Arquivo mensais:abril 2012

DIREÇÃO DE ARTE NO CINEMA CLÁSSICO DE HOLLYWOOD I

A direção de arte é um ramo da arquitetura na qual os ambientes raramente são construídos na sua totalidade e para durar. O que um diretor de arte cria são espaços (internos e externos), fachadas e até cidades inteiras (Beverly Heisner – Hollywood Art: Art Direction in the Days of the Great Studios, McFarland, 1990).

Os cineastas usam o cenário em si, esse conjunto de materiais de construção,  para indicar o quadro onde se desenvolve a ação, evocar a atmosfera visual do filme, traduzir o clima psicológico do conteúdo, traçar o perfil dos personagens e  sugerir certas idéias simbólicas.

Os departamentos de arte das grandes companhias de cinema americanas, compostos por 50 a 80 pessoas, eram estruturados hierarquicamente com um diretor de arte supervisor também chamado de desenhista de produção  (supervising art diretorproduction designer), que supervisionava todas as funções do departamento e coordenava os diretores de arte das unidades (unit art directors ) e diretores de arte assistentes (assistant art directors). Alguns autores usam o termo desenhista de produção somente quando o diretor de arte supervisor tem uma função mais abrangente, estabelecendo, em colaboração  com o diretor e o diretor de fotografia, a aparência visual de todo o filme. Ele desenha os continuity sketches ou storyboards (série de desenhos em sequência  com o propósito de pré-visualizar o filme no papel, mostrando principalmente as angulações e enquadramentos de cada plano). Incluídos sob a égide do departamento de arte estavam: os cenógrafos, cenotécnicos (pedreiros, marceneiros, serralheiros etc.), decoradores, figurinistas (camareiras, costureiras etc.), cabelereiros, maquiladores, pintores de arte e produtores de objetos ou aderecistas, técnicos de efeitos especiais (plantas, maquetes, miniaturas, matte painting etc), gerente de locações e pesquisadores.

Os cenários eram construídos dentro do estúdio sempre que possível: a maioria dos diretores achava que tais cenários lhes permitiam maior controle e precisão. Porém alguns realizadores, principalmente a partir dos anos cinquenta, preferiam filmar em cenários autênticos mesmo em se tratando de interiores. Ao planejar os sets, o diretor de arte devia pensar não somente em termos estéticos mas também em termos orçamentários e técnicos. Com base nas maquetes, ele  tinha que avaliar o custo da construção  e eliminar aquelas partes do cenário que não seriam vistas na tela,  mas que haviam sido sugeridas no roteiro. Como regra, nada poderia ser construído “acima do que a câmera via”. Esta regra criava dificuldades para alguns atores, que achavam desconcertante representar em ambientes fragmentados: se o orçamento permitisse, os diretores de arte frequentemente construíam tetos e outros detalhes para ajudar os atores.

Os departamentos de arte dos grandes estúdios experimentavam mudanças anuais de pessoal porém a maioria permanecia por um período de tempo relativamente longo – uma década ou mais – no mesmo estúdio. A longevidade dos chefes de departamento era ainda maior. A criação de um estilo do estúdio ou “look” identificável, era resultante em parte dessa continuidade.

A United Artists não era um grande estúdio mas uma companhia de artistas independentes que distribuíam seus próprios  filmes feitos em vários  locais de filmagem em Los Angeles,  de modo que a companhia não desenvolveu nenhum grande departamento técnico. Apesar desta situação peculiar, alguns diretores de arte muito conhecidos se associaram ao estúdio de Mary Pickford, Douglas Fairbanks, Charles Chaplin e D.W. Griffith, porque haviam iniciado sua carreira ou passado a maior parte dela trabalhando com um dos dirigentes da companhia.

Tal como eles, esses diretores de arte, entre os quais se destacavam William Cameron Menzies e Richard Day, eram independentes. Menzies e Day costumavam mudar de um estúdio para outro, trabalhando sob contratos sem exclusividade de curto prazo, algo inusitado na época.

William Cameron Menzies (1896 – 1957) foi um dos diretores de arte mais influentes na história do cinema e o primeiro a receber o título  de “production designer”. Americano de origem escocêsa, ele nasceu em New Haven, Connecticut e estudou em Yale e na Art Student’s League em Nova York. Seus primeiros empregos foram na publicidade, fazendo leiautes de revistas e ilustrando livros infantís. Após prestar serviço na Marinha durante a Primeira Guerra Mundial, ele fez amizade com o diretor de arte Anton Grot, que o introduziu como seu assistente nos estúdios de Fort Lee em New Jersey. Convidado por Raoul Walsh para trabalhar em Hollywood, Menzies finalmente teve a chance de exercer seu ofício num filme que o confirmaria como um dos diretores de arte mais influentes no cinema silencioso, O Ladrão de Bagdad / The Thief of Bagdad / 1924, produzido e estrelado por Douglas Fairbanks. Menzies criou uma visão rica e extravagante do conto das Mil e Uma Noites, construindo uma cidade cheia de abóbadas, minaretes, arcadas, pontes, ruas estreitas e um palácio de proporções gigantescas, um décor quase todo branco, combinando semiabstração com detalhes ornamentais, que parecia estar flutuando no espaço, reforçando a impressão de fantasia.

Com sua reputação firmada, o jovem artista prosseguiu sua carreira, substituindo Natacha Rambova, esposa de Rudolph Valentino e sua diretora de arte, nos últimos três filmes do ator, Cobra / Cobra /1925, O Águia / The Eagle / 1925 e O Filho do Sheik / The Son of the Sheik /1926, que lhe permitiram ampliar sua visão de lugares distantes e românticos. Ele fez seu nome desenhando cenários monumentais e estilizados nos filmes Amor de Boêmio / The Beloved Rogue / 1927; Tempestade / Tempest / 1927 e A Mulher Cobiçada / The Dove / 1927 (que lhe deram o Oscar de Melhor Direção de Arte) e manifestou sua aptidão artística ainda em Dois Cavaleiros Árabes /Two Arabian Knights / 1927; Sedução do Pecado / Sadie Thompson / 1928; Jardim do Eden / The Garden of Eden / 1928; Du Barry, a Sedutora / Du Barry, Woman of Passion / 1928 (com Park French); Amante de Emoções / Bulldog Drummond / 1929; dois épicos dirigidos por D.W. Griffith, Melodia de Amor / Lady of the Pavements / 1929 e Abraham Lincoln / Abraham Lincoln / 1930 etc.

Menzies foi um dos primeiros diretores de arte americanos que começou a dirigir filmes no final dos anos vinte, sempre acumulando as duas funções, embora raramente recebesse créditos por ambas. Um de seus filmes mais notáveis como diretor /  diretor de arte foi Chandu, o Mágico / Chandu the Magician / 1932, aventura fantástica bizarra, que mostrava a influência do expressionismo. Entretanto, ele nunca se especializou em um único estilo ou desenvolveu um estilo pessoal – procurava se adaptar ao material que tinha em mãos. Um dos projetos mais curiosos na carreira de Menzies foi Alice no País das Maravilhas / Alice in Wonderland / 1933, dirigido por Norman Z. McLeod e desenhado por Menzies e Robert Odell. Esta produção luxuosa, sustentada pelos recursos da Paramount, era visualmente atraente e muito imaginativa mas pecava pela idéia de colocar máscaras em todos os atores, de modo a torná-los indistinguíveis.


Em 1935, Menzies recebeu um convite do grande produtor-diretor Alexander Korda para fazer o desenho de produção e dirigir um filme de ficção científica com insinuações políticas escrito por H.G. Wells, Daqui a Cem Anos / Things to Come / 1936. Demonstrando a influência da art déco, a dupla Vincent Korda (creditado como diretor de arte) / Menzies (creditado somente como diretor) desenhou uma série de cenários imaculadamente brancos, que se tornaram a imagem de um futuro antisséptico, no qual a tecnologia dominava e subvertia as vidas dos indivíduos.  Como explicou  Juan Antonio Ramírez (La Arquitetura en el cine Hollywood, la Edad de Oro – Alianza Editorial, 1993), os artistas recorreram a alguns projetos utópicos elaborados uma década antes na União Soviética: o resultado, com móveis transparentes, paredes curvadas e desnudas, volumes imensos com formas militares etc. é uma síntese entre a arquitetura expressionista de Mendelsohn (Erich Mendelsohn), futurismo, desenho industrial e as experiências mais radicais da vanguarda européia. O filme consagrou a iconografia arquitetônica dos século XXI mas na verdade Menzies não era um diretor particularmente talentoso; seus dotes eram mais adequados para o desenho cênico.

Quando acumulava as funções de director e designer, ele tendia a exagerar os elementos visuais dos cenários; sob o controle de um diretor de pulso firme como Sam Wood, para o qual Menzies desenhou cinco produções esplêndidas (Nossa Cidade / Our Town / 1940; Em Cada Coração Um Pecado / King’s Row / 1941; Ídolo, Amante e Herói / Pride of the Yankees / 1942; Por Quem os Sinos Dobram / For Whom the Bell Tolls / 1943), os cenários tornaram-se parte integral da cena. De qualquer modo, como observou Michael L. Stephens (Art Directors in Cinema – McFarland, 1998), um dicionário indispensável a todo estudioso da direção de arte no cinema,  a sensibilidade visual de Menzies dominou todos os filmes nos quais ele funcionou como diretor de arte. Ele foi, em certo sentido, o verdadeiro “autor” de clássicos como … E O Vento Levou e a refilmagem de O Ladrão de Bagdad.

O produtor David O. Selznick escolheu Menzies para desenhar toda a produção de … E O Vento Levou. Além de dirigir algumas cenas (ver quais foram estas cenas em nosso artigo “… E O Vento Levou: O Filme Mais Famoso De Todos Os Tempos), Menzies supervisionou todos os detalhes visuais da produção, incluindo cenários, figurinos e ângulos da câmera, tendo sido também responsável pela sua encantadora paleta de cores. Lyle Wheeler funcionou como diretor de arte do filme, criando o décor a partir dos esboços feitos pelo seu chefe, que deram ao filme a sua unidade visual, apesar da sucessão malograda de diretores e muitos incidentes na filmagem.

Menzies captou o espírito do velho Sul romântico e sua inevitável destruição e usou a cor de maneira simbólica e descritiva. O fogo é a metáfora visual central do filme e as cores de fogo são a sua matiz predominante. Antes mesmo do incêndio em Atlanta a poeira das ruas é cor-de-laranja e a terra, vermelha. Vermelho é também o tapete sobre o qual Scarlett desmaia e Rhett eventualmente parte. A resolução de Scarlett no final da primeira parte é mostrada sob a forma visual de uma silhueta negra contra um crepúsculo ardente cor-de-laranja. Lyle Wheeler recebeu o Oscar de melhor Direção de Arte e Menzies um prêmio especial da Academia “pelo emprego da cor na dramatização das cenas”.

Os cenários criados por Menzies e Zoltan Korda para O Ladrão de Bagdad / The Thief of Bagdad, 1940, refilmado em Hollywood por Alexander Korda, são ainda mais inventivos dos que os de … E O Vento Levou. A participação de Zoltan como desenhista de produção e Menzies como diretor de arte associado, garantiu um excelente desenho de produção, que oscilava entre o oriental convencional e a máxima estilização detectada na versão muda.

Nos anos quarenta, Menzies trabalhou em muitos filmes, dos quais os mais interessantes foram Correspondente Estrangeiro / Foreign Correspondent / 1940 (efeitos de produção especiais); Endereço Desconhecido / Address Unknown / 1944 (também direção), Duelo ao Sol / Duel in the Sun / 1946 (diretor de 2ª unidade não creditado) e A Sombra da Guilhotina / Reign of Terror ou The Black Book / 1949 (diretor de arte com Edward L. Ilou).

Quando o sistema de estúdio começou a chegar ao fim, a carreira de Menzies desacelerou.  Nos anos cinquenta,  ele já estava quase com sessenta nos de idade e provavelmente se sentindo inconfortável com as novas técnicas de filmagem em locação, que não utilizava o estúdio com tanta frequência. Porém foi nessa época que Menzies realizou o filme que alguns (a meu ver equivocadamente) consideram a sua obra-prima como diretor  / desenhista de produção, Invasores de Marte / Invaders from Mars / 1953,

um thriller de ficção científica tipicamente paranóico da Guerra Fria, sobre uma espaçonave interplanetária que aterrissa perto de uma pequena cidade. Com a assistência de Boris Leven, Menzies criou uma série de cenários despojados e sombrios com estruturas alongadas captadas por uma câmera quase sempre baixa (acentuando o fato de que a história é vista por uma criança), que revelam a influência do expressionismo alemão, chamando mais atenção a floresta caligaresca e a perspectiva forçada da cadeia.

Um dos diretores de arte mais reverenciados de Hollywood, Richard Day (1896 – 1972) nasceu no Canadá, estudou pintura e desenho arquitetônico e, em 1920,  rumou para a Terra do Cinema, onde trabalhou como pintor de cenário para vários produtores independentes. Em 1922, Day foi contratado por Erich von Stroheim, tornando-se seu diretor de arte principal, destacando-se sua colaboração em Esposas Ingênuas / Foolish Wives / 1922; Redemoinho da Vida / Merry-Go-Round /1923; Ouro e Maldição / Greed / 1924; A Viúva Alegre / The Merry Widow / 1925 e A Marcha Nupcial / The Wedding March / 1928. Bastante influenciado por Stroheim, Day foi um dos defensores mais ardorosos do realismo no cinema. O altar da catedral feito por Day para A Marcha Nupcial era tão autêntico, que o fotógrafo Hal Mohr resolveu se casar diante dele.

No final dos anos vinte, ele se juntou a Cedric Gibbons na recém – formada MGM e os dois trabalharam em filmes de Lon Chaney, Quando a Cidade Dorme / While the City Sleeps / 1928; Ridi, Pagliacci / Laugh, Clown, Laugh / 1928; A Oeste de Zanzibar / West of Zanzibar / 1928 e Trindade Maldita / The Unholy Three / 1930); Greta Garbo (A Mulher Divina / The Divine Woman / 1928; The Kiss / 1929; Anna Christie / Anna Christie / 1930; e em Filhas Modernas ou Garotas Modernas / Our Dancing Daughters / 1928, com Joan Crawford, que ajudou a fixar o estilo modernista.

Em 1930, Samuel Goldwyn contratou Day e o colocou nas comédias-musicais de  Eddie Cantor (Whoopee / Whoopee / 1930; O Homem do Outro Mundo /Palmy Days / 1931; Meu Boi Morreu /  The Kid from Spain / 1932 ; Escândalos Romanos / Roman Scandals / 1933). A partir daí, ele desenhou quase todos os grandes filmes produzidos pelo estúdio nos anos 1930-1938, recebendo o Oscar por Anjo das Trevas / The Dark Angel / 1935 e Fogo de Outono / Dodsworth / 1936. Este último filme, dirigido por William Wyler, conta a vida conjugal de um casal de meia-idade, Samuel e Fran Dodsworth (Walter Huston e Ruth Chatterton) e as mudanças que o oprimem, quando Sam se aposenta. Fran, temendo a velhice lança-se tolamente nos braços de homens mais jovens enquanto Sam, a princípio tolerante, depois se revolta e eventualmente deixa a esposa por uma viúva simpática (Mary Astor). Day usa magistralmente os cenários – a mansão branca dos Dodsworth sustentada por pilares em Zenith, Indiana; o camarote do Queen Mary; hotéis de primeira classe em Paris e Roma; e uma vila à beira do lago em Nápoles – para definir os personagens, fornecendo ao público um contexto visual para os conflitos interiores de cada um deles. Day criou alguns dos desenhos cênicos modernos mais extravagantes dos anos trinta, influenciado pelo Art Deco, Bauhaus e os movimentos futuristas que haviam nascido nos anos vinte.

No ano seguinte, em Beco sem Saída / Dead End / 1937, o diretor William Wyler se debruçou sobre as vidas perturbadas de rapazes de uma área pobre da cidade grande. Day não tentou disfarçar a origem teatral do filme: construiu apenas um cenário (a rua sugerida no título com fileiras de lojas e prédios residenciais apertados e o píer de um lado e um edifício de apartamento de classe alta no outro), onde se passava toda a ação do filme e que era, claramente, o personagem principal da história. Os cenários de Day mostram uma imagem altamente estilizada (e teatral) de Nova York na era da Depressão – realista porém poética.

Durante esse período, Day trabalhou também em muitas produções da MGM e para a Twentieth Century Productions de Darryl F. Zanuck, desenhando para este último as produções de filmes históricos elegantes como As Aventuras de Cellini / The Affairs of Cellini / 1934 e A Casa de Rothschild / The House of Rothschild / 1934.

Quando esteve na 20th Century-Fox nos anos quarenta, ele concebeu a aldeia de mineiros do País de Gales, meticulosamente detalhada para Como Era Verde o Meu Vale / How Green Was My Valley / 1942, conquistando (com Nathan Juran) mais um Oscar da Academia. Ainda na Fox, ele repetiu a façanha com Isto Acima de Tudo / This Above All / 1942 e Minha Namorada Favorita / My Gal Sal / 1942 (com Joseph Wright) e fez também, entre muitos outros, Vinhas da Ira / The Grapes of Wrath, no qual usou cenários naturais como num documentário e a metáfora, para sublinhar  as condições e situações precárias da família Joad na sua viagem para a Califórnia. Depois de servir a pátria na Segunda Guerra Mundial, Day retornou à Fox em 1946, agora como diretor de arte de unidade. Lyle Wheeler o havia sucedido como diretor de arte supervisor mas Zanuck lhe deu ampla liberdade  na escolha de projetos e ele demonstrou mais uma vez sua adaptabilidade a qualquer gênero (O Justiceiro / Boomerang / 1947; O Capitão de Castela / Captain from Castille / 1947, Joana D’Arc / Joan of Arc / 1948 etc).

No final dos anos quarenta, Day voltou a ser free-lancer e seus  melhores trabalhos, Uma Rua Chamada Pecado / A Streetcar named Desire / 1951 e Sindicato de Ladrões / On the Waterfront / 1954, pelos quais obteve seus dois últimos Oscar, foram realizados no estilo poético – realista. Dirigidos por Elia Kazan, eles mostram a diversidade de estilo utilizada por Day para obter efeitos semelhantes. Uma Rua Chamada Pecado foi baseado numa peça teatral e, tal como fizera em Beco sem Saída, Day não procurou ocultar a origem do filme. Pelo contrário, ele desenhou cenários estilizados para criar uma New Orleans exótica e sensual e espelhar com realismo o clima de neurose e repressão da obra de Tennessee Williams.

Já em Sindicato de Ladrões,  rodado quase que inteiramente em Hoboken, New Jersey, Day usou os cenários verdadeiros do ambiente portuário para criar com o máximo de autenticidade a atmosfera negra / cinzenta das docas, onde ocorre a exploração dos estivadores por sindicatos corruptos. Day prosseguiu sua carreira até o início dos anos setenta, já muito depois do desaparecimento do sistema de estúdio, trabalhando em filmes tão diversos como Caçada Humana /  The Chase /1965; O Vale das Bonecas / Valley of the Dolls /1967; e Tora! Tora! Tora! / Tora! Tora! Tora! / 1970.

Provavelmente Cedric Gibbons (Austin Cedric Gibbons, 1893 – 1960) foi o diretor de arte mais famoso, simplesmente porque seu nome apareceu nos créditos de mais filmes do que qualquer outra pessoa na História do Cinema. Ele foi também o diretor de arte mais premiado de todos os tempos, com 39 indicações para o Oscar, das quais ganhou onze (A Ponte de San Luis Rey / The Bridge of San Luis Rey / 1929; A Viúva Alegre / The Merry Widow / 1934; Orgulho e Preconceito / Pride and Prejudice / 1940; Flores do Pó / Blossoms in the Dust / 1941; À Meia-Luz / Gaslight / 1944; Virtude Selvagem / The Yearling / 1946; Quatro Destinos / Little Women / 1949; Sinfonia de Paris / An American in Paris / 1951; Assim Estava Escrito / The Bad and the Beautiful / 1952; Julio Cesar / Julius Caesar / 1953; Marcado pela Sarjeta / Somebody Up There Likes Me / 1957).

Filho de imigrantes irlandeses, Gibbons teria nascido em Nova York, onde seu pai se instalou como arquiteto. Gibbons estudou arte e desenho comercial na Art Students League e foi trabalhar no escritório de seu progenitor. Em 1914, ingressou nos estúdios Edison, onde insistiu para que os telões pintados de fundo fossem substituidos por cenários construídos, tri-dimensionais. Após servir na Marinha durante a Primeira Guerra Mundial, entrou para o estúdio de Samuel Goldwyn. Este era então um produtor independente (distribuindo seus filmes pela United Artists) e Gibbons, com Richard Day, era o principal desenhista da maioria das produções importantes da companhia no final dos anos dez e começo dos anos vinte. Quando o estúdio de Goldwyn se fundiu com a Metro Pictures e a Louis B. Mayer Productions em 1924 para formar a Metro-Goldwyn-Mayer, os dois continuaram a prestar serviço à nova firma norte-americana. Gibbons foi nomeado diretor de arte supervisor e aí nasceu o estilo visual suntuoso típico da MGM, que atendia ao gosto e à estratégia comercial do chefe de produção,  Irving Thalberg.

O maior legado de Gibbons foi o “Grande Cenário Branco” (Big White Set) influenciado pelo art déco. Em 1925, Gibbons visitou a Exposition des Arts Decoratifs et Industriels Modernes em Paris, que foi o auge do art déco na Europa. Ele trouxe essas idéias para os Estados Unidos, onde as incorporou em muitos filmes da MGM. Pode-se dizer que tudo começou com Filhas Modernas ou Garotas Modernas / Our Dancing Daughters / 1928 (co-desenhado por Richard Day), o primeiro filme da trilogia estrelada por Joan Crawford que contava as histórias das mulheres modernas na Era do Jazz. Nas sequências, Donzelas de Hoje / Our Modern Maidens / 1929 e Noivas Ingênuas / Our Blushing Brides / 1930 também apareciam os cenários modernistas. Outra estrela que se beneficiou dos desenhos  de Gibbons  foi Greta Garbo, que participou de filmes  art déco como Mulher de Brio / A Woman of Affairs / 1928; Mulher Singular / The Single Standard / 1929 e  O Beijo / The Kiss / 1929.

Um dos filmes de maior sucesso de Garbo foi Grande Hotel / Grand Hotel / 1932, que obteve o Oscar da Academia. Este é um filme-chave para definir o estilo modernista de Gibbons. Baseado no romance (e peça) de Vicki Baum e dirigido por Edmund Goulding, a ação se passa num luxuoso hotel alemão. A produção ensejou papéis para os maiores astros do estúdio (Greta Garbo, John Barrymore, Lionel Barrymore,  Wallace Beery, Joan Crawford etc.) e a direção de arte, assinada por Gibbons e Alexander Toluboff, refletia a elegância e o glamour do elenco. Seu cenário mais famoso era o magnificente saguão do hotel, que servia como uma ligação visual entre as desesperadas vinhetas da vida dos personagens. Este saguão era definido pela singeleza linear do art déco e predominância de contrastes em preto e branco, especialmente nos assoalhos de mármore lustrosos. O décor incluia ainda uma mesa em curva de 360º, permitindo que a ação fosse filmada virtualmente de  qualquer ângulo. Nunca o conteúdo de um filme e a arquitetura estiveram tão intimamente relacionados.

Como lembrou  Michel L. Stephens, Gibbons e Robert Day aprimoraram o estilo art déco, reduzindo-o aos seus elementos mais básicos. Outros filmes da MGM do final dos anos vinte e início dos anos trinta com cenários contemporâneos – Piratas Modernos / The Big City / 1928; A Atriz / The Actress / 1928,  Os Ociosos / The Idle Rich / 1929; Dinamite ou Bonecas de Luxo / Dynamite / 1929; Hollywood Revue / The Hollywood Revue of 1929 / 1930; Jantar às Oito / Dinner at Eight / 1933; Uma Noite na Ópera / A Night at the Opera / 1935 etc. – também eram dominados por este estilo.

Porém mesmo os épicos históricos: A Viúva Alegre / The Merry Widow / 1934; a opereta dirigida por Ernst Lubitsch e Madame Waleska / Conquest / 1937, a história do romance entre Napoleão e Marie Waleska, são exemplos excelentes do art déco, no que ele tinha de mais extravagante. Os desenhos de Gibbons para filmes como Nascí para Dançar / Born to Dance / 1936 e Rosalie / Rosalie / 1937, inspiraram fortemente a arquitetura de vários cinemas.

O primeiro filme de longa-metragem em Technicolor produzido pela MGM, O Mágico de Oz / The Wizard of Oz / 1939,  um musical-fantasia com cenários de William Horning (com a ajuda de Jack Martin Smith e Arnold Gillespie), supervisionados por Cedric Gibbons (que também contribuiu com alguns esboços), estabeleceu o estilo que o estúdio usaria nos seus musicais dos anos quarenta e cinquenta, uma abordagem quase surrealista, influenciada pela arte Impressionista e, em menor grau, pelo art déco. Entretanto, o musical technicolorido só dominaria a produção da MGM após os meados dos anos quarenta. Até então, as adaptações de obras literárias ainda ocupariam lugar de destaque na programação anual da companhia, sobressaindo as contribuições de Gibbons para Orgulho e Preconceito / Pride and Prejudice / 1940, Na Noite do Passado / Random Harvest / 1942 e À Meia Luz / Gaslight / 1944. Em 1945, Gibbons sofreu um ataque do coração, que afetou seriamente sua carreira. Embora ele continuasse como diretor de arte supervisor da MGM por mais uma década, o seu papel criativo  diminuiu muito.

A extensa filmografia de Cedric Gibbons deve-se ao fato de que, devido a uma cláusula inserida no seu contrato, ele recebeu crédito em quase todos os filmes produzidos pela MGM durante sua gestão como diretor de arte supervisor mas, ao contrário de seu colega Hans Dreier da Paramount, ele apenas ocasionalmente trabalhou num filme individual. Na sua maioria, os desenhos para cada filme foram criados pelos diretores de arte da unidade, que ele designava para o projeto.

Entretanto,  o “look” MGM dos anos vinte e trinta foi explicitamente delineado a partir do seu estilo pessoal. Além disso, ele formou um dos mais criativos departamentos de arte em Hollywood, contratando aqueles artistas de gosto parecido com o seu: Alexander Toluboff, Richard Day, Frederic Hope, Arnold Gillespie, Urie McCleary, Paul Grosse, William Horning, Edward Carfagno, Jack Martin Smith, Hans Peters, Randall Duell, Daniel B. Cathcart, Malcolm Brown, Preston Ames, Oliver Smith, Harry Oliver etc. Embora muitos desses diretores de arte tivessem trabalhado para outros estúdios, seus melhores e mais duradouros desenhos foram criados enquanto eram empregados na MGM sob a orientação do grande mestre.

CONEXÃO VAUDEVILLE – CINEMA III

LEON ERROL (Leonce Errol Simms, 1881 – 1951) – Com suas “pernas de borracha”, Leon ficou bastante conhecido no vaudeville, no teatro de revista e nos filmes. Ele não se apoiava muito nas piadas, sua comicidade era mais acrobática, puramente física. Suas pernas eram chamadas de “pernas de borracha” por causa da maneira pela qual ele andava: fazia um bamboleio, no qual as pernas se curvavam, parecendo que  ia cair, mas não chegava a cair totalmente. Este geito de andar o ajudava bastante ao interpretar papéis de bêbado.

Natural da Austrália, Leon queria ser cirurgião, até que seus estudos de arte dramática na faculdade o afastaram daquele campo. Durante alguns anos, ele excursionou pela Australia, Nova Zelândia e Inglaterra, apresentando-se no vaudeville, circos, companhias de repertório e comédias musicais. Em 1911, Leon deu um impulso na sua carreira em Nova York, onde conheceu Florenz Ziegfeld e foi contratado para aparecer na edição do Follies daquele ano. Ele contracenou com o legendário comediante negro Bert Williams e fez um número cômico dançando com Stella Chatelaine, com quem  se casara em 10 de agosto de 1910.

A estréia dele no vaudeville deu-se em julho de 1916 no Brighton Theatre com um número no qual encarnava um bêbado numa estação de metrô. Leon atingiu o auge do sucesso ao figurar nos cartazes do Palace como principal atração. Ele fez seu primeiro filme, um curta-metragem cômico, Nearly Spliced, em 1921. Em 1930, deixou a Broadway e se dedicou exclusivamente ao cinema. Em 1933, participou de  comédias curtas da Paramount, da Columbia e de dois shorts no Technicolor de duas cores realizados pela VItaphone: Service With a Smile e Good Morning, Eve! Transferindo-se para RKO Radio Pictures em 1934, Leon continuou a fazer curtas-metragens (de 1934 a 1951), a maioria dos quais eram farsas conjugais, nas quais se envolvia com uma linda garota e recebia uma bronca de sua esposa

Entretanto, ele é mais lembrado por suas performances energéticas na série Mexican Spitfire ao lado de Lupe Velez (a fogosa Carmelita), na qual Leon fazia o papel duplo do afável Tio Matt e de Lord Basil Epping,  presidente da … House of Parliament Scotch Whisky Company. Finalmente, a Monogram contratou Errol para aparecer como o treinador Knobby Walsh nos filmes da série esportiva cômica, Joe Palooka (Joe Sopapo), baseada no personagem dos quadrinhos (obs. Em Ou Tudo ou Nada / Joe Palooka in Winner Take All / 1948 , Leon foi substituido por William Frawley). Filmes (excluídos os  mais de 90 curtas-metragens): Iolanda / Yolanda / 1924; Sally, a Enjeitada / Sally / 1925; O Pirata / Clothes Make the Pirate / 1925; Lunático à Força / The Lunatic At Large / 1927; Only Saps Work / 1930;  Uma Noite Sublime / One Heavenly Night / 1931; Divertindo Paris / Finn and Hattie /1931; Her

Majesty, Love / 1931;  Alice no País das Maravilhas / Alice in Wonderland / 1933; Cupido ao Leme / We’re Not Dressing / 1934;  A Célebre Sophie Lang / The Notorius Sophie Lang / 1934; O Capitão Odeia o Mar / The Captain Hates the Sea / 1935; Princess O’ Hara / 1935; A Praia da Alegria / Coronado / 1935; Música do Coração / Make a Wish / 1937; De Cabelinho nas Ventas / The Girl from Mexico / 1939; Entre o Amor e a Vida / Career / 1939; Adorável Impostora / Dancing Co-Ed / 1939; Quando a Mulher Vira Bicho / Mexican Spitfire / 1939 (*);  O Velho Sempre Paga / Pop Always Pay / 1940; Amor entre Arrufos / The Golden Fleecing / 1940; Quando Macacos se Encontram / Mexican Spitfire Out West / 1940 (*); Onde Achaste Esta Pequena ? / Where Did You Get That Girl? / 1941; Mme. Labonga / Six Lessons from Madame La Zonga / 1941: Pau de Cabeleira / Hurry Charlie, Hurry / 1941; Luar e Melodia / Moonlight in  Hawaii / 1941; Trouxas em Desfile / Never Give a Sucker an Even Break / 1941;

O Bebê de Carmelita / Mexican Spitfire ‘s Baby / 1941 (*); Estrada da Alegria / Melody Lane / 1941; Forrobodó em Alto Mar / Mexican Spitfire at Sea / 1942 (*); Aquele Careca Voltou / Mexican Spitfire Sees a Ghost / 1942 (*); O Elefante de Carmelita / Mexican Spitfire’s Elephant / 1942 (*); Mania Musical / Strictly in the Groove / 1943; Amor e Batucada / Follow the Band / 1943;  O Rei dos Boiadeiros / Cowboy in Manhattan /1943; Venus e Cia. / Gals, Incorporated / 1943; Bebê da Discórdia / Mexican Spitfire’s Blessed Event / 1943 (*); A Lua a seu Alcance / Higher and Higher / 1943; A

Family Feud / 1943 (documentário curto o governo);  A Pequena do Cabaré / Hat Check Honey / 1944; Prices Unlimited / 1944 (documentário curto para o governo); Cavadoras da Alegria / Slightly Terrific / 1944; Crepúsculo dos Pampas / Twilight on the Prairie / 1944; A Vingança do Homem Invisível / The Invisible Man’s Revenge / 1944; Mocidade Divertida / Babes on Swing Street / 1944; Conquistando a Muque / She Gets Her Man / 1945; Under Western Skies / 1945; What a Blonde / 1945; Mama Loves Papa / 1945; Céus do Oeste / Riverboat Rhythm /1946;

Joe Sopapo, Campeão / Joe Palooka, Champ / 1946;  Joe Sopapo, Grã-Fino / Gentleman Joe Palooka / 1946; Joe Sopapo não é de Briga / Joe Palooka in the Knockout / 1947; Comprando Briga / Joe Palooka  Fighting Mad / 1948; Dois Prontos de Sorte / The Noose Hangs High / 1948;  Pistoleiros do Ringue / Joe Palooka in the Big Fight / 1949; Joe Palooka in the Counterpunch / 1949; Lua-de-Mel a Socos / Joe Palooka Meets Humphrey / 1950; Joe Palooka in Humphrey Takes a Chance / 1950; Murros de Ouro / Joe Palooka in the Squared Circle / 1950; Joe Sopapo, Detetive / Joe Palooka in Triple Cross / (Obs. Os filmes seguidos por * entre parêntese são os da série Mexican Spitfire) .

RUTH ETTING (Ruth Etting, 1896 – 1978) – Nos anos trinta, Ruth Etting era uma das cantoras mais populares da America, a cantora de fossa por excelência.  Ela ficou conhecida como “The Sweetheart of Song” e sua popularidade como estrela da gravadora Columbia e como cantora de rádio jamais foi ultrapassada. Foi também uma importante artista do vaudeville, primeiro em Chicago e depois em Nova York. Ruth inicialmente queria ser desenhista de moda e, aos dezessete anos, entrou para o Chicago Art Institute.  Seu emprego como figurinista no Marigold Garden Theatre levou-a a ser contratada como corista. Em pouco tempo, ela  tornou-se a vocalista da boate e se casou com o gangster Martin “Moe the Gimp” Snyder em 1922. Snyder cuidou de sua carreira, arranjando-lhe participações em programas de rádio e a assinatura de um contrato de exclusividade com a Columbia Records.

Ruth estreou na Broadway na edição do Ziegfeld Follies de 1927. Em seguida, atuou em vários shows, inclusive Simple Simon (no qual cantava “Ten Cents a Dance”) e “Whoopee!” (no qual cantava “Love Me or Leave Me”). Outras canções famosas associadas a Ruth foram: “It All Depends on You”, “Button Up Your Overcoats”, “Mean to Me “, “Shaking the Blues Away” e “Everybody Loves my Baby”. Em Hollywood fez shorts entre 1929 e 1936 para a Paramount, Vitaphone e RKO e três longas-metragens: Escândalos Romanos / Roman Scandals / 1933, Noites da Broadway / Mr. Broadway / 1933 (como ela mesma); O Dom da Alegria / Gift of Gab / 1934 e Hip, Hip, Hooray / Hips, Hips, Hooray! / 1934. Aos 40 anos de idade, Ruth divorciou-se de Snyder em 1937. Ela se apaixonou pelo seu pianista Myrl Alderman mas em 1938 ele foi alvejado e ferido por Snyder, que foi condenado por tentativa de homícidio porém libertado em virtude de um recurso depois de ter cumprido um ano de prisão.

Ruth casou-se com Myrl, que era dez anos mais moço do que ela. O escândalo por causa do julgamento sensacional em Los Angeles pôs fim à carreira de Ruth embora ela ainda tivesse um programa de radio em 1947. A vida de Ruth Etting serviu de base para o filme Ama-me ou Esquece-me / Love Me or Leave Me / 1955 com Doris Day (Ruth), James Cagney (Snyder) e Cameron Mitchell (Myrl).

W. C. FIELDS (William Claude Dunkerfield, 1880 – 1946) – Aos quinze anos de idade, ele já estava desempenhando um número de equilibrismo em igrejas e teatros e ingressou no vaudeville  como um “mendigo equilibrista”, usando o nome de W.C. Fields. Fields excursionou por vários continentes e se tornou  uma  atração internacional. Ele se apresentava barbudo e com um smoking surrado e se limitava à pantomima,  a fim de que pudesse se apresentar em qualquer lugar do mundo. De volta à América, percebeu que poderia arrancar mais risadas da platéia, adicionando diálogo aos seus números. A sua marca registrada, que eram os seus resmungos e apartes sarcásticos, foram desenvolvidos nesta época. Logo ele estava na Broadway nas revistas de Florenz Ziegfeld, onde divertia o público em um esquete de jogo de bilhar com tacos de forma bizarra e uma mesa fabricada sob encomenda, usada para uma série de gags hilariantes. Fields atuou em múltiplas edições do Follies e na comédia musical da Broadway, Poppy, na qual ele aperfeiçoou o tipo do vigarista pitoresco de segunda categoria. Ele estreou no cinema em duas comédias curtas, filmadas em Nova York em 1915. Seus compromissos com o teatro impediram-no de fazer mais filmes até 1924, quando fez o papel de um sargento britânico em Janice Meredith / Janice Meredith. Em 1925, ele reviveu seu personagem de Poppy numa adaptação cinematográfica

silenciosa, reeintitulada Sally of the Sawdust e dirigida por D. W. Griffith e trabalhou em outro filme deste diretor, That Royle Girl. Fields foi um dos poucos artistas do vaudeville que conseguiu reproduzir na tela os seus próprios números  e, assim, não somente criou uma nova carreira financeiramente bem sucedida como também assegurou que suas performances no palco fossem conservadas para a posteridade. Em 1932 e 1933,  fez quatro comédias curtas para o pioneiro da comédia, Mack Sennett, distribuídas pela Paramount Pictures. Durante este período, a Paramount começou a colocá-lo em comédias de longa-metragem e, em 1934, Fields era um astro de primeira grandeza. O comediante colaborava frequentemente nos scripts de seus filmes sob pseudônimos incomuns tais como “Charles Bogle”, “Otis Criblecoblis”, e “Mahatma Kane Jeeves”. Ele gostava de nomes esquisitos e muitos de seus personagens tiveram nomes assim: “Larson E. (leia Larceny) Whipsnade”, “Egbert Sousé”, “Ambrose Wolfinger” e “The Great McGonigle”. Embora não tivesse tido uma educação formal, Fields lia muito e era um admirador do escritor Charles Dickens. Seu melhor desempenho no cinema foi no papel  de Mr.

Micawber na filmagem de David Copperfield pela MGM em 1935. A popularidade renovada pela suas participações no rádio ao lado de Edgar Bergen e McCarthy (onde trocava insultos com o boneco), ensejou-lhe um contrato com a Universal Pictures em 1939 e seu primeiro filme na Universal, You Can’t Cheat an Honest Man, levou adiante a rivalidade Fields-McCarthy. Em 1940,Fields fez My Little Chickadee com Mae West e The Bank Dick, contracenando com Shemp Howard, um dos Três Patetas.

Ele sempre desejou realizar um filme à sua maneira, com seu próprio roteiro e encenação e escolha dos coadjuvantes. A Universal finalmente lhe deu esta oportunidade e o filme resultante, Never Give a Sucker an Even Break, fo uma obra-prima de humor absurdo, no qual Fields aparecia como ele mesmo. Porém o filme que entregou para exibição era tão surreal, que o estúdio cortou e refilmou várias cenas, acabando por liberar o ator. Ele chegou a completar uma cena para a produção da 20th Century-Fox, Tales of Manhattan / 1942, no qual interpretava o papel de um professor excêntrico contratado por Margaret Dumont para dar uma palestra sobre abstinência na alta sociedade. Esta cena foi extirpada antes do lançamento mas veio a ser descoberta nos cofres da Fox em 1990 e incluída no lançamento em vídeo e DV do filme. Na vida real, Fields bebia muito mas aquela história de que ele odiava crianças, era pura lenda. Filmes: Curtas-metragens sonoros: The Golf Specialist / 1930; The Dentist / 1932; The Fatal Glass of Beer / 1933; The Pharmacist / 1933; The Barber Shop / 1933. Longas-metragens: Janice

Meredith / Janice Meredith / 1924; Sarinha do Circo / Sally of the Sawdust / 1925; Vontade Suprema / That Royle Girl / 1925; Risos e Tristezas / It’s the Old Army Game / 1926; Os Três Compadres ou Cacos de Vidro / So’s Your Old Man / 1926; Presente de Núpcias / The Potters / 1927; Leão sem Juba / Running Wild / 1927; Dois Rivais no Caiporismo / Two Flaming Youths / 1927; O Romance de Tillie / Tillie’s Punctured Romance / 1928; Dois Sabichões e um Canudo / Fools for Luck /1928; Her Majesty

Love / 1931; Ela Prefere os Atletas / Million Dollar Legs / 1932; Se Eu Tivesse Um Milhão / It I Had a Million / 1932; Torre de Babel / International House / 1933; Alice no País das Maravilhas / Alice in Wonderland / 1933; Seis Aventureiros / Six of a Kind / 1934; No Tempo do Onça / The Old FashionedWay / 1934; Um Sorriso Para Tudo / Mrs. Wiggs of the Cabbage Patch / 1934; Um Negócio da China / It’s a Gift / 1934; Mississipi / Mississipi / 1935; Man on the Flying Trapeze / 1935; David Copperfield / David Copperfield / 1935; A Filha do Saltimbanco / Poppy / 1936; Folia a Bordo / The Big Broadcast of

1938 / 1938; Quem Mal Anda Mal Acaba / You Can’t Cheat an Honest Man / 1939; Minha Dengosa / My Little Chickadee / 1940; O Turbulento / The Bank Dick / 1940; Trouxas em Desfile / Never Give a Sucker an Even Break / 1941; Seis Destinos / Tales of Manhattan / 1942; Epopéia de Alegria / Follow the Boys / 1944; Viva a Juventude / Song of the Open Road / 1944; Sensações de Paris / Sensations of 1945 / 1944. Obs. Rod Steiger encarnou W. C. Fields na cinebiografia, Frenesi de Glória / W.C. Fields and Me / 1976.

HARRY HOUDINI (Erik Weisz, 1874 – 1926) – Nascido em Budapest, Hungria, filho de um rabino, Erik (que depois mudou o nome para Ehrich Weiss) chegou aos Estados Unidos em 3 de julho de 1878 e fez sua primeira aparição em público como trapezista aos nove anos de idade, anunciando-se como “Ehrich, the Prince of the Air”. Adulto, ele começou sua carreira de mágico em 1891 (com o nome artístico de “Harry Houdini” porque foi muito influenciado pelo prestidigitador francês Jean Eugène Robert-Houdin), atuando em circos e parques de diversões. A certa altura, Houdini começou a se especializar em números de fuga. Em 1893, enquanto se apresentava com seu irmão “Dash” (Theodore) em Coney Island como “The Brothers Houdini”, ele conheceu Wilhelmina Beatrice (Bess) Rahner. Embora Bess tivesse sido inicialmente cortejada por “Dash”, ela e Houdini se casaram em 1894 e Bess substituiu, “Dash” no número, que passou a se chamar “The Houdinis”. A grande oportunidade para Houdini ocorreu em 1899,

quando ele conheceu o empresário Martin Beck, que o introduziu no circuito Orpheum de vaudeville. Em 1900, Beck levou Houdini para a Europa e ele ficou famoso como “The Handcuff King” (O Rei das Algemas). Em cada cidade, Houdini desafiava a polícia local a mantê-lo algemado em sua cadeia. De 1907 e durante os anos dez, Houdini obteve grande êxito nos Estados Unidos, livrando-se rapidamente das algemas, correntes ou camisas-de-força e realizando outros números mirabolantes, que eram realizados nas ruas, para suscitar a cobertura jornalística. Ele também convidava o público para inventar dispositivos que o mantivessem preso como, por exemplo, uma sacola dos correios ou um barril cheio de cerveja. Em 1912, Houdini introduziu talvez o seu número mais famoso, “The Chinese Water Torture Cell”, no qual era mergulhado  de cabeça para baixo algemado, em uma caixa de vidro cheia de água e, para conseguir escapar sem se afogar, tinha que prender a respiração por mais de três minutos. Outra

façanha incrível de Houdini ocorreu no Hippodrome Theater em Nova York, onde ele fez um elefante desaparecer do palco, debaixo do qual havia uma piscina. Em 1918, Houdini assinou contrato com o produtor B. A. Rolfe, para ser o ator principal de um seriado, O Homem de Aço / The Master Mystery, lançado em 1919 e depois transferiu-se para a Famous Players-Lasky Corporation/ Paramount Pictures, onde fez dois filmes, O Salto da Morte / The Grim Game / 1919 e A Ilha do Terror / Terror Island / 1920.

Posteriormente, fundou a sua própria companhia , “Houdini Picture Corporation” e produziu e estrelou O Imortal / The Man From Beyond / 1921 e Haldane of the Secret Service / 1923, este último dirigido por ele mesmo. Em 1953, Tony Curtis personificou Houdini na cinebiografia Houdini, O Homem Miraculoso / Houdini; mas houve também vários telefilmes e um documentário (Houdini / 1996) abordando a sua vida.

AL JOLSON (Asa Yoelson, 1886 – 1950) – Jolson nasceu em Seredzius, na Lituânia, então ocupada pelo Império Russo. Em 1891, seu pai, que era rabino e solista da sinagoga, emigrou para Nova York, a fim de garantir um futuro melhor para a sua família. Em 1894, ele trouxe a esposa e os cinco filhos para a América.  Em 1897, Asa e seu irmão Hirsch começaram a cantar nas ruas por uns trocados, usando os nomes “Al” e “Harry”. Na primavera de 1902, Al arrumou emprego como indicador de lugares no Walter L. Main’s Circus; porém Main ficou tão impressionado com a voz do rapaz, que lhe promoveu a cantor. Em maio de 1903, Al foi contratado pelo produtor do espetáculo burlesco, Dainty Duchess Burlesques. Infelizmente, o teatro encerrou suas atividades no final do ano e Al então formou uma parceria com o irmão Hirsch que, a esta altura, já era conhecido no meio do vaudeville como Harry Yoelson. Al e Harry eventualmente formaram um trio com Joe Palmer mas depois os três se separaram

Al, sozinho, decidiu atuar com o rosto pintado de preto até que chamou a atenção de Lew Dockstader, produtor dos Dockstader’s Minstrels e logo se tornou o artista principal do show. Em 1911, Jolson estreou na revista musical La Belle Paree apresentada no Winter Garden Theater em Nova York e conquistou imediatamente o público do teatro de Lee Shubert, interpretando as canções de Stephen Foster com o rosto pintado de preto. Após ter estrelado mais um musical, Vera Violetta, ele “arrebentou” num terceiro, The Whirl of Society, propulsionando sua carreira para novas alturas.

Durante as representações no Winter Garden, Jolson passou a dizer a frase “You ain’t heard nothing yet”(“Vocês ainda não ouviram nada”), antes de cantar uma canção adicional e, em The Whirl of Society criou o seu personagem blackface chamado “Gus”. Sua carreira seria impulsionada mais ainda, quando estrelou o musical Sinbad, de grande sucesso, com as famosas canções do seu futuro repertório, “Swanee” e “My Mammy”. Em sua homenagem, Lee Shubert batizou seu novo teatro perto do Central Park como Jolson’s Fifty-ninth Street Theatre. Em 1920, Jolson havia se tornado o maior astro da Broadway. Ele sabia manter uma platéia sob controle como ninguém. George Jean Nathan escreveu: “O poder de Jolson sobre o público eu nunca vi ser igualado”. Seu estilo de interpretação era impetuoso e extrovertido e ele popularizou um grande número de  canções, que se beneficiaram de sua  abordagem sentimental  e melodramática. Em 1927, a Warner Bros. decidiu transpor para a tela a peça popular da Broadway escrita por Samson Raphaelson, The Jazz Singer, utilizando o seu novo sistema Vitafone de som-em-disco. George Jessel havia interpretado o papel principal na peça e foi inicialmente contratado

para repetí-lo no cinema. Mas, por razões não esclarecidas, foi substituido por Al Jolson. Como a história do filme era supostamente baseada em parte na vida de Jolson, ele parecia ser a escolha lógica para o protagonista. O Cantor de Jazz abriu para Al Jolson uma nova carreira como astro do cinema. Ele também se tornou muito popular no rádio, primeiro com o programa Presenting Al Jolson em 1932 e depois com Kraft Music Hall em 1934 e posteriormente com Shell Chateau em 1935. À medida em que a carreira de sua terceira esposa, Ruby Keeler crescia, a fama de Jolson começava a diminuir. Entretanto, ele se recuperou artisticamente quando, em 1946, a Columbia produziu The Jolson Story com Larry Parks encarnando Jolson e fazendo a mímica para a voz do próprio Jolson nas canções. Em 1949, The Jolson Story teve uma continuação, Jolson Sings Again. Filmes: Plantation Act / 1926 (curta-metragem); O Cantor de Jazz / The Jazz Singer / 1927; A Última Canção / The Singing Fool / 1928; Diz Isso Cantando / Say It with Songs / 1929; Sonny Boy / Sonny Boy / 1929 (cameo); Minha Mãe / Mammy / 1930; Paixão de Todos / Showgirl in Hollywood / 1930 (cameo); Big Boy / 1930; O Venturoso Vagabundo /

Hallelujah! I’m a Bum / 1933; Wonder Bar / Wonder Bar / 1934; Cassino de Paris / Go Into Your Dance / 1935; Canta e Serás Feliz / The Singing Kid / 1936; O Meu Amado / Rose of Washington Square / 1939; Hollywood em Desfile / Hollywood Cavalcade / 1939; O Coração de um Trovador / Swanee River / 1939; Rapsódia Azul / Rhapsody in Blue / 1945 (breve cena com Jolson de blackface, apresentando Swanee); Sonhos Dourados / The Jolson Story / 1946 (emprestando a voz para Larry Parks e breve aparição); Trovador Inolvidável / Jolson Sings Again / 1949 (emprestando a voz para Larry Parks); Bonequinha Linda / Oh, You Beautiful Doll / 1949 (apenas a voz)

OS IRMÃOS MARX – Groucho (Julius, 1890 – 1977), Gummo (Milton, 1897 – 1977), Harpo (Arthur, 1888 – 1964 e Chico (Leonard, 1886 – 1961) –  Nascidos em New York City, eles eram filhos de imigrantes judeus da Alemanha e França. Sua mãe, Minnie Schönberg, era oriunda da Frísia e seu pai, Simon Marx (cujo nome depois foi mudado para Samuel Marx), era natural da Alsácia. Os irmãos pertenciam a  uma família de artistas e seu talento musical despontou desde a infância. Harpo aprendeu a tocar seis instrumentos diferentes, especializando-se como harpista. Chico era excelente pianista. Groucho, guitarrista e cantor e Zeppo (Herbert, 1901-1979), cantor. Eles foram introduzidos no vaudeville por intermédio de seu tio, Albert Schönberg, que atuava nos palcos como Al Shean, da dupla Gallagher e Shean. Groucho foi o primeiro dos irmãos Marx a ingressar no vaudeville em 1905, como membro do Leroy Trio. Em 1907, ele e Gummo estavam cantando juntos com Mabel O’Donnel  como “The Three Nightingales”. No ano seguinte, Harpo tornou-se o quarto Nightingale e, em 1910, o grupo foi expandido, com a entrada da mãe dos Mark, Minnie e da tia deles, Hannah. O grupo foi rebatizado de “The Six Mascots”.  Os quatro irmãos Marx reuniram-se em um esquete que o tio Al Shean escreveu para eles, intitulado “Fun in a Hi Skool”,no qual Groucho era um professor de sotaque alemão numa sala de aula que incluía os alunos Harpo, Gummo e Chico. Em um outro esquete, “Home Again”, Zeppo se uniu aos seus quatro irmãos, formando o quinteto no palco, provavelmente pela única vez. “Os Quatro Irmãos

Marx” começaram a desenvolver os seus personagens e o seu estilo inconfundível de comédia anárquica e do absurdo. Groucho criou a sua marca registrada, que era o bigode pintado de graxa, o charuto e o seu andar curvado. Harpo, perdeu a voz, começou a usar uma peruca vermelha encaracolada e a carregar uma buzina de automóvel. Chico passou a falar com um sotaque italiano enquanto Zeppo adotou o papel do “escada” romântico. Nos anos vinte, os Marx Brothers haviam se tornado um dos números teatrais favoritos da América. Os irmãos conquistaram a Broadway, primeiro com uma revista musical, I’ll Say She Is (1924-1925) e depois, com duas comédias musicais, The Cocoanuts (1925-1926) e Animal Crackers (1928-1929).Quando veio o cinema falado, eles assinaram contrato com a Paramount e deram início à sua carreira cinematográfica. Seus dois primeiros filmes exibidos (eles haviam feito anteriormente um curta-metragem silencioso chamado Humor Risk, que não foi lançado) eram adaptações dos seus shows da Broadway: Hotel da Fuzarca / The Cocoanuts / 1929 e  Os Galhofeiros /

Animal Crackers / 1930, ambos escritos por George S. Kaufman e Morrie Ryskind. Subsequentemente, eles participaram de um short que foi incluído no documentário em comemoração do vigésimo aniversário da Paramount, The House That Shadows Built / 1931, no qual eles adaptaram uma cena de I’ll Say She Is. Seu próximo filme de longa-metragem, Batutas Burlescos / Monkey Business / 1931, foi o primeiro não baseado numa produção teatral e o único filme no qual a voz de Harpo é ouvida (ele canta dentro de um barril na cena de abertura). Os Gênios da Pelota  / Horse Feathers / 1932, que  satirizou o sistema educacional americano e a Lei Sêca, foi o seu filme mais popular  até então e ganhou a capa do Time. Nessa época, Chico e Groucho estrelaram uma série de comédia radiofônica, Flywheel, Shyster and Flyheel, cujos scripts e gravações foram dados como perdidos durante décadas e recentemente encontrados nos anos oitenta na Biblioteca do Congresso. O último filme dos Marx na Paramount,  O

Diabo à Quatro / Duck Soup / 1933 foi dirigido pelo diretor de maior prestígio com o qual trabalharam: Leo McCarey. A esta altura, Zeppo deixou o quarteto e fundou, com seu irmão Gummo, uma das maiores agências de talento em Hollywood. Groucho e Chico apresentaram-se no rádio e estavam pensando em voltar à Broadway quando, num  jogo de bridge, Chico e Irving Thalberg celebraram o contrato da ida dos Marx Brothers (que agora eram três) para a MGM. Thalberg insistiu para que os  scripts fossem melhor estruturados do que os da Paramount, entremeando a comicidade do trio com tramas românticas e números musicais não cômicos e que as injúrias se limitassem aos vilões bem evidentes. O primeiro

filme no novo estúdio foi Uma Noite na Ópera / A Night at the Opera / 1935, uma sátira ao mundo da ópera na qual os irmãos ajudavam dois jovens apaixonados transformando a produção de “Il Trovatore” num caos. O filme, que apresentava a sequência antológica do camarote abarrotado de gente, foi um grande sucesso, seguido por outro êxito ainda maior, Um Dia nas Corridas / A Day at the Races / 1937,

onde os irmãos causam a maior desordem numa casa de saúde e numa corrida de cavalos. Após a morte súbita de Thalberg, os Marx fizeram uma curta experiência na RKO (Por Conta do Bonifácio / Room Service / 1938), depois retornaram à MGM (Os Irmãos Marx no Circo / At the Circus / 1939, No Tempo do Onça / Go West / 1940, Casa Maluca / The Big Store / 1941) e, logo após, anunciaram o fim de sua atividade na tela. Porém Chico estava em dificuldades financeiras e, para saldar suas dívidas de jogo, os Marx fizeram mais dois filmes juntos: Uma Noite em Casablanca / A Night at Casablanca / 1946 e  Loucos de Amor / Love Happy / 1949, ambos distribuídos pela United Artists. A partir de 1940, Chico e Harpo apareceram separadamente e juntos em boates e cassinos; Chico ainda organizou uma banda, The Chico Marx Orchestra. Groucho iniciou sua carreira sozinho com You Bet Your Life, que foi ao ar de 1946 a 1962 no rádio e na televisão. Finalmente, Groucho, Chico e Harpo trabalharam no filme A História da Humanidade / A Story of Mankind / 1957.

HELEN MORGAN (Helen Riggin, 1900 – 1941) – Ninguém foi capaz de cantar as canções que a fizeram famosa (“Bill”, “Can’t Help Lovin’Dat Man”, “Why Was I Born?”, “What Wouldn’t I Do for That Man”, “Don’t Ever Leave Me”, “Body and Soul”) com o mesmo sentimento e a mesma emoção. Depois de trabalhar como modelo de roupa íntima feminina, balconista e empacotadora, Helen ganhou um concurso de beleza e foi contratada por Florenz Ziegfeld, para compor o coro de Sally, que estreou em 21 de dezembro de 1920. Ela atuou em várias boates durante os anos da Lei Sêca e, apesar do National Prohibition Act de 1919, se tornou alcoólatra.  Helen cantava sempre apoiada em cima do piano, porque estava geralmente bêbada para ficar de pé. Em 1927, ela fez grande sucesso como Jules LaVerne no elenco original de Show Boat, cantando “Bill” e “Can’t Help Lovin’ Dat Man”. Helen trabalhou em duas versões cinematográficas deste musical. Na versão de 1929, parcialmente falada, aparecia somente na canção prólogo e Alma Rubens fazia o papel de Julie. Na versão de 1936, Helen interpretava realmente Julie

Depois de participar da versão de 1929 de Show Boat, ela estrelou o musical da Broadway,  Sweet Adeline, no qual introduziu as canções “Why Was I Born” e “Don’t Ever Leave Me”. Porém quando Sweet Adeline foi filmado em 1934, o papel de Helen caiu nas mãos de Irene Dunne, que possuía uma bela voz de soprano mas não era uma cantora de fossa. No cinema, Helen teve seu melhor desempenho em

Aplausos / Applause / 1929, dirigido por  Rouben Mamoulian,  como a  rainha do burlesco bêbada, Kitty Darling. Nos anos trinta, ela continuou se apresentando em boates, vaudeville e comédias musicais mas os críticos  se queixavam de que todas as suas canções eram as mesmas, que ela estava sempre repetindo a sua “melancolia crônica”. Em 8 de outubro de  1941 Helen faleceu no palco durante uma performance de George White’s Scandals  of 1942, vitimada pela cirrose. Ela foi retratada por Polly Bergen num drama do Playhouse 90, The Helen Morgan Story, dirigido por George Roy Hill (Bergen recebeu um Emmy Award  por sua interpretação). No mesmo ano, foi produzido o filme Com Lágrimas na Voz / The Helen Morgan Story, estrelado por Ann Blyth (dublada por Gogi Grant). Filmes: Tudo por um Automóvel / Six Cilinder Love / 1923; A Gatuna de Corações / The Heart Raider / 1923; Boêmios / Show Boat / 1929; Aplausos / Applause / 1929; Glorificação da Beleza / Glorifying the American Girl / 1930; Repórter Audacioso / Roadhouse Nights / 1930; The Gigolo Racket (curta) / 1931; Manhattan Lullaby (curta) / 1933; The Doctor (curta) / 1934; Agora És Meu / You Belong to Me / 1934; Marie Galante / Marie Galante / 1935; Melodias Radiantes / Sweet Music / 1935; Cassino de Paris / Go Into Your Dance / 1935; Frankie and Johnny / 1936; Magnolia / Show Boat / 1936.

WILL ROGERS (William Penn Adair “Will” Rogers, 1879 – 1935) – foi artista do vaudeville, jornalista, humorista, comentarista social e astro do rádio e do cinema. Nascido no Oklahoma, filho de um casal de índios Cherokee, ele entrou para o mundo do espetáculo trabalhando em Wild West Shows. Em seguida passou para o vaudeville, atingindo a fama como um cowboy muito habilidoso com o laço. No outono de 1915, Rogers apareceu na revista musical  “Midnight Frolics” encenada na boate do New Amsterdam Theatre de Florenz Ziegfeld. O número de Rogers agora incluía monólogos sobre as notícias do dia. Ele aparecia no palco vestido de cowboy, rodopiando indiferentemente o seu laço e dizendo: “Bem, sobre o quê eu vou falar? Não tenho nada engraçado para dizer. Tudo o que sei é o que lí nos jornais”. E então começava a fazer piadas sobre o que  tinha lido nos jornais daquele dia. Rogers tinha uma capacidade incrível de improvisar comentários espirituosos sobre os acontecimentos diários com uma maneira anasalada de falar (típica dos seus conterrâneos), que fascinava os espectadores.

Em 1916, ele foi contratado para atuar em um lugar mais famoso, o Ziegfeld Follies. Hollywood descobriu Rogers em 1918, quando Samuel Goldwyn colocou-o no papel título em Laughing Bill Hyde. A assinatura de um contrato de três anos com Goldwyn, ganhando o triplo do seu salário na Broadway, levou Rogers para a Costa Oeste. Entretanto, suas aparições em filmes mudos eram prejudicadas pelas óbvias restrições do silêncio –  tinha que se expressar somente pelos intertítulos, que ele mesmo escrevia. Seu primeiro filme sonoro, They Had to See Paris / 1929, finalmente lhe deu a oportunidade de exercitar a sua comicidade verbal e ele se tornou um grande astro do cinema. Rogers apareceu em 21 filmes sonoros de longa-metragem, tendo sido dirigido três vezes por John Ford (Dr. Bull / 1934; Judge Priest / 1934; Steamboat Round the Bend / 1935). Filmes mudos (excluídos os 12 travelogues feitos pela Pathé Exchange durante a excursão do ator pela Europa em 1927): Decreto de um Ladrão / Laughing Bill Hyd

/ 1918; Quase um Marido / Almost a Husband / 1919; Vagabundo Regenerado / Jubilo / 1919; Água Por Toda a Parte / Water, Water Everywhere / 1919; O Crime à Meia-Noite / The Strange Boarder / 1920; Testemunha Fantasma / Jes’ Cal Me Jim / 1920; Cupid the Cowpuncher / 1920; Tesouro Desenterrado / Honest Hutch / 1920; Guile of Women / 1920; Boys Will Be Boys / 1921; An Unwilling Hero / 1920; Um Romeu a Força / Doubling for Romeo / 1921; O Poder da Família / A Poor Relation / 1921; One Glorious Day / 1922; The Headless Horseman / 1922; Fruits of Faith / 1922;  Hollywood / Hollywood / 1923 (cameo); Hustling Hank / 1923; Two Wagons Both Covered / 1923; Jus’ Passing Through / 1923; Uncensored Movies / 1923; The Cowboy Sheik / 1924; The Cake Eater / 1924; / 1924; Big Moments From Little Pictures / 1924; High Brow Stuff / 1924; Going to Congress / 1924; Don’t Park There / 1924; Jubilo, Jr. (Our Gang Series); Our Congressman / 1924; A Truthful Liar / 1924; Gee Whiz Genevieve / 1924; Tip Toes (produção britânica) / 1927; A Texas Steer / 1927. Filmes sonoros: Eles Tinham Que ver Paris /

They Had To See Paris / 1929; Dias Felizes / Happy Days / 1929; So This is London / 1930, Dois Araras na Cidade / Lightnin’ / 1930; Mocidade Ainda Que Tardia / As Young As You Fell / 1930; O Embaixador Bill / Ambassador Bill / 1930; Um Ianque na Corte do Rei Arthur / A Connecticut Yankee in King Arthur’s Court / 1931; Volta para a Realidade / Down to Earth / 1932; Too Busy To Work

1932; Business and Pleasure / 1932; Feira de Amostras / State Fair / 1933; Doutor Bull / Doctor Bull / 1933; Pai de Família / Mr. Skitch / 1933; Apostando no Amor / David Harum / 1934; Receita para a Felicidade / Handy Andy / 1934;  O Juiz Priest (na TV) / Judge Priest / 1934; The County Chairman / 1935; A Vida Começa aos 40 / Life Begins at Forty / 1935; Doubting Thomas / 1935; Nas Águas do Rio

(TV) / Steamboat Round the Band / 1935; Dois Campeões / In Old Kentucky / 1935. Will Rogers Jr. personificou o pai na cinebiografia A História de Will Rogers / The Will Rogers Story, realizada em 1952. Rogers faleceu aos 55 anos de idade, vítima de um desastre aéreo com seu avião particular ocorrido no Alaska.

MAE WEST (Mary Jane West, 1893 -1980) – Era filha de um pugilista, que depois abriu uma agência de detetives e de uma modelo. Em 1907, Mae começou a atuar profissionalmente, aos quatorze anos de idade, com o nome de Baby Mae. Sua primeira aparição num espetáculo da Broadway deu-se em 1911, na revista A La Broadway mas o show saiu de cartaz após oito apresentações. Em 1918, ela estava em Vera Violetta, cujo elenco era encabeçado por Al Jolson e Gaby Deslys. Neste mesmo ano, Mae teve a sua grande oportunidade na revista dos irmãos Shubert, Sometime: sua personagem, Mayme, dançava o shimmy.

Seu primeiro papel principal na Broadway foi em 1926 numa peça intitulada Sex, escrita, produzida e dirigida por ela (usando o pseudônimo de Jane Mast). A produção teve uma bilheteria razoável porém houve uma batida no teatro e Mae foi presa juntamente com o resto do cast. Ela foi indiciada criminalmente e condenada a dez dias de prisão por “corromper a moral e a juventude”. O caso chamou a atenção da mídia e impulsionou sua carreira. Sua próxima peça, The Drag (1927) abordava o homossexualismo e era o que ela chamava de um de seus “comedy-dramas of life”. Após uma série de testes em Connecticut e New Jersey, Mae anunciou que estrearia a peça em Nova York. Entretanto, The Drag nunca chegou à Broadway por causa das ameaças de Sociedade de Prevenção contra o Vício de interditá-la se a sua autora ousasse encená-la.

Mae continuou a escrever peças inclusive The Wicked Age, Pleasure Man e The Constant Sinner. Suas produções sempre causaram controvérsia e era justamente este fato que  lhe garantia a permanência no noticiário e os teatros lotados. Sua peça, escrita em 1928, Diamond Lil, sobre uma dama desembaraçada e espirituosa dos anos 1890, tornou-se um êxito na Broadway. Em 1932, aos 38 anos de idade, Mae assinou contrato com a Paramount Pictures e fez sua estréia no cinema num pequeno papel ao lado de George Raft em Night After Night. Na sua primeira cena, uma chapeleira da boate exclama: “Goodness, what beautiful Diamonds!”. West replicava: ”Goodness had nothing to do with it, dearie”. Raft declarou: “Ela roubou tudo menos as câmeras”. Mae trouxe sua personagem Diamond Lil, agora rebatizada de Lady Lou, para a tela em She Done Him

Wrong / 1933, revelando o novato Cary Grant. O filme foi um sucesso de bilheteria e ganhou uma indicação para o Oscar. Seu próximo filme, I’m No Angel / 1933, novamente com Cary Grant como seu parceiro, foi um sucesso de bilheteria ainda maior. Em 1933, Mae West era a pessoa mais bem paga nos Estados Unidos (depois de William Randolph Hearst), dizem que salvando a Paramount da falência.

Quando o Código de Produção foi seriamente imposto em 1 de julho de 1944, os roteiros de Mae passaram a ser severamente fiscalizados. Conhecida pelos seus duplos sentidos despudorados, ela causou problemas para a NBC, quando participou de um esquete (escrito por Arch Oboler) ao lado de Don Ameche como Adão e Eva no Jardim do Paraíso. Ela disse para Ameche no show “To get me a big one … I feel like doin’a big apple!”. Dias depois da transmissão, a NBC recebeu cartas dos ouvintes chamando o programa de “imoral” e “obceno”. Clubes femininos e grupos católicos repreenderam o patrocinador, por ter permitido que a “impureza invadisse o ar”. A Federal Communications Commission (FCC) julgou  a transmissão  “vulgar “e “indecente”. A NBC culpou Mae pessoalmente pelo incidente e a baniu (bem como a menção do seu nome) de suas estações. Após seu último filme dos anos quarenta, The Heat’s On, Mae continuou ativa. Entre as suas representações no palco destacou-se o papel principal de Catherine was Great (1944) na Broadway, no qual ela parodiava  a história de Catarina da Rússia

cercando-se de uma “guarda imperial” de rapazes musculosos. Quando estava escolhendo o elenco de Crepúsculo dos Deuses / Sunset Boulevard / 1950, Billy Wilder ofereceu a Mae (então com 60 anos) o papel de Norma Desmond (felizmente mudou de idéia). Em 1959, ela publicou sua autobiografia, “Goodness Had Nothing to Do with It”. Após uma ausência de 26 anos, Mae reapareceu nas telas em Myra Breckinridge / 1970 e  Sextette / 1978, dois fracassos comerciais. Filmes: Valentino ou Noite Após Noite / Night After Night / 1932; Uma Loura Para Três / She Done Him Wrong / 1933; Santa,

Não Sou / I’m No Angel / 1933; Uma Dama do Outro Mundo / Belle of the Nineties / 1934;  Senhora da Alta Roda / Goin’ to Town / 1935; Sereia do Alaska / Klondike Annie / 1936;  Amores de uma Diva / Go West, Young Man / 1936;  A Vida é uma Festa / Everyday’s a Holiday / 1937; Minha Dengosa / My Little Chickadee / 1940; Sedução Tropical / The Heat’s On / 1943; Homem e Mulher Até Certo Ponto / Myra Breckinridge / 1970; Sextette / 1978.

CONEXÃO VAUDEVILLE – CINEMA II

GEORGE BURNS (Nathan Birnbaum, 1896 – 1996 ) e  GRACIE ALLEN (Gracie Ethel Cecile Rosalie Allen, 1905 – 1964) – Burns e Allen apareceram pela primeira vez juntos em 1922 no Hill Street Theatre em Newark, New Jersey; eles se casaram quatro anos depois em 7 de janeiro de 1926. A princípio, Grace fazia o papel de “escada” e Burns era o comediante mas em poucos meses os papéis haviam se invertido com George como straight man, ouvindo filosoficamente as respostas desmioladas de Gracie com um charuto nos lábios. George começou no vaudeville como cantor num quarteto infantil intitulado The Pee Wee Quartet. Depois, trabalhou com vários parceiros (vg. Sid Gary, Bill Lorraine) até encontrar Gracie e formarem a dupla cômica Burns e Allen. Seu primeiro sucesso deu-se com um esquete denominado “Lamb Chops” escrito para eles por Al Boasberg, que depois se tornaria um roteirista de comédias muito requisitado pelo cinema.  O diálogo de “Lamb Chops” era algo como: George – Você se interessa por amor? Gracie – Não. George – Você se interessa por beijos? Gracie – Não. George – Por que você se interessa? Gracie – Costeletas de Cordeiro. Para tudo o que George perguntava, Gracie tinha resposta. Quando George, como seu patrão, comentava zangado: “Você deveria ter chegado há duas horas”. A inocente secretária Gracie respondia: “Por quê, o que aconteceu?”.

Filha de um artista de vaudeville, Edward Allen, Gracie começou a representar ainda criança ao lado do pai e depois apareceu com suas irmãs Bessie, Pearl e Hazel em um número intitulado Larry Reilly and Company, no qual ela dançava e cantava uma música irlandesa. No verão de 1929, George e Gracie foram para a Inglaterra, anunciados como “The Famous American Comedy Couple”. Quando eles voltaram aos Estados Unidos, não havia dúvida quanto à sua popularidade. Sua carreira cinematográfica começou com uma série de curtas-metragens para a Paramount e prosseguiu nos longas-metragens. Burns e Allen tornaram-se artistas de rádio em 1932, contratados para participar do programa de Guy Lombardo e logo estrearam seu próprio programa. O Burns and Allen Show foi para a televisão em 1950, (após ter sido transmitido durante dezoito anos pelo rádio), e permaneceu no ar até 1958, quando Gracie anunciou sua aposentadoria.

George continuou trabalhando e, em 1975, ele, já viúvo, retornou triunfalmente às telas, conquistando o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo seu desempenho em Uma Dupla Desajustada / The Sunshine Boys. Em 1977, obteve novo êxito, interpretando o papel principal em Alguém Lá em Cima Gosta de Mim / Oh God!. Burns fez seu último filme aos 98 anos de idade. Filmes: Ondas Sonoras / The Big Broadcast / 1932; Mocidade e Farra / College Humour / 1933; Torre de Babel / International House / 1933; Seis Aventureiros / Six of a Kind / 1934; Cupido ao Leme / We’re Not Dressing / 1934; Muitas Felicidades / Many Happy Returns / 1934; Louco por Tí / Love in Bloom / 1935; Ondas Sonoras de 1936 / The Big Broadcast of 1936 / 1935; A Pobre Milionária / Here Comes Cookie / 1935; Alegria à Solta / College Holliday / 1936; Ondas Sonoras de 1937 / The Big Broadcast of 1937 / 1936; Cativa e Cativante / A Damsel in Distress / 1937; Jazz Academia / College Swing / 1938; Honolulu / Honolulu / 1939.

Gracie sozinha: A Comédia de um Crime / The Gracie Allen Murder Case / 1939; Aventura para Dois / Mr. and Mrs. North / 1942; Duas Garotas e um Marujo / Two Girls and a Sailor / 1944. George sozinho: O Cadillac de Ouro / The Solid Gold Cadillac / 1956; Uma Dupla Desajustada / The Sunshine Boys / 1975; Alguém Lá em Cima Gosta de Mim / Oh God! / 1977; Sargento Pepper e sua Banda / Sergeant Pepper’s Lonely Hearts Club Band / 1975; Movie  Movie, a Dupla Emoção / Movie Movie / 1978 (não creditado); Just Me and my Kid / 1979; Oh God! Book Two / 1980; … E O Céu Continua Esperando / Oh God! You Devil / 1984; De Volta aos 18 / 18 Again ! / 1988; Assassinatos na Rádio WBN / Radioland Murders / 1994.


EDDIE CANTOR (Isidore Iskowitz, 1892-1964) – Filho de imigrantes russos, nascido no Lower East Side de Nova York, Eddie ficou órfão muito cedo e foi criado por sua avó, Esther Kantrowitz. Quando entrou para o colégio, ele começou a usar o sobrenome dela. O responsável pela matrícula,  disse-lhe que Isidore Kantor era suficiente. Mais tarde, o K tornou-se C e sua noiva e futura esposa, Ida Tobias, o persuadiu a adotar Eddie como seu prenome. Em 1908, o rapazinho paupérrimo (teve que pedir emprestado as calças de um amigo para se apresentar) ganhou o primeiro lugar num concurso de calouros realizado no Miner’s Bowery Theatre, levando para casa os doze dólares de prêmio. A grande oportunidade de Cantor no vaudeville surgiu quando Gus Edwards o contratou para aparecer no seu Kid Kabaret. Foi ali que ele criou o personagem “Jefferson”, com o rosto pintado de preto. Cantor escreveu: “Não era um vaudeville de primeira classe mas a melhor e a única escola de interpretação no seu gênero, onde moços e moças pobres podiam aprender a arte do entretenimento em todas as suas formas e ainda serem pagos para aprender”.

A segunda chance ocorreu em 1916, quando ele obteve um grande sucesso na produção de Florenz Ziegfeld, Midnight Frolics e, em consequência, foi escalado para a edição do Ziegfeld Follies de 1917. As edições de 1918 e 1919 se seguiram e Cantor poderia ter continuado no Follies durante os anos vinte, se não tivesse participado de uma greve promovida pela Actors Equity Association. Ziegfeld declarou que não queria mais saber de Cantor e este então formou uma aliança com os Shuberts, para os quais apareceu em Broadway Brevities of 1920 e Make It Snappy (1923). Felizmente, Cantor e Ziegfeld depois se reconciliariam e Cantor voltaria para estrelar duas das mais importantes comédias musicais de sua carreira, Kid Boots (1923) e Whoopee! (1928) além da edição do Ziegfeld Follies de 1927. Entrementes, Cantor retornou ao vaudeville e provou que continuava tão popular  com o público deste tipo de divertimento como era com as platéias das comédias musicais. Em 1926, ele estreou no cinema na versão de Kid Boots mas foi somente em 1930, com a filmagem de Whoopee!, que se distinguiu na tela. Dançando, batendo palmas no ritmo da música, revirando os seus olhos (“Banjo Eyes”, conforme o apelido que recebeu por causa de uma caricatura feita pelo desenhista Frederick J. Gardner), cantando num tom alto inimitável e manifestando sua condição de judeu e origem russa em piadas espirituosas, Cantor se tornou um grande astro de Hollywood nos anos 30. Algumas das canções que interpretou tornaram-se inesquecíveis como, por exemplo, “Making Whoopee”, “My Baby Just Cares for Me” e “If You Knew Susie”. No rádio, Cantor começou a se destacar em The Chase and Sanborn Hour na NBC em 1931.

Como The Eddie Cantor Show, o programa foi ouvido pela CBS a partir de 1935 e Cantor ficou conhecido pelas suas descobertas radiofônicas, que incluiram Deanna Durbin, Bobby Breen e Dinah Shore. Ele se transferiu para a televisão em 1950 com The Colgate Comedy Hour. Paralelamente ao seu trabalho no rádio, teatro e cinema, Eddie Cantor escreveu duas autobiografias (“My Life is in Your Hands” e Take My Life”) e outros livros: Caught Short!, Yoo Hoo, Prosperity, Your Next President, Between the Acts e Who’s Hooey? Ele também se interessou por atividades politicas e sociais. Cantor inventou o título “The March of Dimes” para a campanha de doação em favor do combate à poliomielite. Foi fundador da Actor’s Equity, American Federation of Radio Artists (AFTRA) e Screen Actors Guild. Em 1956, a Academia

conferiu-lhe um Oscar especial “pelo notável serviço prestado à indústria cinematográfica”. Em 1964, o Presidente Johnson lhe concedeu a U.S. Service Medal como reconhecimento de seu trabalho humanitário. Filmes: Casar e Descasar / Kid Boots / 1926; Encomenda Postal / Special Delivery / 1927; A Glorificação da Beleza / Glorifying the American Girl / 1929; Whoopee / Whoopee / 1930; O Homem do Outro Mundo / Palmy Days / 1931; Meu Boi Morreu / The Kid from Spain / 1932; Escândalos Romanos / Roman Scandals /  1933; Abafando a Banca / Kid Millions / 1934; Cai, Cai, Balão / Strike me Pink / 1935; Ali Baba é Boa Bola / Ali Baba Goes to Town / 1937; Mamãe Eu Quero / Forty Little Mothers / 1940; Graças à Minha Boa Estrela / Thank Your Lucky Stars / 1943; Um Sonho em Hollywood / Hollywood Canteen (cameo) / 1944; E O Espetáculo Continua /  Show Business / 1944; Você Conhece Susie? / If You Knew Susie / 1948; A História de Will Rogers / The Story of Will Rogers / 1952 (convidado). Cantor apareceu brevemente na sua cinebiografia, Nas Asas da Fama / The Eddie Cantor Story / 1953, na qual foi retratado por Keefe Brasselle.

GEORGE M. COHAN (George Michael Cohan, 1878-1942) – Ator, cantor, dançarino, autor, compositor e produtor, George Cohan é o símbolo do teatro popular americano nas primeiras décadas do século vinte. Conhecido na década anterior à Primeira Guerra Mundial como “O Dono da Broadway”, ele é considerado o “Pai da Comédia Musical Americana”. Uma estátua de Cohan na Times Square em Nova York comemora suas contribuições para o teatro musical americano. O menino aprendeu a tocar violino com oito anos de idade e aos doze anos já estava interpretando o papel principal em Peck’s Bad Boy. Porém, antes disso, na primavera de 1889, havia nascido um número de vaudeville originalmente intitulado The Cohan Mirth Makers, composto por Mr. (Jerry) e Mrs. (Nellie) Cohan e seus filhos George e Josie, coletivamente descritos como “The Celebrated Family of Singers, Dancers and Comedians with Their Silver Plated Band and Symphony Orchestra”. Sob o patrocínio de J. F. Keith, a família excursionou pela América até que, como The Four Cohans, os quatro artistas passaram a ser um dos pequenos grupos mais bem pagos do país. George começou a fornecer material para o número da família, em particular um playlet intitulado “Running for Office” e outros esquetes. O agradecimento final de George antes da cortina descer, ficou famoso: “My mother thanks you, my father thanks you, my sister thanks you and I thank you”. Na virada do século, após uma discussão com Keith a respeito da colocação do nome deles nos cartazes, George e sua família deixaram o vaudeville

Em 1901 ele escreveu, dirigiu e produziu seu primeiro musical na Broadway, The Governor’s Son, para os Quatro Cohans. Seu grande êxito ocorreu em 1904 com o espetáculo Little Johnny Jones, que introduziu as canções “Give My Regards to Broadway” e “The Yankee Doodle Boy”. Cohan tornou-se um dos mais destacados compositores de Tin Pan Alley, publicando mais de 300 músicas notabilizadas por suas melodias facilmente lembradas e letras inteligentes. Seus outros sucessos incluíam: “You’re a Grand Old Flag”, Forty-Five Minutes to Broadway”, “Mary is a Grand Old Name”, e a canção mais popular na América durante a Primeira Guerra:  “Over There”. De 1904 a 1920, Cohan criou e produziu mais de 50 musicais, peças e revistas na Broadway juntamente com seu amigo Sam Harris, inclusive Give My Regards to Broadway e Going Up em 1917, que  fariam grande sucesso em Londres no ano seguinte. Em 1925, ele publicou sua autobiografia, “Twenty Years on Broadway and The Years It Took to Get There”.

Em 1930, Cohan apareceu em The Song and Dance Man, reapresentação de seu tributo ao vaudeville e a seu pai. Sua última peça, The Return  of The Vagabond, foi encenada em 1940. Em 29 de junho de 1936, o Presidente Franklin Delano Roosevelt condecorou-o com a Congressional Golden Medal, por suas contribuições para levantar a moral dos soldados na Primeira Guerra Mundial.

Filmes: Broadway Jones / 1917; Seven Keys to Baldpate / 1917; Guerra às Bebidas / Hit-the-Trail Holliday / 1918; O Falso Presidente / The Phantom President / 1932 e Gambling / 1934. Em 1942, foi lançada a cinebiografia de Cohan, A Canção da Vitória / Yankee Doodle Dandy, na qual ele foi personificado por James Cagney em uma atuação extraordinária, que rendeu o Oscar para o ator. Cagney interpretaria Cohan mais uma vez em Um Coringa e Sete Ases / The Seven Little Foys / 1955 com Bob Hope no papel de Eddie Foy. Em 1957, Mickey Rooney retrataria Cohan num especial para a televisão, Mr. Broadway e, em 1968, Joel Grey faria o mesmo no musical da Broadway, George M!

THE DOLLY SISTERS (Roszika, 1892 – 1970 e Yansci Dutsch, 1892 – 1941) – Roszika e Yansci (mais conhecidas como Rosie e Jenny) eram gêmeas idênticas nascidas em Budapeste, na Hungria. Elas estrearam no Keith‘s Union Square Theatre e depois foram para a edição de 1911 do Ziegfeld Follies, na qual interpretavam um número de dança como gêmeas siamesas. As irmãs Dolly também participaram de His Bridal Night, farsa escrita por Lawrence Rising,  que estreou no Republic Theatre em agosto de 1916. Elas apareceram no cinema primeiramente separadas (Rosie em The Lily and the Rose / 1915; Jenny em The Call of the Dance / 1916) e depois juntas em The Million Dollar Dollies, exibido pela Metro em 1917. De 1916 em diante, as Dolly Sisters apresentaram-se habitualmente no vaudeville,

embora os críticos sempre reclamassem que sua capacidade como cantoras era quase inexistente e que elas não se preocupavam em variar os seus números. Entretanto, cantar e dançar importava pouco, comparado com os trajes que as Dolly usavam e com o número de vezes que elas trocavam de roupa. O público gostava de vê-las luxuosamente vestidas. Nos anos vinte, as Dolly Sisters foram vistas mais em Londres e Paris do que nos palcos de Nova York. Uma de suas revistas francesas foi Broadway a Paris, o show mais popular de 1928. Após seu afastamento dos palcos no final da década de vinte, as Dolly Sisters se concentraram na cena social. Em junho de 1941, Yansci Dolly foi encontrada morta no seu apartamento em Beverly Hills. Ela fez um laço com o cordão da cortina e se enforcou. Oito anos antes, ela havia sido ferida gravemente em um acidente de carro na França e necessitara de várias cirurgias plásticas. Yansci Dolly nunca se recuperou do trauma de ter perdido sua beleza.  Em 1945, George Jessel produziu um filme na 20th Century-Fox baseado na vida das duas jovens, As Irmãs Dolly / The Dolly Sisters, estrelado por Betty Grable e June Haver.

MARIE DRESSLER (Leila Marie Koerber, 1869 – 1934) – Antes de se tornar uma grande atriz no cinema, Marie se distinguiu no teatro de repertório, no teatro burlesco e no vaudeville. Canadense, filha de artistas itinerantes, aos quatorze anos de idade ela ingressou na Nevada Stock Company; por causa da oposição dos pais, mudou o nome para Marie Dressler, como  chamava sua tia. Depois de participar de outras companhias de repertório, ela chegou a Nova York e começou a cantar no Atlantic Garden no Bowery. Sem ter um físico atraente, Marie se encaminhou para a comédia.

Seu primeiro sucesso teve lugar numa ópera cômica intitulada The Lady Slavey, na qual ela fez o papel de Flo Honeydew of the Music Halls. Ao irromper o século vinte, Maria adquiriu popularidade no teatro burlesco e no vaudeville tanto como coon singer (intérprete de canções que zombavam da raça negra e eram cantadas por artistas negros ou brancos),  como pelas suas imitações. Em 5 de maio de 1910, no Herald Square Theatre, Marie apareceu pela primeira vez na farsa, Tillie’s Nightmare, como a personagem Tillie Blobbs, uma empregada de pensão. Esta peça levou ao filme Idílio Desfeito, O Casamento de Carlitos ou O Grande Romance de Carlito (no Brasil o filme mudou de título cada vez que era exibido) / Tillie’s Punctured Romance / 1914, uma comédia de Mack Sennett, na qual Charles Chaplin e Mabel Normand foram seus coadjuvantes. Nos anos vinte, sua carreira entrou em  declínio, prejudicada pela participação da atriz na greve de coristas, que aconteceu em 1917. Marie já estava pensando em abandonar a profissão, quando a roteirista Frances Marion convenceu a Metro a contratá-la em 1927. Além de marcantes papéis de coadjuvante em grandes produções da MGM (um dos quais, O Lírio do Lodo / Min and Bill / 1934 lhe deu o Oscar de Melhor Atriz), Marie fez uma série de comédias classe “B” ao lado de Polly Moran, que também passara pelo vaudeville. A Metro a chamou de “A Melhor Atriz do Mundo”, quando, em quatro anos seguidos, ela foi a atração número um das bilheterias nos Estados Unidos. Sua autobiografia intitulou-se “The Life Story of an Ugly Ducking”.

Filmes além de Ídilio Desfeito, Tillie’s Wakes Up e Tillie’s Tomato Surprise: os curtas-metragens Fired / 1917; The Scrub Lady / 1917; The Red Cross Nurse / 1918 e The Agonies of Agnes / 1918; The Callahans and the Murphys at Sunrise / 1927; A Menina Alegre / The Joy Girl / 1927; Marido de Mentira / Breakfast at Sunrise / 1927; Pai de Família / Bringing up Father / 1928 (com J. F. Farrell MacDonald e Polly Moran nos papéis de Jiggs (Pafúncio) e Maggie (Marocas), personagens da conhecida história em quadrinhos); Filhinha Querida / The Patsy / 1928; Divina Dama / The Divine Lady / 1929; Hollywood Revue / The Hollywood Revue / 1929; Dangerous Females / 1929 (curta-metragem); Rei Vagabundo / The Vagabond Lover / 1929; No Mundo da Lua / Chasing Rainbows / 1930; Anna Christie / Anna Christie / 1930; Ela Disse Não / The Girl Said No / 1930, Noite de Idílio/ One Romantic Night / 1930; Castelos no Ar / Caught Short / 1930; Gozemos a Vida / Let Us Be Gay / 1930; O Lírio do Lodo / Min and Bill / 1930; Gente de Peso / Reducing / 1931; Madame Prefeito / Politics / 1931; Emma / Emma / 1932 (indicada para o Oscar); Prosperidade / Prosperity / 1932; Narcissus / Tugboat Annie / 1933; Jantar às Oito / Dinner at Eight / 1933; Relíquia de Amor / Christopher Bean / 1933.

DUPLAS DE DANÇARINOS – As duplas de dançarinos eram atrações muito populares nos teatros de vaudeville e floresceram nos anos dez até os meados dos anos vinte. Entre as mais famosas que tiveram alguma ligação com o cinema, estavam: Mae Murray e Clifton Webb, Vernon e Irene Castle e Fred e Adele Astaire. Antes de suas respectivas carreiras cinematográficas, Mae Murray e Clifton Webb circularam pelo vaudeville apresentando “Society Dances”. Cinco músicos negros acompanhavam o par enquanto eles dançavam “Brazilian Maxixe”, um tango intitulado “Cinquante Cinquante”, “Barcarole Waltz” e outros números. Clifton Webb (Webb Parmelee Hollenback, 1889 – 1966) nasceu em Indiana.

Em 1892, sua mãe, Mabel (ou “Mabelle”, depois que se separou do marido), mudou-se para Nova York com seu querido “pequeno Webb” , como ela o chamaria pelo resto de sua vida. Aos dezenove anos de idade, Clifton tornou-se dançarino profissional  de salão, muitas vezes fazendo dupla com Bonnie Glass. Ele trabalhou em operetas e estreou na Broadway em 1913 no musical The Purple Road. Nos anos seguintes, Clifton continuou atuando em musicais, revistas, operetas e no cinema mudo (National Red Cross Pageant / 1917, O Almofadinha e a Francesa / Polly with a Past / 1920; Abaixo o Divórcio / Let No Man Put Asunder / 1924; New Toys / 1924; Vencedora de Corações / The Heart of a Siren / 1925). Ele formou dupla também com Mary Hay, ex-corista do Ziegfeld Follies e esposa de Richard Barthelmess e dançou com a bailarina russa Tamara Geva nos musicais Three Is a Crowd e Flying Colors. Quando estava com cinquenta anos, Clifton foi escolhido pelo diretor Otto Preminger (contra as objeções do chefe de produção da 20th Century Fox, Darryl F. Zanuck, que o achava demasiadamente efeminado), para interpretar o papel do elegante colunista de rádio, Waldo Lydecker em Laura / Laura / 1944. Daí para diante, ele se dedicou mais uma vez ao cinema de Hollywood, onde construiu uma carreira de 27 filmes entre 1917 e 1962).

Mae (Marie Adrienne Koenig, 1889 – 1965) começou a atuar na Broadway em 1906 com o dançarino Vernon Castle. Em 1908, ela passou a ser corista do Ziegfeld Follies, alcançando uma posição de destaque em 1915. Mae se tornou uma grande estrela na Universal, contracenando com Rudolph Valentino em Nos Cabarés de Nova York / Delicious Little Devil / 1919 e Repudiada / Big Little Person / 1919. No auge de sua popularidade, ela fundou sua própria companhia de produção (Tiffany Productions) com seu marido, o diretor Robert Z. Leonard. O seu papel mais famoso foi o de Sally O’Hara em A Viúva Alegre / The Merry Widow / 1925, produzido pela MGM e dirigido por Erich von Stroheim, no qual John Gilbert foi o Príncipe Danilo. Sua filmografia inclui ao todo 41 filmes, realizados entre 1916 e 1931.


Vernon (William Vernon Blyth, 1887 – 1918) e Irene Castle (Irene Foote, 1893 – 1969) formaram uma dupla de marido-e-mulher dançarinos de salão do início do século vinte. Após seu casamento, Irene se juntou a Vernon em The Hen-Pecks (1911), uma produção na qual ele era a atração principal. Então viajaram juntos para Paris,  a fim de trabalhar em uma revista. O show ficou pouco tempo em cartaz mas o casal foi contratado para o Café de Paris. Interpretando as últimas novidades em matéria de música de ragtime, tais como o Turkey Trot e o Grizzly Bear, os Castles tornaram-se uma sensação na sociedade parisiense e seu sucesso repercutiu largamente nos Estados Unidos. Estreando em Nova York  em 1912, numa sucursal do Café de Paris, a dupla logo recebeu convites para atuar no palco, vaudeville e cinema. Eles também se tornaram importantes na Broadway. Entre seus shows estavam The Sunshine Girl (1913) e Watch Your Step ( 1914). Neste espetáculo, o casal aperfeiçoou e popularizou o Foxtrot.

Considerados modelos de classe e respeitabilidade, os Castle ajudaram a eliminar o estigma de vulgaridade do close-dancing. As performances dos Castles, geralmente embaladas pelo ragtime e ritmos de jazz, também popularizaram a música afro-americana entre as elites abastadas. O par estrelou um filme chamado The Whirl of Life / 1915  e, depois da morte de Vernon em um desastre de aviação e

1918, Irene fez vários filmes mudos: Patria / Patria (seriado) / 1917; Perdidos na Arcádia / Stranded in Arcady / 1917; A Marca de Caim / The Mark of Cain / 1917; A Mulher Polícia / Sylvia of the Secret Service / 197; Vingança / Vengeance is Mine / 1917; A Presa Evadida / Convict 993 / 1918; O Mistério de Hillcrest / The Hillcrest Mystery / 1918; O Cliente Misterioso / The Mysterious Client / 1918; A Lei da Conservacão / The First Law / 1918; Alma Boemia / The Girl from Bohemia / 1918; The Common Cause / 1919; Amor Rebelde / The Firing Line / 1919; Elo Invisível / The Invisible Bond / 1919; Miss Antique / The Amateur Wife / 1920; The Broadway Wife / 1921; Eu Te Quero, Eu Te Adoro / French Heels / 1920; É Proibido Passar? / No Tresspassing / 1922; Ombros de Mulher / Slim Shoulders / 1922. Em 1939, a vida de Vernon e Irene foi dramatizada em A História de Vernon e Irene Castle / The Story of Vernon and Irene Castle com Fred Astaire e Ginger Rogers.

O progenitor de Fred Astaire (Frederick Austerlitz, 1899 – 1987) e Adele Astaire (Adele Marie Austerlitz, 1896 – 1981), imigrante austríaco, filho de pais judeus que haviam se convertido ao catolicismo, emigrou para os Estados Unidos e foi trabalhar numa fábrica de cerveja em Omaha, Nebraska. Depois que Adele, desde cedo, se revelou uma dançarina e cantora instintiva, sua mãe sonhou em sair de Omaha, explorando o talento dos filhos num número-de-irmão-com-irmã, muito comum no vaudeville da época.

Quando o pai perdeu o emprego, a família foi para Nova York, a fim de lançar os filhos no mundo do espetáculo com o sobrenome de “Astaire”, porque “Austerlitz” soava como nome de batalha. O primeiro número dos irmãos intitulava-se Juvenile Artists Presenting an Electric Musical Toe-Dancing Novelty e estreou em New Jersey num pequeno teatro, “para testá-los”. Graças à habilidade de vendedor de seu pai, Fred e Adele rapidamente conseguiram ser incluídos no famoso Orpheum Circuit, que se estendia por todo o país. Os Astaires chegaram à Broadway em 1917 com Over the Top, uma revista patriótica e, ao assistirem The Passing Show (1918), os críticos reconheceram a arte de Fred Astaire e de sua parceira. Durante os anos vinte, Fred e Adele apresentaram-se na Broadway e nos palcos de Londres em shows como Lady Be Good (1924), Funny Face (1927) e, mais tarde, The Band Wagon (1931), conquistando o aplauso do público nos dois lados do Atlântico.

Após o término de Funny Face, os Astaires fizeram um teste em Hollywood na Paramount mas foram considerados inadequados para filmes. Os irmãos se separaram em 1932, quando Adele se casou com seu primeiro marido, Lord Charles Arthur Francis Cavendish, filho do Duke de Devonshire. Fred continuou sua carreira, obtendo sucesso sozinho na Broadway e em Londres com Gay Divorce enquanto recebia convites para o cinema. De acordo com o folclore de Hollywood, o resultado de um teste de Fred na RKO Radio Pictures dizia: “Can’t sing. Can’t act. Balding. Can dance a little”. Astaire insistiu depois que o relatório na realidade foi: “Can’t act. Slightly bald, Also dances”. Entretanto, isto não afetou os planos da RKO para o seu novo contratado. Em 1933, ele foi emprestado para MGM, onde ele estreou na tela dançando (como ele mesmo) com Joan Crawford em Amor de Dançarina / Dancing Lady e depois o estúdio o incluiu, ao lado de Ginger Rogers, no elenco de Voando para o Rio / Flying Down to Rio. Como se sabe, o duo Astaire-Rogers atingiu o estrelato, advindo seus célebres musicais na RKO entre os anos 1933 e 1939. De 1948 a 1957, deu-se a fase áurea de Fred na MGM.

JIMMY DURANTE (James Francis Durante, 1893-1980) – Filho de um camelô de parque de diversões, Jimmy foi apelidado de “Schnozzola” por causa de seu nariz enorme e bulboso. Aos dezesseis anos, ele iniciou sua  carreira no mundo do espetáculo tocando jazz ao piano nas boates do Bowery. Formando um trio com Lou Clayton e Eddie Jackson, Jimmy obteve grande sucesso nos circuitos de vaudeville e boates. Em 1928, eles se apresentaram no  teatro Palace de Nova York e, no ano seguinte, na Broadway, num show de Florenz Ziegfeld. Jimmy estreou no cinema em 1930 e assinou um contrato de cinco anos com a MGM. Durante os anos trinta, ele transitou entre Hollywood e a Broadway, conquistando muita popularidade tanto nos musicais do teatro como nos filmes. Mais tarde ele levaria seu emprego errôneo de palavras com efeito ridículo e sua voz  rouca de cantor para o rádio e para a televisão. Sua longa trajetória artística se estendeu até os anos setenta, quando  ainda era visto nos nightclubs de Las Vegas ou em especiais de TV,  acenando seu chapéu freneticamente e anunciando o final da sua apresentação com a frase que era sua marca registrada, “Goodnight Mrs. Calabash, wherever you are” (“Boa noite, Sra. Calabash, onde quer que você esteja”  – Calabash era o nome carinhoso com o qual se dirigia à sua falecida esposa).

Filmes: Repórter Audacioso / Roadhouse Nights / 1930; O Homem da Nota / New Adventures of Get-Rich-Kick- Wallingford / 1930; Melodia Cubana / The Cuban Love Song / 1931; Salve-se Quem Puder / The Passionate Plumber / 1932; E O Mundo Marcha / The Wet Parade / 31; Pernas de Perfil / Speak Easily / 1932; Princesa da Broadway / Blondie of the Follies / 1932; O Falso Presidente  / The Phantom President / 1932; Entre Secos e Molhados / What! No Beer? / 1933; Além do Inferno / Hell Below / 1933: Da Broadway a Hollywood / Broadway to Hollywood / 1933; Viva o Barão / Meet the Baron / 1933; Palooka / 1934; Escândalos da Broadway / George White’s Scandals / 1934; Festa de Hollywood / Hollywood Party / 1934; Dinamite … E Nada Mais / Strictly Dynamite / 1934; Ela e os Três Marujos / She Learned About Sailors / 1934; Folias de Estudantes  / Student Tour / 1934; Carnaval da Vida / Carnival / 1935; Três Moças Sabidas / Sally, Irene and Mary / 1938: Mocidade Gloriosa / Start Cheering / 1938; Miss Broadway / Little Miss Broadway / 1938; Land Without Music (Produção britânica exibida nos EE.UU. como Forbidden Music)/ 1938; Valentia Adquirida / Melody Ranch / 1940; Pode Ser ou Está Difícil? /You’re In the Army Now / 1941; Satã Janta Conosco / The Man Who Came to Dinner / 1942; Duas Garotas e um Marujo / Two Girls and a Sailor / 1944; Música para Milhões / Music for Millions / 1945; O Rouxinol Mentiroso / Two Sisters from Boston / 1946; Aconteceu Assim / It Happened in Brooklyn / 1947; Saudade de teus Lábios / This Time for Keeps / 1947; Numa Ilha com Você / On An Island With You / 1948; The Great Rupert / 1950; O Leiteiro / The Milk Man / 1950; O Prefeito se Diverte / Beau James (cameo) / 1957; Pepe / Pepe / 1960; Jumbo / Billie Rose’s Jumbo / 1962; Deu a Louca no Mundo / It’s a Mad, Mad, Mad, Mad World / 1963.

JULIAN ELTINGE (William Julian Eltinge, 1883 – 1941) – Julian foi um dos transformistas mais famosos de todos os tempos, cognominado por sua beleza o  “Mr. Lillian Russell de nosso tempo”. Ele se vestiu pela primeira vez de mulher aos dez anos de idade, quando surgiu na Boston Cadets Revue no Tremont Theater em Boston. Julian chamou a atenção de vários empresários teatrais e logo já estava trabalhando em pequenas produções através do país. A maior chance de Eltinge ocorreu em 1904, quando ele se apresentou em Mr. Wix of Wickham, comédia musical com música de Jerome Kern, que ajudou a firmar sua reputação como artista. Eltinge começou a  atuar no vaudeville, excursionando em 1906 pela Europa e Estados Unidos, apresentando-se inclusive diante do Rei Edward VII em Londres.

Em 1907, ele  fez a sua estréia em Nova York no Alhambra Theater, obtendo o louvor da crítica. Numa entrevista concedida em 1909, Eltinge explicou que levava duas horas para se transformar num mulher com a ajuda de seu camareiro japonês, Shima e que, dessas duas horas, uma era dedicada à maquilagem. Em 1911, The Fascinating Widow estreou no Liberty Theatre. Tal como em futuras peças e filmes, Julian Eltinge fazia um papel duplo: o de Mrs. Monte e o de Hal Blake. Ele era Hal Blake, que se disfarçava de “Mrs. Monte”, numa trama parecida com a de Charley’s Aunt (A Tia de Carlito). O êxito deste espetáculo levou o produtor A. H. Woods a inaugurar o Eltinge Theatre em Nova York – uma das maiores honrarias que um ator poderia receber. Eltinge fez mais duas comédias, Crinoline Girl e Cousin Lucy, que seriam ambas filmadas no cinema mudo em 1914. Em 1915, ele apareceu numa ponta no filme How Molly Malone Made Good e, finalmente, obteve seu primeiro sucesso cinematográfico com

A Tentadora Condessa / The Countess Charming. Estabelecendo-se em Hollywood, Eltinge fez outros filmes entre os quais A Ilha do Amor / An Adventuress com Rudolph Valentino e Virginia Rappe. Quando Eltinge chegou à Terra do Cinema, ele era um dos artistas mais bem pagos do teatro americano; mas com a Grande Depressão e a morte do vaudeville, a estrela de Eltinge começou a perder o brilho. Ele continuou a mostrar seu show em boates porém teve pouco êxito. Ao contrário de muitos números de female impersonation, ele não apresentava uma caricatura das mulheres mas a ilusão de realmente ser uma mulher. Ele se anunciava simplesmente como “Eltinge”, o que deixava seu sexo desconhecido e, na conclusão de sua performance, retirava a peruca, revelando a sua verdadeira natureza para surpresa da platéia. As mulheres ficavam tão encantadas com suas performances, que ele criou o Eltinge Magazine, para lhes dar conselhos sobre beleza e moda. Em 1920, Eltinge estava muito rico e vivendo numa das mais luxuosas mansões do Sul da Califórnia, “Villa Capistrano”. À parte a graciosa feminilidade que ele exibia no palco, Eltinge usava uma fachada super-masculina em público, para combater os rumores  de sua homossexualidade. Esta fachada incluía brigas de bar, compromissos com mulheres (embora ele nunca tivesse se casado), ataques físicos aos operários cênicos, espectadores e outras pessoas que fizessem comentários sobre sua sexualidade. Sua dualidade sexual gerou a criação do termo “ambisextruous” para descrevê-lo.

Filmes: Crinoline Girl / 1914; Cousin Lucy / 1914; How Molly Malone Made Good (cameo) / 1915; A Tentadora Condessa / The Countess Charming / 1917; Mme. Carfax / The Clever Mrs. Carfax / 1917; O Poder da Viúva / The Widow’s Night / 1918; Princess Martini / 1918; A Ilha do Amores / An Adventuress / 1920 (também conhecido como Over the Rhine e The Isle of Love); Madame Charleston  / Madame Behave / 1925; The Fascinating Widow / 1925; The Voice of Hollywood nº 3 (short); Intrigas do Sexo / Maid to Order / 1931; Se Fosse Eu / If I Had My Way / 1940.