GRANDES FIGURINISTAS DO CINEMA CLÁSSICO DE HOLLYWOOD III

Como escreveu David Chierichetti, durante a maior parte do anos vinte, na Warner Bros. – que era nesta época o mais pobre dos grandes estúdios -, com exceção dos filmes suntuosos de John Barrymore, havia pouca coisa para um figurinista fazer.  Nos anos trinta, ocorria o mesmo nos filmes de gangster e de realismo social, porém, ao mesmo tempo, neste período, eram produzidos musicais de Busby Berkeley, dramas de época e filmes glamourosos, nos quais despontou um grande figurinista: Orry Kelly (Orry George Kelly, 1897-1964).

Orry nasceu em Kiama, New South Wales, Austrália e estudou arte, interpretação, canto e dança em Sydney, antes de emigrar para os Estados Unidos. Em Nova York, trabalhou primeiro como ajudante de alfaiate e depois como pintor de murais para boates e lojas de departamento. Graças aos seus murais, Orry arrumou emprego como desenhista de intertítulos para os filmes mudos da Fox Film Corporation e figurinista para espetáculos de variedades. Em 1931, ele se mudou para Hollywood e logo se tornou o figurinista-chefe da Warner, onde ficou de 1932 a 1943. Posteriormente, ocupou o mesmo cargo na 20thCentury Fox (1943-1947), na Universal (1947-1950) e, finalmente, passou a prestar serviços como free-lancer. Orry ganhou três Oscar (por Sinfonia de Paris / An American in Paris / 1951, Les Girls / Les Girls / 1957 e Quanto Mais Quente Melhor / Some Like it Hot / 1959.

A situação da Warner melhorou com o enorme sucesso de O Cantor de Jazz/ The Jazz Singer / 1927 e a companhia contratou Earl Luick e Edward Stevenson como figurinistas; porém os dois logo deixaram o estúdio, justamente quando o estúdio havia acabado de atrair duas grandes estrelas, Kay Francis e Ruth Chatterton, da Paramount. Nesta brecha, entrou Orry Kelly.

Disseram a Orry que ele seria contratado se Francis e Chatterton aprovassem seus desenhos. Os croquis que ele submeteu às duas atrizes incorporavam inteligentemente uma semelhança acurada de seus rostos (em lugar do costumeiro manequim neutro então corrente nos croquis de moda) e esta pequena lisonja pessoal, somada aos bons desenhos, garantiu-lhe o emprego.

Orry fez sua estréia formal no filme de Ruth Chatterton, Erros do Coração / The Rich are Always With Us / 1932 e, dentro de um ano, a Warner acolheu outro figurinista, Milo Anderson (1910-1984), certamente o mais jovem de Hollywood. Os croquis de Anderson haviam impressionado o produtor Samuel Goldwyn, que lhe encarregou de desenhar as roupas para Meu Boi Morreu / The Kid from Spain / 1932, quando tinha apenas 17 anos de idade. O filme aproximou Anderson de Busby Berkeley e este o levou consigo, ao se transferir para a Warner Bros., a fim de dirigir Rua 42 / 42nd Street /1932. Orry Kelly vestiu os atores principais, mas Anderson fêz os trajes de todos os números musicais, porque conhecia melhor as idéias de Berkeley.

Orry tinha um relacionamento cordial com Anderson e embora, como chefe do departamento do guarda-roupa, tomasse para si o compromisso de vestir as estrelas mais importantes, às vezes deixava algumas aos cuidados de Anderson. Orry  vestiu mais Bette Davis e Kay Francis enquanto Anderson se especializou em Olivia de Havilland (é dele, por exemplo, o vestido enfeitado de folhas de hera em O Intrépido General Custer / They Died With their Boots On / 1942 e o traje de cintura dupla bordado em metal e cravejado de pedras preciosas de As Aventuras de Robin Hood / The Adventures of Robin Hood / 1938  ) e, mais tarde, Ida Lupino (com destaque para o vestido lustroso de lamé dourado na cena de sedução com George Raft em Dentro da Noite / They Drive by Night) e Ann Sheridan (sobressaindo o vestido com as mangas e parte da saia enfeitados com babados   em Pés Inquietos / Juke Girl / 1942).

O estilo de Orry Kelly se diferenciava do estilo de outros figurinistas de Hollywood. Ele evitava os contrastes de preto e branco de Adrian em favor de um amplo espectro da cor cinza. Seus tecidos eram de tão boa qualidade quanto os de Travis Banton, mas ele desprezava o “brilho” da Paramount. Entretanto, os vestidos de Orry nunca eram totalmente sem brilho. O seu corte era realçado com detalhes  tais como rendas de crochê e bordados acolchoados.

Orry encontrou seu modelo ideal em Kay Francis, cujo modo de andar combinava sex-appeal com autoridade.  Orry salientou isso com o  uso constante de linhas verticais, para acentuar os seus quadrís  finos e pernas compridas, disfarçando seu pouco busto com tufos.

Exceto alguns desentendimentos – causados por demasiada ingestão de álcool, por parte de um, de outro, ou de ambos – Orry adorava trabalhar com Kay. “Felizmente”- ele comentou – “Kay era a essência do bom gosto. Desenhei  vestidos de noite simples sem adornos,  em veludo, chiffon e crepes para ela no filme  A Única Solução / One Way Passage / 1932 o que  adorou”.

Orry considerava as costas e os ombros as melhores partes do corpo de Kay e a vestia em conformidade com esta avaliação. Alguns dos vestidos mais bonitos da era Pre-Code, feitos por Orry para Kay, estavam em Mandalay / Mandalay / 1934 e ela, como sempre, muito elegante.

O maior desafio de Orry na Warner foi Bette Davis. Seu pescoço era comprido e largo e Orry comumente tinha que desenhar todo tipo de golas altas, usando algumas vêzes tufos ou grandes laços. Nos anos quarenta, o cabelo de Bette caindo nos ombros fez com que seu pescoço parecesse menos comprido, mas ela gostava de mudar sua aparência em cada filme, apreciando vestidos modernos. Assim, em Estranha Passageira / Now Voyageur / 1942 ela não somente manteve seu cabelo para cima o tempo todo  como Orry lhe deu um decote em “V” comumente usado para fazer com que pescoços curtos parecessem mais longos.

Bette se dispunha a usar qualquer espécie de espartilho necessário para os seus filmes de época, porque procurava sempre a precisão e o desconforto ajudava-a a encontrar o referencial apropriado. Entretanto, para seus papéis modernos, ela  se recusava a vestir qualquer peça de roupa que fosse desconfortável ou apertada e que incluísse sutiãs, dai resultando que seu busto generoso caísse. Algumas vezes Orry conseguia confeccionar algum suporte na parte da frente do vestido, mas quase sempre camuflava o seu aspecto matronal com mangas compridas e volumosas na parte de cima.  Para Pérfida / The Little Foxes / 1941, Orry providenciou um lindo vestido branco de renda e um espartilho, que reestruturava o corpo de Bette magnificamente. Para A Carta / The Letter / 1940, ele usou um xale de renda comprido, que cobria a cabeça da atriz.

Para acentuar a insanidade crescente de Carlotta, a personagem de Bette em Juarez / Juarez / 1939, Orry usou psicologia visual ao desenhar suas roupas. Ele criou um vestido branco para a sua primeira cena e, a medida em que o filme ia progredindo, a cor dos vestidos mudava de branco para cinza. Finalmente, quando ela está completamente louca,  é vista de preto.

Porém o vestido de baile de cetim “vermelho” no filme em preto-e-branco Jezebel / Jezebel / 1938,  desenhado por Milo Anderson durante uma ausência de Orry (que no entanto fêz todas as outras roupas do filme brilhantemente antes de partir), é o que permanece na memória dos fãs.

Quando as produções se tornaram mais pródigas nos final dos anos trinta, o trabalho aumentou tanto que a Warner empregou um terceiro figurinista, Howard Shoup (1903-1987), para cuidar dos filmes “B”. Shoup desenhou muitas roupas para Ann Sheridan, revezando com Milo Anderson, quando Orry-Kelly os deixava vestir a “Oomph Girl”.

A  habilidade de Orry continuou a impressionar no começo dos anos quarenta. O sucesso enorme de Casablanca / Casablanca / 1942, conjugado com a simples confecção daquela blusa de malha listrada para Ingrid Bergman, tornou-se um dos estilos de moda dos anos de guerra. “Quisera eu ter ganho dez centavos por cada vez que ele foi copiado”, ele disse.

No meio de seu trabalho com os trajes de Bette Davis para Uma Velha Amizade / Old Acquaintance / 1943, Orry foi convocado para o serviço militar. Ele retornou alguns mêses depois, porém no estúdio todos estavam satisfeitos com Milo Anderson e Leah Rhodes (1902-1986), uma figurinista contratada (indicada para o Oscar pelos seus trajes em As Aventuras de Don Juan / The Adventures of Don Juan / 1949) e, a não ser para os filmes de Bette, não precisavam mais dele. Orry conseguiu voltar para a Warner para fazer as roupas de Vaidosa / Mr. Skeffington / 1944, mas somente porque o estúdio  estava dando a Bette Davis tudo o que ela quisesse.

Após a saída de Orry, a Warner recorreu esporadicamente a outros figurinistas como Bernard Newman, Sheila O’Brien, William Travilla, Marjorie Best etc. mas Milo Anderson e Leah Rhodes (responsável pelos trajes de Viveca Lindfors  em As Aventuras de Don Juan / The Adventures of Don Juan / 1949, ganhando o Oscar por seu trabalho neste filme, juntamente com William Travilla e Marjorie Best), continuaram a vestir as grandes estrelas da Warner no começo dos anos cinquenta, Doris Day e Jane Wyman. Leah Rhodes deixou o estúdio em 1952, queixando-se do excesso de trabalho e Milo Anderson em 1953, lamentando que o glamour havia acabado.

Após um período como free-lancer (quando vestiu, por exemplo, Shirley Jones em Oklahoma! / Oklahoma! / 1955), Orry Kelly retornou a Warner a pedido de Rosalind Russell para A Mulher do Século / Auntie Mame / 1958, que mostra bem a sua imaginação extravagante, vislumbrada na maioria de seus filmes restantes. Ela é evidente em um vestido que fêz para Marilyn Monroe em Quanto Mais Quente Melhor, feito de tecido leve enviesado para levantar o seu busto e encolher a barriga  e coberto de contas pretas de cristal, que deixavam os seios da atriz parcialmente  visíveis.

Jack Warner e George  Cukor queriam que Orry desenhasse as roupas para Minha Bela Dama / My Fair Lady / 1964, mas não puderam fazer nada, porque o acordo com os autores Lerner e Lowe estipulava que o figurinista seria Cecil Beaton. Dizem que Orry ficou inconsolado e morreu por causa disto.

A Fox era um dos estúdios mais antigos de Hollywood, fundada em 1914; mas somente com a chegada de Darryl Zanuck em 1935 é que os vários departamentos, inclusive o de guarda-roupa, foram melhor organizados.

Sophie Wachner (1879-1960), que viera da MGM (onde fêz, por exemplo, as roupas para A Ironia da Sorte ou A Vingança do Palhaço / He Who Get Slapped / 1924 e O Leque de Lady Margarida / Lady Windermere’s Fan / 1925), foi a primeira pessoa a operar um guarda-roupa coerente na Fox nos meados dos anos vinte. Mas enquanto ela estava lá, o estúdio trouxe vários figurinistas de fora para filmes especiais: Adrian, Kathleen Kay, Edward Stevenson, Dolly Tree, David Cox e Russell Patterson. Depois que Sophie Wachner saiu (em 1939, depois de fazer seu penúltimo trabalho, os magníficos trajes para Um Garoto de Qualidade / Little Lord Fauntleroy / 1936), a sucessão de figurinistas continuou: Earl Luick, Rita Kaufman, Royer, René Hubert, William Lambert, Charles LeMaire.   Todos esses figurinistas ficaram na Fox durante um breve período.

Em 1935, a Fox se fundiu com a 20th Century Productions. Esta companhia vinha usando o departamento de guarda-roupa e o figurinista da  Goldwyn Pictures, Omar Kiam, tanto quanto fosse possível. Kiam desenhou filmes de época suntuosos como O Cardeal Richelieu / Cardinal Richelieu / 1934 e Folies Bergères / Folies Bergères / 1935. Quando Kiam não estava disponível, Zanuck requisitava os serviços de Gwen Wakeling, uma talentosa figurinista free-lancer. Ela havia desenhando roupas para A Casa de Rotschild / The House of  Rotschild / 1934, que continha lindos trajes estilo Império, graciosamente usados por Loretta Young, todo tipo de uniformes e roupas judaicas tradicionais.

Como a fusão, Zanuck nomeou Arthur Levy como gerente geral do novo departamento de guarda-roupa da 20th Century Fox. Alguns dos figurinistas da Fox deixaram o estúdio, mas Royer ficou e Levy colocou Gwen Wakeling sob contrato. Royer (Lewis Royer Hastings, 1904-1988) e Gwen Wakeling (1901-1982) formaram um departamento muito produtivo. Ambos faziam vestidos modernos e de época igualmente bem, de modo que Levy podia designar qualquer tipo de filme para qualquer um deles, embora Royer comumente cuidasse dos filmes de época.

O estúdio tinha sob contrato, Loretta Young, uma das mulheres mais bonitas de Hollywood. Suas proporções e postura eram perfeitas, nada precisava ser camuflado. Loretta preferia tecidos leves, que modelassem o corpo às confecções de estruturas rijas, que estavam se tornando moda no final dos anos trinta.

Ela se esforçava  arduamente até que aprendesse a usar suas roupas de época, virando as saias-balão de um lado, para que pudesse passar pelas portas graciosamente – em Suez  / Suez / 1938,  Loretta deslizou maravilhosamente com essas saias enormes. A atriz olhava sempre para um espelho colocado perto da câmera e, antes da filmagem de cada cena, checava a sua iluminação e arrumava as saias volumosas e enfeitadas, para que o vestido fosse exibido da maneira mais favorável.

Wakeling e Royer vestiram Alice Faye (vg. Royer em No Velho Chicago / In Old Chicago / 1937; Wakeling em Epopéia do Jazz / Alexander’s Ragtime Band / 1938). Faye tinha um corpo difícil, porque estava à frente do seu tempo. Suas proporções eram do tipo que outras atrizes da Fox vinte anos depois tentariam obter com enchimentos e cintas, para ficarem com um busto grande, cintura fina e derrière chato. Faye não gostava quando os seus personagens de filmes de plumas e lantejoulas assim como o seu corpo eram comparados a Mae West. Para diminuir seu busto nos filmes em que usava roupas modernas, Wakeling and Royer  davam-lhe vestidos de crepe de lã preta que não refletiam a luz e achatava suas curvas dos lados. Eles cortavam seu busto com linhas verticais e diagonais, colocavam detalhes chamativos no pescoço ou abaixo da cintura e usavam mangas bufantes e tufos de penas ou tule como disfarce.

Diante das dívidas da 20th Century Fox após a fusão, Zanuck foi obrigado a fazer economia e entrou rapidamente no mercado do filme “B”,  quando os cinemas começaram a oferecer programas duplos em 1936. Herschel McCoy (1912-1956) foi encarregado de cuidar dos figurinos dos filmes “B”, porém como a filmagem ocorria em lotes diferentes, ele tinha pouco contato com Royer e Wakeling. Herschel acumulou um número expressivo de créditos, mas em séries como Mr. Moto ou Charlie Chan, os personagens vestiam sempre os mesmos trajes filme após filme, sendo usado o estoque do guarda-roupa do estúdio, sempre que possível.  Quando acabara de ser promovido aos filmes classe “A” e de ter ganho uma indicação para o Oscar por sua colaboração em Quo Vadis / Quo Vadis / 1951, Herschell faleceu prematuramente aos 43 anos de idade.

No final de 1939, Royer e Wakeling deixaram o estúdio, para formar uma parceria e abrir um ateliê. Travis Banton, que saíra da Paramount, foi contratado, mas não ficou por muito tempo. Em 1941, Arthur Levy também deixou a 20th Cemtury Fox  e  Charles LeMaire (1897-1985) então retornou, para assumir o cargo de figurinista-chefe.

LeMaire nasceu em Chicago e começou sua carreira artística como ator de vaudeville. Depois, passou a fazer roupas para muitos artistas da Broadway usarem no palco e na vida real e, finalmente, recebeu sua primeira incumbência importante: desenhar trajes para o Ziegfeld Follies. De 1919 a 1926 ele desenhou trajes para uma série de operetas de Hammerstein e trabalhou também para as revistas musicais George White’s Scandals, Earl Carroll‘s Vanities e Irving Berlin’s Box Revue. free-lancer. Em 1931, abriu sua própria firma: LeMaire Studio Design.


Após se deligar do Exército em 1942, ingressou na 20th Century Fox, onde reorganizou o departamento de guarda-roupa e deixou uma filmografia enorme, na qual fica difícil saber se ele – tal como Cedric Gibbons na MGM – contribuiu pessoalmente para todos os projetos ou se apenas aprovou projetos dos vários desenhistas que trabalharam no departamento como René Hubert (Wilson / Wilson / 1944, A Condessa se Rende / That Lady in Ermine / 1948, Entre o Amor e o Pecado / Forever Amber /1947, Noites de Verão / Centennial Summer / 1946, Désirée / Desirée, o Amor de Napoleão / 1954, Anastasia / Anastácia, a Princesa Esquecida / 1956), Kay Nelson (Amar foi Minha Ruína / Leave Her to Heaven / 1945, filme em Technicolor no qual os valores simbólicos das roupas eram muito importantes – na cena quando Gene Tierney deixa o rapazinho se afogar, Kay vestiu-a com um roupão cor de água, para mostrar sua natureza fria e calculista), Bonnie Cashin (As Chaves do Reino / The Keys of the Kingdom / 1943, Laura / Laura / 1944, Anna e o

Rei do Sião / Anna and the King of Siam / 1946), William Travilla (todos os vestidos de Marilyn Monroe depois que ela se tornou uma estrela), Edith Head, Renie, Edward Stevenson (David e Betsabá / David and Bathsheba /1952), Orry-Kelly (As Irmãs Dolly / The Dolly Sisters / 1945), Oleg Cassini (roupas de Gene Tierney em O Fio da Navalha / The Razor’s Edge / 1946), Irene Sharaff (como exceção à regra, Irene não deixou que o nome de LeMaire aparecesse nos créditos e fêz todos os trajes do filme Sua Excia, a Imperatriz / Call me Madam /1953 sem consultá-lo, voltando depois à Fox para O Rei e Eu / The King and I / 1956), Dorothy Jeakins (responsável pelo famoso vestido de magenta quando Marilyn Monroe canta “Kiss me” em Torrentes de Paixão / Niagara / 1953), Eleanor Behm, Perkins Bailey, Mario Vanarelli, Ursula Maes, Miles White, Mary Wills, Yvonne Wood, Helen Rose, Adele Palmer, Leah Rhodes, Sam Benson, Adele Balkan, Elois Jenssen, Emile Santiago etc. Os créditos de todos filmes da 20th Century Fox diziam assim: “Costume supervision by Charles LeMaire, costumes designed by …”.Com exceção dos filmes nos quais ele mesmo desenhava as roupas, a participação de LeMaire  nos outros variava dependendo de cada figurinista. Comumente ele checava todos os croquis, estava sempre presente nas provas e supervisionava nos dias em que havia multidões de figurantes.

LeMaire compreendia muito bem Susan Hayward e fez questão de cuidar pessoalmente da maioria dos filmes que ela atuou na 20th Century Fox. Jane Froman, personificada por Susan em Meu Coração Canta / With a Song in My Heart / 1952, passou uma semana com LeMaire descrevendo o tipo de roupas que ela usava antes e depois do seu acidente. Embora Le Maire não tivesse feito duplicatas exatas das roupas, tudo estava de acordo com a época do filme. Froman ensinou a Hayward como ela cantava e, apesar da dublagem, Susan cantou de fato as canções em voz alta, quando filmou os números musicais. Isto impressionou tanto LeMaire, que ele fêz a cintura dos vestidos bem justa, a fim de que a expansão e contração dos músculos do seu estômago fôsse notada.

Talvez a maior contribuição de LeMaire para a História do Cinema Americano (à parte a sua ajuda para tornar Betty Grable uma lenda americana, elaborando desenhos que eram basicamente trajes de corista criados para enfatizar as pernas sensuais da atriz) foi o seu esforço para criar a categoria de Melhor Figurino entre os vários prêmios da Academia, inexistente até 1948.

A Academia, por sua vêz, foi dadivosa para com LeMaire, embora paire alguma controvérsia quanto a algumas honrarias que recebeu. Ele dividiu seu Oscar por  A Malvada / All About Eve / 1950 com sua amiga Edith Head. Head explicou que ela desejava realmente fazer as roupas para Bette Davis e como LeMaire estava muito ocupado com outros compromissos, ele concordou com este arranjo. Head afirmou que Le Maire já havia feito os outros vestidos para Anne Baxter, Celeste Holm, Thelma Ritter, Barbara Bates e Marilyn Monroe. Entretanto, os únicos vestidos que os espectadores se lembram são os feitos por Edith e algumas fontes parecem questionar a autoria de LeMaire quanto aos outros. Quanto ao Oscar por Suplício de uma Saudade / Love is a Many Splendored Thing / 1955, Edith achava que LeMaire não merecia este prêmio porque, segundo sua opinião, os vestidos não eram de qualidade. Além destas distinções dúbias, LeMaire ganhou mais um Oscar, juntamente com Emile Santiago, pelo épico bíblico O Manto Sagrado / The Robe / 1953.

LeMaire saiu  do estúdio em 1959, para trabalhar como free-lancer e no negócio de moda. Ele fazia parte dos grandes figurinistas, que estavam deixando a indústria, quando a Idade de Ouro de Hollywood dava seu último suspiro.

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