ESCAPISMO EM GLORIOSO TECHNICOLOR
junho 13, 2014No parágrafo inicial do capítulo “The King and Queen of Technicolor” do seu livro, A Thousand and One Delights, Alan G. Barbour escreveu: “Se eu tivesse que nomear a série de filmes que mais captaram o espírito escapista dos filmes da década de quarenta, não hesitaria em escolher os seis filmes de aventuras em Technicolor com Jon Hall e Maria Montez produzidos pela Universal entre 1942 e 1945”. Realizados com o propósito principal de divertir as platéias, que queriam desviar suas mentes dos problemas de um mundo convulsionado pela guerra, esses filmes fizeram muito sucesso na época e a simples menção dos nomes de seus dois intérpretes principais desperta na memória dos fãs as imagens coloridas magníficas daqueles espetáculos.
Antes de descrevê-los, exponho em poucas linhas um resumo das biografias dos seus astros.
Maria Africa Gracia Vidal (1912-1951) nasceu em Barahona na República Dominicana. Seu pai, de descendência espanhola, era exportador de madeiras de guáiaco e possuía também o título de Vice Consul Honorário da Espanha na Republica Dominicana. Desde criança Maria demonstrou que queria ser atriz. Ela aprendeu inglês autodidaticamente, ouvindo canções e lendo publicações americanas. Em 28 de novembro de 1932, quando seu pai servia na Irlanda do Norte, casou-se com um banqueiro irlandês, William McFeeters, empregado do First National City Bank em Nova York. Depois de sete anos de casados, ela foi para os Estados Unidos, onde obteve seu primeiro emprego como modelo, posando para a capa de uma revista.
Certo dia recebeu um telefonema de George Schaefer, alto executivo da RKO, convidando-a para um teste, mas ela acabou aceitando uma proposta da Universal. Maria escolheu o nome de Maria Montez em homenagem à dançarina Lola Montez, que seu pai admirava. Após ter sido incluída em três produções “B” (Castigo Merecido / Boss of Bullion City / 1940, Mulher Invisível / The Invisible Woman / 1940 e Caçadores de Notícias / Lucky Devils / 1941), Maria foi emprestada para a 20th Century-Fox e chamou atenção em uma pequena cena de Uma Noite no Rio / That Night in Rio / 1941 conversando com Don Ameche e provocando o ciúme da nossa Carmen Miranda (que dizia para Maria, “Cai fora!”). Prosseguindo sua carreira, Maria apareceu, entre alguns filmes de pouca importância (Bandoleiros do Deserto / Raiders of the Desert / 1941, Luar e Melodia / Moonlight in Hawaii / 1941, O Avião do Oriente / Bombay Clipper / 1942), em Ao Sul de Tahiti / South of Tahiti, que a Universal realizou com a intenção de competir com a Paramount, cujos filmes com Dorothy Lamour de sarongue estavam lotando os cinemas com o público que queria fugir das preocupações do conflito mundial.
Em outubro de 1942, enquanto filmava O Mistério de Marie Roget / The Mystery of Marie Roget, baseado na obra homônima de Edgar Allan Poe, Maria conheceu o ator francês Jean-Pierre Aumont, que havia sido contratado pela MGM para fazer A Cruz de Lorena / The Cross of Lorraine / 1943. Eles se casaram em 13 de julho de 1943, porém Aumont teve que cumprir seu compromisso com o exército francês, no qual servia. Finalmente, os chefões da Universal descobriram onde deveriam colocar Maria e sabiamente a incluiram na produção de As Mil e Uma Noites / Arabian Nights / 1942, primeiro filme em cores do estúdio, que iniciou a famosa série de aventuras. Vestindo roupas orientais com turbantes e véus, e reaprendendo o sotaque que havia perdido após alguns anos de permanência nos Estados Unidos, Maria causou uma bela impressão, influenciando a moda ocidental, principalmente com relação aos turbantes. Ela fotografava esplendidamente em Technicolor, fato que ficou definitivamente comprovado nos filmes seguintes da série: Branca Selvagem / White Savage / 1943, Ali Babá e os Quarenta Ladrões / Ali Baba and the Forty Thieves / 1944, Mulher Satânica / Cobra Woman / 1944, Alma Cigana / Gypsy Wildcat / 1944 e A Rainha do Nilo / Sudan / 1945.
Terminado o último dos seis filmes escapistas para a Universal (entre os quais ela integrou os créditos de Epopéia da Alegria / Follow the Boys / 1944 e Saudades do Passado / Bowery to Broadway / 1944), Maria fez um filme em preto e branco Tânger / Tangier / 1946, nitidamente inspirado em Casablanca de Michael Curtiz, mas não teve sorte. Sem a magia da cor, o espetáculo não provocou o mesmo encanto. Em 1946, por intermédio de seus advogados, ela acionou a Universal, porque na promoção de O Exilado / The Exile, filmado em Sepiatone por Max Ophuls, só foi mencionado o nome de Douglas Fairbanks, Jr. e Maria só apareceu durante 20 minutos na tela: a atriz ganhou 250 mil dólares na disputa judicial. Maria reapareceu novamente em Technicolor no filme Os Piratas de Monterey / Pirates of Monterey / 1947 e depois tomou a decisão de sair para sempre da Universal, assinando contrato com o produtor Seymour Nebenzal para participar do filme Atlântida, o Continente Perdido / The Siren of Atlantis / 1949 ao lado de Jean-Pierre Aumont.
No final da Segunda Guerra Mundial, Maria mudou-se para Paris com seu esposo, sendo ambos muito bem acolhidos pelos francêses. O primeiro filme deles na França foi Brumas Sangrentas / Hans, Le Marin / 1949, seguindo-se Máscara de um Assassino / Portrait d’un Assassin / 1949, no qual ela contracenou com grandes atores como Erich von Stroheim, Pierre Brasseur e Arletty. Posteriormente, Maria viajou até a Itália para integrar a equipe de O Ladrão de Veneza / Il Ladro di Venezia / 1950 e, segundo os críticos, teve o melhor desempenho de sua carreira. Após um segundo filme italiano, Amore e Sangue / 1951, Maria retornou à França, e estreou no palco em uma peça, “L’Ile Heureuse”, que Jean-Pierre Aumont escrevera para ela. De novo na Itália, Maria e Jean-Pierre fizeram La Vendetta del Corsario / 1951 e, em maio de 1952, o agente deles, Louis Schurr, fez uma proposta a Maria, para que ela voltasse para Hollywood. Ela aceitou com muita satisfação, porém não pôde assumir o compromisso, porque faleceu em 7 de setembro, aos 39 anos de idade, enquanto estava tomando banho na sua casa em Sureness, Paris.
Jon Hall (1915-1979) nasceu com o nome de Charles Felix Locher, em Fresno na Califórnia e foi criado no Tahiti por seu pai, o ator de origem suíça, Felix Locher. Jon era sobrinho do escritor James Norman Hall, autor juntamente com Charles Nordhoff do romance “Mutiny on the Bounty”. Em 1935, Jon começou a trabalhar no cinema em filmes modestos, usando os nomes artísticos de Charles Locher e depois Lloyd Crane (Women Must Dress / 1935, Um Brinde ao Amor / Here’s to Romance / 1935, Charlie Chan em Shanghai / Charlie Chan in Shanghai / 1935, A Volta do Homem-Leão / The Lion Man / 1936, Vingador Misterioso / The Mysterious Avenger / 1936, A Mão que Aperta / The Clutching Hand / 1936 (seriado), Tenacidade / Winds of the Wasteland / 1936, Camisa de Onze Varas / Mind Your Own Business/ 1936, Aquela Dama Londrina / The Girl from Scotland Yard / 1937) até que, após ter sido rejeitado para o papel principal do seriado Flash Gordon, alcançou um sucesso notável ao lado de Dorothy Lamour (seu nome agora aparecendo nos créditos como Jon Hall), em O Furacão / The Hurricane / 1937, de John Ford. Os dois formaram um belo par, porém a grande atração do filme foi o furacão, providenciado pelos efeitos especiais de James Basevi e sua equipe. Seguiram-se sete filmes na trajetória cinematográfica do ator – A Pequena do Marujo / Sailor’s Lady / 1940, Ao Sul de Pago Pago / South of Pago Pago / 1940, Kit Carson / Kit Carson / 1940, Aloma, a Virgem Prometida / Aloma of the South Seas / 1941, A Vida Assim é Melhor / The Tuttles of Tahiti / 1942, Esquadrão de Águias / Eagle Squadron / 1942, Espião Invisivel / Invisible Agent / 1942 – , antes dele inaugurar a série de aventuras escapistas ao lado de Maria Montez em As Mil e Uma Noites. Os outros filmes de Jon foram: A Mulher que não Sabia Amar / Lady in the Dark / 1944, A Vingança do Homem Invisível / The Invisible Man’s Revenge / 1944, De Todo o Coração / San Diego, I Love You /1944, Ilusões da Vida / Men in Her Diary / 1945, O Valentão da Zona / The Michigan Kid / 1945, A Volta dos Vigilantes / The Vigilantes Return / 1947, O Filho do Sol / Last of the Redmen / 1947, Robin Hood, O Príncipe dos Ladrões / Prince of Thieves / 1948, Os Amotinados / The Mutineeers / 1949, Zamba / Zamba / 1949, Deputy Marshall / 1949, Samoa / Samoa ou On the Island of Samoa / 1950, Guerreiros do Sol / When The Red Skins Rode / 1951, Corsário Chinês / China Corsair / 1951, Tufão / Hurricane Island / 1951, Nobre Inimigo / Brave Warrior / 1952, O Expresso de Bombaim / Last Train from Bombaim /1952, filmografia sem nada de especial. Ele ficou conhecido na televisão pelo papel principal da série Ramar das Selvas e o Caçador Branco / Ramar of the Jungle (1952-1954) e fez ainda, no cinema, Hell Ship Mutiny / 1957 e O Segredo da Esmeralda / Forbidden Island / 1959. Em 1965, dirigiu, fotografou (e atuou em) um filme de horror, The Beach Girls and the Monster. Jon foi casado três vezes, sendo duas com artistas: Frances Langford e Raquel Torres. Para por fim ao sofrimento causado por um câncer na bexiga, suicidou-se com um tiro na cabeça aos 66 anos de idade.
OS FILMES E SEUS ENREDOS:
AS MIL E UMA NOITES / ARABIAN NIGHTS. Dir: John Rawlings. Após tentar em vão derrubar o regime legítimo de Haroun-al-Raschid (Jon Hall) em Bagdad, para se tornar califa e conquistar o amor da ambiciosa Sherazade (Maria Montez), seu irmão, Kamar el Zaman (Leif Erickson), é sentenciado a uma “morte lenta”. Ele resiste ao sofrimento e consegue escapar com o auxílio de seus seguidores. Durante o combate que se segue, Haroun é ferido e encontrado por um acrobata de circo, Ali-Ben Ali (Sabu). A fim de proteger Haroun, Ali coloca seu anel real no dedo de um rebelde morto. Certo de que seu irmão morreu, Kamar assume o trono. Entretanto, não consegue encontrar Sherazade, porque os artistas do circo são vendidos ao mercador Hakim (Thomas Gomez) como escravos, pelo Capitão (Turhan Bey), que havia sido incumbido por Nadan ( Edgar Barrier), o Grão Vizir – desejoso de alcançar o poder -, de matar Sherazade. Kamar fica sabendo dos fatos e vai à procura de sua amada enquanto que Nadan tenta comprar Sherazade no leilão de escravos. Haroun, Ali e outros artistas do circo – entre eles Sinbad (Shemp Howard) e Aladdin (John Qualen) – escapam de suas celas e salvam Sherazade das garras de Nadan. Mas Kamar chega e leva todos presos para uma cidade no deserto, que ele construira em homenagem a Sherazade. Nadan propõe soltar Haroun, se Sherazade concordar em envenenar Kamar na cerimônia de seu casamento. Ao saber que Nadan planeja matar Haroun, Ali e seus companheiros partem para salvar Haroun. Este chega ao banquete de casamento a tempo de impedir Sherazade de beber a bebida envenenada, que Kamar lhe oferecera antes dele próprio beber. Os dois irmãos se enfrentam e Ali chega com soldados leais a Haroun. Kamar está prestes a matar Haroun, mas é esfaqueado pelas costas por Nadan. Ahmad (Billy Gilbert), o dono do circo, impede Nadan de matar Haroun, e o Vizir acaba sendo morto por Valda (William “Wee Willie” Davis), o homem forte do circo, quando tentava escapar. Com a ordem restabelecida, Haroun recupera seu trono e, com ele, a mão de Sherazade, a esta altura mutuamente apaixonados.
BRANCA SELVAGEM / WHITE SAVAGE. Dir: Arthur Lubin. Em Port Coral, nos Mares do Sul, o comerciante Sam Miller (Thomas Gomez) é informado pelo pescador Frank Williams (John Harmon), de que existe uma piscina cheia de tijolos de ouro em Temple Island. Miller diz a Williams que ele até então era o único que sabia disto, e o estrangula. Tahia, a princesa reinante de Temple Island, procurando por seu irmão Tamara (Turhan Bey), que passa suas noites no antro de jogatina de Miller, encontra um pescador de tubarões, Kaloe (Jon Hal), amigo de Orano (Sabu), filho de sua criada Blossom (Constance Purdy). Sem saber que ela é princesa, Kaloe a corteja, e nasce um idílio. Com a ajuda de Orano, Kaloe chega à ilha e descobre a verdadeira identidade de Tahia, mas ela o expulsa dali, porque pensa que ele está somente interessado em obter o direito de pescar naquela região. Depois de obter um empréstimo de Wong (Sidney Toler), um advogado / tabelião, para comprar suprimentos e um novo barco de pesca, Kaloe arma um esquema com Orano, para cair de novo nas graças de Tahia. Seu plano funciona e a princesa conduz o pescador por um passeio pela sua ilha, que inclui a piscina com o tesouro. Kaloe adverte Tahia de que embora ele não esteja interessado no tesouro, Miller pode ter outra intenção. Mais tarde, Miller vai a Temple Island, salva Tahia do assédio de seu sócio, Erik (Paul Guyfoyle), e lhe propõe casamento. A princesa o rejeita e cai nos braços de Kaloe. Miller permite que o endividado Tamara aposte o título de propriedade de suas terras no pôquer, porém Kaloe entra no jogo e ganha a escritura. No dia em que Tahia vai anunciar seu noivado com Kaloe, Miller aparece com o cadáver de Tamara. Como sua faca foi usada no crime, Kaloe é acusado, e enviado para a cova dos leões; porém, consegue escapar, ajudado por Orano. Kaloe, Wong – com a colaboração de Tahia – e armam um plano para obter a confissão de Chris (Don Terry), capanga de Miller – o verdadeiro culpado da morte de Tamara -, apontando Miller como o mandante. Ao saber da confissão, Miller, Erik e outros homens armados, rumam para a ilha em busca do tesouro. Eles usam dinamite para esvaziar a piscina e com isto provocam um terremoto, que destrói parte da ilha e os aniquila. Tahia e Kaloe se reúnem para alegria de Orano, que os espia alegremente de longe.
ALI BABA E OS QUARENTA LADRÕES / ALI BABA AND THE FORTY THIEVES. Dir: Arthur Lubin. Após invadir Bagdad, o soberano mongol Hulagu Khan (Kurt Katch) ordena que todos os dias cem cidadãos da cidade sejam torturados até que o Califa deposto (Moroni Olsen) lhe seja entregue. Fora da cidade, o Califa tenta organizar suas tropas e retomar Bagdad, mas é traído pelo Príncipe Cassim (Frank Puglia) e morto enquanto que seu filho Ali (Scotty Beckett) foge, mergulhando nas águas de um rio. Na sua fuga, Ali descobre uma caverna, que é o esconderijo de um bando de ladrões. Ele é adotado pelo seu chefe, o Velho Baba (Fortunio Bonanova). Dez anos depois, os ladrões, comandados por Ali já adulto (Jon Hall) constituem a única resistência em Bagdad contra Hulagu, que oferece mil peças de ouro pela captura do jovem líder e seus homens. Ao saber que uma caravana transporta a noiva de Hulagu, Ali e seu guardião desde a infância, Abdullah (Andy Devine), se aproximam dela em uma missão de reconhecimento. Ali é capturado quando falava com a filha de Cassim, Amara (Maria Montez), a futura esposa de Hulagu. Ao chegar em Bagdad, Amara tenta romper seu noivado com Hulagu, mas o ambicioso Cassim a proíbe. O escravo de Amara, Jamiel (Turhan Bey), ajuda os ladrões a resgatarem Ali, que leva Amara como prisioneira e ela conta para Ali que não foi responsável pela sua prisão. O Velho Baba é mortalmente ferido no resgate e seu último desejo é que seu filho adotivo reclame seu devido lugar no trono de Bagdad. Sem saber que Amara é filha de Cassim, Ali envia uma mensagem por Jamiel, propondo a Hulagu, trocá-la pelo traidor. Hulagu diz a Cassim que a escolha é dele. Quando o covarde Cassim não aparece, os ladrões exigem a morte de Amara, para vingar a do Velho Baba, mas Ali, que a havia reconhecido como a menina com a qual na sua infância, fizera um pacto de amor marcado por um ritual de sangue, manda-a de volta a salvo para Bagdad. Quando Amara chega ao palácio, Cassim revela que Ali era o filho do Califa destronado. Ela proclama seu amor por Ali, e se recusa mais uma vez a se casar com Hulagu. Porém Cassim diz que sabe como fazê-la mudar de idéia. Hulagu finge que tortura Cassim e ela afinal consente com o matrimônio. Ali entra no palácio, disfarçado de monarca de um país estrangeiro, oferecendo ao tirano 40 jarros cheios de óleo, que escondem os ladrões. Cassim reconhece Ali, percebe o plano dos revoltosos, e avisa a Hulagu, seguindo-se uma dança de tártaros no final da qual estes cravariam suas cimitarras nos vasos. Entretanto, estes continham apenas areia, e então surgem os ladrões de armas na mão. Com a ajuda do povo, eles derrotam os invasores. Ali luta contra Hulagu, que finalmente é morto pela lança arremessada por Abdullah.
MULHER SATÂNICA / COBRA WOMAN. Dir: Robert Siodmak. No dia de seu casamento com Ramu (Jon Hall), a bela Tollea (Maria Montez) é raptada de sua casa no porto de Harbor, na Irlanda, por Hava (Lon Chaney, Jr.), o servidor mudo de sua avó (Mary Nash), a velha rainha do povo da Ilha de Cobra. MacDonald (Moroni Olsen), escocês residente em Harbor, diz a Ramu que fora torturado pelos nativos da ilha de Cobra até desmaiar e, quando acordou, viu-se com uma criança a bordo de sua embarcação. Embora tivesse criado Tollea como sua filha, MacDonald diz a Ramu que ele deve esquecê-la. Porém o rapaz ignora seu conselho e ruma para a ilha proibida. Seu amigo Kado (Sabu) viaja como clandestino no seu barco e, logo ao chegarem à ilha, salva a vida de Ramu, matando uma pantera negra com a sua zarabatana. Enquanto isso, Tollea é informada por sua avó de que foi trazida de volta para a ilha, a fim de salvar seu povo dos feitos maléficos de sua irmã gêmea, a Grande-Sacerdotiza Naja (Maria Montez). Confundindo Naja com Tollea, Ramu corteja a Grande-Sacerdotiza e é correspondido, porém vem a ser preso, e escolhido para fazer parte de um grande sacrifício humano ao vulcão da Montanha Sagrada. Ele consegue fugir da prisão durante um interrogatório por Martok (Edgar Barrier), principal sacerdote de Naja. Ramu descobre que Naja não é Tollea e, ao saber que sua irmã está na ilha, a Grande-Sacerdotiza consente em deixá-la sair da ilha em segurança, se Ramu concordar em ficar com ela; todavia, Ramu foge. Kado é preso e torturado por Martok. Ele se recusa a dizer onde Ramu e Tollea estão até ser resgatado por Hava com o auxílio do chimpanzé Koko, que distrai os guardas. A rainha pede a Naja que abdique de seu cargo em favor da irmã, mas a Grande-Sacerdotiza se recusa, e ordena uma busca intensiva da ilha por Tollea, Ramu e Kado. A rainha é assassinada por Martok, Ramu e Kado são aprisionados, e Tollea finalmente vai ao castelo real e se confronta com a irmã. Naja morre, ao cair de uma das janelas do castelo, quando tentava arremessar uma lança em Tollea. Esta assume o lugar de Naja e manda suspender as execuções de Ramu e Kado. Percebendo quem ela é, Martok obriga-a a executar a dança da cobra, um ritual mortífero, por meio do qual a Grande-Sacerdotiza escolhia suas vítimas. No momento em que Tollea desmaia perto da serpente, Kado mata o ofídio com sua zarabatana. O vulcão entra em erupção, causando desordem e destruição. Hava mata Martok. Depois da morte do sacerdote, a erupção cessa, e o povo de Cobra se liberta da opressão. Ramu e Kado deixam a ilha, mas Tollea se esconde no barco deles, e convence Ramu a voltar para Cobra.
ALMA CIGANA / GYPSY WILDCAT. Dir: Roy William Neill. Em uma feira cigana, o líder da tribo, Anube (Leo Carrillo), observa sua mulher Rhoda (Gale Sondergaad) ler a sorte, o filho Tonio (Peter Coe) tocar violino, e procura a principal atração de seu circo, a dançarina Carla (Maria Montez,) que ele adotou anos atrás, quando ela foi abandonada ainda bebê. Carla está descansando na floresta onde testemunha o assassinato do Conde Orso por uma flecha e depois vê um estranho, Michael (Jon Hall), afastar-se da cena do crime. Carla retorna à feira e dança, quando Michael chega, e fica arrebatado por sua performance, sem saber que Tonio o está espreitando, enciumado. O Barão Tovar (Douglas Drumbille) e suas tropas interrompem a dança, acusando os ciganos de terem assassinado o Conde Orso. Quando Michael diz a Tovar que os ciganos são inocentes, ele é imediatamente preso, mas consegue fugir a cavalo. Tovar então ordena que toda a tribo se dirija para o castelo após o que Carla encontra Michael escondido na floresta. Ela lhe indica um caminho secreto e ele foge dos soldados que o perseguem, depois de beijá-la apaixonadamente, notando a beleza de seu colar. Enquanto a caravana de ciganos ruma para o castelo, Tonio declara seu amor por Carla, mas ela lhe diz que ama Michael. Momentos depois, Michael entra na carroça de Anube, pedindo sua ajuda para escapar, prometendo-lhe descobrir o verdadeiro culpado e limpar o nome dos ciganos. Anube concorda, porém, assim que Michael vira as costas, ele o golpeia, com a intenção de entregá-lo a Tovar em troca da liberdade de sua tribo. Quando as tropas de Tovar chegam à procura de Michael, Carla o salva, disfarçando-o como um palhaço. No castelo, um suspeitoso Tovar pede para ver uma performance do palhaço, mas Michael escapa mais uma vez. Tovar ameaça queimar Carla com ferro em brasa se ela não revelar a identidade do palhaço, porém interrompe sua ameaça, quando vê o colar de Carla. No dia seguinte, depois que mandou prender os ciganos, Michael se apresenta diante dele e lhe revela que é um mensageiro enviado pelo rei e que sabe que Tovar matou o conde. Tovar ataca Michael, mas ele, depois de lutar com Tovar, consegue escapar. Em seguida, Tonio e Carla também fogem, e encontram Michael ferido por um guarda. Eles o levam para a floresta, onde Carla cuida dele. À noite, Tonio parte sem dizer nada, e Carla, para proteger Michael, distrai a atenção dos soldados que se aproximam, e é presa. Entrementes, Tovar diz ao comandante militar, Marver (Harry Cording) que o colar de Carla prova que ela é a filha da Condessa Orso, há muito tempo desaparecida e, portanto, herdeira do castelo. Enquanto Tovar planeja se casar com Carla, para se tornar dono de sua propriedade, Tonio incita as outras tribos ciganas para a luta. Ao mesmo tempo, Michael volta ao castelo para resgatar Carla, e é preso. Desesperada, Carla concorda em se casar com Tovar em troca da liberdade de Michael e dos ciganos. No dia do casamento Michael lidera os ciganos em uma fuga e Tovar foge levando Carla consigo em uma carruagem junto com o tabelião (Nigel Bruce). Michael o segue com um grupo de ciganos, resgata Carla enquanto que as tropas de Tovar são derrotadas por Tonio e os outros ciganos. Tonio morre, ao salvar Michael de ser atingido pela faca de Tovar. Ao recuar apavorado, este cai sobre a ponta de uma flecha que havia atravessado a porta da carruagem. MIchael e Carla retomam o castelo e os ciganos prosseguem sua jornada.
A RAINHA DO NILO / SUDAN. Dir: John Rawlings. Naila (Maria Montez), jovem e bela princesa egípcia, dança incógnita no mercado de Kemis, a cidade real às margens do Nilo. Ao saber que seu pai está retornando de uma viagem, ela corre para o palácio justamente a tempo de vê-lo morrer. Informada por Horadef (George Zucco), seu ministro conselheiro, de que o pai foi morto por Herua (Turhan Bey), líder de um bando de escravos foragidos, Naila jura vingança. Ela diz a Horadef que pretende procurar o assassino de seu pai viajando pelo deserto disfarçada de camponesa e ele então manda sequestrá-la, a fim de que possa reinar em seu lugar. Capturada e marcada com ferro em brasa como escrava, Naila consegue escapar, quando está para ser vendida a um mercador, Maatet (Robert Warwick). No deserto, ela encontra dois ladrões, Merab (Jon Hall) e Nebka (Andy Devine, que a conduzem para um leilão de cavalos. Após ganhar uma corrida, montando um belo animal, Naila e os dois amigos são aprisionados pelos seus perseguidores, porém Herua e seus homens os salvam. Herua os conduz para a cidade secreta dos escravos nas montanhas, onde o líder rebelde expressa seu amor por Naila. Quando Herua lhe revela sua verdadeira identidade, ela põe de lado seus pensamentos românticos e, planejando uma vingança, lhe pede para voltar à cidade real, para atuar como sua espiã. Em Kemis, Naila retoma seu trono e arma uma cilada para Herua que, em consequência, vem a ser preso. Herua proclama sua inocência quanto a morte do pai de Naila, mas ela, com o coração partido, ordena sua execução. Embora esteja também apaixonado por Naila, Merab ajuda Herua a escapar, trocando de lugar com ele no cativeiro. Ao despertar na manhã seguinte, Merab diz que foi vítima de mágica negra, tendo sido transportado por um tapete mágico de um harém para a cela da prisão. Perturbada, Naila ordena sua libertação, mas Horadef manda prender Naila e Merab. Enquanto definham na masmorra, Merab mostra para Naila o contéudo da bolsa de Horadef, que ele havia roubado. Reconhecendo o anel real de seu pai, ela finalmente compreende que seu ministro conselheiro foi o assassino de seu progenitor e não Herua. Horadef tortura Merab, e Naila concorda em lhe indicar o esconderijo de Herua. Ela conduz Horadef e suas tropas por uma passagem na montanha sabendo que a cidade está bem protegida. Avisado por Merab da invasão iminente, Herua deixa Naila passar pelo caminho estreito, antes de provocar uma avalanche de pedras. As tropas de Horadef sobreviventes são derrotadas pelos escravos e Hoaradef é morto por uma flecha atirada por Merab. Naila casa-se com Herua e Merab e Nebka voltam à sua vida de ladrões.
Essas fantasias pseudo-orientais ou tropicais tinham sempre os mesmos ingredientes: cenários grandiosos, fictícios e virtuais; fotografia em Technicolor de primeira ordem; histórias pitorescas com certas inverossimilhanças narradas em uma média de oitenta minutos, com muita vivacidade; par romântico atraente formado por intérpretes sofríveis, mas que atuavam com sinceridade, sempre focalizados em lindos close-ups; coadjuvantes de origem estrangeira (vg. Turhan Bey / Turhan Gilbert Selahattin Sahultavy, nascido na Áustria, filho de um diplomata turco e Sabu / o indiano Selar Shaik Sabu, filho de um condutor de camelos) e / ou oriundos das comédias curtas (vg. Billy Gilbert, Andy Devine, Shemp Howard) para os interlúdios cômicos ingênuos, porém espirituosos; figurinos belos e exóticos providenciados por Vera West e adornados pelas jóias de Eugene Joseff; música devidamente estridente para reforçar a ação (embora às vezes anacrônica); clímaxes excitantes (vg. as centenas de cavaleiros, tendo à frente Ali-Ben Ali, surgindo das montanhas em As Mil e Uma Noites, o terremoto em Branca Selvagem; a dança dos tártaros brandindo suas espadas em Ali Baba e os Quarenta Ladrões; a prova diante do Rei Cobra e a erupção do vulcão em Mulher Satânica; a perseguição desenfreada da carruagem em Alma Cigana, a avalanche de A Rainha do Nilo); propaganda para o esforço patriótico (eis que em todos os filmes subsistia subliminarmente o tema da resistência de um povo contra um tirano usurpador do poder); e, é claro, os finais felizes. Foram espetáculos muito populares e lucrativos na ocasião de seu lançamento, tendo sido reprisados algumas vezes, inclusive em nosso país, apesar de serem fustigados pelos críticos que, no entanto, reconheciam seu êxito como entretenimento.
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