertura são pura Hollywood, sem nenhum apoio nas Escrituras. A ação tem início na residência luxuosa da cortesã Maria Madalena, um ambiente sensual e excêntrico, onde não falta um leopardo de estimação. DeMille e sua roteirista predileta tiveram a audácia de começar o filme sugerindo um relacionamento amoroso entre Maria Madalena e Judas. Ao saber que seu amante Judas está na companhia de um carpinteiro da Galiléia e um bando de seus seguidores, a cortesã, enciumada, parte ao encontro dele em uma biga puxada por zebras, “presente de um príncipe Núbio”. A idéia era estruturar o filme em torno de um triângulo romântico, envolvendo Judas, Jesus e Maria Magdala; porém, para alívio do Padre Daniel A. Lord, consultor religioso do filme (que seria o redator do Motion Picture Production Code), esse conceito foi abandonado logo depois da primeira sequência.
Em seguida, a ação se transfere para a casa onde Jesus se encontra. Uma multidão se aglomera lá fora, procurando cura para suas doenças. Um garoto chamado Marcos, curado de sua dificuldade de andar, joga fora suas muletas. O intertítulo identifica-o como Marcos, o futuro autor de um Evangelho (outra invenção de Hollywood). E é ele que conduz uma menina cega à presença de Jesus. Ela diz: “Nunca ví as flores nem a luz. Podeis curar-me Senhor?” Em uma cena soberbamente engendrada, a tela se enche de luz e gradualmente, à medida em que a menina recobra a visão, o rosto de Jesus entra no foco, e ele é visto pelos espectadores pela primeira vez. Maria Madalena chega para confrontar Jesus e, em outra cena engenhosa, os sete pecados capitais saem de seu corpo – a luxúria, a ambição, o orgulho, a gulodice, a indolência, a inveja e a raiva aparecem em sobreimpressão à sua volta. Eles desaparecem e, agora purificada de seus pecados e consciente de sua semi-nudez, ela se cobre com o seu manto. Essas cenas inventadas estabelecem o conflito entre o sagrado e o profano, um tema recorrente nos filmes de DeMille sobre o mundo antigo e épicos bíblicos.
O fotógrafo Peverell Marley usou stenta 75 lentes diferentes em vez das quatro usuais e 7 tipos de película, para garantir uma iluminação, que combinasse com a mesma das pinturas bíblicas dos grandes mestres europeus. Mitchell Leisen, que faria uma carreira brilhante em Hollywood como figurinista e depois diretor, encarregou-se da direção de arte. Os cenários massivos do Templo, do Portão de Nicanor e ruas de Nazaré e Jerusalem foram projetados pelo arquiteto Pridgeon Smith. DeMille mandou fazer croquís para todas as cenas, planos, vestimentas e adereços por um time de artistas: Dan Groesbeck, Anton Grot, Edward Jewel, Julian Harrison e Harold Miles.
Embora um dos consultores religiosos do filme, Bruce Barton, tivesse escrito um best-seller sobre o Cristo, “The Man Nobody Knows”, descrevendo-o como “robusto, varonil, imperioso”, o Jesus de H. B. Warner aproxima-se mais da imagem do “Jesus gentil, meigo, e humilde” (v.g. Jesus consertando o brinquedo de uma criança).
Caracteristicamente, DeMille encenou a crucificação sob raios e trovões, um furacão, e um terremoto que, entre outras coisas, derruba a árvore na qual Judas se enforcara. Quando DeMille filmava esta cena, David Wark Griffith entrou no estúdio. Então, DeMille, honrado com a presença do ilustre pioneiro, pediu para ele dirigir uma pequena sequência.
MULHER SEM DEUS! / THE GODLESS GIRL / 1929.
Nos anos vinte, em uma universidade americana, Judith Craig (Lina Basquette), funda um clube denominado The Godless Society (Sociedade sem Deus), e começa a recrutar membros. No dia em que a seita vai decidir sob a admissão do jovem Samuel “Bozo” Johnson (Eddie Quillan), um grupo adversário, defensor fervoroso da religião, dirigido por Bob Hathaway (George Duryea), incita os colegas a atacar os ateus, irrompendo um tumulto. Uma estudante (Mary Jane Irving) é morta como consequência direta do distúrbio, e Judith, Bob e “Bozo” são indiciados por homicídio culposo e enviados para um reformatório. Os três são maltratados por um sádico chefe da guarda (Noah Beery). Judith faz amizade com uma jovem que recuperou a fé, Mame (Marie Prevost) e começa a ler a Bíblia. Bob, por sua vez, aprende pouco a pouco a conhecer melhor Judith e vice-versa. Eles se apaixonam, e conseguem fugir, mas são logo recapturados. Após seu retôrno ao reformatório, um incêndio se alastra na seção das mulheres. Bob salva Judith. Ao perseguir Bob, o chefe da guarda se agarra a uma porta metálica por onde passa uma corrente elétrica, e fica prestes a morrer eletrocutado. Bob também o salva. Por causa disso, o chefe da guarda intercede em favor dos três amigos, que são liberados pouco depois, juntamente com Mame. Esta também gosta de Bob, porém prefere seguir outro caminho, para não atrapalhar o romance dele com Judith. “Bozo” fica momentaneamente sem saber para onde ir, e acaba seguindo Mame.
No seu último filme mudo DeMille, denuncia o fanatismo religioso e anti-religioso (porém mais o anti-religoso do que o religioso) e as falhas de uma instituição penal para jovens. Após uma rixa entre ateus militantes e crentes fundamentalistas no campus de uma universidade, dois rapazes e uma moça são responsabilizados pela morte de uma jovem e enviados para um reformatório, onde sofrem um tratamento desumano.
As experiências deploráveis pelas quais eles passam são mostradas com muito realismo e um vigor cinematográfico impressionante, destacando-se a sequência do tumulto, quando as duas facções se confrontam nas escadas da faculdade. São cenas de um cinema magnífico pela noção de espaço e enquadramento, digno de qualquer antologia da sétima arte.
Em uma cena de brutalidade com final alegórico, Bob e Judy, obrigados a puxar carrinhos de mão cheios de lixo, conversam através da cerca de arame eletrificada que separa a ala masculina da feminina, quando o chefe da guarda liga a corrente elétrica, dando um choque nos dois jovens. Judy consegue retirar sua mão da grade, e vê uma pequena cruz que a descarga elétrica desenhou na palma de sua mão – um milagre típico de DeMille.
Após um interlúdio na floresta, onde a intolerância mútua dos dois fugitivos se enfraquece (Ela diz: “Eu tentei ao máximo odiá-lo! Ele: “E eu tentei ao máximo não amá-la”) e o fotógrafo Peverell Marley tira o máximo de vantagem do cenário em exteriores – compondo belas imagens em foco suave -, a trama caminha para o final, quando irrompe uma cena de desastre demilleana, no caso um incêndio na prisão, encenado com muito alvoroço e suspense.
DeMille não hesitou em romper com o sistema de astros, outorgando os papéis principais a George Duryea (que só se tornaria bem conhecido mais tarde no western sob o nome de Tom Keene) e Lina Basquette, artista infantil na série de curta-metragem “Lena Baskette Featurettes” da Universal e depois dançarina no Ziegfeld Follies.
FILMOGRAFIA
1914 – Amor que Sofre ou O Marido da Índia / The Squaw Man, co-dir. Oscar Apfel; Brewster’s Millions, co. dir. Oscar Apfel; O Moderno Rocambole ou Aventuras de um Ladrão Célebre / The Master Mind, co. dir. Oscar Apfel; The Only Son, co. dir. Willam C. DeMille, Oscar Apfel, Thomas H. Heffron; Na Romântica Nova York / The Call of the North, co. dir. Oscar Apfel; Pela Felicidade Dela / The Virginian; Quem é Você? / What’s His Name; O Senhor do Lar / The Man from Home; Rosa do Rancho / Rose of the Rancho; The Ghost Breaker, co. dir. Oscar Apfel. 1915 – Sonhos de Moça / The Girl of the Golden West; After Five, co-dir. Oscar Apfel; Intrépida Pioneira / The Warrens of Virginia; A Destemida / The Unafraid,; O Prisioneiro do Coração / The Captive; The Wild Goose Chase; O Árabe / The Arab; Chimmie Fadden; De Qualquer Forma / Kindling; Carmen / Carmen; No Caminho do Dever / Chimmie Fadden Out West; Ferreteada! ou A Embusteira / The Cheat; Capricho da Sorte / The Golden Chance. 1916 – Tentação / Temptation; The Trail of the Lonsesome Pine; Enganado ou O Coração de Laura / The Heart of Nora Flynn; Amor Vingado ou Maria Rosa / Maria Rosa; A Sonhadora / The Dream Girl. 1917 – Jeanne D ‘Arc ou Joana D’Arc, a Donzela de Orleans / Joan the Woman; Perseverança / A Romance of the Redwoods; A Intrépida Americana / The Little American: A Mulher que Deus Esqueceu / The Woman God Forgot; A Pedra do Diabo / The Devil Stone. 1918 – Vassalagem ou Murmúrios da Consciência; Esposas Velhas por Novas ou Amores Velhos por Novos; A Flor do Desejo / We Can’t Have Everything; O Rei Herói / Till I Come Back to You; Amor de Índia / The Squaw Man. 1919 – Não Troqueis Vossos Maridos / Don’t Change Your Husband; A Renúncia / For Better, For Worse; Macho e Fêmea ou De Fidalga a Escrava. Por Que Trocar de Esposa? / Why Change Your Wife?; Alguma Coisa em que Pensar / Something to Think About. 1921 – O Fruto Proibido / Forbiden Fruit, As Aventuras de Anatólio / The Affair of Anatol; À Porta do Paraíso / Fool’s Paradise. 1922 – A Noite de Sábado / Saturday Night; A Homicida / Manslaughter. 1923 – A Costela de Adão / Adam’s Rib; Os Dez Mandamentos / The Ten Commandments. 1924 – Triunfo / Triumph; Amor e Morte / no relançamento, Amor Até a Morte / Feet of Clay. 1925 – A Cama de Ouro / The Golden Bed; O Que Fomos no Passado ou Amor Eterno / The Road to Yesterday. 1926 – O Barqueiro do Volga / The Volga Boatman. 1927 – Jesus Cristo, o Rei dos Reis ou O Rei dos Reis / The King of Kings. A Mulher Sem Deus! / The Godless Girl.
A obra de Saint-Exupéry, breve e radiante, é toda inteiramente extraída de uma experiência vivida.…
Desde a infância sou fascinado pela Segunda Guerra Mundial e pelo Cinema, porém só recentemente…
Ele realizou, com a cumplicidade do roteirista Jacques Sigurd, quatro filmes que foram os mais…
Ele construiu uma carreira em torno de fugas sensacionais encenadas. Depois de trabalhar por vários…
Marco Polo (1254-1314) partiu de Veneza em 1271 na companhia do pai e de um…
Charles J. Brabin (1883-1957) nascido em Liverpool, Inglaterra chegou aos Estados Unidos ainda muito jovem…
View Comments
bom dia Professor. Maia uma vez agadecido pelos informes cinematográficos. Obrigado.
Coloquei mais fotos
Professor, excelente artigo com informações preciosas sobre um periodo geralmente ignorado por muitos mas cujo valor é inegavel. Aguardo ansiosamente para o artigo, que acredito o senhor pretende postar, complementando com os filmes falados de DeMille. Maravilhoso. Vou divulgar um link no meu blog.
Obrigado Adilson. Não está nos meus planos falar sobre a fase sonora de DeMille, pois esta já é bastante conhecida.
Saudações Mestre A. C!
Brilhante matéria sobre um dos mais respeitados cineastas de todos os tempos em seu período "silent", um dos meus prediletos ao lado de John Ford, William Wyler, e Nicholas Ray.
Talvez esta "inspiração épico-plástica" do diretor o torne um pouco artificial em seus trabalhos, mas o homem fez brilhantes obras que conquistaram a simpatia do público e de importantes críticos. Ele era um diretor que sabia surpreender e que investia em seus trabalhos e em seus colaboradores.
Quando realizou O REI DOS REIS, salvou a reputação de H.B.Warner, que durante a produção se envolveu com uma mulher que depois ele dispensou. Ela ameaçou fazer um escândalo, contudo, DeMille interveio e segundo se acredita ele teria pago a ela para sumir do mapa para não atrapalhar o andamento de sua obra religiosa.
Aliás, DeMille fez severas imposições durante a realização deste filme que enfoca a vida de Jesus, como a de seus atores não serem pegos fumando, bebendo, e dirigindo carros caros, e impondo mesmo um clima de retiro religioso dentro do set de filmagem, pois todas as manhãs, um padre (possivelmente o padre Daniel A. Lord) celebrava missas antes de retomar as filmagens. Para completar, o diretor fez questão de filmar a crucificação de Jesus na noite de Natal.
De Mille tinha seus escrúpulos, mas falava sobre a bíblia e de suas razões de se filmar histórias bíblicas:
"A Bíblia é um Best-Seller. Por que logo eu desperdiçaria 2000 anos de publicidade gratuita?"
Parabéns Professor! Excelente artigo. Grande abraço.
Obrigado Paulo. Você enriquece meu post com suas informações. Seu blog está ótimo. Parabéns.