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CANTORAS DE ÓPERA NO CINEMA AMERICANO – I

Muito antes do advento do cinema falado, vários pioneiros usaram árias de óperas como base de suas experiências com sistemas de som. Outros realizadores decidiram aproveitar enredos de óperas nos seus filmes ou transformar cantores deste gênero musical em astros de cinema.

Neste artigo, apresento, por ordem alfabética, bio-filmografias resumidas das principais cantoras de ópera que trabalharam no cinema mudo americano.

Anna Case

ANNA CASE (1888-1984). Local de nascimento: Clinton, New Jersey, EUA. Filha de um ferreiro, aos 15 anos de idade Anna regia o côro e tocava piano em uma Igreja Protestante na sua comunidade, sem nunca ter tido lições de música. Ela começou a estudar com um professor local que, percebendo seu grande potencial como cantora, indicou-a para outro mestre em Nova York. Referida sempre como “A Cantora Favorita de Edison”, Anna estreou no Metropolitan Opera House em 1909, permanecendo na companhia até 1919, tendo sido Aida e Carmen considerados como seus melhores papéis. Em 1913, interpretou Sophie de Faninal na primeira apresentação no Met da ópera Der Rosenkavalier de Richard Strauss Ela começou a gravar em cilindros de cera para o grande inventor Thomas Alva Edison “Believe Me, If All Those Endearing Young Charms” e dois outros números, antes de gravar 98 Diamond Discs para a Edison Records. Anna aparecia frequentemente no palco demonstrando os “Tone Tests” de Edison, quando as luzes eram apagadas e a platéia tinha que adivinhar quando a cantora parava de cantar e o fonógrafo começava a tocar. Ela gravou somente um disco para a Victor e, depois de realizar um trabalho para o sistema Vitaphone, se transferiu para a Columbia, onde gravou 41 discos entre 1928 e 1930. Anna Case fez somente um filme, The Hidden Truth / 1919 (também conhecido como The Golden Hope), dirigido por Julius Steger e distribuído pela Select Pictures Corp.

Lina Cavalieri

LINA CAVALIERI (1874-1944). Nome verdadeiro: Natalina Cavalieri. Local de nascimento: Viterbo, Itália. Orfã aos 15 anos, Lina foi enviada para um orfanato católico, mas fugiu, juntando-se a um grupo teatral ambulante. Possuidora de uma bela voz, a jovem foi para Paris onde cantou em cafés e até no Folies Bergères. Desenvolvendo sua aptidão para o canto, de acordo com algumas fontes, ela estreou no palco aos 26 anos de idade, interpretando Mimi em La Bohème de Giacomo Puccini no teatro San Carlo em Nápoles; segundo outras fontes, o seu debute foi em Lisboa, no papel de Nedda em Pagliacci. De Ruggero Leoncavallo. O que é certo é que, depois de se divorciar de seu primeiro marido, o príncipe russo Sergei Bariatonsky, ela chegou aos Estados Unidos em 1906, para cantar no Metropolitan Opera House ao lado de Enrico Caruso, em Fedora de Umberto Giordano; no Met, a bela soprano cantou também nas óperas Manon Lescaut de Puccini e Adriana Lecouvreur de Francesco Cilea. Em 1913, Lina casou-se com o tenor francês Lucien Muratore (depois de ter terminado seu matrimônio de curta duração com Robert Winthrop Chanler, membro da família Astor de Nova York). Sua carreira estava virtualmente acabada porém com sua fama de “a mulher mais bonita do mundo” e sua conhecida paixão por jóias e roupas finíssimas ela aparecia constantemente na primeira páginas dos jornais e assim chegou ao cinema, ao lado de seu esposo, em Manon Lescaut / 1914 que, no entanto, não tinha nada a ver com a ópera mas sim com o romance Abade Prévost.

Lina Cavalieri em The Eternal Temptress

Lina Cavalieri

Depois desta estréia nas telas americanas, Lina fez dois filmes na Itália  (Esposa da Morte /La Sposa della Morte / 1915 e  Rosa de Granada /La Rosa di Granada / 1916) novamente com Lucien Muratore, e voltou para os Estados Unidos, onde fez quatro filmes para a Famous Players (A Eterna TentadoraThe Eternal Temptress / 1917, Gismonda ou Conquista do Coração / Love’s Conquest / 1918, Tesouro de ArteA Woman of Impulse / 1918, A Filha do Escultor / The Two Brides / 1919), o primeiro dirigido por Emile Chautard e os outros três, por Edward José – todos, com exceção de A Woman of Impulse, também não relacionados com o meio operístico. Após sua aposentadoria como cantora de ópera, Lina mudou-se para Paris, onde abriu uma salão de moda e então, na companhia de seu quarto marido, Paolo d’Arvani, fixou moradia em Florença. Durante um ataque áereo das forças aliadas à cidade em 1944, ela ficou preocupada com suas jóias, saiu do abrigo onde se encontrava, rumou para a sua casa a fim de apanhá-las, e foi morta. Sua vida foi retratada no filme A mulher mais bela do mundo / La donna píu bella del mondo / 1955, estrelado por Gina Lollobrigida.

Geraldine Farrar

GERALDINE FARRAR (1882-1967). Local de nascimento: Melrose, Massachusetts, EUA. A maior das estrelas que fizeram a transição do teatro lírico para a tela no tempo da cena silenciosa, era filha de um jogador de baseball Sidney “Syd” Farrar, e de sua esposa, Henrietta Barnes, ambos músicos amadores. Aos cinco anos de idade, ela começou a estudar música em Boston com Mrs. J. H. Long e Victor Capoul, e sucessivamente com Emma Thursby em Nova York (quando começou a dar recitais, chamando a atenção da cantora de ópera Nellie Melba; com o Marquês Ange-Pierre de Trabadelo em Paris; e Francesco Graziani em Berlim. Em 1901, Geraldine estreou como Marguerite na ópera Faust de Charles Gounod na Berlin Hofoper e, logo após o seu debute no palco, iniciou suas aulas com outra professora, Lilli Lehmann, que lhe ensinou a modelar sua voz Terminada a temporada em Berlim, ela partiu para a Ópera de Monte Carlo, onde cantou de 1904 a 1906, estreando em La Bohème de Puccini, ao lado de Enrico Caruso, que desempenharia um papel significativo como seu co-astro nos Estados Unidos. Depois, apresentou-se em Paris, Munique, Varsóvia e Salzburg, firmando uma reputação internacional. Na abertura da temporada de 1906-1907 do Metropolitan Opera House em Nova York, Geraldine estreou na companhia com a qual ficaria associada pelo resto de sua carreira.

Geraldine Farrar em Carme

Geraldine Farrar em Jeanne D’Arc

O primeiro filme de Geraldine Farrar, Carmen / Carmen / 1915 , foi dirigido por Cecil B. DeMille. Mesmo sem os espectadores ouvirem o som de sua voz, o espetáculo foi um sucesso, conquistando-lhe fãs, que não eram necessariamente fãs de ópera. Ela então deu início a uma segunda carreira como atriz de cinema, fazendo mais 13 filmes de longa-metragem: Tentação / Temptation / 1915, Maria Rosa ou Amor Vingado / Maria Rosa / 1915, Jeanne D’Arc e, em reprises, Joana D’Arc e A Donzela de Orleans / Jeanne D’Arc / 1916, A Mulher Que Deus Esqueceu / The Woman God Forgot / 1917, A Pedra do Diabo / The Devil Stone / 1917 (todos dirigidos por DeMille), O Ponto de Honra / Turn of the Wheel / 1918, Uma Fera! / The Hell Cat / 1918, Sombras do Passado / Shadows / 1919, Cruel  Juramento / The Stronger Vow / 1919, A Chama do Amor ou A Chama do Deserto / Flame of the Desert / 1919, Flor de Sevilha ou A Mulher e o Fantoche / The Woman and the Puppet / 1920 (todos dirigidos por Reginald Barker), O Mundo e suas Mulheres / The World and the Woman / 1919 (Dir: Frank Lloyd), O  Enigma – A Mulher / The Riddle: Woman /1920 (Dir: Edward José). Nenhum dos filmes foi sobre personagens de ópera. Todos confirmaram o talento de Geraldine para a arte dramática. O casamento de Geraldine com o ator Lou Tellegen em 1916, terminou, em consequência dos inúmeros casos amorosos de seu marido, por um divórcio muito divulgado pela imprensa em 1923, e o assunto voltou às manchetes dos jornais, quando Tellegen se suicidou em 1934, esfaqueando-se com uma tesoura. Geraldine deixou uma autobiografia: “Such Sweet Compulsion, escrita em 1938.

Mary Garden

MARY GARDEN (1874-1967). Local de Nascimento: Aberdeen, Escócia. Quando tinha nove anos de idade sua família se mudou para Chicopee, Massachusetts, EUA, transferindo-se depois sucessivamente para Harford, Connecticut e Chicago, Illinois. Graças ao apoio financeiro de dois patronos das artes, David e Florence Mayer, pôde estudar com Marquês Ange-Pierre de Trabadelo e depois com Lucien Fugère. Em 1899, os Mayers suspenderam seu apoio a Mary em virtude de boatos sobre o seu comportamento escandaloso na Cidade-Luz. Alguns meses depois, ela estava sem poder pagar seu aluguel quando Silby Sanderson, uma cantora americana, abrigou-a, e lhe deu algum dinheiro. Através dos contatos de Sanderson, Mary conseguiu fazer um teste na Opéra-Comique, e, em janeiro de 1900, foi contratada pela companhia.

Mary Garden em Pelléas et Mélisande

Um dos seus melhores papéis foi o de Mélisande em Pelléas et Mélisande de Claude Debussy. Em 1907, Mary assinou um contrato com Oscar Hammerstein para cantar na Manhattan Opera House e estreou em Nova York em Thäis de Jules Massenet, sendo aclamada como uma grande soprano operística. Após sua viagem exitosa aos EUA, Mary voltou para Paris, e continuou sua carreira no velho continente; mas continuou dividindo seu tempo entre a Europa e a América. Em 1917, Samuel Goldwyn contratou-a, pagando-lhe 10 mil dólares por semana, para fazer cinco d filmes, porém ela só fez dois. Tanto o primeiro filme, Thäis / Thäis, baseado no seu grande sucesso do palco (Dir: Hugo Ballin e Frank Hall Crane) quanto o segundo filme, Pecadora e Mártir / The Splendid Sinner/ 1918, passado durante a Primeira Guerra Mundial (Dir: Edwin Carewe), sem o benefício do som, não caíram no agrado do público. Durante a temporada 1921-1922, Mary dirigiu a Chicago Opera Association e continuou interpretando papéis principais em óperas. Após sua aposentadoria dos palcos em 1934, trabalhou como descobridora de talentos para a MGM e, em 1951, retornou à sua terra natal, e escreveu uma autobiografia, “Mary Garden’s Secrets”.

                                                                                                       Beatriz Michelena

BEATRIZ MICHELENA (1890-1942). Local de nascimento: Nova York, N.Y. EUA. Filha de Fernando Michelena, conhecido tenor venezuelano, que se apresentava em uma companhia itinerante pelos Estados Unidos. Influenciadas pelo pai, ela e sua irmã mais velha Vera também se dedicaram ao canto liríco. Vera iniciou uma carreira em Nova York e Beatriz continuou treinando com seu progenitor, que havia se estabelecido em San Francisco, Califórnia como professor. O sonho de Beatriz era se tornar “uma cantora de ópera maravilhosa”, porém seu plano de estudar no exterior foi abandonado, quando a guerra irrompeu na Europa. Em 1907, ela se casou com George E. Middleton, gerente da Middleton Car Company e filho de um magnata da indústria madeireira. Beatriz recebeu muitos aplausos no Garrick Theatre pelo seu papel em The White Hen, comédia musical passada na Austria e ainda apareceu em mais alguns espetáculos antes de se transferir para o cinema.

Em 1914, ela aceitou o convite para ser a estrela dos filmes da California Motion Picture Company (cujo estúdio era em San Rafael), estreando na tela em Salomy Jane, western baseado em história de Bret Harte, dirigido por Lucius Henderson e William Nigh, no qual contracenou com o ator inglês House Peters e William Pike. Beatriz fez ainda na California Motion Picture Company: Mrs. Wiggs of Cabbage Patch / 1914 (Dir: Harold Entwistle); The Woman Who Dared / 1916 (Dir:George Middleton); Rose of the Misty Pool / 1915; The Lily of Poverty Flat / 1915 (Dir: George Middleton); Mignon / 1915 (Dir: Alexander E. Beyfuss); A Phyllis of the Sierras / 1915 (Dir: George Middleton); Salvation Nell / 1915 (Dir: George Middleton); The Unwritten Law / 1916 (Dir: George Middleton) e Faust, cuja filmagem foi iniciada, mas depois interrompida, quando o presidente da California Motion Picture Company, Herbert Payne, fechou a companhia e pediu falência. MIddleton e Beatriz compraram o estúdio chamando-o de Michelena Studios e sua companhia foi denominada Beatriz Michelena Features.

O novo filme, Just Squaw / 1919, girava em torno de uma índia, Fawn que se apaixona por um homem branco, mas depois descobre que era biologicamente branca, pois fora sequestrada pela índia que ela pensava que era sua mãe. O filme foi exibido durante uma semana em San Francisco, mas não deu nenhum lucro. Parece que o novo distribuidor dos filmes da Michelena Features encontrou dificuldade para encontrar o mercado certo para as produções seguintes da empresa, outros dois westerns, Heart of Juanita / 1920 e The Flame of Hellgate / 1920. Após a filmagem deste último, Middleton e Beatriz pararam de fazer filmes juntos. Ela voltou a se apresentar como cantora e ele, a vender seus carros. Divorciaram-se em meados dos anos vinte.

Bertha Kalich

BERTHA KALICH (1874-1939). Nome verdadeiro: Beylke Kalakh. Local de Nascimento: Lemberg, Galicia, Austria-Hungria (hoje Lviv, Ucrânia). Filha única de Solomon Kalakh, modesto fabricante de escovas e violinista amador) e Babette Kalakh, costureira que fazia trajes para os teatros locais. Ela aprendeu a cantar na Czatzki, escola judaica particular de música e arte dramática. Aos treze anos de idade, ela ingressou no Teatro de Ópera Skarbek, onde integrou o côro formado por adultos. Seu primeiro papel foi na ópera La Traviata de Giuseppe Verdi. Em um ano, Bertha aprendeu a falar alemão e Jaakov Ber Gimpel, convidou-a para ser a prima donna de seu recém-criado teatro ídiche. Ela estreou na opereta Shulamith de Abraham Goldfaden e após algumas representações com a troupe de Goldfaden na Romênia e na Hungria, Bertha, já casada com Leopold Spachner (que se tornaria seu agente), aceitou o convite de Joseph Edelstein para se apresentar no seu Thalia Theater em Nova York, onde chegou em 1895. A princípio, ela atuou em peças ídiche clássicas mas depois, quís dar mais ênfase ao seu talento dramático do que ao musical, interpretando papéis principais em adaptações das tragédias de Shakespeare.

Bertha Kalich

Os fãs compararam Bertha a outra intérprete feminina de Hamlet, Sarah Bernhardt, e muitos jornais passaram a chamá-la de “Bernhardt Judia”. Seu primeiro papel no idioma inglês na peça Fedora de Victorien Sardou, chamou a atenção do dramaturgo, empresário e Harrison Grey Fiske, que a contratou para a produção de Monna Vanna de Maurice Maeterlinck no Manhattan Theatre. Ela treinou durante meses com a atriz Minnie Maddern Fiske (esposa de Harrison, conhecida profissionalmente como Mrs. Fiske), para corrigir seu sotaque estrangeiro, porém não foi totalmente bem sucedida no seu esforço. Nos próximos anos, Bertha trabalhou para Fiske até 1910 e posteriormente para Lee Shubert e repetiu em inglês alguns de seus sucessos em ídiche. Em 1914, Bertha fez cinco filmes em Hollywood: The Bomb Boy / 1914 (Dir: George Fitzmaurice) para a Manhattan Film Company; Bruto! ou Marta das Terras Baixas / Marta of the Lowlands / 1914 (Dir: J. Searle Dawley para a Famous Players; O Caluniador / Slander (Dir: Will S. Davis), Ambição / Ambition / 1916 e Amor e Ódio / Love and Hate / 1916 (ambos dirigidos por James Vincent) para a Fox Film Corp. Nenhum deles foi bem aprovado e a carreira dela no cinema se encerrou.

Ganna Walska

GANNA WALSKA (1887-1984). Nome verdadeiro: Hanna Puacz. Local de Nascimento: Brest-Litovsk, Belarus. De origem humilde, ainda adolescente, ela fugiu com um conde russo, Arcadie d’Einghorn, com quem se casou em 1904. Hanna estreou no palco, em Kiev, como Sonia na opereta A Viúva Alegre de Franz Lehár. Dois anos depois, divorciada do conde, prosseguiu sua carreira na Europa, onde adotou o nome de Ganna Walska. Diante da ameaça da Primeira Guerra Mundial, Ganna mudou-se de Paris para Nova York, onde conheceu e se casou (em 1916) com o endocrinologista Dr. Joseph Fraenkel,. Ele curou sua laringite, e aliviou seu desejo desesperado por segurança financeira e um lar. Foi nessa época que ela encontrou o industrial Harold Fowley McCormick – herdeiro da fortuna da International Harvester e patrono generoso da Chicago Opera Company – com o qual teria um longo relacionamento. Ganna interessou-se também por misticismo e pelo “sentido da vida”, praticando ioga e explorando astrologia, meditação e telepatia. Em 1920, Fraenkel morreu após uma doença prolongada. Exausta e deprimida, Ganna decidiu passar umas férias em Paris e, a bordo do vapor Aquitania, encontrou Alexander Smith Cochran, então conhecido como “o solteiro mais rico do mundo”. Eles contraíram matrimônio ainda no mesmo ano da morte de Fraenkel. Segundo ela própria contou nas suas memórias, “There’s Always Room At The Top”, Alexander foi ficando cada vez mais com ciúme de sua carreira e da sua amizade contínua com Harold McCormick. Quando Ganna se divorciou de Alexander em 1922, McCormick se tornou seu novo marido, e financiou sua carreira então em declínio, comprando o Theâtre des Champs Elysées em Paris, como um local para ela se apresentar.

Harold e Ganna

Em 1931, Ganna recusou-se a deixar Paris e a viver com Harold em Chicago, e ele se divorciou dela, alegando deserção. O próximo enlace de Ganna ocorreu em 1938, com Harry Grindell Matthews, inventor do Raio da Morte, dispositivo experimental que podia desativar o motor de um automóvel por controle remoto. Embora o casal compartilhasse o amor pela ópera, ela o achava pouco atraente. Matthews ficou tão deprimido, que parou de trabalhar, deixando os funcionários do governo inglês preocupados, pensando que ele poderia se matar, antes que sua invenção de um aparelho para detectar submarinos na defesa de Londres, pudesse chegar às mãos do Ministro da Guerra. Infelizmente, Matthews foi mais um marido infeliz e ciumento e Ganna, aproveitou a iminente Segunda Guerra Mundial como uma desculpa para retornar à América. Ela foi informada por telegrama, que Harry morrera de um ataque do coração em 1941. Nos Estados Unidos, Ganna se apaixonou por um homem vinte anos mais jovem do que ela, Theos Bernard, conhecido como “The White Lama”, título devido às suas experiências no Tibete. Theos logo passou a influenciar a vida de Ganna encorajando-a a comprar uma propriedade em Montecito, perto de Santa Barbara na Califórnia, conhecida como Cuesta Linda, e a denominá-la de “Tibetland” com o objetivo de transformá-la em um refúgio de lamas tibetanos e local para a “execução da sua obra sagrada”. Ganna e Theos casaram-se secretamente em 1942, porém o matrimônio durou pouco. Eles se divorciaram em 1946, e ele morreu no ano seguinte. Ganna finalmente declarou sua independência e rebatizou sua propriedade de “Lotusland” por causa das flores de lótus da Índia raras existentes no seu jardim

Ganna e seu jardim de plantas exóticas

Ela passou os quarenta anos seguintes de sua vida dedicando-se à jardinagem e adquirindo uma variedade espantosa de plantas exóticas. Embora seja comumente conhecido como uma biografia ficcionalizada de William Randolph Hearst, o filme de Orson Welles, Cidadão Kane / Citizen Kane / 1941 foi baseado em parte na vida de Horace McCormick e Ganna Walska e, ao escrever o roteiro, Herman J. Mankiewicz se inspirou ainda em outro casal, o magnata Samuel Insull e sua esposa, a atriz Gladys Wallis. Quando era crítico de teatro do The New York Times, depois de assistir a uma reprise da peça The School for Scandal, com Gladys, então uma senhora de 56 anos no papel de uma jovem de 18 anos, chegou à redação cheio de álcool e de fúria, porque sabia que fora Insull, que patrocinara toda a produção, para incluir sua mulher no elenco da peça. Ele escreveu uma crônica arrasadora, chamando-a de incompetente, antes de cair de sono em cima de sua máquina de escrever. Mankiewicz ressuscitou esta experiência ao escrever o roteiro de Cidadão Kane, incorporando na narrativa o personagem do crítico Jedediah Leland, interpretado por Joseph Cotten

No filme, após a estréia catastrófica na ópera de Susan Alexander, a segunda esposa de Kane, Leland volta para a redação do Inquirer bêbado, e adormece sobre a sua máquina de escrever, depois de redigir a primeira frase de sua resenha crítica: “Miss Alexander, uma linda mas incompetente amadora…” Em 1916, a soprano Ganna Walska apareceu (creditada como Madame Ganna Walska) no drama The Child of Destiny, dirigido por William Nigh. No enredo, Ganna interpreta o papel de Constance, esposa infiel de Bob Stange (Robert Elliottt). Este se apaixona por Alita (Irene Fenwick), jovem criada nas montanhas. Constance nega-lhe o divórcio mas, ao descobrir que a garota é a filha que abandonara, suicida-se, para que Bob e Alita possam se unir para sempre.

AC

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