Quando se fala em astros infantís do passado, as pessoas se lembram de Shirley Temple, Mickey Rooney, Judy Garland, Deanna Durbin, Jackie Cooper, Freddie Bartholomew, Margaret O’Brien etc., porém intérpretes mirins de muita popularidade já existiam antes do advento do som.
Deixando de lado Mary Pickford, que embora tivesse desempenhado muitos papéis de menina, não era uma child star propriamente dita e a turma da série Os Peraltas / Our Gang porque formavam um grupo, que foi sendo modificado através dos anos, relembro, de maneira sucinta, os principais astros infantís de Hollywood no período silencioso.
HELEN BADGLEY (1908-1977).
Nasceu em Saratoga Springs, Nova York e, aos três anos de idade já estava aparecendo no seu primeiro filme, Brother’s Bob’s Baby / 1911. Em 1912, ela trabalhou em onze filmes e, em 1913, este número subiu para vinte e três. Quando tinha seis anos, a pequenina atriz perdeu seus dois dentes de leite da frente e se afastou das telas até que os novos dentes nascessem. Ao todo fez 103 filmes e estava entre os artistas mais conhecidos da Thanhouser de sua época, ganhando o apelido de “The Thanhouser Kidlet”. A Thanhouser Film Corporation foi fundada em 1909 pelo empresário teatral Edwin Thanhouser, que costumava incluir outras crianças nos seus filmes tais como Marie Eline (The Thanhouser Kid”) e Marion and Madeleine Fairbanks (“The Thanhouser Twins”), mas elas não alcançaram a mesma fama que Helen. Talvez seu filme mais conhecido tenha sido Zudora ou O Mistério de 20 Milhões de Dólares (obs. lançado em São Paulo com o título de O Detetive Misterioso) / Zudora, seriado estrelado por Marguerite Snow e James Cruze, produzido em 1917, ano em que Helen encerrou suas atividades na companhia.
WESLEY BARRY (1907-1994).
Nasceu em Los Angeles, Califórnia e tinha sete anos de idade quando foi aproveitado pela Kalem Company, cujo estúdio ficava perto de sua casa. A princípio ele não chamou muita atenção, principalmente porque, nos primeiros tempos do cinema, tudo que fosse considerado um defeito facial era coberto com maquilagem, e o rosto de Wesley estava cheio de sardas. Foi o diretor Marshall Neilan que percebeu algo de especial no menino, contratou-o para a sua companhia produtora, e o colocou (em Rebeca / Rebecca of Sunnybrook Farm, grande êxito de Mary Pickford) diante das câmeras sem maquilagem, deixando um punhado de seu cabelo avermelhado despenteado. Wesley começou a se destacar e os fãs do cinema mudo tiveram a satisfação de vê-lo atuar, por exemplo, mais uma vez em um filme de Mary Pickford nas cenas de orfanato de Papaizinho Pernilongo / Daddy Long Legs / 1919, ou como o criadinho bisbilhoteiro Buttons, que espia pelo buraco da fechadura do quarto de Gloria Swanson até ser surpreendido pelo mordomo Crichton em Macho e Fêmea ou De Fidalgo a Escrava / Male and Female / 1919
JACKIE COOGAN (1914-1984).
John Leslie “Jackie” Coogan Jr. nasceu em Los Angeles, Califórnia no seio de uma família do show business. Seu pai, John H. Coogan, era ator e dançarino e sua mãe havia sido atriz infantil no teatro. Com apenas dezoito mêses de vida Jackie apareceu, sem ser creditado, em um filme intitulado Skinner’s Baby / 1917 e, aos cinco anos de idade, começou a excursionar com a família em espetáculos de vaudeville. Desde algum tempo, Charles Chaplin vinha planejando um filme chamado The Waif, mas ficava sempre adiando a realização do projeto, porque não conseguia encontrar o menino certo para atuar a seu lado. Quando Chaplin o viu dançando em um dos prólogos de Sid Grauman (intitulado “The 1920 Bathing Girl Revue”) apresentado antes da exibição do filme A Filha do Contrabandista / A Daughter of the Wolf / 1919 com Lila Lee), teve a certeza de que sua busca havia terminado. Para testar Jackie, Chaplin colocou-o em Um Dia de Prazer ou Um Dia Bem Passado / A Day’s Pleasure / 1919, e ele o convenceu definitivamente de que tinha qualidades para se tornar um astro. Chaplin contratou-o, por 75 dólares semanais,
28/10/1922 anúncio sobre o filme 30 Jackies Coogan realizado por A. (Alberto Mancio) Botelho sobre o que foi o Concurso Odeon promovido por Francisco Serrador para promover O Garotinho. Realizado no Cinema Odeon, o concurso visava apurar qual a criança mais capaz de imitar o pequeno artista. Disputaram cerca de 30 candidatos.
VIRGINIA LEE CORBIN (1910-1942).
Virginia LaVerne Corbin (mudando depois o La Verne por Lee) nasceu em Prescott, Arizona e. além de talentosa, era uma criança bonita. Com dois anos de idade, posou para a Art Calendar Company de Nova York, entre outros empregos, como modelo.Não se sabe ao certo como Virginia entrou para o cinema. Existem várias versões, sendo uma delas a que diz que, em 1915, os pais de Virginia se mudaram para Los Angeles. Mr. Corbin levou Virginia consigo para visitar um estúdio. Um dos diretores viu a menina e insistiu para que ela trabalhasse durante um dia em uma produção que ele estava dirigindo. Ela se saiu tão bem, “que não a largaram mais”. Segundo outra versão, Virginia foi descoberta por um diretor quando assistia sua irmã, Ruth Corbin, três anos mais velha que ela, representar uma cena em um filme da Balboa Amusement Producing Company dos irmãos H.M. e Elwood Horkheimer. Pelo que parece, Ruth foi obviamente ofuscada pela sua irmã mais nova e pouca informação pode ser encontrada a respeito dela. Quanto aos primeiros filmes de Virginia também há discordância. O primeiro filme atribuído a Virginia no Catalog of Feature Films do American Film Institute é Heart Strings / 1917, produzido pela Universal e estrelado por Allan Holubar (também diretor) e Francelia Billington. Não se sabe quando ela completou seu trabalho em Heart Strings mas, em outubro de 1916, ela já assinara contrato com a Fox Film Company, uma mudança que lhe abriria caminho para se tornar uma verdadeira estrela. Em 1917, Virginia fez (acompanhada por outras crianças, Francis Carpenter, Carmen De Rue e Violet Radcliffe – que quase sempre fazia os papéis de “vilão”), quatro “Kiddies Features”: Joãosinho, o Matador de Gigantes /
vários estúdios, destacando-se duas comédias, Golpes de Audácia / Hands Up! / 1926, na qual Virginia e Marian Nixon são duas irmãs apaixonadas por um espião confederado, interpretado por Raymond Griffith (que perdeu a voz e não pôde expandir seus dotes de excelente comediante no cinema sonoro) e Que Escândalo / The Whole Town’s Talking / 1926, na qual Virginia contracena com outro comediante admirável, Edward Everett Horton. O primeiro filme eu vi, e adorei; o segundo, somente pelo seu enredo percebe-se que deve ser muito bom. Horton é Chester Binney, veterano da Primeira Guerra Mundial, que volta para casa pensando que lhe puseram uma placa de aço na cabeça e acha que deve evitar qualquer excitação. Seu patrão tenta arranjar um casamento entre ele (que herdou uma fortuna) e sua filha Ethel (Virginia Corbin), porém ela não se anima, achando-o pouco sedutor. O pai então divulga uma fotografia de uma atriz de cinema famosa (Dolores Del Rio), dedicada a Chester. O marido ciumento da atriz fica sabendo da história e surgem as complicações. O primeiro filme falado de Virginia foi Mademoiselle Fifi / Footlights and Fools / 1931 , seguindo-se no mesmo ano Trágica Aventura / X Marks the Spot, Morals for Women, Shotgun Pass (um western de Tim McCoy) e Forgotten Women, com o qual encerrou sua trajetória fílmica.
PHILIPPE DE LACY (1917-1995).
Nasceu em Nancy, França durante um ataque áereo no qual sua mãe foi tragicamente morta. Ele foi adotado por Mrs. Edith De Lacy, que estava associada com o Woman’s Overseas Hospital. Quando a Guerra terminou, Mrs. De Lacy levou Philippe para a América, onde a bela aparência do menino logo lhe criou oportunidades de trabalhar como modelo para anúncios de revistas. Seus compromissos como modelo chamaram a atenção de Hollywood e ele apareceu em seu primeiro filme em um pequeno papel com a idade de quatro anos. Nos anos vinte, Philippe atuou como freelancer para vários estúdios mas, na maioria das vêzes, para a Paramount. Eis alguns exemplos: em 1923 ele foi o irmão de Rosita (Mary Pickford) em Rosita / Rosita de Ernst
Lubitsch; em 1924, ele interpretou o papel de Michael Darling em Peter Pan / Peter Pan, estrelada por Betty Bronson; em 1926, encarnou Don Juan com dez anos de idade em Don Juan / Don Juan, personificado por John Barrymore na vida adulta e o jovem Digby Geste, em Beau Geste / Beau Geste; em 1927, Philippe era o príncipe herdeiro Karl Franz no filme de Ernst Lubitsch, O Príncipe Estudante / The Student Prince in Old Heidelberg, estrelado por Ramon Novarro e Norma Shearer. Ainda em 1927, Philippe estava ao lado de Greta Garbo e John Gilbert em Anna Karenina / Love, uma versão da obra Anna Karenina de Tostoi. Neste filme, ele interpretava o papel do filho de Anna, Serezha Karenin. Quando chegou o cinema falado, a carreira de ator de Philippe estava em declínio e ele se retirou do cinema em 1931. Daí para frente, durante muitos anos, concentrou-se em outros ramos da atividade cinematográfica e na publicidade. Foi assistente do diretor Louis De Rochemont, contribuindo como diretor técnico no documentário We Are The Marines / 1942; funcionou como associado editorial no documentário Belonave / The Fighting Lady / 1944; dirigiu (com Robert L. Bendick) o documentário Cinerama Holiday / 1955 – produzido por De Rochemont; foi executivo da agência de publicidade J. Walter Thompson.
JANE LEE (1912-1957) e KATHERINE LEE (1909-1968).
Nasceram em Glasgow, Escócia. Trabalharam no vaudeville em Nova York e Londres. No cinema, as duas atuaram sozinhas ou juntas em vários filmes curtos e/ou longas-metragens. Katherine começou a chamar atenção, interpretando o papel da Princesa Gloria, personagem de Annette Kellerman quando criança em A Filha de Netuno / Neptune’s Daughter / 1914, do qual Jane não participou. Entre os filmes que fizeram depois, estavam algumas produções dirigidas por Herbert Brenon e / ou J. Gordon Edwards (vg. sob a direção de Brenon, Jane atuou sozinha em Infidelidade / The Clemenceau Case / 1915 e com Katherine em Uma Filha dos Deuses / A Daughter of the Gods / 1916; sob direção de J. Gordon Edwards, Katherine atuou sozinha em Chamas do Ódio / The Galley Slave / 1915 e com Jane em Romeu e Julieta / Romeo and Juliet / 1916 – todos esses filmes foram estrelados por Theda Bara com exceção de Uma Filha dos Deuses, que tinha como atriz principal Annette Kellerman). Juntas, elas fizeram vários filmes com os diretores Arvid E. Gilsstrom, Kenean Buel e John G. Adolfi, e ambas deixaram as telas em 1936.
BABY MARIE OSBORNE (1911-2010).
Helen Alice Myers nasceu em Denver, Colorado e logo se tornou – sob misteriosas circunstâncias – filha adotiva de Leon e Edith Osborn, que passaram a chamá-la de Marie e acrescentaram um “e” ao seu sobrenome, provavelmente para ocultar a adoção. Em 1914, os Osbornes se mudaram para Long Beach na Califórnia. Edith era uma atriz com o nome artístico de Babe St. Clair e Leon, um agente teatral. Eles alugaram um quarto e, sem terem condições de pagar uma babá, levaram Marie com eles ao Balboa Studios, onde arrumaram trabalho no cinema silencioso. A graciosa menina despertou a atenção do pessoal do estúdio a colocou em um filme chamado Kidnapped in New York. Em 1915- 1917, Henry King dirigiu oito filmes com ela, sendo que um
deles, O Anjinho Louro /Little Miss Sunshine, escrito especialmente para ela, fez um grande sucesso, tornando-a uma estrela internacional. Entretanto, o diretor que trabalhou mais com Marie foi William Bertram, dirigindo-a em 11 filmes, produzidos pela Diondo Film Company, cujo vice-presidente era Leon Osborne, o pai adotivo de Marie: Sentimento Patriótico / The Little Patriot /1917; A Bebê do Papai / Daddy’s Girl / 1918, O Concurso de Marieta / Dolly Does Her Bit / 1918; Uma Filha da Região Mineira / A Daughter of the West / 1918; A Voz do Destino / The Voice of Destiny / 1918; Cupido por Procuração / Cupid by
BABY PEGGY (1918 – ).
Margaret (“Peggy Jean”) Montgomery nasceu em San Diego, Califórnia Seu pai, Jack Montgomery era dublê de Tom Mix. Peggy foi “descoberta” com a idade de dezenove mêses, quando sua mãe e um amigo que era figurante a levaram em uma visita ao Century Studios em Sunset Boulevard. Impressionado com menina, o diretor Fred Fishback colocou-a em um filme curto, Playmates / 1921, com o astro canino Brownie, the Wonder Dog. O filme foi um sucesso, e Peggy assinou contrato de longo têrmo com a Century, atuando em vários outros filmes com Brownie. Entre 1921 e 1924, ela fez paródias de longas-metragens entre os quais Artista de Cinema / Peg O’ The Movies / 1923 (fazendo deliciosas imitações de Pola Negri e Rudolph Valentino), Estrela Mirim / Little Miss Hollywood / 1923 (imitando Harold Lloyd, Carlitos e a vampiresca Estelle Taylor) e Carmen Junior
artístico ”Peggy Montgomery” durou muito pouco. A ex-estrela infantil viveu em condições difíceis e sofreu abalos nervosos por muitos anos até que encontrou uma nova e inesperada carreira como editora de livros e escritora, usando o pseudônimo “Diana Serra Cary”. Como autora publicou: “The Hollywood Posse: The Story of a Gallant Band of Horsemen Who Made Movie History”; “Hollywood’s Children: An Inside Account of the Child Star Era”; Jackie Coogan: The World’s Boy King: A Biography of Hollywoood’s Legendary Child Star” e “What Happened to Baby Peggy: The Autobiography of Hollywood’s Pioneer Child Star”.
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