Arquivo mensais:junho 2014

HENRI-GEORGES CLOUZOT

Henri-Georges Clouzot fêz apenas dez filmes de ficção de longa-metragem, mas suficientes para colocá-lo entre os diretores mais consagrados do cinema francês.

Henri-Georges Clouzot

Henri-Georges Clouzot

Ele nasceu em Niort no dia 20 de novembro de 1907, filho de Georges e Suzanne Clouzot. Suzanne transmitiu para seus três filhos (Henri, Jean e Marcel), a paixão familiar pela leitura e pela música. Quando o pai, com dificuldades financeiras, teve que vender sua livraria e sua tipografia, a família se transferiu para Brest, onde Henri, para realizar o desejo da mãe, tentou entrar para a Escola Naval. Entretanto, por causa de uma miopia no olho esquerdo, teve que abandonar o curso. O rapaz começou então fazer o curso de Direito Internacional e Ciências Políticas com a intenção de ser diplomata, mas achou que não tinha dinheiro suficiente para seguir esta carreira.

Para se sustentar, Henri tornou-se secretário do deputado da Lorena, Louis Marin, durante algum tempo. Em 1928, com vinte e um anos de idade, Clouzot deixou de viver com seus pais, que haviam se mudado para Paris, e se instalou no Hotel Proust, rue des Martyrs, com uma jovem marselhesa Mireille Ponsard. Nessa ocasião, seis meses como cronista no jornal Paris-Midi, sob as ordens de Pierre Lazareff, o colocaram em contato com o mundo do espetáculo.

Pôster de Une Soir de Rafle

No início dos anos trinta, uma nova companheira, a atriz Oléo, sabendo da pretensão de seu amante de ser escritor, apresentou-o a René Dorin, um dos cançonetistas mais populares da época. Clouzot aprendeu com Dorin as primeiras manhas da dramaturgia, escrevendo canções e esquetes para o teatro de revista. Após dois anos e meio de colaboração com Dorin, Clouzot colocou sua pena a serviço do cançonetista Mauricet. Ao escrever, juntamente com Henri Jeanson, um roteiro de esquete para Mauricet estrear no cinema francês, acabou sendo contratado pelo produtor Adolphe Osso como roteirista de filmes de Carmine Gallone (Un Soir de Rafle / 1931; Ma Cuisine de Varsovie / 1931, Le Roi des Palaces / 1932), Viktor Tourjansky (Le Chanteur Inconnu / 1931) e Jacques de Baroncelli (Le Dernier Choc / 1932). Em 1931, foi roteirista-adaptador de Je serai seule après minuit (Dir: Jacques de Baroncelli) e realizou um curta-metragem de 15 minutos, La Terreur des Batignoles. Na trama, um ladrão covarde se esconde atrás de uma cortina, quando os donos do apartamento, que ele está roubando, retornam inesperadamente. Os proprietários percebem os pés do larápio e lhe confiscam os objetos roubados; o ladrão verifica tardiamente que, apesar de estarem vestidos a rigor, não eram os donos do apartamento, mas um casal de gatunos mais corajoso.

Pôster de La Chanson d'une Nuit

Em 1933, Clouzot partiu para Berlim, onde supervisionou versões francêsas de filmes alemães de Anatole Litvak (Das Lied einer Nacht / La Chanson d’une Nuit / 1932), Karel Lamac (Die Grausame Freundin / Faut-il les marier? / 1932, Géza von Bolváry (Das Schloss im Süden / Château de Rêve / 1933 e Karl Hartl (Ihre Durchlaucht, die Verkäuferin / Caprice de Princesse / 1933. Nesse período de atividade cinematográfica no exterior, Clouzot aprendeu muito do seu ofício e sofreu inclusive a influência do cinema de F. W. Murnau e Fritz Lang: ”O gosto do claro-escuro, eu o devo aos alemães”, reconheceria ele mais tarde.

Em 1934, o cineasta retornou a Paris e começou a visitar com frequência Louis Jouvet, que acabara de se instalar no Théâtre de l’Athenée e de aceitar o cargo de professor do Conservatório. Jouvet ficou impressionado com a aptidão do rapaz para a dramaturgia e o incentivou. No mesmo ano, Clouzot assinou uma opereta, “La Belle Histoire”, na qual os personagens dos contos de Charles Perrault se reencontravam no século XX. O espetáculo não obteve sucesso, mas Clouzot perseverou e, juntamente com Maurive Yvain, o compositor de “La Belle Histoire”, compôs algumas canções para Lys Gauty, Marie Dubas, e um grande êxito “Jeu de Massacre”, para Marianne Oswald.

Pôster de Le Dernier des Six

Ainda em 1934, o nome de Clouzot apareceu nos créditos do filme Itto, longa-metragem de Jean Benoit-Lévy, produzido por Pierre Lazareff. Este seu velho amigo lhe pediu para escrever as letras das canções, que deveriam acompanhar uma evocação da vida dos Berberes no Atlas marroquino. Depois de passar quatro anos em um sanatório, vitimado por uma tuberculose pulmonar, Clouzot escreveu duas peças para Pierre Fresnay (“On prend les mêmes” e “Comédie en trois actes”) e retornou ao cinema como roteirista de: La Revolté / 1938 (Dir: Léon Mathot), durante a preparação do qual ele conheceu Suzy Delair, com quem viveu por doze anos e que seria a estrela de dois de seus filmes; Le Duel / 1939 (Dir: Pierre Fresnay); O Mundo Tremerá / Le Monde Tremblera / 1940 (Dir: Richard Pottier); Le Dernier des Six / 1941 (Dir: Georges Lacombe); e Le Inconnus dans la Maison / 1942 (Dir: Henri Decoin), os dois últimos produzidos pela Continental, companhia destinada a produzir na França filmes com capital alemão e mão de obra francesa.

Após o êxito de Le Dernier des Six, o diretor da Continental, Alfred Greven, resolveu produzir uma série de aventuras policiais com seus personagens centrais, o Comissário Wens (Pierre Fresnay) e sua companheira Mila-Malou (Suzy Delair), e confiou a realização a Clouzot.

Pˆsoter de O Assassino Mora no 21

O ASSASSINO MORA NO 21 / L’ASSASSIN HABITE AU 21 / 1942.

Um misterioso assassino começa uma série de crimes e deixa sobre cada cadáver um cartão de visitas com o nome de M. Durand. O comissário Wens (Pierre Fresnay) encarregado da investigação, encontra uma pista que conduz a uma pensão de família em Montmartre. Ele se introduz ali como hóspede disfarçado de pastor. Wens prende sucessivamente um fabricante de marionetes, Colin (Pierre Larquey); um médico colonial, Linz (Nöel Roquevert); e um faquir de music-hall, Lalah Poor (Jean Tissier). Mas, cada vez, um novo crime vem inocentar aquele que parecia culpado. Quem é M. Durand?

Pierre Larquey e Pierre Fresnay em O Assassino Mora no 21

Suzy Delaire Pierre fresnay em O Assassino Mora no 21

Cenas de O Assassino Mora no 21

Cenas de O Assassino Mora no 21

Policial com toques de humor, semeado de tipos excêntricos e de mortes., no qual a solução do mistério repousa em uma daquelas astúcias de autor de romances de detetives, que agradam sempre aos fãs desse tipo de literatura. No ambiente da pensão evolui uma humanidade sórdida da qual cada representante poderia ser um criminoso em potencial, o que complica o trabalho do comissário e torna o espetáculo mais inquietante. Pierre Fresnay interpreta o comissário Wens como o fleuma de um policial britânico e Suzy Delair diverte como Mila Malou, a amante turbulenta de Wens que também quer brincar de detetive, formando uma dupla parecida com aqueles casais das comédias americanas dos anos 1930. Neste exercício de estilo do cineasta já estava presente o universo sombrio e pessimista de seus filmes posteriores bem como amostras de seu talento fílmico, por exemplo, a sequência inicial, quando a câmera toma o lugar do assassino e sai no encalço de sua vítima.

Pôster de Sombra do Pavor

SOMBRA DO PAVOR / LE CORBEAU / 1943

O doutor Germain (Pierre Fresnay), médico do hospital de Saint-Robin, é acusado por cartas anônimas de ser amante de Laura (Micheline Francey), mulher do psiquiatra Vorzet (Pierre Larquey), e de praticar abortos. O autor das cartas, que assina O Corvo, inunda Saint-Robin de suas missivas. Um canceroso (Roger Blin) é advertido pelo Corvo da gravidade de seu estado de saúde e corta a garganta com uma navalha. As suspeitas recaem sobre falsas culpadas: Rolande (Liliane Maigné), uma adolescente chantagista; Denise (Ginette Leclerc), a amante de Germain; Marie Corbin (Hélèna Manson), uma enfermeira empedernida; e Laura. Germain descobre o autor das cartas, mas a mãe do canceroso (Sylvie) já havia feito justiça.

Pierre Fresnay em Sombra do Pavor

Pierre Fresnay em Sombra do Pavor

Esta primeira obra-prima do diretor, traduz o clima de angústia e opressão dos anos de Ocupação, a trama policial sendo constantemente completada e sustentada pelo estudo de uma psicose coletiva. Clouzot faz uma análise quase clínica do apodrecimento moral de uma sociedade provinciana, na qual as paixões se desencadeiam em uma atmosfera de mal-estar insuportável. As cartas anônimas produzem o efeito de uma epidemia, durante a qual as obsessões e neuroses dos personagens vêm à tona. Três grandes cenas mostram o discernimento cinematográfico do diretor: a fuga da enfermeira na cidade deserta parecida com uma ave negra enlouquecida; a carta esvoaçando longamente na igreja cheia de falsos beatos; e o instante em que Vorzet faz balançar a lâmpada que desloca a luz e a sombra e diz para Germain: “Você acha que as pessoas são todas boas ou todas más. Você pensa que o Bem seja a luz e a sombra o Mal. Mas onde está a sombra e onde está a luz?

Micheline Francey e Pierre fresnay em Sombra do Pavor

Pierre Larquey e Pierre fresnay em Sombra do Pavor

Hélèna Manson em Sombra do Pavorr

Cenas de Sombra do Pavor

Cenas de Sombra do Pavor

Embora o roteiro tivesse sido redigido em 1937 e inspirado em acontecimentos reais (as cartas anônimas de Tulle), pelo fato de a produção ser da Continental, seus autores foram acusados de terem desejado “aviltar” a França e servir à propaganda hitleriana. Após a Libertação, o filme foi banido temporariamente da exibição, e Clouzot suspenso de qualquer atividade cinematográfica por seis meses, só conseguiria fazer outro em 1947.

Pôster de Crime em Paris

CRIME EM PARIS / QUAI DES ORFÈVRES / 1947 (Prêmio de Melhor Direção no Festival de Veneza)

Jenny Lamour (Suzy Delair), cantora de music-hall ambiciosa, é casada com Maurice Martineau (Bernard Blier), que a acompanha ao piano. Jenny aceita jantar com Brignon (Charles Dullin), velho produtor libidinoso que lhe prometera um emprego no mundo do cinema. Ao saber disso, o ciumento Maurice forja um álibi e corre para matá-los. Porém, ele encontra o velho morto e foi Jenny que o matou. Pelo menos é isso que Jenny conta para sua amiga Dora (Simone Renant), uma fotógrafa, que tem por ela um amor sem esperança. O inspetor Antoine (Louis Jouvet) investiga e, naturalmente, as suspeitas recaem sobre Maurice, mas o policial acaba descobrindo o verdadeiro culpado.

Louis Jouvet em Crime em Paris

Jouvet e Bernard Blier em Crime em Paris

Cenas de Crime em Paris

Cenas de Crime em Paris

Após o período de inatividade que lhe foi imposto pelos organismos encarregados da “purificação”, Clouzot teve um retorno triunfal que lhe rendeu a sua segunda obra-prima, interessando-se mais pelos personagens e o seu meio social do que pela resolução do enigma. Durante o inquérito policial, desfila uma galeria de tipos humanos interessantes, que são observados pelo lúcido inspetor Antoine. Ele educa um menino negro (“única lembrança trazida das colônias além do impaludismo”) e esconde sua humanidade sob uma máscara de frieza e de ironia. É uma das melhores atuações de Louis Jouvet. O diretor coloca essas criaturas em diferentes atmosferas – uma pequena editora musical, um ateliê de fotografia suspeito, os bastidores de um music-hall, os corredores e a sala de interrogatório da Polícia Judiciária – , todas recriadas com incrível veracidade e inspecionadas por uma câmera virtuosa.

Pôster de Anjo Perverso

ANJO PERVERSO / MANON / 1949

Robert Desgrieux (Michel Auclair) e Manon Lescaut (Cécile Aubry) são descobertos a bordo de um cargueiro que transporta clandestinos judeus para a Palestina. Resistente na Normandia, ele salvou a jovem Manon do furor popular por ter simpatizado com os ocupantes. Eles passam a viver do mercado negro em Paris, graças à ajuda de Léon (Serge Reggiani), irmão de Manon. Atraída pelo luxo, Manon torna-se prostituta ocasional de um bordel, onde Robert a surpreende. Depois, encarrega Léon de reter Robert enquanto ela parte com um americano rico. Robert mata Léon e foge. O par de amantes vai morrer nas areias do deserto durante um ataque dos árabes.

Clouzot filmando Anjo Perverso

Michel Auclair, Serge Reggiani e Cecile Aubry em Anjo Perverso

Cena de Anjo Perverso

Cenas de Anjo Perverso

Cenas de Anjo Perverso

Através de uma história de amor louco, de uma paixão fatal, Clouzot faz uma pintura amarga do mundo conturbado e apodrecido imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, com os acertos de contas, o mercado negro, o amoralismo, um testemunho pavoroso de um tempo no qual todos os valores eram desordenados. O romantismo cruel e audacioso desta modernização bem-sucedida de um romance do século XVIII, assim como a personagem feminina, encarnação perfeita de uma ingênua perversa, chocou o público na época. A imagem final do cadáver de Manon sendo arrastado pelas dunas é de grande beleza plástica.

Pôster de Retour à la Vie

LE RETOUR DE JEAN (QUINTO ESQUETE DE RETOUR À LA VIE) / 1949

Cinco prisioneiros de guerra retornam aos seus lares: tia Emma (Mme. De Revinsky) volta em um estado lamentável de Dachau e assiste, indiferente, à cupidez de sua família; Antoine (François Périer) arruma um emprego de garçom em um hotel e é assediado pelas militares americanas; Jean (Louis Jouvet), ferido na perna após uma tentativa de evasão, encontra no seu quarto de pensão um torturador nazista (Jo Dest) e faz justiça; René (Nöel-Nöel) fica sabendo que sua mulher partiu com outro e que seu apartamento está ocupado; Louis (Serge Reggiani) traz para a sua aldeia natal uma jovem alemã (Anne Campionj) e é rejeitado pela população.

Louis Jouvet em Le Retour de jean

Louis Jouvet em Le Retour de jean

Cinco histórias curtas, sentimentais ou dramáticas, contando o retorno à vida normal de prisioneiros de guerra ou deportados. Embora realizado por quatro diretores diferentes, o filme mantém uma espantosa homogeneidade e é hoje um testemunho precioso do pós-guerra. Os melhores esquetes são os de Clouzot e André Cayatte. O de Clouzot é de uma ferocidade impressionante, principalmente nas cenas em que Louis Jouvet – pungente e explosivo – interroga (querendo saber como um ser humano pôde agir daquela forma) e depois executa o alemão. O de Cayatte trata de uma maneira seca e cruel as mesquinharias em torno da posse dos bens da mulher que se encontra imobilizada em uma cama, terminando de forma original com o escurecimento do seu rosto em primeiro plano, após ter assinado o documento almejado pelos seus parentes.

Pôster de Miquette et sa mère

MIQUETTE ET SA MÈRE / 1950

Na Belle Époque, em uma pequena cidade da província, Miquette (Danièle Delorme), uma jovem ingênua, trabalha na tabacaria de sua mãe, a viúva Grandier (Mireille Perrey), mas sonhando em fazer teatro. Urbain de la Tour Mirande (Bourvil), sobrinho do marquês do lugar, rapaz tímido e ridículo, apaixona-se por ela, porém o marquês (Saturnin Fabre) não quer que seu herdeiro se case com Miquette. Graças a uma sucessão de ardís e embustes, o bizarro marquês consegue raptar Miquette e depois a acompanha em uma tournée teatral, que ela empreende através da França sob a proteção de um ator necessitado e simpático, Monchablon (Louis Jouvet). A mãe de Miquette e depois Urbain se juntam a eles em Évian. Tudo acaba bem: o velho senhor fidalgo esposa a mãe de Miquette e esta aceita fazer a felicidade de Urbain.

Jouvet e Clouzot

Jouvet e Clouzot

Bourvil e Daniele Delorme em Miquette et sa Mère

Bourvil e Danièle Delorme em Miquette et sa Mère

Adaptação cinematográfica de uma comédia de boulevard de Flers e Caillavet, exagerando deliberadamente a teatralidade da peça, com situações e diálogos muito divertidos. Os personagens interpelam diretamente os espectadores e os intertítulos lembram os das comédias mudas. O espetáculo repousa sobretudo no elenco afiado, sobressaindo as composições admiráveis e adoravelmente desmedidas de Louis Jouvet e Saturnin Fabre. Os apartes para a câmera de Saturnin são formidáveis. No final, Flers e Caillavet são apresentados como personagens, anunciando que irão escrever uma peça sobre Miquette.

Vera Amado

Vera Amado

Foi durante a produção desse filme bem distante de seu universo habitual, que Clouzot conheceu a nova mulher de sua vida, integrante da equipe de filmagem como assistente da continuísta Andrée Ruze. Filha do diplomata brasileiro Gilberto Amado, Vera Gibson Amado havia se casado em 1938 com o ator Léo Lapara, porém, na primavera de 1949, depois de treze anos de matrimônio, ela deixou Léo, que passara a integrar a trupe de Jouvet, e se tornara seu amigo íntimo, confidente e secretário. Vera seria futura atriz de três filmes de Clouzot, com quem se casaria em 15 de janeiro de 1950.

Noticia sobre a desistência de Clouzot de filmar no Brasil

Em 22 de abril de 1950, o casal chegou ao Brasil a bordo do navio “Campana”, acompanhado pelo produtor Raymond Borderie, o fotógrafo Armand Thirard e outros técnicos, com o propósito de realizar Brésil – Journal d’un Voyage. Infelizmente, essa iniciativa não teve desenvolvimento, porque o cineasta – conforme declarou à imprensa – não se deu conta das dificuldades técnicas e financeiras da filmagem devido às enormes distâncias do território brasileiro, da burocracia local e da censura que, embora sem formular interdições, lhe fêz algumas advertências desestimuladoras. Clouzot registrou sua experiência em nosso país em um livro, Le Chevaux des Dieux (1951), que desencadeou uma polêmica que mobilizou intelectuais como Roger Bastide, Edson Carneiro e Alberto Cavalcanti, e enfureceu a comunidade afro-brasileira, porque a revista Paris-Match, em uma reportagem sensacionalista, intitulada “As Possuidas da Bahia”, utilizou as fotos de Clouzot sobre o ritual de iniciação no candomblé, mostrando as “possuídas” sendo banhadas com sangue de animais, como se isto não fosse apenas um pequeno aspecto da verdadeira fisionomia do Brasil.

Pôster de O Salário do Medo

O SALÁRIO DO MEDO / LE SALAIRE DE LA PEUR / 1953 (Palma de Ouro em Cannes)

Em Las Piedras, pequena cidade da América Central, perambulam pelas ruas os párias que sonham em voltar para seu país de origem. Uma soma considerável é oferecida por uma companhia petrolífera americana para quem transportar dois caminhões com a nitroglicerina que vai ajudar a apagar o incêndio de um dos poços da firma. Quatro homens são escolhidos: dois franceses, Mario (Yves Montand) e Jo (Charles Vanel), um italiano, Luigi (Folco Lulli), e um alemão Bimba (Peter Van Eyck). Nenhum deles sobrevive à longa viagem cheia de perigo

Vera Clouzot e YvesMontand em O Salário do Medo

Cena de O Salário do Medo

Cena de O Salário do Medo

Charles Vanel e Yves Montand em O Salário do Medoorges Cl

Cenas de O Salário do Medo

Cenas de O Salário do Medo

Drama angustiante e fatalista que se inicia com uma descrição quase documentária do ambiente miserável dominado por um poderoso e onipresente truste americano. Essa primeira parte do filme serve de introdução para a perigosa jornada, durante a qual os personagens vão revelar as suas fraquezas ou a sua coragem. No trajeto inicia-se um suspense e uma brutalidade ininterruptos, criados por Clouzot com toda a força de sua competência técnica. Esta se torna mais nítida em duas sequências: a da explosão do caminhão do com o italiano e o alemão, apenas sugerida, e o mergulho do caminhão dos dois franceses no atoleiro de petróleo. Na segunda parte da obra, o realizador faz um estudo admirável da psicologia do medo. Um medo tão subjugante que a libertação dele gerou a imprudência fatal para o último remanescente da aventura.

Pôster de As Diabólicas

AS DIABÓLICAS / LES DIABOLIQUES / 1954 (Prêmio Louis Delluc)

Michel Delasalle (Paul Meurisse) dirige um colégio em Saint-Cloud. Ele maltrata sua esposa Christina ( Vera Clouzot) e sua amante Nicole (Simone Signoret), ambas professoras no estabelecimento. Um pacto diabólico une as duas mulheres: elas decidem matá-lo, atraindo-o para Niort, onde Nicole tem uma casa. Christina faz o marido tomar um sonífero e ajuda Nicole a afogá-lo na banheira. Depois, levam o corpo para Saint-Cloud e o jogam na piscina. Então ocorrem no educandário vários fatos estranhos que deixam crer que Michel sobreviveu. Quando esvaziam a piscina, o corpo havia desaparecido. Um comissário aposentado, Fichet (Charles Vanel), se oferece para investigar.

Simone Signoret, Vera Clouzot e Paul Meurisse em As Diabólicas

Vera Clouzot e Simone Signoret em As Diabólicas

Cenas de As Diabólicas

Cenas de As Diabólicas

Clouzot soube aproveitar todos os efeitos a que se prestava a história de Boileau-Narcejac para atingir o fim que tinha em vista: realizar um filme de alta tensão. Ele aproveitou muito bem as cenas de envenenamento, do afogamento na banheira, da visita ao necrotério, das mãos enluvadas e passos misteriosos em uma casa escura, do cadáver com os olhos esbugalhados e outros acessórios de um estilo policial, para dar choques sucessivos de voltagem crescente na emotividade do espectador. Quando o suposto assassinado se ergue e retira as lentes de contato brancas, chegamos ao auge do medo, a um clímax alucinante, que foi escondido cuidadosamente do público para a maior eficácia do suspense.

LE MYSTÈRE PICASSO / 1956 (Prêmio do Júri no Festival de Cannes)

Clouzot e Picasso

Picasso - ClouzotClouzot descobriu que podia filmar uma tela à avessas e assistir, assim, secretamente, ao mistério da criação artística. Com a ajuda do fotógrafo Claude Renoir ele utilizou todos os recursos da técnica cinematográfica: o preto e branco a cor, a tela normal e o CinemaScope. Nos estúdios de La Victorine em Nice, o pintor, com 72 anos de idade, se colocou diante de seu cavalete e, graças a tintas especiais vindas dos Estados Unidos, os desenhos do mestre espanhol aparecem diretamente na tela mas se modificam, evoluem, os galos se metamorfoseando por vezes em peixes ou em flores. Picasso pinta as corridas, os toureiros, e aceita realizar uma obra em cinco minutos para o diretor. Assim esse filme de arte, torna-se um documento bastante atraente e ambicioso sobre um dos maiores artistas do século vinte e seu diálogo com um cineasta brilhante. Ele dura cerca de 75 minutos, nos quais são mostrados a criação de 21 obras.

Pôster de Os Espiões

OS ESPIÕES / LES ESPIONS / 1957

Em Maisons-Laffitte, o doutor Malic (Gerard Séty) dirige uma pequena clínica psiquiátrica à beira da falência. Ele é abordado por um homem misterioso, Howard (Paul Carpentier), que se diz pertencer a um instituto de guerra psicológica dos Estados Unidos e que lhe oferece uma alta quantia de dinheiro para hospedar durante alguns dias Alex (Curd Jurgens), um agente secreto,. O médico só tem dois pacientes, Valette (Louis Seigner), um toxicômano e Lucie (Vera Clouzot), mas logo vários personagens estranhos rondam pelos arredores e a porta da clínica é arrombada por Sam Cooper (Sam Jaffe), um velho americano excêntrico e pelo lituano Michel Kaminski (Peter Ustinov). A fiel enfermeira de Malic, Mme. Andrée (Gabrielle Dorziat) é substituída por Connie Harper (Martita Hunt), espiã aterrorizante americana, que chega acompanhada por dois capangas, Léon (Sacha Pitoëff) e Pierre (Fernand Sardou). Malic descobre que espiões russos e americanos se confrontam para capturar o professor Hugo Vogel (O.E. Hasse), cientista atômico célebre. Malic suspeita de que Alex é Vogel, porém ele não passa de um duplo. Malic decide salvar o verdadeiro Vogel, e sua intervenção provoca a morte do sábio. Ele então se torna parte integrante do jogo terrível e absurdo, ao qual se entregam os espiões.

Curd Jurgens em Os Espiões

O.E. Hasse em Os Espiões

Peter Ustinov e Gerard Séty em Os Espiões

Cenas de Os Espiões

Cenas de Os Espiões

Nessa visão Kafkiana da espionagem e contra-espionagem, que oscila entre o drama e a sátira, Clouzot faz um estudo da paranóia e do relativismo moral presente no meio cínico dos espiões, cada um dos personagens acabando mesmo por vezes a se perguntar por quem ele foi realmente enviado. O diretor cria, com uma precisão impecável um ambiente cada vez mais pesado, uma sensação de angústia, que vai crescendo até o final sem conclusão, com o telefone tocando sem parar na clínica, refletindo em microcosmo a que ponto a loucura tomou conta do mundo.

Pôster de A Verdade

A VERDADE / LA VERITÉ / 1960 (Grand Prix do Cinema Francês e Oscar de Melhor Filme Estrangeiro)

Dominique Marceau (Btigiette Bardot), é acusada do assassinato de seu amante, o jovem aspirante a maestro, Gilbert Tellier (Samy Frey). A moça não nega os fatos e se esforça para explicar, por vezes desastradamente, as razões e as circunstâncias do crime. Porém ninguém acredita nela, nem o presidente da Côrte (Louis Seigner nem os outros juízes, nem os jurados, nem o representante do Ministério Público (René Blancard), e tampouco o furioso advogado encarregado da parte civil, Épervier (Paul Meurisse). Graças à sua conduta libertina (dançando nua sob os lençóis um cha-cha-cha sensual), Dominque seduz Gilberto, noivo e colega de sua irmã Annie (Marie-José Nat) no Conservatório. Volúvel e frívola, trata-se para Dominique de uma aventura sem futuro, mas ela descobre, tarde demais, que ama Gilbert verdadeiramente. Gilbert volta para os braços de Annie, e Dominique, louca de desespero, o mata. Enquanto seu advogado, Guérin (Charles Vanel), tenta manchar a reputação de Gilbert para salvá-la, o advogado encarregado da parte civil retrata-a como um monstro de perversidade. Sem poder fazer escutar sua “verdade” ou as verdadeiras razões pelas quais matou o homem que amava, Dominique abre suas veias em sua cela.

BB em A Verdade

Brigitte Bardot e Samy Frey em A Verdade

Brigitte Bardot em A Verdade

Cenas de A Verdade

Cenas de A Verdade

Em pleno apogeu da Nouvelle Vague, Clouzot permaneceu fiel ao cinema clássico, narrativo, disciplinado; porém escolheu para este filme de tribunal, para esta verdadeira autópsia de um processo criminal, um tema moderno: o clima de permissividade nos anos sessenta, que lhe permitiu manifestar mais uma vez seu desprezo absoluto pelas instituições e pela burguesia. Ele deve ter ficado muito satisfeito de filmar a cena de bravura em que a acusada grita para aqueles que a julgam pela morte de seu amante: “Vocês estão aí, fingidos, ridículos. Vocês querem julgar, vocês nunca viveram, nunca amaram. É por isso que vocês me detestam. Vocês estão todos mortos. Mortos … “, um momento brilhante da atriz. A história começa em uma prisão de mulheres, sob a vigilância de freiras, onde encontramos Dominique fumando desafiadoramente em sua cela e contemplando seu rosto em um espelho partido. O resto da narrativa ocorre na sala de audiências no presente e no passado recente. São os retrospectos que, pouco a pouco, nos farão conhecer as peripécias do drama e o retrato psicológico notável que o cineasta fêz de um tipo de mulher jovem moderna, utilizando à sua maneira o mito Bardot.

Clouzot e BB

Clouzot e BB

A filmagem foi tempestuosa: clima tenso entre Clouzot e alguns atores, troca de bofetadas dele com BB; idílio desta com Samy Frey, vias de fato entre Charrier e Frey, internação de Jaques Charrier, e fim do seu casamento com BB; hospitalização de Clouzot e do fotógrafo Armand Thirard; pouco depois do término dos trabalhos, tentativa de suícidio de BB em depressão, cortando os pulsos com uma navalha; após a estréia do filme, falecimento de Vera Clouzot, encontrada morta no seu quarto do Hotel George V no dia 15 de dezembro de 1960. Tal como a sua personagem de As Diabólicas, ela sucumbiu em virtude de uma crise cardíaca. Em 28 de dezembro de 1963, Clouzot casou-se com Inès de Gonzalèz (patronímico argentino de Inès Arnaud), com quem viveu até o fim de sua vida.

Pôster de A Prisioneira

A PRISIONEIRA / LA PRISIONNIÈRE / 1968

Josée (Elizabeth Wiener), montadora da televisão, é companheira de Gilbert (Bernard Freson), artista plástico especializado na arte cinética. Ele expõe na galeria de arte moderna de Stanislas Hassler (Laurent Terzieff). No decorrer de uma grande vernissage parisiense, Josée avista seu marido beijando outra mulher, conhece Stan, e o acompanha até sua residência. Este se revela como um homem impotente e perverso, que satisfaz seu voyeurismo, fotografando mulheres despidas em poses sugestivas ou ultrajantes. Pouco a pouco testemunha e depois atriz dessas pequenas encenações, Josée se presta de bom grado a esses jogos de humilhação, de dominação e de sujeição. Por fim, ela se afasta de Gilbert, e descobre o amor total e compartilhado ao lado de Stan. Mas, depois de um passeio idílico na costa da Bretanha, ele foge dela. Desorientada, Josée fica gravemente ferida, quando seu carro se choca contra um trem. No hospital, ela tem uma série de visões e chama por Stan no seu delírio enquanto Gilbert a contempla ao lado de sua cama.

Cena de A Prisioneira

Laurent Terzieff e Elizabeth Wiener em A Prisioneira

Cena de A Prisioneira

Cenas de A Prisioneira

Cenas de A Prisioneira

Canto de cisne do cineasta, A Prisioneira é uma excursão estética pela op-art, esboçada no projeto irrealizado, L’Enfer / 1964, adicionando desta vez o voyeurismo e o sado-erotismo. Visualmente fascinante nas primeiras sequências, principalmente no que concerne à cenografia, o filme transcorre estaticamente e em uma narrativa elíptica até o desenlace psicodélico gratuito e irritante. Entretanto, são interessantes a sequência na qual Stan projeta slides com letras da caligrafia de Paul Valéry, Flaubert, Baudelaire, François Mauriac, Sacha Guitry, Madame Récamier, Napoleão etc. e a da performance da modelo profissional (Dany Carrell), mostrando seus seios magníficos na mise-en-scène imaginada por Stan, despertando em Elizabeth a mesma desordem sexual praticada pelo fotógrafo.

Antes de A Prisioneira, Clouzot havia realizado para a televisão cinco filmes sobre as representações orquestrais dirigidas por Herbert von Karajan. No dia 12 de janeiro de 1977, em Paris, Inès encontrou-o estirado no chão, vitimado por um ataque cardíaco, com a partitura da “Danação de Fausto” de Berlioz nas mãos.

ESCAPISMO EM GLORIOSO TECHNICOLOR

No parágrafo inicial do capítulo “The King and Queen of Technicolor” do seu livro, A Thousand and One Delights, Alan G. Barbour escreveu: “Se eu tivesse que nomear a série de filmes que mais captaram o espírito escapista dos filmes da década de quarenta, não hesitaria em escolher os seis filmes de aventuras em Technicolor com Jon Hall e Maria Montez produzidos pela Universal entre 1942 e 1945”. Realizados com o propósito principal de divertir as platéias, que queriam desviar suas mentes dos problemas de um mundo convulsionado pela guerra, esses filmes fizeram muito sucesso na época e a simples menção dos nomes de seus dois intérpretes principais desperta na memória dos fãs as imagens coloridas magníficas daqueles espetáculos.

Antes de descrevê-los, exponho em poucas linhas um resumo das biografias dos seus astros.

Maria Africa Gracia Vidal (1912-1951) nasceu em Barahona na República Dominicana. Seu pai, de descendência espanhola, era exportador de madeiras de guáiaco e possuía também o título de Vice Consul Honorário da Espanha na Republica Dominicana. Desde criança Maria demonstrou que queria ser atriz. Ela aprendeu inglês autodidaticamente, ouvindo canções e lendo publicações americanas. Em 28 de novembro de 1932, quando seu pai servia na Irlanda do Norte, casou-se com um banqueiro irlandês, William McFeeters, empregado do First National City Bank em Nova York. Depois de sete anos de casados, ela foi para os Estados Unidos, onde obteve seu primeiro emprego como modelo, posando para a capa de uma revista.

Maria Montez

Maria Montez

Certo dia recebeu um telefonema de George Schaefer, alto executivo da RKO, convidando-a para um teste, mas ela acabou aceitando uma proposta da Universal. Maria escolheu o nome de Maria Montez em homenagem à dançarina Lola Montez, que seu pai admirava. Após ter sido incluída em três produções “B” (Castigo Merecido / Boss of Bullion City / 1940, Mulher Invisível / The Invisible Woman / 1940 e Caçadores de Notícias / Lucky Devils / 1941), Maria foi emprestada para a 20th Century-Fox e chamou atenção em uma pequena cena de Uma Noite no Rio / That Night in Rio / 1941 conversando com Don Ameche e provocando o ciúme da nossa Carmen Miranda (que dizia para Maria, “Cai fora!”). Prosseguindo sua carreira, Maria apareceu, entre alguns filmes de pouca importância (Bandoleiros do Deserto / Raiders of the Desert / 1941, Luar e Melodia / Moonlight in Hawaii / 1941, O Avião do Oriente / Bombay Clipper / 1942), em Ao Sul de Tahiti / South of Tahiti, que a Universal realizou com a intenção de competir com a Paramount, cujos filmes com Dorothy Lamour de sarongue estavam lotando os cinemas com o público que queria fugir das preocupações do conflito mundial.

Maria Montez

Em outubro de 1942, enquanto filmava O Mistério de Marie Roget / The Mystery of Marie Roget, baseado na obra homônima de Edgar Allan Poe, Maria conheceu o ator francês Jean-Pierre Aumont, que havia sido contratado pela MGM para fazer A Cruz de Lorena / The Cross of Lorraine / 1943. Eles se casaram em 13 de julho de 1943, porém Aumont teve que cumprir seu compromisso com o exército francês, no qual servia. Finalmente, os chefões da Universal descobriram onde deveriam colocar Maria e sabiamente a incluiram na produção de As Mil e Uma Noites / Arabian Nights / 1942, primeiro filme em cores do estúdio, que iniciou a famosa série de aventuras. Vestindo roupas orientais com turbantes e véus, e reaprendendo o sotaque que havia perdido após alguns anos de permanência nos Estados Unidos, Maria causou uma bela impressão, influenciando a moda ocidental, principalmente com relação aos turbantes. Ela fotografava esplendidamente em Technicolor, fato que ficou definitivamente comprovado nos filmes seguintes da série: Branca Selvagem / White Savage / 1943, Ali Babá e os Quarenta Ladrões / Ali Baba and the Forty Thieves / 1944, Mulher Satânica / Cobra Woman / 1944, Alma Cigana / Gypsy Wildcat / 1944 e A Rainha do Nilo / Sudan / 1945.

Maria Montez em Uma Noite no Rio

Maria Montez em Uma Noite no Rio

Terminado o último dos seis filmes escapistas para a Universal (entre os quais ela integrou os créditos de Epopéia da Alegria / Follow the Boys / 1944 e Saudades do Passado / Bowery to Broadway / 1944), Maria fez um filme em preto e branco Tânger / Tangier / 1946, nitidamente inspirado em Casablanca de Michael Curtiz, mas não teve sorte. Sem a magia da cor, o espetáculo não provocou o mesmo encanto. Em 1946, por intermédio de seus advogados, ela acionou a Universal, porque na promoção de O Exilado / The Exile, filmado em Sepiatone por Max Ophuls, só foi mencionado o nome de Douglas Fairbanks, Jr. e Maria só apareceu durante 20 minutos na tela: a atriz ganhou 250 mil dólares na disputa judicial. Maria reapareceu novamente em Technicolor no filme Os Piratas de Monterey / Pirates of Monterey / 1947 e depois tomou a decisão de sair para sempre da Universal, assinando contrato com o produtor Seymour Nebenzal para participar do filme Atlântida, o Continente Perdido / The Siren of Atlantis / 1949 ao lado de Jean-Pierre Aumont.

Maria Montez / Jean-Pierre Aumont

Maria Montez / Jean-Pierre Aumont

No final da Segunda Guerra Mundial, Maria mudou-se para Paris com seu esposo, sendo ambos muito bem acolhidos pelos francêses. O primeiro filme deles na França foi Brumas SangrentasHans, Le Marin / 1949, seguindo-se Máscara de um Assassino / Portrait d’un Assassin / 1949, no qual ela contracenou com grandes atores como Erich von Stroheim, Pierre Brasseur e Arletty. Posteriormente, Maria viajou até a Itália para integrar a equipe de O Ladrão de Veneza / Il Ladro di Venezia / 1950 e, segundo os críticos, teve o melhor desempenho de sua carreira. Após um segundo filme italiano, Amore e Sangue / 1951, Maria retornou à França, e estreou no palco em uma peça, “L’Ile Heureuse”, que Jean-Pierre Aumont escrevera para ela. De novo na Itália, Maria e Jean-Pierre fizeram La Vendetta del Corsario / 1951 e, em maio de 1952, o agente deles, Louis Schurr, fez uma proposta a Maria, para que ela voltasse para Hollywood. Ela aceitou com muita satisfação, porém não pôde assumir o compromisso, porque faleceu em 7 de setembro, aos 39 anos de idade, enquanto estava tomando banho na sua casa em Sureness, Paris.

Jon Hall

Jon Hall

Jon Hall (1915-1979) nasceu com o nome de Charles Felix Locher, em Fresno na Califórnia e foi criado no Tahiti por seu pai, o ator de origem suíça, Felix Locher. Jon era sobrinho do escritor James Norman Hall, autor juntamente com Charles Nordhoff do romance “Mutiny on the Bounty”. Em 1935, Jon começou a trabalhar no cinema em filmes modestos, usando os nomes artísticos de Charles Locher e depois Lloyd Crane (Women Must Dress / 1935, Um Brinde ao Amor / Here’s to Romance / 1935, Charlie Chan em Shanghai / Charlie Chan in Shanghai / 1935, A Volta do Homem-Leão / The Lion Man / 1936, Vingador Misterioso / The Mysterious Avenger / 1936, A Mão que Aperta / The Clutching Hand / 1936 (seriado), Tenacidade / Winds of the Wasteland / 1936, Camisa de Onze Varas / Mind Your Own Business/ 1936, Aquela Dama Londrina / The Girl from Scotland Yard / 1937) até que, após ter sido rejeitado para o papel principal do seriado Flash Gordon, alcançou um sucesso notável ao lado de Dorothy Lamour (seu nome agora aparecendo nos créditos como Jon Hall), em O Furacão / The Hurricane / 1937, de John Ford. Os dois formaram um belo par, porém a grande atração do filme foi o furacão, providenciado pelos efeitos especiais de James Basevi e sua equipe. Seguiram-se sete filmes na trajetória cinematográfica do ator – A Pequena do Marujo / Sailor’s Lady / 1940, Ao Sul de Pago Pago / South of Pago Pago / 1940, Kit Carson / Kit Carson / 1940, Aloma, a Virgem Prometida / Aloma of the South Seas / 1941, A Vida Assim é Melhor / The Tuttles of Tahiti / 1942, Esquadrão de Águias / Eagle  Squadron / 1942, Espião Invisivel / Invisible Agent / 1942 – , antes dele inaugurar a série de aventuras escapistas ao lado de Maria Montez em As Mil e Uma Noites. Os outros filmes de Jon foram: A Mulher que não Sabia Amar / Lady in the Dark / 1944, A Vingança do Homem Invisível / The Invisible Man’s Revenge / 1944, De Todo o Coração / San Diego, I Love You /1944, Ilusões da Vida / Men in Her Diary / 1945, O Valentão da Zona / The Michigan Kid / 1945, A Volta dos Vigilantes / The Vigilantes Return / 1947, O Filho do Sol / Last of the Redmen / 1947, Robin Hood, O Príncipe dos Ladrões / Prince of Thieves / 1948, Os Amotinados / The Mutineeers / 1949, Zamba / Zamba / 1949, Deputy Marshall / 1949, Samoa / Samoa ou On the Island of Samoa / 1950, Guerreiros do Sol / When The Red Skins Rode / 1951, Corsário Chinês / China Corsair / 1951, Tufão / Hurricane Island / 1951, Nobre InimigoBrave Warrior / 1952, O Expresso de Bombaim / Last Train from Bombaim /1952, filmografia sem nada de especial. Ele ficou conhecido na televisão pelo papel principal da série Ramar das Selvas e o Caçador Branco / Ramar of the Jungle (1952-1954) e fez ainda, no cinema, Hell Ship Mutiny / 1957 e O Segredo da Esmeralda / Forbidden Island / 1959. Em 1965, dirigiu, fotografou (e atuou em) um filme de horror, The Beach Girls and the Monster. Jon foi casado três vezes, sendo duas com artistas: Frances Langford e Raquel Torres. Para por fim ao sofrimento causado por um câncer na bexiga, suicidou-se com um tiro na cabeça aos 66 anos de idade.

OS FILMES E SEUS ENREDOS:

Pôster de As Mil e Uma Noites

As Mil e Uma Noites

Jon Hall

As Mil e Uma Noites

As Mil e Uma Noites

As Mil e Uma NoitesAS MIL E UMA NOITES / ARABIAN NIGHTS. Dir: John Rawlings. Após tentar em vão derrubar o regime legítimo de Haroun-al-Raschid (Jon Hall) em Bagdad, para se tornar califa e conquistar o amor da ambiciosa Sherazade (Maria Montez), seu irmão, Kamar el Zaman (Leif Erickson), é sentenciado a uma “morte lenta”. Ele resiste ao sofrimento e consegue escapar com o auxílio de seus seguidores. Durante o combate que se segue, Haroun é ferido e encontrado por um acrobata de circo, Ali-Ben Ali (Sabu). A fim de proteger Haroun, Ali coloca seu anel real no dedo de um rebelde morto. Certo de que seu irmão morreu, Kamar assume o trono. Entretanto, não consegue encontrar Sherazade, porque os artistas do circo são vendidos ao mercador Hakim (Thomas Gomez) como escravos, pelo Capitão (Turhan Bey), que havia sido incumbido por Nadan ( Edgar Barrier), o Grão Vizir – desejoso de alcançar o poder -, de matar Sherazade. Kamar fica sabendo dos fatos e vai à procura de sua amada enquanto que Nadan tenta comprar Sherazade no leilão de escravos. Haroun, Ali e outros artistas do circo – entre eles Sinbad (Shemp Howard) e Aladdin (John Qualen) – escapam de suas celas e salvam Sherazade das garras de Nadan. Mas Kamar chega e leva todos presos para uma cidade no deserto, que ele construira em homenagem a Sherazade. Nadan propõe soltar Haroun, se Sherazade concordar em envenenar Kamar na cerimônia de seu casamento. Ao saber que Nadan planeja matar Haroun, Ali e seus companheiros partem para salvar Haroun. Este chega ao banquete de casamento a tempo de impedir Sherazade de beber a bebida envenenada, que Kamar lhe oferecera antes dele próprio beber. Os dois irmãos se enfrentam e Ali chega com soldados leais a Haroun. Kamar está prestes a matar Haroun, mas é esfaqueado pelas costas por Nadan. Ahmad (Billy Gilbert), o dono do circo, impede Nadan de matar Haroun, e o Vizir acaba sendo morto por Valda (William “Wee Willie” Davis), o homem forte do circo, quando tentava escapar. Com a ordem restabelecida, Haroun recupera seu trono e, com ele, a mão de Sherazade, a esta altura mutuamente apaixonados.

Pôster de Branca Selvagem

Maria Montez, Sabu e Jon Hall em Branca Selvagem

BRANCA SELVAGEM / WHITE SAVAGE. Dir: Arthur Lubin. Em Port Coral, nos Mares do Sul, o comerciante Sam Miller (Thomas Gomez) é informado pelo pescador Frank Williams (John Harmon), de que existe uma piscina cheia de tijolos de ouro em Temple Island. Miller diz a Williams que ele até então era o único que sabia disto, e o estrangula. Tahia, a princesa reinante de Temple Island, procurando por seu irmão Tamara (Turhan Bey), que passa suas noites no antro de jogatina de Miller, encontra um pescador de tubarões, Kaloe (Jon Hal), amigo de Orano (Sabu), filho de sua criada Blossom (Constance Purdy). Sem saber que ela é princesa, Kaloe a corteja, e nasce um idílio. Com a ajuda de Orano, Kaloe chega à ilha e descobre a verdadeira identidade de Tahia, mas ela o expulsa dali, porque pensa que ele está somente interessado em obter o direito de pescar naquela região. Depois de obter um empréstimo de Wong (Sidney Toler), um advogado / tabelião, para comprar suprimentos e um novo barco de pesca, Kaloe arma um esquema com Orano, para cair de novo nas graças de Tahia. Seu plano funciona e a princesa conduz o pescador por um passeio pela sua ilha, que inclui a piscina com o tesouro. Kaloe adverte Tahia de que embora ele não esteja interessado no tesouro, Miller pode ter outra intenção. Mais tarde, Miller vai a Temple Island, salva Tahia do assédio de seu sócio, Erik (Paul Guyfoyle), e lhe propõe casamento. A princesa o rejeita e cai nos braços de Kaloe. Miller permite que o endividado Tamara aposte o título de propriedade de suas terras no pôquer, porém Kaloe entra no jogo e ganha a escritura. No dia em que Tahia vai anunciar seu noivado com Kaloe, Miller aparece com o cadáver de Tamara. Como sua faca foi usada no crime, Kaloe é acusado, e enviado para a cova dos leões; porém, consegue escapar, ajudado por Orano. Kaloe, Wong – com a colaboração de Tahia – e armam um plano para obter a confissão de Chris (Don Terry), capanga de Miller – o verdadeiro culpado da morte de Tamara -, apontando Miller como o mandante. Ao saber da confissão, Miller, Erik e outros homens armados, rumam para a ilha em busca do tesouro. Eles usam dinamite para esvaziar a piscina e com isto provocam um terremoto, que destrói parte da ilha e os aniquila. Tahia e Kaloe se reúnem para alegria de Orano, que os espia alegremente de longe.

Ali Baba e os Quarenta Ladrões

Maria Montez e Turhan Bey em Ali Baba e os Quarenta Ladrões

Ali Baba e os Quarenta Ladrões

Ali Baba e os Quarenta Ladrões

Ali Baba e os Quarenta Ladrões

Ali Baba e os Quarenta LadrõesALI BABA E OS QUARENTA LADRÕES / ALI BABA AND THE FORTY THIEVES. Dir: Arthur Lubin. Após invadir Bagdad, o soberano mongol Hulagu Khan (Kurt Katch) ordena que todos os dias cem cidadãos da cidade sejam torturados até que o Califa deposto (Moroni Olsen) lhe seja entregue. Fora da cidade, o Califa tenta organizar suas tropas e retomar Bagdad, mas é traído pelo Príncipe Cassim (Frank Puglia) e morto enquanto que seu filho Ali (Scotty Beckett) foge, mergulhando nas águas de um rio. Na sua fuga, Ali descobre uma caverna, que é o esconderijo de um bando de ladrões. Ele é adotado pelo seu chefe, o Velho Baba (Fortunio Bonanova). Dez anos depois, os ladrões, comandados por Ali já adulto (Jon Hall) constituem a única resistência em Bagdad contra Hulagu, que oferece mil peças de ouro pela captura do jovem líder e seus homens. Ao saber que uma caravana transporta a noiva de Hulagu, Ali e seu guardião desde a infância, Abdullah (Andy Devine), se aproximam dela em uma missão de reconhecimento. Ali é capturado quando falava com a filha de Cassim, Amara (Maria Montez), a futura esposa de Hulagu. Ao chegar em Bagdad, Amara tenta romper seu noivado com Hulagu, mas o ambicioso Cassim a proíbe. O escravo de Amara, Jamiel (Turhan Bey), ajuda os ladrões a resgatarem Ali, que leva Amara como prisioneira e ela conta para Ali que não foi responsável pela sua prisão. O Velho Baba é mortalmente ferido no resgate e seu último desejo é que seu filho adotivo reclame seu devido lugar no trono de Bagdad. Sem saber que Amara é filha de Cassim, Ali envia uma mensagem por Jamiel, propondo a Hulagu, trocá-la pelo traidor. Hulagu diz a Cassim que a escolha é dele. Quando o covarde Cassim não aparece, os ladrões exigem a morte de Amara, para vingar a do Velho Baba, mas Ali, que a havia reconhecido como a menina com a qual na sua infância, fizera um pacto de amor marcado por um ritual de sangue, manda-a de volta a salvo para Bagdad. Quando Amara chega ao palácio, Cassim revela que Ali era o filho do Califa destronado. Ela proclama seu amor por Ali, e se recusa mais uma vez a se casar com Hulagu. Porém Cassim diz que sabe como fazê-la mudar de idéia. Hulagu finge que tortura Cassim e ela afinal consente com o matrimônio. Ali entra no palácio, disfarçado de monarca de um país estrangeiro, oferecendo ao tirano 40 jarros cheios de óleo, que escondem os ladrões. Cassim reconhece Ali, percebe o plano dos revoltosos, e avisa a Hulagu, seguindo-se uma dança de tártaros no final da qual estes cravariam suas cimitarras nos vasos. Entretanto, estes continham apenas areia, e então surgem os ladrões de armas na mão. Com a ajuda do povo, eles derrotam os invasores. Ali luta contra Hulagu, que finalmente é morto pela lança arremessada por Abdullah.

Pôste de Mulher Satânica

Maria Montez

Mulher Satânica

Mulher Satânica

Mulher Satânica

Maria Montez

MULHER SATÂNICA / COBRA WOMAN. Dir: Robert Siodmak. No dia de seu casamento com Ramu (Jon Hall), a bela Tollea (Maria Montez) é raptada de sua casa no porto de Harbor, na Irlanda, por Hava (Lon Chaney, Jr.), o servidor mudo de sua avó (Mary Nash), a velha rainha do povo da Ilha de Cobra. MacDonald (Moroni Olsen), escocês residente em Harbor, diz a Ramu que fora torturado pelos nativos da ilha de Cobra até desmaiar e, quando acordou, viu-se com uma criança a bordo de sua embarcação. Embora tivesse criado Tollea como sua filha, MacDonald diz a Ramu que ele deve esquecê-la. Porém o rapaz ignora seu conselho e ruma para a ilha proibida. Seu amigo Kado (Sabu) viaja como clandestino no seu barco e, logo ao chegarem à ilha, salva a vida de Ramu, matando uma pantera negra com a sua zarabatana. Enquanto isso, Tollea é informada por sua avó de que foi trazida de volta para a ilha, a fim de salvar seu povo dos feitos maléficos de sua irmã gêmea, a Grande-Sacerdotiza Naja (Maria Montez). Confundindo Naja com Tollea, Ramu corteja a Grande-Sacerdotiza e é correspondido, porém vem a ser preso, e escolhido para fazer parte de um grande sacrifício humano ao vulcão da Montanha Sagrada. Ele consegue fugir da prisão durante um interrogatório por Martok (Edgar Barrier), principal sacerdote de Naja. Ramu descobre que Naja não é Tollea e, ao saber que sua irmã está na ilha, a Grande-Sacerdotiza consente em deixá-la sair da ilha em segurança, se Ramu concordar em ficar com ela; todavia, Ramu foge. Kado é preso e torturado por Martok. Ele se recusa a dizer onde Ramu e Tollea estão até ser resgatado por Hava com o auxílio do chimpanzé Koko, que distrai os guardas. A rainha pede a Naja que abdique de seu cargo em favor da irmã, mas a Grande-Sacerdotiza se recusa, e ordena uma busca intensiva da ilha por Tollea, Ramu e Kado. A rainha é assassinada por Martok, Ramu e Kado são aprisionados, e Tollea finalmente vai ao castelo real e se confronta com a irmã. Naja morre, ao cair de uma das janelas do castelo, quando tentava arremessar uma lança em Tollea. Esta assume o lugar de Naja e manda suspender as execuções de Ramu e Kado. Percebendo quem ela é, Martok obriga-a a executar a dança da cobra, um ritual mortífero, por meio do qual a Grande-Sacerdotiza escolhia suas vítimas. No momento em que Tollea desmaia perto da serpente, Kado mata o ofídio com sua zarabatana. O vulcão entra em erupção, causando desordem e destruição. Hava mata Martok. Depois da morte do sacerdote, a erupção cessa, e o povo de Cobra se liberta da opressão. Ramu e Kado deixam a ilha, mas Tollea se esconde no barco deles, e convence Ramu a voltar para Cobra.

Pôster de Alma Cigana

Alma Cigana

ALMA CIGANA / GYPSY WILDCAT. Dir: Roy William Neill. Em uma feira cigana, o líder da tribo, Anube (Leo Carrillo), observa sua mulher Rhoda (Gale Sondergaad) ler a sorte, o filho Tonio (Peter Coe) tocar violino, e procura a principal atração de seu circo, a dançarina Carla (Maria Montez,) que ele adotou anos atrás, quando ela foi abandonada ainda bebê. Carla está descansando na floresta onde testemunha o assassinato do Conde Orso por uma flecha e depois vê um estranho, Michael (Jon Hall), afastar-se da cena do crime. Carla retorna à feira e dança, quando Michael chega, e fica arrebatado por sua performance, sem saber que Tonio o está espreitando, enciumado. O Barão Tovar (Douglas Drumbille) e suas tropas interrompem a dança, acusando os ciganos de terem assassinado o Conde Orso. Quando Michael diz a Tovar que os ciganos são inocentes, ele é imediatamente preso, mas consegue fugir a cavalo. Tovar então ordena que toda a tribo se dirija para o castelo após o que Carla encontra Michael escondido na floresta. Ela lhe indica um caminho secreto e ele foge dos soldados que o perseguem, depois de beijá-la apaixonadamente, notando a beleza de seu colar. Enquanto a caravana de ciganos ruma para o castelo, Tonio declara seu amor por Carla, mas ela lhe diz que ama Michael. Momentos depois, Michael entra na carroça de Anube, pedindo sua ajuda para escapar, prometendo-lhe descobrir o verdadeiro culpado e limpar o nome dos ciganos. Anube concorda, porém, assim que Michael vira as costas, ele o golpeia, com a intenção de entregá-lo a Tovar em troca da liberdade de sua tribo. Quando as tropas de Tovar chegam à procura de Michael, Carla o salva, disfarçando-o como um palhaço. No castelo, um suspeitoso Tovar pede para ver uma performance do palhaço, mas Michael escapa mais uma vez. Tovar ameaça queimar Carla com ferro em brasa se ela não revelar a identidade do palhaço, porém interrompe sua ameaça, quando vê o colar de Carla. No dia seguinte, depois que mandou prender os ciganos, Michael se apresenta diante dele e lhe revela que é um mensageiro enviado pelo rei e que sabe que Tovar matou o conde. Tovar ataca Michael, mas ele, depois de lutar com Tovar, consegue escapar. Em seguida, Tonio e Carla também fogem, e encontram Michael ferido por um guarda. Eles o levam para a floresta, onde Carla cuida dele. À noite, Tonio parte sem dizer nada, e Carla, para proteger Michael, distrai a atenção dos soldados que se aproximam, e é presa. Entrementes, Tovar diz ao comandante militar, Marver (Harry Cording) que o colar de Carla prova que ela é a filha da Condessa Orso, há muito tempo desaparecida e, portanto, herdeira do castelo. Enquanto Tovar planeja se casar com Carla, para se tornar dono de sua propriedade, Tonio incita as outras tribos ciganas para a luta. Ao mesmo tempo, Michael volta ao castelo para resgatar Carla, e é preso. Desesperada, Carla concorda em se casar com Tovar em troca da liberdade de Michael e dos ciganos. No dia do casamento Michael lidera os ciganos em uma fuga e Tovar foge levando Carla consigo em uma carruagem junto com o tabelião (Nigel Bruce). Michael o segue com um grupo de ciganos, resgata Carla enquanto que as tropas de Tovar são derrotadas por Tonio e os outros ciganos. Tonio morre, ao salvar Michael de ser atingido pela faca de Tovar. Ao recuar apavorado, este cai sobre a ponta de uma flecha que havia atravessado a porta da carruagem. MIchael e Carla retomam o castelo e os ciganos prosseguem sua jornada.

Pôster de A Rainha do Nilo

A Rainha do Nilo

A RAINHA DO NILO / SUDAN. Dir: John Rawlings. Naila (Maria Montez), jovem e bela princesa egípcia, dança incógnita no mercado de Kemis, a cidade real às margens do Nilo. Ao saber que seu pai está retornando de uma viagem, ela corre para o palácio justamente a tempo de vê-lo morrer. Informada por Horadef (George Zucco), seu ministro conselheiro, de que o pai foi morto por Herua (Turhan Bey), líder de um bando de escravos foragidos, Naila jura vingança. Ela diz a Horadef que pretende procurar o assassino de seu pai viajando pelo deserto disfarçada de camponesa e ele então manda sequestrá-la, a fim de que possa reinar em seu lugar. Capturada e marcada com ferro em brasa como escrava, Naila consegue escapar, quando está para ser vendida a um mercador, Maatet (Robert Warwick). No deserto, ela encontra dois ladrões, Merab (Jon Hall) e Nebka (Andy Devine, que a conduzem para um leilão de cavalos. Após ganhar uma corrida, montando um belo animal, Naila e os dois amigos são aprisionados pelos seus perseguidores, porém Herua e seus homens os salvam. Herua os conduz para a cidade secreta dos escravos nas montanhas, onde o líder rebelde expressa seu amor por Naila. Quando Herua lhe revela sua verdadeira identidade, ela põe de lado seus pensamentos românticos e, planejando uma vingança, lhe pede para voltar à cidade real, para atuar como sua espiã. Em Kemis, Naila retoma seu trono e arma uma cilada para Herua que, em consequência, vem a ser preso. Herua proclama sua inocência quanto a morte do pai de Naila, mas ela, com o coração partido, ordena sua execução. Embora esteja também apaixonado por Naila, Merab ajuda Herua a escapar, trocando de lugar com ele no cativeiro. Ao despertar na manhã seguinte, Merab diz que foi vítima de mágica negra, tendo sido transportado por um tapete mágico de um harém para a cela da prisão. Perturbada, Naila ordena sua libertação, mas Horadef manda prender Naila e Merab. Enquanto definham na masmorra, Merab mostra para Naila o contéudo da bolsa de Horadef, que ele havia roubado. Reconhecendo o anel real de seu pai, ela finalmente compreende que seu ministro conselheiro foi o assassino de seu progenitor e não Herua. Horadef tortura Merab, e Naila concorda em lhe indicar o esconderijo de Herua. Ela conduz Horadef e suas tropas por uma passagem na montanha sabendo que a cidade está bem protegida. Avisado por Merab da invasão iminente, Herua deixa Naila passar pelo caminho estreito, antes de provocar uma avalanche de pedras. As tropas de Horadef sobreviventes são derrotadas pelos escravos e Hoaradef é morto por uma flecha atirada por Merab. Naila casa-se com Herua e Merab e Nebka voltam à sua vida de ladrões.

Montez, Hall, Sabu

Montez, Hall, Sabu

Essas fantasias pseudo-orientais ou tropicais tinham sempre os mesmos ingredientes: cenários grandiosos, fictícios e virtuais; fotografia em Technicolor de primeira ordem; histórias pitorescas com certas inverossimilhanças narradas em uma média de oitenta minutos, com muita vivacidade; par romântico atraente formado por intérpretes sofríveis, mas que atuavam com sinceridade, sempre focalizados em lindos close-ups; coadjuvantes de origem estrangeira (vg. Turhan Bey / Turhan Gilbert Selahattin Sahultavy, nascido na Áustria, filho de um diplomata turco e Sabu / o indiano Selar Shaik Sabu, filho de um condutor de camelos) e / ou oriundos das comédias curtas (vg. Billy Gilbert, Andy Devine, Shemp Howard) para os interlúdios cômicos ingênuos, porém espirituosos; figurinos belos e exóticos providenciados por Vera West e adornados pelas jóias de Eugene Joseff; música devidamente estridente para reforçar a ação (embora às vezes anacrônica); clímaxes excitantes (vg. as centenas de cavaleiros, tendo à frente Ali-Ben Ali, surgindo das montanhas em As Mil e Uma Noites, o terremoto em Branca Selvagem; a dança dos tártaros brandindo suas espadas em Ali Baba e os Quarenta Ladrões; a prova diante do Rei Cobra e a erupção do vulcão em Mulher Satânica; a perseguição desenfreada da carruagem em Alma Cigana, a avalanche de A Rainha do Nilo); propaganda para o esforço patriótico (eis que em todos os filmes subsistia subliminarmente o tema da resistência de um povo contra um tirano usurpador do poder); e, é claro, os finais felizes. Foram espetáculos muito populares e lucrativos na ocasião de seu lançamento, tendo sido reprisados algumas vezes, inclusive em nosso país, apesar de serem fustigados pelos críticos que, no entanto, reconheciam seu êxito como entretenimento.