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RONALD COLMAN II

Sam Goldwyn estava compreensivelmente cauteloso a respeito do primeiro filme falado de Ronald Colman. Ele dizia que os talkies revolucionariam as sequências de amor, e estava certo. Os ruídos dos primeiros equipamentos de som prejudicavam qualquer romance e eram igualmente nefastos às vozes. Assim, ele colocou seu galã romântico número um em Amante de Emoções / Bulldog Drummond / 1929, um melodrama de ação baseado no personagem criado por “Sapper”, pseudônimo do escritor Herman C. McNeile. No enredo, o capitão Hugh Drummond (Ronald Colman), entediado com sua vida civil em Londres após a Primeira Guerra Mundial, põe um anúncio em um jornal oferecendo seus serviços para “qualquer tipo de aventura”. Seu anúncio é respondido por Phyllis Benton (Joan Bennett), jovem americana que deseja contratar Drummond para libertar seu tio, Hiram J. Travers (Charles Selton) de um asilo, onde ele está sendo mantido prisioneiro pelo Dr. Lakington (Lawrence Grant) e seu cúmplice Carl Peterson (Montagu Love). Lakington e Peterson pretendem torturar Travers para confiscar sua fortuna. Auxiliado por seu amigo Algy (Claude Allister) e seu mordomo Danny (Wilson Benge), Drummond consegue libertar o ricaço e conquistar o coração de sua cliente.

Ronald Colman e Joan Bennett em Amante de Emoções

Cada cena foi ensaiada incessantemente, de modo que a filmagem transcorreu com rapidez, sem precisar de muitos Os microfones eram escondidos em vários pontos do cenário, entre os quais havia “lugares mortos”, onde as palavras dos atores não podiam ser ouvidas. Não somente a voz do ator era importante, mas o lugar preciso onde ele a usava. As luzes necessárias pelo novo meio reduzia os atores a poças de suor em poucos minutos. O som exigia mais concentracão e os atores ficavam exaustos no final de um dia mais longo de filmagem. Porém a história interessante de Bulldog Drummond, a fotografia de George Barnes e seu assistente Gregg Toland, a cenografia de William Cameron Menzies, e a excitação do som compensaram a direção estática do filme. Os críticos elogiaram a performance de Colman, dizendo que a voz lhe dava um novo charme”, e Goldwyn profetizou: “O que Chaplin foi para o filme silencioso, Colman será para o filme falado”.

Cena de Condenado

Ann Harding e Ronald Colman em  Condenado

Bulldog Drummond deu a Ronald Colman uma indicação para o Oscar como Melhor Ator bem como seu outro filme produzido no mesmo ano, Condenado / Condemned – talvez mais pela sua voz do que qualquer atuação. No segundo filme citado, um pouco menos estático do que o primeiro e com os mesmos Barnes, Toland e Menzies na equipe técnica, Colman é Michel, um ladrão charmoso prisioneiro na Ilha do Diabo, onde se envolve romanticamente com a mulher do diretor da prisão (Ann Harding). Os críticos ficaram pensando como um presidiário podia transmitir tanta despreocupação e alegria; porém, quem liga para a lógica e o bom senso, quando se está diante de um ator tão atraente como Ronald Colman?

Ronald Colmane Kay Francis em Raffles

Goldwyn quís repetir o êxito de Amante de Emoções , colocando Colman na pele de outra figura do romance policial. Ele convocou Sidney Howard (o mesmo roteirista daquele filme e de Condenados) e mais uma vez Barnes, Toland e Menzies, para a filmagem de Raffles / Raffles / 1930, adaptação da obra de E.W. Hornung, cujo herói é um ladrão inglês da classe alta, que ilude constantemente a Scotland Yard com refinamento e audácia. Em um papel feito sob medida, Colman foi o foco de todas as atenções, sustentando com sua classe o espetáculo, que contava ainda com a presença da sempre bela e elegante Kay Francis.

Ronald Colman e Loretta Young em O Diabo que Pague

Ronald Colman e Helen Hayes em Médico e Amante

Depois de participar de O Diabo que Pague / The Devil to Pay / 1930 e Jardim do Pecado / The Unholy Garden / 1931, o primeiro filme melhor do que o segundo, mas sem se distinguirem de centenas de filmes que eram realizados anualmente, Colman caiu nas mãos de John Ford em Médico e Amante / Arrowsmith / 1931. O enredo dessa adaptação (de Sidney Howard) para a tela do romance de Sinclair Lewis, focaliza um médico dedicado, Dr. Martin Arrowsmith (Ronald Colman), que se mantém fiel aos seus ideais e passa por momentos dramaticos ao tentar controlar uma epidemia de peste bubônica nos trópicos. Howard fez um bom trabalho, e Ford tirou o melhor partido da fotografia de Ray June e do talento de Colman e Helen Hayes (como Leora, esposa do Dr. Martin). A cena da morte de Leora e quando o Dr. Martin beija seus vestidos, é muito comovente. Juliet Benita Colman reproduziu estas palavras de John Ford: “Você não precisava trabalhar com Ronnie – era simples assim. Ele sabia exatamente o que fazer e era perfeito em todos os detalhes quando fazia”.

Kay Francis e Ronald Colman em Amante Discreto

O filme seguinte de Colman, Amante Discreto / Cynara / 1932, dirigido por outro grande cineasta, King Vidor, contém uma de suas interpretações mais sutís no papel do advogado James Warlock. Na ausência de sua esposa Clemence (Kay Francis), com quem está casado há sete anos, ele é seduzido momentâneamente por uma jovem vendedora de loja (Phillys Barry), e essa aventura amorosa resulta no suicídio da moça e na sua desgraça. Do começo ao fim do escândalo e do inquérito que se seguem, Warlock permanece fiel ao seu código de honra. Em vez de se defender revelando o passado desregrado da jovem, Warlock sofre em silêncio com sua própria transgressão, exilando-se na África do Sul; entretanto, quando vai partir, Clemence corre em direção ao navio para ficar com ele.

Cena de O Acaso é Tudo

Cena de O Acaso é Tudo

Em O Acaso é Tudo / The Masquerader / 1933, Ronald Colman faz um papel duplo – o jornalista, John Loder, e seu primo muito parecido com ele, Sir John Chilcote, Membro do Parlamento viciado em entorpecentes, que fica incapacitado durante uma crise nacional. Loder está substituindo secretamente Sir John Chilcote no Parlamento, quando o verdadeiro Chilcote morre isolado, obrigando seu sósia a se fazer passar por ele pelo resto de sua vida. Esse tipo de história cria a inverossimilhança, mas os truques fotográficos funcionam bem e Colman fala consigo mesmo convincentemente.

Foi durante a filmagem das sequências com Chilcote em O Acaso é Tudo, que Goldwyn lançou uma mensagem publicitária, dizendo que, para conseguir interpretar melhor um viciado, Colman tomava muitos drinques antes de entrar no set. Ultrajado com o fato de que seu próprio produtor tivesse inventado histórias desnecessárias em benefício da publicidade, Colman declarou que nunca mais trabalharia para Goldwyn e lhe moveu uma ação indenizatória no valor de dois milhões de dólares.

O ator aproveitou o tempo livre para fazer uma longa viagem na companhia de seu amigo, Al Weingand, e obteve finalmente o divórcio de Thelma. Quando Colman voltou para Hollywood, fez um acordo extra judicial com Goldwyn, e conquistou sua liberdade. O único aspecto negativo da viagem foi o de ter perdido a oportunidade de trabalhar com Greta Garbo em Rainha Cristina / Queen Cristina / 1933, para o qual a MGM se empenhou em encontrá-lo durante a sua ausência.

Foi a recém formada (por Darryl Zanuck e Joseph Schenck) 20thCentury Pictures que afinal contratou Colman para personificar novamente Bulldog Drummond em A Volta de Bulldog Drummond / Bulldog Drummond Strikes Back / 1934 e, a partir daí, inaugurou-se uma nova fase em sua carreira com uma impressionante sequência de filmes excelentes (A Conquista de um Império / Clive of India / 1935, A Queda da Bastilha / A Tale of Two Cities / 1935, Sob Duas Bandeiras / Under Two Flags / 1936, Horizonte Perdido / Lost Horizon / 1937, O Prisioneiro de Zenda / The Prisoner of Zenda / 1937, Luz Que Se Apaga / The Light That Failed / 1939, E A Vida Continua / The Talk of the Town / 1942, Na Noite do Passado / Random Harvest / 1942, Tenho Direito ao Amor / The Late George Apley / 1946, Fatalidade / A Double Life / 1947, Champagne para Cesar / Champagne for Caesar / 1950) e outros mais modestos, mas valorizados pela sua presença (O Homem Que Desbancou Monte Carlo / The Man Who Broke the Bank at Monte Carlo / 1935, Boa Sorte / Lucky Partners / 1940, Minha Vida Com Carolina / My Life with Caroline 1941 e Kismet / Kismet / 1944). Como disse um crítico, Colman era sempre bom, algumas vêzes melhor do que o próprio filme.

Ronald Colman e Joan Bennett em O Homem Que Desbancou Monte Carlo

Spring Byington, Ronald Colman e Ginger Rogers em Boa Sorte

Ronald Colman e  Anna Lee em Minha Vida com Caroline

Ronald Colman e Marlene Dietrich em Kismet

Loretta Young e Ronald Colman em A Conquista de um Império

A Conquista de um Império aborda a epopéia do fundador do Império Britânico na Índia, Robert Clive, dando mais ênfase à sua vida matrimonial do que aos fatos políticos. Dirigido por Richard Boleslawski (que havia feito no mesmo ano Os Miseráveis / Les Miserables), o filme apoia-se na presença dos dois astros principais (Ronald Colman e Loretta Young) e só ocasionalmente acontecem cenas espetaculares como a da batalha de Plassey com as tropas atravessando um rio sob o vento, os elefantes blindados e o terrível combate corpo a corpo. Colman atuou sem o famoso bigode e, encontrando semelhanças básicas entre ele e Clive, personificou-o com exatidão.

Ronald Colman e Elizabeth Allan em A Queda da Bastilha

Ronald Colman e o diretor Jack Conway na filmagem de A Queda da Bastilha

Ronald Colman em A Queda da Bastilha

Face ao êxito comercial de David Copperfield / David Copperfield / 1935, a MGM incumbiu o produtor David O. Selznick de adaptar outro romance de Charles Dickens. Transcorrendo no ambiente da Revolução Francesa, reconstituida à maneira hollywoodiana, A Queda da Bastilha, dirigido por Jack Conway (ajudado por Jacques Tourneur e Val Lewton), apresenta um belo desempenho de Colman (outra vez sem bigode) como Sydney Carton, o advogado dissoluto que se sacrifica, trocando de lugar na guilhotina com o aristocrata (Donald Woods), amado pela jovem (Elizabeth Allan), por quem também se enamorara. A atriz inglêsa Elizabeth Allan era amiga íntima de Benita Hume, que chegara recentemente em Hollywood para participar do próximo filme de Tarzan (A Fuga de Tarzan / Tarzan Escapes / 1936) com Johnny Weismuller e Maureen O’Sullivan, e estava hospedada em sua casa. Foi lá que Benita e Colman se reencontraram. Eles namoraram durante quatro anos e meio, e se casaram em 1938.

Ronald Colman e Rosalind Russell em Sob Duas bandeiras

Ronald Colman e Claudette Colbert em Sob Duas Bandeiras

Sob Duas Bandeiras é uma aventura romântica na Legião Estrangeira, extraída do romance de Ouida, filmada no deserto do Arizona e bem acionada por Frank Lloyd (com auxílio de Otto Brower nas cenas de batalha), tendo Colman como o Sargento Victor, legionário disputado por Cigarette (Claudette Colbert) e Lady Venetia Cunningham (Rosalind Russell) e alvo da inveja do enciumado comandante do forte Major Doyle (Victor McLaglen). Frase da publicidade: “Um amor tão quente quanto as areias do Saara”.

Cena de Horizonte Perdido

Cena de Horizonte Perdido

Cena de Horizonte Perdido

Cena de Horizonte Perdido

Ronald Colman, Sam Jaffe e Frank Capra em um intervalo da filmagem de Horizonte Perdido

Ronald Colman e Jane Wyatt em Horizonte Perdido

Adaptação cinematográfica por Robert Riskin do romance de James Hilton, Horizonte Perdido, um dos grandes filmes de Frank Capra, levou dois anos para ser realizado, custou dois milhões de dólares, metade do orçamento anual da Columbia, e foi indicado para o Oscar de Melhor Filme. Os cenários modernistas de Stephen Goosson (premiado pela Academia) foram um dos maiores até então construidos em Hollywood, e Colman encaixou-se perfeitamente no personagem do diplomata Robert Conway, um dos passageiros de um avião que caiu nas montanhas do Himalaia e foram resgatados pelos habitantes do misterioso vale Edênico de Shangri-La. Sam Jaffe encarna o Grande Lama, depois de previsto Charles Laughton para o papel.

Ronald Colman e Madeleine Carroll em O Prisioneiro de Zenda

Ronald Colman, David Niven e Raymond Massey em uma cena de O Prisioneiro de Zenda

Douglas Fairbanks Jr. e Ronald Colman em O Prisioneiro de Zend

Ronald Colman e Mary Astro em um intervalo da filmagem de O Prisioneiro de Zend

Ronald Colman e Madeleine Carroll em O Prisioneiro de Zenda

O Prisioneiro de Zenda é uma realização de John Cromwell visualmente elegante do clássico de capa-e-espada de Anthony Hope com um elenco ideal liderado por Colman, galã perfeito no gênero aventura romântica, porém sem habilidade atlética. De modo que W.CS. Van Dyke foi chamado para ver se tornava a cena de luta de sabre entre Rudolph Rassendyl (Ronald Colman) e Rupert de Hentzau (vivido exuberantemente por Douglas Fairbanks Jr.) mais eletrizante. George Cukor filmou a cena final em que Flavia (Madeleine Carroll) renuncia ao seu amor por Rassendyl, para cumprir as obrigações de Rainha.

Frances dee e Ronald Colman em Se Eu Fôra Rei

Desprezando a exatidão histórica, o roteiro de Preston Sturges para Se Eu Fôra Rei enriqueceu com toques cômicos deliciosos a peça de Justin Huntly McCarthy, inspirada na figura de François Villon. Basil Rathbone foi indicado para o Oscar pela espirituosa composição do rei Luís XI e Colman era mesmo o ator ideal para viver o personagem do poeta vagabundo da Idade Média.

Ida Lupino e Ronald Colman em Luz Que Se Aapaga

Ronald Colman e Ida Lupino em  Luz Que se Apaga

Ronald Colman em Luz Que Se Apaga

William Wellman dirige Walter Huston e Ronald Colman em Luz Que Se Apaga

O diretor William Wellman imprimiu o rítmo certo a Luz Que se Apaga, adaptação do romance de Rudyard Kipling, em consonância com o caráter intimista da história, e Colman teve um de seus melhores desempenhos, sensível e introspectivo. Ele é o pintor Dick Heldar, que vê seu amor rejeitado pela namorada de infância e truncada a carreira, justamente quando criara a sua obra-prima pela perda da visão. O ator queria Vivien Leigh no papel que coube a Ida Lupino (em marcante intervenção) e brigou seriamente com Wellman durante as filmagens, sendo espantoso como conseguiu se compenetrar nos takes. Mais para o final dos trabalhos, Wellman reconheceu que estava diante de um ator magnífico.

Cary Grant ,Jean Arthur e Ronald Colman em A Vida Continua

Cary Grant, Ronald Colman e Jean Arthur em A Vida Continua

Dirigida por George Stevens, E A Vida Continua mistura com muita aptidão comédia e significação social. O anarquista Leopold Dilg (Cary Grant), acusado de ter provocado um incêndio, que teria causado a morte de um homem, foge da prisão antes do seu julgamento e se refugia na casa da professora Nora Shelley (Jean Arthur), quando ela acaba de alugá-la para um jurista, Michel Lightcap (Ronald Colman), que chega logo depois. Ela esconde logo Dilg e depois o faz passar por Joseph, o jardineiro. Os dois homens ficam amigos e trocam reflexões sobre diversas maneiras de compreender o conceito de Justiça. Lightcap descobre por acaso a identidade do pseudo Joseph e, acreditando em sua inocência, acaba encontrando o verdadeiro culpado. Dilg é absolvido e se casa com Nora, enquanto Lightcap, também apaixonado pela jovem, vai para Wasghington tomar posse na Suprema Côrte.

Ronald Colman e Greer Garson em na Noite do Passado

Greer Garson e Ronald Colman em Na Noite do Passado

Greer Garson e Ronald Colman em Na Noite do Passado

Em Na Noite do Passado, Colman é o ex-combatente, Charles Rainier que, tendo perdido a memória, foge do hospital onde estava internado e vaga pelas ruas até chegar a um music hall, onde conhece e se apaixona pela atriz Paula Ridgely (Greer Garson). Eles se casam e vivem felizes até que um dia Charles, que descobrira seu talento para escrever, é atropelado, recobra a memória, e se esquece da vida que levava com Paula. Para poder ficar ao lado de seu amado, Paula fica como sua secretária, esperando pacientemente que um dia ele se lembre do tempo em que passaram juntos. O romance de James Hilton recebeu um tratamento impecável da MGM com direção firme de Mervyn LeRoy, e Colman teve sua terceira indicação para o Oscar.

Ronald Colman e Peggy Cummings em Tenho Direito ao Amor

Cena de Tenho Direito ao Amor

Ronald Colman  em Tenho Direito ao Amor

Com roteiro de Philip Dunne baseado no romance de John P. Marquand e a subsequente peça escrita por ele e George S. Kaufman, Tenho Direito ao Amor é uma sátira gentil da classe alta de Boston tendo como figura central George Appley (Ronald Colman), um patriarca conservador e preconceituoso, que fica horrorizado ao saber que seu filho (Richard Ney) e sua filha (Peggy Cummings) se apaixonaram por pessoas de outro círculo social, mas acaba se ajustando a um mundo em transformação. Examinando um envelope endereçado ao seu filho pela sua namorada, Appley comenta: “Está carimbado Worcester; a moça é uma estrangeira!” Bem dirigido por Joseph L. Mankiewicz, e devido ao seu senso de humor e espirituosidade inatos, Colman está a vontade no papel do aristocrata de Beacon Street. No final, ele se rende às novas idéias e diz para sua mulher (Edna Best): “Estive pensando … Worcester não é Boston, mas fica em Massachusetts!”

Shelley Winters e Ronald Colman em Fatalidade

Shelley Winter e Ronald Colman em Fatalidade

Ronald Colman em Fatalidade

Signe Hasso e Ronald Colman em Fatalidade

Ronald Colman, George Cukor e Walter Hampden  (consultor técnico para as cenas de Otelo”, em um intervalo da filmagem de Fatalidade

Ronald Colman e Loretta Young agraciados com o Oscar

Com Fatalidade, Ronald Colman atingiu o climax de sua carreira, conquistando o prêmio da Academia em uma quarta indicação. O entrecho do filme gira em torno de um ator de teatro famoso, Anthony John (Ronald Colman) que começa a viver os papéis de suas peças. Assumindo o ciúme patológico de Otelo, ele estrangula uma jovem garçonete (Shelley Winters) tal como faz com Desdêmona na representação da tragédia de Shakespeare. Mais tarde – no palco – quase mata Desdêmona, interpretada por sua ex-esposa (Signe Hasso), que ele pensa erroneamente que o traíra com seu assessor de imprensa (Edmond O’Brien). Finalmente, crava o punhal no seu peito e morre. Além da atuação marcante de Colman, não se pode esquecer do roteiro inspirado de Garson Kanin e Ruth Gordon, da direção segura de George Cukor, da fotografia noir esplêndida de Milton Krasner, da música cinematográfica de Miklos Rosza (premiada com o Oscar), e da contribuição prestimosa de Walter Hampden, transferindo-lhe em cuidadosos ensaios a experiência shakespereana que lhe faltava.

Vincent Price e Ronald Colman em Champagne para Cesar

Champagne para César, dirigido por Richard Whorf, é uma charge divertida ao ambiente de negócios e à publicidade americanos. Um intelectual, Beauregard Bottomley (Ronald Colman), decide participar de um programa radiofônico de perguntas que dobra o prêmio em dinheiro cada vez que o candidato responde corretamente, com a intenção de levar seu patrocinador (que lhe recusara um emprego) à falência. A cada pergunta, ele ganha o prêmio, que ele arrisca de novo, e não tarda a acumular somas astronômicas. O pomposo industrial patrocinador do programa, Bumbridge Waters (Vincent Price), presidente da Milady Soap Company, então envia Flame O’Neil (Celeste Holm) para perturbar seu espírito. Colman encarna o personagem com sua autoridade e distinção costumeiras, mas é quase ofuscado pela estupenda criação de Vincent Price no excêntrico – e simpático – vilão. Como contou V. Price, “o produtor executivo Harry Popkin não pagou a ninguém o que ainda devia, vendeu o filme para a televisão, e desapareceu. Colman contratou advogado e conversou com a MCA. Eles responderam que não havia nada que podiam fazer. Logo o filme caiu no domínio público: um pequeno filme que todos podiam exibir – e todos o fizeram!. Assim, Champagne para Cesar, que prometia ser um êxito de bilheteria, teve apenas uma breve exibição nos cinemas, e desapareceu na televisão”.

Ronald Colman e Benita Hume

Ronald, Benita e sua filha Juliet Benita

Entre 1950 e 1952, Colman trabalhou no rádio (onde já havia participado, nos anos quarenta, do Screen Guild Theater, do Lux Radio Theater, do programa de Jack Benny (com Benita), de shows radiofônicos para entretenimento das tropas como Yarns for Yanks e Everything for the Boys e como mestre de cerimônias e ator da série Favorite Story com adaptações de obras literárias favoritas de personalidades como Einstein, Eleonor Roosevelt, Sinclair Lewis, H.L. Mencken etc.) na série Halls of Ivy ao lado de sua esposa Benita. Entre 1955 e 1956, Colman fez sua estréia na TV em The Lost Silk Hat, The Man Who Walked Out on Himself e Ladies on My Couch todos na série Four Star Playhouse e The Hall of Ivy passou para a tela pequena com grande sucesso.

Cedrick Hardwicke, David Niven, Colman e Cantinflas em A Volta ao Mundo em 80 Dias

Vincent Price e Ronald Colman em The Story of Mankind

As últimas aparições (bem rápidas) de Colman no cinema foram em A Volta ao Mundo em 80 Dias / Around the World in 80 Days / 1956 e em The Story of Mankind / 1957. Ele faleceu no dia 19 de maio de 1958 em Santa Barbara, Califórnia. Quando Mike Tood começou a preparar a produção de A Volta ao Mundo em 80 Dias, Colman foi convidado (juntamente com outros astros) para fazer um papel bem curto, podendo escolher como remuneração uma quantia em dinheiro ou um Cadillac. Ele aceitou e escolheu o Cadillac. Pouco depois, em uma festa em Beverly Hills, uma senhora lhe perguntou: “É verdade que o Sr. ganhou um Cadillac por apenas meio dia de filmagem?”. Ele respondeu: “De modo nenhum, madame, pelo trabalho de uma vida inteira!”.

AC

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