DESENHOS ANIMADOS DE PROPAGANDA AMERICANOS DURANTE A 2ª GUERRA MUNDIAL
dezembro 10, 2011No dia do ataque japonês a Pearl Harbor, 7 de dezembro de 1941, o Exército se instalou no estúdio de Walt Disney. Como era domingo, Walt ouviu as notícias sobre o ataque pelo rádio e depois recebeu um telefonema do gerente do estúdio, avisando-o de que soldados armados haviam entrado no terreno de Burbank. Sua tarefa era construir uma bateria anti-aérea, para proteger a fábrica da Lockheed, que ficava perto e fabricava aviões para as forças armadas. Logo, caminhões do exército entraram no terreno, a camuflagem foi estendida em torno dos prédios, as garagens do estacionamento e os galpões de armazenagem convertidos em depósitos de munição, a segurança militar introduzida e todos, inclusive Walt e seu irmão Roy, obrigados a usar um crachá de identificação.
Desde 1940, Walt havia começado a solicitar trabalho ao governo como um caminho para tirar o estúdio de seus problemas financeiros. Em 3 de abril de 1941, Walt ofereceu um almoço e uma conferência no estúdio para funcionários do governo e representantes das indústrias de defesa. Ele disse: “Temos as instalações, o equipamento e o pessoal e estamos querendo fazer tudo o que pudermos para ajudar de alguma forma”.
Enquanto aguardava uma resposta, ele contratou um engenheiro da Lockheed, George Papen, para ajudá-lo a produzir um desenho animado educacional chamado Four Methods of Flush Riveting (tradução literal: Quatro Métodos de Embutir Rebites), o qual mostrou para o documentarista John Grierson, presente na conferência como representante da National Film Board of Canadá. Pouco depois, Walt conseguiu seu primeiro contrato, através de Grierson, para fazer um filme instrutivo sobre um rifle antitanque (Stop That Tank!) e 4 curtas para promover a venda de bônus de guerra: The Thrifty Pig, The Seven Wise Dwarfs, Donald’s Decision e All Together.
Stop That Tank! contém um ou dois episódios cômicos mas é essencialmente um filme de instrução sério sobre a utilização de um novo rifle antitanque, misturando tomadas reais e animação (vg. quando o tanque de Hitler é destruído pela nova arma, ele vai para o Inferno esbravejando, porém o Diabo, não o suportando mais, espanca-o com um porrete); The Thrifty Pig é uma refilmagem de Os Três Porquinhos com o Lobo Mau transformado em nazista, tentando (mas fracassando) destruir a casa que um dos porquinhos construiu com os bônus de guerra; em The Seven Wise Dwarfs, após um dia de trabalho na mina de diamantes, os anões caminham carregando sacos de pedras preciosas, graças aos quais eles vão comprar seus bônus de guerra – a famosa canção “Heigh Ho” de Branca de Neve e os Sete Anões é utilizada, mas com outra letra: “Lend your savings / Keep your money fighting / Invest in Victory”; Donald’s Decision, usa trechos do desenho O Outro Donald / Donald’s Better Self e Calma em Tudo / Self Control: o lado demoníaco do personagem de Donald incita-o a gastar seu dinheiro enquanto seu lado angélico aconselha-o a poupar, para comprar bônus de guerra; All Together mostra um desfile de personagens de Disney: Pinocchio, Geppeto e Figaro (trechos do filme Pinocchio), Donald e seus sobrinhos (trechos do desenho Bons Escoteiros / Good Scouts / 1938), Mickey e a orquestra do desenho A Banda do Barulho / The Band Concert / 1935, Pluto e os sete anões marchando diante do Parlamento Canadense com cartazes incentivando a compra de bônus de guerra.
Em maio de 1941, com a greve de seus empregados se aproximando, Walt sentiu nova urgência em obter trabalho do governo e o estúdio intensificou seus esforços para isso. Walt despachou Vera Caldwell, do departamento de treinamento, para Washington, e fez com que ela fosse de escritório em escritório, inclusive s do General Marshall. Walt continuou insistindo em que a companhia fazia apenas seu dever patriótico mas que o estúdio precisava dos contratos, nem que fosse para manter os animadores trabalhando e cobrir as despesas gerais. Então, quando Pearl Harbor foi atacada, Walt já estava profundamente envolvido em trabalhos para o governo e disposto a fazer mais.
Em 8 de dezembro, a Marinha ofereceu ao estúdio um contrato para a confecção de 20 filmes sobre a identificação de aviões e navios de guerra e, dez dias depois, o Departamento do Tesouro pediu a Walt para fazer, com urgência, um filme no qual pudesse estimular os americanos a pagar seus impostos. Walt reuniu-se com seus colaboradores Joe Grant e Dick Huemer que esboçaram, em dois dias, uma história com o Pato Donald no papel do cidadão comum, que não paga seus impostos até o momento em que lhe explicam que este dinheiro servirá para o esforço de guerra do país.
Quando as storyboards para o filme, intitulado The New Spirit / 1942, ficaram prontas, Walt, acompanhado de Grant e Huemer, partiu para Washinghton, a fim de mostrar ao Secretário do Tesouro, Henry J. Morgenthau, o desenvolvimento do projeto. Morgenthau não ficou satisfeito e disse a Disney que esperava que ele criasse um Senhor Contribuinte para o filme em vez de utilizar um dos personagens do estúdio. “Estou desolado”, respondeu Walt, “mas existem muitas pessoas que o amam … Eu lhe dou Donald. Para o nosso estúdio é como se a MGM lhe desse Clark Gable”. Morgenthau não teve outra escolha senão aceitar, mesmo porque, se o filme tivesse que ser recomeçado do zero, não terminaria a tempo. A resposta do público foi espantosa. No ano de 1942, o pagamento dos impostos foi o mais rápido registrado na história da administração fiscal americana. O crítico do New York Times, Bosley Crowther, qualificou-o como “o filme de propaganda mais eficaz jamais realizado por um governo”.
Em 1943, Disney realizou para Morgenthau uma continuação de The New Spirit. Em The Spirit of ’43, o Pato Donald é novamente retratado como um homem comum, que acabou de receber seu salário semanal. Ele encontra duas manifestações físicas de sua personalidade: o pato poupador, que o aconselha a guardar o dinheiro para pagar fielmente seu imposto de renda a cada três meses, e a do esbanjador, que o incentiva a gastar tudo rapidamente. O “pato bom” aparece vestido de saiote e gorro escocês e tem uma semelhança com o Tio Patinhas; o “Pato ruim” surge com um traje com ombros largos, paletó muito comprido, calças amplas e muito estreitas em baixo, o “zoot suit”, popularizado nos anos 40 por jovens rebeldes de comunidades negras, mexicanas e italianas.
O narrador explica que os americanos devem “com prazer e orgulhosamente” pagar seu imposto de renda que estava mais caro naquele ano “graças a Hitler e Hiroito”. A segunda parte do filme é uma montagem mostrando como os impostos são usados para construir aviões, bombas, navios e outros materiais de guerra e estes sendo usados contra as forças do Eixo.
A maior contribuição do Pato Donald para o esforço de guerra americano foi, incontestavelmente, Vida de Nazista / Der Fuherer’s Face / 1943 (ex-Donald in Nutzi Land). Inicialmente concebido com a finalidade de vender bônus de guerra, este desenho animado anti-nazista obteve um sucesso retumbante e levou o Oscar de Melhor Curta-Metragem Animado para 1942 (embora tivesse sido lançado em 1 de janeiro de 1943).
Donald sonha que é um operário numa fábrica de armamentos em Nutziland (onde tudo, desde árvores e nuvens, é decorado com suásticas), esgotando-se para atender às exigências exageradas do Fuherer. Além da comédia (o café da manhã de Donald composto de um único grão, uma fatia de pão duro e um spray que tem o gosto de ovos com bacon) o desenho tem momentos de surrealismo quando Donald executa seu trabalho de montar peças de artilharia e fotos de Hitler numa esteira cada vez mais acelerada. Depois de umas “férias pagas”, o que consiste em ficar alguns segundos em frente a um painel dos Alpes, Donald é forçado a fazer hora extra e acaba sofrendo um colapso nervoso com alucinações em que tudo se transforma em peças gigantescas de artilharia. Quando as alucinações acabam, Donald percebe que está na sua cama na América e tudo não passou de um pesadelo. Na última cena, um tomate atinge um retrato de Hitler, formando as palavras “The End”.
Vida de Nazista foi um ataque frontal dirigido contra o Terceiro Reich, uma sátira muito eficiente da vida na Alemanha hitlerista, tornando-se um clássico da animação. O desenho ficou igualmente célebre graças a sua canção irreverente, composta por Oliver Wallace (que começou sua carreira como pianista no tempo do cinema mudo e foi contratado por Disney em 1936) e depois gravada por Spike Jones, o líder da banda “City Slickers”, com grande sucesso.
Educação para a Morte / Education for Death / 1943 foi outro desenho de propaganda dos estúdios Disney com um forte teor anti-nazista, inspirado no livro de Gregor Ziemer, “Education for Death – the Making of a Nazi”, que denunciava a influência do partido nacional socialista sobre a educação dos jovens alemães.
O filme começa num estilo documentário, mostrando a maneira pela qual a burocracia nazista controla a vida de suas vítimas desde o seu nascimento – os pais do personagem central, Hans, devem seguir à risca as instruções para escolher o nome de seu filho. Depois, evoca uma nova versão de A Bela Adormecida, ameaçada por uma feiticeira malvada, chamada “Democracia”; é então que o príncipe encantado chega como um cavaleiro da Idade Média e beija a princesa adormecida. Tudo isto se passa na penumbra e, quando a luz se acende, vemos que a bela princesa é de fato uma alemã obesa, bebendo cerveja, e cujo prenome é Germania; seu príncipe é uma caricatura de Hitler, que tem dificuldade de erguer a gorducha, para colocá-la no seu cavalo.
Hans torna-se um membro das Juventudes Hitleristas e o filme termina com um comentário do narrador: “e agora sua educação está completa … ele está preparado para morrer”. Aparece então um desfile de soldados que se transformam em milhares de cruzes gamadas sobre os túmulos de um cemitério sem fim.
A atmosfera de Educação para a Morte é sufocante. As sombras que caem sobre os personagens reforçam a idéia de clausura. A música é lancinante e as cores preta e vermelha, unidas, evocam a violência. A metamorfose é usada para narrar os acontecimentos: a Bíblia é transformada num exemplar de Mein Kampf e um crucifixo numa espada nazista. A animação dos humanos é muito convincente, sobretudo no que concerne Hans e a mãe. Os personagens parecem impotentes diante da administração alemã e o interlúdio cômico entre Germania e Hitler não chega a mudar a atmosfera sinistra do filme.
Em Razão e Emoção / Reason and Emotion / 1943, o narrador destaca a necessidade de um bom equilíbrio entre a Razão e a Emoção, para resistir à propaganda nazista.
Se o povo alemão não tivesse se deixado dominar pelos apelos diabólicos dos nazistas às suas emoções primitivas e tivessem somente exercido seus poderes de raciocínio, provavelmente o Partido Nazista não existiria. Os animadores puseram esta idéia no desenho da seguinte forma: eles mostraram um corte transversal no cérebro humano. No cérebro estão os lugares da Razão e da Emoção. São como lugares num automóvel. Na frente, no assento do motorista, senta-se a Razão, personificada por uma figura sóbria, intelectual – um tipo comum de professor. Ele dirige os controles do cérebro humano da mesma maneira com que nós dirigiríamos um automóvel. Porém no assento traseiro está, de mau humor, a Emoção, personificada por um inculto e enfezado homem das cavernas.
O que aconteceria nesta peça delicada de maquinaria, o cérebro humano, se a Emoção assumisse a direção do automóvel? A seguir, o filme explica como Hitler manipulou as emoções do povo alemão. É mostrada uma caricatura excelente do Fuherer, usando medo, simpatia, orgulho e ódio para fazer a Emoção dos alemães virar contra a sua Razão. Uma cena muito eficaz mostra a Emoção escravizando a Razão num campo de concentração. No final, Razão e Emoção se unem como co-pilotos, manobrando um avião de guerra, para derrotar o inimigo.
O tom de Raposa Boateira / Chicken’s Little / 1943, era radicalmente diferente. A ação se desenrola numa granja habitada por aves, protegida por um muro de madeira bem alto, o que não impede que a raposa Foxy Loxy consiga dizer para Chicken Little, um galinho simplório e campeão de iô-iô, que o céu está caindo e que ele deve convencer as aves a se refugiarem numa gruta, onde ela pretende devorá-las. A raposa pensa então que uma simples dose de psicologia é necessária e murmura por um buraco no muro que Chicken Little é um líder nato e Cocky Locky, o galo supervisor do galinheiro (que havia refutado a afirmação alarmante do galinho), não serve para nada. Esta campanha de difamação funciona e, induzidas por Chicken Little, as aves saem todas em pânico da granja, indo se refugiar numa gruta. Na cena final, vemos a raposa palitando os dentes e arrumando uma fileira de cruzes feitas com ossos semelhante a um cemitério de guerra. O filme foi destinado a prevenir os americanos contra os rumores e as notícias falsas, que eram moeda corrente na época. Originariamente, devia conter mais conotações políticas. A raposa deveria ler “Mein Kampf”(Minha Luta) e as cruzes sobre os túmulos das aves mortas, seriam suásticas; porém Disney preferiu extirpar essas referências.
Em complemento a toda essa atividade abundante, os estúdios Disney produziram igualmente um desenho em longa-metragem de propaganda, A Vitória pela Força Aérea / Victory through Air Power / 1943, um filme misturando animação e tomadas reais (confiadas a H.C. Potter, que havia acabado de terminar Pandemônio / Hellzapoppin) baseado no livro controvertido do Major Alexander de Seversky do mesmo nome, no qual este propunha a criação de uma força aérea estratégica para a vitória aliada. Tratado como excêntrico pela maioria dos altos-responsáveis de Washington, de Seversky apresentou seus argumentos no referido livro, que se tornou um sucesso de vendas.
A parte principal do filme desenvolve três temas. O primeiro descreve certos acontecimentos da guerra, Dunkerke, a queda da Noruega e a de Creta, a batalha da Inglaterra, Pearl Harbor, preocupando-se em mostrar as consequências da presença ou não da aviação. O segundo tema evoca as dificuldades do transporte dos reforços aliados. O terceiro tema consiste na exposição feita pelo próprio Seversky das diferentes teorias de estratégias aéreas, todas descartadas menos a sua evidentemente, a idéia de que a aviação de longo alcance seria a única capaz de propiciar a vitória e abreviar a guerra.
A sequência final de Vitória pela Força Aérea mostra os bombardeiros em plena ação, decolando para o Japão, atacando as cidades e as fábricas e neutralizando sua força. Então uma águia gigante surge no céu tendo por alvo um polvo. A águia investe contra o polvo várias vezes até que ele bate em retirada e larga o facão que mantinha sob seus tentáculos e que cravara sobre um mapa múndi. A águia se empolera então triunfalmente na superfície de um globo, que vem a ser o alto de um mastro com a bandeira americana, sobre a qual se inscreve a frase Vitória pela Força Aérea.
Vitória pela Força Aérea não foi o único projeto de adaptação para um longa-metragem de uma obra literária sobre aviação. Foi mais ou menos nessa mesma época, que Disney começou a trabalhar em um outro projeto inspirado por “Gremlin Lore”, uma história sobre espíritos travessos, os gremlins (duendes) pretensamente responsáveis por desastres aéreos durante a guerra. O conto era de autoria de Roald Dahl, naquele tempo um aviador servindo na embaixada britânica em Washington. Disney adquiriu os direitos de filmagem em 1942, mas depois, levando em conta principalmente adificuldade de visualizar os seres indefiníveis que são os gremlins e o cansaço do público por filmes de guerra, interrompeu o projeto em outubro de 1943.
Outros filmes foram abandonados no curso da filmagem, alguns quase prontos, por diversas razões e mesmo, em certos casos, sem qualquer explicação, como por exemplo, The Square World, sátira graficamente muito elaborada sobre a conformidade que os regimes fascistas exigem e Democracy, que deveria contar a história de uma família que se refugia nos Estados Unidos, depois de fugir da Alemanha.
Disney fez ainda muitos filmes curtos de educação sanitária (vg. The Winged Scourge; Water, Friend or Enemy; Defense Against Invasion, Cleanliness Brings Health), colocou-se à disposição de várias agências governamentais como o Departamento de Agricultura (para o qual realizou Food Will Win the War / 1942) ou para a Conservation Division of the War Production Board (que utilizou os talentos de Minnie Mouse em Out of the Frying pan into the firing line / 1942) e continuou com seus desenhos curtos habituais, alguns deles de propaganda como por exemplo, A Mascote do Exército / Army Mascot, / 1942, Donald é Sorteado / Donald Gets Drafted / 1942, O Soldado Invisível /The Vanishing Private / 1942, Aviador do Barulho / Sky Trooper / 1942, A Sentinela / Private Pluto / 1943, Dois Espertalhões / The Old Army Game / 1943 Meu Pneumático / Donald’s Tire Trouble / 1943, O Automo-Bastão / Victory Vehicles / 1943, Posto de Observação / Home Defense / 1943, Um Dia no Exército / Fall In Fall Out / 1943, O Paraquedista / Commando Duck / 1944, Pateta, o Marujo / How to Be a Sailor / 1944.
Também podem ser considerados de propaganda as contribuições de Disney para a Política da Boa Vizinhança com a América Latina Alô, Amigos / Saludos Amigos / 1943 e Você Já Foi à Bahia? / The Three Caballeros / 1945 e as sequências de animação que providenciou para a série de documentários Porque Combatemos / Why We Fight, supervisionados por Frank Capra.
Diferentemente de Frank Capra, que recebeu uma medalha por serviço prestado, Walt Disney não recebeu nenhum reconhecimento oficial pela sua contribuição para o esforço de guerra. Teve apenas a satisfação de ver seu estúdio sobreviver e desfrutar de uma boa situação financeira. O déficit de um milhão de dólares que existia antes de Pearl Harbor foi reduzido para 300 mil dólares (porém o estúdio ainda devia 4 milhões de dólares ao Bank of America), enquanto que todas as outras companhias de cinema tiveram enormes benefícios com a guerra. Roy Disney, gerente financeiro da companhia, declarou em 1945: “Nós éramos como um urso que sai da hibernação, magros e desencarnados, sem uma grama de gordura sobre os ossos”.
Popeye foi, juntamente com o Pato Donald, o personagem dos cartoons que mais apareceu em desenhos animados de propaganda de guerra. O marinheiro enfezado apareceu em : O Batuta da Armada / The Mighty NaVy / 1942, You’re a Snap, Mr. Jap / 1942, Blunder Below / 1942, O Bombardeiro Humano / Fleet’s of Stren’th / 1942, Ao Fundo os Japoneses / Scrap the Japs / 1942, Seein’ Red, White ‘n’ Blue / 1943 e Spinach fer Britain / 1943. Estes desenhos foram produzidos pela Famous Studios (sucessora da Fleischer Studios), a divisão de animação da Paramount de 1942 a 1967.
Outro personagem queridíssimo dos fãs do desenho animado, o Pernalonga (Bugs Bunny), também deu a sua contribuição para o esforço de guerra. Any Bonds Today? / 1942, desenho de dois minutos de duração patrocinado pelo governo americano para incitar os espectadores a comprar bônus de guerra, começa com o Pernalonga vestido de Tio Sam dançando e cantando uma música inspirada em uma canção de Irving Berlin. Depois, pintado de preto, ele faz uma imitação de Al Jolson em O Cantor de Jazz /The Jazz Singer / 1927, e é acompanhado por Hortelino Trocaletra (Elmer Fudd) e Gaguinho (Porky Pig) na sequência final. O coelho gozador participou ainda de Falling Hare / 1942, Bugs Bunny Nips the Japs / 1944 e Herr Meets Hare / 1945, provavelmente o último filme de propaganda americano da Segunda Guerra Mundial. Bugs se encontra na Floresta Negra com Hermann Goering, é capturado por ele, e levado como um troféu para Hitler. Quando Hitler e Goering abrem o saco, no qual Goering colocara Bugs, o coelho surge disfarçado de Stalin e semeia o pânico entre os dirigentes nazistas (uma tentativa para estreitar os laços entre os americanos e os russos, que combateram lado-a-lado o mesmo inimigo).
Concorrendo com o Pernalonga como o personagem da série Looney Tunes da Warner que mais trabalhou em desenhos de propaganda americanos na Segunda Guerra Mundial, estava o Patolino (Daffy Duck), astro de três cartoons, produzidos por Leon Schlesinger: Daffy – The Commando / 1943, Scrap Happy Duffy /193 e Plane Daffy / 1944. O melhor é o primeiro, no qual Von Vulture, um abutre nazista, recebe uma mensagem dos “Macacos da Cólera”(Hitler, Mussolini e Hiroito): “se um novo comando aliado ultrapassar as linhas de frente, sua carreira está acabada”. Von Vulture e seu minúsculo assistente, Schultz, são atacados pelo Patolino, que caiu de pára-quedas no campo inimigo. Segue-se uma perseguição através das trincheiras, mas o herói escapa de avião. Tentando evitar a artilharia, o avião é abatido. Patolino encontra refúgio num buraco escuro, que é na realidade um canhão. Ele é propulsionado para o céu, com uma etiqueta “Eu sou uma bomba humana” nas costas e uma bandeira americana nas duas mãos. O célebre pato aterrissa no meio de um discurso de Hitler e bate com uma marreta na cabeça do Fuherer, que para de falar.
Nas séries Looney Tunes e Merry Melodies podemos citar ainda Confusions of a Nutty Spy / 1943, Swooner Crooner / 1944, Rookie Revue / 1941, The Ducktators / 1942, Coal Black and the Sebben Dwarfs / 1943 e Russian Rhapsody / 1944.
O governo americano editava uma revista cinematográfica bimensal chamada Army-Navy Screen Magazine com a finalidade de informar as forças armadas do que acontecia no país e no exterior. Foi no âmbito desta revista que foi criada, em junho de 1943, uma série de 28 desenhos animados, intitulada Private Snafu, patrocinada pelo Exército americano e destinada somente aos soldados.
Os filmes em preto e branco de duração de aproximadamente três minutos, eram produzidos pela Warner, realizados alternadamente pelos diretores de animação do estúdio Chuck Jones, Fritz Freleng, Bob Clampett e Frank Tashlin e usavam a voz de Mel Blanc para Snafu. Mel recordou: “Eu pensava que a voz do Gaguinho seria perfeita para Snafu porque era um personagem triste … Foi por esta razão que eu dei um jeito para que a voz de Snafu fosse a mesma que eu fazia para o Gaguinho”.
Snafu era apresentado como o pior soldado do exército e os desenhos mostravam de maneira cômica tudo o que não se devia fazer para continuar vivo. SNAFU era um termo militar muito comum, a abreviação de uma expressão que significa “Situation Normal: All Fouled (Fucked) Up”. Os filmes de Snafu foram concebidos principalmente para que os soldados que estavam na guerra reconhecessem os engenhos explosivos. O Exército acreditava que, se os soldados os vissem aqueles engenhos nos desenhos animados, eles se lembrariam deles.
Após ter feito inúmeros desenhos na Warner, Tex Avery foi para a MGM, onde teve liberdade criativa total para realizar Blitz Wolf / 1942. O filme é um pastiche dos Três Porquinhos de Walt Disney. Os créditos anunciam: “O lobo deste desenho animado não é fictício. Toda semelhança entre este lobo e o outro (Hitler) … é proposital …”. Os dois primeiros porquinhos constroem suas casas de palha e madeira porém a morada do terceiro porquinho, o Sargento Pork, é uma verdadeira base militar. Toda a velhacaria de Hitler é exposta. A certa altura o lobo bate na porta do primeiro porquinho e diz: “Abra a porta senão eu vou assoprar e a sua casa vai voar!”. Um dos porquinhos diz: “Mas Adolf … e o nosso pacto? Você detesta a guerra! Vou deu sua palavra”. Resposta do lobo: “Você está brincando, eu espero!” Todo o filme é uma alusão à operação Barbarossa deslanchada em segredo por Hitler contra os soviéticos em junho de 1941 apesar deles terem celebrado um pacto de não-agressão em 1939. O lobo chega com uma assopradora mecânica e destrói as casas dos dois primeiros porquinhos. Estes vão se refugiar na fortaleza do Sargento Pork, a guerra começa, e o lobo vai parar no inferno, cercado por um bando de diabos vermelhos. Os letreiros finais anunciam O Fim de Adolf e incitam os espectadores a comprarem bônus de guerra.
Algumas aventuras do Super-Homem / Superman, a série de desenho animado criada por Dave Fleischer, fizeram referência à guerra, principalmente Sabotagem e Cia. / Destruction Inc. / 1942, A Mão Infalível / The Eleventh Hour/ 1942, Japoteurs / 1942 e Secret Agent / 1943. Em The Japoteurs, um japonês sinistro vestido à paisana, sentado no seu escritório, lê a manchete do Daily News (Planeta Diário): “O maior bombardeiro do mundo finalmente construído”. Ele se levanta e se inclina diante de um cartaz representando a Estátua da Liberdade, que se transforma em um Sol Nascente. No campo de aviação, são feitos os preparativos de última hora para o primeiro vôo. Lois Lane embarca clandestina na enorme aeronave, a fim de obter um furo. O que ela não sabe é que o japonês sinistro e seus cúmplices também estão à bordo. Os espiões assumem o controle do aparelho e jogam uma bomba sobre Metrópolis; porém Lois consegue pedir ajuda pelo rádio antes de ser dominada. Surge o Super-Homem e salva Lois de ser jogada como uma bomba. O japonês perde o controle do avião, que ameaça se espatifar sobre a grande cidade. O Super-Homem coloca Lois em segurança e vai ao encontro do bombardeiro, parando-o em pleno ar, e trazendo-o mansamente até o solo. Na cena final, vemos Clark Kent e Lois Lane num avião de brinquedo num parque de diversões. Clark diz para Lois: “Neste avião você está a salvo”.
Muito interessante esse post, vc deve ter tido muito trabalho recolhendo tudo isso. Parabéns!
Todo artigo que escrevo me dá muito trabalho mas faço tudo com satisfação porque gosto do cinema antigo e fico satisfeito quando os leitores me mandam os seus comentários.
É sempre um prazer revê-lo. Sempre com comentários pertinentes. Feliz Ano Novo para você também e sucesso cada vez maior para o seu blog.
Muito legal. parabéns. O blog é incrível , dá gosto de ler.
Obrigado Kaena. Espero que goste também de outros artigos do meu blog.Volte sempre.
Nossa, que interessantíssimo!!! Eu que pensei que as minhas leituras sobre Cinema de Animação estavam bem fundamentadas, mas ao ler seus apontamentos, análises e imagens sobre o período vi que o enriquecimento foi imediato. Uma curiosiddade: seria possível indicar umas fontes que tratem dessa temática ou indicar sites sobre isso?
Muito obrigado pelo blog.
Prezado Claudio. Fico contente de ter contribuido para alargar seus conhecimentos sobre animação. Não sou um expert no assunto, apenas um curioso. Comece por The Encyclopedia of Animated Cartoons de Jeff Lenburg (ed. Checkmark Books 738 pg., este sim, um especialista no assunto. Não sei se você já leu meus dois posts: A Época de Ouro do Desenho Animado e Trajetória de Walt Disney no Desenho Animado.Em caso negativo, modéstia à parte, recomendo.
Muito obrigado, me ajudou a fazer um trabalho de geografia, estou no 9° ano!
Fico feliz de ter colaborado para o seu êxito escolar.Um forte abraço.