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OS WESTERNS DE RAOUL WALSH

Diretor de gênero, seus filmes se caracterizam sobretudo pela ação contínua, um cinema dinâmico, executado com perfeito domínio da técnica, concisão, objetividade e clareza. Suas tramas, muito bem narradas, transcorrem de maneira espontânea e fluente, sem que a gente sinta o tempo passar. Um cineasta clássico, despretencioso, que pôs seu talento cinematográfico a serviço do entretenimento.

Raoul Walsh

Raoul Walsh

Walsh iniciou sua carreira com D.W. Griffith nos anos dez (como ator no papel de John Wilkes Booth em Nascimento de uma Nação / The Birth of a Nation). No mesmo ano, sob a tutela de Griffith, começou a dirigir seus próprios filmes. Depois, transferiu-se para a Fox Pictures e trabalhou para outras companhias, mas foi na Warner Bros, que ocorreu seu período áureo como realizador e encerrou sua trajetória artística nos anos sessenta. Fêz grandes filmes tanto no cinema mudo (O Ladrão de Bagdad / The Thief of Bagdad / 1924, Sangue Por Glória / What Price Glory / 1926, Sedução do Pecado / Sadie Thompson / 1928) como no cinema falado (Último Refúgio / High Sierra / 1941, O Ídolo do Público / Gentleman Jim / 1942, Fúria Sanguinária / White Heat / 1949). Vou recordar neste artigo seus melhores westerns.

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A GRANDE JORNADA / THE BIG TRAIL / 1930.

Ao saber que Red Flack (Tyrone Power Jr.) será o líder de um comboio que parte em direção ao Oregon, Breck Coleman (John Wayne, estreando no cinema, depois de cogitado Gary Cooper) aceita servir como seu guia, pois suspeita de que Red Flack foi o assassino de seu velho amigo Ben, desapossado de seu carregamento de peles. Desde o começo da viagem, Breck se apaixona por Ruth Cameron (Marguerite Churchill), filha de um general, pela qual também se interessa Thorpe (Ian Keith), jogador profissional fugitivo da justiça e amigo de Red Flack. No decorrer da jornada, Breck tem que enfrentar as ameaças climáticas e geográficas da natureza e os ataques dos índios (interpretados por índios de verdade, falando sua própria língua) e escapar das tentativas de Thorpe e de Lopez (Charles Stevens), outro assecla de Red Flack, para matá-lo.

Cena de A Grande Jornada

Cena de A Grande Jornada

Cena de A Grande Jornada

Cena de A Grande Jornada

John Wayne e Marguerite Churchill em A Grande Jornada

John Wayne e Marguerite Churchill em A Grande Jornada

Cena de A Grande Jornada

Cena de A Grande Jornada

John Wayne em A Grande Jornada

John Wayne em A Grande Jornada

Em 1930, Walsh empreendeu este western épico, para rivalizar com os grandes épicos do cinema silencioso, O Cavalo de Ferro / The Iron Horse / 1924 de John Ford e Os Bandeirantes / The Covered Wagon / 1926 de James Cruze e assumiu a responsabilidade de usar (auxiliado pelo fotógrafo Arthur Edeson) o novo processo Grandeur de 70 mm. O filme foi rodado também em 35mm (com fotografia a cargo de Lucien Andriot) e foram feitas versões em Alemão, Francês, Espanhol e Italiano. O espetáculo estreou em 70mm no Cinema Roxy em Nova York, porém o processo foi logo abandonado por causa do custo de reaparelhamento de outras salas de projecão. Em 1986, o MOMA reconstituiu uma cópia de 35mm em CinemaScope. Filmado quase que inteiramente em exteriores em diversas locações na Califórnia, Arizona, Wyoming, Utah, Montana e Oregon, o filme apresenta belos planos gerais e sequências espetaculares (v.g. a descida das carroças no desfiladeiro), e expressa com precisão a força instintiva, telúrica, que faz os pioneiros vencerem os obstáculos inumeráveis que entravam a sua marcha.

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COMANDO NEGRO / DARK COMMAND / 1940.

Em Lawrence, no Kansas, William Cantrell (Walter Pidgeon), insatisfeito com sua condição social e despeitado por ter perdido a eleição para delegado, torna-se contrabandista. Ao irromper a Guerra Civil, ele faz seu bando vestir o uniforme confederado e dá início a uma onda de saques. Cantrell disputa o amor de Mary McCloud (Claire Trevor) com Bob Seton (John Wayne), texano analfabeto mas decidido, que o vencera nas eleições e colocará um ponto final nas suas atividades criminosas.

Walter Pidgeon em Comando Negro

Walter Pidgeon em Comando Negro

Claire Trevor, Roy Rogers e Walter Pidgeon em Comando Negro

Claire Trevor, Roy Rogers e Walter Pidgeon em Comando Negro

Claire Trevor, John Wayne e George "Gabby" Hayes em Comando Negro

Claire Trevor, John Wayne e George “Gabby” Hayes em Comando Negro

John Wayne e Claire Trevor em Comando Negro

John Wayne e Claire Trevor em Comando Negro

Cena de Comando Negro

Cena de Comando Negro

Produzido pela Republic e rodado no Placenta Ranch em Newhall, Califórnia e na Sherwood Forest ao norte de Los Angeles com fotografia de Jack Marta, trata-se de western inspirado na figura de William Clark Quantrill (apresentado como Cantrell), que aterrorizou o Kansas, emboscando, saqueando ou simplesmente assassinando, com o pretexto de estar agindo em nome da Confederação. Duas participações importantes foram as de Roy Rogers, no início de carreira, no papel do irmão mais moço de Mary McCloud que passa momentaneamente para o lado de Cantrell e de Marjorie Main, interpretando a progenitora do facínora, que se volta contra seu próprio filho. É um filme de ação rápida e com uma cena famosa – a carroça com quatro homens que cai do alto de uma colina em um lago – dirigida por Joe Kane com o auxílio dos excelentes stuntmen Yakima Canutt e Cliff Lyons. Outra cena excitante é a do incêndio da cidade de Lawrence no Kansas. O filme teve boa acolhida de crítica e de público e foi a única produção da Republic indicada para dois Oscars: pela direção de arte de John Victor Mackay e pelo score original de Victor Young.

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O INTRÉPIDO GENERAL CUSTER / THEY DIED WITH THEIR BOOTS ON / 1941.

George Armstrong Custer (Errol Flynn, no primeiro dos sete filmes que fez com Walsh na Warner), aluno de West Point, se faz notar pela sua indisciplina e dons militares. Ali ele conhece Elizabeth Bacon (Olivia de Havilland, depois de cogitada sua irmã, Joan Fontaine), por quem se apaixona. Promovido por engano a general durante a Guerra Civil, Custer ataca, desobedecendo as ordens de seus superiores, e, graças a ele, a batalha de Hanover é uma vitória espetacular. Seu último ato de heroismo vai ocorrer no massacre de Little Big Horn.

Errol Flynn em O Intrépido General Custer

Errol Flynn em O Intrépido General Custer

Olivia de Havilland e Errol Flynn em O Intrépido General Custer

Olivia de Havilland e Errol Flynn em O Intrépido General Custer

Olivia de Havilland e  Errol Flynn em O Intrépido General Custer

Olivia de Havilland e Errol Flynn em O Intrépido General Custer

Olivia de Havilland e Errol Flynn em O Intrépido General Custer

Olivia de Havilland e Errol Flynn em O Intrépido General Custer

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Errol Flynn, Olivia de Havilland e Raoul Walsh em um intervalo de filmagem

Errol Flynn, Olivia de Havilland e Raoul Walsh em um intervalo de filmagem

Nesta biografia deliberadamente mitificada da figura controvertida de George Custer, Walsh denuncia, com bastante antecedência sobre os outros westerns da época, a conduta escandalosa dos políticos e dos especuladores. Apesar das falsidades históricas, a vivacidade da narrativa e a energética atuação de Errol Flynn compõem um espetáculo eletrizante, salientando-se a carga final da 7a Cavalaria, onde triunfa o estilo trepidante do diretor. Contando com a perícia do fotógrafo, Bert Glennon, Walsh rodou o filme em West Point, em Washington, D.C.; Monroe no Michigan; Bush Gardens, Pasadena, na Califórnia; e no Calabasas Ranch da Warner em San Fernando Valley. Além dos índios Sioux que conseguiu reunir, contratou alguns membros da comunidade Filipina como figurantes. Anna Q. Nilsson, um jovem Gig Young e o atleta Jim Thorpe também integraram a produção, sem receberem crédito. Na sequência espetacular do massacre da tropa de Custer (um quadro igual às pinturas de Frederic Remington, que Walsh admirava), o stuntman Yakima Canutt dublou Errol Flynn e ajudou a supervisionar as cenas de batalha. Foram usados aproximadamente cem extras montados a cavalo, muitos dos quais eram inexperientes, e três deles morreram tragicamente. Um dos homens estava bêbado, caiu do cavalo, e quebrou o pescoço. Outro figurante sofreu um ataque cardíaco em cima de sua montaria. E um terceiro extra caiu em cima de sua própria espada, quando o cavalo o derrubou.

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SUA ÚNICA SAÍDA / PURSUED / 1947.

No velho rancho dos Rand, Jeb Rand (Robert Mitchum) se recorda de alguns fatos enquanto aguarda a chegada dos homens que vêm para linchá-lo. Na sua infância, ele testemunhara acontecimentos que marcaram sua vida, mas só se lembra de um par de botas e esporas indo e vindo em um assoalho de madeira. Criado por Adam (John Rodney) e Thorley (Teresa Wright), os dois filhos de Medora Callum (Judith Anderson), Jeb tem constantemente a impressão de que uma maldição pesa sobre ele. Quando as crianças se tornam adultas, sucedem-se varios incidentes até que, após o retrospecto, o mistério é esclarecido. À frente dos linchadores está Grant Callum (Dean Jagger), que assassinara o pai de Jeb e outras pessoas de sua família, porque era amante de Medora e matara o marido dela, seu irmão.

Robert Mitchum, Teresa Wright e Judith Anderson em Sua Única Saída

Robert Mitchum, Teresa Wright e Judith Anderson em Sua Única Saída

Robert Mitchum e Teresa Wright em Sua Única Saída

Robert Mitchum e Teresa Wright em Sua Única Saída

Robert Mitchum e Teresa Wright em Sua Única Saída

Robert Mitchum e Teresa Wright em Sua Única Saída

Cena de Sua Única Saída

Cena de Sua Única Saída

Robert Mitchum em Sua Única Saída

Robert Mitchum em Sua Única Saída

Sua Única Saída introduz (por via do roteirista Niven Busch) a psicanálise no western graças em parte à influência do filme noir então em voga. Assim como o anti-herói noir, o protagonista é introspectivo e tem um passado que o atormenta. Sua memória foi queimada, tal como a casa da família, lugar onde ocorre o desfecho, o qual vai esclarecer brutalmente as zonas obscuras de sua vida. O tema não é de western. Pertence ao trágico universal. Podemos pensar evidentemente no Cid de Corneille no momento em que o personagem mata o irmão da jovem que ama e, como Chimène, esta ficará indecisa entre um desejo de vingança e um amor igualmente ardente. Rodado em Red Rock Mess perto de Gallup, New Mexico e no Dark Lake Canyon, mais ao norte, o filme propicia a Walsh a oportunidade de usar aquele plano geral que se tornaria sua marca registrada – a imagem de homens solitários a cavalo tendo como fundo montanhas enormes – enquanto seu fotógrafo James Wong Howe aponta com capricho sua câmera para os céus negros, os rochedos e os interiores pouco iluminados que, juntamente com a partitura sombria de Max Steiner, ajudam a dar o tom sombrio indicado para a história trágica.

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COVIL DO DIABO / CHEYENNE / 1947.

Em 1867, no Wyoming, o jogador profissional James Wiley (Dennis Morgan) para escapar de uma condenação e ganhar uma vultosa recompensa, compromete-se com o xerife (Barton Mac Lane), a descobrir a identidade e prender um bandido misterioso, apelidado de “O Poeta”, porque deixa sempre uns versos dentro dos cofres roubados em uma série de assaltos das diligência da Wells Fargo. Fazendo-se passar por ele, Wiley conhece Ann Kincaid (Jane Wyman) e a  cantora de saloon Emily Carson (Janis Paige). Após aventuras movimentadas, Wiley destrói um outro bando de assaltantes liderado por Sundance (Arthur Kennedy) e põe fim  às atividades  do “Poeta”, que não era outro senão Ed Landers (Bruce Bennett), inspetor da Companhia de Diligências e marido de Anne. Com a morte de Landers, Anne pode se casar com Wiley, por quem se apaixonara.

Dennis Morgan e Jane Wyman em Cheynne

Dennis Morgan e Jane Wyman em Cheyenne

Mesmo em uma obra menor como esta,  Walsh não perde o senso rítmico, e faz um fome agradável cheio de ação (v.g. boas cavalgadas nas cenas do ataques à diligência, tendo como fundo montanhas rochosas), boas surpresas (v.g. quando Wiley descobre que Ann é mulher de Landers) e humor (v.g. a certa altura, o xerife medroso (Alan Hale) diz para Wiley, quando este o manda ir atrás do bandido: “Eu não quero acabar no céu, estou muito bem aquí em Cheyenne”.

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SANGUE E PRATA / SILVER RIVER / 1948.

Julgando que a batalha de Gettysburg parecia favorável ao Sul, um oficial nortista, Mike McComb (Errol Flynn) queima um milhão de dólares, dos quais ele tinha a guarda, para evitar que o dinheiro caisse nas mãos do inimigo. Quando a batalha é ganha pelo Norte, ele é levado à côrte marcial, degradado, e expulso do exército. Após este julgamente, Mike decide cuidar da sua vida. Ele ganha um cassino no jogo de poquer em Silver City e depois enriquece, tornando-se proprietário das principais minas de prata da região Cobiçando a bela Georgia Moore (Ann Sheridan), esposa de seu sócio, Stanley Moore (Bruce Bennett), Mike consegue fazer com que Stanley seja morto pelos índios. Esta conduta desgosta seu amigo, o advogado John Beck (Thomas Mitchell), que rompe com Mike. Posteriormente, John Beck vem a ser assassinado por um concorrente de Mike e, este, arruinado e abandonado por Georgia, vai à procura do culpado. Ocorre um conflito urbano, que termina com a morte do assassino de Beck. Mike procura trabalho entre os mineiros, a fim de recuperar sua fortuna, e o amor de Georgia.

Cena de Sangue e Prata

Cena de Sangue e Prata

Cena de Sangue e Prata

Cena de Sangue e Prata

Cena de Sangue e Prata

Cena de Sangue e Prata

walsh silver RiverIRodado (com o concurso do fotógrafo Sidney Hickox) em Bronson Park na extremidade sul do Griffith Park in Hollywood, no Sherwyn Summit na Inyo National Forest, e no Calabasas Ranch da Warner, o filme narra um longo episódio da vida de um aventureiro de grande envergadura e moral execrável, cuja ambição pessoal desenfreada chega até ao crime, mostrando depois seu remorso e redenção. Sob a direção lúcida de Walsh, Errol Flynn encarna esse personagem complexo e atraente, expressando perfeitamente toda a sua amargura e desencanto. Após uma abertura com cenas de ação excitantes (utilizando-se tomadas de arquivo de O Nascimento de Uma Nação e O Intrépido General Custer), a narrativa passa por momentos mais estáticos nos quais predominam os diálogos, porém logo retornam os instantes movimentados, que atingem o auge na batalha final nas ruas de uma cidade, reunindo numerosos figurantes.

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GOLPE DE MISERICÓRDIA / COLORADO TERRITORY / 1949.

Wes McQueen (Joel McCrea) foge da prisão graças ao auxílio de um velho amigo, que lhe pede um ultimo serviço: assaltar um trem. Wes executa o plano mas, traído pelos parceiros e perseguido pelo xerife (Morris Ankrum), tem que fugir. Somente uma mestiça, Colorado Carson (Virginia Mayo), lhe oferece ajuda e o seu amor.

Virginia Mayo e Joel McCrea em Golpe de Misericórdia

Virginia Mayo e Joel McCrea em Golpe de Misericórdia

Joel McCrea e Joan Leslie em Golpe de Misericórdia

Henry Hull, Joel  McCrea e Dorothy Malone em Golpe de Misericórdia

Virginia Mayo e Joel McCrea em Golpe de Misericórdia

Virginia Mayo e Joel McCrea em Golpe de Misericórdia

Cena de Golpe de Misericórdia

Cena de Golpe de Misericórdia

Cena de Golpe de Misericórdia

Cena de Golpe de Misericórdia

Virginia Mayo e Joel McCrea em Golpe de Misericórdia

Virginia Mayo e Joel McCrea em Golpe de Misericórdia

Nesta refilmagem e transposição para o western de  Último Refúgio / High Sierra / 1941, Walsh nos proporciona uma história dark, porém intrinsicamente romântica, de amor condenado pelo destino. A ação evolui em um cenário inquietante e fantasmagórico (Cânion da Morte, a Cidade da Lua). O diretor descreve a trajetória de seu personagem em um estilo seco e cortante e os momentos de ação da trama filmados (em Gallup, New Mexico ressaltando-se a contribuição do fotógrafo Sidney Hickox) com um rigor visual e uma economia de meios capazes de satisfazer aos espectadores mais exigentes. No final, a união dos dois amantes assume uma dimensão trágica, quando ambos são mortos diante das gigantescas rochas corroídas pelo sol. O zoom sobre as mãos de Wes conseguindo tocar nas de Colorado, ficou na memória dos fãs de cinema.

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EMBRUTECIDOS PELA VIOLÊNCIA / ALONG THE GREAT DIVIDE / 1951.

Ed Roden foi assassinado. Seu pai, Ned Roden (Morris Ankrum), e seu irmão Dan (James Anderson) querem linchar Pop Keith (Walter Brennan), um velho ladrão de cavalos, acusando-o do crime. Surge o xerife Clint Merrick (Kirk Douglas) que, com seus dois ajudantes, Billy Shean (John Agar) e Lou Gray (Ray Teal), prende Pop, o qual protesta sua inocência. Apesar da hostilidade de Roden e seus companheiros, Merrick conduz Pop e sua filha Anne (Virginia Mayo) através do deserto. Depois de várias vicissitudes, chegam a Santa Loma. Pop é condenado. Mas, no último momento, Merrick descobre o verdadeiro culpado.

Cena de Embrutecidos pela Violência

Cena de Embrutecidos pela Violência

Cena de Embrutecidos pela Violência

Cena de Embrutecidos pela Violência

Cena de Embrutecidos pela Violência

Cena de Embrutecidos pela Violência

Virginia Mayo e Kirk Douglas em Embrutecidos pela Violência

Virginia Mayo e Kirk Douglas em Embrutecidos pela Violência

Cena de Embrutecidos pela Violência

Cena de Embrutecidos pela Violência

Western psicológico de fundo edipiano, com ação bastante concentrada e sempre interessante (emboscadas, tempestade de areia, sol escaldante, falta de água etc.), passada em um cenário deslumbrante. No final, uma nota de humor: o velho larápio exclama, ao saber que sua filha vai se casar com o xerife: “Um homem da lei na família. Isso é assustador! A rodagem em exteriores (Lone Pine, Califórnia), novamente com o apoio do fotógrafo Sidney Hickox, permitiu que o diretor desse ênfase ao panorama, que ele tanto gostava de filmar e, de fato, o ponto alto do filme é a beleza selvagem das paisagens. Ela forma um contraste com a sensibilidade dos três protagonistas principais, que alternadamente se odeiam, se suspeitam, e acabam se amando.

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TAMBORES DISTANTES / DISTANT DRUMS / 1951.

O capitão Quincey Wyatt (Gary Cooper), o tenente Tufts (Richard Webb) e seus homens atacam um forte ocupado por traficantes de armas, que comerciam com os índios Seminoles. Eles explodem o forte e libertam os prisioneiros. Porém, os Seminoles os seguem e o barco que deveria resgatá-los é obrigado a partir sob o fogo dos índios. Wyatt e seus companheiros penetram nos pântanos, sempre seguidos pelos Seminoles.

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D1K953 Die Teufelsbrigade Distant Drums Gary Cooper Captain Quincy Wyatt (Gary Cooper,m) und seine Maenner sollen einen Aufstand der

Cena de Tambores Distantes

Cena de Tambores Distantes

Cena de Tambores Distantes

Cena de Tambores Distantes

Gary Cooper e Mary Aldon em Tambores Distantes

Gary Cooper e Mary Aldon em Tambores Distantes

Cena de Tambores Distantes

Cena de Tambores Distantes

Refilmagem disfarçada de Um Punhado de Bravos / Objective, Burma!, realizado pelo mesmo Walsh em 1945, substituindo a estação de radar pelo forte, os japoneses pelos Seminoles e as selvas da Birmânia pelos Everglades da Flórida. A intriga se reduz a uma longa perseguição, permanentemente emocionante – merece destaque o combate corpo a corpo singular entre o Capitão Wyatt e o chefe Seminole, após o qual os índios, obedecendo às suas tradições, abandonam a luta. A natureza hostil, os ataques constantes dos índios, a inquietude dos soldados, a habilidade serena de Wyatt apesar de seu passado doloroso, compõem o enredo de aventura. O diretor trabalhou mais uma vez com Sidney Hickox que, adicionou ao belo Technicolor uma fotografia submarina impressionante. Tambores Distante foi o primeiro filme a utilizar o que se tornou conhecido como “the Wilhelm Scream” (O Grito Wilhelm), o efeito sonoro de um homem gritando, que passou a ser usado frequentemente a partir de então, para indicar pessoas em perigo, atacadas por forças hostís ou por animais selvagens. No filme ele é ouvido, por exemplo, na cena em que os soldados atravessam o pântano e um deles é mordido e arrastado por um crocodilo. O apelido “Wilhelm Scream” pegou após o filme Investida de Bárbaros / The Charge of the Feather River / 1953, produzido originariamente em 3-D, no qual o mesmo efeito é aplicado, quando um personagem chamado Soldado Wilhelm (Ralph Brooks), dá um grito, ao ser morto por uma flecha.

BANDO DE RENEGADOS / THE LAWLESS BREED / 1952.

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John Wesley Hardin (Rock Hudson), filho de um pastor autoritário (John McIntire), quer partir para a Califórnia com sua noiva Jane (Mary Castle). Em um jogo de pôquer, Hardin mata Gus Henley (Michael Ansara) em legítima defesa. Atacado traiçoeiramente pelos irmãos de Gus, Dirk (Lee Van Cleef), Ike (Hugh O’Brien), e Ben (Glenn Strange), e por um xerife (George Eldredge), Hardin defende-se, matando-os. Jane morre em um tiroteio e Hardin se casa com Rosie (Julia Adams), uma dançarina de saloon que o socorrera. Os Texas Rangers descobrem seu paradeiro e ele é condenado a 25 anos de prisão. Após ter recebido o perdão, Hardin reencontra Rosie e seu filho John, que é aconselhado pelo pai a não usar uma arma quando for ofendido.

Cena de Irmãos Inimigos

Cena de Irmãos Inimigos

Cena de Bando de Renegados

Cena de Bando de Renegados

Rock Hudson e Mary Castle em Bando de Renegados

Rock Hudson e Mary Castle em Bando de Renegados

Julia Adams em Bando de Renegados

Julia Adams em Bando de Renegados

O filme limpa milagrosamente a vida do assassino racista que matou mais de quarenta pessoas, notadamente negros, “sem falar nos mexicanos e índios”. Hardin é apresentado como vítima do destino e da incompreensão de um pai intransigente e violento e os episódios dramáticos de sua existência são contados em um retrospecto, no estilo bem animado característico do diretor. Rodado (com a colaboração do fotógrafo Irving Glassberg) em Newhall, Thousand Oaks e Agua Dulce na Califórnia, o filme apresenta duas cenas brilhantes: um tiroteio em uma rua varrida pela ventania, logo após a passagem de um carro fúnebre e uma curta corrida de cavalos, mas soberbamente filmada.

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IRMÃOS INIMIGOS / GUN FURY / 1953.

O ex-confederado Ben Warren (Rock Hudson) vai com sua noiva Jennifer Ballard (Donna Reed) para a Califórnia. Eles viajam na companhia de Frank Slayton (Phil Carey) e Jess Burger (Leo Gordon), que também lutam pelo Sul na Guerra de Secessão. Frank, Jess e o bando deles assaltam a diligência, atiram em Ben e fogem levando Jennifer. Mas Ben não morre e sai no encalço dos fugitivos.

Cena de Irmãos Inimigos

Cena de Irmãos Inimigos

Cena de Irmãos Inimigos

Cena de Irmãos Inimigos

Donna Reed e Phil Carey em Irmãos Inimigos

Donna Reed e Phil Carey em Irmãos Inimigos

Rock Hudson e Donna Reed em  Irmãos Inimigos

Rock Hudson e Donna Reed em Irmãos Inimigo

Cena de Irmãos inimigos

Cena de Irmãos inimigos

Frank e Ben reagem de maneira diferente ao traumatismo causado pela guerra. Ben pensa em levar uma vida tranquila em um rancho ao lado da futura esposa. Frank torna-se ladrão porque agora no Sul “só existem, viúvas, aleijados e ladrões” e ele não é “nem uma viúva nem um aleijado”. Walsh é desses diretores sem pretensões intelectuais, possuindo um senso de aventura encarada sob o ângulo dinâmico, quer dizer, da ação pura. Encontramos no espetáculo: uma jovem sequestrada e um rapaz justiceiro; um bandido sanguinário e outro de boa índole; um índio decidido a vingar sua irmã; uma mestiça ciumenta; muitas cavalgadas e tiroteios, e uma bela paisagem colorida de poeira vermelha (filmada por Lester H. White em Sodoma, Arizona, originariamente em 3-D).

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SASKATCHEWAN / PACTO DE HONRA / 1954.

No Canadá, um oficial da Polícia Montada, Thomas O’Rourke (Alan Ladd), retornando de uma caçada, encontra a jovem Grace Markey (Shelley Winters) sobrevivente de um ataque dos índios da tribo Cree e a leva para o seu acampamento. Um novo comandante, Benton (Robert Douglas), que confiscara as armas dos Crees, censura a amizade de Tom pelos indígenas. Os Sioux, dos Estados Unidos, vêm para o Canadá com a finalidade de se aliar com os Crees contra a Polícia Montada. O destacamento dos “mounties” se põe em movimento, levando Grace que o delegado Carl Smith (Hugh O’Brian) acusa de assassinato. Encurralado pelos índios, Tom decide ir mais adiante, contrariando as ordens de seu superior e entregando as armas aos Crees. Estes, não tendo mais necessidade dos Sioux, se voltam contra eles e salvam os policiais.Tom escapa da côrte marcial por insubordinação e pode fazer planos para o futuro ao lado de Grace, cuja inocência foi reconhecida.

Cena de Pacto de Honra

Cena de Pacto de Honra

Cena de Pacto de Honra

Cena de Pacto de Honra

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Cena de Pacto de Honra

Cena de Pacto de Honra

A excelente fotografia em cores do veterano John F. Seitz realça os exteriores majestosos (o filme foi rodado em Vancouver e no Banff National Park) e os uniformes vermelhos dos soldados da Policia Montada, sem dúvida muito fotogênicos. Com a habilidade de sempre, Walsh utiliza muito bem uma importante figuração de cavaleiros e índios em combates espetaculares e providencia outros incidentes de ação intensa como explosões, lutas corpo a corpo, fugas em canoas, etc., movimentando a trama. Esta é caraterizada por inversões: O’Rourke transformado em comandante de fato da tropa, os Cree tornando-se os seus salvadores, para mencionar apenas os exemplos mais proeminentes.

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NAS GARRAS DA AMBIÇÃO / THE TALL MEN / 1955.

Dois irmãos, Ben (Clark Gable) e Clint Allison (Cameron Mitchell), chegam ao Texas sem dinheiro e sequestram um homem de negócios, Nathan Stark (Robert Ryan). Stark os convence de que podem ganhar muito mais se o ajudarem a levar um rebanho de gado até Montana. No caminho, Ben socorre Nella Turner (Jane Russell), única sobrevivente de um ataque de índios, e ela se junta ao comboio, exacerbando as rivalidades entre os três homens. Após vários incidentes, em um dos quais Clint morre, Ben tem um último confronto com Stark e Nella escolhe com quem quer passar o resto de sua vida. Stark oferece a Nella posição e riqueza (ele tem a pretensão de se tornar o dono de Montana) enquanto Ben “pensa pequeno”, oferecendo-lhe somente seu amor e um lar. O filme é construído sobre este contraste entre dois tipos de personalidade: o capitalista, que necessita sempre de um novo desafio, e o homem menos ambicioso, que não precisa ficar testando a si mesmo continuamente. Filmando em Durango, México (com o fotógrafo Leo Tover providenciando belas imagens em De Luxe Color e CinemaScope do céu azul e das montanhas cobertas de neve), Walsh conduz o espetáculo com desenvoltura e forja algumas sequências empolgantes (v.g. a resistência dos mexicanos aos jayhawkwers); porém o lado romântico retarda o andamento da narrativa.

Jane Russell e Clark Gable em Nas Garras da Ambição

Jane Russell e Clark Gable em Nas Garras da Ambição

Cena de Nas Garras da Ambição

Cena de Nas Garras da Ambição

Robert Ryan e Clark Gable em Nas Garras da Ambição

Robert Ryan e Clark Gable em Nas Garras da Ambição

Cena de Nas Garras da Ambicão

Cena de Nas Garras da Ambicão

Cameron Mitchell e Clark Gable em Nas Garras da Ambição

Cameron Mitchell e Clark Gable em Nas Garras da Ambição

UM CLARIM AO LONGE / A DISTANT TRUMPET / 1964.

Em 1862, perto da fronteira mexicana, o tenente Matt Hazard (Troy Donahue) chega a um forte isolado em pleno deserto, constantemente sob ameaça dos Apaches Chiricaua. Horrorizado pela disciplina frouxa de sua tropa, ele restringe os privilégios dos soldados e os submete a exercícios árduos. Ao mesmo tempo, Matt se apaixona instantaneamente por Kitty Mainwaring (Suzanne Pleshette), a esposa do comandante do forte, e é correspondido, mas o romance se complica, quando Laura (Diane McBain), a noiva que deixara no Leste, resolve visitá-lo. Depois de lançar um ataque violento contra os índios, o velho comandante, General Quait (James Hregory), incumbe Matt de convencer o chefe do indígenas a aceitar a paz e se reassentar em uma reserva no Arizona. Matt cumpre sua tarefa, rompe o noivado, e fica com Kitty, depois que o marido dela foi convenientemente morto pelos apaches.

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Com filmagem de exteriores em Flagstaff, Arizona e Gallup, New Mexico, o espetáculo beneficia-se antes de mais nada da esplêndida fotografia de William Clothier e da música estridente de Max Steiner, além é, claro da competência com a qual o diretor encena algumas sequências de ação vigorosas. Para dar maior realismo à história, Walsh colocou atores Navajos nos papéis de Apaches e não sentimentalizou os índios, servindo como exemplo estas duas cenas: o comandante Mainwaring estrangulado e amarrado a uma carroça queimada na qual seus homens foram “torrados”; o soldado e a mexicana fugitivos enterrados até o pescoço, para que as formigas comessem seus cérebros.

Cena de Um Clarim ao Longe

Cena de Um Clarim ao Longe

Cena de Um Clarim ao Longe

Cena de Um Clarim ao Longe

Cena de Um Clarim ao Longe

Cena de Um Clarim ao Longe

 

 

Cena de Um Clarim Distante

Cena de Um Clarim ao Longe

Cena de Um Clarim ao Longe

Cena de Um Clarim ao Longe

Cena de Um Clarim ao Longe

Cena de Um Clarim ao Longe

BEATRIZ COSTA

Ela foi a vedete mais popular do teatro de revista de dois países. Admirada pelas platéias tanto de Portugal como do Brasil, esta atriz de pequena estatura física, mas com uma vivacidade encantadora e uma capacidade de se comunicar com o público realmente notável, também deixou a marca de sua personalidade na tela, recebendo o título de “a princesa do cinema português”.

Beatriz Costa

Beatriz Costa

Beatriz da Conceição Costa nasceu na Charneca do Milharado, aldeia perto de Mafra, em 14 de dezembro de 1907. O pai era moleiro e, com a pequena Beatriz de apenas quatro anos de idade e outros dois irmãos mais novos deixados para trás, a mãe rumou para Lisboa em busca de uma vida melhor. A progenitora de Beatriz trabalhou na casa do pintor José Malhoa e depois passou a costurar no Casão. Após sua união com um official subalterno do Exército, foi morar com a filha em Tomar, onde ele estava servindo, alí permanecendo durante seis anos. Em 1917, regressam todos a Lisboa, morando na zona do Castelo. Ainda menina, Beatriz trabalhou em casa como ajuntadeira, cosendo peças de calçado, e depois optou pela profissão de bordadeira. Em 1921, então com 13 anos de idade, aprendeu finalmente a ler sem mestres, “por intuição”, como diria mais tarde.

Beatriz costa em uma revista

Beatriz costa em uma revista no Teatro Vitória

Aos quinze anos, por intermédio do padrasto, a jovem começou a trabalhar como corista na revista “Chá e Torradas” (1923) no Teatro Eden e depois participou de “Rés Vés” no Teatro Maria Vitória. Em 1924, partiu para o Brasil com a Companhia Portuguêsa de Revistas do Teatro Eden, a empresa teatral de José Loureiro. No percurso de navio para o Rio de Janeiro, Beatriz Costa substituiu eventualmente, em um dos espetáculo que fizeram a bordo, a estrela Lina Demoel, que se achava gripada, convencendo o diretor artístico Antonio de Macedo de suas possibilidades artísticas.

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A Companhia estreou no Teatro República com “Fado Corrido” em 7 de agosto de 1924, tendo como figuras principais, Lina Demoel, Zulmira Miranda, Carmen Martins, Aurora Aboim, Julieta D’Almeida, Maria Amélia, Beatriz Costa, Carmen Pereira, Alvaro Pereira, Jorge Gentil, Joaquim Roda, Adolpho Sampaio, Manoel Rocha e Pedro Gamboa. Alguns números de Beatriz Costa como Gaby, Boneca, e principalmente a sua interpretação da canção picante Mademoiselle Garoto, despertaram aplausos calorosos.

Na revista seguinte da Companhia, “Tiro ao Alvo”, Beatriz Costa foi mencionada por um comentarista teatral da época como uma atriz que “alia a uma mocidade cheia de vida uma sedução que é irresístivel”. E nos espetáculos seguintes da Companhia, “Chá com Torradas”, “Piparote”, “Aqui D’el Rey”, “Tic Tac”, ”Rez Vez”, “De Capote e Lenço”, “O Gato Preto”, “Tim Tim por Tim Tim, “A Ilha das Virgens”, “Rataplan” e a opereta “O Fado (com a participação do tenor Almeida Cruz), a graciosa artista foi conquistando os espectadores brasileiros, tornando-se, como disse a imprensa, “o enfant-gaté do público do República”.

Beatriz Costa

Beatriz Costa

Conforme informação de Jorge Leitão Ramos no seu Dicionário do Cinema Português 1895-1961 (Editorial Caminho, 2011), em 1925, de volta a Lisboa, Beatriz Costa aparece na revista “Ditosa Pátria” no Teatro Trindade e em algumas operetas e zarzuelas (“A Canção do Olvido”, “A Montaria”, “Os Gaviões”, “Flor do Tojo”. E, já em 1926, “A Moça das Campanilhas”, “A Alsaciana” e “O Pobre Valbuena”, sempre no Teatro São Luiz); porém é na revista que melhor brilha: “Fox-Trot” (Teatro Joaquim de Almeida), “Olarila” (Teatro Maria Vitória). Em 1927, ela faz “Revista de Lisboa” (Salão Foz) e, sobretudo, “Sete e Meio” (Teatro Apolo), onde aparece pela primeira vez com a franjinha “a la Louise Brooks” (ou “pastinha colada” como alguns a descreviam), que foi durante muito tempo uma imagem marcante da atriz.

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Em 1928, Beatriz Costa aceita um pequeno papel (a cliente de um cabaré) no filme mudo de Rino Lupo, O Diabo em Lisboa, nunca exibido comercialmente. Produzido por Artur da Costa Macedo, não foi completado, porque faltou dinheiro para concluir a filmagem. No mesmo ano, ela faz outra breve intervenção (como uma cantora) em outro filme silencioso de Rino Lupo, Fátima Milagrosa, que segundo o autor do Dicionário do Cinema Português era um melodrama, onde a religiosidade vencia os males do mundo, físicos e morais, que valia apenas pelas sequências documentais de Fátima.

Em abril de 1928, Beatriz Costa está novamente no Teatro Apolo na revista “Água Fresca”. Na temporada 1928-1929, trabalha na Companhia de Eva Stachino, e vai crescendo: “Coração Português”; “Mãe Eva”; “Carapinhada” (no Teatro de Variedades); “Pó de Maio” (no Teatro Trindade) – onde tem um célebre dueto com Alvaro Pereira, Dona Chica e Sr. Pires.

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Em 1929, na sua segunda temporada pelo Brasil, com a Companhia Eva Stacchino, Beatriz Costa é muito bem recebida no Rio de Janeiro e em São Paulo. No Rio, a Companhia estréia no Teatro Lyrico com a peça “Pó de Maio” em cujo elenco estavam, a própria Eva Stachino em primeiro plano e Aldina de Souza, Adelina Fernandes, Beatriz Costa, Fernanda Coimbra, Luiza Durão, Maria Odette, Maria Amelia, Emma Maria, Vasco Santana, Salles Ribeiro, Augusto Costa (Costinha), Santos Carvalho, Mario Fernandes, Raul Sargadas, os bailarinos Mora e Falkoff, a bailarina Rosita de Hespanha, 10 girls alemãs e 16 coristas-bailarinas portuguêsas. Beatriz Costa repete, desta vez com Augusto Costa, o quadro Dona Chica e Sr. Pires, sempre ovacionado.

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Na continuação de sua passagem pelo nosso país, a Companhia Eva Stacchino ofereceu ainda as revistas “Lua de Mel”; “Meia-Noite”; “Eva no Paraíso”; “Carapinhada”; a opereta “Mouraria”; “Ouro de Lei” e, neste período, em benefício da Casa dos Artistas, organizou-se um espetáculo intitulado “Retalhos” com a participação de grandes artistas de várias companhias como, por exemplo, Palmerim Silva no quadro Elas se Fazem, Eva Stacchino e Aracy Cortes no quadro Misturas, Mesquitinha no quadro Eu Fico com o Cavaignac, Jaime Costa e outros no quadro Sonho e Realidade, Margarida Max e outros no quadro Dona Bôa etc., cabendo a Beatriz Costa e Fernanda Coimbra repetirem o quadro Farrusca e Branquinha, que haviam interpretado na revista “Pó de Maio”. O Farrusca de Beatriz foi, tanto na revista quanto nessa apresentação beneficente, aplaudidíssimo.

Em 1930, Beatriz Costa participou de mais um filme mudo, Lisboa, Crônica Anedótica / 1930, de Leitão de Barros e foi a Paris filmar Minha Noite de Núpcias / 1931, versão portuguêsa de Her Wedding Night /1930 (filme americano com Clara Bow e Ralph Forbes), dirigida por E.W. Emo no estúdio da Paramount em St. Maurice, com o nosso grande ator Leopoldo Froes, Alvaro Reis, Estevão Amarante, Maria Emilia Rodrigues e Maria Sampaio compondo com Beatriz o quinteto principal da história.

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Beatriz Costa e Chaby Pinheiro em Lisboa

Beatriz Costa e Chaby Pinheiro em Lisboa, Crônica Anedótica

O primeiro filme é um documentário sobre a vida da cidade, “pontuado por momentos ficcionais a sublinhar facetas pícaras ou dramáticas” (JLR), interpretadas por alguns dos maiores atores portugueses da época como Chaby Pinheiro, Alves da Cunha, Estevão Amarante, Nascimento Fernandes, Vasco Santana e Beatriz Costa entre outros. Chaby Pinheiro é um vendedor de ferro velho na Feira da Ladra e uma das compradoras de suas quinquilharias é Beatriz Costa, moça recém-casada desejosa de encontrar um talismã, que lhe traga, no matrimônio, a eterna felicidade.

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Beatriz Costa e Leopoldo Froes em Minha Noite de Núpcias

Beatriz Costa e Leopoldo Froes em Minha Noite de Núpcias

O segundo filme, do qual não se encontrou até agora nenhuma cópia, apresenta um enredo do gênero vaudeville, abordando as aventuras de um compositor de canções populares, Claudio Mallet (Alvaro Reis) que, para fugir do assédio de suas admiradoras, deixa em seu lugar um amigo, Raul Laforte (Estevão Amarante). Este conhece uma estrela de cinema, Gilberta Landry (Beatriz Costa), casa-se com ela por engano, e surgem muitas complicações, envolvendo ainda o amigo de Claudio, João Pestana (Leopoldo Froes), a noiva de Claudio, Julieta (Maria Emilia Rodigues) e Melusina (Maria Sampaio), uma jovem apaixonada pelo compositor e muito ciumenta.

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Beatriz Costa e Vasco Santana em A Canção de Lisboa

Beatriz Costa e Vasco Santana em A Canção de Lisboa

Em 1932, sai o curta-metragem de Artur Costa de Macedo, Beatriz Costa, Memorialista e, no ano seguinte, é a vez de Beatriz Costa triunfar no primeiro filme sonoro integralmente rodado em Portugal, A Canção de Lisboa / 1933, realizado por Cottinelli Telmo e com um elenco onde se destacavam também Vasco Santana e Antonio Silva. Na sinopse, Vasco Leitão, o Vasquinho (Vasco Santana), estudante de medicina por conta de umas tias ricas de Trás-os-Montes (Teresa Gomes, Sofia Santos) é um boêmio que não quer nada com os livros. Ele namora Alice (Beatriz Costa), filha do alfaiate Caetano (Antonio Silva), que não vê com bons olhos tal relação. Tudo se complica quando as tias, julgando o sobrinho já doutor, resolvem vir à Lisboa visitá-lo, e ver como bem aplicaram seu dinheiro.

Beatriz Costa e Antonio Silva em A Canção de Lisboa

Beatriz Costa e Antonio Silva em A Canção de Lisboa

Clássico do cinema falado português, esta comédia musical transmite uma alegria contagiante, sendo ainda beneficiadas por canções deliciosas (de Raul Ferrão e Raul Portela) como, por exemplo, o fado “A Agulha e o Dedal” e a valsa “Castelos no Ar”, interpretadas por Beatriz Costa; o fado “O Balãozinho”, cantada em dueto por Vasco Santana e Beatriz acompanhados por um côro; o fado “Estudante“ com Vasco sozinho. A cena da eleição de Miss Castelinho é digna de figurar em qualquer antologia que se faça do cinema português. Na cena final, o Vasquinho, referindo-se às dificuldades de ser médico e de curar, cantava: “morrer por morrer / que seja a rir!”, versos que refletem bem o tom de todo o filme.

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Nesse início dos anos trinta, como informa JLR, Beatriz Costa se instala no trono de rainha do teatro de revista, gênero que vai dominar com o seu talento e irreverência durante uma década. Revistas principais: 1930 – “A Bola” (Teatro Avenida); “O Cavaquinho” ; “O Pato Marreco” (Teatro Variedades); 1931 – “O Tareco”; “Verde Gaio”; “O Canto da Cigarra”; “O Mexilhão” (Teatro Variedades) quando Beatriz Costa faz toda Lisboa cantar “quem é, quem é que me compra o burrié”. 1932 – “Pim! Pam! Pum!” (Teatro Maria Vitória); ”Pirilau”; “Chá de Parreira” (Teatro Variedades). 1933 – “Fogo de Vistas; “A Freira da Alegria (Teatro Avenida). 1934 – “Azes e Cenas” (Teatro Politeama); “Santo Antonio” (Teatro Avenida); “Lua Cheia” (Teatro Trindade). 1935 – “Bola de Neve”; “O Rapa” (Teatro Trindade). 1936 – “Há Festa na Mouraria” (Teatro Apolo); “Arre, Burro!” (Teatro Variedades). 1937 – “Água Vai!” (Teatro Trindade); “O Liró” (Teatro Variedades).

Em 1936, Beatriz Costa foi a estrela do filme O Trevo de Quatro Folhas de Chianca de Garcia, contracenando com Nascimento Fernandes e o renomado ator brasileiro Procópio Ferreira. Segundo Luís de Pina (História do Cinema Português, Pulicações Europa-América, 1986) esse filme perdido era uma espécie de comédia sofisticada na tradição americana, muito apoiada no estúdio e no princípio da dupla identidade, com um roteiro recheado de surpresas e peripécias com várias situações ligadas ao mundo do palco.

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Beatriz Costa e Nascimento Fernandes em O Trevo de Quatro Folhas

Beatriz Costa e Nascimento Fernandes em O Trevo de Quatro Folhas

Procópio Ferreira e Beatriz Costa em O Trevo de Quatro Folhas

Procópio Ferreira e Beatriz Costa em O Trevo de Quatro Folhas

Segundo Pina, o espetáculo teve um certo êxito em Portugal, talvez um pouco mais no Brasil, dada a presença de Procópio Ferreira (Juca, filho de um milionário brasileiro) no elenco ao lado de Beatriz Costa em um papel duplo (Manuela, caixeirinha do quiosque Trevo de Quatro Folhas / Rosita, uma aventureira guatemalteca) e de Nascimento Fernandes em um papel múltiplo, pois interpreta um tal Zé Maria, empregado de uma fábrica de sabonetes, que se parece com toda a gente, pelo que tem de interpretar as mais diversas personagens, incluindo o goleiro de um time de futebol.

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Em 1937, contratada pelo empresário José Loureiro, Beatriz Costa faz outra tournée ao Brasil que, segundo diria mais tarde, “foi o degrau para a minha independência”. No Rio de Janeiro, ela se apresenta no Teatro República sucessivamente nas revistas: “Arre, Burro!” , um de seus maiores êxitos, no qual cantava: “Vem Cá Mê Estapor / Tu Tens Mais Valor / Que Munto Senhor Casmurro / Ê, Digo-te Aqui / Cá, Homes Prà’i / Mas Bestas Cà Ti / Mê Burro”. Em determinada noite, a atriz perdeu os sentidos e caiu do gerico que montava, causando ligeiro reboliço no teatro, mas depois de atendida no seu camarim pelo médico de uma ambulância, voltou à cena, prosseguindo o espetáculo; noutro dia, o burro estrilou e atirou as patas trazeiras contra a artista; porém ela se livrou a tempo do coice. Outro número da “garota azougue” que agradou em cheio, foi Pombo Correio, no qual ela abre a correspondência que traz e lê várias cartas endereçadas a personalidades de destaque no Rio de Janeiro; “Estrelas de Portugual”; “O Liró”; “O Santo Antonio”; “Sardinha Assada”; e “Água, Vae…”.

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Em 1939, Beatriz Costa volta para Portugal, onde interpreta o papel principal no filme  Aldeia da Roupa Branca, obra-prima de Chianca de Garcia com inspiração ao mesmo tempo lubitscheana na movimentação da câmera (no início com as roupas penduradas no varal, as lavadeiras batendo a roupa no rio e acompanhando em coro a cantiga de Beatriz, “Ai não te queixes que o sabão não mata / Ai até lava os peixes / Ai põe-nos cor de prata”) e eisensteiniana na montagem (a corrida das carroças puxadas cada uma por três cavalos; a sequência da festa popular com o conflito entre as bandas e a confusão geral) servindo-se, como disse Luís de Pina, “de uma Beatriz Costa inspirada pelos ares de sua terra, a região saloia ao norte de Lisboa, e atuando em estado de graça”.

Beatriz Costa em Aldeia da Roupa Branca

Beatriz Costa em Aldeia da Roupa Branca

Beatriz Costa em A Aldeia da Roupa Branca

Beatriz Costa em A Aldeia da Roupa Branca

Beatriz Costa em A Canção de Lisboa

Beatriz Costa em  Aldeia da Roupa Branca

Relembrando em síntese a história dessa realização magnífica, em uma pequena aldeia da região saloia, arredores de Lisboa, duas famílias defrontam-se no mercado de lavadeiras que, pelos anos trinta, ainda subiam a Calçada de Carriche em carroças puxadas a muares, trazendo e levando trouxas de roupa dos burgueses da cidade. De um lado o tio Jacinto (Manuel Santos Carvalho) e sua afilhada Gracinda (Beatriz Costa), do outro, a viúva Quitéria (Elvira Velez) e o filho Luís (Óscar de Lemos) – duas “empresas” em desbragada concorrência, onde não faltará o confronto entre o Antigo e o Novo – no final, Gracinda e seu amado Chico (José Amaro), filho do tio Jacinto, usam um caminhão para o transporte das trouxas de roupa.

Beatriz Costa e Chianca de Garcia

Beatriz Costa e Chianca de Garcia

Cena de Aldeia da Roupa Branc

Cena de Aldeia da Roupa Branc

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Em seguida Beatriz Costa retorna ao Brasil, onde permanecerá por dez anos – os melhores anos de sua vida, lembraria ela no futuro. Contratada por José Loureiro, ela estréia no Teatro República com “Eh, Real”, seguindo-se “Ó Meu Rico São João”; “Sempre em Pé”; “Dansa da Luta”; “Pega-me ao Colo” e, depois de uma temporada em São Paulo no Cassino Antártica, “Rua da Paz”; “O Rosmaninho”; e uma “Revista das Revistas”, síntese de todos os espetáculos realizados pela Companhia naquela temporada.

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Em 1940, Beatriz Costa estava no Teatro República com a opereta “O Pardal de São Bento; participou com outros artistas de atos variados na 2a parte da revista “Guela de Pato”, encenada no Teatro Recreio com Aracy Cortes e Oscarito; e, ajudada por Carmen Miranda, passou a se apresentar no grill da Urca ao lado das bailarinas excêntricas The Three Sophisticated Ladies e do conjunto instrumental de Borrah Minevitch, integrando a temporada Jean Sablon. Novamente na Urca, seus parceiros foram o tenor mexicano Pedro Vargas, Alvarenga e Ranchinho, os bailarinos cubanos Stella e Papo, Heloisa Helena, o acrobata Novello, e as Deighton Girls.

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Outras aparições de Beatriz Costa ocorreram no palco de alguns cinemas (Colonial, Olinda, Mascote) em shows complementando a projeção de um filme de longa-metragem, destacando-se o show da inauguração do Cinema Colonial durante a exibição do filme O Patriota / Le Patriote / 1938 com Harry Baur quando, ao lado da portuguesinha brejeira, apresentavam-se Os Anjos do Inferno, Jararaca e Ratinho, Jorge Murad, e a cantora Jurema Magalhães.

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Após participar no Cine Colonial de um show Luso-Brasileiro com Jararaca e Ratinho, Príncipe Maluco, Augusto Calheiros, Armando Nascimento, Violeta Cavalcante, Benedito Chaves, Aurea Brasil e Dolores Bragança, Beatriz Costa comandou no grill do cassino o espetáculo “Carnaval na Urca” acompanhada por Grande Otelo (no dueto cômico Nega do Cabelo Duro), Linda Batista, Virginia Lane e os Whitey Cangeroo Dancers. Antes de iniciar a sua longa colaboração com Oscarito no Teatro República, Beatriz Costa fez mais um show, “Uma Noite na Urca”, com Grande Otelo, Linda Batista, Silvino Neto e Ray Ventura e sua orquestra, que foi repetido no Teatro João Caetano como complemento da opereta “Miss Diabo” (estrelada por Norma Geraldy) em um espetáculo organizado em benefício das famílias dos brasileiros mortos pelos torpedos alemães.

Oscarito, Beatriz Costa e Margot Louro

Oscarito, Beatriz Costa e Margot Louro

Em 18 de junho de 1942, formando companhia com Oscarito, e tendo ainda como companheiros Walter D’Avila, Margot Louro, Zé do Bambo, Tulio Berti, a sambista Carmen Costa, os cantores portuguêses Joaquim Pimentel e Maria Guerreiro, Isabelita Ruiz, Rosita Rocha, Elisabete Mess, Jane Dupon e América Cabral, Beatriz Costa inaugurou no Teatro República com “Ofensiva da Primavera”, uma série de revistas da qual faziam parte: “Aguenta o Leme” (com o reforço de Evilásio Marçal, Raquel Martins, Darius del Valle, João de Deus e Geny de Oliveira), “Tripas a Moda do Porto” (com o acréscimo de Zaira Cavalcanti e Armando Nascimento), “Da Guitarra ao Violão”, Vitória à Vista” (com a nova contratada Jurema Magalhães).

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Captura de Tela 2015-06-28 às 17.58.14Depois de uma temporada no Cassino Antártica em São Paulo, a companhia voltou desta vez para o Teatro João Caetano com a revista “Defesa da Borracha”, com Iracema Correia, Spina, Leonor Barreto, Henrique Delff, o violonista Gonçalves Dias e a bailarina Floripes Rodrigues, além do elenco básico, e Oscarito brilhando como Carmelita Mirandela. Seguiram-se: “Ouro de Lei”; “A Garota de Além-Mar”; “Momo nas Cabeceiras”; a opereta Mouraria; “Fogo na Canjica”, homenagem a Getúlio Vargas na qual Oscarito e Beatriz Costa parodiavam a peça de Dulcina “Cesar e Cleópatra; “A Velha da Gaita”; “As Lavadeiras”; “Toca Pró Pau”, com o concurso adicional de Violeta Ferraz, Paulo Celestino, Otacílio Alencar, Joana D’Arc, Lily Norman, Beatriz Costa como Mme. Chiang-Kai-Chek, e Oscarito dançando um tango com Walter D’Avila; “A Cobra Está Fumando”, um grito de Carnaval com enredo girando em torno da endiabrada Cecilia (Beatriz Costa) e do velho Aparício (Oscarito), que se mete em muitas complicacões, a fim de passar os três dias de Momo longe de sua mulher gorducha e rabugenta (Violeta Ferraz).

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Em 1947, Beatriz Costa casa-se no México com o artista plástico Edmundo Gregorian. Durante dois anos o casal viaja pelas principais cidades da Europa e da orla do Mediterrâneo. Quando Beatriz Costa retorna a Lisboa no final de 1949, vem solitária (“Amo a Liberdade”, ela concluirá) e, em 9 de dezembro deste ano, volta a pisar o palco para uma revista feita para saudar o seu regresso, até no título:”Ela Aí Está”.

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O sucesso lhe sorrí, o público não a esquecera, mas ela prefere voltar para o Brasil, onde foi vista em 1950, no novo Teatro Carlos Gomes, nas revistas “Mão Boba”, com Colé, Salomé, Rafael Garcia e suas bailarinas, Spina, Jurema Magalhães, Celeste Aída, Ze Coió, Zilka Salaberry, Virginia de Noronha, Francisco Dantas, Vanete, Renato Restier, João Elizio, as bailarinas Inez Helmkampf, Nelida Galvan, Nely Lujan, Las Chicas de Mar del Plata, As Garotas de Copacabana e o Balé Negro. Um dos quadros nos quais Beatriz Costa aparecia, intitulado Não Vale Chorar, visava desmoralizar a idéia fixa de meio-luto-nacional pela perda da Copa do Mundo de 1950; “Mulheres de Fogo” com Colé, Linda Batista, Spina, Celeste Aida, Vicente Marchelli, Lidia Bastiane, Perpétuo Silva, Zilka Salaberry, Roberto Mauro, Marilú Dantas, Helio Chaves, Rafael Garcia e suas lindas garotas carnavalescas; e “Rabo de Peixe” com Colé, Linda Batista, Spina, Salomé, Rafael Garcia e seu 30 Brotinhos, Yolita Mendez, Irmãs Parisi. O anúncio desta última revista dizia: “A Revista onde o nú é obra de arte!”.

Beatriz Costa em uma de suas visitas ao MAM

Beatriz Costa em uma de suas visitas ao MAM

Como autodidata, Beatriz Costa começou a adquirir cultura convivendo em Portugal com grandes figuras da literatura como Aquilino Ribeiro, Almada Negreiros, Miguel Torga, Ferreira de Castro, Vitório Nemésio etc. e, no Brasil, encontramos nos jornais muitas notícias e fotos dela visitando exposições de arte plástica ou de arquitetura no MAM (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro) bem como do seu relacionamento como o mundo intelectual brasileiro.

Beatriz Costa reaparece em Lisboa em 1956 com “O Reboliço” no Teatro Maria Vitória e, nos anos seguintes, ao rí tmo pausado de uma revista por temporada, vai descobrir que os tempos tinham passado e a magia dos anos trinta estava longe. “Toca a Música” (1957), “Com Jeito Vai (1958), “Champanhe Saloio” (1959) e “Está Bonita a Brincadeira!” (1960) encerram sua carreira teatral.

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Em 1967 Beatriz Costa instalou-se definitivamente em Lisboa – no hotel Tivoli – embora nunca tivesse deixado de viajar. Em 1975, estimulada por Jorge Amado (de cuja filha única, Paloma, era madrinha), publicou um primeiro livro de memórias, Sem Papas na Língua e, com um êxito tão grande, reincidiu – Quando os Vascos Eram Santanas…e não só (1977), Mulher Sem Fronteiras (1981), Nos Cornos da Vida (1984), Eles e Eu (1990), sempre em edições da Europa-América. Respondendo a perguntas sobre sua carreira, ela costumava dizer modestamente: “Só sabia rir e até hoje é o que faço melhor”. Beatriz Costa faleceu em Lisboa no quarto 600 do hotel Tivoli, em 15 de abril de 1996. Morreu serenamente durante o sono.