Na Grã Bretanha não se formou um oligopólio de grandes companhias, dominando o mercado como nos Estados Unidos, mas existiu um sistema de estúdio. No começo do cinema falado, os estúdios britânicos copiavam auto-conscientemente o modelo norte-americano, mantendo artistas com contratos de sete anos e criando departamentos de roteiros e publicidade separados. Quando Alexander Korda se estabeleceu em Denham nos meados dos anos trinta, o estúdio tinha sete palcos de som e seus próprios laboratórios. Pinewood, inaugurado em 1935, era ainda maior. Assim como a Warner Bros. durante a Depressão se especializou em filmes de gangster e musicais escapistas e a MGM sob o comando de Irving Thalberg ficou famosa por seus filmes luxuosos cheios de astros e estrelas, alguns estúdios e companhias britânicos ficaram conhecidos por se dedicarem a determinados gêneros. Gainsborough ficou marcada por seus melodramas de época; Ealing pelas suas comédias que, como disse o patrão Michael Balcon, “projetavam a Grã Bretanha e o caráter britânico”; e Bray, em Berkshire, tornou-se a casa dos filmes de horror da Hammer.
Hoje em dia não existe mais um sistema de estúdio, nem nos Estados Unidos, simplesmente porque não há uma continuidade de produção. Em vez de um sistema centralizado, os filmes são oferecidos como pacotes pelos produtores, financistas e agentes como algo exclusivo.
Neste artigo – com o auxílio principalmente de British Film Studios de Patricia Warren (B.T. Batsford, 1995), Film Making in 1930s Britain de Rachel Low (George Allen & Unwin, 1985), The British Film Catalog 1895-1970 de Dennis Gifford (McGrawHill, 1973) e The Film Business – A History of British Cinema 1896-1972 de Ernest Betts (Pitman, 1973), procuro dar, em ordem alfabética e sem a pretensão de esgotar o assunto, alguma informação sobre os principais estúdios britânicos até os anos sessenta e, através deles, um pouco de história do cinema inglês e do intercâmbio artístico anglo-americano.
BEACONSFIELD
O Beaconsfield Studios em Buckinghamshire foi inaugurado oficialmente pelo seu dono, George Clark, produtor sediado no Soho, na primavera de 1922. Ele escolheu esse lugar por três razões principais: fugir do notório nevoeiro londrino (e assim ter condições para filmar sob a luz do dia), ter fácil acesso a Londres por meio de um transporte ferroviário, e um cenário campestre para as cenas em exteriores.
No estúdio, a George Clark Productions, realizou comédias de dois rolos (vg. Fox Farm / 1922; The Starlit Garden / 1923) com a dupla Guy Newall e sua esposa, Ivy Duke e direção de Newall. Porém os tempos eram difíceis e, embora Clark tivesse alugado o estúdio para a Pathé fazer filmes inglêses sob a marca Britannia (produzidos por Frank Powell) e para a Anglia Films (fundada em 1923 por Archibald Nettlefold), a produção cessou no limiar de 1925.
O estúdio ficou abandonado e, quando a British Lion Film Corporation de Sam (Samuel) W. (Woolf) Smith o adquiriu em 1927, estava em uma condição precária. A British Lion comprou Beaconsfield com a intenção de filmar os romances de Edgar Wallace, que havia cedido à companhia os direitos de filmagem de sua obra e sido convidado para fazer parte de sua diretoria. Sam Smith modernizou o estúdio, e fez logo The Forger / 1928 (Lillian Rich, James Raglan); Chick / 1928 (Bramwell Fletcher, Chili Bouchier); The Flying Squad / 1929 (Dorothy Bartlem, Donald Calthrop); The Clue of the New Pin / 1929 (Benita Hume, Donald Calthrop), o primeiro filme britânico todo falado. Entretanto, um ano depois de The Clue of the New Pin, a British Lion enfrentou dificuldades financeiras. Edgar Wallace foi para Hollywood, onde faleceu em 1932 cheio de dívidas.
Edgar Wallace
No início dos anos trinta, enquanto esperava o seu novo estúdio ficar pronto, a Gainsborough / Gaumont-British usou o Beaconsfield Studios para a filmagem de Sally in Our Alley / 1931 (Gracie Fields, Ian Hunter) e, além de uns “quota quickies” (ver significação do termo mais adiante), foram feitos no estúdio: The Calendar / 1931 (Edna Best, Herbert Marshall), The Water Gipsies (Ann Todd, Ian Hunter, Sari Maritza); There Goes the Bride / 1932 (Jessie Matthews, Owen Nares); The Frightened Lady / 1932 (Emlyn Williams, Cathleen Nesbitt); Gay Love / 1934 (com uma dupla curiosa: Sophie Tucker, cantora, dançarina e atriz americana e Florence Desmond, atriz que costumava imitar estrelas famosas nos palcos londrinos). Em 1936, a British Lion se juntou à Hammer Productions de Will Hinds para co-produzir A Canção da Liberdade / Songs of Freedom e Big Fella (ambos com ator e cantor Paul Robeson e Elizabeth Welch).
Paul Robeson e Elizabeth Welch em A Canção da Liberdade
Em meados de 1937, a British Lion, ainda presidida por Sam Smith, ficou novamente em situação financeira difícil e cessou suas produções até meados de 1938. Daí em diante, Herbert Wilcox alugou o estúdio para fazer Not Wanted on Voyage / 1936 (Bebe Daniels, Ben Lyon, Charles Farrell); The Return of the Frog / 1938 (Gordon Hacker, René Ray), baseado em romance de Edgar Wallace; The Chinese Bungalow / 1940 (Paul Lukas, Kay Walsh, Jane Baxter).
Com a irrupção da Segunda Guerra Mundial, o Beaconsfield Studios foi requisitado pelo Ministério de Obras Públicas para a Rotax Limited, que fabricava magnetos para motores de aeronaves. Embora o estúdio ainda estivesse alugado ao Ministério de Obras Públicas em 1947, a British Lion – que a essa altura controlava 74% da Sound City Film e seu estúdio em Shepperton e 50% do Worton Hall Studios em Isleworth, assim como o Beaconsfield – foi vendida para a London Films de Alexander Korda, com a morte de Sam Smith no mesmo ano. Korda comprou os 50% restantes de Worton Hall e o controle total de Shepperton. Essas novas aquisições preencheram o lugar de Beaconsfield, que foi reequipado pelo governo para ser utilizado pela Crown Film Unit, finalmente desativada em 1952. Posteriormente, o estúdio foi usado pela National Film Finance Corporation (agência governamental de financiamento para a produção de filmes) e pela Independent Artists (fundada por Julian Wintle em 1950), serviu como um depósito para a North Thames Gas Board e, em 1971, foi vendido para a National Film School. Em 1983, tornou-se a National Film and Television School, financiada através de uma parceria entre o governo e a indústria de cinema, televisão e vídeo.
BRAY
Tal como os estúdios de Pinewood e Shepperton, o Bray Studios fora outrora uma esplêndida residência particular. Down Place, mansão campestre do século XVII, era de propriedade de Jacob Tonson, eminente livreiro da época. Situada em Berkshire, permaneceu como moradia particular até 1949, quando foi vendida, e logo depois transformada no Bray Studios.
Bray Studios
O Bray Film Studios será sempre associado com a Hammer Film Productions, fundada em 1934 por William Hinds (joalheiro que algumas vezes se apresentava como comediante no music hall, usando o nome artístico de Will Hammer). Em 1937, Hinds abriu, com Enrique Carreras, a distribuidora Exclusive Films, cujo escritório localizava-se na Wardour Street, no Soho. Em 1936, essa “House of Hammer” original se associou à British Lion, para produzir dois filmes com Paul Robeson, e funcionou até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando uma nova Hammer foi constituída em Bray por Hinds e Carreras e seus filhos, Anthony Hinds e James Carreras.
No início dos anos cinquenta, a produção da Hammer Films incluía versões de baixo orçamento de séries radiofônicas de sucesso (vg. The Man in Black (Sidney James, Betty Ann Davies); The Adventures of P.C. 4. / 1949 (Hugh Latimer, Annette Simmonds) e filmes também baratos com intérpretes americanos (The Stranger Came Home / 1954 (Paulette Goddard); The Glass Cage / 1955 (John Ireland); Break in the Circle / 1955 (Forrest Tucker).
Em meados dos anos cinquenta, Carreras adquiriu os direitos de filmagem de uma série de televisão, resultando Terror que Mata / The Quatermass Xperiment / 1955. O sucesso do filme (com Brian Donlevy, Jack Warner) foi tão fenomenal, que a companhia decidiu se concentrar na fórmula do horror (Mais informações sobre a produção Hammer ver meu artigo de 1 de janeiro de 2012, “Os Filmes da Hammer “). O último filme da companhia feito em Bray foi O Sarcófago Maldito / The Mummy’s Shroud / 1967. Nos anos seguintes o estúdio continuou em atividade, passando pelas mãos de vários proprietários.
CRICKLEWOOD
Em 1919, o dono de teatro Sir Oswald Stoll decidiu ingressar na indústria cinematográfica britânica. Ele havia fundado a Stoll Picture Productions e, em 1920, comprou uma antiga fábrica de aviões em Cricklewood, convertendo-o em um estúdio onde, seguindo a tendência corrente na época, realizou adaptações de romances e peças populares como The Glorious Adventure / 1922 (Diana Manners, Flora le Breton, Victor McLaglen), filmado pelo americano J. Stuart Blackton no sistema bicolor Prizma; The Virgin Queen / 1923 (Diana Manners, Carlyle Blackwell); Becket / 1923 (Frank Benson, A. V. Brumble); Don Quixote / 1923 (Jerrold Robertshaw/ Don Quixote, George Robey / Sancho Pança).
Sir “Harry” Lauder
Betty Balfour
Em 1926, a Welsh-Pearson alugou o estúdio para a sua estrela Betty Balfour atuar em Blink Eyes e, um ano depois, Sir Henry “Harry” Lauder (ator e cantor escocês do music hall, famoso internacionalmente pela sua indumentária de saiote masculino e bengala) aparecer no seu primeiro longa-metragem, Hunting Tower. No final dos anos vinte, Herbert Wilcox fez The Woman in White com Blanche Sweet para a sua British and Dominions Company e o comediante Harry Tate filmou alguns de seus esquetes lá. Nos anos trinta, Cricklewood produziu um certo número de “quota quickies” como vg. Such is the Law / 1930 (Lady Tree, C. Aubrey Smith); Dick Turpin, o Cavaleiro Audaz / Dick Turpin / 1934 (Victor McLaglen); Joe Rock fez algumas comédias com Leslie Fuller; e a Butchers Film Service (administrada pelo produtor pioneiro F. W. (Francis William) Baker, em atividade desde 1897) também realizou alguns filmes no mesmo local, usando principalmente a marca Butcher-Panther. Em 1938, Cricklewood foi vendido para fins não-cinematográficos.
DENHAM
Por causa da situação política de 1919, o húngaro Alexander Korda, dono de um dos maiores estúdios de Budapeste, decidiu sair de sua terra natal acompanhado por sua protegida Maria Corda, com quem havia de casado. Ele continuou sua carreira na Austria e na Alemanha e, em 1926, foi para os Estados Unidos, onde ficou até 1930. Um dos filmes que fez em Hollywood, tendo Maria Corda como estrela, foi A Vida Privada de Helena de Tróia / The Private Life of Helen of Troy / 1927, romance histórico que serviu de modelo para muitos de seus filmes futuros. Em 1931, retornou à Europa e, um ano depois, fundou sua própria companhia, London Film Productions. Dois sucessos marcantes de Korda foram Os Amores de Henrique VIII / The Private Life of Henry VIII / 1933 (Charles Laughton, Robert Donat, Merle Oberon) e O Pimpinela Escarlate / The Scarlet Pimpernel / 1934 (Leslie Howard, Merle Oberon, Raymond Massey). Korda ajudou muito a carreira de seus dois irmãos, Zoltan, que era também diretor, e Vincent, diretor de arte.
Alexander Korda
Maria Corda em A Vida Privada de Helena de Tróia
O êxito dos espetáculos mencionados atraiu a atenção dos consultores financeiros da Prudential Assurance Company, que investiu milhões de libras na London Film Productions, possibilitando, em 1936, a construção dos estúdios em Denham, em Buckinghamshire. Com sete palcos de filmagem, iluminação sofisticada, equipamento de som da Western Electric, ar condicionado, vários departamentos, e um laboratório muito bem equipado, era o maior estúdio na Grã Bretanha, grande até demais para a indústria cinematográfica britânica da época, ocasionando sérios prejuízos. Os dirigentes da Prudential pediram a Korda que atuasse somente como produtor e abandonasse a administração da companhia. Ele se recusou, mas depois teve que ceder o comando dos estúdios para a sua principal rival, J. Arthur Rank Organization.
Em 1939, uma nova companhia, denominada D and P Studios Limited, foi criada para supervisionar o Denham Studios juntamente com o Pinewood Studios de Rank, que ficava perto. Apesar de suas dificuldades iniciais, Denham produziu filmes famosos: Um Fantasma Camarada / The Ghost Goes West / 1935 (Robert Donat), Daquí a Cem Anos / Things to Come / 1936 (Raymond Massey), rodado enquanto o estúdio estava em construção), Idílio Cigano / Wings of the Morning /1937 (Henry Fonda, Annabella), primeiro filme em Technicolor no Reino Unido, realizado pela 20thCentury-Fox com locações em Epsom e na Irlanda; Rembrandt / Rembrandt / 1936 (Charles Laughton); O Menino e o Elefante / The Elephant Boy / 1937 (Sabu); Fogo Por Sobre a Inglaterra / Fire Over England / 1937 (Laurence Olivier, Vivien Leigh); O Amor Nasceu do Ódio / Knight Without Armour / 1937 (Robert Donat, Marlene Dietrich); Alma de Apache / The Rat / 1937 (Ruth Chatterton, Anton Walbrook); O Divórcio de Lady X / The Divorce of Lady X / 1938 (Laurence Olivier, Merle Oberon); sem falar no inacabado I Claudius (Charles Laughton, Merle Oberon, Emlyn Willimans, Flora Robson).
Cena de Um Fantasma Camarada
Charles Laughton em Rembrandt
Provavelmente prevendo a perda do controle do estúdio, Rank, já havia feito um acordo com Irving Asher (ex-gerente de produção da Warner Bros. no Teddington Studios) em um novo empreendimento, a Harefield Productions, que contratou Korda para fazer alguns “quota films”: Nuvens sobre a Europa / Q Planes / 1939 (Leslie Howard, Ralph Richardson) e O Espião Submarino / The Spy in Black / 1939 (Conrad Veidt, Valerie Hobson). Continuando sua parceria com Irving Asher como produtor associado, Korda produziu As Quatro Penas Brancas / The Four Feathers / 1939 (John Clemens, June Duprez, Ralph Richardson) em Denham. Contando com um elenco que incluía Ralph Richardson, C. Aubrey Smith, John Clements e June Duprez, o filme obteve grande sucesso, dirigido por Zoltan Korda, com Vincent como diretor de arte.
Cena de O Espião Submarino
O estúdio alugou espaço também para outras companhias entre elas a MGM-British, que produziu três filmes com elencos compostos por atores americanos e ingleses: Um Ianque em Oxford / Yank at Oxford / 1937 (Robert Taylor, Vivien Leigh,) A Cidadela / The Citadel / 1938 (Robert Donat, Rosalind Russell) e Adeus Mr. Chips / Goodbye Mr. Chips / 1939 (Robert Donat, Greer Garson). Um dos últimos filmes feitos em Denham nos anos trinta foi Sob a Luz das Estrelas / The Stars Look Down / 1940 (Michael Redgrave, Margaret Lockwood).
Cena de Um Ianque em oxford
Robert Donat e Greer Garson em Adeus Mr. Chips
Durante os anos de guerra, Rank prosseguiu com seus planos de produção às custas de Alexander Korda, que fora para a América supervisionar a finalização de O Ladrão de Bagdad / The Thief of Bagdad / 1940 (Sabu, Conrad Veidt, June Duprez, John Justin), e depois voltou para dirigir Lady Hamilton, a Divina Dama / That Hamilton Woman / 1941 (Laurence Olivier, Vivien Leigh). Embora tivesse sido criticado por muita gente no Reino Unido por ter “desertado” para Hollywood, Korda fez várias travessias transatlânticas durante a guerra e hoje parece claro que ele estava levando e trazendo documentos secretos para Winston Churchill. Em 1942, Korda foi nomeado cavaleiro pelo Rei George V, a primeira personalidade do cinema a receber tal honraria.
Vivien leigh e Laurence Olivier em Lady Hamilton
No início de 1940, Denham foi requisitado pelo Ministério da Informação para servir ao esforço de guerra mas, no final de 1941, recebeu autorização para produzir seus próprios filmes nos palcos de filmagens não utilizados e aceitar produções que não puderam ser realizadas no seu estúdio-irmão Pinewood. Filmes notáveis desse período foram: Nosso Barco, Nossa Alma / In Which We Serve /1942 (Noel Coward, John Mills, Richard Attenborough, Celia Johnson, Bernard Miles); This Happy Breed / 1944 (Robert Newton, Celia Johnson, John Mills); Henrique V / Henry V / 1944 (Laurence Olivier, Robert Newton, Leslie Banks); Alma Negra / So Evil My Love (Ray Milland, Ann Todd, Geraldine Fitzgerald) da Paramount; Têmpera de Aço / The Way Ahead / 1944 (David Niven); Coronel Blimp – Vida e Morte / The Life and Death of Colonel Blimp / 1943 (Roger Livesey, Anton Walbrook, Deborah Kerr); Desencanto / Brief Encounter / 1945 (Trevor Howard; Celia Johnson), César e Cleopatra / Caesar and Cleopatra / 1945 (Claude Rains, Vivien Leigh).
Celia Johnson e Trevor Howard em Desencanto
Entrementes, Korda, que havia retornado à América, onde trabalhou em associação com a MGM durante os anos de 1943 a 1945, produziu apenas um filme em Denham, Perfect Strangers / 1945 (Robert Donat, Deborah Kerr). Em 1946, quando a MGM resolveu não continuar seu acordo com Korda, ele restabeleceu a London Films e adquiriu o controle da British Lion. A British era dona do Shepperton Studios em Surrey, que Korda então usou como base de suas produções.
James Mason em Condenado
Laurence Olivier e Jean Simmons em Hamlet
Na segunda metade da década de quarenta, os filmes feitos em Denham que mais se destacaram foram Condenado / Odd Man Out / 1947 (James Mason, Robert Newton) e Hamlet / Hamlet / 1948 (Laurence Olivier, Jean Simmons), a primeira produção inglêsa a ganhar um Oscar de Melhor Filme. No final do decênio, o império Rank estava arruinado financeiramente e a produção passou a se concentrar no Pinewood Studios sob o controle rígido de John Davis e seu assistente, o americano Earl St. John.
Os últimos filmes feitos em Denham foram The History of Mr. Polly / 1949 (John Mills, Sally Anne Howes) e Robin Hood, o Justiceiro / The Story of Robin Hood and his Merrie Men / Disney-RKO (Richard Todd, Joan Rice, Peter Finch). No início de 1950, a D e P Studios Limited, proprietária de Denham entrou em liquidação. Sir Alexander Korda faleceu em 1956 e Lord Rank morreu logo depois após sua aposentadoria em 1972.
EALING
Em 1901, o produtor pioneiro William G. (George) Barker fundou a Autoscope Company e, no mesmo ano, construiu um estúdio ao ar livre – um palco, andaimes e um fundo de cenário – em Stamford Hill, norte de Londres. Em 1907, Barker comprou uma mansão em Ealing, oeste da capital londrina, e edificou três estúdios com paredes e tetos de vidro para as suas produções cinematográficas. Em 1911, ele realizou seu primeiro filme de dois rolos, Henry VIII, no qual o consagrado ator de teatro Sir Herbert Beerbohm Tree (pai de vários filhos ilegítimos entre eles Carol Reed e Peter Reed, progenitor de Oliver Reed) interpretou o papel do Cardeal Wolsey. Em 1913, Barker estava preparando seus atores para o estrelato entre eles Blanche Forsythe e Fred Paul, que apareceram em East Lynne, primeiro filme britânico de seis rolos, dirigido por Bert Haldane. Em 1915, Barker colocou a nova estrela Blanche Forsythe no papel principal de um drama histórico, Jane Shore, empregando centenas de figurantes, e foi comparado a D.W. Griffith.
Em 1920, Barker vendeu o estúdio para a General Film Renters Company, que logo encerrou suas atividades. Durante algum tempo, as instalações foram usadas por produtores independentes e eventualmente, em 1929, compradas pela Associated Radio Pictures Company, que, em 1931, construiu um novo estúdio muito perto do velho Barker Studio. A firma era encabeçada pelo ator-empresário Sir Gerald du Maurier, Reginald Baker (contador), Stephen Courtauld (diretor financeiro, membro da riquíssima família da indústria têxtil) e Basil Dean.
William George Barker
Dean começou no mundo do espetáculo como ator aos dezoito anos de idade e depois produziu e dirigiu muitas peças e filmes. Ele foi o orientador mais influente do estúdio durante os anos trinta e responsável pelo desenvolvimento da carreira de dois artistas do music-hall que se tornaram os astros mais populares e bem pagos do período: Gracie Fields e George Formby.
Gracie Fields
George Formby
Carol Reed começou a trabalhar com Dean, primeiramente como diretor de diálogos, passando sucessivamente a diretor de segunda unidade, assistente de diretor, co-diretor, e finalmente diretor em Midshipman Easy / 1935 (Hughie Green, Margaret Lockwood, Roger Livesey). Nos anos quarenta, Reed formaria, juntamente com David Lean e Michael Powell o trio de diretores mais importante do cinema inglês.
Carol Reed
Em 1933, o estúdio mudou seu nome para Associated Talking Pictures e, tal como os demais estúdios no Reino Unido, fez seus próprios filmes (vg. Casamento Liberal / Perfect Understanding / 1933 (Gloria Swanson, Laurence Olivier) e alugou espaço para outras companhias produtoras. Na segunda metade dos anos trinta, David Lean trabalhou na Associated Talking Pictures como montador e Ronald Neame como cinegrafista. Em 1938, após um desentendimento com os Courtauld, Dean deixou a companhia e Michael Balcon – que havia sido fundador e presidente da Gainsborough Films, diretor de produção na Gaumont British, e encarregado da produção na MGM-British -, tornou-se o novo chefe do estúdio. Na sua gestão, Balcon trouxe vários ex-colegas da Gaumont British para trabalharem juntos entre eles o ator-diretor Walter Forde e os diretores Sidney Gilliat e Robert Stevenson.
Ao mesmo tempo, a denominação do estúdio mudou de Associated Talking Pictures para Ealing Studios. Balcon era homem de equipe, encorajando idéias e iniciativas. Durante os vinte anos em Ealing ele formou um grupo de diretores talentosos muitos dos quais haviam sido montadores como Charles Crichton, Charles Frend, Robert Hamer, Leslie Norman e Thorold Dickinson e roteiristas como Alexander Mackendrick, Harry Watt e Basil Dearden, que formou uma longa parceria com o produtor-diretor-cenógrafo Michael Relph. Balcon também deu força para muitos novos roteiristas inclusive T.E.B. Clarke que escreveu o roteiro de Hue and Cry / 1947 (Alastair Sim, Jack Warner), O Mistério da Torre / The Lavender Hill Mob / 1951 (Alec Guiness, Stanley Holloway) e Um País de Anedota / Passport to Pimlico / 1949 (Stanley Holloway).
T.E.B. Clarke
Em 1942, o brasileiro Alberto Cavalcanti, diretor, produtor, roteirista e diretor de arte se juntou a Balcon e introduziu a influência documentarista nos filmes de ficção. Cavalcanti fez na Ealing 48 Horas! / Went the day Well? / 1942 (Leslie Banks), Champagne Charlie/ 1944 (Stanley Holloway, Tommy Trinder) e As Vidas e Aventuras de Nicholas Nickleby / Nickolas Nickleby / 1947 (Derek Bond, Cedric Harwicke). Entre os filmes produzidos no estúdio nos anos quarenta e cinquenta, distinguiram-se ainda: Johnny Frenchman / 1945 (Françoise Rosay, Patricia Roc); Na Solidão da Noite / Dead of Night / 1945 (Michael Redgrave); Corações Aflitos / The Captive Heart / 1946 (Michael Redgrave); A Manada / The Overlanders / 1946 (Chips Rafferty); Heróis Anônimos / Against the Wind / 1948 (Simone Signoret, Jack Warner); Sarabanda / Saraband for Dead Lovers / 1948 (Stewart Granger, Joan Greenwood), primeiro filme em Technicolor da Ealing; Epopéia Trágica / Scott of the Antarctic / 1948 (John Mills); Alegrias a Granel / Whisky Galore / 1949 (Basil Radford); As Oito Vítimas / Kind Hearts and Coronets / 1949 (Alec Guiness, Dennis Price, Joan Greenwood, Valerie Hobson), parcialmente filmado em Pinewood -; The Blue Lamp / 1950 (Jack Warner, Dirk Bogarde); O Homem do Terno Branco / The Man in the White Suit / 1951 (Alec Guiness, Joan Greenwood); Martírio do Silêncio/ Mandy / 1950 (Jack Hawkins, Phyllis Calvert); The Titfield Thunderbolt / 1953 (Stanley Holloway); Mar Cruel / The Cruel Sea / 1953 (Jack Hawkins); A Morte de um Herói / The Ship That Died of Shame / 1955 (Richard Attenborough, George Baker, Bill Owen, Roland Culver, Bernard Lee); Quinteto da Morte / The Ladykillers / 1955 (Alec Guiness, Cecil Parker, Herbert Lom, Peter Sellers).
Michael Redgrave em Na Solidão da Noite
John Mills em Epopéia Trágica
Cena de As Oito Vítimas
Alec Guiness em O Homem do Terno Cinzento
Dirk Bogarde em The Blue Lamp
Jack Hawkins em Mar Cruel
O Quinteto da Morte
A partir de 1952, com o advento da televisão no Reino Unido juntamente com a mudança no gosto do público, o Ealing Studios teve dificuldades financeiras. Em 1955, foi vendido para a BBC Television – duro golpe na indústria de cinema britânica.
ELSTREE
Este termo genérico compreende seis estúdios separados, que se instalaram nas cidades adjacentes de Borehamwood e Elstree no condado de Hertfordshire, área que ficou conhecida como “Hollywood Britânica”.
O primeiro estúdio inaugurado em Elstree foi o Neptune Studios, fundado em janeiro de 1914 por dois atores, John East e Percy Nash, com ajuda financeira do advogado-empresário Arthur Moss Lawrence. O irromper da Primeira Guerra Mundial levou o Neptune a colaborar para o esforço de guerra, realizando filmes de recrutamento porém, normalmente, predominavam as adaptações de obras teatrais. O estúdio tinha um elenco permanente do qual faziam parte Daisy Cordell, Frank Tennant, Ben Webster, Fay Davis e Gerald Lawrence e recebia às vezes atrizes do palco como Gaby Deslys e May Whitty.
Gaby Deslys
No período de 1915 a 1920, o Neptune costumava emprestar ou alugar suas instalações para outras companhias como, por exemplo, a Ideal Films (que foi fundada como distribuidora, depois se tornou produtora – presidida pelo matemático e estatístico Simon Rowson – e mais tarde seria absorvida pela Gaumont-British) mas, por força da imposição pelo governo de um Imposto sobre Diversões e da inundação do mercado exibidor por filmes americanos, o estúdio foi obrigado a encerrar suas atividades em agosto de 1921. A Ideal Films continuou alugando o Neptune até 1928, quando Ludwig Blattner (inventor pioneiro de um sistema de gravação de som) o comprou para a British Phototone Sound Productions, também conhecida como Ludwig Blattner Film Corporation. Blattner obteve grande sucesso com A Knight in London / 1928, dirigido por Lupu Pick e estrelado por Lilian Harvey, (atriz inglesa que se tornou muito popular na Alemanha), mas foi comercialmente lento ao se adaptar ao som e, em 1932, os cobradores estavam batendo na sua porta.
Lilian Harvey em A Knight in London
Em 1935, o estúdio foi alugado por um longo período de tempo pelo produtor americano Joe Rock e, no final do mesmo ano, Ludwig Blattner se suicidou. Joe fez alguns filmes como o ator Leslie Fuller, porém o melhor filme do Rock Studios foi The Edge of the World de Michael Powell, que firmou a reputação deste grande cineasta. Em março de 1938, o banqueiro financiador do Rock Studios, John Henry Iles, declarou falência e Lady Annie Henrietta Yule (viúva milionária de um magnata da juta em Calcutá, ex-parceira de J. Arthur Rank na British National Films) comprou o estúdio e mudou seu nome para British National Studios, cujas produções nessa década incluíram Gaslight / 1940 (Diana Wyniard, Anton Walbrook) e Love on the Dole / 1941 (Deborah Kerr).
Anton Walbrook e Diana Wyniard em Gaslight
Lady Yule faleceu em 1950 e, em 1952, Douglas Fairbanks Jnr. alugou o estúdio (que ele passou a chamar de National Studios) e se tornou produtor de filmes para a televisão. Em 1962, a ATV Television comprou o estúdio e a BBC Television, por sua vez, adquiriu-os em 1984.
Entre os outros estúdios instalados em Elstree estavam o British International Studios, o British and Dominions Studios, o Amalgamated Studios / MGM-British, o Whitehall Studio e o Danziger Studio.
O pioneiro do cinema americano J. D. (James Dixon) Williams havia fundado, em 1925, a British National Pictures com I. W. (Isadore William) Schlesinger, financista internacional (magnata de várias indústrias, inclusive a cinematográfica, na África do Sul), e convidou Herbert Wilcox para ingressar na companhia; mas surgiu uma discordância entre Williams e Schlesinger. O conflito evoluiu para um litígio e, em 1927, John Maxwell, escocês já muito respeitado no meio cinematográfico, acabou ganhando o controle da companhia e do estúdio correspondente, mudando a denominação deste para British International Studios (BIP). Devido à origem escocesa de seu dono e sua administração financeira cuidadosa da companhia, o BIP Studios foi apelidado de “The Porridge Factory “ (mingau que faz parte do pequeno-almoço escocês).
Maxwell decidiu comprar o estúdio da British National Pictures porque soube com certa antecedência da próxima entrada em vigor do Cinematograph Films Act, que exigia a distribuição e exibição de uma percentagem de filmes britânicos. Para preencher essas cotas é que surgiram os chamados “quota quickies”, realizados com um mínimo de custos e o máximo de rapidez, exibidos em um programa duplo. O propósito da lei era resistir ao domínio dos filmes americanos e estimular a produção cinematográfica britânica; porém não havia nada que impedisse os americanos de produzí-los.
Antonio Moreno e Dorothy Gish em Madame Pompadour
Entretanto, Maxwell inaugurou seu estúdio com Madame Pompadour / 1927 (Dorothy Gish, Antonio Moreno) e The White Sheik / 1928 (com a ex-Rainha da Beleza Lilian Hall-Davis, que se suicidaria em 1933); depois, obteve os serviços de um diretor de 28 anos chamado Alfred Hitchcock, cujo primeiro filme na empresa foi The Ring / 1927 com o ator dinamarquês Carl Brisson. A fim de conquistar o público americano, Maxwell convidou Syd Chaplin, Tallulah Bankhead, Lionel Barrymore e outros atores de Hollywood para aparecer em suas produções. Ele contratou também Maria Corda para ser a principal atriz de Tesha / Tesha / 1928, primeiro filme dirigido por Victor Saville, que foi depois produtor na Inglaterra e nos Estados Unidos. No mesmo ano, atraiu para seus quadros o alemão E. A. (Ewald André) Dupont, que dirigiu seu filme mais caro até então, Moulin Rouge, protagonizado pela atriz russa Olga Tschechowa; Picadilly / Picadilly / 1929 (Anna May Wong); e Atlantic / Atlantic / 1929 (Madeleine Carroll, John Stuart) – dois figurantes nesta produção iriam se tornar astros, Stewart Granger e Michael Wilding.
Lilian Hall Davis
Em 1928, Maxwell abriu uma companhia subsidiária da BIP, Associated British Cinemas, que começou com 40 cinemas, número que em 1930 havia crescido para 120, incluindo uma das salas mais concorridas da época como o Regal em Marble Arch e o Lido em Golden Green. Com o advento do som, ele instalou o RCA Photophone no seu estúdio: Blackmail / 1929, de Alfred Hitchcock, feito no BIP em Elstree, é geralmente considerado o primeiro filme inglês sonoro (embora só parcialmente falado) e também o primeiro dublado – por mero acidente, pois o sotaque da atriz theca Anny Ondra exigiu que a atriz inglêsa Joan Barry a substituísse, lendo suas falas em um microfone enquanto Anny apenas movimentava os lábios diante das câmeras.
Aparição de Hitchcock em Blackmail
Maxwell prosseguiu fazendo dois “quota quickies”, Flying Scotsman / 1929 e The Lady from The Sea / 1929 com a presença de um jovem Ray Milland e, nos anos trinta sobressaíram nos filmes do estúdio os comediantes Ernie Lotinga, Leslie Fuller, Will Hay; artistas americanos (Charles Bickford, Bebe Daniels em A Southern Maid / 1933; Ben Lyon, em I Spy / 1934; Douglas Fairbanks Jnr. em Mimi / Mimi / 1935; Buddy Rogers em O Amor Sempre Vence / Let’s Make a Night Of It / 1938); e dos palcos londrinos (Gertrude Lawrence e Gerald du Maurier em Lord Camber’s Ladies / 1932).
A “Porridge Factory” continuou a produzir filmes nesse período inclusive quatro musicais: Canção da Saudade / Heart’s Desire / 1934 (com o tenor austríaco Richard Tauber); Folias de Versalhes / I Give my Heart / 1935 (a soprano húngara Gitta Alpar); A Valsa da Felicidade / Invitation to the Waltz / 1935 (Lilian Harvey); Music Hath Charms / 1935 (Henry Hall e sua orquestra). Todavia, foi o apoio construtivo de Maxwell à Mayflower Picture Corporation de Eric Pommer, que realmente chamou a atenção do público no final dos anos trinta. Com Charles Laughton estrelando cada produção, Pommer fez três filmes de qualidade: Náufrago da Vida / Vessel of Wrath / 1938 (Elsa Lanchester, Robert Newton); St. Martin’s Lane / 1938 (Rex Harrison, Vivien Leigh); e A Estalagem Maldita / Jamaica Inn / 1939 (Maureen O’Hara, Robert Newton).
Charles Laughton em Náufrago da Vida
Vivien Leigh e Charles Laughton em St. Martin’s Lane
Charles Laughton em Estalagem Maldita
Com o início da Segunda Guerra Mundial, os estúdios foram comandados pelo Royal Ordonance Corps e algumas produções tiveram que ser transferidas para o Welwyn Studios, que o BIP havia comprado no começo dos anos trinta. Quando John Maxwell faleceu em 1940, foi o fim de uma era para o BIP e a perda de uma influência importante sobre a indústria cinematográfica britânica. Ele esperava que, após seu desaparecimento, sua família pudesse manter o controle sobre seu império fílmico, agora denominado ABPC (Associated British Picture Corporation). Porém isto não ocorreu. Nos primeiros anos da guerra, A Warner Bros. adquiriu uma quantidade de ações da família e, em 1946, comprou a maior parte das ações restantes do espólio de Maxwell, colocando-se assim em uma posição privilegiada.
O novo vínculo anglo-americano significava em príncipio que a Warner Bros. distribuiria os filmes da APBC nos seus 800 cinemas americanos e a ABPC, em reciprocidade, exibiria os filmes da Warner nos seus cinemas inglêses. A nova diretoria, tendo à frente Robert Clark como Diretor Executivo do Estúdio e da Produção, decidiu também por uma reconstrução completa de seu estúdio em Elstree. Clark contratou Robert Lennard, um excelente casting director, sugeriu-lhe que criasse um novo sistema de astros para a ABPC, e ele elevou ao estrelato alguns novatos como Michael Denison, Laurence Harvey, Kenneth Moore, Richard Todd, este último participando em primeiro plano ao lado de Patricia Neal e Ronald Reagan em Coração Amargurado / The Hasty Heart / 1949, primeira produção internacional do novo estúdio, produzida e dirigida por Vincent Sherman.
Patricia Neal e Richard Todd em Coração Amargurado
Em 1950, foram realizados, no estúdio, entre outros, Pavor nos Bastidores / Stage Fright / 1950 (Marlene Dietrich, Jane Wyman, Michael Wilding, Richard Todd) e A Desconhecida / Woman with no Name / 1950 (Phyllis Calvert e outro novo ator de cinema, Richard Burton). No mesmo ano, a ABPC vendeu seu Welwyn Studio e continuou com suas produções internacionais como Falcão dos Mares / Captain Horatio Hornblower / 1951 (Gregory Peck, Virginia Mayo) de Raoul Walsh e O Mundo a Seus Pés / Happy Go Lovely / 1951 (David Niven, Vera Ellen, Cesar Romero) de Bruce Humberstone. No novo estúdio da ABPC, como uma contribuição para o Festival da Grã Bretanha de 1951, foi produzido por Ronald Neame e dirigido por John Boulting (irmão gêmeo de Roy Boulting, com o qual formava uma dupla de diretor-roteirista-produtor) o longa-metragem The Magic Box sobre o pioneiro do cinema, William Frise-Green, protagonizado por Robert Donat, tendo sido convidados para pequenas aparições Laurence Olivier, Michael Redgrave e Richard Attenborough.
Robert Donat em The Magic Box
No decorrer dos anos cinquenta, a “Hollywood Britânica” continuou a atrair investimentos e artistas americanos para seus estúdios: vg. A Morte do Fantasma / Happy Ever After / 1954 (Barry Fitzgerald, Yvonne de Carlo, David Niven); Duelo na Selva / Duel in the Jungle / 1954 (Jeanne Crain, Dana Andrews); Moby Dick / Moby Dick / 1956 (Gregory Peck); Indiscreta / Indiscreet /1958 (Ingrid Bergman, Cary Grant). Na mesma década, emergiram dois filmes de guerra excelentes, Labaredas do Inferno / The Dam Busters / 1955 (Michael Redgrave, Richard Todd) e Sob o Sol da África / Ice Cold in Alex / 1958 (John Mills, Sylvia Sims). Em 1955, a ABPC começou a abrigar produções da televisão juntamente com seus próprios projetos de filmes. Em 1959, Look Back in Anger, dirigido por Tony Richardson e estrelado por Richard Burton, marcou o início de uma “nova onda” de produção fílmica, que iria emergir no decênio seguinte.
John Mills e Sylvia Sidney em Sob o Sol da África
Richard Burton em Look Back in Anger
Em 1960, a ABPC ainda tinha 319 cinemas para abastecer e decidiu abrir seus estúdios ainda mais, para produções independentes que quizessem utilizá-los, fazendo filmes de cinema ou de televisão. Dos anos sessenta aos anos noventa a ABPC passou por outras mudanças, e continuou em atividade incessante, até fechar suas portas em 1994.
Quando surgiu o conflito entre J. D. Williams e I. W. Schlesinger e John Maxwell ganhou o controle da British National Pictures, Herbert Wilcox e o ator-comediante Nelson Keys formaram uma nova companhia de cinema, a British and Dominions Film Corporation, construindo em uma área vizinha ao BIP, o seu Imperial Studios (também conhecido como B&D Studios) com três palcos de filmagem. Um dos primeiros na indústria cinematográfica britânica a perceber a importância do som, Wilcox recorreu imediatamente a Hollywood para obter experiência técnica. No seu retorno, ele instalou o sistema de som Western Electric e depois completou seu primeiro “talkie” inglês, Wolves / 1930, com Dorothy Gish e Charles Laughton.
Em 1933, Wilcox alugou para a Paramount-British um dos seus palcos de som, onde Alexander Korda fez A Vida Privada de Helena de Tróia (outros filmes de Korda no Imperial Studios foram Os Amores de Henrique VIII, Strange Evidence / 1933 (Leslie Banks), Os Amores de Don Juan / The Private Life of Don Juan / 1934 (Douglas Fairbanks, Merle Oberon), e O Pimpinela Escarlate. Em 1935, Wilcox contratou Jack Buchanan e o colocou ao lado da estrela de Hollywood Lili Damita em O Galã da Nota / Brewster’s Millions, dirigido por Thorton Freeland.
Anna Neagle e Herbert Wilcox
O nome de Herbert Wilcox estará sempre inevitavelmente ligado com o de Anna Neagle, pois eles formaram uma das mais longas parcerias romântica e profissional da indústria cinematográfica britânica. Anna tornou-se a principal estrela de Wilcox e entre seus filmes sobressaíram: O Tenente Naval / The Flag Lieutenant / 1932; Viena dos Meus Amores / Goodnight Vienna /1932; O Preço de um Amor / The Little Damozel / 1933; Doce Amargura / Bittersweet / 1933; Nos Braços do Rei / Nell Gwyn / 1934; The Queen’s Affair / 1934 (todos, menos o primeiro, dirigidos por Herbert Wilcox).
Jack Buchanan e Anna Neagle em Viena dos Meus Amores
Fernand Gravey e Anna Neagle em Doce Amargura
Anna Neagle em Nell Gwynn
Nas primeiras horas de uma manhã de fevereiro de 1936, irrompeu um incêndio no British and Dominions Studio, deixando tudo em ruínas. Somente o trabalho valoroso dos bombeiros impediu que o fogo atingisse o BIP Studio, ali bem próximo. Wilcox estava rodando Orquídea Selvagem / London Melody com Anna Neagle, Tullio Carminati e Robert Douglas e, como John Maxwell não estava em condições de ajudá-lo, teve de terminar a filmagem no Pinewood Studios de J. Arthur Rank.
Além de Pinewood, Rank comprou outro estúdio em Elstree em 1939, não porque necessitasse do espaço, mas para impedir que Maxwell ou uma das companhias americanas se apoderasse dele. O estúdio chamava-se Amalgamated Studios e havia sido construído por Paul Soskin e seu tio Simon Soskin, originários da Rússia. A fim de conseguir dinheiro para a obra, os Soskin penhoraram o imóvel, gastaram mais do que o esperado, e acabaram falindo. Rank ficou então com três dos maiores estúdios da Grã Bretanha. Ele alugou o Amalgamated Studios ao Ministério de Obras Públicas, para servir como depósito durante a Segunda Guerra Mundial e, em 1947, o transferiu para a Prudential Assurance Company, que havia investido na produção de filmes nos anos trinta, e esta, por sua vez, vendeu-o para a MGM-British.
MGM British Studios
A MGM-British transformou o Amalgamated Studios em um estúdio no estilo dos de Los Angeles, tendo como atrações astros de Hollywood em filmes que seduziram ambas as platéias americana e inglêsa: vg. Meu Filho / Edward, My Son / 1949 (Spencer Tracy, Deborah Kerr); Romance de uma Esposa / The Miniver Story / 1950 (Greer Garson Walter Pidgeon); Ivanhoe, o Vingador do Rei / Ivanhoe /1952 (Robert Taylor, Elizabeth Taylor, Joan Fontaine, George Sanders); Os Cavaleiros da Távola Redonda / Knights of the Round Table / 1953 (Robert Taylor, Ava Gardner, Mel Ferrer); Atraiçoado / Betrayed / 1954 (Clark Gable, Lana Turner, Victor Mature); O Belo Brummel / Beau Brummell / 1954 (Stewart Granger, Elizabeth Taylor, Peter Ustinov); A Coroa e a Espada / Quentin Durward / 1955 (Robert Taylor, Kay Kendall, Robert Morley). Em 1958, a MGM-British alugou o estúdio para a 20th Century-Fox fazer A Morada da Sexta Felicidade / The Inn of the Sixth Happiness com Ingrid Bergman, Curd Jurgens e Robert Donat, que morreria poucas semanas após o término da filmagem.
Robert Taylor e Elizabeth Taylor em Ivanhoe
Ainda em 1958, vinte e três anos depois de ter sido contratada pela MGM para atuar com Clifton Webb em This Time It’s Love, um musical que ela afinal não pôde fazer, Jessie Mathews apareceu em O Pequeno Polegar / Tom Thumb, contracenando com o atlético ator-dançarino Russ Tamblyn, Peter Sellars e Terry-Thomas que, com ela, tornaram este espetáculo um favorito das crianças através dos tempos. Nos anos sessenta, a MGM-British continuou realizando filmes em Elstree (vg. Gente Muito Importante / The V.I.P. s / 1963; O Rolls Royce Amarelo / The Yellow Rolls Royce / 1964; 2001: Uma Odisséia no Espaço / 2001: A Space Odyssey / 1968; O Desafio das Águias / Where Eagles Dare / 1968; Adeus Mr. Chips / Goodbye Mr. Chips / 1969) até que encerrou suas atividades em 1970, e o estúdio foi vendido para um frigorífico.
Em 1927, o ator-diretor chileno Adelqui Millar fundou a Whitehall Films com dois sócios, Charles Lapworth e N. A. Pogson e, em 1929, construiu seu Whitehall Studios próximo da estação ferroviária de Borehamwood. Não era o melhor local para construir um estúdio de cinema porque, com a chegada dos “talkies”, ficaria difícil abafar o barulho de uma linha de trem movimentada ali perto. No futuro, seria necessário empregar um homem com o único propósito de subir no telhado, para avisar quando um trem se aproximava, de modo que a filmagem pudesse ser interrompida até que ele passasse. Infelizmente, a companhia encontrou sérias dificuldades financeiras e, por um período de tempo em 1930, o estúdio foi alugado para a Audible Filmcraft Limited, uma contradição em termos, pois esta não estava bem equipada acusticamente. De novo, o estúdio passou por uma má fase, antes de ser renovado em 1933 e rebatizado de Consolidated Film Studios em 1934, quando Daquí a Cem Anos de Alexander Korda começou a ser filmado – a produção foi depois transferida para Denham. Em 1935, quando o Twickenham Studios de Julius Hagen foi parcialmente destruído pelo fogo, Hagen formou a JH Productions e comprou o Consolidated Film Studios. Foram feitos alguns filmes sem importância e, no ano seguinte, tanto o Twickenham quanto o Consolidated pediram falência.
Em 1937, J. Banberger fundou uma companhia, MP Studios Limited, e tomou posse do antigo local do Whitehall / Consolidated. O MP Studios foi requisitado durante a Segunda Guerra Mundial e depois ficou conhecido como Gate Studios. Em 1947, a J. Arthur Rank Organization adquiriu-o para realizar as suas GHW Productions, dedicadas à divulgação do Metodismo. Embora estivesse primordialmente ocupado com a produção de filmes religiosos (a razão pela qual Rank entrou na indústria de cinema nos anos trinta), o estúdio era ocasionalmente alugado para outras unidades da Organização Rank e outras companhias (vg. Decameron Deliciosas Noites de Amor / Decameron Nights / 1953, com Joan Fontaine e Louis Jordan). Em 1952 o estúdio foi vendido, tendo sido comprado por Andrew Smith Harkness que, coincidentemente, fabricava telas para cinemas.
Em 1956, foi construído pelos irmãos Edward and Harry Danzinger, o Danzinger Studios (que eles apelidaram de “The New Elstree Studios”), dedicado principalmente à realização de filmes e series para a televisão americana embora alguns longas-metragens classe “B” também tivessem sido feitos (vg. Satélite Artificial / Satellite in the Sky / 1956; Man Accused / 1959; High Jump / 1958; Sentenced for Life / 1959; Feet of Clay / 1960; The Spanish Sword / 1962. O estúdio fechou suas portas em 1965.