GRANDES COMPOSITORES DO CINEMA CLÁSSICO DE HOLLYWOOD

Inicialmente, o fundo musical dos filmes era limitado à apresentação do letreiros ou quando se mostrasse a fonte: uma orquestra ou piano, um rádio ou vitrola, ou a voz de um cantor, etc. tinham que aparecer na tela, para que as pessoas não ficassem sem saber de onde estava vindo a música. Era a chamada source music ou música diegética, uma música que faz parte da ação do filme. Porém logo se tornou claro que um fundo musical não diegético, ou seja, uma música cuja fonte não está visível no écran, era não somente essencial, mas também altamente benéfica para o filme.

Como disse Michael Pratt, nas mãos de brilhantes compositores foi criado um verdadeiro drama musical. “Erich Korngold nos convenceu de que Errol Flynn era realmente Robin Hood; Max Steiner nos contou como era perder a guerra e um modo de vida para um aristocrata sulista; Miklos Rosza nos informou como Ray Milland se sentiu num “fim de semana perdido” e Bernard Herrmann nos aterrorizou quando um sujeito esquisito esfaqueou Janet Leigh no chuveiro. Se você acreditou que Dana Andrews realmente gostava de Laura, agradeça a David Raksin; ou se você compartilhou com as memórias de Dana Andrews quando ele se sentou na cabine de uma fortaleza voadora B-36 em um cemitério de aviões, tire o chapéu para Hugo Friedhofer. Se o seu coração estava batendo como o de Gary Cooper enquanto ele aguardava aqueles pistoleiros ao meio-dia, deve pensar em Dimitri Tiomkin e se você realmente acha que Jennifer Jones viu a Virgem Maria, então acenda uma vela à memória de Alfred Newman. E Joan Fontaine  estava absolutamente certa quando percebeu que Manderley era mal assombrada, mas não pelo espírito de Rebecca e sim pela música de Franz Waxman”.

O primeiro grande dramatista musical foi Max Steiner (1888 – 1971). Maximilian Raoul Walter Steiner nasceu em Viena, Austria, filho e neto de influentes produtores de operetas. Ele estudou na Universität für Musik und derstellende Kunst Wien, tendo completado o curso de sete anos em apenas um. Aos 16 anos de idade, o jovem prodígio já havia composto a sua própria opereta, Die schene Griechin (A bela grega). Depois de trabalhar oito anos nos teatros de Londres, Steiner emigrou para a América em 1914, onde logo se tornou um dos principais arranjadores e regentes na Broadway, trabalhando para Victor Herbert, os Schuberts, Florenz Ziegfeld e outros. Durante o período da cena silenciosa, instigado por Roxy Rothapfel, Steiner, chegou a compor e reger alguns scores para a exibição de filmes da Fox, inclusive The Bondman / 1916 com William Farnum.

Sua estréia no cinema sonoro deu-se através de seu amigo compositor Harry Tierney, para o qual ele havia orquestrado o espetáculo Rio Rita na Broadway. Quando a RKO comprou os direitos de filmagem do espetáculo, Tierney insistiu para que Steiner fosse contratado como supervisor musical do filme Rio Rita / Rio Rita / 1929. Em 1930, ele teve a oportunidade de escrever o score de Cimarron / Cimarron, depois de Jerome Kern ter declinado do convite que lhe fizeram; mas não recebeu crédito pelo seu trabalho.

Steiner trabalhou muito na RKO, porém a maioria dos filmes requeria somente alguns compassos para os créditos de abertura e encerramento. O primeiro fundo musical completo composto por Steiner foi o de Sinfonia dos Seis Milhões / Symphony of Six Millions / 1932. A princípio, David O. Selznick, então chefe de produção da RKO, pediu a Steiner para compor música para apenas um rolo, cerca de dez minutos do filme,  porém o resultado foi tão bom, que ele acabou compondo o fundo musical completo. Pouco depois, fez o mesmo para os filmes Ave do Paraíso / Bird of Paradise / 1932 e Zaroff, o Caçador de Vidas / The Most Dangerous Game / 1932, o que lhe valeu o apelido de “Dean of Film Music” (Decano da Música de Filme).

O score original para King Kong / 1933  – primeiro grande sucesso de Steiner – ilustrava algumas características que se tornariam típicas das suas composições dramáticas em particular e da música narrativa da Idade de Ouro de Hollywood em geral, entre elas, o uso do motivo condutor (espécie de “marca sonora” do personagem) e da trilha pontuada (reprodução sonora da imagem para enfatizar a ação). Exemplos do uso da trilha pontuada na obra de Steiner encontram-se notadamente na imitação dos passos claudicantes do aleijado vivido por Leslie Howard em Escravos do Desejo / Of Human Bondage / 1934 ou no gotejamento de uma torneira na cela de Victor McLaglen, atormentando o delator, em O Delator / The Informer / 1935), em ambos os casos servindo para descrever os sentimentos íntimos dos personagens. A trilha pontuada também era conhecida como “mickey mousing”, porque era usada nos desenhos animados. Steiner costumava também citar melodias preexistentes que fossem apropriadas para a trama do filme como, por exemplo, em Gay Divorcee / 1934,  quando uma viagem marítima da França para Inglaterra começava com uma citação da “Marseillaise e terminava com “Rule, Britannia!”. Steiner atuou como diretor musical da maioria dos filmes de Fred Astaire e Ginger Rogers e foi responsável, ainda na RKO, pelo magnífico fundo musical de Ela, a FeiticeiraShe / 1935.

Em 1936, David O. Selznick abriu sua própria companhia de produção e convidou Steiner para ser seu diretor musical, advindo os scores de Um Garoto de Qualidade / Little Lord Fauntleroy / 1936, O Jardim de Alá / Garden of Allah / 1936,  Nasce uma Estrela / A Star is Born / 1937, As Aventuras de Tom Sawyer / The Adventures of Tom Sawyer / 1938, Intermezzo, uma História de Amor/ Intermezzo 1939 e, finalmente, … E O Vento Levou / Gone With the Wind / 1939 (o score mais longo até então escrito) e Desde que Partiste / Since You Went Away / 1944. Para … E O Vento Levou, Steiner escreveu mais de três horas de música, em 99 peças, das quais duas horas e 36 minutos foram usadas no filme. O fundo musical tinha oito motivos condutores principais associados aos personagens, dois temas de amor (Ashley / Melanie e a obsessão de Scarlet com Ashley) e o potente e arrebatador Tema de Tara. Houve também 16 temas subsidiários e numerosas citações de cantigas da época da Guerra Civil, todos perfeitamente integrados.

Ainda mais impressionante do que seu trabalho para a RKO e Selznick foi sua contribuição para a Warner Bros., iniciada com a trilha musical de A Carga da Brigada Ligeira / The Charge of the Light Brigade / 1936.

Na abertura de Nobres sem Fortuna / Tovaritch / 1937, Steiner criou a fanfarra para o famoso escudo com as iniciais WB e, em 163 filmes (média de mais de seis por ano), exibiu um talento e uma produtividade espantosas, compondo trilhas melodiosas, ricamente orquestradas, que ficaram na memória dos fãs. Entre elas, podem ser apontadas: Emile Zola / The Life of Emile Zola / 1937, Jezebel / Jezebel / 1938 (destaque para a marcha fúnebre que acompanha as carroças com as vítimas da febre amarela), Vitória Amarga / Dark Victory / 1939 (inesquecível o solo de violoncelo que no final segue Judith Traherne (Bette Davis) do jardim ao quarto, antecipando que aqueles serão seus últimos passos), Uma Cidade que Surge / Dodge City / 1939, Vontade Indômita / The Fountainhead / 1939, A Carta / The Letter / 1940,  O Intrépido General Custer / They Died With Their Boots On / 1941

Estranha Passageira / Now, Voyageur / 1942 (melodia  antológica no final, quando Charlotte / Bette Davis, não podendo ter Jerry / Paul Henreid, se contenta em criar a filha dele e irrompe aquele diálogo famoso: Jerry pergunta: “Mas você será feliz assim?” e Charlotte responde: “Oh, Jerry… Não vamos pedir a lua. Já temos as estrelas”), Casablanca / Casablanca / 1943 (emprego exemplar da source music – vg. a Marselhesa cantada patrioticamente pelos antinazistas no Rick’s – e a curiosidade da submissão do compositor à presença de “As Time Goes By” no filme, uma canção que não lhe agradava: primeiro, ela é ouvida diegéticamente,  quando Sam / Dooley Wilson a toca no seu piano; subsequentemente, ela é utilizada num fundo musical não diegético como expressão do envolvimento romântico entre Rick / Humphrey Bogart) e Ilda / Ingrid Bergman), Passagem para Marselha / Passage to Marseille / 1944, Alma em Suplício / Mildred Pierce / 1945, Mulher Exótica / Saratoga Trunk / 1945,  À Beira do Abismo / The Big Sleep / 1946, Nossa Vida com Papai / Life With Father / 1947, Belinda / Johnny Belinda / 1948 (cativante canção de ninar feita para Johhny criança e depois repetida em outros trechos do filme até atingir o sublime no final edificante), Paixões em Fúria / Key Largo / 1948, O Tesouro de Sierra Madre / The Treasure of Sierra Madre / 1948, As Aventuras de Don Juan / The Adventures of Don Juan / 1949 (bem humorado pastiche musical do gênero), Algemas de Cristal / The Glass Menagerie / 1950,  Amores Clandestinos / A Summer Place /1959 etc.

Em 1953, Steiner deixou a Warner para atuar como free-lancer e, no final de carreira, ainda fez scores para excelentes filmes da Columbia e da Republic como A Nave da Revolta / The Caine Mutiny / 1954  e Rastros de Ódio / The Searchers / 1956. O incomparável compositor recebeu 20 indicações para o Oscar, ganhando a estatueta por três vezes pelos filmes O Delator, Estranha Passageira e Desde Que Partiste.

Alfred Newman (1901 – 1970), considerado – ao lado de Max Steiner e Dimitri Tiomkin – um dos “três padrinhos da música para filmes”, atuou com brilhantismo nas atividades de compositor, regente e executivo.

Nascido em New Haven, Connecticut, começou a estudar piano com seis anos de idade. Seu talento era tão óbvio, que os amigos levaram-no à presença de um músico respeitado, Edward A. Parsons, e este concedeu a Newman uma bolsa de estudos. Dentro de um ano, o menino estava tocando peças clássicas em recitais que Parsons promovia com os seus alunos mais avançados. Um grupo local de amantes da música então decidiu levantar dinheiro para mandá-lo para Nova York, onde ele se tornou discípulo de um eminente compositor-pianista polonês, Sigismond Stojowski. Entretanto, Newman teve que abandonar os estudos aos 14 anos, porque necessitava encontrar emprego, para ajudar o sustento de sua família.

Ele conseguiu ser contratado como pianista no Strand Theater na Broadway e, meses depois, passou a ser o acompanhador da estrela do vaudeville, Grace La Rue no Keith Circuit, tocando alguns solos no piano enquanto ela trocava de roupa para um novo número. Eventualmente, Newman pensou em se tornar  regente de espetáculos teatrais e, aos 17 anos, ele estreou em The George White Scandals of 1920, regendo um score de George Gershwin. Um musical levou a outro e durante os anos vinte ele trabalhou com todos os compositores proeminentes da época.

No início de 1930, Irving Berlin sugeriu o nome de Newman para ser diretor musical de O Príncipe dos Dólares / Reaching for the Moon/ 1931 estrelado por Douglas Fairbanks. Todavia, Newman teve sua grande chance num filme produzido por Goldwyn, No Turbilhão da Mertrópole / Street Scene / 1931, cujo tema principal no estilo de “Rhapsody in Blue” de George Gerswhin logo se tornou popular e retornaria, por ele mesmo na 20thCentury-Fox, em Uma Vida Marcada / Cry of the City / 1948 e por outros compositores em filmes passados em Nova York como  Quem Matou Vicki? / I Wake Up Screaming / 1941, Envolto nas Sombras / Dark Corner / 1946 e Passos na Noite /  Where the Sidewalk Ends / 1950 etc.

Para Goldwyn, Newman compôs também o  fundo musical de O Morro dos Ventos Uivantes / Wuthering Heights / 1939 e, para Selznick, o de O Prisoneiro de Zenda / The Prisoner of Zenda / 1937, mas seu período mais produtivo estava apenas começando. Durante uma fase como free-lancer ele musicou para a Paramount Beau Geste / Beau Geste / 1939 e para a RKO,  O Furacão / Hurricane / 1938, Gunga Din / Gunga Din / 1939 e O Corcunda do Notre Dame / The Hunchback of Notre Dame / 1939.

Em 1939, Newman inaugurou uma carreira de vinte anos como chefe do departamento musical da 20thCentury-Fox, revelando-se um excelente administrador. Zanuck confiava muito nele e lhe deu um orçamento generoso, que permitiu manter uma orquestra de primeira classe e contratar os melhores compositores, regentes ou arranjadores. Foi ele que compôs a conhecida fanfarra  com metais e percussão, que acompanha até hoje o logo do estúdio no começo das produções da Fox (com um acréscimo em homenagem à estréia do formato “CinemaScope” em O Manto Sagrado / The Robe).

Newman usava a música para iluminar o ponto de vista pessoal do personagem,  técnica facilmente vislumbrada no seu score para A Canção de Bernadette / The Song of Bernadette / 1943. Ele resistiu à tentação de acompanhar a visão de Bernadette com uma música religiosa estereotipada, exprimindo a reação emocional da inocente e pura jovem camponesa pelas pequenas rajadas de vento e pelo rumor dos arbustos. O uso de um coro sem fala e distante  na cena da visão de A Canção de Bernadette tornou-se um elemento familiar do seu estilo. Tais coros ocorrem em vários filmes de sua obra e não somente em contextos religiosos. No final de O Morro dos Ventos Uivantes por exemplo, vozes cantando aparecem quase que imperceptivelmente quando Cathy (Merle Oberon) morre nos braços de Heathcliff (Laurence Olivier).

A produtividade de Alfred Newman foi quase tão prodigiosa quanto a de Max Steiner. Este forneceu música para mais de 300 filmes; Newman chegou a mais de 250 filmes e foi indicado 45 vêzes para o prêmio da Academia. Dos seus nove Oscar,  somente o de A Canção de Bernadette foi pela composição. Os outros foram pela direção musical e ele não escondeu que essas estatuetas lhe caíram nas mãos como chefe de uma equipe: Epopéia do Jazz / Alexander’s Ragtime Band / 1938, A Vida é uma Canção / Tin Pan Alley / 1940, E os Anos se Passam / Mother Wore Tighs / 1947, Meu Coração Canta / With a Song in my Heart / 1952, Sua Excia., a Embaixatriz / Call Me Madam / 1953, Suplício de uma Saudade / Love is a Many Splendored Thing / 1955, O Rei e Eu / The King and I / 1956  e Camelot / Camelot / 1967.

Na 20thCentury-Fox, especificamente, podem ser destacados ainda os scores de E As Chuvas Chegaram / The Rains Came / 1939, Vinhas da Ira / The Grapes of Wrath / 1940, A Marca do Zorro / The Mark of Zorro / 1940, Como Era Verde o Meu Vale / How Green Was My Valley / 1941, O Cisne Negro / The Black Swann / 1942, Isto Acima de Tudo / This Above All / 1942, As Chaves do Reino / The Keys of the Kingdom / 1944, O Solar de Dragonwick / Dragonwick / 1946, O Fio da Navalha / The Razor’s Edge / 1946, O Capitão de Castela / Captain from Castille / 1947, A Cova das Serpentes / The Snake Pit / 1948, Almas em Chamas / Twelve O’ Çlock High / 1949, A Malvada / All About Eve / 1950, David e Betsabá / David and Bethsheba / 1951, O Manto Sagrado,  Anastasia, a Princesa Esquecida / Anastasia / 1956, O Diário de Anne Frank / The Diary of Anne Frank / 1959.

Newman demitiu-se da 20thCentury-Fox em janeiro de 1960. A partir daí compôs e regeu como free-lancer para várias companhias. Em 1962, ele compôs  o excelente score de A Conquista do Oeste / How The West Was Won. Boa parte dos anos 1964 e 1965 o infatigável artista passou escrevendo o longo fundo musical para A Maior História de Todos os Tempos / The Greatest Story Ever Told, que lhe causou muita amargura, quando  o diretor George Stevens cortou o  tema coral “Hallelujah”, que ele havia escrito para a cena da ressureição de Lázaro, substituindo-a por um trecho do Messias de Handel. Seu derradeiro score foi para Aeroporto / Airport / 1970, proporcionando aos espectadores uma música notável  de apresentação dos letreiros, cheia de suspense e um belíssimo Tema de Amor.

Dimitri Zinovich Tiomkin (1894 – 1979) nasceu em Kremenchuk na Ucrânia, filho de  um renomado patologista  e de uma professora de música. ,Tiomkin começou a estudar piano com a mãe e depois cursou o Conservatório de Música de São Petersburgo, frequentando as aulas de Felix Blumenthal e de Alexander Glazunov. Enquanto viveu em São Petersburgo, Tiomkin se sustentava tocando acompanhamento de piano para filmes silenciosos, entre os quais os de Max Linder. Após a Revolução Russa, ele foi morar em Berlim na companhia do pai e de sua madrasta. Ali, de 1921 a 1923, estudou com o aclamado pianista e compositor Ferrucio Busoni e estreou como pianista, tocando o Concerto para Piano nº 2 de Liszt com a Orquestra Filarmônica de Berlim.

Em 1924, Tiomkin mudou-se para Paris na companhia de seu amigo Mikhail Khariton, com o qual formou um duo de pianistas. No ano seguinte, eles receberam um convite do produtor teatral de Nova York, Morris Gest e foram para os Estados Unidos, onde se apresentaram nos circuitos de vaudeville Keith/ Albee e Orpheum, acompanhando uma companhia de balé administrada pela  coreógrafa austríaca Albertina Rasch, com quem Tiomkin se casaria dois anos depois.

Depois que o craque da Bolsa de Valores em outubro de 1929 reduziu as oportunidades de trabalho em Nova York, Tiomkin e sua esposa partiram para Hollywood, onde ela fora contratada para supervisionar números de dança nos filmes da Metro-Goldwyn-Mayer. Os primeiros compromissos de Tiomkin no cinema foram composições para sequências de balé de quatro filmes da MGM de 1930:  O Bem Amado / Devil May Care, Lord Byron of Broadway, Amor de Zíngaro / The Rogue Song e Noivas Ingênuas / Our Blushing Brides. Em 1931, Newman atuou como diretor musical de Luzes da Cidade / City Lights e, em 1936, trabalharia em outro filme de Charles Chaplin, Tempos Modernos / Modern Times, regendo a orquestra que executava o arranjo de David Raksin para a música composta pelo genial Carlitos.

Sua grande oportunidade surgiu quando Frank Capra o escolheu para escrever o fundo musical de Horizonte Perdido / Lost Horizon / 1937, um projeto que era o sonho de qualquer compositor, pois tinha uma história de aventura romântica e exótica passada no paraíso de Shangri-La. O score de Tiomkin exigiu a maior orquestra jamais reunida na Columbia, para desespero do chefão do estúdio Harry Cohn, porém o resultado compensou as despesas extras. Max Steiner foi emprestado por Selznick para regê-la e o Hall Johnson Choir contratado para providenciar um som celestial.

A parceria com Capra continuou  com Do Mundo Nada se Leva / You Can’t Take it With You / 1938,  A Mulher faz o Homem / Mr. Smith Goes to Washington / 1939, Adorável Vagabundo / Meet John Doe / 1941 e A Felicidade não se Compra / It’s a Wonderful Life / 1947 e, durante a Segunda Guerra Mundial, ainda sob comando daquele diretor, Tiomkin compôs música para alguns exemplares da série de propaganda Porque Combatemos / Why We Fight. Capra ajudou Tiomkin na sua ânsia de conhecer melhor a música americana, suprindo-o com livros sobre canções folclóricas americanas, hinos ianques, negro spiritual, baladas de caubóis etc.

Em 1940, Tiomkin escreveu o score para  O Galante Aventureiro / The Westerner e descobriu que tinha uma propensão para descrever musicalmente o oeste americano. Quando lhe pediam para explicar porque se deu tão bem com os westerns, ele respondia que as estepes da Russia e as pradarias da América têm muito em comum. Com a trilha de Duelo ao Sol / Duel in the Sun em 1947, Tiomkin provou que possuia também talento para fornecer aos épicos de larga escala fundos musicais bombásticos. Porém, se na sua obra encontramos vários exemplos do seu pendor pelo grande som sinfônico, vislumbram-se nela também fundos musicais mais intimistas como os de Um Gosto e Seis Vinténs / The Moon and Six Pence/ 1942 e  A Tortura do Silêncio / I Confess / 1953.

Sem dúvida, a música para western mais conhecida de Tiomkin foi a de Matar ou Morrer / High Noon / 1952, filme pelo qual ele recebeu tanto o Oscar de Melhor Música  como também pela canção “Do Not Forsake Me, Oh My Darling” com letra de Ned Washington. Tiomkin criou um score não convencional para o filme, adicionando inclusive ao fundo uma gaita-de-boca, para dar ao filme um som “rústico”, desglamourizado, que se adaptava perfeitamente à determinação do xerife interpretado por Gary Cooper.

Depois de Matar ou Morrer, poucos filmes dos grandes estúdios produzidos nos anos cinquenta seriam lançados sem uma canção tema, mesmo que nada tivesse a ver com o enredo. Tiomkin repetiu sua abordagem monotemática ainda com mais inventividade em Sem Lei e Sem Alma / Gunfight at O.K. Corral / 1957, usando  um cantor de baladas (Frankie Laine) para comentar os acontecimentos, coadjuvado por um côro masculino. Em outros filmes, Tiomkin continuou incluindo uma canção em seus filmes como, por exemplo, “The Ballad of Black Gold”, cantada por Frankie Laine em Sangue da Terra/ Blowing Wild / 1953, Hajji Baba”, cantada por Nat King Cole em As Aventuras de Hajji Baba / The Adventures of Hajji Baba / 1954, “Thee I Love”, cantada por Pat Boone em Sublime Tentação / Friendly Persuasion / 1956, e a estupenda “The Green Leaves of Summer em O Alamo / The Alamo / 1960.

O grande compositor ganhou mais duas estatuetas da Academia por Um Fio de EsperançaThe High and The Mighty / 1954 e O Velho e o Mar The Old Man and the Sea / 1958 obtendo, ao todo, indicações para 23 scores. Depois de Bernard Herrmann, Tiomkin foi o compositor que mais trabalhou com Alfred Hitchcok: além de A Tortura do Silêncio, ele fez para o mestre do suspense: A Sombra de uma Dúvida/ Shadow of a Doubt / 1942 (transformando “The Merry Widow Waltz” em um tema estridente, que marcava os atos mortíferos de Uncle Charlie / Joseph Cotten), Pacto Sinistro / Strangers on a Train / 1952  e Disque M Para Matar / Dial M for Murder / 1954.

Na sua filmografia  podemos destacar ainda as músicas para: Os Irmãos Corsos / The Corsican Brothers / 1941, A Ponte de São Luis Rey / The Bridge of San Luis Rey / 1944, Rio Vermelho / Red River / 1948, Tarzan e as Sereias / Tarzan and the Mermaids / 1948, O Retrato de Jennie / The Portrait of Jennie / 1948, O Invencível / Champion / 1949, Cyrano de Bergerac / Cyrano de Bergerac / 1950, Espíritos Indômitos / The Men / 1950, Com as Horas Contadas / D.O.A. / 1950, O Monstro do Ártico / The Thing from Another World / 1951 (um dos melhores scores para filme de ficção científica, estranho e experimental), Alma em Pânico / Angel Face /1952,  O Rio da Aventura / The Big Sky / 1952, Terra dos Faraós / The Land of the Pharaohs / 1955, Os Canhões de Navarone / The Guns of Navarone / 1955, Assim Caminha a Humanidade / Giant / 1956, Onde Começa o Inferno / Rio Bravo / 1959, Peregrinos da Esperança /  The Sundowners/ 1960, O Passado Não Perdoa / The Unforgiven / 1960, Os Canhões de Navarone / The Guns of Navarone / 1961, Town Without Pity / Cidade sem Compaixão / 1961, 55 Dias em Pequim / 55 Days at Peking / 1963, A Queda do Império Romano / The Fall of the Roman Empire / 1964, 36 Horas / 36 Hours / 1965.

Ao contrário de seus contemporâneos, Tiomkin nunca esteve sob um longo contrato com algum estúdio, tornando-se o compositor independente mais proeminente durante o auge do cinema clássico de Hollywood. Nos anos cinquenta, ele havia se tornado o compositor mais bem pago da década e, com o auxílio de um publicitário esperto, uma figura muito conhecida. Depois que seus compromissos como compositor diminuíram no final dos anos sessenta, Tiomkin atuou como co-produtor em O Ouro de Mackenna / Mackenna’s Gold /  1969 e como produtor-executivo, arranjador e regente no filme Tchaikowsky / 1971 de Igor Talankin.

8 pensou em “GRANDES COMPOSITORES DO CINEMA CLÁSSICO DE HOLLYWOOD

  1. Daniel Camargo

    Fascinante ler o artigo e depois ouvir cada uma das músicas no YouTube. Reconhecer os estilos e aprender como usar a música para contar uma história é obrigatório para quem quer dirigir, ou, simplesmente, apreciar cinema. Daí a importância de conhecer Histórias de Cinema.
    Parabéns e obrigado, mestre AC.
    Aguardo ansioso a parte 2.

  2. AC Autor do post

    Obrigado Daniel. Acho que os leitores que se interessarem pelo meu artigo devem fazer como você fez: ler o texto e procurar no You Tube os “Greaatest Hits” de cada compositor.

  3. Éder Fonseca

    Olá, excelente matéria, neste final de semana passado revi o ótimo Zaroff, desta vez em cores. A música de Steiner realmente se destaca e é maravilhosa neste filme … meu gosto pessoal é variado em termos de música para cinema, mas acho que os meus compositores prediletos são: Max Steiner, Bernard Hermann, James Bernard e gosto muito do trabalho de Philip Martell como condutor musical na Hammer também !
    Abraços,
    Éder Fonseca – Porto Alegre

  4. AC Autor do post

    Alô, Eder. É sempre um prazer receber seus comentários tão enriquecedores. Não sou um expert em música para cinema (você deve conhecer o assunto melhor do que eu) mas, baseando-me em algumas obras publicadas a respeito e tendo ouvido muito as trilhas desses compositores do período clássico de Hollywood, tive a ousadia de escrever esses artigos com o próposito de chamar a atenção para aqueles verdadeiros gênios musicais.Um forte abraço.

  5. AC Autor do post

    Olá Antonio. Visitei os últimos posts do Falcão Malês e verifiquei que está melhor do que nunca! Gostei da homenagem a Jorge Amado e também das outras matérias. Chamou minha atenção particularmente aquela foto da Janet Leigh atrás da cama de ferro estilizada.Volte sempre.

  6. Fábio Scrivano

    Parabéns pelos posts sobre a maravilhosa música orquestral do cinema clássico de Hollywood. Sou fã destes compositores e são iniciativas como esta que ajudarão a mantê-los “vivos” para as novas gerações.
    Um abraço,
    Fábio Scrivano

  7. AC Autor do post

    Obrigado Fabio. Minha intenção – sem no entanto estar plenamente capacitado – foi esta mesma: divulgar o trabalho daqueles grandes compositores de trilhas musicais. Seu blog é muito bom e muito útil. Parabéns!

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