ESTRELAS DO CINEMA ALEMÃO DE WEIMAR AO TERCEIRO REICH
agosto 15, 2014
Este artigo é uma homenagem – de maneira sucinta, sem mencionar a filmografia completa das artistas, limitando-se aos seus filmes principais realizados entre 1920 e 1945 – a algumas grandes estrelas do cinema alemão.
LIDA BAAROVÁ (1914-2000). Nome verdadeiro: Ludmila Babková. Local de Nascimento: Praga, República Checa. Aos quinze anos de idade, Lida quís ser atriz e foi estudar interpretação no Conservatório Dramático de Praga, mas não terminou o curso, porque foi convidada para fazer seu primeiro filme no seu país natal, Kariéra Pavla Camrdy / 1931, onde adquiriu popularidade. Em 1934, aceitou a oferta da UFA, o grande estúdio germânico, para protagonizar, ao lado de Gustav Fröhlich, o filme Barcarola / Barcarole / 1935, que se converteu em um sucesso de bilheteria. O ator era casado e tinha uma filha, mas Lida e Gustav se apaixonaram e foram morar juntos. Em 1937, depois de ter feito dois filmes “patrióticos” sob a direção de Karl Ritter, muito apreciados no Brasil, Traidores / Verräter e Entre Duas Bandeiras / Patrioten, a atriz recusou uma proposta vantajosa da Metro-Goldwyn-Mayer, decisão da qual se lamentaria anos mais tarde. No mesmo ano, ela demonstrou talento para a comédia musical no filme de Paul Verhoeven, O Morcego / Die Fledermaus. Lida ficou mais conhecida por sua vida fora da tela como amante de Joseph Goebbels, o poderoso Ministro da Propaganda e Informação do regime hitlerista. Entretanto, por ordem de Hitler, Goebbels foi obrigado a terminar seus encontros com Lida, e ela proibida de atuar nos estúdios cinematográficos da Alemanha. Em março de 1941, desobedecendo às ordens de permanecer no país, Lida deixou Berlin, regressando para Praga. (Obs. ver meu artigo sobre Lida Baarová de 17 de abril de 2010).
LIL DAGOVER (1887-1980). Nome verdadeiro: Maria Antonia Siegelinde Martha Lilitt Seubert . Local de nascimento: Java, Indonésia. Começou sua carreira como dançarina em 1913. Após a Primeira Guerra Mundial, sob o nome de Martha Daghofer, assinou contrato com a companhia Decla, firmando-se como uma das principais atrizes do Cinema de Weimar. O diretor Robert Wiene escolheu-a para interpretar Jane no clássico No Gabinete do Dr. Calegari / Das Kabinett des Dr. Caligari / 1919-1920 e Dagover também trabalhou com Fritz Lang em Die Spinnen – Der goldene See / 1919 e Pode o Amor Mais Que a Morte?/ Der müde Todd/ 1921. Sob a direção de F. W. Murnau, ela apareceu em Phantom / 1922 e Tartufo / Tartüff / 1925. Gustav Molander dirigiu-a na produção germano-sueca Sede de Amor / Die Lady ohne Schleier – Hans Engelska Fru e, em O Correio Secreto ou Rouge Noir / 1928 e O Diabo Branco / Der weisse Teufel / 1930, ela contracenou com Ivan Mosjoukine. Seu primeiro filme falado foi Va Banque / 1930, com Gustaf Grüdgens, após o término do qual ela viajou para Hollywood, a fim de fazer A Dama de Monte Carlo / The Woman from Monte Carlo / 1931, dirigido por Michael Curtiz, contracenando com Walter Huston e Warren William. Como uma das atrizes prediletas de Hitler, Lil continuou em evidência nas telas germânicas em filmes interessantes como Elisabeth da Áustria / Elisabeth von Österreich / 1931, Lady Windermeres Fächer / 1935, A Sonata de Kreutzer / Die Kreutzersonate / 1936-37 e Nona Sinfonia ou Últimos Acordes / Schlussakkord / 1936, Terrível Dúvida / Streit um den Knaben Jo / 1937, Friedrich Schiller – Der Triumph eines Genies / 1940 e Bismarck / 1940.
MARTHA EGGERTH (1912-2013). Nome verdadeiro_Márta Eggert. Local de nascimento: Budapeste, Hungria (Antigo Império Austro-Húngaro). Filha de uma soprano coloratura (de quem ela herdou o dom) e de um banqueiro, estreou no teatro na opereta Mannequins, de Pál Abrahám, aos onze anos de idade e foi considerada uma criança prodígio. Nos anos seguintes, começou a cantar o repertório mais exigente de coloratura de compositores como Rossini, Meyebeer, Offenbach e Johann Strauss II. Ainda adolescente, ela excursionou por vários países da Europa, sendo afinal convidada por Emmerich Kálmán, para ser a substituta eventual da famosa soprano coloratura da Ópera Estatal de Viena, Adele Kern, na sua opereta Das Veilchen vom Montmartre. Mártha acabou assumindo o papel principal e conquistou os críticos. Em 1929, com dezessete anos de idade, interpretou o papel de Adele em Die Fledermaus na célebre produção de Max Reinhardt de 1929 em Hamburgo. No início da década de trinta, Martha foi descoberta pela indústria cinematográfica, e logo se tornou uma estrela internacional, em uma época na qual o gênero opereta estava no auge. Martha estreou em Csak egy kistány van avilágon Katinka /1930, filme húngaro dirigido por Béla Gaál, e fez mais de trinta filmes, em cinco idiomas – húngaro, inglês, alemão, francês e italiano -, entre os quais se destacam aqueles que passaram no Brasil: Sombras da Noite / Der Draufgänger / 1931, Paraíso em Flor / Der Frauendiplomat / 1931, Uma Canção, Um Beijo, Uma Pequena / Ein Lind, ein Kuss, ein Mädel / 1932, Beijos Vienenses / Es war einmal ein Walzer / 1932, A Canção do Meu Amor / Moderne Mitgift , Cinco Minutos de Amor / Das Blaue von Himmel / 1932, Sinfonia do Amor / Kaiserwalzer / 1933, A Flor do Havaí / Die Blume von Hawaii / 1933, A Sinfonia Inacabada / Leise flehen Meine Lieder / 1933, O Tzarevitch / Der Tzarevitch / 1934, Meu Coração Te Chama / Mein Herz ruft nach dir / 1934, A Princesa das Czardas / Die Czardasfürstin / 1934, Seu Maior Triunfo / Ihr grösster Erfolg / 1935, Uma Grande Amor de Bellini / Casta Diva / 1935, Carmen Loura / Die blonde Carmen / 1935, Cló-Cló / Die ganze Walt draht sich um Liebe / 1935, Um Sonho de Valsa / Das Schloss in Flandern / 1936, Canção da Lembrança / Das Hofkonzert / 1937, La Bohème / Zauber der Boheme / 1937, A Grande Estrela / Immer wenn ich glücklich bin..! / 1938. Em nosso país, qualquer filme seu era sucesso absoluto, sendo que A Sinfonia Inacabada ficou dez semanas em cartaz. Em 1940, Martha e seu marido (e às vezes parceiro no cinema e no teatro), o tenor polonês Jan Kiepura, foram muito bem recebidos no Rio e São Paulo pela multidão de fãs e personalidades locais. Em 1938, após o Anchluss, declarando que a Áustria era território alemão, Martha e Jan, ambos filhos de mães judias, embarcaram para os Estados Unidos, onde continuaram suas carreiras no âmbito operístico. Martha apareceu em dois filmes de Hollywood com Judy Garland, Idílio em Dó-Re-Mi / For Me and My Gal / 1942 e Lily, a Teimosa / Presenting Lily Mars / 1943. Mas não gostou da experiência.
LILIAN HARVEY (1906-1968). Nome verdadeiro: Lilian Helen Muriel Pape. Local de nascimento: Crouch End, Inglaterra. “A garota mais doce do mundo”, como viria a ser anunciada pela UFA, mudou-se com a família da Inglaterra para Berlim em 1914 e passou a Primeira Guerra Mundial na Suiça. Em 1923, Lilian matriculou-se na escola de balé da Ópera Estadual de Berlim. Em 1926, o diretor Richard Eichberg colocou-a lado de Willy Fritsch em Casta Suzana / Die keusche Suzanne e os dois ascenderam à posição de “o casal dos sonhos “ do cinema alemão. O primeiro filme sonoro da dupla foi A Valsa do Amor / Liebeswalzer / 1929, após o qual eles encabeçaram o elenco de comédias musicais como A Caminho do Paraíso (Para o Brasil veio também a versão francêsa, Le Chemin du Paradis, com o mesmo título em português) / Die Drei von der Tankstelle / 1930; O Congresso Dança / (No Brasil passou também a versão francêsa Le Congrès S’Amuse com o título de O Congresso se Diverte) / Der Kongress tantz / 1931; Flagrante Delito / Einbrecher / 1930; Tudo por Ti / Hokuspokus / 1930; Não há mais Amor / Nie wieder Liebe / 1931; Ein blonder Traum / 1932 (No Brasil passou apenas a versão francêsa, Sonho Dourado / Un Rêve Blond). Lilian integrou ainda o elenco dos três filmes realizados em versões múltiplas (No Brasil foram exibidas as versões francêsas: Princesa às suas Ordens / Princesse a vos Ordres / 1931, Um Casal Alegre / La Fille et le Garçon / 1931, Eu e a Imperatriz / Moi et L’Imperatrice / 1932) e contracenou com Hans Albers em Adorável Sedução / Quick / 1932. Atendendo a um convite da Fox, a atriz participou de três filmes em Hollywood, Eu Sou Suzanne / I Am Suzanne / 1933 de Rowland V. Lee com Gene Raymond, O Meu “Beguin”/ My Weakness / 1934 de David Butler com Lew Ayres e Vivamos Esta Noite! / Let’s Live Tonight / 1935 de Victor Schertzinger com Tulio Carminatti. Em 1936, ela atuou novamente com Willy Fritsch na comédia maluca da UFA, Alegres Boêmios / Glückskinder / 1936 e fez, entre outros, Rosas Negras / Schwarze Rosen / 1935, Morrer de Amor / Fanny Eissler / 1937 e Capricho / Capriccio / 1938. Vigiada pela Gestapo, por ter ajudado colegas judeus e homossexuais, Lilian deixou a Alemanha, para contracenar com Vittorio de Sica em Castelli in aria / 1938-39, antes de emigrar para a França, onde apareceu em Os Amores de Schubert / Sérénade / 1939-40 e em seu derradeiro filme, Miquette / 1940. Após a ocupação alemã de Paris, Lilian foi para os Estados Unidos, onde trabalhou para Cruz Vermelha em Hollywood e rejeitou todas as propostas para voltar ao cinema.
BRIGITTE HELM (1906-1996). Nome verdadeiro: Brigitte Eva Gisela Schittenhelm. Local de nascimento: Berlim, Alemanha. Educada em um seminário religioso perto de Berlim, seu primeiro contato com o teatro ocorreu em produções escolares. Depois de ter sido lançada por Fritz Lang no papel de Maria na obra-prima futurística Metrópolis / 1925-26, a UFA deu-lhe papéis importantes em Traição / Am Rande der Welt de Karl Grunn e O Amor de Jeanne Ney / Die Liebe der Jeanne Ney de G. W. Pabst, ambos de 1927. Após o sucesso de seu próximo filme, Alraune / Alraune / 1927 de Henrik Galeen, ela passou a ficar estereotipada como vampe fria e majestosa. Helm processou a UFA por ter lhe recusado outros papéis e foi logo mostrada com uma imagem diferente – uma adúltera que se suicida para evitar a ruina de seu amante – no suntuoso melodrama A Maravilhosa Mentira de Nina Petrovna / Die wunderbare Lüge der Nina Petrova / 1928-29 de Hanns Schwarz. No mesmo ano, apareceu ao lado de seu parceiro de Metrópolis, Alfred Abel, em uma adaptação cinematográfica sofisticada do romance de Émile Zola intitulada L’Argent (Exibido no Brasil com este mesmo título)/ L’Argent. A estréia de Helm no cinema sonoro deu-se ao lado do tenor Jan Kiepura em Die singende Stadt de Carmine Gallone e ela voltou a fazer um papel de vampe como a rainha do deserto Antinea de Die Herrin von Atlantis / 1932 de G.W. Pabst, filmado em versões alemã, francêsa e inglêsa (No Brasil, passou somente a versão francêsa, L’Atlantide, com o titulo em português de Atlântide). Outros filmes importantes de sua carreira foram: Manolesco / Manolescu, Der König der Hochstapler / 1930, A Condessa de Monte Cristo / Die Gräfin von Monte Christo, Conquista a tua Mulher / Gloria / 1931, Cuidado! Espiões! / Spione am Werk / 1932-33, A Princesa dos Milhões / Die schönen Tage von Aranjuez / 1933, Ouro / Gold / 1933-34, Na Voragem da Vida / Die Insel / 1933-34, De Jogador a Príncipe / Fürst Woronzeff / 1934. A última aparição de Brigitte Helm na tela foi em Ein idealer Gatte / 1935 de Herbert Selpin, após o que, seu contrato com a Ufa expirou, e ela se retirou do cinema.
MARIANNE HOPPE (1909-2002). Nome verdadeiro: Marianne Stefanie Paula Henni Gertrud Hoppe. Local de nascimento: Rostock, Alemanha. Estudou arte dramática no Deutsches Theater em Berlim, interpretando uma variedade de papéis clássicos e contemporâneos sob orientação de Max Reinhardt e outros encenadores teatrais de renome. Estreou na tela em 1933 no drama de época Der Judas von Tirol. Subsequentemente, Marianne fez algumas comédias rurais dirigidas por Carl Froelich (Krach um Jolanthe / 1934, Wenn der Hahn kräth / 1935-36) e também filmes de propaganda hitlerista tal como Crepúsculo / Derr Herscher / 1936-37 de Veit Harlan. Casada com o ator Gustaf Gründgens desde 1936, tornou-se a atriz principal do Berlin’s Staatliches Schauspielhaus (Teatro Estatal), que estava sob a direção artística do marido. Marianne estrelou dois filmes dirigidos por Gründgens, Kapriolen / 1937 e Der Schritt vom Wege / 1938-39, e se destacou como a noiva paciente de um cinegrafista de cine-jornais que vive viajando pelo mundo em Auf Wiersehen, Franziska / 1940-41 e como a heroína trágica em Romanze in Moll / 1942-43, produções dirigidas por Helmut Kautner durante a guerra. O tema da esposa infiel de Romanze in Moll enfureceu Goebbels que, em nome da moralidade, quís destruir todas as cópias do filme. Porém Wolfgang Liebeneiner, então chefe da UFA, implorou-lhe para deixar o espetáculo intacto, porque se tratava de uma obra de arte soberba. Após uma discussão acalorada, Goebbels concordou, mas se referiu ao filme como “derrotista”.
BRIGITTE HORNEY (1911-1988). Nome verdadeiro: Brigitte Horney. Local de nascimento: Berlim, Alemanha. Filha da célebre psicanalista, Karen Horney, ela frequentou aulas de interpretação e de dança, antes de ganhar o papel principal no filme Abschied / 1930 de Robert Siodmak. Brigitte se impôs finalmente no mundo cinematográfico como uma cantora de fossa interpretando a música de sucesso de Theo Mackeben, “So der so ist das Leben” no filme Amor, Morte e Diabo / Liebe Tod und Teufel / 1934, baseado em um romance de Robert Louis Stevenson. Em 1936-37, fez dois filmes na Inglaterra, The House of the Spaniard e Secret Lives (conhecido nos EUA como I Married a Spy). De volta à Alemanha, nazista, algumas das personagens fortes e independentes de Brigitte não estavam de acordo com as expectativas do Estado quanto à feminilidade apropriada para uma mulher alemã; porém algumas outras se encaixavam na ideologia Nacional Socialista, tais como a companheira-de-armas leal de um engenheiro que executa tarefas militares na Primeira Guerra Mundial em Regresso à Pátria / Ein Mann will nach Deustschland /1934 (Dir: Paul Wegener) e a “alemã étnica” patriótica de Feinde / 1940 (Dir: Viktor Tourjansky). Ela estrelou, como uma jovem, simples e modesta, o filme Das Mädchen von Fanö / 1940 (Dir: Hans Schweikart), mas obteve papéis mais glamourosos em O Dominó Verde / Der grüne Domino / 1935, Aconteceu em Moscou / Savoy Hotel, 217 / 1936, Terra em Chamas / Stadt Anatol / 1936 e como Catarina, a Grande em Barão Münchhausen / Münchhausen / 1942-43 de Josef von Báky. Um dos melhores desempenhos da carreira da atriz foi interpretando uma escultora em Befreite Hände / 1939, melodrama dirigido por Hans Schweitkart, que obteve grande êxito. Pouco antes do fim da guerra, Brigitte foi para a Suiça, onde trabalhou no teatro local de 1946 a 1948. Em 1950, foi para os Estados Unidos, tornando-se cidadã americana três anos depois.
ZARAH LEANDER (1907-1981). Nome verdadeiro: Sara Stina Hedberg. Local de nascimento: Karlstad, Suécia. Estudou piano desde criança e cantou pela primeira vez em público em 1913. Mais tarde, entre 1929 e 1935, trabalhou em revistas, operetas e comédias teatrais através da Suécia, gravou discos e começou a aparecer em filmes suecos. Em 1936, fez seu primeiro filme falado em alemão na Áustria, interpretando uma estrela do teatro revista no thriller criminal de Géza von Bolvary, Première / Première. Zarah estabeleceu a sua persona típica de mulher sofredora, cuja vida amorosa resulta em um melodrama trágico em dois filmes de Detlef Sierk (Douglas Sirk) como Recomeça a Vida / Zu Neuen Ufern / 1937 e La Habanera / La Habanera / 1937, nos quais teve também ampla oportunidade de cantar suas baladas sentimentais características. Após a partida de Sierk para o exílio, outros diretores deram prosseguimento à fórmula, especialmente Carl Froelich que dirigiu Zarah em Minha Terra ou Pecado de Mulher / Heimat / 1938, Noite de Baile / Es war eine rauschende Ballnacht / 1939 e Das Herz der Konigin / 1939-40, no qual ela fazia o papel de Maria Stuart. Ainda em 1938, Zarah aderiu à comédia em A Raposa Azul / Der Blaufuchs, sob o comando de Victor Tourjanski. Após a erupção da Segunda Guerra Mundial, as personagens abnegadas de Zarah serviram como exemplo propagandístico para mulheres deixadas sozinhas na “frente doméstica” particularmente em Der Weg ins Freie / 1940-41 e Die grosse Liebe / 1941-42, um dos filmes mais populares do período nazista. Em 1943, depois de ter sido intimada a adotar a nacionalidade germânica e deixar de receber seus salários em moeda estrangeira, Zarah rompeu seu contrato com a UFA e retornou ao seu país natal.
RENATE MÜLLER (1906-1937). Nome verdadeiro: Renate Müller. Local de nascimento: Munich, Alemanha. Criada na Bavaria, Renate mudou-se para Berlim com sua família em 1924. Após algumas lições de canto, frequentou aulas de arte dramática na Escola de Max Reinhardt, onde o diretor G. W. Pabst era seu professor. No final dos anos vinte, encorajada pelo diretor Reinhold Schünzel, iniciou uma carreira no cinema. Entre seus primeiros papéis estava o de noiva do pugilista Max Schmeling em Amor e Boxe / Liebe im Ring / 1929-30. Como as primeiras realizações sonoras usavam muitos interlúdios musicais, a experiência de Renate como cantora foi muito produtiva. A canção “Ich bin ja heut’ so glücklich”, que ela interpretou em Die Privatsekretärin / 1930 obteve muito sucesso Ela repetiu o mesmo papel nas versões francêsa e inglêsa: Dactylo / 1930 e Sunshine Susie / 1931. Nos próximos anos, Renate associou-se a Schünzel, atuando em oito filmes sob sua direção. Os resultados mais notáveis dessa associação foram o delicioso Viktor und Viktoria / 1933 (Para o Brasil, veio a versão francêsa, George e Georgette / Georges et Georgette com Meg Lemonnier) e Um Casamento Inglês / Die englische Heirat / 1934, sátira à aristocracia britânica. No drama de época de Gustav Ucicky, Sans-Souci / Das Flötenkonzert von Sanssouci / 1930, Renate introduziu um toque de frivolidade no tom geral reverente do filme, flertando sedutoramente com Theo Lingen. Uma de suas últimas aparições na tela foi na comédia sofisticada de Willi Forst, Allotria / Allotria / 1936, formando um quarteto com Adolf Wohlbrück, Heinz Rühman e Jenny Jugo. Outros filmes importantes foram: O Favorito dos Deuses / Liebling der Götter / 1930, Como Direi a Meu Marido ? / Wie sag’ ich’s meinem Mann? / 1932, Quando o Amor faz a Moda / Wenn die Liebe Mode macht / 1932, Saison in Kairo / 1933 (No Brasil passou a versão francêsa, À Sombra da Esfinge / Ydille au Cairo / 1933). A partir de 1934, Renate reduziu seu trabalho no cinema devido a problemas de saúde. Tal fato suscitou rumores de que a atriz teria caído em desgraça perante o regime nazista devido ao seu relacionamento com um judeu. Quando ela faleceu, com 31 anos de idade, em um sanatório de Berlim, foram levantadas suspeitas de um possível suicídio ou assassinato.
KÄTHE VON NAGY (1904-1973). Nome verdadeiro: Ekaterina Nagy von Cziser. Local de nascimento: Szatmar, Hungria. Filha de um diretor de banco em Szabadtka, Käthe frequentou aulas de interpretação na escola de cinema de Béla Gaál em Budapest. A família era contra sua carreira de atriz, mas eventualmente permitiu que ela viajasse a Berlim, onde fez testes para o cinema ao mesmo tempo em que trabalhava para um jornal húngaro. Em 1927, Käthe obteve um papel secundário em Männer vor der Ehe, comédia dirigida por Constantin J. David, com quem se casaria. Ela então se especializou em tipos de “adolescente graciosa” em uma série de filmes tais como Die Republik der Backfische / 1928, e Mascottchen / 1928-29, que consolidaram sua reputação como a estrela de comédias leves do cinema alemão, conquistando reconhecimento internacional em Die Durchgängerin / 1927-28. No final dos anos vinte, Käthe expandiu seu repertório e assumiu papéis mais sérios como o de uma operária de fábrica que faz um pacto de suicídio com seu marido na produção italiana Rotaie / 1929, dirigida por Mario Camerini. Ela trabalhou com alguns dos diretores mais significativos do período Weimar como Joe May (Sua Majestade, o Amor / Ihre Majestät die Liebe / 1930), Hanns Schwarz (Ihre Hoheit Befiehlt / 1931), Reinhold Schünzel (Ronny / Ronny / 1931) e Gerhard Lamprecht (Turandot / Prinzessin Turandot / 1934). Outros filmes importantes de Käthe foram: Hotel Atlantic (No Brasil foi exibida a versão francêsa, Le Vainqueur) / Der Sieger / 1932, Eu de Dia, Tu de Noite / Ich bei Tag und du bei Nacht / 1932, Noite de Núpcias (No Brasil passou a versão francêsa, La Belle Aventure), Das schöne Abenteuer / 1932, Heróis sem Pátria (No Brasil foi apresentada a versão francêsa Au Bout du Monde) / Flüchtlinge / 1933, Quero Casar Contigo / Die Freudin eines grossen Mannes / 1934, Quero Ser Grande (No Brasil o público só viu a versão francêsa, Un Jour Viendra) / Einmal eine grosse Dame sein / 1933-34, Rosas Vienenses / Der junge Baron Neuhaus / 1934, Um Sonho que Passou / Die Pompadour / 1935, Ave Maria / Ave Maria / 1936. Devido à sua capacidade linguística, Käthe atuou nas versões francêsas de vários de seus filmes e, como Kate de Nagy, apareceu, por exemplo, nos filmes francêses Glória de um Império / La Route Impériale / 1935, de Marcel L’Herbier, Cargaison Blanche / 1936 de Robert Siodmak, A Batalha em Segredo / La Bataille Silencieuse / 1937 de Pierre Billon. No início da Segunda Guerra Mundial, ela fez Mahlia la Métisse / 1939-42, e depois praticamente se retirou do cinema.
POLA NEGRI (1894-1987). Nome verdadeiro: Barbara Apolonia Chalupiec. Local de nascimento: Janowo, Polonia. Estudou arte dramática em Varsóvia entre 1909 e 1911. Em 1912, estreou no palco do Leines Theater e, um ano depois, atuou como dançarina no Teatr Wielki, em um espetáculo de mimica arabesca intitulado Sumurun. Em 1914, fez sua primeira aparição na tela no filme de Jan Pawlowski, Niewolnica Zmyslów. Durante a Primeira Guerra Mundial, foi para Berlim, onde ingressou no Deutsches Theater. Pola iniciou sua carreira no cinema alemão em Nich lange täusche das Glück / 1917 e ascendeu ao estrelato sob a direção de Ernst Lubitsch, interpretando papéis principais em A Múmia / Die Augen der Mumie Ma / 1918, Carmen / Carmen / 1918, Madame Dubarry / Madame Dubarry / 1919, Sumurun / Sumurun / 1920, Gatinha Amorosa / Die Bergkatze / 1921, A Modista de Montmartre / Die Flamme / 1921. Em 1922, contratada pela Paramount, Pola foi para os Estados Unidos, triunfando em mais um filme de Lubitsch, Paraiso Perdido / Forbidden Paradise / 1924. Outros trabalhos importantes em Hollywood foram: A Bela Diana / Bella Donna / 1923, A Dançarina Espanhola / The Spanish Dancer / 1923, A Condessa Democrata / A Woman of the World / 1927. O estilo de vida extravagante de Pola, sua falsa rivalidade com Gloria Swanson e seu romance tempestuoso com Rudolph Valentino, fizeram as delícias dos colunistas de mexericos. Por causa do sotaque acentuado, ela teve dificuldade em prosseguir sua trajetória artística no cinema falado americano e resolveu voltar para Berlim, onde teve um retorno cinematográfico sensacional em Mazurka / Mazurka / 1935, grande drama dirigido por Willi Forst. Goebbels escreveu no seu Diário: “Mazurka por Forst com Pola Negri realizado virtuosamente. E Negri tem um desempenho empolgante”. Três anos mais tarde, Pola deixou a Alemanha, quando as autoridades nazistas classificaram-na como parcialmente judia. Antes de partir, participou ainda de: Moscou- Shanghai / Moskaw-Shanghai / 1937, A Mulher que amou Demais / Madame Bovary / 1937, Tango Noturno / Tango Noturno / 1938, A Falsária / Die fromme Lüge / 1938. Em 1941, voltou para a América, e lá fez um pastiche de sua persona vampe em Casados sem Casa / Hi Diddle Diddle / 1943.
MARIKA RÖKK (1913-2004). Nome verdadeiro: Marie Karoline Rökk. Local de nascimento: Cairo, Egito. Passou a infância em Budapest, onde frequentou aulas de dança. Em 1924, a família mudou-se para Paris, onde ela, aos onze anos de idade, integrou o conjunto de dança The Hoffman Girls, aparecendo pela primeira vez em público no Moulin Rouge. Marika passou os anos vinte excursionando por Nova York, Berlim, Monte Carlo, Cannes, Londres e Paris. Em Budapeste e Viena, encabeçou o elenco de várias operetas e comédias musicais. Sua primeira experiência no cinema foi como dançarina em duas comédias britânicas sob a direção de Monty Banks: Kiss Me Sergeant e Why Sailors Leave Home, ambas de 1930. Pouco depois, estrelou dois filmes húngaros em 1931 e 1933, antes de ser contratada pela UFA em 1935. Seu primeiro filme alemão foi Cavalaria Ligeira / Leichte Kavalliere / 1935, seguindo-se sua primeira colaboração com o diretor Georg Jacoby em Rapsódia Húngara / Heisses Blut / 1936. Os filmes usavam a mesma fórmula dos musicais de bastidores de Hollywood e, nos números musicais, Marika demonstrava dotes excepcionais de cantora e dançarina-acrobata. Seus melhores filmes foram: O Estudante Mendigo / Der Bettelstudent / 1936, Gasparone / Gasparone / 1937, Ritmo Ardente / Und du men Schat fürst mit / 1937, Eine Nach in Mai / 1938, Kora Terry / 1940, Frauen sind doch bessere Diplomaten / 1939-41 (Primeiro longa-metragem alemão em cores), todos sob direção de Jacoby, e Alô, Janine / Halo Janine, dirigido por Carl Boese. Ocasionalmente, Marika era vista em outros gêneros e papéis mais sérios como, por exemplo, ao lado de Zarah Leander em Noite de Baile / Es war einer rauschende Ballnacht.
SYBILLE SCHMITZ (1909-1955). Nome verdadeiro: Sybille Schmitz. Local de nascimento: Düren, Alemanha. Depois de ter cursado uma escola de arte dramática em Köln (Colônia), Sybille sobe ao palco pela primeira vez no Deutsche Theater em Berlim. Sua estréia no cinema deu-se em um curta-metragem, Freie Fahrt / 1928 (também conhecido como Polizeibericht Überfall). Em seguida, ela ganhou um papel secundário ao lado de Louise Brooks no filme de G. W. Pabst, Diário de uma Pecadora / Tagebuch einer Verlorene /1929. Seu desempenho como a anêmica Léone em O Vampiro / Vampyr / 1931-32, de Carl Theodor Dreyer, foi muito bem acolhido pelos críticos e também no filme sonoro. Em F. P. 1 antwortet nicht / 1932, ela era cortejada por Paul Hartmann e Hans Albers. Sybille veio a encarnar a mulher fatal elegante e enigmática: George Sand em Abschiedswalzer / 1934 de Geza von Bovary; Gloria Chevely (personagem da peça An Ideal Husband de Oscar Wilde) em Ein idealer Gatte / 1935 de Herbert Selpin; e a espiã russa Anna Demidow em A Espiã do Tzar /Die Leuchter des Kaisers de Karl Hartl. Ela ofereceu para o público interpretações convincentes em filmes como Episódio Musical / Musik im Blut / 1934, Devastador do Mundo / Der Herr der Welt / 1934, Stradivarius / Stradivari / 1934-35, Fährmann Maria / 1935, Die Unbekannte / 1936, Tanz auf dem Vulcan / 1938-39. No anos quarenta, Sybille apareceu menos na tela e foi requisitada para filmes de propaganda como Trenck, der Pandur / 1940, Wetterleuchten um Barbara / 1942-43 e a superprodução Titanic / 1942-43, conturbada pelo “suícidio” do diretor Herbert Selpin na prisão, por ordem de Goebbels.
KRISTINA SÖDERBAUM (1912-2001). Nome verdadeiro: Beata Margareta Kristina Söderbaum. Local de nascimento: Vetenskapsstaden, perto de Estocolmo, Suécia. Filha de um professor de química (e presidente do comitê do Prêmio Nobel), Kristina foi educada em colégio interno na Suécia e Paris. Em 1934, após a morte de seus progenitores, mudou-se para Berlim, onde estudou História e Arte germânicas. Estreou no cinema no filme de Erich Wasneck, Onkel Bräsig / 1936. No ano seguinte, conheceu o diretor Veit Harlan, que lhe deu o papel principal em Juventude Ardente / Jugend / 1937-38. O filme marcou o início de uma longa colaboração que tornou Kristina uma grande estrela na Alemanha e, em 1939, também esposa de Harlan. Entre os filmes que fez sob comando do marido, destacam-se Verwehte Spuren / 1938; Die Reise nach Tilsit / 1939 (baseado na mesma fonte literária de Aurora / Sunrise de F. W. Murnau); o anti-semita Jud Süss / 1940; três melodramas românticos admiráveis, Cidade da Ilusão / Die Goldene Stadt / 1941-42, Immensee / 1942-43 e Opfergang / 1942-44, e dois filmes de propaganda com ambiente histórico e grande movimentação de massa, O Grande Rei / Der grosse König / 1940-42 e Kolberg / 1945. Depois da guerra, Kristina atuou no teatro em Hamburgo, recusando projetos de cinema em solidariedade a Harlan, que havia sido banido da realização de filmes pelos Aliados.
PAULA WESSELY (1908-2000). Nome verdadeiro: Paula Anna Maria Wessely. Local de nascimento: Viena, Austria. Sobrinha de Josefine Wessely, conhecida atriz do Burgtheater de Viena, foi treinada para a profissão desde menina. Estudou arte dramática, inclusive com Max Reinhardt, e trabalhou no Volkstheater e outros teatros. Em Berlim, causou boa impressão na peça Rose Bernd de Gerald Hauptmann em 1930 e continuou aparecendo regularmente no Deutsches Theater até 1945. Sua estréia no cinema deu-se na comédia elegante e sofisticada de Willi Forst, Mascarada / Maskerade / 1934, sucesso retumbante em todo o mundo. No mesmo ano, alcançou outro triunfo, desta vez tendo Willi Forst como seu parceiro em frente das câmeras, em Assim Acaba um Grande Amor / So endete eine Liebe. Em 1935, ela interpretou o papel principal de Romance em Viena / Episode, e encantou os críticos domésticos e internacionais pela sua naturalidade e seu charme vienense. Durante o Terceiro Reich, Paula desfrutou uma carreira exitosa no cinema nazista, frequentemente sob às ordens de Geza von Bovary (Julika / Ernte / 1936, Spiegel des Lebens / 1938, Maria Ilona / 1939). A maioria de seus filmes – alguns com seu marido, o ator Attila Hörbiger – tinham propósitos ideológicos implícitos, apresentando protagonistas femininas que reprimiam seus desejos em nome do dever conjugal e patriótico. Em termos de propaganda explícita, o exemplo mais contundente foi Heimkehr / 1941, de Gustav Ucicky, que pretendia justificar a invasão da Polonia pela necessidade de defesa da minoria étnica germânica ali existente. Os poloneses são apresentados como carrascos brutais, que queimam livros e móveis das escolas da comunidade alemã, amontoam mulheres, velhos e jovens em jaulas como se fossem feras, e depois matam impiedosamente os prisioneiros; enfim, praticam as mesmas atrocidades, que foram imputadas ao nazistas no pós-guerra. No final, Paula Wessely, em um discurso dramático, diz: “Um dia chegará quando viveremos entre alemães e, ao entrarmos em uma loja, nenhuma palavra de yiddish ou polonês será falada, mas somente o idioma germânico”.
Olá, Gomes de Mattos.
Mais uma vez, parabéns pelo excelente Blog.
Difícil seria alguém pesquisar tudo o que é postado aqui.
Grande abraço.
g alves
No Brasil, de fato, a pesquisa é árdua. Mas costumo recorrer a fontes literárias e dvds estrangeiros. Um forte abraço.