Com exceção de seu amigo Charles Chaplin, Douglas Fairbanks foi o maior astro masculino do cinema mudo, ídolo de milhares de jovens e também de um grande número de adultos. Ele representava coragem, vigor, decência, uma mente sã em corpo são, otimismo, auto-confiança – chegando até à timidez – pelo sexo fraco e … sucesso.
Suas armas para atrair o público foram o seu espantoso atletismo e um sorriso enorme e irresistível. Fairbanks não era alto nem particularmente bonito mas gozava de uma forma física excelente, usando o corpo para expressar o caráter de seus personagens e praticar cenas de ação engenhosas, que ele executava sem precisar de dublês. Além da agilidade atlética e simpatia, tinha o que todo astro deve ter: magnetismo. Com essas qualidades, tornou-se o primeiro Rei de Hollywood e seus filmes contribuíram para definir o espírito de seu tempo.
Fairbanks foi também um dos produtores mais criativos de Hollywood. Aprendeu tudo o que podia sobre a realização de filmes e se cercou dos melhores artistas e técnicos. Frequentemente contribuía na redação dos roteiros (sob o pseudônimo de Elton Thomas) e co-participava da direção de seus filmes. Caprichoso e perfeccionista, ele gastou muito dinheiro, construindo cenários gigantescos, para que o esplendor, o fausto, a pompa de suas histórias fossem sustentados visualmente e deliciassem os olhos dos espectadores.
Douglas Elton Thomas Ulman (1883-1939) nasceu em Denver, Colorado. Sua mãe, Ella Adelaide Marsh, havia se casado primeiramente com John Carpenter, um rico plantador de Massachussets. O filho deles, também chamado John, nasceu em 1873. O pai, John Sr., morreu de tuberculose neste mesmo ano. Ela então se casou com o juiz Edward Wilcox, com quem teve outro filho, Norris. Quando Wilcox se tornou um alcoólatra, Ella pediu o divórcio com a ajuda de um renomado advogado judeu de Nova York, Hezekiah Charles Ulman, que depois se apaixonou e se casou com ela. Ella e Ulman tiveram dois filhos, Robert e Douglas. Ulman abandonou o lar quando Douglas tinha cinco anos de idade. Ella reassumiu o nome do primeiro marido, Fairbanks, colocando-o também em Robert e Douglas, e batizou os meninos na fé católica. Depois da morte de Fairbanks, outro fato veio à tona: Ulman não havia se divorciado legalmente de sua primeira esposa, de modo que Douglas e Robert eram filhos ilegítimos.
Desde pequeno Fairbanks demonstrou interesse em ser ator. Em 1899, quando tinha apenas dezesseis anos, excursionou com a famosa companhia de Frederic Warde, especializada em Shakespeare e, um ano depois, estava na Broadway. Durante os próximos quatorze anos ele firmou sua reputação como ator e, em 1906, com sua aparição na peça Man of the Hour, tornou-se oficialmente um astro.
Em 1907, Fairbanks casou-se com Beth Sully, filha do ex-“Rei do Algodão”, Daniel J. Sully, e desistiu por um tempo do teatro, indo trabalhar na Buchan Soap Company, o novo negócio do pai de Beth. Em 9 de dezembro de 1909, o casal teve um filho, Douglas Fairbanks, Jr., que seria no futuro um renomado ator do cinema e do teatro.
Todavia, Fairbanks não gostou do emprego, e retornou aos palcos, tendo sido eventualmente levado à Costa Oeste por Harry Aitken da Triangle Film Company.
A carreira de Fairbanks no cinema mudo teve duas partes distintas: até 1920, ele fez comédias (românticas, dramáticas, western); após esta data, salvo uma exceção, começou a fazer filmes de aventuras de época, pelos quais é mais lembrado nos dias de hoje.
Fairbanks começou fazendo 13 filmes na Fine Arts Film Combany, distribuídos pela Triangle Film Corporation: Amor Inspira Audácia / The Lamb / 1915, Dois … Um Só / Double Trouble / 1915, Delírio de Aparecer / His Pictures in the Papers / 1916, Um Professor de Alegrias / The Habit of Happiness / 1916, O Bom Facínora / The Good Bad Man / 1916, O Aventureiro Heróico / Reggie Mixes In / 1916, Sherlock Douglas / The Mystery of the Leaping Fish / 1916, Um Moço Valente / Flirting with Fate / 1916, O Índio Amoroso / The Half Bread / 1916, Nova York Misteriosa / Manhattan Madness / 1916, Aristocracia Americana / American Aristocracy / 1916, Um Casamento Trabalhoso / The Matrimoniac / 1916, O Verdadeiro Americano / The Americano / 1916.
Em 1917, Fairbanks formou sua própria produtora, Douglas Fairbanks Pictures Production e passou a distribuir seus filmes pela Artcraft Film Corporation, que fora criada pela Famous Players-Lasky, para distribuir os filmes de Mary Pickford. Entre 1917 e 1919 ele fez mais 13 filmes: Por Tí, Querida! / In Again – Out Again / 1917, Provocação / Wild and Wooly / 1917, Um Problema Humano / Down to Earth / 1917, Miguel, o Touro / The Man from Painted Post / 1917, Querendo Agarrar a Lua / Reaching for the Moon / 1917, Um Moderno Mosqueteiro / A Modern Musketeer / 1917, Bandoleiro do Amor / Headin’ South / 1917, O Protetor / Mr. Fix – It / 1917, O Jovem Ambicioso / Say! Young Fellow / 1917, O Homem do Automóvel / Bound in Moroccco / 1918, Sempre Sorrindo / He Comes Up Smiling / 1918, Golpe Adversário / Arizona / 1918, Audaz e Caprichoso / The Knickerbocker Buckaroo / 1919.
Em 1919, os quatro maiores artistas de Hollywood, Douglas Fairbanks, Mary Pickford, Charles Chaplin e D.W. Griffith celebraram um acordo revolucionário, pelo qual eles se tornaram distribuidores dos seus próprios filmes independentes. Nesta fase United, Fairbanks fez mais quatro comédias, Sua Majestade o Ianque / His Majesty the American / 1919, O Supersticioso / When the Clouds Roll By / 1919, Ousadia Hereditária / The Mollycoddle / 1920 e O Maluco / The Nut / 1921 e os oito filmes de aventuras de época: A Marca do Zorro / The Mark of Zorro / 1920, Os Três Mosqueteiros / The Three Musketeeers / 1921, Robin Hood / Robin Hood ou Douglas Fairbanks in Robin Hood)/ 1922, O Ladrão de Bagdad / The Thief of Bagdad / 1924, Don Q, o Filho do Zorro / Don Q, Son of Zorro / 1925, O Pirata Negro / The Black Pirate / 1926, O Gaucho / The Gaucho ou Douglas Fairbanks as the Gaucho / 1927, O Máscara de Ferro / The Iron Mask / 1929.
No cinema sonoro, Fairbanks fez quatro filmes: Mulher Domada / Taming of the Shrew /1929, O Príncipe dos Dólares / Reaching for the Moon / 1930, Robinson Crusoe Moderno / Mr. Robinson Crusoe / 1932 e Os Amores de Don Juan / The Private Life of Don Juan / 1934 porém neste artigo vou falar apenas sobre os oito filmes de aventuras de época, lembrando que eles estão disponíveis em dvds da Kino Video. Quanto às 30 comédias, dez delas podem ser vistas na coletânea Douglas Fairbanks: A Modern Musketeer, oferecida pela Flickler Alley, composta por cinco dvds.
Quando Fairbanks expandiu seu universo cinematográfico para os filmes de espadachim, ele simplesmente transportou o seu jovem dinâmico e decidido das suas comédias contemporâneas para a História. Como observou Jeanine Basinger em Silent Stars (Wesleley University, 1999), “todos os oito swashbucklers silenciosos de Fairbanks tinham em comum excelentes valores de produção, ação excitante, altas doses de comédia agradável, um pouco de sátira e no centro, Douglas Fairbanks, que já havia criado sua persona e agora estava criando um gênero”.
Tendo tomado a decisão de realizar um filme de aventura de época, A Marca do Zorro, Fairbanks começou a formar a sua equipe. Fred Niblo foi contratado para dirigir o primeiro dos dois filmes para Fairbanks. Niblo basicamente firmou sua reputação com Fairbanks e depois assumiria a direção de filmes mudos importantes como Sangue e Areia / Blood and Sand / 1922 e Ben-Hur / Ben-Hur, a Tale of the Christ. William McGann e Harris Thorpe foram contratados como fotógrafos. Edward M. Langley providenciou a direção de arte e Eugene Mullin trabalhou com Fairbanks na adaptação da história de Johnston McCulley, “The Curse of Capistrano”. Marguerite dela Motte (Lolita) foi contratada como atriz principal e coadjuvantes muito capazes como Robert McKim (Capitão Juan Ramon), Noah Beery (Sargento Gonzales), Charles Hill Mailes (Don Carlos Pulido), Claire McDowell (Dona Catalina), Snitz Edwards (Dono da taverna) e Sydney De Grey (Don Alejandro) completaram o elenco.
Um dos melhores stuntman de Hollywood, Richard Talmadge também estava na folha de pagamento, para dar assistência a Fairbanks na coreografia das cenas de ação. Nos ensaios, Talmadge serviu apenas como um modelo: Fairbanks, observava-o executando as cenas de ação e em seguida o próprio Fairbanks as repetia diante das câmeras. Outra contribuição valiosa foi a do mestre de esgrima belga, Henry J. Uyttenhove, que coreografou todas as cenas de duelo do filme.
Fairbanks adicionou alguns elementos importantes à história de McCulley. Ele deu à A Marca do Zorro, não somente o seu título definitivo mas também duas de suas características mais identificáveis. Primeiro, em “The Curse of Capistrano” não há menção à famosa “marca” do Zorro – um “Z” gravado nas suas vítimas. A “marca” foi um inovação do filme. Em segundo lugar, a natureza afetada e frívola de Don Diego Vega, como sugerida pelos truques de salão, que ele pratica com o seu lenço, também foi uma idéia de Fairbanks. Johnston McCulley incorporou esses elementos na sua história seguinte sobre o Zorro, publicada em 1922, que foi inquestionavelmente influenciada pelo filme de Fairbanks.
Destaco aqui as duas sequências de A Marca do Zorro que mais me agradaram. A primeira foi a sequência de abertura dentro de uma taverna durante uma noite chuvosa. Os fregueses estão apavorados falando sobre o mascarado Zorro, que havia gravado a sua marca no rosto de um dos soldados do Sargento Gonzales. O arrogante e vaidoso Gonzales alardeia que será ele quem vai capturar o fora-da-lei. De repente, ouve-se uma batida na porta e todos ficam congelados de medo. A porta se abre lentamente, e uma figura, obscurecida pela noite e por um grande guarda- chuva preto, penetra no recinto. Enquanto os espectadores prendem a respiração, o guarda-chuva é levantado e fica claro que a figura não é o temível Zorro mas o dândi Don Diego. A outra sequência me entusiasmou mais ainda. Foi a maravilhosa caçada perto do final do filme, na qual a Fairbanks dá uma mostra de vários feitos acrobáticos sensacionais, quando o Zorro escapa da comitiva do governador. A perseguição culmina numa cena memorável em que o herói tira a máscara e enfrenta o vilão como Don Diego, revelando sua verdadeira identidade para espanto do pai, do sogro e de todos os presentes. Como um todo, esta é, na minha opinião, uma das melhores sequências de filmes de capa-e-espada do cinema.
Com este filme, Fairbanks definiu e popularizou o gênero capa-e-espada. Todos os praticantes depois dele – Errol Flynn, Tyrone Power, Gene Kelly, Burt Lancaster, Douglas Fairbanks Jr. entre outros – inspiraram-se na herança de Fairbanks e na sua contribuição para a composição do herói espadachim.
Na vida real, 1920 foi o ano em que Fairbanks se casou com uma atriz, cuja fama era ainda maior do que a dele – Mary Pickford. Eles contraíram matrimônio em 28 de março e foram morar em “Pickfair”, sua residência de Beverly Hills, que foi apelidada de “Buckingham Palace de Hollywood”, pois os dois astros formavam uma verdadeira realeza americana.
O sucesso popular de A Marca do Zorro significou uma mudança, não somente do gênero de filmes de Fairbanks, mas também do próprio Fairbanks. Há muito tempo que ele queria realizar grandes espetáculos. Com este propósito, começou a trabalhar, para trazer o seu herói predileto D’Artagnan, (do romance Os Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas), para as telas. Fairbanks se identificava mais com o bravo e incansável D’Artagnan do que com qualquer outro personagem que interpretou, e ele se empenhou na produção com muito entusiasmo.
Fairbanks chamou novamente Fred Niblo para dirigir a produção e convocou seu velho amigo Edward Knoblock, dramaturgo, roteirista e romancista inglês, que era uma autoridade em história e cultura francesa do reino de Louis XIV. O roteiro finalmente utilizado foi muito simplificado, abordando apenas o episódio envolvendo o colar de diamantes da rainha. Outra alteração significativa foi o interesse amoroso de D’Artagnan. Constance Bonacieux passou a ser sua sobrinha e não a mulher de M. Bonacieux, a fim de se evitar problemas com a censura. Ademais, Constance não morria como no romance, para que o filme tivesse um final feliz. Arthur Edeson foi o fotógrafo de Os Três Mosqueteiros e, no futuro, de alguns clássicos como Frankenstein / Frankenstein / 1931, O Grande Motim / Mutiny on the Bounty / 1935, Relíquia Macabra / The Maltese Falcon / 1941 e Casablanca / Casablanca / 1942.
No elenco: Marguerite de la Motte (como Constance Bonacieux), Léon Bary (Athos) , George Siegmann (Porthos), Eugene Pallette (Aramis), Mary MacLaren (Ana D’Austria), Barbara La Marr (Milady de Winter), Nigel de Brulier (Cardeal Richelieu) e Adolphe Menjou (Louis XIII). E, é claro, o próprio Fairbanks que, com convicção e sinceridade absoluta, estava convencido de que era o D’Artagnan ideal.
Enquanto A Marca do Zorro havia sido produzido com cautela e valores de produção conservadores, Os Três Mosqueteiros tinha cenários suntuosos, um elenco numeroso e um vestuário magnífico. O diretor de arte Edward M. Langley se desdobrou para assegurar a reprodução fiel dos interiores, da casa rural de D’Artagnan na Gasconha aos aposentos ornamentados de Louis XIII.
Um dos feitos mais notáveis da produção foi a construção das cenas de luta de espada, um esforço colaborativo entre Fairbanks, Niblo e o esgrimista-coreógrafo H. J. Uyttenhove, sobressaindo a sequência do combate contra os guardas do Cardeal, quando Fairbanks desce pelo corrimão de uma escadaria e enfrenta um número incrível de adversários. Entretanto, esta sequência aconteceu muito cedo no desenrolar da narrativa e o filme não atingiu depois outro momento tão excitante. Por outro lado, a direção de arte não convenceu como a França do século dezessete. Fairbanks percebeu essas falhas do filme e retificou seus erros quando retomou o assunto em O Máscara de Ferro.
Animado com o êxito de Os Três Mosqueteiros, Fairbanks empreendeu um filme ainda mais grandioso, Robin Hood, que consumiu quase um ano de sua vida e assentou a matriz para todos os seus filmes silenciosos subsequentes.
Edward Knoblock havia inicialmente proposto a Fairbanks a produção de uma adaptação do romance Ivanhoe de Sir Walter Scott e daí surgiu a idéia de um filme inspirado na lenda de Robin Hood. Ambas as sugestões foram submetidas ao quartel-general da United Artists em Nova York, para o departamento de vendas manifestar a sua recomendação e Robin Hood foi escolhido como a sugestão mais vendável.
Fairbanks reuniu sua equipe para o primeiro dia de pré-produção no dia do Ano Novo em 1922. Robert Florey (futuro diretor), que estava então empregado por Fairbanks na qualidade de chefe da publicidade no exterior, lembrou-se anos depois de ter ouvido seu patrão declarar: “Acabei de decidir que vou filmar a história de Robin Hood. Construiremos os cenários aqui em Hollywood. Vou chamá-lo de O Espírito da Cavalaria. “Nunca me esquecí” – disse Florey – “da impetuosidade com a qual Douglas fez este pronunciamento. Ele bateu com o punho numa pequena mesa. Ninguém disse uma palavra”. Segundo Florey, Fairbanks continuou: “Mary e eu vamos comprar um novo estúdio, onde todos poderemos trabalhar juntos . Estou pensando no velho Jesse Hampton Studio em Santa Monica (obs. que se transformou no Pickford-Fairbanks Studio). Não existe nada além de campos lá e nós podemos construir alguns cenários realmente grandiosos – Nottingham no século doze, o castelo de Ricardo Coração de Leão, uma cidade na Palestina, a Floresta de Sherwood e o covil dos fora-da-lei. Há um largo espaço ao sul onde poderemos filmar o acampamento dos Cruzados. Teremos milhares de vestimentas desenhadas de acordo com os documentos da época, compraremos escudos, lanças, e espadas aos milhares, vamos encenar um torneio, vamos …”. “E quanto vai custar tudo isso?”, perguntou John Fairbanks, o irmão de Douglas, que era o tesoureiro da companhia. “Isto não vem ao caso”, replicou Douglas. “Estas coisas têm que ser feitas com precisão, ou de forma alguma”.
Fairbanks autorizou a construção de um enorme castelo normando como centro principal de seu filme. O tamanho da estrutura suplantou a do palácio Babiloniano de Intolerância de D. W. Griffith, até então o maior cenário cinematográfico jamais construído. O castelo foi uma criação do diretor de arte supervisor o grande Wilfred Buckland. Mitchell Leisen que, como Buckland, trabalhara para Cecil B. DeMille, foi o figurinista (Leisen se tornaria um diretor de prestígio em Hollywood). Arthur Edeson atuou de novo como fotógrafo e os serviços de Henry J. Uyttenhove foram requisitados mais uma vez para coreografar todas as cenas envolvendo lutas de espada.
O elenco incluía: Enid Bennett (Lady Marian), Wallace Beery (Ricardo Coração de Leão), Sam de Grasse (Príncipe John) e Paul Dickey (Sir Guy of Gisbourne) e Faribanks contou ainda com a ajuda de dois engenheiros altamente capazes – seu irmão Robert e o diretor Allan Dwan – para resolverem os vários problemas técnicos. Um dos grandes momentos do filme foi a maravilhosa descida de Robin Hood por uma cortina imensa e majestosa existente no vasto salão do castelo. Ela era feita em tela de juta mas foi pintada à mão por Leisen, para evocar uma tapeçaria. Dwan escondeu um escorrega atrás da cortina, para facilitar o deslizamento do herói, e demonstrou ele mesmo como Fairbanks deveria fazer a cena.
A certa altura da filmagem, Robert ficou muito preocupado com a determinação de seu irmão de escalar uma ponte levadiça, para se infiltrar no castelo de Nottingham. Fairbanks acabou aceitando o emprego de um dublê. Durante o ensaio, ficou óbvio que o dublê contratado não estava conseguindo proporcionar a devida combinação de atletismo e graciosidade típicas do ator e foi ordenada a sua substituição por outro dublê. No dia seguinte, foi encontrado um acrobata, que começou a ensaiar e a testar as roupas e a maquilagem. Quando as câmeras rodaram, a equipe ficou encantada ao ver que o acrobata se parecia mais com Fairbanks do que durante os ensaios e que estava impregnando a sequência com os seus gestos característicos, que haviam sido considerados inimitáveis. Somente quando o acrobata chegou ao topo da ponte levadiça, foi que Dwan e Robert perceberam que o próprio Fairbanks havia dublado o seu próprio dublê.
A primeira parte surpreendeu o público, que esperava cenas de ação, assim que Fairbanks aparecesse na tela mas ele explicou: “Creio que sem uma apresentação completa do herói no personagem do Earl of Huntingdon, suas façanhas como Robin Hood teriam sido menos eficazes”. De fato, o filme se arrasta no início porém, quando começa a ação, ele deslancha. Os cenários massivos – a ponte levadiça, o castelo, o convento, o salão de banquetes – são impressionantes e os figurinos de Leisen, muito bonitos.
Fairbanks ofereceu às plateias um espetáculo ainda maior em O Ladrão de Bagdad, uma aventura de fantasia inspirada em As Mil e Uma Noites. Trabalhando com o diretor de arte William Cameron Menzies, Fairbanks supervisionou a construção de uma cidade cheia de abóbadas e minaretes, um palácio de proporções gigantescas, ruas minúsculas com arcadas, pontes, escadarias e corredores, uma cidade de sonho saída de um conto de fadas e especificamente planejada para dar a impressão de que estava flutuando sobre suas próprias ruas.
Desenho visual soberbo, espetáculo, esplendor imaginativo e efeitos visuais, juntamente com a performance brilhante de Fairbanks (liderando um elenco com milhares de figurantes), contribuíram para fazer de O Ladrão de Bagdad a sua obra-prima.
Como notou Jeffrey Vance na sua excelente biografia Douglas Fairbanks (University of California / Academy of Motion Picture Arts and Sciences, 2008) da qual extraímos numerosas informações, o ladrão de Fairbanks (Ahmed) é completamente diferente dos papéis que seus fãs sempre esperavam dele: ele era mais um bailarino no estilo de Nijinsky do que um Doug tipicamente americano … A mágica do seu dinamismo – sua presença física, seus movimentos, e seu humor – e a mágica do cinema silencioso chegaram ao auge em O Ladrão de Bagdad.
Fairbanks originariamente pretendeu fazer uma continuação de A Marca do Zorro envolvendo piratas e chegou a conversar com Ernst Lubitsch, para dirigir a produção; mas como queria seu filme de pirata em Technicolor e estava insatisfeito com as limitações e dificuldades da cinematografia em cores naquela época, adiou o projeto.
A escolha mais importante para a equipe criativa de O Ladrão de Bagdad foi a de Raoul Walsh como diretor. O tipo de fantasia-espetáculo, que Fairbanks imaginou, não era o elemento de Walsh. Porém ele tinha confiança na capacidade daquele diretor para coordenar a produção e apreciava o seu senso de humor. Já com relação a Fairbanks, Walsh diria que ele foi um autor de cinema avançado mais de trinta anos antes que o conceito tivesse sido desenvolvido, pois deixava a sua marca em todos os seus filmes. O êxito de O Ladrão de Bagdad impulsionou a carreira de Walsh como um grande diretor de Hollywood, realizador de clássicos como Sangue por Glória / What Price Glory? / 1926, Sedução do Pecado / Sadie Thompson, O Último Refúgio/ High Sierra / 1941 e Fúria Sanguinária / White Heat / 1949.
Depois de uma longa busca, Fairbanks contratou William Cameron Menzies como diretor de arte. Menzies, então com apenas trinta anos, tornar-se-ia o maior desenhista de produção de Hollywood, obtendo seu maior triunfo com …E O Vento Levou / Gone With the Wind / 1939.
No elenco estavam: Snitz Edwards (Amigo do ladrão), Charles Belcher (Homem Santo), Brandon Hurst (Califa), Sojin (Príncipe Mongol) e Noble Johnson (Príncipe Indiano). Inexplicavelmente, coube a uma mulher, Mathilde Comont, com um bigode, o papel do corpulento Príncipe Persa. Fairbanks havia escolhido Evelyn Brent como atriz principal mas, em junho de 1923, Evelyn deixou abruptamente a produção e foi substituída por Julanne Johnston, uma dançarina do vaudeville. Fairbanks contratou ainda Anna May Wong (que havia visto no filme em Technicolor de duas cores, Flor de Lotus / The Toll of the Sea / 1922), para ser a escrava da princesa mongol, e ela ficou conhecida internacionalmente. Finalmente, Edward Knoblock funcionou como consultor, ajudando na preparação da história e Arthur Edeson e Mitchel Leisen continuaram nas suas respectivas funções de fotógrafo e figurinista.
Walsh, Edeson, Menzies desenvolveram o estilo Art Nouveau integrado, coerente e curvilíneo, em torno do qual o filme gira. O ladrão interpretado por Fairbanks aparece bronzeado e com o peito nú, usando brincos de argolas douradas, um bigode fino pintado a lápis, a cabeça adornada por um lenço, seus bíceps direito mostrando uma tatuagem em forma de uma estrela ao lado de uma lua no quarto crescente. Seus movimentos são leves e graciosos, os movimentos exagerados de um bailarino, perfeitamente adequados para a fantasia estilizada e a escala enorme da produção.
Entre as atrações de efeitos especiais incluem-se: o tapete mágico (na realidade uma plataforma numa grua suspensa por seis fios de aço escondidos), o cavalo alado, o dragão que cospe fogo, a caverna das árvores encantadas, a corda mágica, o manto da invisibilidade, um morcego enorme, sereias e uma aranha insólita no fundo do mar, o ídolo com vários braços, etc.
Em vez de assumir uma dupla identidade como fez em A Marca do Zorro, Fairbanks interpreta dois papéis em Don Q, o Filho do Zorro: Don Diego Vega, trinta anos depois e seu filho de vinte anos, Cesar. Passado na Espanha, o relato conta como Cesar é falsamente acusado de assassinar um arquiduque austríaco e seu pai parte apressadamente da Califórnia, para ajudar seu filho a limpar o nome da família.
Após a relativa decepção financeira de O Ladrão de Bagdad, Farbanks quís produzir um filme de sucesso garantido e decidiu que era o momento de revisitar Zorro. Ele havia adquirido previamente os direitos da continuação de Johnston McCulley, “The Further Adventures of Zorro” com a intenção de usá-la como base de uma eventual continuação de A Marca do Zorro. Entretanto, contratou Jack Cunningham (que havia preparado o roteiro de Os Bandeirantes / The Covered Wagon / 1923), para adaptar o romance de Kate e Hesketh Prichard, “Don Q’s Love Story” (Fairbanks usou “The Further Adventures of Zorro” para O Pirata Negro no ano seguinte).
O ator coadjuvante inglês Donald Crisp, que havia chamado atenção como o pai brutal de Lillian Gish em Lírio Partido / Broken Blossoms / 1919, foi contratado como diretor nominal do filme e convidado para fazer o papel de Don Sebastian. A atriz principal foi Mary Astor (Dolores), uma jovem de 18 anos que havia aparecido ao lado de John Barrymore em O Belo Brummel / Beau Brummel / 1924 e apareceria de novo com ele em Don Juan / Don Juan / 26. O ator sueco Warner Oland (depois muito conhecido como Charlie Chan numa série de filmes nos anos 30) ganhou o papel simpático do arquiduque Paul. O ator dinamarquês Jean Hersholt, que havia interpretado o desprezível Marcus em Ouro e Maldição / Greed / 1924, foi chamado para interpretar o inescrupuloso e intrigante Don Fabrique Borusta, completando-se o elenco com Albert MacQuarrie (Colonel Matsado) e Lottie Pickford, irmã de Mary, como a criada Lola. Henry Sharp, chefe do setor de fotografia do estúdio de Thomas H. Ince por mais de seis anos, substituiu Arthur Edeson e Edward M. Langley assumiu a direção de arte.
Fairbanks havia ficado muito impressionado pela maneira com que o esgrimista belga Fred Cavens coreografara as lutas de espada na versão burlesca de Os Três Mosqueteiros com Max Linder, The Three Must-Get-Theres / 1922, e requisitou seus serviços para O Filho do Zorro. Entretanto, embora haja muitas cenas de esgrima neste filme é a habilidade com que Fairbanks maneja o chicote, que domina todas as sequências de ação. Nas mãos dele, o chicote tornou-se um apêndice ao seu personagem Cesar e com ele o ator foi capaz de quebrar uma garrafa ao meio, cortar em dois um convite para o baile do arquiduque (e depois um contrato forçado de casamento), apagar uma vela, desarmar um espadachim, capturar um touro foragido pelas ruas da cidade, tirar um cigarro da boca de Don Fabrique, etc. A destreza de Fairbanks com o chicote é, de fato, admirável.
Fascinado pelas ilustrações de “The Book of Pirates” de Howard Pyle, que o lembravam das histórias sobre bucaneiros de sua infância, Fairbanks resolveu fazer um filme sobre o assunto, usando o Technicolor de duas cores, que já havia sido utilizado em sequências de produções importantes como Os Dez Mandamentos / The Ten Commandements / 1923, O Fantasma da Ópera / Phantom of the Opera / 1925 e Ben-Hur /Ben-Hur, A Tale of the Christ / 1925. Em maio de 1925, o fotógrafo Henry Sharp começou a testar a nova tecnologia, assistido pelos diretores técnicos da firma Technicolor. No mês seguinte, Fairbanks anunciou a contratação de seu amigo Albert Parker como diretor; de Fred Cavens como coreógrafo das lutas de espada; do artista Carl Oscar Borg, (muito conhecido pelas suas pinturas do Sudoeste Americano e que havia também pintado paisagens marítimas e retratos na Grã Bretanha no início de sua carreira) como diretor de arte supervisor; de Dwight Franklin, uma autoridade sobre a vida e pintura dos bucaneiros e discípulo de Howard Pyle, como diretor de arte associado; de Jack Cunningham e do poeta inglês excêntrico Robert Nichols como roteiristas. Algumas idéias sobre “The Further Adventures of Zorro” foram incorporadas em O Pirata Negro embora de uma forma alterada, notando-se também a influência de “A Ilha do Tesouro” de Robert Louis Stevenson. Tal como o desenho de produção, o conteúdo da história foi rigorosamente estilizado, um resumo de todos os mitos dos piratas. Fairbanks e sua equipe também estudaram as pinturas dos grandes mestres e Henry Sharp revelaria depois que os quadros de Rembrandt exerceram muita influência sobre o aspecto visual do filme.
Durante dois meses, Fairbanks testou várias atrizes para o principal papel feminino (Princesa Isobel) e acabou selecionando Billie Dove, que já havia aparecido num filme com cenas em Technicolor de duas cores, O Vagabundo do Deserto / Wanderer of the Wasteland / 1924, completando-se o elenco com: Sam de Grasse (Michel), Donald Crisp (Mac Tavish), Tempé Pigott (Duenna) e Anders Randolf (Capitão Pirata).
A sequência mais celebrada (e mais tarde copiada por Errol Flynn e Johnny Depp) do filme, e talvez de toda a carreira de Fairbanks, foi aquela em que o Pirata Negro, depois de capturar um galeão sozinho, cravava sua espada na vela da embarcação e descia por ela, dividindo-a em dois. A sequência foi tão espetacular que ele a repetiu poucos minutos depois. Aos 43 anos de idade, Fairbanks estava no auge de sua forma física e parecia que fazia tudo sem esforço. Outra sequência memorável foi a do grupo de abordagem, composto por cento e vinte marinheiros semi-nús e armados, nadando em formação na águas profundas e depois ascendendo para a superfície e subindo a bordo como se fossem um enxame de abelhas.
Após o lançamento do filme em Nova York, Fairbanks e Mary Pickford embarcaram para uma longa viagem no exterior, combinando negócio e prazer. Estas férias merecidas serviram para eles se afirmarem como os cidadãos do cinema na Europa, um mercado chave. O casal real de Hollywood foi recebido por diversos líderes tais como Benito Mussolini e o rei e a rainha da Espanha. Fairbanks e Pickford também foram à Russia, com uma chegada triunfante ao país no antigo vagão particular do tzar. Multidões (cem mil pessoas segundo estimativa de Pickford) os saudaram na sua chegada a Moscou. O casal se encontrou com o célebre diretor Serguei Eisenstein e apoiou a indústria cinematográfica russa, fazendo uma breve aparição num filme de Sergei Komarov, Potselui Mei Pikford (ao pé da letra, O Beijo de Mary Pickford) / 1927, que satirizava o novo fenômeno da celebridade fílmica. Pickford e Fairbanks pensaram que estavam posando para as câmeras dos cine-jornais russos. Eles não sabiam que o material filmado serviria como base para um filme de longa-metragem.
Sempre inquieto, Fairbanks procurou uma história com mais profundidade e ousadia no seu penúltimo filme mudo, O Gaúcho. Ele queria interpretar um personagem mais dark, mais sensual do que aqueles que havia encarnado antes. Assim, ele se tornou um fora-da-lei, que se deleita no seu comportamento execrável, sem ligar para as consequências. Porém é claro que – por força do Código Hays e do próprio código pessoal de conduta de Fairbanks – redime-se no final através da conversão religiosa.
Outra diferença em O Gaúcho foi a protagonista feminina. Ela não era mais a virgem pura, a donzela em perigo que precisa ser salva mas uma versão feminina de Douglas Fairbanks, a “garota das montanhas”, interpretada pela ardente Lupe Velez.
Para amenizar o tom dark do espetáculo Fairbanks tomou uma decisão inesperada: contratou um diretor de comédias, F. Richard Jones. Outra nova aquisição para a equipe foi o fotógrafo Tony Gaudio, que mais tarde filmaria As Aventuras de Robin Hood / The Adventures of Robin Hood / 1938 e outras obras importantes. Gaudio fotografou muito bem tanto as cenas de multidão como as cenas intimistas. As angulações pouco usuais e a frequente movimentação de câmera mostram a influencia do cinema alemão sobre a realização de filmes americana. Gaudio empregou também a iluminação claro-escura, criando sombras profundas e um marcante contraste de luz e sombra.
A outra mulher na história foi interpretada por Eve Southern (A Garota do Santuário), tendo sido cogitada Dolores Del Rio para fazer o papel da fogosa “garota da montanha”, que finalmente coube a Lupe Velez, então com 17 anos de idade. No elenco estavam ainda Nigel de Brulier (Padre), Gustav von Seiffertitz (Ruiz), Geraine Greear, depois conhecida como Joan Barclay (A Garota do Santuário quando menina) e Mary Pickford numa breve aparição não creditada como a Virgem Maria.
Desta vez, Fairbanks não maneja a espada, o chicote ou o arco e flecha mas as boleadoras, a arma dos vaqueiros dos pampas argentinos, e ele o faz com a mesma perícia com que usou os outros tipos de instrumentos de defesa ou de ataque.
Tal como os outros filmes de aventuras de Fairbanks, O Gaúcho é notável pelo seu estilo visual, graças à colaboração do diretor de arte supervisor, Carl Oscar Borg. Os cenários que ele e seus assistentes criaram – a gruta escarpada e coberta de hera, os degraus brancos e imaculados que conduzem ao santuário, a complexidade das várias lojas dentro da Cidade do Milagre, as tavernas enfumaçadas e a prisão escura são apresentados romanticamente em belas imagens.
O derradeiro filme silencioso de Fairbanks, O Máscara de Ferro é tão dark quanto O Gaúcho. D’Artagnan ainda é capaz de realizar feitos extraordinários mas agora tem seus cabelos prateados e pela primeira vez paga o derradeiro preço de seu heroísmo: ele morre.
Em acréscimo a Allan Dwan (dirigindo seu décimo e último filme para Fairbanks), Fairbanks reuniu uma equipe de alta categoria: Henry Sharp foi contratado como fotógrafo e Fred Cavens novamente encarregado de coreografar as lutas de espada. Muitos dos atores que compuseram o elenco de Os Três Mosqueteiros repetiram seus papéis em O Máscara de Ferro: Marguerite de la Motte (Constance), Nigel de Brulier (Cardeal Richelieu e Léon Bary (Athos), ficando ausentes o Aramis, original, Eugene Pallette, que foi substituído pelo ator italiano Gino Corrado. O Porthos original, George Siegmann morreu na fase de pré-produção e Stanley J. Sanford entrou no seu lugar. Outros novatos no cast foram: Dorothy Revier (Milady de Winter) e Belle Bennett (Ana D’Austria). Adolphe Menjou, impulsionado pelo seu sucesso em Casamento ou Luxo? / A Woman of Paris / 1923 de Charles Chaplin, não pôde repetir o seu pequeno papel de Louis XIII, que ficou para Rolfe Sedan. Completava o grupo de artistas o jovem ator William Bakewell no papel duplo de Louis XIV e de seu irmão gênio. Na direção de arte Fairbanks contou com um corpo de colaboradores fabuloso: o pintor inglês Laurence Irving como supervisor da direção de arte; o artista septuagenário francês Maurice Leloir, ilustrador da edição de 1894 do romance de Alexandre Dumas; o desenhista de produção William Cameron Menzies; os diretores de arte Carl Oscar Borg, Wilfred Buckland e Ben Carré.
O Máscara de Ferro foi lançado em duas versões para garantir o maior sucesso possível. A versão “sonora” tinha uma trilha musical soberba de Hugo Riesenfeld que incluía um coro masculino cantando o canção tema, “One for All – All for One”, efeitos sonoros, e dois discursos sincronizados, ditos por Fairbanks, gravados em som ótico, usando o Western Electric System. Para os cinemas ainda não equipados para o som, foi oferecida uma versão silenciosa sem os discursos.
Quando o primeiro palco de som da United Artists estava sendo erguido, Fairbanks chamou o diretor de arte Laurence Irving para ir lá, dar uma olhada. Laurence recordaria: “Nós descemos, e em vez de encontrarmos um lugar bem iluminado, onde todos estavam alegres trabalhando, vimos uma espécie de caverna horrível forrada de cobertores, nenhuma luz, todo o piso coberto de fios torcidos e cabos, e então aqueles microfones ameaçadores … Douglas pôs a mão no meu braço, como sempre fazia quando falava comigo, e disse: “Laurence, o romance de fazer filmes termina aqui”.