Por muitos anos o vaudeville foi a forma de entretenimento mais popular nos Estados Unidos. No final do século dezenove, o termo vaudeville designava uma série de oito a dez números de variedades, sem nenhuma relação narrativa ou temática entre eles, que se sucediam continuamente no palco, tais como cantores, comediantes, músicos, dançarinos, animais adestrados, transformistas, acrobatas, equilibristas, “mentalistas” (transmissão de pensamento), mágicos, “playlets” (cenas de peças de teatro populares na época), declamações, etc.
Esta forma de diversão tinha muitos parentes próximos ou distantes na família das variedades a saber: o medicine show, pequena trupe itinerante cujas performances serviam principalmente para anunciar remédios “milagrosos” de curandeiros; o circo, com sua ênfase nos palhaços, acrobatas e animais adestrados; o dime museum, precursor do sideshow, expondo criaturas deformadas e aberrações da natureza; o minstrel show, revista musical com números apresentados por atores brancos maquilados de negros tocando banjo, pandeiro e castanholas, intercalados por diálogos cômicos; o music hall inglês; e o chautauqua, espécie de espetáculo de variedades intelectual, combinando palestras, poesia, recitais de música e um humor mais refinado.
O programa do vaudeville era dividido em duas partes com um intervalo no meio. O ator principal (headliner) sempre aparecia no número imediatamente anterior ao intervalo e no penúltimo número do programa. O espetáculo abria com um “dumb act”, normalmente um animal adestrado ou um acrobata. “Dumb” (mudo, silencioso) não se referia à qualidade do número mas ao fato de que ele não dependia de som e, portanto, era apropriado para ser usado como número de abertura ou de encerramento, quando os espectadores estavam entrando ou saindo ruidosamente do teatro. O “dumb act” de encerramento era chamado de “chaser”, porque tinha o objetivo de “expulsar” os espectadores, a fim de que desocupassem seus lugares para novos fregueses.
Os filmes curtos (aproximadamente de dez minutos), exibidos pelos primeiros projetores (Vitascópio, Cinematógrafo), inicialmente serviam como “chasers” na vasta rede de teatros de vaudeville do país, pertencentes a empreendedores como Antonio “Tony” Pastor (“O Pai do Vaudeville”), Benjamin Franklin Keith (B.F. Keith), Edward Franklin Albee, Frederick Freeman (“F.F.”) Proctor, Henry Miner, Oscar Hammerstein, Sylvester Poli, Percy Williams, John W. Considine, Pericles Pantages, C. E. Kohl e George Castle, John Koster e Adam Bial, Morris Meyerfeld, Martin Beck, etc. O Vitascópio estreou no dia 23 de abril de 1896 no Koster’s and Bial’s Music Hall e o cinematógrafo no Keith’s Union Square Theatre no dia 29 de junho do mesmo ano. Os principais teatros de vaudeville eram o Palace Theatre, o Victoria, o Hippodrome, o Colonial e o Alhambra.
Para manter seus teatros lotados, os ditos empresários procuravam sempre novos números, notadamente espetáculos visuais tais como marionetes, projeção de sombras feitas com a mão, living pictures (modelos imóveis em poses recriando quadros ou estátuas famosos) e apresentações de lanterna mágica. A projeção de filmes foi a última novidade a ser mostrada num palco como espetáculo visual.
Em 1905, surgiram os primeiros cinemas (store front theatres ou nickelodeons), que se tornaram os locais predominantes de exibição de filmes e assim permaneceram até o início dos anos dez, quando começaram a ser construídos os grandes cinemas (movie palaces). Quatro dos maiores estúdios de Holywood – Loew’s (MGM), Paramount, Fox e RKO – tinham laços históricos com a indústria do vaudeville. Marcus Loew, Adolph Zukor e William Fox possuiram uma cadeia de teatros de vaudeville e a RKO foi criada pela fusão da Radio Pictures com os circuitos de vaudeville Keith (Keith / Albee) e Orpheum (Meyerfeld / Beck).
Inspiradas pelo êxito do vaudeville, outras formas de competição ao vivo emergiram no século vinte. Os produtores da Broadway e os donos de buates atraíram alguns dos melhores artistas do vaudeville, oferecendo-lhes altos salários. O pioneiro neste campo foi Florenz Ziegfeld, cujo Follies foi inaugurado em 1907. O Follies combinou elementos do vaudeville e do teatro burlesco ( lindas garotas despidas) e os envolveu com o luxo dos espetáculos musicais da Broadway; porém Ziegfeld não foi o único empresário de revistas. Outros surgiram através dos tempos: a série Passing Show apresentada pelos Shuberts, George White’s Scandals, Earl Carrol’s Vanities, Greenwich Village Follies, Music Box Revues, etc.
Alguns artistas continuaram a atuar ao mesmo tempo no vaudeville e nas revistas (vg. as cantoras Nora Bayes, Belle Baker, Eva Tanguay, Ruth Etting) mas muitos disseram adeus aos circuitos de vaudeville, trocando-os pelo maior prestígio e remuneração que teriam nos palcos do teatro de revista. Entre os artistas que deram esse salto estavam Leon Errol, Bert Williams, Ed Wynn, W.C. Fields, Will Rogers e Eddie Cantor. Outros artistas abandonariam os circuitos de vaudeville para estrelar musicais da Broadway (vg. George M. Cohan, Al Jolson, Vernon e Irene Castle, Fred e Adele Astaire) ou atuar em shows de cabaré ou em speakeasies, buates que vendiam bebidas ilegais durante a Depressão (vg. Jimmy Durante, Texas Guinan, Helen Morgan).
Nos meados dos anos dez, alguns desenvolvimentos no mundo cinematográfico tiveram um impacto profundo sobre o vaudeville. Em 1912, Mack Sennett contratou alguns pequenos artistas do vaudeville para as suas comédias Keystone, entre eles, Fred Mace, Ford Serling e Roscoe “Fatty” Arbuckle. Quando Sennett arrebatou Charles Chaplin da trupe de Fred Karno em 1913 e ele se tornou uma sensação da noite para o dia, um grupo de talentosos vaudevillians como W.C. Fields, Buster Keaton, Larry Semon, Will Rogers, Harry Houdini, Bert Williams, Weber e Fields, Eddie Foy, Moran e Mack, as Irmãs Duncan, as Irmãs Dolly, etc. – trilharam o caminho para Hollywood.
Mais devastadora para a indústria do vaudeville foi o incremento do filme de longa-metragem. Um por um, os teatros de vaudeville se transformaram em cinemas. Estes ainda incluíam alguns números de vaudeville no programa mas não havia muito espaço para artistas ao vivo em torno de um filme de longa-metragem.
Em 1919 existiam cerca de mil teatros de vaudeville nos Estados Unidos. Em 1921 estimava-se que um quarto dos teatros que haviam oferecido tanto filmes como vaudeville deixaram de apresentar os espetáculos de vaudeville. A nova moda passou a ser as “presentation houses” – grandes cinemas que também ofereciam entretenimento ao vivo, tais como grandes orquestras e números de comédia popular. Estes cinemas eram enormes: o Roxy tinha 6.200 lugares, o Capitol tinha 5.300 lugares; o Loew’s State, tinha 3.500 lugares, o Rivoli tinha 2.100 lugares, destacando-se também o Rialto, Paramount e Strand.
Em 1926, uma nova audiência nacional para o vaudeville acabara de ser forjada: o rádio. Três milhões de lares americanos já possuíam aparelhos de rádio em 1927. No final dos anos 30, o número havia aumentado dez vezes. Astros do vaudeville como Eddie Cantor, Burns e Allen, Fred Allen, Jack Benny, Ed Wynn, Fanny Brice, Edgar Bergen e todos os grandes chefes de orquestra da época tornaram-se grandes astros do rádio.
O advento do som deu o golpe de misericórdia no vaudeville. A Warner Bros. adotou o sistema de som-em-disco Vitafone e em 1927, foi lançado o primeiro filme parcialmente falado, O Cantor de Jazz / The Jazz Singer, estrelado por Al Jolson. A partir daí, todos os grandes cantores e comediantes do vaudeville começaram a fazer Vitaphone shorts (ironicamente, a Warner foi o único dos cinco grandes estúdios de Hollywood que não havia sido criado por antigos empresários do vaudeville).
Houve duas razões para a invasão dos artistas de vaudeville no cinema: primeiro, porque oferecia às celebridades do cinema uma oportunidade de provar aos donos de seus estúdios que eles podiam falar, cantar e dançar, provando assim que estavam aptos para trabalhar nos talkies; segundo, porque era um meio de reativar uma carreira em declínio ou, em muitos casos, condenada à extinção.
Mesmo antes da estréia de O Cantor de Jazz um ou outro astro do cinema mudo havia experimentado atuar no vaudeville. Conforme Anthony Slide (The Vaudevillians, Arlington House, 1981), em dezembro de 1914, Crane Wilbur que havia sido o parceiro da Rainha do Seriado, Pearl White, apareceu no palco do Teatro Poli em Springfield. Francis X. Bushman e Beverly Bayne, par romântico dos anos dez, apareceu em um esquete cômico, “Poor Rich Man”, no Palace, em fevereiro de 1921. Henry B. Walthall, um dos atores de O Nascimento de uma Nação / The Birth of a Nation, fez sua estréia no vaudeville no Hill Street Theatre em Los Angeles em maio de 1922 em um playlet de vinte minutos, “The Unknown. Dorothy Gish recusou uma proposta para aparecer no vaudeville em 1921 porém Bebe Daniels, uma grande estrela da Paramount, participou de espetáculos de vaudeville em Buffalo e Detroit no verão de 1923. Betty Blythe, cuja carreira cinematográfica estava quase em decadência, era a primeira atração do Palace em agosto de 1926. Esses são apenas alguns exemplos, pois Slide cita ainda as experiências no vaudeville, algumas frustradas, como a de Anita Stewart, Bryant Washburn, Anna May Wong, Helen Holmes e outras bem sucedidas, como as de Ruth Roland, Tom Mix, Ricardo Cortez.
Por volta de 1929, os maiores artistas do vaudeville como os Irmãos Marx, Joe E. Brown e Eddie Cantor estavam fazendo filmes sonoros. Logo, eles seriam acompanhados nas telas por Bill Robinson, Will Rogers, Os Três Patetas, Wheeler e Woolsey, Mae West, os Ritz Brothers e muitos outros.
Durante os anos 30 e 40, Hollywood produziu inúmeros “revue films” (filmes revista), entremeados de números de vaudeville, criados especificamente para o cinema. Entre eles posso apontar: a série Gold Diggers (Mordedoras / The Gold Diggers of Broadway / 1929, Cavadoras de Ouro / The Gold Diggers of 1933 / 1933; Mordedoras de 1935 / The Gold Diggers of 1935 / 1935, Cavadoras de Ouro de 1937 / The Gold Diggers of 1937 / 1936; Cavadoras em Paris / The Gold Diggers in Paris / 1938); Follies / Fox Follies of 1929; a série Broadway Melody (Broadway Melody / The Broadway Melody / 1929, Broadway Melody de 1936 / Broadway Melody of 1936 / 1935; Broadway Melody de 1940 / Broadway Melody of 1940 / 1940; a série The Big Broadcast (Ondas Musicais / The Big Broadcast / 1932 / 1932; Ondas Sonoras de 1936 / The Big Broadcast of 1936 / 1935 ; Ondas Sonoras de 1937 / The Big Broadcast of 1937 / 1936; Folia a Bordo / The Big Broadcast of 1938); a série George White’s Scandals (Escândalos da Broadway / George White Scandals of 1934 / 1934; Escândalos da Broadway de 1935 / George White Scandals of 1935 (reintitulado George White’s 1935 Scandals) / 1935; Turbilhão de Melodias / George White Scandals of 1945 / 1945; Hollywood Revue / The Hollywood Revue of 1929; Torre de Babel / International House /1933, Noivas de Tio Sam / Stage Door Canteen /1943 e outros.
Foram feitas também várias cinebiografias de artistas do vaudeville: A História de Vernon e Irene Castle / The Story of Vernon and Irene Castle / 1939; A Bela Lillian Russell / Lillian Russel / 1940; A Canção da Vitória / Yankee Doodle Dandy / 1942 (George M. Cohan); Melodia de Amor / Shine on Harvest Moon / 1944 (Nora Baynes); As Irmãs Dolly / The Dolly Sisters / 1945; Chispa de Fogo / Incendiary Blonde / 1945 (Texas Guinan); Sonhos Dourados / The Jolson Story / 1946 e O Trovador Inolvidável / Jolson Sings Again / 1949; A História de Will Rogers / The Story of Will Rogers / 1952; A Louca Aventura / The I Don’t Care Girl / 1953 (Eva Tanguay); Nas Asas da Fama / The Eddie Cantor Story / 1953; Houdini – O Homem Miraculoso / Houdini / 1953; Ama-me ou Esquece-me / Love me or Leave me / 1955 (Ruth Etting), Um Coringa e Sete Ases / The Seven Little Foys / 1955 (Eddie Foy); Com Lágrimas na Voz / The Helen Morgan Story / 1957; O Palhaço que não Ri / The Buster Keaton Story / 1957; Funny Girl – A Garota Genial / Funny Girl / 1968 (Fanny Brice); Frenesí de Glória / W.C. Fields and Me / 1976, etc.
Alguns historiadores afirmam que o espetáculo de vaudeville derradeiro teve lugar no Loew’s State em 1947 mas sabe-se que o Palace Theater (conhecido como o “Valhalha do Vaudeville’) voltou a adotar a política de intercalar vaudeville com filmes de Hollywood de 1949 a 1957. Houve também outros esforços para “reavivar” o vaudeville como o do colunista Walter Winchell. Ele foi responsável pelo sucesso de Hellzapoppin, um espetáculo que havia sido criticado acerbamente pelos comentaristas de Nova York. Esta revista absurda, protagonizada pela dupla Olsen e Johnson, estreou em 1938 e foi um sucesso de público extraordinário. Transposta para a tela em 1941, recebeu no Brasil o título de Pandemônio.
No final dos anos 30, sob o governo do Presidente Roosevelt, o Federal Theatre Project, uma divisão da Works Progress Administration, tinha uma unidade de vaudeville. Durante a Segunda Guerra Mundial, a United Service Organization (USO) usou os serviços de muitos artistas de vaudeville (Joe E. Brown e Bob Hope foram os que mais se destacaram neste serviço) para divertir os pracinhas no exterior. Na frente doméstica, a USO utilizou-os na Hollywood Canteen, onde toda noite uma grande orquestra tocava e os homens de uniforme podiam dançar com as estrelas glamourosas, que também serviam as mesas e lavavam os pratos. Hotéis de veraneio em Catskill Mountains, Miami, Atlantic City e Las Vegas, buates e parques de diversão continuaram a programar talentos ao vivo. E, finalmente, pouco após a apresentação do último show de vaudeville no Loew’s Theater em 1947, o Variety publicou um anúncio dizendo: “Vaudeville is Back! The Golden Era of Variety begins with the Premiere of Texaco Star Theatre on Television”(O Vaudeville está de Volta! A Era do Teatro de Variedades começa com a Estréia do Texaco Star Theatre na Televisão).
Segundo Trav S.D. (No Applause – Just Throw Money, Faber and Faber, 2005), o programa citado, de Milton Berle, foi acompanhado naquele mesmo ano pelo programa de Ed Sullivan, Toast of the Town; no ano seguinte acompanhado por The Admiral Broadway Revue, estrelado por Sid Caesar e por Cavalcade of Stars, liderado primeiramente por Jack Carter e mais tarde por Jackie Gleason. Em 1950, estrearam The Ken Murray Show, The Colgate Comedy Hour (com convidados como Eddie Cantor, Bob Hope, e Jimmy Durante) e The Four Star Revue (com Durante, Ed Wynn, Danny Thomas e Jack Carson alternando como anfitriões). O Red Skelton Show foi lançado em 1951 e o Red Buttons Show, em 1952. The Tonight Show, conduzido por Steve Allen começou em 1954. Em 1964, um variety show chamado The Hollywood Palace, especificamente modelado no velho formato do vaudeville, teve início na ABC e se manteve em boa posição nas pesquisas de audiência até seu desaparecimento em 1970. Bob Hope e Jack Benny fizeram inúmeros “especiais” de televisão com o formato de variedades. Groucho Marx e Fred Allen tinham seus próprios quiz shows (programas de perguntas), You Bet Your Life e What’s My Line? respectivamente.
Nos verbetes que se seguem, descrevo sucintamente (neste e nos próximos artigos) alguns dos principais artistas de vaudeville americanos, que tiveram alguma ligação com o cinema:
FRED ALLEN (John Florence Sullivan, 1894-1956) – Estreou no vaudeville no início de 1910 como equilibrista e ventríloquo Em 1922, ainda no vaudeville, tornou-se uma atração principal como comediante e depois foi para o Teatro de Revista. Posteriormente, tornou-se muito conhecido no rádio com o “The Fred Allen Show” (1939-1949) e, finalmente, aderiu à televisão, integrando o painel do programa, ”What’s My Line”. Sua mulher, Portland Hoffa, foi sua parceira no vaudeville e no rádio durante muitos anos. Filmes: Mil Vezes Obrigado / Thanks a Million / 1935; Três Moças Sabidas / Sally, Irene and Mary / 1938; Dois Bicudos não se Beijam / Love Thy Neighbour / 1941; Está no Papo / It’s in the Bag / 1945; Travessuras de Casados / We’re Not Married / 1952; Páginas da Vida / O Henry’s Full House / 1953.
BELLE BAKER (Bella Baker, 1895-1957) – foi uma das grandes cantoras do vaudeville, onde estreou em 1911 e manteve uma amizade com Irving Berlin, que escreveu várias canções para ela. Em 1926, Belle integrou o elenco de uma revista de Florenz Ziegfeld, “Betsy”, que, no entanto, ficou pouquíssimo tempo em cartaz. Em 1929, entrou no elenco de uma produção da Columbia intitulada The Song of Love e, mais tarde, participaria de um outro filme, Atlantic City / Atlantic City / 1944. Belle voltou ao vaudeville em 1932, quando apresentou um de seus maiores êxitos: “All of Me”. Em 1934 ela foi atração principal ao lado de Beatrice Lillie num espetáculo no London Palladium e participou de um filme inglês, Charing Cross Road, lançado no ano seguinte. Em 1936, Belle estreou na boate Versailles Club de Nova York (depois de ter trabalhado em Londres no Kit Kat e no Café de Paris). Suas aparições no palco diminuiram nos anos quarenta e ela fez sua última aparição em público em 1950.
BARBETTE (Vander Clyde, 1904-1973) – Como transformista, Barbette era único, porque aparecia como uma extraordinária mulher trapezista, eletrizando as platéias do vaudeville dos anos dez e deliciando a sociedade parisiense nos anos vinte. Aos quatorze anos de idade, Vander Clyde respondeu um anúncio colocado por uma das Alfaretta Sisters, que eram conhecidas como “Word Famous Aerial Queens”. Uma das irmãs havia falecido e a outra estava procurando um parceiro. Ela explicou ao rapaz que o público ficava mais impressionado com mulheres trapezistas e sugeriu que ele se vestisse como uma moça. Aos poucos, Barbette desenvolveu um número sozinho e logo se tornou uma grande atração. Em 1923, apresentou-se no casino de Paris e foi o sucesso da noite, aparecendo num vestido branco coberto de penas de avestruz e terminando seu número com um “chute d’ange” do trapézio para o tapete branco do palco. Quando ele tirou sua peruca e tomou a posição de um pugilista profissional, a platéia ficou enlouquecida. Nos anos seguintes, Barbette foi um dos astros mais populares do cabaré na França. Seu amigo, Jean Cocteau, disse: ”Ele é um anjo, uma flor, um pássaro”. Em 1930, o cineasta colocou Barbette travestido no seu filme Le Sang d’un Poete. O filme de Hitchcock, Murder! / 1930, apresenta um trapezista homossexual transformista como o assassino e não resta dúvida de que este personagem foi baseado em Barbette.
NORA BAYES (Eleanor ou Leonora Goldberg, 1880-1928). Ninguém era capaz de dramatizar uma canção como ela. Nora foi um dos grandes nomes do vaudeville no mesmo nível de Elsie Janis e Eva Tanguay. Ela trabalhou também sob contrato de Florenz Ziegfeld no Follies de 1908 juntamente com seu marido, o compositor Jack Norworth, e em outras revistas musicais. A vida do casal foi filmada em 1944 pela Warner sob o título de Melodia do Amor / Shine on Harvest Moon com Ann Sheridan e Dennis Morgan. Após seu divórcio de Norworth, Nora voltou para o vaudeville, sendo anunciada como “The Greatest Single Woman Singing Comedienne in the World”. Durante a Primeira Guerra Mundial, ela divertiu as tropas e lançou em 1917 a canção mais famosa de tempo de guerra, “Over There”, de autoria de George M. Cohan.
JACK BENNY (Benjamin Kubelski, 1894-1974) – Célebre comediante do rádio, da TV e, ocasionalmente, do cinema. Seu inimitável olhar repreensivo e seu violino odioso, seu timing perfeito e o uso supremo da pausa para arrancar risadas, mantiveram sua popularidade intacta por muitos anos. Benny começou no vaudeville fazendo dupla com Cora Salisbury: ela tocava piano e ele violino e seu número era anunciado como “From Grand Opera to Ragtime”. Quando a America entrou na Primeira Guerra Mundial ele se alistou na Marinha e alí descobriu seu talento para a comédia, divertindo as tropas com solos de violino entremeados com piadas. Depois da guerra, Benny retornou ao vaudeville sozinho, chamando-se inicialmente Ben K. Benny; mas depois mudou de nome. Além do vaudeville, Jack Benny trabalhou em buates e na revista Earl Carroll’s Vanities. Em 1927, ele se agrupou com um grupo musical chamado The New Yorkers e depois retornou ao vaudeville. Seu programa de rádio, “The Jack Benny Program”, entrou no ar em 1 de outubro de 1944. Em poucos anos alguns artistas se tornaram familiares no seu programa: o locutor Don Wilson, Eddie Anderson como Rochester, o cantor Dennis Day, o chefe de orquestra Phil Harris, Mel Blanc (conhecido por ter emprestado a voz para o Coelho Pernalonga / Bugs Bunny e do Picapau / Woody Woodpecker) e a mulher de Benny, Mary Livingstone. O “Jack Benny Program” passou para a televisão e ficou no ar de 1950 a 1965. Filmes: Hollywood Revue of 1929 / 1929; No Mundo da Lua / Chasing Rainbows / 1930; Medicine Man / 1930; Folias Transatlânticas / Transatlantic Merry-Go-Round /1934; Broadway Melody de 1936 / Broadway Melody of 1936 / 1935; Dois Águias em Vôo / It’s in the Air/ 1935; Ondas Sonoras de 1937 / The Big Broadcast of 1937/ 1936; Alegria à Solta College Holiday / 1936; Artistas e Modelos / Artists and Models / 1937; No Turbilhão Parisiense / Artists and Models Abroad / 1938; O Terror dos Maridos / Man About Town / 1939; Romeu a Cavalo / Buck Benny Rides Again / 1939; Dois Bicudos não se Beijam / Love Thy Neighbour / 1940; A Tia de Carlito / Charley’s Aunt / 1941; Ser ou Não Ser /To Be or Not To Be / 1942; Mania de Antiguidades / George Washington Slept Here / 1942; O Maior Sovina do Mundo / The Meanest Man in the World / 1943; Um Sonho em Hollywood / Hollywood Canteen / 1944; Está no Papo / It’s in the Bag / 1945; The Horn Blows at Midnight / 1945; Diário de um Homem Casado / A Guide for the Married Man / 1967. Cameos em: Romance e Fantasia / Without Reservations / 1945; O Prefeito se Diverte / Beau James / 1957; Deu a Louca no Mundo / It’s a Mad, Mad, Mad, Mad World / 1963.
EDGAR BERGEN (Edgar Breggen, 1903-1978). Americano de origem sueca, Bergen divertiu o público com os seus bonecos Charlie McCarthy e Mortimer Snerd, que eram seus alter egos. Quando ele fazia seu número de ventríloquo as pessoas se encantavam com o seu humor gentil e se esqueciam de que seus lábios se moviam. Em 1930, Bergen e Charlie fizeram a sua primeira aparição numa série de filmes curtos da Vitafone porém a grande chance para a dupla chegou em 1936, quando eles apareceram como convidados no programa de rádio de Rudy Vallee. Em 1937 Bergen e Charlie iniciaram o seu próprio programa radiofônico, que ficou no ar pelos próximos vinte anos. No rádio, Bergen introduziu outros bonecos como Effie Klinger; Ophelia; Maisie e Matilda; Podine Puffington; Lars Lindquist; e Gloria Graham. Depois de participar de vários filmes, inclusive como coadjuvante sem o boneco, Bergen anunciou seu afastamento do show business e que Charlie McCarthy seria legado ao Smithsonian Institution. Charlie retrucou: “Bem, pelo menos eu não serei o único boneco em Washington”. Filmes: Goldwyn Follies / The Goldwyn Follies / 1938; Um Dia de Promessa / Letter of Introduction / 1938; Quem Mal Anda, Mal Acaba / You Can’t Cheat an Honest Man / 1939; Charlie McCarthy Detetive / Charlie McCarthy Detective / 1939; Quem Se Ri Por Último / Look Who’s Laughing / 1941; Ursadas e Peruadas / Here We Go Again / 1942; Noivas de Tio Sam / Stage Door Canteen / 1943; Viva a Juventude / Song of the Open Road / 1944; Pongo / Fun and Fancy Free / 1947; A Vida de um Sonho / I Remember Mama / 1948; Capitão China / Captain China / 1949; One – Way Wahine / 1966; Não Faça Onda / Don’t Make Waves / 1967. Cameos: Conjunto de Espiões / The Phynx / 1970; Won-Ton-Ton o C Won Ton Ton – The Dog That Saved Hollywood / 19 76; The Muppet Movie / 1979.
MILTON BERLE (Milton Berlinger, 1908- 2002) – Berle entrou para o vaudeville ainda criança e teve sua grande chance na nova montagem de “Florodora” como parte de um Baby Sextette, seis meninos e meninas que cantavam a canção de sucesso do espetáculo, “Tell Me Pretty Maiden”. Em 1921, ele formou uma dupla com Elizabeth Kennedy em um número de vaudeville intitulado Kennedy e Berle Berle estreou sozinho em 1924 e foi adquirindo popularidade, passando depois a atuar em boates, onde suas piadas eram ajustadas deliberadamente para insultar os fregueses. Por exemplo, ele se dirigia a um dos frequentadores do local e dizia: “Oh, temos novidade; o senhor está acompanhado de sua esposa”. No rádio, ele ficou no ar de 1934 a 1948. Seu programa mais conhecido foi a série “Let Yourself Go”, que encorajava o ouvinte a fazer exatamente aquilo e a expressar seus desejos secretos. Berle esteve nas telas desde o cinema mudo, fazendo “pontas” no seriado de Pearl White, The Perils of Pauline e em outros filmes rodados em Fort Lee, New Jersey. Porém o seu maior êxito foi na televisão no “The Texaco Star Theater”, que depois se chamou “The Milton Berle Show” e assim continuou até 1956, quando foi cancelado. Ele praticamente dominou a televisão entre 1948 e 1956 a ponto de ser nomeado “Mr. Television” ou, mais afetuosamente, “Tio Miltie”. Filmes sonoros: Caras Novas de 1937 / New Faces of 1937; Folias de Radio City / Radio City Revels / 1938; Alto, Moreno e Simpático / Tall, Dark and Handsome / 1941; Quero Casar-me Contigo / Sun Valley Serenade / 1941; O Bamba da Pelota / Rise and Shine / 1941; Um Blefe Formidável / A Gentleman at Heart / 1942; Veleiro Fantasma / Whispering Ghosts / 1942; Over My Dead Body / 1942; Um Pequeno Erro / Margin for Error / 1943; O Mundo de um Palhaço / Always Leave Them Laughing / 1949; Deu a Louca no Mundo / It’s a Mad, Mad, Mad., Mad World / 1963; Confidências de Hollywood / The Oscar / 1965; O Ente Querido / The Loved One / 1965; Don’t Worry We’ll Think of a Title / 1966; Acontece Cada Coisa / The Happening / 1967; Quem está Guardando esta Erva? / Who’s Minding the Mint? / 1967; For Singles Only / 1968; Can Heironymous Merkin Ever Forget Mercy Humppe and Find True Happinness? / 1969; Regresso ao Mundo Maravilhoso de Oz / Journey Back to Oz (somente a voz do Leão Covarde) / 1974; Lepke / Lepke / 1975; Won Ton Ton – O Cachorro Que Salvou Hollywood / Won Ton Ton – The Dog That Saved Hollywood / 1976; O Mundo Mágico dos Muppets / /The Muppet Movie / 1980; Broadway Danny Rose / Broadway Danny Rose / 1984; As Loucuras de Jerry Lewis / Smorgasbord / 1985; Driving me Crazy / 1992; Storybook / 1996.
FANNY BRICE (Fannie Borach, 1891-1951). Fanny ficava sempre à vontade tanto interpretando canções cômicas como letras de música trágicas. Ela era uma grande cantora de fossa, como ficou evidenciado na interpretação de sua canção mais famosa, “My Man”. Magra e comprida, com olhos em forma de meia lua e um nariz de papagaio, sorriso largo e forte sotaque yddish, a popular artista era muito engraçada, principalmente quando compunha o tipo de uma vamp cinematográfica ou de uma madame da alta sociedade. Depois de se apresentar como amadora num teatro do Brooklyn, cantando – com lágrimas de emoção – “You Know You’re Not Forgotten by the Girl You Can’t Forget”, Fanny fez um teste com George M. Cohan mas foi reprovada porque não sabia dançar. Ela então excursionou com uma companhia de teatro burlesco, até ser vista por Florenz Ziegfeld, que estava escolhendo o elenco de sua Follies de 1910. Quando o espetáculo estreou no New York Theatre em 20 de junho de 1910, inquestionavelmente uma estrela acabara de nascer. Ziegfeld colocou Fanny como atração principal de sua Follies de 1911, 1916, 1917, 1920, 1921 e 1923 mas o célebre show man nunca lhe deu oportunidade de fazer outra coisa senão comédia. Depois ela foi estrela na “Music Box Revue”(1924-1925) e em peças da Broadway. Fanny se tornou uma favorita do público também no vaudeville. Ela estreou no Palace em fevereiro de 1914 e seria uma artista habitual no gênero pelos próximos vinte anos. Um primeiro casamento, quando ela era ainda adolescente com Grant White logo se dissolveu tal como seu segundo matrimônio, em 1918, com o jogador Nick Arnstein (que inspirou a canção “My Man”).
Em 1930, Fanny casou-se com Billy Rose porém divorciou-se dele oito anos depois. A caracterização mais famosa de Fanny Brice foi a de Baby Snooks. A personagem apareceu pela primeira vez no rádio em 29 de fevereiro de 1936 e continuou no ar intermitentemente até a sua morte. Suas aparições no cinema foram poucas: My Man / 1928; Night Club / 1929 (curta-metragem); Astúcia Feminina / Be Yourself / 1930; Ziegfeld, o Criador de Estrelas / The Great Ziegfeld / 1936; Diabinho de Saias / Everybody Sing / 1938; Ziegfeld Follies / Ziegfeld Follies / 1945.
A história de sua vida foi o tema de um musical da Broadway e do filme Funny Girl – A Garota Genial / Funny Girl / /1968 e de sua continuação, Funny Lady / Funny Lady / 1975, ambos com Barbra Streisand. Referências ligeiramente disfarçadas sobre sua intimidade foram também feitas em Luzes da Broadway / Broadway Thru a Keyhole / 1933 com Constance Cummings e O Meu Amado / Rose of Washington Square / 1939 com Alice Faye.