Arquivo mensais:janeiro 2014

OS GRANDES WESTERNS DE JOHN FORD I

O cinema de John Ford é simples, claro, fluente, na melhor tradição clássica. Ele espalha sobre seus filmes não somente seu estilo, mas também seu espírito, sua poesia, seu sentimento, que tão profundamente nos atinge. É também um grande pintor, sem dúvida o maior pictorialista da sétima arte. Um filme de Ford é antes de tudo um prazer estético visualmente. Ele usa a câmera como um pincel, criando imagens bonitas e, para homenageá-lo, escolhí alguns westerns, que considero os melhores de sua carreira.

O CAVALO DE FERRO / THE IRON HORSE/ 1924.

(Foto: George Schneiderman)

Davy Brandon (George O’Brien), cavaleiro do Correio Expresso, escapa dos índios, pulando para um trem em movimento na primeira parte do percurso da Union Pacific, que está sendo construída por Thomas  Marsh (Will Walling), pai da namorada de infância de Davy, Miriam (Madge Bellamy). Davy e Miriam  se reconhecem, mas ela está noiva de Peter Jesson (Cyril Chadwick), engenheiro do leste com a incumbência de achar um atalho para a estrada de ferro. Davy tenta mostrar-lhe o caminho que ele e seu pai haviam encontrado anos atrás, porém Jesson trabalha na verdade para Bauman (Fred Kohler), dono de um grande rancho, cujo interesse é que a ferrovia passe por suas terras. Jesson tenta matar Davy, porém este sobrevive e briga com o rival. Mal compreendido por Miriam, o rapaz vai prestar serviços na outra extremidade da linha. Durante um ataque de índios, Davy reconhece Bauman como o “índio” com a mão  mutilada, que assassinara seu pai, e o mata em uma luta corpo a corpo. Após a junção das duas linhas, Davy e Miriam se reconciliam.

Conjugando com felicidade a ação individual (a história privada de um jovem que pretende vingar a morte do pai) e a epopéia coletiva (a construção da ferrovia transcontinental), esta superprodução tem como aspectos mais notáveis: 1. filmagem em locação no Nevada com um grande número de figurantes; 2. magnificência visual dos cenários selvagens e de outros elementos originais da mitologia do Oeste (rebanho de gado bovino, manada de búfalos, confrontos com índios, tiroteio no saloon, contribuição das comunidades pioneiras integradas por imigrantes chineses e italianos; aparição de figuras como Wild Will Hickock e Buffalo Bill); 3. emprego dinâmico da câmera e efeitos de fotografia nas cenas de ataque dos índios, sendo inesquecível a sombra ameaçadora dos peles-vermelhas no vagões do trem; 4. recriação, com uma precisão documentarista, dos detalhes físicos da construção da ferrovia, notadamente, no final do filme, a junção das duas ferrovias no dia 10 de maio de 1896 em Promontory Point  no Utah.

Ford usa pela primeira vez o trio de “mosqueteiros”, tanto para a comédia como para a tragédia. Slaterry (Francis Powers), Casey (J. Farrell MacDonald), e Schultz (James Welch), três grandes amigos que lutaram na Guerra Civil, acompanham o herói. Eventualmente, Schultz é ferido, Slaterry é morto e Casey vai com Davy para a Western Pacific. Quando as duas linhas finalmente se unem, os dois “mosqueteiros” remanescentes se abraçam e desejam que o terceiro camarada estivesse ali. Sua morte simboliza as provações que toda nação teve que suportar para a construção da obra grandiosa.

TRÊS HOMENS MAUS / 3 BAD MEN / 1926.

(Foto: George Schneiderman)

No Dakota, por ocasião da corrida do ouro de 1877, três bandidos simpáticos, Mike Costigan (J. Farrell Macdonald), Bull Stanley (Tom Santschi) e “Spade” Allen (Frank Campeau), decidem proteger Lee Carlton (Olive Borden), a filha  de um criador de cavalos assassinado por um xerife corrupto, Layne Hunter (Lou Tellegen). O amor entre Lee e Dan O’Malley (George O’Brien), jovem imigrante irlandês em busca de ouro, floresce à sombra desses “anjos da guarda”, que não hesitam em se sacrificar, para salvar o casal. O maior interesse na vida de Bull é sua irmã, Millie (Priscilla Bonner). Ela fugiu de casa com Layne Hunter sob a promessa de casamento, mas Layne  recusou-se a se casar e chegou até a “entregá-la” para outro homem. Bull é impedido de ter qualquer envolvimento emotivo com a irmã, e só conseguiu ficar perto dela, quando ela estava morrendo. Finalmente, Bull lidera uma revolta contra Layne, cujos capangas incendeiam a igreja repleta de mulheres e crianças. Bull, Dan e alguns cidadãos as resgatam, porém Millie é alvejada, e morre nos braços de Bull. No desenlace, um a um, os três homens maus vão perdendo suas vidas, ao repelirem os homens de Layne. Bull mata Layne e morre.  Anos depois, Dan e Lee, com um bebê que tem o nome dos três “anjos da guarda”, continuam sendo protegidos pelos espíritos dos seus amigos.

Boa parte da filmagem em locação teve lugar em Jackson Hole, no Wyoming, porém Ford rodou as cenas da corrida do ouro no Deserto de Mojave, na Califórnia, utilizando diligências, carroças, vários tipos de carruagens, e centenas de homens a cavalo – em desabalada correria. Durante a corrida, chama atenção a cena em que um bebê chorando está prestes a ser pisoteado pelos cavalos e veículos em disparada. No último momento, um cavaleiro surge dentro do quadro, abaixa-se e ergue a criança, deixando-a em segurança – um momento de ação realmente excitante.

Usando a trinca de sublimes canalhas, para veicular, em uma saga de aventura picaresca, o tema da amizade e da redenção, Ford obtém mais uma vez um perfeito equilíbrio entre os elementos íntimos e épicos da trama, demonstrando novamente seu humor peculiar (“Meu nome e endereço é Dan O’Malley”), sua notável acuidade visual (o primeiro encontro de Dan e Lee, vistos através da roda de uma carroça, a abertura traseira de um dos veículos da caravana enquadrando mãe e filho no interior e mostrando a ampla paisagem; Layne e Millie separados – física e emocionalmente – por uma pequena janela enquanto conversam; o funeral de Millie com Bull levando-a nos braços, enquadrado pelos archotes, seu senso de ação cinematográfica (a corrida para as terras, a morte do vilão surpreendido pela reaparição súbita do último “homem mau”), seu sentimentalismo (a dedicação dos protetores) e sua veia poética (as despedidas entre os três amigos quando eles se preparam para enfrentar a morte e depois a silhueta deles cavalgando sob o crepúsculo).

NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS / STAGECOACH / 1939.

(Foto: Bert Glennon)

Foi a realização deste filme que, segundo muitos críticos, teria criado todos os clichês do gênero. Entretanto, o filme apenas reúne um espaço (as grandes planícies do oeste), acontecimentos (a viagem, o ataque dos índios, a perseguição), e sobretudo uma galeria de tipos (Hatfield / John Carradine, o cavalheiro sulista, jogador e arruinado; Dr. Josiah Boone / Thomas Mitchell, o médico alcoólatra; Samuel Peacock / Donald Meek), o vendedor de uísque; Henry Gatewood / Berton Churchill, o banqueiro escroque; o tenente da cavalaria Tenente Blanchard / Tim Holt; o cocheiro da diligência, Buck / Andy Devine; a mulher grávida de um oficial do exército, Lucy Mallory / Louise Platt); Curly Wilcox / George Bancroft, o xerife; Ringo Kid / John Wayne, o fora-da-lei; Dallas / Claire Trevor, a prostituta etc., que fazem parte da tradição do western – não há nada de novo. A mestria de Ford consiste na composição dramática de elementos conhecidos.

Ringo e Dallas são duas pessoas interiormente puras, que sofrem o preconceito social. Durante a maior parte do filme, ele não percebe que Dallas é uma prostituta. Ringo pensa que as pessoas estão desprezando Dallas na mesa de jantar, porque ela está sentada ao seu lado. E, quando Dallas o faz descobrir a verdade, ele não muda sua opinião a respeito dela. Mais tarde, Dallas ajuda Doc Boone a fazer o parto de Lucy Mallory. Quando a prostituta carrega o bebê nos braços para os outros verem, ela exclama alegremente: “É uma menina”, e Ford, no momento mais lindo do filme, mostra Dallas sob uma iluminação radiante, transformando-a em uma Madona.

O cineasta escolheu um cenário grandioso, filmando pela primeira vez no Monument Valley, área isolada da reserva dos índios Navajos, onde o Utah faz limite com o Arizona. O instinto artístico de Ford parece ter sido estimulado por esse panorama arrebatador, sendo admiráveis alguns planos gerais da diligência correndo através dessa região. No mesmo local, ocorrem os instantes mais excitantes de ação, quando os índios perseguem a diligência e o stuntman Yakima Canutt executa duas das cenas arriscadas mais memoráveis da História do Cinema. Dublando um índio, Yak pula do seu cavalo para cima de uma parelha de cavalos da diligência. Alvejado por Ringo, ele é arrastado para debaixo dos cavalos, até que leva outro tiro de Ringo, e morre. Logo depois, dublando John Wayne, Yak pula da boléia da diligência para a primeira parelha de cavalos, e vai passando do pescoço de um para outro, até alcançar a parelha da frente, e apanhar as rédeas que Buck, o cocheiro, deixara cair.

O movimento do filme, retomado por etapas da viagem e seus incidentes –  Dry Fork,  onde o grupo decide continuar seu percurso apesar da ausência da escolta militar; Apache Wells, onde Mrs. Mallory dá a luz; Lee’s Ferry com a sua travessia de rio difícil; Lordsburg, no qual ocorre o clímax e o desenlace, quando Ringo elimina os assassinos de seu pai e irmão, e foge com Dallas das “bençãos da civilização” –  se baseia, de um lado, na evolução das relações entre os membros do grupo e, de outro, na tensão crescente dos perigos que o ameaçam. Assim, No Tempo das Diligências é, sem cessar e ao mesmo tempo, uma epopéia  trágica e um drama psicológico, uma aventura coletiva e uma série de aventuras individuais, destacando-se entre estas a do fora-da-lei heróico e a da prostituta de bom coração (cujo personagem e situação lembram a Boule de Suif de Maupassant).

As reações dos diversos personagens, provocadas por sua educação ou preconceitos, alargam o quadro do filme e fazem desse microcosmo que é a diligência uma amostra da sociedade americana do fim do século XIX. Pode-se dizer, a respeito dessa obra, que ela abriu caminho para um western mais cerebral, consciente de seus temas e de sua significação.

AO RUFAR DOS TAMBORES / DRUMS ALONG THE MOHAWK / 1939.

(Foto: Bert Glennon, Ray Rennahan)

Dois jovens récem-casados, Gil  Martin (Henry Fonda) e Lana (Claudette Colbert), se instalam no Vale do Mohawk, na Nova Inglaterra, em plena Guerra da Independência.  Ali, eles constroem seu futuro, enfrentando as dificuldades da vida na fronteira e se defendendo dos índios e dos ingleses. Neste ambiente conturbado, a moça educada no Leste torna-se  mãe e pioneira.

Os valores diferentes ente  Leste e  Oeste estão representados no personagem de Lana. A história começa com a câmera focalizando em plano próximo o seu buquê de noiva. Depois, se afasta, para revelar a cerimônia do casamento em um ambiente elegante, com todos os convidados muito bem vestidos. Após a festa, Lana e Gil partem na sua carroça, deixando a residência ampla de Albany. À medida em que progridem na sua viagem para o Oeste, ela vai se sentindo cada vez mais deslocada e, quando chega na cabana em uma noite chuvosa, picada pelas moscas, molhada e cansada, Lana tem um ataque histérico ao ver, um passo à frente da porta, a figura gigantesca do índio cristão Blue Back (Chief Big Tree) com a sua capa vermelha. A transformação de Lana em uma mulher da fronteira começa quando os Martin perdem sua primeira fazenda saqueada pelos índios, e se consolida na cena da última batalha, na qual ela, vestida com o casaco de um soldado, mata o índio no forte.


É o primeiro filme em cores de Ford e ele se esmerou, registrando com seu gênio pictórico, belas imagens das florestas e dos vales de Utah, especialmente na longa e silenciosa corrida de Gil para buscar auxílio, perseguido por três índios. Porém o momento mais brilhante do ponto de vista cinematográfico ocorre quando Lana vê Gil partindo para a guerra. Lana fica parada no topo de um pequeno morro contemplando de longe as tropas marchando em fila e, quando estas se afastam, ela cai no solo em cima de um de seus braços, exprimindo assim o sentimento de perda.

Entre momentos de ternura e coragem, manifesta-se o humor fordiano em uma cena deliciosa, que ocorre no quarto de Mrs. McKlennar (Edna May Oliver), quando a velha senhora, com a convicção absoluta de que eles são selvagens e ela civilizada, dá uma bofetada em um dos dois índios, que vieram queimar sua casa, obrigando-os a carregar a cama para a parte de baixo da moradia.

No final desse pré-western patriótico (produzido no limiar da Segunda Guerra Mundial) Gil, Lana, a criada negra de Mrs. Klennar, o índio Blue Back e outros contemplam a nova bandeira americana, que está sendo içada no campanário da igreja e que resume tudo pelo qual eles estiveram lutando: a construção da América.

PAIXÃO DOS FORTES / MY DARLING CLEMENTINE / 1946.

(Foto: Joseph P.MacDonald)

Conduzindo seu rebanho através do Arizona para a Califórnia, os irmãos Earp, Wyatt (Henry Fonda), Morgan (Ward Bond), Virgil (Tim Holt) e James (Don Garner), encontram o velho Clanton (Walter Brennan) e um de seus filhos (John Ireland, Grant Withers, Mickey Simpson, Fred Libby), que se oferece para comprar o gado. Wyatt recusa e, na mesma noite, vai com seus irmãos mais velhos para a cidade próxima de Tombstone, deixando James, o mais moço, tomando conta dos animais. Depois que Wyatt domina um índio bêbado, que estava causando transtornos à população, é convidado para ser xerife, porém recusa. Quando os irmãos retornam ao campo, descobrem que o gado foi roubado e James assassinado. Wyatt então aceita o cargo de xerife, com a determinação de vingar a morte do irmão. Nessa missão, Wyatt se envolve com o outrora médico e agora alcoólatra, assaltante e tuberculoso Doc Hollyday (Victor Mature), sua ex-noiva e enfermeira, Clementine  (Cathy Downs), e Chihuahua (Linda Darnell), a mexicana namorada de Doc. Após várias peripécias, ajudado por Doc, Wyatt confronta-se com os Clanton no duelo em O.K. Corral. Todos os Clanton morrem, Doc também, e Virgil havia sido morto pelos Clanton anteriormente. Wyatt e Morgan deixam a cidade, levando os corpos de seus irmãos para a casa de seus pais; mas Wyatt pretende voltar, a fim de rever Clementine, que resolve ficar em Tombstone, como professora da escola.


A partir dos personagens do célebre duelo no O.K. Corral, Ford realiza com Paixão dos Fortes um western onde a lenda prevalece sobre a realidade histórica, ou seja, o Wyatt Earp do filme não é o Wyatt Earp real, mas sim o herói romântico.  Wyatt e seus irmãos, que se dedicavam ao jogo e à exploração do lenocínio, foram acusados de roubo de cavalos e gado, assaltos a diligências e várias mortes. Virgil, e não Wyatt, é que era  xerife em Tombstone.

Porém o filme tem um tema: a chegada da civilização no Oeste. A cidade de Tombstone torna-se o lugar onde forças selvagens – representadas pela paisagem agreste, o rochoso Monument Valley, os Clantons brutais, a mexicana Chihuaha, o índio bêbado que ninguém tem coragem de enfrentar – e as forças civilizadas – representadas pelos “respeitáveis” Earp, pelo culto Doc Holiday (que recita Shakespeare de cor) e pela pura Clementine – se encontram. Por outro lado, Ford faz um paralelo entre a transformação do vaqueiro independente em um homem da lei responsável e a transformação daquela vila da fronteira onde reina a anarquia, em uma comunidade ordeira com sua igreja, escola, a nova, e professora. O espetáculo tem esta estrutura simétrica.

A visão mítica dos personagens baseia-se tanto nas suas proezas como nos pormenores pitorescos de seu comportamento (vg. as inesquecíveis cenas de Earp equilibrando-se na cadeira, da recitação de Hamlet no saloon, e do velho Clanton chicoteando o filho por ter puxado a arma, sem ter conseguido matar. Uma sequência como a do baile popular na inauguração da igreja, onde o tímido Wyatt Earp decide dançar com Clementine, mostra bem a união do tema “social” com o tema “sentimental”, ao mesmo tempo em que faz um contraste com os momentos conturbadores do confronto final.

Ford escreveu ele mesmo algumas frases muito divertidas durante a filmagem. Expressando admiração por Clementine depois que ela ajudou Doc a operar Chihauha no saloon, Wyatt vira-se para o velho irlandês atendente de bar (J. Farrell MacDonald), e pergunta: “Mac, você já esteve apaixonado?”. Mac responde: “Não – fui atendente de bar durante toda a minha vida”. Quando Clementine na varanda do hotel, aspirando profundamente, murmura: “O ar está tão claro e limpo – perfume de flor do deserto”. Wyatt, constrangido, retruca: “É o meu – barbeiro”.

SANGUE DE HERÓIS / FORT APACHE / 1948.

(Foto: Archie Stout)

Após a Guerra Civil, o Tenente Coronel Owen Thursday (Henry Fonda), sentindo-se desprestigiado por ter sido enviado aos confins do Oeste, assume o comando do Fort Apache. Ele traz consigo sua filha Philadelphia (Shirley Temple), que é imediatamente atraída pelo jovem Tenente Michael Shannon O’Rourke, diplomado em West Point e filho do Sargento-Major O’Rourke (Ward Bond); porém o pai se opõe à união dos dois por motivo de diferença de classes. O severo e rigoroso Thursday é informado pelo Capitão Kirby York (John Wayne) e seu velho amigo Capitão Samuel Collingwood (George O’Brien) sobre a iminência de uma insurreição dos apaches, mas a ignora zombeteiramente. Posteriormente, York acerta um acordo de paz com Cochise, mas o arrogante e inflexível Thursday, indignado com as exigências do líder apache, ordena o ataque. Da batalha, ele usa uma estratégia militar suicida, e acaba morrendo com bravura, assim como a maior parte da tropa. York e os sobreviventes então se rendem para Cochise. Anos mais tarde, depois do casamento de Philadelphia com Michael York, nomeado comandante do Fort Apache, defende a reputação de Thursday, quando questionado pelos repórteres sobre o massacre.


Primeiro western da chamada “trilogia militar”, ou da Cavalaria (formada com Legião Invencível e Rio Bravo), é um hino a uma instituição que o diretor muito admirava. Retratando com prazer o pequeno universo do forte, Ford integra ao lado das cenas de ação propriamente ditas (vg. a descoberta dos soldados massacrados no poste do telégrafo por Michael e Philadelphia, o retorno de Michael ao mesmo local e a subsequente perseguição dos apaches, a investida fútil de Thursday e sua morte  nas mãos de Cochise), cenas de comédia ( vg. a cena em que os quatro sargentos  – Mulcahy  / Victor McLaglen), Beaufort (Pedro Armendariz / Schattuck  / Jack Pennick) e Quincannon / Dick Foran decidem destruir o uísque que o agente da reserva Silas Meacham / Grant Withers vende para os índios, bebendo-o – e depois de presos são forçados a trabalhar no depósito de adubos do posto), alguns momentos de emoção (vg. a imagem de York através da janela, com o reflexo no vidro dos cavalarianos mortos, enquanto ele fala sobre a vida contínua e mística do regimento), e um conjunto variado de observações sobre a vida em uma guarnição isolada, que nutrem e salvaguardam o tom fordiano.

Neste ambiente surge o Coronel Thursday (Henry Fonda), cópia do tristemente célebre General Custer, um homem para o qual as noções de autoridade, de disciplina e de amor à glória foram deturpadas. Esta mistura entre uma descrição calorosa de um ambiente amado e respeitado pelo cineasta e uma visão crítica do personagem, que é o seu mais alto representante hierárquico, dá originalidade ao filme.

O CÉU MANDOU ALGUÉM / 3 GODFATHERS / 1948.

(Foto: Winton  Hoch)

Três bandidos, Robert Marmaduke Sangster Hightower (John Wayne), William Kearney, “o Abilene Kid” (Harry Carey, Jr.) e Pedro Roca Fuerte (Pedro Armendariz), chegam em Welcome, Arizona. Depois de encontrarem o xerife Buck Perley Sweet (Ward Bond) e sua esposa (Mae Marsh), eles assaltam o banco, exatamente quando Buck descobre que o trio era procurado pela Justiça.  “Abilene Kid” é ferido em um tiroteio, mas consegue escapar para o deserto com Pedro e Robert, sendo perseguidos pelo xerife e seu grupo armado. Eles rumam para Tarapin Tanks pretendendo cruzar a fronteira mexicana mais adiante. Os fugitivos enfrentam uma tempestade de areia e depois são obrigados a prosseguir a pé, porque seus cavalos fugiram. Chegam finalmente ao reservatório e verificam que foi dinamitado, e não contém mais água. Entretanto, ali perto, os três fora-da-lei encontram uma mulher grávida sozinha no interior de uma carroça. Os bandidos a ajudam a dar à luz e ela morre pouco depois; mas, antes de expirar, faz os três padrinhos se comprometerem a proteger seu filho. Embora arriscando serem presos, eles decidem voltar para Welcome. Na  travessia do deserto, “Abilene Kid” e Pedro morrem. Encontrando inspiração na Bíblia que leva consigo, Robert encontra forças para chegar ao seu destino. Ele recebe uma sentença leve, em virtude de seu feito heroico e a criança fica aos cuidados de Buck e sua esposa (Mae Marsh).

Na narrativa desta versão anti-realista e  evangélica do romance de Peter B. Kyne (Dedicada à memória de Harry Carey, “Bright Star of the Early Western Sky”, amigo do diretor e astro da primeira verão da mesma história, Homens Marcados / Marked Men, em 1919), abundam os símbolos e parábolas cristãos, sendo o mais óbvio e importante o nascimento da criança na véspera de Natal e, acompanhando a estrela, a chegada na “Nova Jerusalem”. A relação dos três fora-da-lei com os três Reis Magos é evidente assim como a associação da carroça abandonada com a manjedoura. A travessia do deserto assume gradualmente o caráter de uma peregrinação religiosa, um itinerário espiritual, que culmina quando a trinca de “magos” presenciam a Natividade. Na cena do enterro, quando Abilene Kid  canta “Shall We Gather at the River”, Pedro reza, e Robert os observa, todos imóveis em um quadro perfeitamente composto em torno de uma cruz, que eles colocaram no seu túmulo.

Robert é cético com relação à Bíblia, mas a  fé de Abilene Kid no “bom livro” e a religiosidade profunda de Pedro eventualmente fazem-no mudar de atitude. O aparecimento do burro miraculoso no final de um longo túnel que Robert atravessa segurando o récem nascido no colo, transforma o bandido em um convertido. Por outro lado,  a mulher da carroça, Pedro e Abilene Kid morreram no deserto como um sacrifício para a sobrevivência do bebê e a redenção de Robert.

Ford perde-se um pouco na alegoria e em certos efeitos excessivos (vg. o recurso às sobreimpressões na caminhada de Robert pelo túnel), mas nos oferece uma excelência visual em cores e o seu humor típico, servindo como exemplo o primeiro encontro dos três futuros assaltantes com Buck Sweet, no qual este parece ser um cidadão pacato, cuidando do seu jardim e não se incomodando com as gozações com relação à placa com o seu nome, até que veste o seu colete, deixando ver seu distintivo de xerife.

ESTRELAS DO CINEMA MUDO AMERICANO

Elas eram as estrelas do cinema americano nos anos dez e vinte, mas quase todos os que puderam vê-las na tela naquela época, não estão mais neste mundo. Entretanto, graças aos dvds de filmes mudos e à disponibilidade on line das velhas revistas de cinema, conseguimos ver os rostos e conhecer um pouco da vida daquelas atrizes, que encantaram os fãs, contribuíram para a criação do star system, e consequentemente, impulsionaram a indústria de Hollywood. Este artigo é um tributo – de maneira sucinta, sem mencionar as filmografias completas de cada artista, limitando-as aos filmes principais da era silenciosa, e excluindo sua intimidade e carreira no cinema sonoro – a algumas dessas pioneiras da constelação cinematográfica que, se ainda fossem vivas, poderiam dizer, como Norma Desmond, “I am big. It’s the pictures that got small”.

RENÉE ADORÉE (1898-1933). Nome verdadeiro: Jeanne de la Fonte. Local de nascimento: Lille, França. Filha de artistas de circo. Aos cinco anos de idade já estava trabalhando com os pais. Na adolescência, atuou em pequenas produções teatrais na Europa. Estava na Russia quando irrompeu a Primeira Guerra Mundial, e logo foi para Londres. De Londres partiu para a Nova York, onde continuou no teatro até que, em 1920, fez seu primeiro filme. Renée é mais lembrada pelo seu papel como Melisande ao lado de John Gilbert em um dos maiores sucessos de bilheteria da MGM de todos os tempos: O Grande Desfile / The Big Parade / 1925. Outros filmes importantes: La Bohéme / La Boheme / 1926, O Rapaz e a Cigana / Exquisite Sinner / 1926, O Mandarim ou Mr. Wu / Mr. Wu / 1927,Ouro Redentor / Tide of Empire / 1929 e O Pagão / The Pagan / 1929.

VILMA BÁNKY (1901-1991). Nome verdadeiro: Vilma Koncsics. Local de nascimento: Nagydorog, Austria-Hungria. A primeira parte de sua carreira desenvolveu-se em Budapest, prosseguindo na França, Austria e Alemanha. O produtor Samuel Goldwyn levou-a para a América e, anunciada como “A Rapsódia Húngara”, ela conquistou imediatamente o público americano. Tornou-se uma estrela ao fazer dois filmes com Rudolph Valentino (A Águia / The Eagle / 1925 e  O Filho do Sheik / Son of the Sheik / 1926) e vários ( O Anjo das Sombras / Dark Angel / 1925, Beijo Ardente / The Winning of Barbara Worth /  1926, Noite de Amor / The Night of Love / 1917, A Chama do Amor / The Magic Flame /1927, Dois Amantes / Two Lovers /1928) com Ronald Colman, com quem formou uma das duplas românticas mais famosas da tela. Seu casamento com Rod La Roque em 1927 foi o acontecimento social mais comentado do ano.

CLARA BOW (1905-1965). Nome verdadeiro: Clara Gordon Bow. Local de nascimento: Nova York, NY, Estados Unidos. Inscreveu-se, aos dezesseis anos de idade, no Fame and Fortune Contest, patrocinado pela Brewster Publications, editora das revistas Motion Picture, Motion Picture Classics e Shadowland, e ganhou papel em um filme. Após participar de algumas produções baratas na Costa Leste, Clara foi para Hollywood, contratada pela Preferred Films, de B. P. Schulberg, obtendo seu maior êxito nesta companhia em Luar, Música e Amor / The Plastic Age / 1925. Em 1926, ela interpretou em Loucuras de Mães / Dancing Mothers uma de suas personagens mais populares, Kittens, a boa/má filha de uma mulher da alta sociedade, tornando-se a “flapper” mais perfeita da tela. Foi na Paramount que Clara fez seus filmes mudos mais famosos: Provocação de Amor / Mantrap / 1926, O Não Sei Quê das Mulheres / It / 1927 e Asas / Wings / 1927. O Não Sei Quê das Mulheres é uma história de Cinderela na qual a balconista de loja, Betty Lou Spence (Clara Bow), conquista o coração de seu empregador (Antonio Moreno). A autora do romance no qual o filme se baseou, Elynor Glynn, criou o termo “It”, que passou a indicar o magnetismo sexual da  atriz (The “It” Girl).

EVELYN BRENT (1901-1975). Nome verdadeiro: Mary Elizabeth Riggs. Local de nascimento: Tampa, Flórida, Estados Unidos. Em 1915, quando ainda estudava na Escola Normal em Nova York, Evelyn visitou o World Film Studio em Fort Lee, New Jersey e, dois dias depois, já estava trabalhando como figurante. Depois, assinou contrato com a Metro Pictures, que a anunciou como a nova mocinha ingênua do estúdio sob o nome artístico de Betty Riggs. Após a Primeira Guerra Mundial, Evelyn foi de férias para a Inglaterra, e ali ficou por quatro anos, aparecendo no teatro e em filmes produzidos por companhias britânicas. Em 1922, voltou para a América, e continuou atuando no palco e na tela, até que foi descoberta por Josef von Sternberg, com quem fez três filmes admiráveis: Paixão e Sangue / Underworld / 1927, A Última Ordem / The Last Command / 1928 e O Super-Homem / The Dragnet /1928, nos quais concretizou verdadeiramente seu potencial como atriz. Em Paixão e Sangue, ela interpretou a personagem pela qual foi mais lembrada, Feathers McCoy, a namorada de um gangster, considerada por muitos historiadores como a primeira mulher fatal moderna.

BETTY BRONSON (1906- 1971). Nome verdadeiro: Elizabeth Ada Bronson. Local de nascimento: Trenton, New Jersey, Estados Unidos. Aos dezessete anos, conseguiu uma entrevista com J. M. Barrie, autor de Peter Pan, que a escolheu para o papel principal (ambicionado por Gloria Swanson e Mary Pickford) na adaptação cinematográfica do seu livro, levada à tela em 1924. Betty obteve um êxito instantâneo como Peter Pan e, no ano seguinte, fez mais três intervenções importantes na tela: como a Virgem Maria em Ben-Hur/ Ben- Hur ; estrelando outra adaptação de uma história de Barrie, Os Mil Beijos de Cinderella / A Kiss for Cinderella; e integrando o elenco (ao lado de Adolphe Menjou e Florence Vidor), de uma comédia muito divertida, Por Quê Divorciar? / Are Parent’s People?, dirigida magnificamente por Malcom St. Clair.

BETTY COMPSON (1897-1974). Nome verdadeiro: Eleanor Luicime Compson.   Local de nascimento: Beaver, Utah, Estados Unidos. Começou sua carreira no vaudeville aos quinze anos de idade, anunciada como “The Vagabond Violinist”. Três anos depois, ofereceram-lhe emprego como comediante no estúdio de Al Christie. Já desligada da firma de Christie, ela ascendeu ao estrelato como Rose em O Homem Miraculoso / The Miracle Man / 1919, protagonizado por Lon Chaney. Contratada pela Paramount, não teve sorte nos primeiros tempos, e foi para a Inglaterra, onde participou de vários filmes de sucesso de 1922 a 1924. De retorno à América, Betty apareceu novamente ao lado de Lon Chaney em Piratas Modernos / The Big City / 1928 e, no mesmo ano, fez seu melhor filme, Docas de Nova York / The Docks of New York / 1928, de Josef von  Sternberg. Ainda em 1928, ela foi indicada para o Oscar por seu desempenho em Sangue de Boêmio / The Barker, e marcou sua presença diante de Erich von Stroheim em O Grande Gabbo / The Great Gabbo.

DOLORES COSTELLO ( 1903-1979). Nome verdadeiro: Dolores Costello. Local de nascimento: Pittsburgh, Pennsylvania, Estados Unidos. Filhas do ator Maurice Costello, Dolores e sua irmã Helene apareceram na tela em 1909-1915 como atrizes infantís da Vitagraph. Elas interpretaram papéis secundários em filmes de seu pai, e depois apareceram na Broadway juntas, resultando um contrato com a Warner Bros. Em 1926, Dolores contracenou com John Barrymore  em A Fera do Mar / The Sea Beast. Em 1927, foi reunida novamente com Barrymore em Quando o Homem Ama / When a Man Loves, uma adaptação de Manon Lescaut. Em 1928, Dolores estrelou com George O’Brien A Arca de Noé / Noah’s Ark, e se casou com Barrymore. Outros filmes importantes de Dolores: Flor do Lodo / Tenderloin / 1928, Flor do Pecado / The Redeeming Sin / 1929,  A Madona da Avenida / Madonna of Avenue A / 1929, Corações no Exílio / Hearts in Exile / 1929. Era chamada de “The Goddess of the Silver Screen”.

MARION DAVIES (1897-1961). Nome verdadeiro: Marion Cecilia Douras. Local de nascimento: Brooklyn, Nova York, Estados Unidos. Atuou na Broadway como corista aos dezesseis anos de idade e acabou sendo contratada para o Ziegfeld Follies. Quando estava construindo uma reputação no cinema, depois de sua estréia no filme Runaway Romany / 1917, Marion conheceu o magnata da imprensa William Randolph Hearst, que se tornou seu protetor e amante.  Hearst fundou a Cosmopolitan Productions, para produzir os filmes de Marion. Ele gostava de vê-la em filmes dramáticos de época  como Maria Tudor ou A Irmã de Henrique VIII / When Knighthood Was in Flower / 1922 e Janice Meredith / Janice Meredith / 1924, mas ela provou que era uma excelente comediante em Moinho Vermelho / The Red Mill / 1927, Filhinha Querida / The Patsy e Fazendo Fita / Show People, estes dois últimos dirigidos por King Vidor. Suas imitações de Lillian Gish, Mae Murray e Pola Negri em Fazendo Fita não deixam dúvidas quanto à sua versatilidade cômica.

BILLIE DOVE (1900-1997). Nome verdadeiro: Bertha Bohny. Local de nascimento: Nova York, NY, Estados Unidos. Filha de imigrantes suíços, trabalhou como modelo na adolescência. Depois de atuar como figurante e em pequenos papéis no cinema em Fort Lee, New Jersey, ela foi contratada para o Ziegfeld Follies, sendo apelidada de “The American Beauty”. No começo de 1920, foi para Hollywood, e logo se tornou uma estrela, contracenando com Douglas Fairbanks em O Pirata Negro / The Black Pirate / 1926, filmado em lindo Technicolor de duas cores. Outros filmes importantes: Wanderer of the Wasteland (também bicolor) / 1924, Esposa ou Artista? / The Marriage Clause / 1926, Pecadora sem Malícia / Sensation Seekers / 1927, Rosa Americana / American Beauty / 1927, Só Quero um Homem / The Painted Angel / 1929.

LILLIAN GISH (1893-1993). Nome verdadeiro: Lillian Diana Gish. Local de nascimento: Springfield, Ohio, Estados Unidos. Ela e sua irmã Dorothy já trabalhavam no teatro ainda adolescentes quando, em 1912, Mary Pickford, apresentou-as a David Wark Griffith, que as dirigiu no curta-metragem An Unseen Enemy. Lillian logo se tornou uma das atrizes mais queridas da América, trabalhando em vários filmes de Griffith como O Nascimento de uma Nação / The Birth of the Nation / 1915 (como a sulista Elsie Stoneman, sofrendo o drama da Guerra Civil), Intolerância / Intolerance / 1916, (como “a eterna mãe” balançando o berço entre os quatro episódios do grandioso espetáculo), Lírio Partido / Broken Blossoms / 1919 (como Lucy, a moça branca frágil amada por um chinês tímido, e brutalizada pelo pai pugilista), Horizonte Sombrio / Way Down East / 1920 (como Anna, a mãe solteira expulsa de casa em uma região gelada), Orfãs da Tempestade / Orphans of the Storm / 1921 (como Henriette, envolvida com sua irmã cega Louise (Dorothy Gish) no turbilhão da Revolução Francesa). Lillian era a beleza etérea da era Vitoriana ideal de Griffith, sua “heroína quintessencial”. Aparecendo em outras produções de alto nível como A Irmã Branca / The White Sister / 1923 (como Angela Chiaromonte, a jovem que se torna freira, pensando que seu amado foi morto),  A Letra Escarlate / The Scarlet Letter / 1926  (como Hester Prynne, a jovem adúltera que enfrenta o preconceito na Boston Puritana) e Vento e Areia / The Wind / 1928, (como Letty, a jovem ingênua que enfrenta um ambiente hostil físico e social, açoitado pelo vento), ela recebeu o título de “The First Lady of the Screen”.

CORINNE GRIFFITH (1894-1979). Nome verdadeiro: Corinne Mae Griffin. Local de nascimento: Texarkana, Texas, Estados Unidos.  Em 1916, depois de trabalhar no teatro,  começou sua carreira cinematográfica na Vitagraph. Nos meados dos anos vinte, transferiu-se para a First National, onde se tornou uma das atrizes mais populares da companhia. Em 1928, interpretou o papel principal na magnífica comédia-dramática dirigida por Lewis Milestone, Jardim do Éden / Garden of Eden. No ano seguinte, foi indicada para o Oscar por sua atuação em A Dama Divina / The Divine Lady, na qual personificou Lady Hamilton. No auge da fama, Corinne recebeu o apelido de “The Orchid Lady of the Screen” por sua elegância e beleza. Outros filmes importantes: O Que as Mulheres Querem / Black / Oxen / 1923, A Modista de Paris / Mademoiselle Modiste / 1926.

LEATRICE JOY (1893-1985). Nome verdadeiro: Leatrice Johanna Zeidler. Local de nascimento: New Orleans, Louisiana, Estados Unidos. Geralmente citada como a introdutora da “febre” do cabelo curto dos anos vinte, começou no mundo do espetáculo excursionando com a Brissac Stock Company. Do teatro passou para o cinema, estreando nas comédias curtas Black Diamond, produzidas na Pennsylvania, e distribuídas nacionalmente pela Paramount. Em Hollywood, também começou em shorts cômicos ao lado de Billy West e Oliver Hardy. Contratada por Samuel Goldwyn, fez seu primeiro filme para o estúdio como figurante em Raça de Heróis /The Pride of the Clan / 1917. Posteriormente, tornou-se uma protegida de Cecil B. DeMille, atuando em várias de suas produções como  A Noite de Sábado / Saturday Night / 1922, A Homicida / Manslaughter /1922, Os Dez Mandamentos / The Ten Commandements / 1923, Triunfo / Triumph / 1924. Outro filme importante da atriz foi Liberdades de Eva / Eve’s Leave, comédia deliciosa, na qual Leatrice faz o papel de uma moça criada como um rapaz, que se apaixona pelo filho de um plantador de chá na China, durante muitas aventuras envolvendo os dois com um bando de piratas.

COLLEEN MOORE (1899-1988). Nome verdadeiro: Kathleen Morrison. Local de nascimento: Port Huron, Michigan, Estados Unidos. Estudou música no prestigioso Conservatório de Detroit, mas queria ser atriz e, com a ajuda de um tio, editor de um jornal de Chicago, conseguiu entrar na indústria do cinema, começando como figurante em 1916. Depois de um papel principal como Annie em A Pequena Annie / Little Orphan Annie / 1918, Colleen apareceu em vários westerns ao lado de Tom Mix e, finalmente, no filme que a associaria para sempre com a juventude da Era do Jazz, Pequenas de Hoje / Flaming Youth / 1923. Seu penteado de pagem com uma longa franja caindo sobre a testa, tornou-se a sua marca registrada e criou moda. Colleen mostrou sua capacidade dramática em Amor, Destino e Honra / So Big / 1924, e também foi muito bem recebida pelo público e pelos críticos em comédias como Irene / Irene / 1926 e O Prêmio de Beleza / Ella Cinders / 1926. Sua popularidade chegou ao auge, quando interpretou a jovem camponesa Jeaninne, em Amor Nunca Morre / Lilac Time / 1928 ao lado de Gary Cooper.

MAE MURRAY (1889-1965). Nome verdadeiro: Marie Adrienne Koenig. Local de nascimento: Nova York, NY, Estados Unidos. Conhecida como “The Girl with the Bee-Stung Lips” e “The Gardenia of the Screen”, começou a atuar na Broadway dançando com Vernon Castle (substituindo a irmã dele, Irene Castle), Clifton Webb e Rudolph Valentino. Mae se tornou uma grande atração no Ziegfeld Follies  e apareceu também no popular cabaré Sans Souci de Nova York, até que foi contratada pela Paramount. Seu sexto filme, The Plow Girl / 1916, marcou o princípio de uma parceria com o diretor Robert Z. Leonard. Eles ganharam a sua própria unidade de produção, casaram-se, e sua colaboração profissional (ao todo 28 filmes) – que proporcionou filmes bastante lucrativos – perdurou até 1925, quando se divorciaram amigavelmente. O filme mais famoso de Mae após o divórcio foi A Viúva Alegre / The Merry Widow /1925, dirigido por Erich von Stroheim, no qual ela formou um par com John Gilbert.

MARY PHILBIN (1902-1993). Nome verdadeiro: Mary L. Philbin. Local de nascimento: Chicago, Illinois, Estados Unidos. Entrou para o cinema após ter vencido um concurso de beleza patrocinado pelo Elks Club e pelo jornal Chicago Herald Examiner. O prêmio era uma chance de assinar um contrato com a Universal e o juiz do certame, Erich von Stroheim, recomendou-a para um teste. Seu primeiro filme  foi Suspeita Iníqua / The Blazing Trail / 1921.  Em 1923, Mary apareceu no écran como Agnes em Merry-Go-Round em um papel escrito especialmente para ela por Stroheim. Porém suas personagens mais famosas na tela foram Christine Daae em O Fantasma da Opera / Phantom of the Opera / 1925 ao lado do grande Lon Chaney  (Mary inesquecível naquela cena em que desmascara Erik, o fantasma) e Dea em O Homem Que Rí / The Man Who Laughs, estrelado pelo ator alemão Conrad Veidt. Outros filmes importantes: Stella Maris / Stella Maris / 1925, Cena Final / The Last Performance / 1927, Ama-me e o Mundo Será Meu /Love Me and the World is Mine / 1927.

MARY PICKFORD (1892-1979. Nome verdadeiro: Gladys Marie Smith. Local de nascimento: Toronto, Ontario, Canadá. “A Namorada da América” começou sua carreira artística no teatro, contratada por David Belasco, famoso empresário de Nova York. Em 1909, ela obteve emprego na Biograph, onde atuou sob as ordens de David Wark Griffith, tornando-se rapidamente uma favorita do público, que a chamava de “A Pequena Mary” ou “A Mocinha dos Cachos Dourados”. No final de 1903, Mary entrou para a Famous Players de Adolph Zukor, e atingiu uma popularidade impressionante. Em 1916, passou a ter a sua própria unidade  de produção, cujos filmes eram distribuídos com exclusividade pela Artcraft Pictures. Seguiu-se uma série de filmes de grande sucesso como Rica e Pobre / The Poor Little Rich Girl / 1917, Rebeca / Rebecca of Sunnybrook  Farm/ 1917, M’Liss / M’Liss / 1918, Benditoso Esplendor / Stella Maris / 1918, Contrastes da Vida / Amarilly of Clothes-Line Alley / 1918. Mary transferiu-se para a First National e fundou a Mary Pickford Company, obtendo alguns de seus maiores êxitos, entre eles, Papaizinho Pernilongo / Daddy Long Legs / 1919. Já casada com Douglas Fairbanks, criou com ele, Charles Chaplin e David Wark Griffith, a United Artists, para a qual ela fez grandes filmes: Pollyana ou Menina Travessa / Polyanna / 1920, Castelos de Espuma / Suds / 1920, O Pequeno Lord Fauntleroy / Little Lord Fauntleroy / 1921, O País das Tormentas / Tess of the Storm Country / 1922, Rosita / Rosita / 1923, Sua Vida pelo Seu Amor / Little Annie Rooney / 1925, Aves Sem Ninho / Sparrows / 1926 e seu derradeiro filme mudo, Meu Único Amor / My Best Girl / 1927. Obs. Ver meu artigo sobre Mary Pickford de 7 de junho de 2011.

MARIE PREVOST (1898-1937). Nome verdadeiro: Marie Bickford Dunn. Local de nascimento: Sarnia, Ontario, Canadá. Foi descoberta por Mack Sennett que a incluiu entre as suas “Bathing Beauties” nas comédias curtas da Keystone. Depois, Irving Thalberg, da Universal, deu impulso à sua carreira, convidando-a para estrelar dois filmes, Desatinos ao Luar / The Moonlight Follies / 1921 e Beijada / Kissed / 1922. Contratada pela Warner Bros., Marie teve uma participação muito elogiada pelos críticos em Bela e Pecadora / The Beautiful and Damned / 1922, e o diretor Ernst Lubitsch colocou-a em três de seus filmes: O Círculo do Casamento / The Marriage Circle / 1924, As Três Mulheres / Three Women / 1924 e Beija-me Outra Vez / Kiss me Again / 1925, que marcaram o ponto mais alto de sua trajetória artística. No final dos anos vinte, ela fez mais alguns filmes de sucesso como O Homem das Cavernas / The Caveman / 1926, Artigo de Luxo / Up in Mabel’s Room / 1926 e As Ligas de Lilotta / Getting Gertie’s Garter / 1927.

ESTHER RALSTON (1902-1994), Nome verdadeiro: Esther Worth. Local de nascimento: Bar Harbor, Maine, Estados Unidos. Começou sua carreira ainda criança em um número de vaudeville da família, anunciado como “The Ralston Family with Baby Esther, America’s Youngest Juliet”. No cinema, após ter desempenhado pequenos papéis em várias produções, Esther conseguiu  se impor em Huckleberry Finn / 1920 e, um pouco mais tarde, como Mrs. Darling em Peter Pan / Peter Pan / 1924 e a Fada Madrinha em Os Mil Beijos de Cinderella / A Kiss for Cinderella / 1925. No final dos anos vinte, trabalhou na Paramount e alcançou muita popularidade, inclusive na Inglaterra. Outros filmes importantes de Esther foram A Vênus Americana / The American Venus/ 1926, Fragata Invicta / Old Ironsides / 1926, e O Romance de Lena / The Case of Lena Smith / 1929, o famoso filme perdido de Josef von Sternberg.

GLORIA SWANSON (1899-1983). Nome verdadeiro: Gloria Josephine May Svensson. Local de nascimento: Chicago, Illinois, Estados Unidos. Em 1913, foi contratada como figurante pelo estúdio da Essanay em Chicago, onde conheceu o ator Wallace Beery, com quem se casou. Ambos foram para Hollywood, contratados pela Keystone, e Gloria foi colocada ao lado de Bobby Vernon em uma série de comédias românticas. Divorciada de Beery, ela transferiu-se para a Triangle. Subsequentemente, Cecil B. DeMille escalou-a como heroína de suas produções luxuosas como Não Troqueis Vossos Maridos / Don’t Change Your Husbands / 1917, Macho e Fêmea / Male and Female / 1919, Por Que Trocar de Esposa Anatol? / Why Change Your Wife? / 1920, Aventuras de Anatólio / The Affairs of / 1921 etc. Em pouco tempo, Gloria alcançou o estrelato e continuou sua brilhante carreira, fazendo filmes maravilhosos como Escravizada Manhandled / 1924, Este Mundo é um TeatroStage Struck / 1925, O Amor de Sunia / The Loves of Sunya / 1927, Sedução do Pecado / Sadie Thompson / 1928 e Minha Rainha / Queen Kelly /1929. Obs. Ver meu artigo sobre Gloria Swanson de 27 de maio de 2010.

BLANCHE SWEET (1896-1986). Nome verdadeiro: Sarah Blanche Sweet. Local de nascimento: Chicago, Illinois, Estados Unidos. Filha de artistas do teatro e do vaudeville, ainda criança já integrava o elenco de uma peça. Em 1909, entrou para a Biograph sob as ordens de David Wark Griffith, e se tornou a maior rival de Mary Pickford, que também começara com o mestre no ano anterior. Seu primeiro filme marcante na Biograph foi The Lonedale Operator / 1911 e, em 1913, ela estrelou o primeiro longa-metragem de Griffith, Judith de Betúlia / Judith of Bethulia. Em 1914, Blanche ingressou na Famous Players Lasky, e continuou sua carreira sob o comando de vários diretores, notadamente Marshalll Neilan, com quem fez um de seus melhores filmes, A Voz da Justiça / Tess of the D’Ubervilles / 1924. Blanche e Neilan se casaram e formaram sua própria companhia produtora em 1918. A parceria se dissolveu em 1921, mas Blanche continuou participando de produções de qualidade como a primeira versão da peça de Eugene O’Neill, Anna Christie / Anna Christie / 1923.

NORMA TALMADGE (1894-1957).  Nome verdadeiro: Norma Talmadge. Local de nascimento: Jersey City, New Jersey, Estados Unidos. Começou sua vida artística posando para as “illustratred songs”, que eram apresentadas antes dos filmes de um rolo no palco dos primeiros cinemas. Norma fez alguns filmes na Vitagraph e na Triangle, e depois conheceu Joseph M. Schenck, empresário rico que controlou e impulsionou sua carreira, fundando a Norma Talmadge Film Corporation. Sob supervisão de Schenck, Norma fêz, entre outros: Pantéia / Panthea / 1917, Papoula Viçosa / Poppy / 1917 (Por causa desse filme os fãs brasileiros deram-lhe o apelido de “Papoula Viçosa”), Cidade Proibida / Forbidden City / 1917,  Passion Flower /1921, Quanto Pode o Amor / Love’s Redemption / 1921, A Duquesa de Langeais / The Eternal Flame / 1923, Morrer Sorrindo / Smilin’ Through / 1922, Segredos / Secrets / 1924, Amor de Príncipe / Graustark / 1925, Kiki / Kiki / 1926,  A Dama das Camélias / Camille / 1926, A Mulher Cobiçada / The Dove / 1927. Especializada em melodramas, com um dos rostos mais expressivos da tela, elegante e glamourosa, Norma era adorada pelos espectadores e pelos críticos, figurando entre os ídolos mais populares do cinema silencioso americano. Obs. Ver meu artigo sobre Norma Talmadge de 6 de agosto de 2010.

ALICE TERRY (1899-1987). Nome verdadeiro: Alice Frances Taaffe. Local de nascimento: Vincennes, Indiana, Estados Unidos. Assim que chegou com sua família a Los Angeles, com quinze anos de idade, Alice conheceu Enid Markey, uma atriz que morava no seu prédio. Enid a convenceu a procurar emprego no estúdio de Thomas Ince, conhecido com Inceville. Ela foi contratada e apareceu em alguns filmes, inclusive na grande produção Civilização / Civilization. (interpretando vários tipos como figurante). Foi em Inceville, que conheceu seu futuro marido, o diretor Rex Ingram. Ele a elevou ao estrelato, dirigindo-a no papel de Marguerite em Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse / The Four Horsemen of the Apocalypse / 1921 ao lado de Rudolph Valentino. Outros filmes importantes de Alice, sob direção de Ingram, foram: Eugenia Grandet / The Conquering Power /1921 (também com Valentino), O Prisioneiro do Castelo de Zenda / The Prisoner of Zenda / 1922 (com Lewis Stone), Apsará / Where the Pavement Ends / 1923, Scaramouche / Scaramouche / 1923 (ambos com Ramon Novarro), e Mare Nostrum / Mare Nostrum / 1925 (com Antonio Moreno)

FLORENCE VIDOR (1895-1977). Nome verdadeiro: Florence Arto. Local de nascimento: Huston, Texas, Estados Unidos. Destacou-se no início de carreira como a costureirinha trágica Mimi em Thermidor / A Tale of Two Cities / 1917. Promovida a atriz principal, contracenou com Sessue Hayakawa em Hashimura Togo / Hashimura Togo, A Espada do Duque / The Secret Game / 1917 e Intenção Oculta / The White Man’s Law / 1918. Depois, estrelou filmes para diretores variados, mas preferia trabalhar com seu marido King Vidor, com o qual fez: A Outra Metade / The Other Half / 1919, Humilhação / Poor Relations / 1919, The Family Honor / 1920, The Jack-Knife Man / 1920, Gloriosa Aventura / Real Adventure / 1922, Do Crepúsculo à Aurora / From Dusk to Dawn / 1922 e Conquering the Woman / 1922. Entretanto, os melhores filmes de Florence, todos no gênero comédia sofisticada, foram dirigidos por peritos no assunto: Ernst Lubitsch (O Círculo do Casamento / The Marriage Circle / 1924); Malcolm St. Clair (Por Quê Divorciar? / Are Parents People? / 1925, A Duquesa e o Garçom / The Grand Duchess and the Waiter / 1926); Harry D’Abbadie D’Arrast (Quarteto de Amor / The Magnificent Flirt /1928). Ela teve ainda a honra de atuar, ao lado de Emil Jannings e Lewis Stone, no drama histórico de Ernst Lubitsch, Alta Traição / The Patriot, um dos grande filmes desaparecidos da Historia do Cinema.