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BEATRIZ COSTA

Ela foi a vedete mais popular do teatro de revista de dois países. Admirada pelas platéias tanto de Portugal como do Brasil, esta atriz de pequena estatura física, mas com uma vivacidade encantadora e uma capacidade de se comunicar com o público realmente notável, também deixou a marca de sua personalidade na tela, recebendo o título de “a princesa do cinema português”.

Beatriz Costa

Beatriz da Conceição Costa nasceu na Charneca do Milharado, aldeia perto de Mafra, em 14 de dezembro de 1907. O pai era moleiro e, com a pequena Beatriz de apenas quatro anos de idade e outros dois irmãos mais novos deixados para trás, a mãe rumou para Lisboa em busca de uma vida melhor. A progenitora de Beatriz trabalhou na casa do pintor José Malhoa e depois passou a costurar no Casão. Após sua união com um official subalterno do Exército, foi morar com a filha em Tomar, onde ele estava servindo, alí permanecendo durante seis anos. Em 1917, regressam todos a Lisboa, morando na zona do Castelo. Ainda menina, Beatriz trabalhou em casa como ajuntadeira, cosendo peças de calçado, e depois optou pela profissão de bordadeira. Em 1921, então com 13 anos de idade, aprendeu finalmente a ler sem mestres, “por intuição”, como diria mais tarde.

Beatriz costa em uma revista no Teatro Vitória

Aos quinze anos, por intermédio do padrasto, a jovem começou a trabalhar como corista na revista “Chá e Torradas” (1923) no Teatro Eden e depois participou de “Rés Vés” no Teatro Maria Vitória. Em 1924, partiu para o Brasil com a Companhia Portuguêsa de Revistas do Teatro Eden, a empresa teatral de José Loureiro. No percurso de navio para o Rio de Janeiro, Beatriz Costa substituiu eventualmente, em um dos espetáculo que fizeram a bordo, a estrela Lina Demoel, que se achava gripada, convencendo o diretor artístico Antonio de Macedo de suas possibilidades artísticas.

A Companhia estreou no Teatro República com “Fado Corrido” em 7 de agosto de 1924, tendo como figuras principais, Lina Demoel, Zulmira Miranda, Carmen Martins, Aurora Aboim, Julieta D’Almeida, Maria Amélia, Beatriz Costa, Carmen Pereira, Alvaro Pereira, Jorge Gentil, Joaquim Roda, Adolpho Sampaio, Manoel Rocha e Pedro Gamboa. Alguns números de Beatriz Costa como Gaby, Boneca, e principalmente a sua interpretação da canção picante Mademoiselle Garoto, despertaram aplausos calorosos.

Na revista seguinte da Companhia, “Tiro ao Alvo”, Beatriz Costa foi mencionada por um comentarista teatral da época como uma atriz que “alia a uma mocidade cheia de vida uma sedução que é irresístivel”. E nos espetáculos seguintes da Companhia, “Chá com Torradas”, “Piparote”, “Aqui D’el Rey”, “Tic Tac”, ”Rez Vez”, “De Capote e Lenço”, “O Gato Preto”, “Tim Tim por Tim Tim, “A Ilha das Virgens”, “Rataplan” e a opereta “O Fado (com a participação do tenor Almeida Cruz), a graciosa artista foi conquistando os espectadores brasileiros, tornando-se, como disse a imprensa, “o enfant-gaté do público do República”.

Beatriz Costa

Conforme informação de Jorge Leitão Ramos no seu Dicionário do Cinema Português 1895-1961 (Editorial Caminho, 2011), em 1925, de volta a Lisboa, Beatriz Costa aparece na revista “Ditosa Pátria” no Teatro Trindade e em algumas operetas e zarzuelas (“A Canção do Olvido”, “A Montaria”, “Os Gaviões”, “Flor do Tojo”. E, já em 1926, “A Moça das Campanilhas”, “A Alsaciana” e “O Pobre Valbuena”, sempre no Teatro São Luiz); porém é na revista que melhor brilha: “Fox-Trot” (Teatro Joaquim de Almeida), “Olarila” (Teatro Maria Vitória). Em 1927, ela faz “Revista de Lisboa” (Salão Foz) e, sobretudo, “Sete e Meio” (Teatro Apolo), onde aparece pela primeira vez com a franjinha “a la Louise Brooks” (ou “pastinha colada” como alguns a descreviam), que foi durante muito tempo uma imagem marcante da atriz.

Em 1928, Beatriz Costa aceita um pequeno papel (a cliente de um cabaré) no filme mudo de Rino Lupo, O Diabo em Lisboa, nunca exibido comercialmente. Produzido por Artur da Costa Macedo, não foi completado, porque faltou dinheiro para concluir a filmagem. No mesmo ano, ela faz outra breve intervenção (como uma cantora) em outro filme silencioso de Rino Lupo, Fátima Milagrosa, que segundo o autor do Dicionário do Cinema Português era um melodrama, onde a religiosidade vencia os males do mundo, físicos e morais, que valia apenas pelas sequências documentais de Fátima.

Em abril de 1928, Beatriz Costa está novamente no Teatro Apolo na revista “Água Fresca”. Na temporada 1928-1929, trabalha na Companhia de Eva Stachino, e vai crescendo: “Coração Português”; “Mãe Eva”; “Carapinhada” (no Teatro de Variedades); “Pó de Maio” (no Teatro Trindade) – onde tem um célebre dueto com Alvaro Pereira, Dona Chica e Sr. Pires.

Em 1929, na sua segunda temporada pelo Brasil, com a Companhia Eva Stacchino, Beatriz Costa é muito bem recebida no Rio de Janeiro e em São Paulo. No Rio, a Companhia estréia no Teatro Lyrico com a peça “Pó de Maio” em cujo elenco estavam, a própria Eva Stachino em primeiro plano e Aldina de Souza, Adelina Fernandes, Beatriz Costa, Fernanda Coimbra, Luiza Durão, Maria Odette, Maria Amelia, Emma Maria, Vasco Santana, Salles Ribeiro, Augusto Costa (Costinha), Santos Carvalho, Mario Fernandes, Raul Sargadas, os bailarinos Mora e Falkoff, a bailarina Rosita de Hespanha, 10 girls alemãs e 16 coristas-bailarinas portuguêsas. Beatriz Costa repete, desta vez com Augusto Costa, o quadro Dona Chica e Sr. Pires, sempre ovacionado.

Na continuação de sua passagem pelo nosso país, a Companhia Eva Stacchino ofereceu ainda as revistas “Lua de Mel”; “Meia-Noite”; “Eva no Paraíso”; “Carapinhada”; a opereta “Mouraria”; “Ouro de Lei” e, neste período, em benefício da Casa dos Artistas, organizou-se um espetáculo intitulado “Retalhos” com a participação de grandes artistas de várias companhias como, por exemplo, Palmerim Silva no quadro Elas se Fazem, Eva Stacchino e Aracy Cortes no quadro Misturas, Mesquitinha no quadro Eu Fico com o Cavaignac, Jaime Costa e outros no quadro Sonho e Realidade, Margarida Max e outros no quadro Dona Bôa etc., cabendo a Beatriz Costa e Fernanda Coimbra repetirem o quadro Farrusca e Branquinha, que haviam interpretado na revista “Pó de Maio”. O Farrusca de Beatriz foi, tanto na revista quanto nessa apresentação beneficente, aplaudidíssimo.

Em 1930, Beatriz Costa participou de mais um filme mudo, Lisboa, Crônica Anedótica / 1930, de Leitão de Barros e foi a Paris filmar Minha Noite de Núpcias / 1931, versão portuguêsa de Her Wedding Night /1930 (filme americano com Clara Bow e Ralph Forbes), dirigida por E.W. Emo no estúdio da Paramount em St. Maurice, com o nosso grande ator Leopoldo Froes, Alvaro Reis, Estevão Amarante, Maria Emilia Rodrigues e Maria Sampaio compondo com Beatriz o quinteto principal da história.

Beatriz Costa e Chaby Pinheiro em Lisboa, Crônica Anedótica

O primeiro filme é um documentário sobre a vida da cidade, “pontuado por momentos ficcionais a sublinhar facetas pícaras ou dramáticas” (JLR), interpretadas por alguns dos maiores atores portugueses da época como Chaby Pinheiro, Alves da Cunha, Estevão Amarante, Nascimento Fernandes, Vasco Santana e Beatriz Costa entre outros. Chaby Pinheiro é um vendedor de ferro velho na Feira da Ladra e uma das compradoras de suas quinquilharias é Beatriz Costa, moça recém-casada desejosa de encontrar um talismã, que lhe traga, no matrimônio, a eterna felicidade.

Beatriz Costa e Leopoldo Froes em Minha Noite de Núpcias

O segundo filme, do qual não se encontrou até agora nenhuma cópia, apresenta um enredo do gênero vaudeville, abordando as aventuras de um compositor de canções populares, Claudio Mallet (Alvaro Reis) que, para fugir do assédio de suas admiradoras, deixa em seu lugar um amigo, Raul Laforte (Estevão Amarante). Este conhece uma estrela de cinema, Gilberta Landry (Beatriz Costa), casa-se com ela por engano, e surgem muitas complicações, envolvendo ainda o amigo de Claudio, João Pestana (Leopoldo Froes), a noiva de Claudio, Julieta (Maria Emilia Rodigues) e Melusina (Maria Sampaio), uma jovem apaixonada pelo compositor e muito ciumenta.

Beatriz Costa e Vasco Santana em A Canção de Lisboa

Em 1932, sai o curta-metragem de Artur Costa de Macedo, Beatriz Costa, Memorialista e, no ano seguinte, é a vez de Beatriz Costa triunfar no primeiro filme sonoro integralmente rodado em Portugal, A Canção de Lisboa / 1933, realizado por Cottinelli Telmo e com um elenco onde se destacavam também Vasco Santana e Antonio Silva. Na sinopse, Vasco Leitão, o Vasquinho (Vasco Santana), estudante de medicina por conta de umas tias ricas de Trás-os-Montes (Teresa Gomes, Sofia Santos) é um boêmio que não quer nada com os livros. Ele namora Alice (Beatriz Costa), filha do alfaiate Caetano (Antonio Silva), que não vê com bons olhos tal relação. Tudo se complica quando as tias, julgando o sobrinho já doutor, resolvem vir à Lisboa visitá-lo, e ver como bem aplicaram seu dinheiro.

Beatriz Costa e Antonio Silva em A Canção de Lisboa

Clássico do cinema falado português, esta comédia musical transmite uma alegria contagiante, sendo ainda beneficiadas por canções deliciosas (de Raul Ferrão e Raul Portela) como, por exemplo, o fado “A Agulha e o Dedal” e a valsa “Castelos no Ar”, interpretadas por Beatriz Costa; o fado “O Balãozinho”, cantada em dueto por Vasco Santana e Beatriz acompanhados por um côro; o fado “Estudante“ com Vasco sozinho. A cena da eleição de Miss Castelinho é digna de figurar em qualquer antologia que se faça do cinema português. Na cena final, o Vasquinho, referindo-se às dificuldades de ser médico e de curar, cantava: “morrer por morrer / que seja a rir!”, versos que refletem bem o tom de todo o filme.

Nesse início dos anos trinta, como informa JLR, Beatriz Costa se instala no trono de rainha do teatro de revista, gênero que vai dominar com o seu talento e irreverência durante uma década. Revistas principais: 1930 – “A Bola” (Teatro Avenida); “O Cavaquinho” ; “O Pato Marreco” (Teatro Variedades); 1931 – “O Tareco”; “Verde Gaio”; “O Canto da Cigarra”; “O Mexilhão” (Teatro Variedades) quando Beatriz Costa faz toda Lisboa cantar “quem é, quem é que me compra o burrié”. 1932 – “Pim! Pam! Pum!” (Teatro Maria Vitória); ”Pirilau”; “Chá de Parreira” (Teatro Variedades). 1933 – “Fogo de Vistas; “A Freira da Alegria (Teatro Avenida). 1934 – “Azes e Cenas” (Teatro Politeama); “Santo Antonio” (Teatro Avenida); “Lua Cheia” (Teatro Trindade). 1935 – “Bola de Neve”; “O Rapa” (Teatro Trindade). 1936 – “Há Festa na Mouraria” (Teatro Apolo); “Arre, Burro!” (Teatro Variedades). 1937 – “Água Vai!” (Teatro Trindade); “O Liró” (Teatro Variedades).

Em 1936, Beatriz Costa foi a estrela do filme O Trevo de Quatro Folhas de Chianca de Garcia, contracenando com Nascimento Fernandes e o renomado ator brasileiro Procópio Ferreira. Segundo Luís de Pina (História do Cinema Português, Pulicações Europa-América, 1986) esse filme perdido era uma espécie de comédia sofisticada na tradição americana, muito apoiada no estúdio e no princípio da dupla identidade, com um roteiro recheado de surpresas e peripécias com várias situações ligadas ao mundo do palco.

Beatriz Costa e Nascimento Fernandes em O Trevo de Quatro Folhas

Procópio Ferreira e Beatriz Costa em O Trevo de Quatro Folhas

Segundo Pina, o espetáculo teve um certo êxito em Portugal, talvez um pouco mais no Brasil, dada a presença de Procópio Ferreira (Juca, filho de um milionário brasileiro) no elenco ao lado de Beatriz Costa em um papel duplo (Manuela, caixeirinha do quiosque Trevo de Quatro Folhas / Rosita, uma aventureira guatemalteca) e de Nascimento Fernandes em um papel múltiplo, pois interpreta um tal Zé Maria, empregado de uma fábrica de sabonetes, que se parece com toda a gente, pelo que tem de interpretar as mais diversas personagens, incluindo o goleiro de um time de futebol.

Em 1937, contratada pelo empresário José Loureiro, Beatriz Costa faz outra tournée ao Brasil que, segundo diria mais tarde, “foi o degrau para a minha independência”. No Rio de Janeiro, ela se apresenta no Teatro República sucessivamente nas revistas: “Arre, Burro!” , um de seus maiores êxitos, no qual cantava: “Vem Cá Mê Estapor / Tu Tens Mais Valor / Que Munto Senhor Casmurro / Ê, Digo-te Aqui / Cá, Homes Prà’i / Mas Bestas Cà Ti / Mê Burro”. Em determinada noite, a atriz perdeu os sentidos e caiu do gerico que montava, causando ligeiro reboliço no teatro, mas depois de atendida no seu camarim pelo médico de uma ambulância, voltou à cena, prosseguindo o espetáculo; noutro dia, o burro estrilou e atirou as patas trazeiras contra a artista; porém ela se livrou a tempo do coice. Outro número da “garota azougue” que agradou em cheio, foi Pombo Correio, no qual ela abre a correspondência que traz e lê várias cartas endereçadas a personalidades de destaque no Rio de Janeiro; “Estrelas de Portugual”; “O Liró”; “O Santo Antonio”; “Sardinha Assada”; e “Água, Vae…”.

Em 1939, Beatriz Costa volta para Portugal, onde interpreta o papel principal no filme  Aldeia da Roupa Branca, obra-prima de Chianca de Garcia com inspiração ao mesmo tempo lubitscheana na movimentação da câmera (no início com as roupas penduradas no varal, as lavadeiras batendo a roupa no rio e acompanhando em coro a cantiga de Beatriz, “Ai não te queixes que o sabão não mata / Ai até lava os peixes / Ai põe-nos cor de prata”) e eisensteiniana na montagem (a corrida das carroças puxadas cada uma por três cavalos; a sequência da festa popular com o conflito entre as bandas e a confusão geral) servindo-se, como disse Luís de Pina, “de uma Beatriz Costa inspirada pelos ares de sua terra, a região saloia ao norte de Lisboa, e atuando em estado de graça”.

Beatriz Costa em Aldeia da Roupa Branca

Beatriz Costa em A Aldeia da Roupa Branca

Beatriz Costa em  Aldeia da Roupa Branca

Relembrando em síntese a história dessa realização magnífica, em uma pequena aldeia da região saloia, arredores de Lisboa, duas famílias defrontam-se no mercado de lavadeiras que, pelos anos trinta, ainda subiam a Calçada de Carriche em carroças puxadas a muares, trazendo e levando trouxas de roupa dos burgueses da cidade. De um lado o tio Jacinto (Manuel Santos Carvalho) e sua afilhada Gracinda (Beatriz Costa), do outro, a viúva Quitéria (Elvira Velez) e o filho Luís (Óscar de Lemos) – duas “empresas” em desbragada concorrência, onde não faltará o confronto entre o Antigo e o Novo – no final, Gracinda e seu amado Chico (José Amaro), filho do tio Jacinto, usam um caminhão para o transporte das trouxas de roupa.

Beatriz Costa e Chianca de Garcia

Cena de Aldeia da Roupa Branc

Em seguida Beatriz Costa retorna ao Brasil, onde permanecerá por dez anos – os melhores anos de sua vida, lembraria ela no futuro. Contratada por José Loureiro, ela estréia no Teatro República com “Eh, Real”, seguindo-se “Ó Meu Rico São João”; “Sempre em Pé”; “Dansa da Luta”; “Pega-me ao Colo” e, depois de uma temporada em São Paulo no Cassino Antártica, “Rua da Paz”; “O Rosmaninho”; e uma “Revista das Revistas”, síntese de todos os espetáculos realizados pela Companhia naquela temporada.

Em 1940, Beatriz Costa estava no Teatro República com a opereta “O Pardal de São Bento; participou com outros artistas de atos variados na 2a parte da revista “Guela de Pato”, encenada no Teatro Recreio com Aracy Cortes e Oscarito; e, ajudada por Carmen Miranda, passou a se apresentar no grill da Urca ao lado das bailarinas excêntricas The Three Sophisticated Ladies e do conjunto instrumental de Borrah Minevitch, integrando a temporada Jean Sablon. Novamente na Urca, seus parceiros foram o tenor mexicano Pedro Vargas, Alvarenga e Ranchinho, os bailarinos cubanos Stella e Papo, Heloisa Helena, o acrobata Novello, e as Deighton Girls.

Outras aparições de Beatriz Costa ocorreram no palco de alguns cinemas (Colonial, Olinda, Mascote) em shows complementando a projeção de um filme de longa-metragem, destacando-se o show da inauguração do Cinema Colonial durante a exibição do filme O Patriota / Le Patriote / 1938 com Harry Baur quando, ao lado da portuguesinha brejeira, apresentavam-se Os Anjos do Inferno, Jararaca e Ratinho, Jorge Murad, e a cantora Jurema Magalhães.

Após participar no Cine Colonial de um show Luso-Brasileiro com Jararaca e Ratinho, Príncipe Maluco, Augusto Calheiros, Armando Nascimento, Violeta Cavalcante, Benedito Chaves, Aurea Brasil e Dolores Bragança, Beatriz Costa comandou no grill do cassino o espetáculo “Carnaval na Urca” acompanhada por Grande Otelo (no dueto cômico Nega do Cabelo Duro), Linda Batista, Virginia Lane e os Whitey Cangeroo Dancers. Antes de iniciar a sua longa colaboração com Oscarito no Teatro República, Beatriz Costa fez mais um show, “Uma Noite na Urca”, com Grande Otelo, Linda Batista, Silvino Neto e Ray Ventura e sua orquestra, que foi repetido no Teatro João Caetano como complemento da opereta “Miss Diabo” (estrelada por Norma Geraldy) em um espetáculo organizado em benefício das famílias dos brasileiros mortos pelos torpedos alemães.

Oscarito, Beatriz Costa e Margot Louro

Em 18 de junho de 1942, formando companhia com Oscarito, e tendo ainda como companheiros Walter D’Avila, Margot Louro, Zé do Bambo, Tulio Berti, a sambista Carmen Costa, os cantores portuguêses Joaquim Pimentel e Maria Guerreiro, Isabelita Ruiz, Rosita Rocha, Elisabete Mess, Jane Dupon e América Cabral, Beatriz Costa inaugurou no Teatro República com “Ofensiva da Primavera”, uma série de revistas da qual faziam parte: “Aguenta o Leme” (com o reforço de Evilásio Marçal, Raquel Martins, Darius del Valle, João de Deus e Geny de Oliveira), “Tripas a Moda do Porto” (com o acréscimo de Zaira Cavalcanti e Armando Nascimento), “Da Guitarra ao Violão”, Vitória à Vista” (com a nova contratada Jurema Magalhães).

Depois de uma temporada no Cassino Antártica em São Paulo, a companhia voltou desta vez para o Teatro João Caetano com a revista “Defesa da Borracha”, com Iracema Correia, Spina, Leonor Barreto, Henrique Delff, o violonista Gonçalves Dias e a bailarina Floripes Rodrigues, além do elenco básico, e Oscarito brilhando como Carmelita Mirandela. Seguiram-se: “Ouro de Lei”; “A Garota de Além-Mar”; “Momo nas Cabeceiras”; a opereta Mouraria; “Fogo na Canjica”, homenagem a Getúlio Vargas na qual Oscarito e Beatriz Costa parodiavam a peça de Dulcina “Cesar e Cleópatra; “A Velha da Gaita”; “As Lavadeiras”; “Toca Pró Pau”, com o concurso adicional de Violeta Ferraz, Paulo Celestino, Otacílio Alencar, Joana D’Arc, Lily Norman, Beatriz Costa como Mme. Chiang-Kai-Chek, e Oscarito dançando um tango com Walter D’Avila; “A Cobra Está Fumando”, um grito de Carnaval com enredo girando em torno da endiabrada Cecilia (Beatriz Costa) e do velho Aparício (Oscarito), que se mete em muitas complicacões, a fim de passar os três dias de Momo longe de sua mulher gorducha e rabugenta (Violeta Ferraz).

Em 1947, Beatriz Costa casa-se no México com o artista plástico Edmundo Gregorian. Durante dois anos o casal viaja pelas principais cidades da Europa e da orla do Mediterrâneo. Quando Beatriz Costa retorna a Lisboa no final de 1949, vem solitária (“Amo a Liberdade”, ela concluirá) e, em 9 de dezembro deste ano, volta a pisar o palco para uma revista feita para saudar o seu regresso, até no título:”Ela Aí Está”.

O sucesso lhe sorrí, o público não a esquecera, mas ela prefere voltar para o Brasil, onde foi vista em 1950, no novo Teatro Carlos Gomes, nas revistas “Mão Boba”, com Colé, Salomé, Rafael Garcia e suas bailarinas, Spina, Jurema Magalhães, Celeste Aída, Ze Coió, Zilka Salaberry, Virginia de Noronha, Francisco Dantas, Vanete, Renato Restier, João Elizio, as bailarinas Inez Helmkampf, Nelida Galvan, Nely Lujan, Las Chicas de Mar del Plata, As Garotas de Copacabana e o Balé Negro. Um dos quadros nos quais Beatriz Costa aparecia, intitulado Não Vale Chorar, visava desmoralizar a idéia fixa de meio-luto-nacional pela perda da Copa do Mundo de 1950; “Mulheres de Fogo” com Colé, Linda Batista, Spina, Celeste Aida, Vicente Marchelli, Lidia Bastiane, Perpétuo Silva, Zilka Salaberry, Roberto Mauro, Marilú Dantas, Helio Chaves, Rafael Garcia e suas lindas garotas carnavalescas; e “Rabo de Peixe” com Colé, Linda Batista, Spina, Salomé, Rafael Garcia e seu 30 Brotinhos, Yolita Mendez, Irmãs Parisi. O anúncio desta última revista dizia: “A Revista onde o nú é obra de arte!”.

Beatriz Costa em uma de suas visitas ao MAM

Como autodidata, Beatriz Costa começou a adquirir cultura convivendo em Portugal com grandes figuras da literatura como Aquilino Ribeiro, Almada Negreiros, Miguel Torga, Ferreira de Castro, Vitório Nemésio etc. e, no Brasil, encontramos nos jornais muitas notícias e fotos dela visitando exposições de arte plástica ou de arquitetura no MAM (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro) bem como do seu relacionamento como o mundo intelectual brasileiro.

Beatriz Costa reaparece em Lisboa em 1956 com “O Reboliço” no Teatro Maria Vitória e, nos anos seguintes, ao rí tmo pausado de uma revista por temporada, vai descobrir que os tempos tinham passado e a magia dos anos trinta estava longe. “Toca a Música” (1957), “Com Jeito Vai (1958), “Champanhe Saloio” (1959) e “Está Bonita a Brincadeira!” (1960) encerram sua carreira teatral.

Em 1967 Beatriz Costa instalou-se definitivamente em Lisboa – no hotel Tivoli – embora nunca tivesse deixado de viajar. Em 1975, estimulada por Jorge Amado (de cuja filha única, Paloma, era madrinha), publicou um primeiro livro de memórias, Sem Papas na Língua e, com um êxito tão grande, reincidiu – Quando os Vascos Eram Santanas…e não só (1977), Mulher Sem Fronteiras (1981), Nos Cornos da Vida (1984), Eles e Eu (1990), sempre em edições da Europa-América. Respondendo a perguntas sobre sua carreira, ela costumava dizer modestamente: “Só sabia rir e até hoje é o que faço melhor”. Beatriz Costa faleceu em Lisboa no quarto 600 do hotel Tivoli, em 15 de abril de 1996. Morreu serenamente durante o sono.

AC

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  • UMA EXCELENTE BIOGRAFIA E, DELA, UMA CARREIRA COM MUITA ATIVIDADE ARTÍSTICA E DE QUALIDADE RECONHECIDA. OBRIGADO;

    • Obrigado José Maria, mas eu ainda não coloquei todas as fotos. Espero que leia de novo meu post e me diga se gostou das mesmas.Mais uma vez obrigado pela sua atenção, para mim preciosa.

  • CarO Professor. Tenho lido com atenção suas documentações, excelentes, e gostaria de saber sobre revista no tempo da ii guerra ( mais ou menos ano 43/44 e de nome "AVANTE".
    Era em tamanho grande e as capas tinham fantásticas fotos de aviões, paraquedas coloridos etc.
    O senhor sabe onde encontrar esta revista ( fotos já está muito bom)
    obrigado.
    G ALVES

    • Prezado José Maria. Conheço a revista Avante, que era do Partido Integralista de Plínio Salgado e, se não me engano, trazia muitas fotos, e foi impressa em Ribeirão Preto nossa anos 1949-1950. Conheço também uma revista que saiu durante a Segunda Guerra Mundial, intitulada "Em Guarda", que trazia muitas fotos de guerra.Para enonctrar essas revistas só em senos ou bibliotecas. Tente Hemeroteca DigitalBN e Estante Virtual.

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