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CANTORAS DE ÓPERA NO CINEMA AMERICANO II

 

Neste artigo, apresento , em ordem alfabética,  biografias resumidas das principais cantoras de ópera que trabalharam no cinema sonoro americano no período clássico:

Mary Ellis

Mary Ellis

MARY ELLIS (1897-2003). Nome verdadeiro: May Belle Elsas. Local de nascimento: Nova York, N.Y., EUA. Iniciou sua carreira de soprano em 1918 no Metropolitan Opera House, interpretando a noviça Genovieffa em Suor Angelica de Giacomo Puccini e no mesmo espetáculo, composto por três óperas de um ato, assumiu o papel de Lauretta em Gianni Schicchi, também de autoria de Puccini. No decorrer de sua carreira, Mary cantou com grandes artistas do canto lírico como Feodor Chaliapin e Enrico Caruso. Na ópera Boris Godunov de Modest Mussorgsky, ela cantava como Fyodor, o filho de Boris Godunov (Feodor Chaliapin) e em L’elisir d‘amore de Gaetano Donizetti, era Giannetta, uma das raparigas que corriam atrás do inocente Nemorino (Enrico Caruso), herdeiro de uma fortuna. Em 1921, ela resolveu se tornar atriz, mas foi atraída de volta para o palco musical em 1924, quando Rudolf Friml compôs a opereta Rose Marie para ela. Em 1930, Mary foi para Londres na companhia de seu terceiro marido, o ator inglês Basil Sydney, com o qual havia se casado em 1929. Em 1934, ela fez seu primeiro filme britânico, Bella Donna, dirigido por Robert Milton com Conrad Veidt e Cedric Hardwicke, cuja história girava em torno de um arqueólogo cuja esposa tentava envenenar seu marido pelo amor de um egípcio. Mary não cantava no filme.

Mary Ellis e Conrad Veidt em Bella donna

Mary Ellis e Conrad Veidt em Bella donna

No ano seguinte, ela foi convidada pela Paramount para ir a Hollywood, a fim de aparecer, ao lado de Carl Brisson, em uma opereta de capa-e-espada, Os Cavaleiros do Rei / All the King’s Horses /1935 e A Dama Fatídica / Fatal Lady / 1936, no qual fazia o papel de uma diva (ao lado de Walter Pidgeon), acusada de assassinato. Nessa época, era comum a atriz cantar em cima do playback durante a filmagem – Maria surpreendeu o diretor, insistindo em fazer tudo ao vivo. Ela continuou sua carreira cinematográfica na América fazendo Primavera em Paris / Paris in Spring / 1936 (com Tullio Carminati) dirigido por Lewis Milestone e Glamorous Night / 1937 (com Barry McKay) dirigido pelo irlandês Brian Desmond Hurst. Nos palcos londrinos, atuou cantando como a heroína de três operetas de Ivor Novello: Glamorous Night (que chegou à tela com Barry McKay no lugar de Novello), The Dancing Years e Arc de Triomphe.

cantoras mary ellis paris in spring poster

Mary Ellis e Ivor Novello em Glamorous Nights

Mary Ellis e Ivor Novello em Glamorous Nights

Durante a maior parte da Segunda Guerra Mundial, Mary abandonou o teatro, visitando feridos em hospitais e dando concertos para os membros das forças armadas. Retornando a ribalta após o fim do conflito mundial, ela participou de peças como Point Venture de Noel Coward, The Browning Version de Terence Rattigan, Coriolanus de Shakespeare etc. Em 1952, integrou o elenco do musical de Noel Coward, After the Ball, porém sua voz tinha se deteriorado drasticamente e boa parte das músicas que cantava foi extirpada da encenação. No cinema, ela fez pontas em Amor e PecadoThe Astonished Heart / 1949 e The Magic Box / 1951 e apareceu no papel da Rainha Brobadingnag em As Viagens de Guliver / The 3 Worlds of Gulliver / 1960. Mary Ellis faleceu aos 105 anos de idade, deixando um livro de memórias, “Those Dancing Years” e uma autobiografia, “Moments of Truth”.

Alice Gentle

Alice Gentle

ALICE GENTLE (1885-1958). Local de nascimento: Chatsworth, Illinois, EUA. Iniciou sua trajetória artística em 1908 como membro do côro da Manhattan Opera Company (MOC) de Oscar Hammerstein I (avô do letrista Oscar Hammerstein II). Impressionado com o talento da jovem meio-soprano, Hammerstein começou a incluí-la em papéis secundários nas produções da MOC (v.g. Mercédès na ópera Carmen de Georges Bizet) e depois na sua Philadelphia Opera Company (v.g. Emilia em Otello de Giuseppe Verdi). Em 1918, Alice cantou uma temporada no Metropolitan Opera House, como Preziosilla em La forza del destino de Giuseppe Verdi e, em 1923, percorreu os Estados Unidos como Carmen com a San Carlo Opera Company.

Alice Gentle ao fundo entre Noah Beery, Alexander Gray e Bernice Claire em A Flama

Alice Gentle ao fundo entre Noah Beery, Alexander Gray e Bernice Claire em A Flama

No começo dos anos trinta, Alice apareceu em três filmes: como Natasha em A Flama / The Song of the Flame / 1930 (Dir: Alan Crosland com Alexander Gray, Bernice Claire, Noah Beery); como Mooda em Deusa Africana / Golden Dawn / 1930 (Dir: Ray Enright com Walter Woolf King, Vivienne Segal, Noah Beery), ambos rodados no sistema Technicolor bicolor; e em uma breve aparição como cantora no filme Voando para o Rio / Flying Down to Rio / 1933 (Dir: Thorton Freeland com Dolores del Rio, Gene Raymond, Raul Roulien, Fred Astaire, Ginger Rogers).

Miliza Korjus

Miliza Korjus

MILIZA KORJUS (1909-1980). Nome verdadeiro: Miliza Elizabeth Korjus. Local de nascimento: Varsóvia, Polonia (então parte do Império Russo). Seu pai, um estoniano de descendência sueca, era Artur Korjus, tenente coronel do Exército Imperial Russo e mais tarde Chefe do Estado-Maior do Ministro da Guerra da Estonia e sua mãe, Anna Gintowt, descendente da nobreza Lituano-Polonesa. Seus pais se separaram durante a Revolução Russa de 1917 e, em 1918, Miliza mudou-se de Moscou para Kiev com sua mãe e irmãs, onde iniciou seu aprendizado musical. Ainda adolescente, ela integrou o Côro Dumka em Kiev e percorreu com ele a União Soviética. Em 1927, durante uma temporada em Leningrado, Miliza atravessou a fronteira e se juntou ao pai, que havia se instalado ali, depois que a Estonia ficou independente da Russia. Ela estudou com a eminente professora Barbara Malama e começou a percorrer os Estados Bálticos e a Escandinávia. Na Estonia, Miliza casou-se em 1929 com o Dr. Kuno Foelsch, um físico, mudando-se com ele para a Alemanha, onde ganhou o apelido de “O Rouxinol de Berlim”. Em 1933, foi contratada pela Ópera Estatal de Berlim (Staatsoper unter den Linden), alcançando seu maior sucesso como A Rainha da Noite em A Flauta Mágica (Die Zauber flüte) de Wolfgang Amadeus Mozart. Entre 1934 e 1936, Miliza fez 42 gravações para a Eletrola na Alemanha. Segundo algumas fontes, Irving Thalberg ouviu esses discos e, “sem conhecê-la pessoalmente”, contratou–a para a MGM.

cantoras miliza korjus poster

Miliza Korjus em A Grande Valsa

Miliza Korjus em A Grande Valsa

Em A Grande Valsa / The Great Waltz / 1938, dirigido por Julien Duvivier, Miliza faz o papel de Carla Donner, uma prima donna que se apaixona por Johann Strauss II (Fernand Gravey, anunciado nos Estados Unidos como Gravet e dublado pelo violinista russo Toscha Seidel); ele corresponde ao seu amor, mas acaba se casando com Poldi (Luise Rainer), sua namorada desde a infância. Miliza foi indicada para o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante e encantou o público particularmente na cena em que canta “Tales from the Vienna Woods”. Embora Duvivier tivesse sido creditado como diretor, consta que ele foi repreendido pela MGM, por estar fazendo um filme mais sobre Mrs. Strauss do que sobre Johann. Victor Fleming substituiu-o no final da filmagem e Josef von Sternberg concebeu e dirigiu a sequência final do espetáculo. Em 1940, um segundo filme com Miliza, Guns and Fiddles, baseado na história de Sandor Rozsa (uma espécie de Robin Hood húngaro) começou a ser produzido na MGM; porém, algumas semanas antes de começar a filmagem, ela sofreu um acidente de automóvel sério e quase teve a perna amputada. Um ano depois, já suficientemente recuperada, Miliza empreendeu uma excursão de concertos pela America Latina e, em 1942, fez um filme no Mexico, Caballeria del Imperio, dirigido por Miguel Contreras Torres.

Miliza Korjus em Caballeria del Imperio

Miliza Korjus em Caballeria del Imperio

A trama mostrava Miliza como Vera Dona uma cantora de ópera ligada sentimentalmente a Johann Strauss II, que viaja para o México no tempo do Império de Maximiliano, onde transcorre uma intriga envolvendo uma baronesa fisicamente parecida com a Imperatriz Carlota (Medea de Novara), o general austríaco Von Schultz (René Cardona), e o chefe juarista Ramón Alvarado (Julien Soler). Mas quem cantava mais no filme era o tenor mexicano Pedro Vargas. Em 1944, Miliza retornou aos Estados Unidos, para se apresentar no Carnegie Hall com a New York Philharmonic Symphony Orchestra, cumpriu mais alguns compromissos através da América durante o final dos anos quarenta e, eventualmente, fixou residência em Los Angeles. Em 1952, casou-se novamente, desta vez com o Dr. Walter Shector, um médico – e se afastou do palco, preferindo gravar discos.

Jeanette MacDonald

Jeanette MacDonald

JEANETTE MACDONALD (1903-1965). Nome verdadeiro: Jeanette Anna MacDonald. Local de nascimento: Filadélfia, Pennsylvania, EUA. Desde criança começou a estudar canto e dança. Aos nove anos de idade, participou de shows infantís, encabeçando o grupo “Six Little Song Birds”, formado pelo seu professor de dança, Al White. Em novembro de 1919, reuniu-se com sua irmã mais velha, a atriz Blossom Rock em Nova York, onde arrumou um emprego no côro de The Demi-Tasse Revue, um entretenimento musical apresentado no intervalo entre dois filmes no Capitol Theatre na Broadway. Nos anos vinte, trabalhou em vários musicais como coadjuvante, depois como atriz principal, e finalmente chegou ao cinema em 1929, quando o diretor Ernst Lubitsch, examinando um teste que Jeanette havia feito na Paramount (para um possível filme com Richard Dix Nothing but the Truth, afinal realizado com Wynne Gibson e Helen Kane), escolheu-a para estrelar, ao lado de Maurice Chevalier, seu primeiro filme sonoro, Alvorada de Amor / The Love Parade / 1929.

Jeanette MacDonald e Maurice Chevalier em Alvorada do Amor

Jeanette MacDonald e Maurice Chevalier em Alvorada do Amor

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Jeanette MacDonald e Jack Buchanan em Monte carlo

Jeanette MacDonald e Jack Buchanan em Monte Carlo

Os primeiros discos gravados por Jeanette foram dois sucessos da trilha musical: “Dream Lover” e “March of the Greandiers”. Seus próximos filmes na Paramount foram: O Rei Vagabundo / The Vagabond King / 1930, versão em Technicolor de duas cores da opereta de Rudolf Friml com Dennis King no papel de François Villon e MacDonald como a Princesa Katherine (e Lillian Roth como Huguette, a garota das ruas que dá sua vida para salvar a do poeta); Naufrágio Amoroso / Let’s Go Native / 1930 (James Hall, Jack Oakie, Kay Francis), comédia dirigida por Leo McCarey; Monte Carlo / Monte Carlo / 1930, dirigida novamente por Lubitsch, contracenando com o astro do musical inglês, Jack Buchanan, e introduzindo a canção “Beyond the Blue Horizon”, que ela gravou três vezes durante a sua carreira; uma prevista aparição em Paramount em Grande Gala / Paramount on Parade / 1930, musical-revista cheio de astros e estrelas da companhia para o qual ela chegou a filmar um dueto de “Come Back to Sorrento” com Nino Martini, mas este trecho foi extirpado por ocasião do lançamento do filme. Jeanette foi para a United Artists, a fim de fazer A Noiva 66 / The Lottery Bride / 1930 (John Garrick, Joe E. Brown, ZaSu Pitts), porém, apesar da música de Rudolf Friml, o espetáculo não deu o lucro esperado. Ela então se transferiu para a Fox Film Corporation, onde fez: Paixão de Mulher / Oh, for a Man! / 1930 (Reginald Denny, Marjorie White); Não Apostes nas Mulheres / Don’t Bet on Women / 1931 (Edmund Lowe, Roland Young); Anna Belle  ou Intrigas de Annabelle / Annabelle’s Affairs / 1931 (Victor MacLaglen, Roland Young). Em 1931, Jeanette interrompeu seu trabalho em Hollywood, para participar de uma tournée de concertos pela Europa,. No ano seguinte, voltou para a Paramount, onde fez duas comédias românticas musicais inesquecíveis com Maurice Chevalier: Uma Hora Contigo / One Hour With You / 1932 (Dir: George Cukor, orientado por Ernst Lubitsch) e Ama-me Esta NoiteLove Me Tonight /1932 (Dir: Rouben Mamoulian).

Jeanette MacDonald e Maurice Chevalier em Ama-me esta Noite

Jeanette MacDonald e Maurice Chevalier em Ama-me esta Noite

Jeanette MacDonald e Ramon Novarro em O Gato e o Violino

Jeanette MacDonald e Ramon Novarro em O Gato e o Violino

Em 1933, Jeanette partiu novamente para a Europa e, enquanto estava lá, assinou contrato com a MGM. Seu primeiro filme na “Marca do Leão” foi O Gato e o Violino / The Cat and the Fiddle / 1934 ao lado de Ramon Novarro. Apesar de ter sido baseado em um sucesso da Broadway de Jerome Kern e de apresentar um final em Technicolor – o primeiro uso do Technicolor de três cores além dos desenhos de Walt Disney – o filme não foi um grande êxito nas bilheterias. Porém o segundo filme de Jeanette no estúdio,

Jeanette MacDonald, Edward Everett Horton e Maurice Chevalier em A Viúva Alegre

Jeanette MacDonald, Edward Everett Horton e Maurice Chevalier em A Viúva Alegre

Maurice Chevalier, Jeanette MacDonald e Ernst Lubitsch  em um intervalo da filmagem de A Víúva Alegre

Maurice Chevalier, Jeanette MacDonald e Ernst Lubitsch em um intervalo da filmagem de A Víúva Alegre

A Viúva Alegre / The Merry Widow / 1934, versão luxuosa da opereta clássica de Franz Léhar, magnificamente dirigida por Ernst Lubitsch e contando com a participação de Maurice Chevalier e um elenco de coadjuvantes admiráveis, agradou plenamente o público e os críticos. Seguiram-se os filmes que Jeanette fez, intermitentemente, com o barítono Nelson Eddy: Oh, Marietta ! / Naughty Maritetta / 1935 (Dir: W. S. Van Dyke e canções como “Ah! Sweet Mystery of Life”); Rose Marie / Rose-Marie /1936 (Dir: W. S. Van Dyke e canções como “Indian Love Call”); Primavera / Maytime / 1937 (Dir: Robert Z. Leonard e canções como “Will You Remember”); A Princesa do El Dorado / The Girl of the Golden West / 1938 (Dir: Robert Z. Leonard e canções como “Obey Your Heart”; Lua Nova / New Moon / 1940 (Dir: Robert Z. Leonard e canções como “Lover, Come Back to Me”); Bitter Sweet / Canção de Amor / Sweethearts / 1938 (Dir: W.S. Van Dyke e canções como “Sweethearts”); Casei-me com um Anjo / I Married an Angel / 1942 (Dir: W. S. Van Dyke e canções como “Spring is Here”).

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Nelson Eddy e Jeanette MacDonald em Rose Marie

Nelson Eddy e Jeanette MacDonald em Rose Marie

Nelson Eddy e Jeanette MacDonald em Primavera

Nelson Eddy e Jeanette MacDonald em Primavera

Nos intervalos entre os filmes que fez com Nelson Eddy, Jeanette contracenou com Clark Gable e Spencer Tracy em A Cidade do Pecado / San Francisco / 1936; (Dir: W. S. Van Dyke); com Allan Jones em O Vagalume / The Firefly / 1937 (DIr: Robert Z. Leonard); com Lew Ayres em Serenata na Broadway / Broadway Serenade /1939 (Dir: Robert Z. Leonard); com Brian Aherne e Gene Raymond em O Amor que não Morreu / Smilin’ Through / 1941 (Dir: Frank Borzage); com Robert Young em Cairo / Cairo / 1942 (Dir: W. S. Van Dyke). Em 1943, Jeanette e Nelson Eddy deixaram a MGM e foram para Universal. Enquanto Eddy terminava, sozinho, O Fantasma da Ópera / Phantom of the Opera / 1943, ela apareceu em Epopéia da Alegria / Follow the Boys / 1944, filme repleto de astros e estrelas de Hollywood entretendo as tropas, no qual cantava ”Beyond the Blue Horizon” em um concerto e “I’ll See You in My Dreams” para um soldado que ficara cego. Entretanto, o projeto de fazer filmes juntos na Universal gorou e, após cinco anos fora da tela, Jeanette voltou sem ele para a MGM, onde fez seus filmes derradeiros, Três Filhas Levadas / Three Daring Daughters / 1948 (Jose Iturbi, Jane Powell) e Sol da Manhã / The Sun Comes Up /1949 (Lloyd Nolan, Claude Jarman Jr. e … Lassie)

Alan Jones e jeanette MacDonald em O Vagalume

Alan Jones e jeanette MacDonald em O Vagalum

O diretor Robert Z. Leonard e Jeanette MacDonald em um intervalo da filmagem de O Vagalume.

O diretor Robert Z. Leonard e Jeanette MacDonald em um intervalo da filmagem de O Vagalume.

Ao contrário de Nelson Eddy, que foi da ópera para o cinema, Jeanette reinventou-se na ópera. A partir de 1940, ela começou a treinar com Lotte Lehmann, uma das cantoras líricas mais prestigiadas do início do século vinte. Jeanette estreou na ópera no Canadá, interpretando Juliette em Roméo et Juliette de Charles Gounod e debutou nos Estados Unidos na Chicago Opera Company, onde repetiu o papel de Juliette e cantou também como Marguerite em Faust do mesmo compositor. Há controvérsias sobre a vida íntima de Jeanette MacDonald, notadamente seu casamento com o ator Gene Raymond e o relacionamento com Nelson Eddy, refletidas nos livros Sweethearts de Sharon Rich (Bell Harbour, 2014) e Hollywood Diva de Edward Baron Turk (University of California, 2000).

Grace Moore

Grace Moore

GRACE MOORE (1898-1947). Nome verdadeiro: Mary Willie Grace Moore. Local de nascimento: Comunidade de Slabtown (hoje considerada como parte de Del Rio) no Cocke County, Tennessee, EUA. Passou sua adolescência em Jellico, estudou brevemente em Nashville, e depois foi para Washington D.C. e Nova York terminar seu aprendizado de canto lírico. Seu primeiro emprego como cantora foi no Black Cat Cafe em Greenwich Village e sua primeira aparição na Broadway deu-se em 1920 no musical Hítchy-Koo de Jerome Kern. Em 1922 e 1923 ela apareceu na segunda e terceira séries das Music Box Revues de Irving Berlin. Depois de se aperfeiçoar sua voz de soprano na França, Grace estreou no Metropolitan Opera House de Nova York em 1928, interpretando o papel de Mimi na ópera La Bohème de Giacomo Puccini. Durante suas dezesseis temporadas no Met, ela cantou várias óperas italianas e francêsas, incumbindo-se dos papéis principais em Tosca de Puccini, Manon de Massenet e Louise de Gustave Charpentier.

cantoras grace more lady's moralsAtraída por Hollywood nos primeiros tempos do cinema falado, o primeiro papel de Grace na tela foi o de Jenny Lind no filme Dama Virtuosa / A Lady’s Morals / 1930 , produzido para a MGM por Irving Thalberg e dirigido por Sidney Franklin. No mesmo ano, ela estrelou com o barítono Lawrence Tibbett, Lua Nova / New Moon, primeira versão cinematográfica da opereta The New Moon, de Sigmund Romberg, sobressaindo as canções “Wanting You”, e “Lover Came Back to Me”). A MGM não renovou seu contrato e ela retornou ao palco, obtendo sucesso na Broadway em 1932 com a opereta Gräfin Dubarry de Carl Millöcker. Irving Thalberg pensou nela para atuar como a viúva rica de Marshovia ao lado de Maurice Chevalier em A Viúva Alegre, mas acabou entregando o papel para Jeanette MacDonald.

TullioCarminati e Grace Moore em Uma Noite de Amor

Tullio Carminati e Grace Moore em Uma Noite de Amor

Após uma ausência de quatro anos, Grace retornou a Hollywood sob contrato da Columbia Pictures, onde fez: Uma Noite de Amor / One Night of Love / 1934 com Tullio Carminati ( no qual cantava entre outras a ária “La Habanera” da ópera Carmen de Georges Bizet). Foi o seu maior sucesso  de público e de crítica, tendo sido indicado para o Oscar nas categorias Melhor Filme, Direção e Atriz; Ama-me Sempre / Love Me Forever / 1935 com Leo Carrillo; O Rei de Diverte / The King Steps Out / 1936 com Franchot Tone (dirigidos por Josef von Sternberg); Prelúdio de Amor / When You’re in Love / 1937 com Cary Grant (destacando-se o número com Cary ao piano e Grace em uma interpretação extravagante de “Minnie the Moocher” de Cab Calloway); e A Volta do Rouxinol / I’ll Take Romance / 1937 com Melvyn Douglas.

Grace Moore e Franchot Tone em O Rei se Diverte

Grace Moore e Franchot Tone em O Rei se Diverte

O último filme de Grace foi Luíza / Louise / 1939, versão abreviada da ópera de Gustave Charpentier do mesmo nome, dirigida por Abel Gance e contando com a participação de dois renomados cantores francêses: o tenor Georges Thill e o baixo cantante André Pernet. Grace Moore casou-se com o ator espanhol Valentín Parera em 1931, escreveu uma autobiografia: “You’re Only Human Once” em 1944 e teve sua carreira retratada no filme Gloriosa Consagração / So This is Love / 1953, com Kathryn Grayson. Em 1947, ela faleceu em um desastre de avião ocorrido no aeroporto de Copenhagen. Ficou conhecida como “O Rouxinol do Tennessee”.

Lily Pons

Lily Pons

LILY PONS (1928 – 1976). Local de Nascimento: Draguignan, França. Nome verdadeiro: Alice Joséphine Pons. Esta soprano coloratura francêsa arrebatou a platéia quando  estreou no Metropolitan em janeiro de 1931, cantando Lucia di Lamermoor de Giuseppe Donizetti com Beniamino Gigli, e continuou no Met por mais 28 anos, aposentando-se em 1958. A RKO contratou-a para aparecer em Vivo SonhandoI Dream Too Much / 1935,  no qual sua personagem, Annette, é casada com um compositor, Jonathan (Henry Fonda) e, à medida em que carreira dela sobe,  a dele declina, algo que ele acha difícil de aceitar. Sem que Jonathan saiba, Annette decide ajudá-lo, concordando em atuar na sua última ópera, que ela transforma em uma comédia musical de sucesso. A RKO armou uma equipe excelente: John Cromwell, diretor, Max Steiner, diretor musical,  Hermes Pan, coreógrafo, e Jerome Kern foi convidado para escrever algumas canções, tendo Dorothy Fields como sua letrista. Lily Pons cantou a ária com a qual todos a associavam, a “Canção do Sino ” da ópera Lakmé de Léo Delibes assim como a “Caro Nome” da Rigoletto de Giuseppe Verdi. Seu marido na vida real, André Kostelanetz, regeu as sequências de ópera, segundo dizem, por insistência da atriz. Entretanto, apesar de todo cuidado tomado, o filme não foi o êxito de bilheteria esperado pelo estúdio.

cantoras lily pons girl from paris posterNo ano seguinte, a RKO tentou de novo, colocando Lily Pons em  A Parisiense / That Girl from Paris / 1936. No enredo, uma estrela da ópera parisiense foge de um casamento arranjado, embarca como clandestina em um navio para ficar perto do band leader que ela ama, e acaba nos Estados Unidos como imigrante ilegal. Seus co-astros eram Gene Raymond e Lucille Ball, e Lily Pons cantava uma ária do Barbeiro de Sevilha de Gioachino Rossini,  juntamente com uma valsa de Johann Strauss, uma tarantela, e algumas canções.

Edward Everett Horton, Jackie Oakie e Lily Pons em Nas Asas da Fama

Edward Everett Horton, Jackie Oakie e Lily Pons em Nas Asas da Fama

Lily Pons interpretou,  ao lado de John Howard, Edward Everett Horton e Jack Oakie, uma cantora de jazz francêsa  em Nas Asas da Fama /  Hitting a New High / 1937, dirigido por Raoul Walsh. Neste espetáculo, ela cantava a ária  “Il Doce Suono”, a cena da “loucura” da Lucia di Lammermoor  e a ária  “Je suis Titania” da Mignon de Ambroise Thomas.  Foi o seu último filme. Desiludida com Hollywood, Lily Pons desistiu da carreira cinematográfica, queixando-se de que os realizadores não levavam a sua capacidade lírica a sério.

Gladys Swarthout

Gladys Swarthout

GLADYS SWARTHOUT (100-1969). Local de nascimento: Deepwater, Missouri, EUA. Enquanto estava estudando no Bush Conservatory of Music em Chicago, um grupo de amigos arranjou um teste para ela na Chicago Civic Opera Company. Para sua surpresa, Grace foi aprovada, embora na época não tivesse nenhum papel lírico no seu repertório. Ela estreou em 1924 como o pastor na ópera Tosca de Giacomo Puccini e, em 1929, estava no Metropolitano Opera House interpretando (com sua voz de meio-soprano) La Cieca em La Gioconda de Amilcare Ponchelli. Grace era uma artista inteligente e bonita mas, até que Hollywood a tornasse famosa, ela cantou apenas papéis secundários tais como Siébel em Faust de Charles Gounod ou Mellika em Lakmé de Léo Delibes. Depois de sua curta carreira no cinema coube-lhe papéis mais importantes, obtendo grande sucesso como Carmen na obra de Georges Bizet.

Gladys Swarthout e John Boles em Rosa do Rancho

Gladys Swarthout e John Boles em Rosa do Rancho

Grace estrelou cinco filmes para a Paramount: Rosa do Rancho / Rose of the Ranch /1936 (com John Boles); Noite Triunfal / Give us This Night / 1936; Valsa da Champanha / Champagne Waltz / 1937; A Princesa e o Galã / Romance in the Dark / 1938; Cilada do Acaso / Ambush / 1939. Rosa do Rancho era um western musical passado em Monterey, sem uma nota sequer de ópera, para o qual Erich Wolfgang Korngold compôs duas canções adicionais: “Fight for the Night” e “Without Freedom”. No enredo, Gladys é Rosita Castro, que se faz passar por Don Carlos, espécie de Zorro, defensor dos rancheiros oprimidos por um latifundiário (Charles Bickford) e se apaixona por um agente federal (John Boles). Noite Triunfal, já tinha mais a ver com ópera, pois Gladys fazia o papel de Maria Severelli, prima donna envolvida com um pescador (Jan Kiepura), que se revelava um grande cantor lírico. A distribuidora no brasil anunciou o filme assim: “Um delicioso poema lírico com duas gargantas de ouro”. Porém a música era de Erich Wolfgang Korngold (incluindo duas belas canções: “Sweet Melody of Life” e “I Meant to Say I Love You” ) e as letras, de Oscar Hammerstein II.

cantoras gladys swarthout posterEm Valsa de Champanha, Gladys é Elsa Strauss, neta do dono de um palácio da valsa em Viena, prejudicado pela existência de um clube jazz, onde toca o trompetista Buzzy Bellew (Fred MacMurray). Em A Princesa e o Galã, Gladys é Illona Boros, jovem camponesa que consegue cantar na Ópera de Budapeste, disfarçando-se como uma princesa egípcia na entrevista com um famoso tenor (John Boles) e seu empresário (John Barrymore). Em Cilada por Acaso, Gladys é Jane Hartman, irmã de um assaltante de banco, obrigada a ludibriar um chofer de caminhão (Lloyd Nolan), para que ele ajude os ladrões a fugir. Nenhum dos filmes de Gladys era particularmente bom nem a tornaram uma grande estrela, Ela retornou à ópera, apresentando-se regularmente no Met até 1945. Gladys Swarthout foi casada duas vezes, a primeira vez com Harry Kern, gerente geral da empresa Hart-Schaffner Marx Company e a segunda vez com o tenor Frank M. Chapman, Jr. Ela conheceu Frank em 1929 na cidade de Florença onde, anos depois, Gladys viria a falecer.

CANTORAS DE ÓPERA NO CINEMA AMERICANO – I

Muito antes do advento do cinema falado, vários pioneiros usaram árias de óperas como base de suas experiências com sistemas de som. Outros realizadores decidiram aproveitar enredos de óperas nos seus filmes ou transformar cantores deste gênero musical em astros de cinema.

Neste artigo, apresento, por ordem alfabética, bio-filmografias resumidas das principais cantoras de ópera que trabalharam no cinema mudo americano.

Anna Case

Anna Case

cantoras anna case posterANNA CASE (1888-1984). Local de nascimento: Clinton, New Jersey, EUA. Filha de um ferreiro, aos 15 anos de idade Anna regia o côro e tocava piano em uma Igreja Protestante na sua comunidade, sem nunca ter tido lições de música. Ela começou a estudar com um professor local que, percebendo seu grande potencial como cantora, indicou-a para outro mestre em Nova York. Referida sempre como “A Cantora Favorita de Edison”, Anna estreou no Metropolitan Opera House em 1909, permanecendo na companhia até 1919, tendo sido Aida e Carmen considerados como seus melhores papéis. Em 1913, interpretou Sophie de Faninal na primeira apresentação no Met da ópera Der Rosenkavalier de Richard Strauss Ela começou a gravar em cilindros de cera para o grande inventor Thomas Alva Edison “Believe Me, If All Those Endearing Young Charms” e dois outros números, antes de gravar 98 Diamond Discs para a Edison Records. Anna aparecia frequentemente no palco demonstrando os “Tone Tests” de Edison, quando as luzes eram apagadas e a platéia tinha que adivinhar quando a cantora parava de cantar e o fonógrafo começava a tocar. Ela gravou somente um disco para a Victor e, depois de realizar um trabalho para o sistema Vitaphone, se transferiu para a Columbia, onde gravou 41 discos entre 1928 e 1930. Anna Case fez somente um filme, The Hidden Truth / 1919 (também conhecido como The Golden Hope), dirigido por Julius Steger e distribuído pela Select Pictures Corp.

Lina Cavalieri

Lina Cavalieri

LINA CAVALIERI (1874-1944). Nome verdadeiro: Natalina Cavalieri. Local de nascimento: Viterbo, Itália. Orfã aos 15 anos, Lina foi enviada para um orfanato católico, mas fugiu, juntando-se a um grupo teatral ambulante. Possuidora de uma bela voz, a jovem foi para Paris onde cantou em cafés e até no Folies Bergères. Desenvolvendo sua aptidão para o canto, de acordo com algumas fontes, ela estreou no palco aos 26 anos de idade, interpretando Mimi em La Bohème de Giacomo Puccini no teatro San Carlo em Nápoles; segundo outras fontes, o seu debute foi em Lisboa, no papel de Nedda em Pagliacci. De Ruggero Leoncavallo. O que é certo é que, depois de se divorciar de seu primeiro marido, o príncipe russo Sergei Bariatonsky, ela chegou aos Estados Unidos em 1906, para cantar no Metropolitan Opera House ao lado de Enrico Caruso, em Fedora de Umberto Giordano; no Met, a bela soprano cantou também nas óperas Manon Lescaut de Puccini e Adriana Lecouvreur de Francesco Cilea. Em 1913, Lina casou-se com o tenor francês Lucien Muratore (depois de ter terminado seu matrimônio de curta duração com Robert Winthrop Chanler, membro da família Astor de Nova York). Sua carreira estava virtualmente acabada porém com sua fama de “a mulher mais bonita do mundo” e sua conhecida paixão por jóias e roupas finíssimas ela aparecia constantemente na primeira páginas dos jornais e assim chegou ao cinema, ao lado de seu esposo, em Manon Lescaut / 1914 que, no entanto, não tinha nada a ver com a ópera mas sim com o romance Abade Prévost.

Lina Cavalieri em The Eternal Temptress

Lina Cavalieri em The Eternal Temptress

Lina Cavalieri

Lina Cavalieri

Depois desta estréia nas telas americanas, Lina fez dois filmes na Itália  (Esposa da Morte /La Sposa della Morte / 1915 e  Rosa de Granada /La Rosa di Granada / 1916) novamente com Lucien Muratore, e voltou para os Estados Unidos, onde fez quatro filmes para a Famous Players (A Eterna TentadoraThe Eternal Temptress / 1917, Gismonda ou Conquista do Coração / Love’s Conquest / 1918, Tesouro de ArteA Woman of Impulse / 1918, A Filha do Escultor / The Two Brides / 1919), o primeiro dirigido por Emile Chautard e os outros três, por Edward José – todos, com exceção de A Woman of Impulse, também não relacionados com o meio operístico. Após sua aposentadoria como cantora de ópera, Lina mudou-se para Paris, onde abriu uma salão de moda e então, na companhia de seu quarto marido, Paolo d’Arvani, fixou moradia em Florença. Durante um ataque áereo das forças aliadas à cidade em 1944, ela ficou preocupada com suas jóias, saiu do abrigo onde se encontrava, rumou para a sua casa a fim de apanhá-las, e foi morta. Sua vida foi retratada no filme A mulher mais bela do mundo / La donna píu bella del mondo / 1955, estrelado por Gina Lollobrigida.

Geraldine Farrar

Geraldine Farrar

GERALDINE FARRAR (1882-1967). Local de nascimento: Melrose, Massachusetts, EUA. A maior das estrelas que fizeram a transição do teatro lírico para a tela no tempo da cena silenciosa, era filha de um jogador de baseball Sidney “Syd” Farrar, e de sua esposa, Henrietta Barnes, ambos músicos amadores. Aos cinco anos de idade, ela começou a estudar música em Boston com Mrs. J. H. Long e Victor Capoul, e sucessivamente com Emma Thursby em Nova York (quando começou a dar recitais, chamando a atenção da cantora de ópera Nellie Melba; com o Marquês Ange-Pierre de Trabadelo em Paris; e Francesco Graziani em Berlim. Em 1901, Geraldine estreou como Marguerite na ópera Faust de Charles Gounod na Berlin Hofoper e, logo após o seu debute no palco, iniciou suas aulas com outra professora, Lilli Lehmann, que lhe ensinou a modelar sua voz Terminada a temporada em Berlim, ela partiu para a Ópera de Monte Carlo, onde cantou de 1904 a 1906, estreando em La Bohème de Puccini, ao lado de Enrico Caruso, que desempenharia um papel significativo como seu co-astro nos Estados Unidos. Depois, apresentou-se em Paris, Munique, Varsóvia e Salzburg, firmando uma reputação internacional. Na abertura da temporada de 1906-1907 do Metropolitan Opera House em Nova York, Geraldine estreou na companhia com a qual ficaria associada pelo resto de sua carreira.

Geraldine Farrar em Carmen

Geraldine Farrar em Carme

Geraldine Farrar em Jeanne D'Arc

Geraldine Farrar em Jeanne D’Arc

cantoras geraldune farar woman god forgotO primeiro filme de Geraldine Farrar, Carmen / Carmen / 1915 , foi dirigido por Cecil B. DeMille. Mesmo sem os espectadores ouvirem o som de sua voz, o espetáculo foi um sucesso, conquistando-lhe fãs, que não eram necessariamente fãs de ópera. Ela então deu início a uma segunda carreira como atriz de cinema, fazendo mais 13 filmes de longa-metragem: Tentação / Temptation / 1915, Maria Rosa ou Amor Vingado / Maria Rosa / 1915, Jeanne D’Arc e, em reprises, Joana D’Arc e A Donzela de Orleans / Jeanne D’Arc / 1916, A Mulher Que Deus Esqueceu / The Woman God Forgot / 1917, A Pedra do Diabo / The Devil Stone / 1917 (todos dirigidos por DeMille), O Ponto de Honra / Turn of the Wheel / 1918, Uma Fera! / The Hell Cat / 1918, Sombras do Passado / Shadows / 1919, Cruel  Juramento / The Stronger Vow / 1919, A Chama do Amor ou A Chama do Deserto / Flame of the Desert / 1919, Flor de Sevilha ou A Mulher e o Fantoche / The Woman and the Puppet / 1920 (todos dirigidos por Reginald Barker), O Mundo e suas Mulheres / The World and the Woman / 1919 (Dir: Frank Lloyd), O  Enigma – A Mulher / The Riddle: Woman /1920 (Dir: Edward José). Nenhum dos filmes foi sobre personagens de ópera. Todos confirmaram o talento de Geraldine para a arte dramática. O casamento de Geraldine com o ator Lou Tellegen em 1916, terminou, em consequência dos inúmeros casos amorosos de seu marido, por um divórcio muito divulgado pela imprensa em 1923, e o assunto voltou às manchetes dos jornais, quando Tellegen se suicidou em 1934, esfaqueando-se com uma tesoura. Geraldine deixou uma autobiografia: “Such Sweet Compulsion, escrita em 1938.

Mary Garden

Mary Garden

MARY GARDEN (1874-1967). Local de Nascimento: Aberdeen, Escócia. Quando tinha nove anos de idade sua família se mudou para Chicopee, Massachusetts, EUA, transferindo-se depois sucessivamente para Harford, Connecticut e Chicago, Illinois. Graças ao apoio financeiro de dois patronos das artes, David e Florence Mayer, pôde estudar com Marquês Ange-Pierre de Trabadelo e depois com Lucien Fugère. Em 1899, os Mayers suspenderam seu apoio a Mary em virtude de boatos sobre o seu comportamento escandaloso na Cidade-Luz. Alguns meses depois, ela estava sem poder pagar seu aluguel quando Silby Sanderson, uma cantora americana, abrigou-a, e lhe deu algum dinheiro. Através dos contatos de Sanderson, Mary conseguiu fazer um teste na Opéra-Comique, e, em janeiro de 1900, foi contratada pela companhia.

Mary Garden em Pelléas et Mélisande no palco.

Mary Garden em Pelléas et Mélisande

Um dos seus melhores papéis foi o de Mélisande em Pelléas et Mélisande de Claude Debussy. Em 1907, Mary assinou um contrato com Oscar Hammerstein para cantar na Manhattan Opera House e estreou em Nova York em Thäis de Jules Massenet, sendo aclamada como uma grande soprano operística. Após sua viagem exitosa aos EUA, Mary voltou para Paris, e continuou sua carreira no velho continente; mas continuou dividindo seu tempo entre a Europa e a América. Em 1917, Samuel Goldwyn contratou-a, pagando-lhe 10 mil dólares por semana, para fazer cinco d filmes, porém ela só fez dois. Tanto o primeiro filme, Thäis / Thäis, baseado no seu grande sucesso do palco (Dir: Hugo Ballin e Frank Hall Crane) quanto o segundo filme, Pecadora e Mártir / The Splendid Sinner/ 1918, passado durante a Primeira Guerra Mundial (Dir: Edwin Carewe), sem o benefício do som, não caíram no agrado do público. Durante a temporada 1921-1922, Mary dirigiu a Chicago Opera Association e continuou interpretando papéis principais em óperas. Após sua aposentadoria dos palcos em 1934, trabalhou como descobridora de talentos para a MGM e, em 1951, retornou à sua terra natal, e escreveu uma autobiografia, “Mary Garden’s Secrets”.

Beatriz Michelena em Mignon                                                                                                       Beatriz Michelena

BEATRIZ MICHELENA (1890-1942). Local de nascimento: Nova York, N.Y. EUA. Filha de Fernando Michelena, conhecido tenor venezuelano, que se apresentava em uma companhia itinerante pelos Estados Unidos. Influenciadas pelo pai, ela e sua irmã mais velha Vera também se dedicaram ao canto liríco. Vera iniciou uma carreira em Nova York e Beatriz continuou treinando com seu progenitor, que havia se estabelecido em San Francisco, Califórnia como professor. O sonho de Beatriz era se tornar “uma cantora de ópera maravilhosa”, porém seu plano de estudar no exterior foi abandonado, quando a guerra irrompeu na Europa. Em 1907, ela se casou com George E. Middleton, gerente da Middleton Car Company e filho de um magnata da indústria madeireira. Beatriz recebeu muitos aplausos no Garrick Theatre pelo seu papel em The White Hen, comédia musical passada na Austria e ainda apareceu em mais alguns espetáculos antes de se transferir para o cinema.

Em 1914, ela aceitou o convite para ser a estrela dos filmes da California Motion Picture Company (cujo estúdio era em San Rafael), estreando na tela em Salomy Jane, western baseado em história de Bret Harte, dirigido por Lucius Henderson e William Nigh, no qual contracenou com o ator inglês House Peters e William Pike. Beatriz fez ainda na California Motion Picture Company: Mrs. Wiggs of Cabbage Patch / 1914 (Dir: Harold Entwistle); The Woman Who Dared / 1916 (Dir:George Middleton); Rose of the Misty Pool / 1915; The Lily of Poverty Flat / 1915 (Dir: George Middleton); Mignon / 1915 (Dir: Alexander E. Beyfuss); A Phyllis of the Sierras / 1915 (Dir: George Middleton); Salvation Nell / 1915 (Dir: George Middleton); The Unwritten Law / 1916 (Dir: George Middleton) e Faust, cuja filmagem foi iniciada, mas depois interrompida, quando o presidente da California Motion Picture Company, Herbert Payne, fechou a companhia e pediu falência. MIddleton e Beatriz compraram o estúdio chamando-o de Michelena Studios e sua companhia foi denominada Beatriz Michelena Features.

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O novo filme, Just Squaw / 1919, girava em torno de uma índia, Fawn que se apaixona por um homem branco, mas depois descobre que era biologicamente branca, pois fora sequestrada pela índia que ela pensava que era sua mãe. O filme foi exibido durante uma semana em San Francisco, mas não deu nenhum lucro. Parece que o novo distribuidor dos filmes da Michelena Features encontrou dificuldade para encontrar o mercado certo para as produções seguintes da empresa, outros dois westerns, Heart of Juanita / 1920 e The Flame of Hellgate / 1920. Após a filmagem deste último, Middleton e Beatriz pararam de fazer filmes juntos. Ela voltou a se apresentar como cantora e ele, a vender seus carros. Divorciaram-se em meados dos anos vinte.

Bertha Kalich

Bertha Kalich

BERTHA KALICH (1874-1939). Nome verdadeiro: Beylke Kalakh. Local de Nascimento: Lemberg, Galicia, Austria-Hungria (hoje Lviv, Ucrânia). Filha única de Solomon Kalakh, modesto fabricante de escovas e violinista amador) e Babette Kalakh, costureira que fazia trajes para os teatros locais. Ela aprendeu a cantar na Czatzki, escola judaica particular de música e arte dramática. Aos treze anos de idade, ela ingressou no Teatro de Ópera Skarbek, onde integrou o côro formado por adultos. Seu primeiro papel foi na ópera La Traviata de Giuseppe Verdi. Em um ano, Bertha aprendeu a falar alemão e Jaakov Ber Gimpel, convidou-a para ser a prima donna de seu recém-criado teatro ídiche. Ela estreou na opereta Shulamith de Abraham Goldfaden e após algumas representações com a troupe de Goldfaden na Romênia e na Hungria, Bertha, já casada com Leopold Spachner (que se tornaria seu agente), aceitou o convite de Joseph Edelstein para se apresentar no seu Thalia Theater em Nova York, onde chegou em 1895. A princípio, ela atuou em peças ídiche clássicas mas depois, quís dar mais ênfase ao seu talento dramático do que ao musical, interpretando papéis principais em adaptações das tragédias de Shakespeare.

Bertha Kalich

Bertha Kalich

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Os fãs compararam Bertha a outra intérprete feminina de Hamlet, Sarah Bernhardt, e muitos jornais passaram a chamá-la de “Bernhardt Judia”. Seu primeiro papel no idioma inglês na peça Fedora de Victorien Sardou, chamou a atenção do dramaturgo, empresário e Harrison Grey Fiske, que a contratou para a produção de Monna Vanna de Maurice Maeterlinck no Manhattan Theatre. Ela treinou durante meses com a atriz Minnie Maddern Fiske (esposa de Harrison, conhecida profissionalmente como Mrs. Fiske), para corrigir seu sotaque estrangeiro, porém não foi totalmente bem sucedida no seu esforço. Nos próximos anos, Bertha trabalhou para Fiske até 1910 e posteriormente para Lee Shubert e repetiu em inglês alguns de seus sucessos em ídiche. Em 1914, Bertha fez cinco filmes em Hollywood: The Bomb Boy / 1914 (Dir: George Fitzmaurice) para a Manhattan Film Company; Bruto! ou Marta das Terras Baixas / Marta of the Lowlands / 1914 (Dir: J. Searle Dawley para a Famous Players; O Caluniador / Slander (Dir: Will S. Davis), Ambição / Ambition / 1916 e Amor e Ódio / Love and Hate / 1916 (ambos dirigidos por James Vincent) para a Fox Film Corp. Nenhum deles foi bem aprovado e a carreira dela no cinema se encerrou.

Ganna Walska

Ganna Walska

GANNA WALSKA (1887-1984). Nome verdadeiro: Hanna Puacz. Local de Nascimento: Brest-Litovsk, Belarus. De origem humilde, ainda adolescente, ela fugiu com um conde russo, Arcadie d’Einghorn, com quem se casou em 1904. Hanna estreou no palco, em Kiev, como Sonia na opereta A Viúva Alegre de Franz Lehár. Dois anos depois, divorciada do conde, prosseguiu sua carreira na Europa, onde adotou o nome de Ganna Walska. Diante da ameaça da Primeira Guerra Mundial, Ganna mudou-se de Paris para Nova York, onde conheceu e se casou (em 1916) com o endocrinologista Dr. Joseph Fraenkel,. Ele curou sua laringite, e aliviou seu desejo desesperado por segurança financeira e um lar. Foi nessa época que ela encontrou o industrial Harold Fowley McCormick – herdeiro da fortuna da International Harvester e patrono generoso da Chicago Opera Company – com o qual teria um longo relacionamento. Ganna interessou-se também por misticismo e pelo “sentido da vida”, praticando ioga e explorando astrologia, meditação e telepatia. Em 1920, Fraenkel morreu após uma doença prolongada. Exausta e deprimida, Ganna decidiu passar umas férias em Paris e, a bordo do vapor Aquitania, encontrou Alexander Smith Cochran, então conhecido como “o solteiro mais rico do mundo”. Eles contraíram matrimônio ainda no mesmo ano da morte de Fraenkel. Segundo ela própria contou nas suas memórias, “There’s Always Room At The Top”, Alexander foi ficando cada vez mais com ciúme de sua carreira e da sua amizade contínua com Harold McCormick. Quando Ganna se divorciou de Alexander em 1922, McCormick se tornou seu novo marido, e financiou sua carreira então em declínio, comprando o Theâtre des Champs Elysées em Paris, como um local para ela se apresentar.

Harold e Ganna

Harold e Ganna

Em 1931, Ganna recusou-se a deixar Paris e a viver com Harold em Chicago, e ele se divorciou dela, alegando deserção. O próximo enlace de Ganna ocorreu em 1938, com Harry Grindell Matthews, inventor do Raio da Morte, dispositivo experimental que podia desativar o motor de um automóvel por controle remoto. Embora o casal compartilhasse o amor pela ópera, ela o achava pouco atraente. Matthews ficou tão deprimido, que parou de trabalhar, deixando os funcionários do governo inglês preocupados, pensando que ele poderia se matar, antes que sua invenção de um aparelho para detectar submarinos na defesa de Londres, pudesse chegar às mãos do Ministro da Guerra. Infelizmente, Matthews foi mais um marido infeliz e ciumento e Ganna, aproveitou a iminente Segunda Guerra Mundial como uma desculpa para retornar à América. Ela foi informada por telegrama, que Harry morrera de um ataque do coração em 1941. Nos Estados Unidos, Ganna se apaixonou por um homem vinte anos mais jovem do que ela, Theos Bernard, conhecido como “The White Lama”, título devido às suas experiências no Tibete. Theos logo passou a influenciar a vida de Ganna encorajando-a a comprar uma propriedade em Montecito, perto de Santa Barbara na Califórnia, conhecida como Cuesta Linda, e a denominá-la de “Tibetland” com o objetivo de transformá-la em um refúgio de lamas tibetanos e local para a “execução da sua obra sagrada”. Ganna e Theos casaram-se secretamente em 1942, porém o matrimônio durou pouco. Eles se divorciaram em 1946, e ele morreu no ano seguinte. Ganna finalmente declarou sua independência e rebatizou sua propriedade de “Lotusland” por causa das flores de lótus da Índia raras existentes no seu jardim

Ganna e seu jardim de plantas exóticas

Ganna e seu jardim de plantas exóticas

Ela passou os quarenta anos seguintes de sua vida dedicando-se à jardinagem e adquirindo uma variedade espantosa de plantas exóticas. Embora seja comumente conhecido como uma biografia ficcionalizada de William Randolph Hearst, o filme de Orson Welles, Cidadão Kane / Citizen Kane / 1941 foi baseado em parte na vida de Horace McCormick e Ganna Walska e, ao escrever o roteiro, Herman J. Mankiewicz se inspirou ainda em outro casal, o magnata Samuel Insull e sua esposa, a atriz Gladys Wallis. Quando era crítico de teatro do The New York Times, depois de assistir a uma reprise da peça The School for Scandal, com Gladys, então uma senhora de 56 anos no papel de uma jovem de 18 anos, chegou à redação cheio de álcool e de fúria, porque sabia que fora Insull, que patrocinara toda a produção, para incluir sua mulher no elenco da peça. Ele escreveu uma crônica arrasadora, chamando-a de incompetente, antes de cair de sono em cima de sua máquina de escrever. Mankiewicz ressuscitou esta experiência ao escrever o roteiro de Cidadão Kane, incorporando na narrativa o personagem do crítico Jedediah Leland, interpretado por Joseph Cotten

cantoras ganna walska chikld of destiny posterNo filme, após a estréia catastrófica na ópera de Susan Alexander, a segunda esposa de Kane, Leland volta para a redação do Inquirer bêbado, e adormece sobre a sua máquina de escrever, depois de redigir a primeira frase de sua resenha crítica: “Miss Alexander, uma linda mas incompetente amadora…” Em 1916, a soprano Ganna Walska apareceu (creditada como Madame Ganna Walska) no drama The Child of Destiny, dirigido por William Nigh. No enredo, Ganna interpreta o papel de Constance, esposa infiel de Bob Stange (Robert Elliottt). Este se apaixona por Alita (Irene Fenwick), jovem criada nas montanhas. Constance nega-lhe o divórcio mas, ao descobrir que a garota é a filha que abandonara, suicida-se, para que Bob e Alita possam se unir para sempre.