Assim que as estrelas de cinema começaram a usar suas jóias, peças foram feitas para a venda ao público em geral, e agora colecionadores do mundo todo as procuram àvidamente.
Eugene Joseff (1905-1948) adquiriu fama como “O Joalheiro das Estrelas”. Nascido em Chicago, com ascendência austríaca, seu primeiro emprego foi na publicidade. Simultaneamente, empregou-se em uma metalúrgica, onde aprendeu a fundir estatuetas e outros objetos decorativos em bronze. Ele se mudou com seu irmão James para Los Angeles em 1928, onde conheceu o famoso figurinista Walter Plunkett, que o incentivou a criar jóias (que na verdade eram bijuterias imitando jóias) para os filmes de Hollywood.
Quando Plunkett convidava Eugene para visitar os sets de filmagem das produções nas quais colaborava, ele fazia comentários jocosos em voz alta, criticando as jóias modernas que os costureiros colocavam nas atrizes em filmes de época (como aconteceu no filme As Aventuras de Cellini / The Adventures of Cellini / 1934, no qual a atriz Constance Bennett estava vestida no estilo do século XVI, mas usando jóias do século XX). Plunkett perguntou-lhe o que poderia fazer para corrigir este erro. Eugene aceitou o desafio e começou a fabricar jóias que fossem mais acuradas historicamente. Ele consultou livros sobre História e revistas como “Ladies Field” e “Harper’s Bazar” da Era Vitoriana, viajou, frequentou museus, e estudou em detalhe peças da Renascença e dos tempos antigos.
Na garagem de sua casa em Sunset Boulevard, experimentou alguns processos para fazer suas jóias e acabou desenvolvendo um acabamento de met, que atenuava a luz forte dos refletores do estúdio. Formou também uma biblioteca para consultas, que o ajudaria na criação de suas peças para filmes históricos.
Com seu irmão James, Eugene fundou a Sunset Jewelry Manufacturing. Após dois anos, Jimmy – que era casado com a figurinista de Hollywood, Leah Rhodes – deixou a firma.
Eugene lia atentamente publicações da indústria cinematográfica como “Hollywood Reporter” e “Variety”, para saber quais filmes estava em produção. Ele telefonava para os estúdios e dizia: “Acho que posso providenciar jóias para tal filme. Mandem-me um script ou alguns sketches”.
Logo, o jovem e talentoso artista tornou-se o primeiro joalheiro a desenhar, fabricar e alugar suas peças para os estúdios, que anteriormente as compravam nas lojas de departamento ou então os artistas vestiam suas próprias roupas.
Principalmente entre os anos trinta e quarenta, noventa por cento dos filmes americanos trazia jóias assinadas por Eugene, que ficou conhecido como Joseff de Hollywood. Joseff criou colares, brincos, tiaras, cintos, pulseiras, anéis, gargantilhas e broches para estrelas como Marlene Dietrich em O Expresso de Shanghai / Shanghai Express / 1932, Greta Garbo em A Dama das Camélias / Camille / 1936, Loretta Young em Suez / Suez / 1938, Vivien Leigh em … E O Vento Levou / Gone With the Wind / 1939,
Shirley Temple em A Princezinha / The Little Princess / 1939, Meu Reino Por Um Amor / The Private Lives of Elizabeth and Essex / 1939, Gene Tierney e Ona Munson em Tensão em Shanghai / Shanghai Gesture / 1941, Tallulah Bankehead em Czarina / A Royal Scandal / 1945, Lana Turner em Os Três Mosqueteiros / The Three Musketeers / 1948, entre tantas outras, inclusive Mae West e a nossa Carmen Miranda. Também desenhava jóias para homens como, por exemplo, o medalhão que Douglas Fairbanks Jr. usava em Sinbad, o Marujo / Sinbad, the Sailor / 1947 ou o cetro e a corôa que Ronald Colman usou em O Prisioneiro de Zenda / The Prisoner of Zenda / 1937.
Suas peças representavam uma enorme variedade de estilos, que iam do Art Deco à astrologia; porém possuiam certas características facilmente identificáveis. Sua linha de produtos incluía desenhos de flores, serpentes, corujas, abelhas, sapos, caranguejos, elefantes, cavalos, besouros, aves, tudo com detalhes fantásticos. As belíssimas pedras de sua coleção vinham da Austria e da Checoslováquia. Entre os materiais usados incluíam-se madeira, vidro, plástico, lata, platina e outros metais e pedras preciosas. Além de perfeccionista, Eugene era econômico e expediente. Podia fazer uma jóia para determinado filme e depois ela podia ser desmontada e remontada de uma outra maneira para outro filme. Nos primeiros dias de sua atividade, desenhava e criava as jóias sozinho, mas a procura por suas peças cresceu, e ele teve que contratar uma equipe de 50 artífices, para atender a todos os compromissos.
Em 1939, quando irrompeu a Segunda Guerra Mundial, Eugene fundou a Joseff Precision Metal Products Company, onde desenvolveu técnicas de fabricação de peças de precisão para os aviões construídos pela McDonnell Douglas.
As estrelas pediam a Joseff que fizesse jóias para elas usarem fora da tela ( v.g. Norma Shearer ficou encantada com o anel em forma de coração que usou em Maria Antonieta / Marie Antoinette / 1938 e pediu a Joseff que fizesse um em platina para usar como seu anel de casamento) enquanto que as fãs, vendo as fotos de suas atrizes favoritas em revistas como “Coronet”, “Movie Stars Parade” ou “Movie Secrets”, também as cobiçavam.
Isto inspirou-o a criar, a partir de 1938, uma linha de varejo, para vendê-las em lojas como B. Altman’s, Nordstrom’s, Neiman Marcus, Bullock’s, Marshall Fields, Macy’s, Sacks etc. A influência de Hollywood no gôsto do público era tão grande que as jóias de Joseff se tornaram um sucesso.
Precisando administrar suas vendas a varejo, Eugene solicitou ao Sawyer’s Business College uma secretária para ajudá-lo. A escola lhe recomendou uma jovem chamada Joan Castle, que estava também cursando doutorado em psicologia na UCLA. Ele se apaixonou imediatamente por Joan, casaram-se em 1942, e tiveram um filho, Jeff, em 1947.
Eugene tornou-se uma celebridade, chegando mesmo a mudar seu nome para simplesmente Joseff, o “Joseff de Hollywood”, trabalhando lado-a-lado com figurinistas famosos como Walter Plunkett, Rene Hubert, Milo Anderson, Charles LeMaire etc. E para incrementar ainda mais seu negócio, escrevia artigos em jornais e revistas de cinema como a Movie Show, aconselhando os leitores quais jóias deveriam comprar.
O hobby de Eugene era voar e frequentemente pilotava seu avião em viagens de promoção através do país. Em 1948, ele e três amigos viajavam para desfrutar de um fim de semana no seu rancho no Arizona, quando o avião sofreu um desastre logo após a decolagem, roubando-lhe a vida, pouco antes de completar 43 anos de idade.
Sua viúva e parceira Joan assumiu os negócios da firma, com a qual esteve envolvida, até falecer em 2010, aos 97 anos. Durante os anos cinquenta, Joan expandiu o aluguel de jóias para as produções de televisão. Nas décadas seguintes, os estúdios de cinema começaram a pedir menos jóias elaboradas e Joan sustentou a firma fornecendo peças de precisão para aviões, que Joseff havia começado a fabricar durante a Segunda Guerra Mundial, desta vez para a Boeing, Lochheed e Honeywell.
A jóias de Joseff de Hollywood apareceram em filmes como Sansão e Dalila / Samson and Delilah / 1949, Salomé / Salome / 1953 e Ben-Hur / Ben-Hur / 1959 e foram usadas pelos ícones mais glamourosos da tela como Elizabeth Taylor, Marilyn Monroe e Grace Kelly. Na televisão, por exemplo, ornamentaram Lucille Ball na sua famosa série I Love Lucy.
A nora de Joan, Tina Josefff, sua neta e seu neto, mantiveram no seu arquivo mais de três milhões de peças e costumam exibí-las na Harrod’s em Londres, em Museus de Barcelona e Milão, no Los Angeles County Museum, na Academy of Motion Pictures Arts and Sciences. Continuam alugando-as para filmes de cinema e televisão. Recentemente forneceram jóias para as cenas da caverna em Piratas do Caribe 2: O Baú da Morte / Pirates of the Caribbean 2 / 2003.