Arquivo mensais:setembro 2015

JOSEFF, JOALHEIRO DE HOLLYWOOD

Assim que as estrelas de cinema começaram a usar suas jóias, peças foram feitas para a venda ao público em geral, e agora colecionadores do mundo todo as procuram àvidamente.

Eugene Joseff

Eugene Joseff

Eugene Joseff (1905-1948) adquiriu fama como “O Joalheiro das Estrelas”. Nascido em Chicago, com ascendência austríaca, seu primeiro emprego foi na publicidade. Simultaneamente, empregou-se em uma metalúrgica, onde aprendeu a fundir estatuetas e outros objetos decorativos em bronze. Ele se mudou com seu irmão James para Los Angeles em 1928, onde conheceu o famoso figurinista Walter Plunkett, que o incentivou a criar jóias (que na verdade eram bijuterias imitando jóias) para os filmes de Hollywood.

Walter Plunkett

Walter Plunkett

Quando Plunkett convidava Eugene para visitar os sets de filmagem das produções nas quais colaborava, ele fazia comentários jocosos em voz alta, criticando as jóias modernas que os costureiros colocavam nas atrizes em filmes de época (como aconteceu no filme As Aventuras de Cellini / The Adventures of Cellini / 1934, no qual a atriz Constance Bennett estava vestida no estilo do século XVI, mas usando jóias do século XX). Plunkett perguntou-lhe o que poderia fazer para corrigir este erro. Eugene aceitou o desafio e começou a fabricar jóias que fossem mais acuradas historicamente. Ele consultou livros sobre História e revistas como “Ladies Field” e “Harper’s Bazar” da Era Vitoriana, viajou, frequentou museus, e estudou em detalhe peças da Renascença e dos tempos antigos.

Fredrich March e Constance Bennett em Aventuras de Cellini

Fredrich March e Constance Bennett em Aventuras de Cellini

Na garagem de sua casa em Sunset Boulevard, experimentou alguns processos para fazer suas jóias e acabou desenvolvendo um acabamento de met, que atenuava a luz forte dos refletores do estúdio. Formou também uma biblioteca para consultas, que o ajudaria na criação de suas peças para filmes históricos.

Eugene Joseff e seu irmão

Eugene Joseff e seu irmão

Com seu irmão James, Eugene fundou a Sunset Jewelry Manufacturing. Após dois anos, Jimmy – que era casado com a figurinista de Hollywood, Leah Rhodes – deixou a firma.

Eugene lia atentamente publicações da indústria cinematográfica como “Hollywood Reporter” e “Variety”, para saber quais filmes estava em produção. Ele telefonava para os estúdios e dizia: “Acho que posso providenciar jóias para tal filme. Mandem-me um script ou alguns sketches”.

Logo, o jovem e talentoso artista tornou-se o primeiro joalheiro a desenhar, fabricar e alugar suas peças para os estúdios, que anteriormente as compravam nas lojas de departamento ou então os artistas vestiam suas próprias roupas.

Greta Garbo e as jóias de Joseff usadas por ela em A Dama das Camélias

Greta Garbo e as jóias de Joseff usadas por ela em A Dama das Camélias

Vivien Leigh com jóias de Joseff em ... E O vento Levou

Vivien Leigh com jóias de Joseff em … E O vento Levou

Loretta Young com as jóias de Joseff usadas em Suez

Loretta Young com as jóias de Joseff usadas em Suez

Principalmente entre os anos trinta e quarenta, noventa por cento dos filmes americanos trazia jóias assinadas por Eugene, que ficou conhecido como Joseff de Hollywood. Joseff criou colares, brincos, tiaras, cintos, pulseiras, anéis, gargantilhas e broches para estrelas como Marlene Dietrich em O Expresso de Shanghai / Shanghai Express / 1932, Greta Garbo em A Dama das Camélias / Camille / 1936, Loretta Young em Suez / Suez / 1938, Vivien Leigh em … E O Vento Levou / Gone With the Wind / 1939,

Shirley temple com as jóias de Joseff em A Princesinha

Shirley temple com as jóias de Joseff em A Princesinha

Bette Davis e as jóias de Joseff usadas por ela em Meu Reino por um Amor

Bette Davis e as jóias de Joseff usadas por ela em Meu Reino por um Amor

Gene Tierney e as jóias de Joseff usadas por ela em Tensão em Shnaghai

Gene Tierney e as jóias de Joseff usadas por ela em Tensão em Shnaghai

Ona Munson e as jóias de Joseff usadas em Tensão em Shanghai

Ona Munson e as jóias de Joseff usadas em Tensão em Shanghai

Tallulah Bakhead com as jóias de Joseff em Czarina

Tallulah Bakhead com as jóias de Joseff em Czarina

Lana Turner com jóias de Joseff em Os Três Mosqueteiros

Lana Turner com jóias de Joseff em Os Três Mosqueteiros

Shirley Temple em A Princezinha / The Little Princess / 1939, Meu Reino Por Um Amor / The Private Lives of Elizabeth and Essex / 1939, Gene Tierney e Ona Munson em Tensão em Shanghai / Shanghai Gesture / 1941, Tallulah Bankehead em Czarina / A Royal Scandal / 1945, Lana Turner em Os Três Mosqueteiros / The Three Musketeers / 1948, entre tantas outras, inclusive Mae West e a nossa Carmen Miranda. Também desenhava jóias para homens como, por exemplo, o medalhão que Douglas Fairbanks Jr. usava em Sinbad, o Marujo / Sinbad, the Sailor / 1947 ou o cetro e a corôa que Ronald Colman usou em O Prisioneiro de Zenda / The Prisoner of Zenda / 1937.

Douglas Fairbanks Jr. e as jóias de Joseff usadas por ele em Sinbad, o Marujo

Douglas Fairbanks Jr. e o medalhão de Joseff usado por ele em Sinbad, o Marujo

Ronal Colman com a corôa e o cetro de Joseff em O Prisioneiro de Zenda

Ronal Colman com a corôa e o cetro de Joseff em O Prisioneiro de Zenda

Suas peças representavam uma enorme variedade de estilos, que iam do Art Deco à astrologia; porém possuiam certas características facilmente identificáveis. Sua linha de produtos incluía desenhos de flores, serpentes, corujas, abelhas, sapos, caranguejos, elefantes, cavalos, besouros, aves, tudo com detalhes fantásticos. As belíssimas pedras de sua coleção vinham da Austria e da Checoslováquia. Entre os materiais usados incluíam-se madeira, vidro, plástico, lata, platina e outros metais e pedras preciosas. Além de perfeccionista, Eugene era econômico e expediente. Podia fazer uma jóia para determinado filme e depois ela podia ser desmontada e remontada de uma outra maneira para outro filme. Nos primeiros dias de sua atividade, desenhava e criava as jóias sozinho, mas a procura por suas peças cresceu, e ele teve que contratar uma equipe de 50 artífices, para atender a todos os compromissos.

Em 1939, quando irrompeu a Segunda Guerra Mundial, Eugene fundou a Joseff Precision Metal Products Company, onde desenvolveu técnicas de fabricação de peças de precisão para os aviões construídos pela McDonnell Douglas.

Norma Shearer e as jóias de Joseff usadas por eles em Maria Antonieta

Norma Shearer e as jóias de Joseff usadas por eles em Maria Antonieta

As estrelas pediam a Joseff que fizesse jóias para elas usarem fora da tela ( v.g. Norma Shearer ficou encantada com o anel em forma de coração que usou em Maria Antonieta / Marie Antoinette / 1938 e pediu a Joseff que fizesse um em platina para usar como seu anel de casamento) enquanto que as fãs, vendo as fotos de suas atrizes favoritas em revistas como “Coronet”, “Movie Stars Parade” ou “Movie Secrets”, também as cobiçavam.

Isto inspirou-o a criar, a partir de 1938, uma linha de varejo, para vendê-las em lojas como B. Altman’s, Nordstrom’s, Neiman Marcus, Bullock’s, Marshall Fields, Macy’s, Sacks etc. A influência de Hollywood no gôsto do público era tão grande que as jóias de Joseff se tornaram um sucesso.

Joan Castle e as jóias

Joan Castle e as jóias

Joan Castle

Joan Castle

Precisando administrar suas vendas a varejo, Eugene solicitou ao Sawyer’s Business College uma secretária para ajudá-lo. A escola lhe recomendou uma jovem chamada Joan Castle, que estava também cursando doutorado em psicologia na UCLA. Ele se apaixonou imediatamente por Joan, casaram-se em 1942, e tiveram um filho, Jeff, em 1947.

Eugene tornou-se uma celebridade, chegando mesmo a mudar seu nome para simplesmente Joseff, o “Joseff de Hollywood”, trabalhando lado-a-lado com figurinistas famosos como Walter Plunkett, Rene Hubert, Milo Anderson, Charles LeMaire etc. E para incrementar ainda mais seu negócio, escrevia artigos em jornais e revistas de cinema como a Movie Show, aconselhando os leitores quais jóias deveriam comprar.

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O hobby de Eugene era voar e frequentemente pilotava seu avião em viagens de promoção através do país. Em 1948, ele e três amigos viajavam para desfrutar de um fim de semana no seu rancho no Arizona, quando o avião sofreu um desastre logo após a decolagem, roubando-lhe a vida, pouco antes de completar 43 anos de idade.

Sua viúva e parceira Joan assumiu os negócios da firma, com a qual esteve envolvida, até falecer em 2010, aos 97 anos. Durante os anos cinquenta, Joan expandiu o aluguel de jóias para as produções de televisão. Nas décadas seguintes, os estúdios de cinema começaram a pedir menos jóias elaboradas e Joan sustentou a firma fornecendo peças de precisão para aviões, que Joseff havia começado a fabricar durante a Segunda Guerra Mundial, desta vez para a Boeing, Lochheed e Honeywell.

Rita Hayworth e as jóias de Joseff em Salomé

Rita Hayworth e as jóias de Joseff em Salomé

A jóias de Joseff de Hollywood apareceram em filmes como Sansão e Dalila / Samson and Delilah / 1949, Salomé / Salome / 1953 e Ben-Hur / Ben-Hur / 1959 e foram usadas pelos ícones mais glamourosos da tela como Elizabeth Taylor, Marilyn Monroe e Grace Kelly. Na televisão, por exemplo, ornamentaram Lucille Ball na sua famosa série I Love Lucy.

Elizabeth Taylor e a jóia de Joseff usada por ela em Cleopatra

Elizabeth Taylor e a jóia de Joseff usada por ela em Cleopatra

Marilyn Monroe e as jóias de Joseff usadas por ela em Como Agarrar ujm Milionário

Marilyn Monroe e as jóias de Joseff usadas por ela em Como Agarrar ujm Milionário

Grace Kelly e as jóias de Joseff usadas por ela em Alta Sociedade

Grace Kelly e as jóias de Joseff usadas por ela em Alta Sociedade

Lucille Ball e as jóias usadas por ela em I Love Lucy

Lucille Ball e as jóias usadas por ela em I Love Lucy

A nora de Joan, Tina Josefff, sua neta e seu neto, mantiveram no seu arquivo mais de três milhões de peças e costumam exibí-las na Harrod’s em Londres, em Museus de Barcelona e Milão, no Los Angeles County Museum, na Academy of Motion Pictures Arts and Sciences. Continuam alugando-as para filmes de cinema e televisão. Recentemente forneceram jóias para as cenas da caverna em Piratas do Caribe 2: O Baú da Morte / Pirates of the Caribbean 2 / 2003.

ANTONIO SILVA

Só pude ver cinco comédias de Antonio Silva: A Canção de Lisboa / 1933, O Costa do Castelo / 1943, A Menina da Rádio / 1943, O Leão da Estrela / 1947, O Grande Elias / 1950; porém foi o bastante para perceber que ele era um grande artista. Neste artigo, desejo prestar homenagem a esse notável comediante português e, ao mesmo tempo, chamar a atenção dos estudiosos de cinema para a sua pessoa. Para isso, recorrí principalmente ao Dicionário do Cinema Português de Jorge Leitão Ramos (Editorial Caminho, 2011), ao Dicionário de Cinema Brasileiro de Jurandyr Noronha (EMC, 2008), a História do Cinema Português de Luís de Pina (Europa-América,1986) e completei minha pesquisa em jornais antigos, acrescentando algumas informações às duas primeiras obras citadas.

Antonio Silva

Antonio Silva

Antonio Maria da Silva nasceu em Lisboa no dia 15 de agosto de 1886. De origens modestas, começa a trabalhar muito novo, como aprendiz de caixeiro em uma loja onde se vendiam artigos de costura. Em dezembro de 1905 inicia atividade como bombeiro. Apaixonado pela arte dramática, participa de récitas de amadores, sincroniza vozes no Salão Ideal (um primeiro arremedo de cinema sonoro) e acaba estreando como ator em 1910 no antigo teatro da Rua dos Condes em uma peça de Tolstoi, O Novo Cristo. Nesse mesmo ano, inicia sua carreira cinematográfica em um minúsculo papel em Rainha Depois de Morta. Continua sua trajetória artística no palco na Companhia Alves da Silva, interpretando papéis fugidíos e, em 1911, e, depois, em 1913, faz tournées ao Brasil. No final da segunda temporada, resolve ficar em nosso país, onde trabalha até 1921, em teatro e cinema.

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Jurandyr Noronha apontou como primeiro filme de Antonio Silva no Brasil, Seiscentos e Seis Contra o Espiroqueta Pallido, que teria sido produzido em 1909 e exibido em 24 de janeiro de 1910 no Cinema Soberano. Entretanto, conforme apurei, em 1911, o caricaturista e compositor Luiz Peixoto e o jornalista Carlos Bittencourt, escreveram uma peça para o teatro de revista, intitulada 606 (que era a marca de fantasia do primeiro remédio contra a sífilis), e tentaram o cinema falado-cantado, realizando um filme mudo e dublado pelos atores atrás da tela. De acordo com um anúncio publicado no Correio da Manhã, este filme foi exibido no Cinema Soberano, em 24 de janeiro de 1911, e nele Antonio Silva fazia o papel de Frei Thomaz. Creio que esta é a informação correta. Mesmo porque, em 1910, cf. o Dicionário do Cinema Português, Antonio Silva ainda estava em Portugal trabalhando no teatro.

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O segundo filme do ator português no Brasil foi Ubirajara / 1919, drama produzido pela Guanabara Filme e dirigido por Luiz de Barros baseado no romance de José de Alencar. Ubirajara (Alvaro Fonseca) chefe dos araguaias é noivo de Jandira (Antonia Denegri). Um dia, porém, apaixona-se por Aracy (Otilia Amorim), filha de Itaquê (Manoel Ferreira de Araujo), chefe dos tocantins e irmã de Pojucã (João de Deus), seu prisioneiro. Ubirajara liberta Pojucã, para poder declarer guerra a Itaquê e buscar Aracy. Itaquê, no entanto, é ferido por outros inimigos e fica cego. As duas tribos unem-se contra inimigos comuns e Ubirajara é eleito chefe. O filme teve requintes de produção: tabas, arcos, flechas, enfeites, ornamentos cedidos pela Seção de Etnografia do Museu Nacional e pela Seção de Proteção aos Índios do Ministério da Agricultura. Uma sequência de batalha entre duas tribos rivais foi filmada com cerca de 200 figurantes. Não encontrei em nenhuma fonte qual o papel interpretado por Antonio Silva, nem pelos outros nomes do elenco, Candida Leal, Fausto Muniz, Teixeira Pinto.

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A terceira atuação de Antonio Silva no Brasil deu-se em Convém Martelar / 1920, filme de propaganda de 20 minutos produzido pela Amazonia Film, dirigido por ele próprio e fotografado pelo operador de câmara João Stamato. O enredo diz respeito a uma jovem de Niterói que embarca com a sua família e o noivo não desejado em uma das barcas da Cantareira, pois o casamento seria realizado no Rio de Janeiro. Entretanto, o preferido do seu coração toma um da colherada do Elixir de Inhame, entra em um barco a remos e consegue ultrapassar a grande embarcação coletiva a vapor, “martelando”, ou seja, insistindo, para conquistar a mulher amada, o que afinal consegue. Não encontrei em nenhuma fonte qual o papel desempenhado por Antonio Silva e demais atores: Josephina Barco, Manoel Ferreira de Araujo, Carlos Barbosa, Albino Vidal.

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A quarta intervenção de Antonio Silva na nossa terra foi em Coração de Gaucho / 1920, drama produzido pela Guanabara Film e dirigido por Luiz de Barros. O filme aproveita usos e costumes do extremo sul do país e, apesar de ser mudo, aparecem sequências mostrando os bailados da região. Na trama, o Gaucho (Alvaro Fonseca) apaixona-se pela filha (Antonia Denegri) de um fazendeiro (Manoel Ferreira de Araujo). Por sua vez, a moça é cortejada por um caixeiro viajante (Antonio Silva) que, após conseguir o consentimento do pai para casar-se com ela, consegue também ficar a par de todos os negócios da família. Ele consegue um testamento do fazendeiro em seu favor e termina por mandar matá-lo. O pai da moça morre, morre o matador (não sem antes ter confessado o crime), e o Gaucho casa-se com a moça. No elenco estavam ainda: Candida Leal, Luiz de Barros e atores da Companhia do Teatro São José. Em agosto de 1920, Antonio Silva casa-se secretamente com Josephina Barco, causando escândalo com a família dela e repercussões na imprensa.

Retornando a Lisboa em 1921, Antonio Silva ingressou na Companhia Luísa Satanela – Estevão Amarante e doravante atuou (depois também em outras companhias) predominantemente em operetas, comédias musicadas e revistas, formando a certa altura uma dupla com outro excelente comediante, Vasco Santana, que se tornaria célebre. Em 1932, torna-se comandante dos bombeiros da Ajuda, cargo que manteria por muitos anos.

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No ano seguinte, alcançou grande notoriedade, através do filme A Canção de Lisboa, no qual atuou ao lado de Vasco Santana e Beatriz Costa. Luis de Pina (História do Cinema Português, Europa-América, 1986) percebeu os primeiros contornos do personagem-tipo criado por Antonio Silva, em A Canção de Lisboa; mas segundo ele foi a partir de O Costa do Castelo que o Antonio Silva-Homem das Arábias (encarnação do lisboeta ladino, que resolve os problemas e nunca está de mal com ninguém) se afirmou plenamente.

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No teatro de revista, o nome de Antonio Silva ascendeu ao topo do cartaz, mas ele também fez comédias musicadas e operetas em uma atividade ininterrupta, onde o cinema aparecia com regularidade. Em 1940, ele esteve no Brasil em temporada relâmpago  no Teatro República com a revista Tiro-Liro-Liro ao lado de Irene Izidro, Ribeirinho e João Vilaret.

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Em 1945, nos Comediantes de Lisboa, companhia que deu grande impulso à renovação do teatro declamado, Antonio Silva interpretou o papel de Doolittle no Pigmalião de Bernard Shaw; em 1948, esteve novamente no Brasil com a Cia. Portuguêsa de Revistas e Opereta e se apresentou no Teatro Carlos Gomes, nas revistas Alto Lá com o Charuto, Se Aquilo Que a Gente Sente, Ribatejo e Tá Bem ou Não Tá?, Ribatejo, Nazaré, tendo ao seu lado em destaque Irene Isidro, Ribeirinho e João Villaret. Em 1958, colaborou com uma companhia dirigida por Bibi Ferreira, emprestando seus imensos dotes artísticos como, por exemplo, na peça Com o Amor Não se Brinca de Terence Rattigan.

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Como escreveu Jorge Leitão Ramos, “Antonio Silva esteve em todos os momentos marcantes da comédia à portuguesa dos anos 30/40 e foi o seu esteio fundamental, criando um personagem-tipo, o do português desenrascado, meio vigarista, meio fala-barato, de bom coração. E, quando foi preciso que houvesse um português pronto a tentar mudar a vida e tornar toda a gente mais igual (uma espécie de quase neorealismo no princípio dos anos 50) foi ainda Antonio Silva quem foram buscar e bem (Sonhar é Fácil)”.

Mas, conforme J.L.R., não se resumiu à comédia o seu talento. Basta lembrar o João da Cruz do filme Amor de Perdição de Lopes Ribeiro, para confirmar que ele foi, de fato, o ator número um de todo o cinema português”. Sem esquecer, dizem outros que puderam ver todos o seus filmes, o inesquecível João da Esquina de As Pupilas do Senhor Reitor ou o Evaristo, dono de uma mercearia em O Pátio das Cantigas. Antonio Silva também fez trabalhos para a televisão (telefilmes e séries), encerrando a carreira em 1967. Ele faleceu no dia 3 de março de 1971 em Lisboa.

Antes de reproduzir a longa filmografia do artista, vou expor as sinopses dos filmes dele que pude assistir, com breves comentários, para dar uma idéia de suas comédias.

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Beatriz Costa e Antonio Silva em A Canção de Lisbôa

Beatriz Costa e Antonio Silva em A Canção de Lisbôa

A CANÇÃO DE LISBOA.

Vasco Leitão, o Vasquinho (Vasco Santana), estudante de medicina por conta de umas tias ricas de Trá-os-Montes (Teresa Gomes, Sofia Santos), é um bôemio que não quer nada com os livros. Ele namora Alice (Beatriz Costa), filha do alfaiate Caetano (Antonio Silva) que não vê com bons olhos tal relação. Tudo se complica quando as tias, julgando o sobrinho já doutor, resolvem vir a Lisboa visitá-lo e ver como bem aplicaram seu dinheiro.

Clássico do cinema falado português, esta comédia musical transmite uma alegria contagiante, sendo ainda beneficiada por canções deliciosas (de Raul Ferrão e Raul Portela) como, por exemplo, “A Agulha e o Dedal” (interpretada por Beatriz Costa com muita graça) e pela vivacidade de todos os atores, destacando-se Beatriz, Vasco Santana e Antonio Silva. A cena da eleição de Miss Castelinho é digna de figurar em qualquer antologia que se faça do cinema português. Na cena final, o Vasquinho, referindo-se às dificuldades de ser médico e de curar, cantava: “morrer por morrer / que seja a rir!”, versos que refletem bem o tom de todo o filme.

Antonio Silva e Maria Mattos em O Costa do castelo

Antonio Silva e Maria Matos em O Costa do Castelo

Antonio Silva e Herminia Silva em O Costa do castelo

Antonio Silva e  a fadista Herminia Silva em O Costa do Castelo

O COSTA DO CASTELO.

Fingindo-se de motorista, Daniel (Curado Ribeiro) aluga um quarto na humilde casa da senhora Rita (Maria Olguim) e do senhor Januário (João Silva) na Costa do Castelo, onde mora Luisinha (Milú) uma jovem bancária orfã por quem Daniel se sente atraído e um professor de guitarra, Simplicio Costa (Antonio Silva), mais conhecido como o Costa do Castelo. A verdadeira identidade de Daniel é desmascarada por Mafalda da Silveira (Maria Matos) sua tia, o que causa grande problema na relação entre Luisinha e ele, pois trata-se de um fidalgo cujo verdadeiro nome é André da Silveira. Depois de várias peripécias, toda a gente vai morar na sua mansão.

Esta farsa divertida, baseada em uma peça teatral de sucesso da autoria de João Bastos (cf. Pina um dos componentes do grupo que dominou a comédia popular à portuguesa nos anos 40, do qual faziam parte ainda o realizador Arthur Duarte, o argumentista Fernando Fragoso, o fotógrafo Aquilino Mendes e o compositor Jaime Mendes), recorre a velhos truques cênicos como a identidade escondida, mas a graça das cenas cômicas (como, por exemplo, quando Antonio Silva ensina Maria Rosa (a grande fadista Herminia Silva) a cantar o fado e das piadas é incontestável. O filme descobria também uma nova estrela, a bela Milú, e apresentava duas lindas canções: “Cantiga da Rua” e “Minha Casinha, que Antonio Melo compôs para letras de João Bastos.

Antonio Silva e Maria Matos em A Menina da Rádio

Antonio Silva e Maria Matos em A Menina da Rádio

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A MENINA DA RÁDIO.

Cipriano Lopes (Antonio Silva) e Rosa Gonçalves (Maria Matos), lojistas na mesma rua, detestam-se comercialmente. Os respectivos filhos, Geninha (Maria Eugénia) e Óscar (Óscar de Lemos) amam-se apaixonadamente e ambos gostam de música, tendência compartilhada por Cipriano e odiada por Rosa. Cipriano cria o Radio Clube da Estrela, onde Geninha provaria seus dotes musicais e Oscar provaria seus dotes como compositor. Mas as coisas se complicam com a entrada em cena de Teresa Valdemar (Teresa Casal) e Fernando Verdial (Curado Ribeiro), astros .da Emissora Nacional. No final, Cipriano se reconcilia com Rosa, à quem o ligava um antigo amor contrariado.

Esta nova comédia de Arthur Duarte tenta reeditar o sucesso de O Costa do Castelo, trazendo de volta a dupla Antonio Silva / Maria Matos e encomendando a João Bastos um argumento de traços muito similares mas, desta vez, girando em torno da febre radiofônica nos anos 40. O filme tem algumas piadas engraçados (sobretudo baseadas no jogo de trocadilhos) e belas canções como, por exemplo, “Sonho de Amor”, composta por Antonio Melo e Silva Tavares. Conforme explica J. L. R., foi a primeira produção da Companhia Portuguesa de Filmes, rebatismo da Tobis Portuguesa, que mudara de nome, para não ser confundida com a germânica Tobis e não ser abrangida pelo boicote declarado pelas forças aliadas.

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Cena de O Leão da Estrela

Cena de O Leão da EstrelaO LEÃO DA ESTRELA.

O LEÃO DA ESTRELA

Anastácio (Antonio Silva), funcionário de uma repartição pública lisboeta, e sportinguista ferrenho, vai ao Porto assistir à final do Campeonato de Futebol de Portugal, apresentando-se em casa dos Barata (Erico Braga, Cremilda de Oliveira), uma família abastada, que a mulher Carlota (Maria Olguin) as filhas Juju (Milú) e Branca (Maria Eugénia) haviam conhecido nas termas, como um rico comerciante de Lisboa. A situação complica-se quando Eduardo (Curado Ribeiro), filho do casal Barata, se apaixona por Branca e os dois resolvem casar-se. A cerimônia é em Lisboa e o pai da noiva tem que manter as aparências a todo custo.

Comédia de equívocos mais uma vez centrada na figura de Antonio Silva, que reedita seu personagem tipo de lisboeta ladino, dividindo com o gorducho Erico Braga (impagável no comerciante portuense novo-rico e portista convicto) os louros do espetáculo em matéria de atores. A discussão de Anastácio e Barata no Estádio do Lima durante o jogo do Porto contra o Sporting e a visita dos dois às “espanhuelas” do Cassino de Espinho, explicada às referidas esposas como visita a umas órfãs da Guerra da Espanha (“aquilo é que era um orfeão!”, um deles comenta), são os seus melhores momentos. Na trama secundária merece menção o par formado por Rosa (Laura Alves) e Miguel (Artur Agostinho), a criada e o motorista apaixonados, com o famoso “Ai, a loiça”, quando Rosa enfrenta o mau humor do patrão Anastácio.

Cena de O Grande Elias

Cena de O Grande Elias

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O GRANDE ELIAS.

Carlos (Estevão Amarante) se vê no aperto, quando sua irmã aristocrata, Adriana (Cremilda de Oliveira), decide visitá-lo inesperadamente. Ele havia inventado, com o auxílio do amigo Elias (Antonio Silva), um série de mentiras sobre si próprio com relação a riqueza e a existência de mais filhos do que sua filha única, Ana Maria (Milú), assim como tampouco dissera que a mulher o havia abandonado. Em poucas horas, ele forja a existência de dois filhos gêmeos encarnados pelo namorado da filha, Ribeirinho (ambos vividos por Francisco Ribeiro), uma mulher (Maria Olguim), um palacete arranjado por uma semana pelo amigo Elias, que se torna o mordomo.

No início dos anos 50, Arthur Duarte regressa à comédia, onde obtivera seus maiores êxitos na década anterior, trazendo mais uma vez a história de pobres que querem parecer ricos com Antonio Silva de novo como um enganador às voltas com os clichés habituais desse tipo de farsa. O diretor consegue manter o senso cômico ao longo de praticamente todo o filme embora algumas situações não cheguem a funcionar como, por exemplo, o momento no ringue com Ribeirinho, que pretendia ser, provavelmente , uma homenagem a Charles Chaplin. As cenas de Ribeirinho com o boneco de ventríloco, seu sósia e alter-ego, são mais hilariantes, mas o melhor momento do filme ocorre no final, com o discurso persuasivo do Elias, que consegue o perdão da ricaça para os envolvidos na impostura e ainda conquista seu coração.

FILMOGRAFIA

1910

Rainha Depois de Morta (Dir: Carlos Santos)

1911

Seiscentos e Seis (Dir: Paulino Botelho)

1919

Ubirajara (Dir: Luiz de Barros)

1920

Convém Martelar (Dir: Antonio Slva)

Coração de Gaucho (Dir: Luiz de Barros)

1933

A Canção de Lisboa (Dir: Cottineli Telmo)

Antonio Silva em As Pupilas do Senhor Reitor

Antonio Silva em As Pupilas do Senhor Reitor

1935

As Pupilas do Sr. Reitor (Dir: Leitão de Barros)

Antonio Silva em Bocage

Antonio Silva em Bocage

1936

Bocage (Dir: Leitão de Barros)a silva poster maria papoila1937

Maria Papoila (Dir: Leitão de Barros)

Dina Teresa e Antonio Silva em Varanda dos Rouxinóis

Dina Teresa e Antonio Silva em Varanda dos Rouxinóis

1939

Varanda dos Rouxinóis (Dir: Leitão de Barros)

1940

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João Ratão (Dir: Jorge Brum do Canto)

Cena de Feitiço do Império

Cena de Feitiço do Império

Feitiço do Império (Dir: Antonio Lopes Ribeiro)

Cena de O Pätio das Cantigas

Cena de O Pátio das Cantigas

1941

O Pátio das Cantigas (Dir: Francisco Ribeiro)

1942

Lobos da Serra (Dir: Jorge Brum do Canto)

1943

O Costa do Castelo (Dir: Arthur Duarte)

Antonio Silva em Amor de Perdição

Antonio Silva em Amor de Perdição

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Amor de Perdição (Dir: Antonio Lopes Ribeiro)

1944

A Menina da Rádio (Dir: Arthur Duarte)

Antonio Silva e Madalena Sotto em A Vizinha do Lado

Antonio Silva e Madalena Sotto em A Vizinha do Lado

1945

A Vizinha do Lado (Dir: Antonio Lopes Ribeiro)

1946

Camões – Erros meus, má fortuna, amor ardente (Dir: Leitão de Barros)

1947

O Leão da Estrela (Dir: Arthur Duarte)

Cena de Fado - História de uma Canttadeira

Cena de Fado – História de uma Canttadeira

Fado, História d’uma Cantadeira (Dir: Perdigão Queiroga)

Três Espelhos (Dir: Ladislao Vajda)

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Os Vizinhos do Rés-do-Chão (Dir: Alejandro Perla)

1948

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Heróis do Mar (Dir: Fernando Garcia)

1950

O Grande Elias (Dir: Arthur Duarte)

Antonio Silva em Sonhar é Fácil

Antonio Silva em Sonhar é Fácil

1951

Sonhar é Fácil (Dir: Perdigão Queiroga)

Cena de Os Três de Vida Airada

Cena de Os Três de Vida Airada

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1952

Os Três da Vida Airada (Dir: Perdigão Queiroga)

O Comissário de Polícia (Dir: Constantino Esteves)

1956

O Dinheiro dos Pobres (Dir: Arthur Semedo)

Perdeu-se Um Marido (Dir: Henrique Campos)

O Noivo das Caldas (Dir: Arthur Duarte)

1957

Dois Dias no Paraíso (Dir: Arthur Duarte)

Cena de O Passarinho da Ribeira

Cena de O Passarinho da Ribeira

1959

O Passarinho da Ribeira (Dir: Augusto Fraga)

Cenas de As Pupilas do Senhor Reitor

Cenas de As Pupilas do Senhor Reitor

aaapupilas1960

As Pupilas do Senhor Reitor (Dir: Perdigão Queiroga)

1964

Aqui há Fantasmas (Dir: Pedro Martins)

1967

Sarilhos de Fraldas (Dir: Constantino Esteves)