Arquivo mensais:julho 2011

JEAN GABIN

Jean Gabin  morreu numa segunda-feira, dia 15 de novembro de 1976, vitimado por um ataque cardíaco causado por problemas de hipertensão, seis meses após ter completado 73 anos. Grande astro desde 1935, ele fez 95 filmes, dos quais pelo menos uma dezena honra a História do Cinema. Dos 95 filmes, eu vi 58, entre eles todos os citados neste artigo salvo La Belle Merinière, Sombras do Passado e L ‘Année Sainte.


Deixando de lado seus anos de aprendizagem no music-hall e em estúdio (1922 – 1934) e o breve parêntese americano durante a Segunda Guerra Mundial para as companhias Fox e Universal (1941 – 1943), podemos dividir seu itinerário artístico em quatro períodos (1935 – 1940), (1946 – 1953), (1954 – 1958) e (1959-1975), durante os quais seus personagens de ficção foram mudando e evoluindo de acordo com a idade do intérprete, os operários suburbanos com seus destinos trágicos cedendo gradualmente o lugar para os burgueses não conformistas e coléricos e depois aos patriarcas revoltados e autoritários.

Magnifico ator de composição, alternando uma variedade impressionante de papéis (caçador, trapezista, capitão de navio, Poncio Pilatos, legionário, operário, ladrão, chefe de quadrilha, soldado, desertor, condutor de locomotiva, gangster, treinador de boxe, camioneiro, diretor do Moulin Rouge, juiz, dono de restaurante, pintor, advogado, garagista, comissário Maigret, Jean Valjean, policial, presidente, patriarca rural, empresário, marceneiro, médico, banqueiro, mendigo, hoteleiro, falsário, inventor, antigo tipógrafo, etc., etc.), Gabin nunca deixou de ser ele mesmo o tempo todo, alimentando assim seu mito, o único que o cinema francês conheceu.

Como observou André Brunelin em Gabin (Robert Laffont, 1987), uma das melhores biografias jamais escrita sobre um artista de cinema, Jean Gabin conseguia “transportar” sua própria personalidade para o personagem e foi talvez por causa disto que ele parecia sempre muito verdadeiro na tela.

Jean-Alexis Gabin Moncorgé nasceu no dia 17 de maio de 1904 em Paris, filho de um cantor de café concerto,  Ferdinand Moncorgé, conhecido sob o nome de Gabin, e de uma cantora fantasista, Hélène Petit. Jean passou sua primeira infância em Mériel, pequena cidade campestre de Seine-et-Oise, ao lado de seu irmão, Bébé e de suas irmãs, Madeleine e Reine, mais velhos do que ele.

Em 1917, Bébé conseguiu empregar Jean como servente de escritório na Compagnie Parisienne d’Életricité; porém a descoberta do mundo do trabalho foi interrompida quando sua mãe faleceu em 1918 e seu pai resolveu matriculá-lo no liceu Janson-de-Sailly. Passado algum tempo, Jean fugiu do colégio e se refugiou na casa de sua irmã Madeleine e seu marido, o ex-campeão de boxe peso pluma Jean Poësy, decidido a ganhar a vida sozinho.

Entre 1921 e 1922, Jean exerceu vários pequenos ofícios numa estação ferroviária, numa fundição e em lojas de automóveis. Mas Ferdinand queria que seu filho entrasse para o teatro e, com a cumplicidade de Frejol, o administrador do Folies-Bergère, “empurrou com um ponta-pé no trazeiro” o jovem para cima do palco. Como não queria contrariar o pai, com quem havia se reconciliado recentemente, Jean foi em frente e acabou superando sua aversão pela profissão de ator e gostando daquele ambiente tão sedutor. Ele fez algumas participações secundárias numa revista de Rip no Vaudeville e nas operetas “Là-Haut” e “La Dame en Décolleté” no Bouffes–Parisiens, onde conheceu Gaby Basset, que se tornou sua primeira esposa no início de 1925 durante uma das licenças de Jean do seu serviço militar na Marinha.

Retornando à vida civil, Gabin subiu de novo ao tablado em “Trois Femmes Nues” ao lado de Gaby e foi com uma trupe ao Brasil; mais tarde, contratado por Mistinguett no Moulin Rouge, estreou na revista “Paris qui Tourne” em 18 de abril de 1928. Jean continuou no Moulin Rouge dançando e cantando em dueto com Mistinguett e, quando esta deixou esta casa de espetáculos, ele continuou trabalhando ali notadamente em “Allô, ici Paris”, contracenando com a americana Elsie Janis. Esta foi a última revista do  célebre Moulin Rouge que, vendido para  a Pathé-Natan, passou a ser uma sala de cinema. Contratado novamente para o Buffes-Parisien, Jean se apaixonou por sua parceira na opereta “Flossie”, Jacqueline Francell, e Gaby pediu o divórcio.

Segundo informação de Brunelin, Jean teria feito em 1929 dois curtas-metragens mudos, L’heritage de Lilette e Les lions ou le dompteur num estúdio da Gaumont na companhia de seu parceiro do Moulin-Rouge, o cômico Dandy; mas não se sabe se esses dois filmes chegaram a ser exibidos para o público. Nessa mesma época, a U.F.A. ofereceu-lhe o papel principal na versão francesa de um dos primeiros filmes sonoros que iria ser filmado pelo estúdio berlinense: Le Chemin du Paradis. Gabin não aceitou – porque não gostara da experiência dos curtas – , sendo substituído por Henri Garat.

Entretanto, o cinema não iria esquecê-lo. Pouco depois, ele recebeu um telegrama da Pathé-Natan, convidando-o para uma visita aos estúdios de Joinville-le-Point e ele saiu dali com um contrato de três anos, para fazer comédias cantadas. O primeiro filme foi Chacun sa Chance / 1930 inaugurando a sua fase de aprendizado, que compreendeu 15 filmes ao todo – entre os quais se destacou La Belle Marinière / 1932 -, e se encerrou quando ele fez, com Madeleine Renaud, Marie Chapdeleine / 1934, seu primeiro filme de peso, dirigido por Julien Duvivier. No ano anterior, Gabin conheceu uma jovem que dançava nua no Casino de Paris sob o  nome artístico de Doriane, mas que na realidade se chamava Jeanne Mauchain,  e eles se casaram.

Após Marie Chapdelaine iniciou-se o primeiro período (1935-1939) da carreira de Gabin, repleto de clássicos realizados por quatro grandes cineastas: Julien Duviviver (A Bandeira / La Bandera/ 1935, Gólgota / Golgotha / 1935, Camaradas / La Belle Equipe / 1936, O Demônio da Argélia / Pépé le Moko / 1936), Jean Renoir (Basfonds / Les Bas-fonds / 1936, A Grande Ilusão / La Grande Illuson, / 1937, A Besta Humana / La Bête Humaine / 1938), Marcel Carné (Caís das Brumas / Le Quai des Brumes / 1938, Trágico Amanhecer / Le Jour se Lève / 1939) e Jean Grémillon (Gula de Amor / Gueule D’Amour / 1937, Águas Tempestuosas / Remorques / 1939).

Em duas dessas obras-primas estava a bela Mireille Ballin, com a qual Gabin teve uma ligação efêmera. Na filmagem de Caís das Sombras, Gabin encontrou Michèle Morgan. Ela tinha 18 anos e olhos lindos. O destino de Doriane estava selado. Mas Gabin e Michèle só começaram seu romance – que todo mundo pensou que eles viviam secretamente – um ano depois, durante a filmagem de Águas Tempestuosas.

Com O Demônio da Argélia, disseram Jacques Siclier e Jean-Claude Missiaen (Jean Gabin, Henry Veyrier, 1977), “o mito Gabin já está definitivamente formado … Gabin, o Gabin de antes da guerra, está ali, todo inteiro, com seu coração terno e suas cóleras bruscas, sua presença física e suas reações instintivas, seu universo de vida sem futuro e de evasões frustradas, onde a mulher – fatal – passa como um sonho inacessível …”.

O filme marca a instalação oficial no cinema francês do romantismo de seres marginais e da mitologia do fracasso. Balbuciante em A Bandeira, aquele personagem atinge a sua plenitude e o seu apogeu em O Demônio da Argélia, que encontra no meio da multidão, mergulhada na desilusão do Front Populaire, na angústia das consequências da Guerra Civil espanhola e no crescimento do fascismo na Europa, um sucesso considerável, impulsionando Gabin para o zênite de sua glória e, ao mesmo tempo, encerrando-o no famoso “mito” de herói anti-social.

No dia 2 de setembro de 1939, Gabin, ou melhor, Jean Moncorgé, foi convocado. Ele serviu como fuzileiro naval em Cherbourg. Em maio de 1940, Gabin e alguns  técnicos obtiveram uma permissão excepcional para terminar Águas Tempestuosas. Nesse interim, Michèle havia assinado um contrato com a RKO para trabalhar em Hollywood. Com o recrudescimento da guerra, Michèle pensou que ela e Gabin não tinham futuro. Jean aconselhou-a a partir, lhe deu alguns conselhos e disse, brincando: “Você vai ver a Greta!”.

Após o armistício, ele decidiu ir também para os Estados Unidos, recusando a oferta para fazer filmes na Continental, a companhia produtora criada pelos alemães. Com a ajuda de seu amigo, José Samitié, um jogador de futebol espanhol da equipe de Nice, Gabin conseguiu atravessar a fronteira e, em Barcelona, obteve um visto americano em fevereiro de 1941.

A carreira americana do ator francês se limitou a dois filmes, Brumas / Moontide / 1942 de Archie Mayo com Ida Lupino e O Impostor / The Impostor / 1944 de Julien Duvivier com Ellen Drew. No plano sentimental, Gabin namorou Ginger Rogers (apresentado a ela por Michèle Morgan, agora apenas sua amiga), antes de encontrar Marlene Dietrich. Eles viveriam uma grande paixão até 1947.

Marlene estava casada com Rudi Sieberg com qual tivera uma filha, Maria. Rudi foi seu único marido, embora eles vivessem a maior parte do tempo separados. Rudi manteve um relacionamento longo com outra mulher, Tamara e Marlene com muitos homens. Apesar de ser protestante, o “Anjo Azul” chocava o puritanismo americano.

Marlene disse estas palavras a respeito de Gabin: “ … O mundo conhece o talento de Gabin como ator. Não preciso falar sobre isso.  Porém sua sensibilidade é muito desconhecida. Sua face dura como couro e sua atitude viril eram completamente artificiais. Ele era o homem mais sensível que eu conhecí: um pequeno bébé morrendo de vontade de se aninhar no colo de sua mãe, de ser amado, embalado, acariciado, esta é a imagem que eu conservo dele … Gabin era o homem – o super-homem – o “homem de uma vida”. Ele era o ideal que todas as mulheres procuram. Não havia nada de falso nele. Tudo era claro e transparente”.

Preocupada com a guerra, na qual os americanos estavam totalmente engajados,  Marlene deu a sua contribuição, principalmente nos espetáculos organizados para divertir os soldados na frente de batalha. Gabin, por sua vez,  se alistou nas Forças Francesas Livres, embarcando, nos meados de 1943, no navio Elorn, encarregado, com outras embarcações do mesmo tipo, de comboiar os petroleiros através do Atlântico até a Algéria. A bordo do Elorn, Gabin passou por maus momentos quando uma esquadrilha da Luftwaffe bombardeou o comboio. No outono de 1944, Gabin fez um treinamento especial e se tornou chefe do tanque Souffleur II da Divisão Leclerc. Gabin foi condecorado com a Cruz de Guerra e a Medalha Militar.

Findo o conflito mundial, Gabin e Marlene, de volta à França, fizeram um filme juntos, Mulher Perversa / Martin Roumagnac / 1946, iniciando-se o segundo período (1946 – 1953) da carreira do ator. O filme, dirigido por Georges Lacombe,  foi um fracasso. Marlene queria retornar à América. Gabin lhe deu um ultimato: ou ela ficava ou estava tudo acabado entre eles. Marlene partiu. Gabin não a perdoou e, desde então, para ele, a ruptura foi total.

Neste segundo período, com seus cabelos prematuramente grisalhos, Gabin fez três filmes importantes (Três Dias de Vida / Au-delà des Grilles / 1949 de René Clement, O Prazer / Le Plaisir / 1952 de Max Ophuls, Amor Traído / La Vérité sur Bébé Donge / 1953 de Henri Decoin) e uma obra-prima: Grisbi, Ouro Maldito / Touchez pas au Grisbi / 1953 de Jacques Becker.

Dominique surgiu diante de Gabin, quando ele estava ensaiando para a peça La Soif pouco antes da estréia, no final de janeiro de 1949. Ela era uma manequim da Lanvin e eles se casaram no dia 28 de março de 1949. Desde que Dominique entrou na sua vida, mais nenhuma outra mulher existiu para ele. Ela lhe deu duas filhas, Florence e Valérie e um filho, Mathias. De um primeiro amor, “um erro da juventude”, Dominique teve um filho, Jacky, nascido em 1940.

Depois da morte de Gabin, Dominique lembrou para Brunelin: “Jean era então muito bonito. Muito mais belo do que havia sido anteriormente nos seus filmes que o haviam tornado célebre. Porque era uma beleza mais madura, mais viril,  com os traços que a vida, a guerra, o medo haviam endurecido. Uma dureza suavizada por um sorriso generoso e um olhar azul, que tinha um brilho alegre, quase infantil, quando ele estava feliz”.

O terceiro período da carreira de Gabin (1954 – 1958) foi muito rico artisticamente, destacando- se: French Can Can / French Can Can / 1955 de Jean Renoir, Antro do Vício / Razzia sur la Chnouf / 1955 de Henri Decoin, Vidas sem Destino / Des Gens sans Importance / 1956 de Henri Verneuil, Sedução Fatal / Voici le temps des Assassins / 1956 de Julien Duvivier, Mães Modernas / Le Cas du Dr. Laurent / 1957 e Os Miseráveis / Les Misérables / 1958 de Jean-Paul le Chanois, Assassino de Mulheres / Maigret tend un Piège / 1958 de Jean Delannoy, Amar é minha Profissão / En Cas de Malheur / 1958 de Claude Autant-Lara, Vício Maldito / Le Desordre et la Nuit / 1958 de Gilles Grangier e Volúpia de Poder / Les Grandes Familles / 1958 de Denys de La Patellière.

Pôster de Màes Modernas

Em julho de 1952, Gabin comprou os 42 hectares de terra iniciais de sua fazenda, que ele batizou de La Pichonnière, dedicada primeiramente à criação de bovinos e depois também à criação de cavalos de trote. A casa que Gabin construiu nesta propriedade foi denominada de La Moncorgerie e ficou pronta no Natal de 1957. Foi a realização de um sonho de sua infância. Dez anos depois, durante o verão de 1962, na noite de sexta-feira 27 para sábado 28 de julho às cinco horas da manhã, 700 agricultores da região cercaram a Moncorgerie e, treze dentre eles, seus líderes e dirigentes sindicais, exigiram ser recebidos por  Jean Gabin, para lhe apresentar reivindicações que eram, na verdade, exigências.

Eles disseram que 150 hectares de terra eram o bastante para Gabin e exigiram que ele emprestasse para os jovens agricultores em dificuldade, as suas outras fazendas de Digny e de Merleraut. Gabin explicou que essas fazendas eram indispensáveis ao funcionamento da Pichonnière, porque elas lhe forneciam a aveia para seus cavalos. Gabin os enfrentou sozinho, calmo, lúcido. Em nenhum momento perdeu seu sangue-frio. Os líderes começaram a ficar com medo, quando as coisas não se desenrolaram como haviam previsto, e foram embora, dizendo para a multidão, que haviam conseguido o que queriam.

Mas Gabin sofreu uma grande decepção. Ele pensou que ia encontrar no meio rural e campesino o enraizamento profundo que ele não tinha no meio do espetáculo, deu tudo de si para isso, investiu quase todo o seu dinheiro porém, na madrugada do dia 28 de julho, ele se viu face à face com a mais cruel das realidades: a comunidade campesina de sua região o rejeitava. O caso terminou na Justiça quando, na abertura do processo, Gabin decidiu retirar sua queixa contra os invasores.

Trinta produções em dezesseis anos (1959 – 1976), ou seja, uma média anual de duas produções por ano, marcaram o quarto e último período (1959 – 1976) do percurso cinematográfico de Gabin, salientando-se: O Castelo do Medo / Maigret et l’affaire Saint-Fiacre / 1959 e O Vigarista / Le Baron de l’écluse / 1959 de Jean Delannoy, O Presidente / Le President / 1960 de Henri Verneuil, O Major das Barbadas / Le Gentleman d’Epsom / 1962 de Gilles Grangier, Gângsteres de Casaca / Melodie en sous-sol / 1963 de Henri Verneuil,  O Cavalheiro / Monsieur / 1964 de Jean-Paul le Chanois, Sombras do meu Passado / Le Tonerre de Dieu / 1965 de Denys de La Patellière, Le Pacha / 1968 de Georges Lautner, La Horse / 1969 e O Gato / Le Chat / 1970 de Pierre Granier-Deferre, O Caso Dominici / L’Affaire Dominici / 1973 de Claude Bernard-Aubert e, o melhor de todos e sucesso internacional, Os Sicilianos / Le Clan des Sicilians / 1969 de Henri Verneuil. Infelizmente, o filme que Gabin fez com seu grande amigo Fernandel, na companhia produtora que eles fundaram, a Gafer, intitulado L’Age Ingrat e dirigido por Gilles Grangier, não agradou o público, deixando-o um tanto amargurado.

Grangier (com quem Gabin fez doze filmes), no seu livro de recordações, Flash-back (Presses de la Cité, 1977), contou que um dia, depois de uma filmagem em exteriores, a equipe foi para um hotel. De repente, Gabin, apareceu vestido num roupão de banho como se fosse uma toga e, majestoso, começou a declamar, para surpresa de todos, uma série de versos alexandrinos de Corneille. Todos evidentemente se perguntaram onde ele havia aprendido os versos. Certamente não teria sido interpretando uma tragédia de Corneille na Comédie Française, porque senão eles teriam sabido. Lembrança de uma lição do tempo do colégio? Gabin costumava se gabar de sua cultura esportiva mas quanto à outra, a grande, ele gostava de passar por anti cultural.

Do mesmo modo, falando de cinema ou de sua profissão de ator ele dizia, “Minha Arte”, acentuando cada palavra e com uma entonação de escárnio, recusando ser reconhecido como um “artista”. Ele zombava gentilmente de Fernandel que, ao contrário, não pronunciava uma frase sem dizer “nós, artistas”. Gabin dizia para Fernandel: “Saltimbancos, Fernandel, é isso que somos”.

Em 1964, Gabin recebeu a Legion D’honneur. Em 1976, depois  de  seu último filme, L ‘Année Sainte, dirigido por Jean Girault, ele aceitou ser mestre de cerimônia na entrega dos César.

No dia 15 de novembro deste mesmo ano, Jean Gabin faleceu no hospital americano de Neully. Seu corpo foi cremado no cemitério Père Lachaise. No dia 19, a família e alguns íntimos como Gilles Grangier, Alain Delon e o almirante Gélinet  (que comandou o esquadrão de tanque de Gabin durante a guerra) e sua esposa, embarcaram num pequeno navio e, a vinte milhas da costa de Brest, diante da tripulação rendendo suas homenagens, o comandante Pichon jogou a urna cinerária nas águas do mar e Mathias e Florence um buquê de violetas, a flor predileta de seu pai.

FILMES DE GUERRA BRITÂNICOS 1939-1945

O potencial do cinema como meio de propaganda foi amplamente reconhecido antes do início da Segunda Guerra Mundial. Nos regimes totalitários da Europa entre as duas guerras mundiais o cinema havia sido adotado pelo Estado como instrumento de doutrinação política e controle social. Lenin fez a declaração  famosa “de todas as artes, o cinema é para nós a mais importante” enquanto Goebbels considerava o cinema como um dos meios mais modernos que existia para influenciar as massas.

Quando a indústria cinematográfica britânica estava sendo ameaçada pela hegemonia econômica e cultural de Hollywood nos anos 20, o Films Act, ou Quota Act, surgiu como uma medida protetora. Ele tinha a intenção de ajudar a produção de filmes, estabelecendo uma cota mínima de filmes britânicos, que os exibidores seriam obrigados a exibir. Um dos argumentos usados em favor da legislação de cotas, era o de que uma indústria de cinema doméstica saudável seria necessária, para garantir que imagens favoráveis da Inglaterra fossem mostradas na tela.

O próximo passo foi a criação de uma unidade oficial de produção de filmes, que operou primeiramente sob a direção da Empire Marketing Board e depois, do General Post Office. A Empire Marketing Board foi fundada em 1926 com a finalidade principal de promover o comércio dentro do Império Britânico e, para tal fim, tinha uma unidade de produção de filmes chefiada por John Grierson. Em 1932, a unidade de produção de filmes foi transferida para o Public Relations Department do General Post Office, dirigido por Sir Stephen Tallents, o ex-diretor da Empire Marketing Board. Os filmes foram então usados para divulgar os serviços dos Correios, para estimular uma maior utilização deles pelos usuários e para explicar as suas vantagens.

O valor do filme como instrumento de propaganda, que havia sido vigorosamente demonstrado pela Empire Marketing Board, foi logo reconhecido por outros departamentos governamentais e pelo comércio em geral. Grandes organizações encomendaram documentários para ajudar a vender alimentos, gasolina, máquinas, açúcar, e assim por diante. Algumas indústrias organizaram suas próprias unidades de produção de filmes e trabalharam de forma independente.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a GPO foi transferida para a Films Division do Ministry of Information (MOI), que se tornou o órgão responsável por toda informação e propaganda oficial. O MOI foi muito condenado por ter demorado a entrar no ritmo certo. De fato, os planejadores dedicaram pouca atenção à organização de uma máquina de propaganda, preocupando-se com outros assuntos tais como a questão da censura dos filmes durante a guerra, particularmente dos cinejornais, que iriam cobrir as ações militares ou com o fechamento dos cinemas, por causa dos bombardeios. Os primeiros dias do MOI foram frustrados por equívocos e erros graves, talvez devido às frequentes mudanças na sua administração, tendo recebido o apelido de “Ministério da Des-Informação”, por causa dessa ineficiência inicial.

As mesmas acusações foram feitas com relação à Films Division embora com menos razão, pois alguma coisa certa foi feita. Ali também houve constantes mudanças na administração: Sir Joseph Ball esteve no comando até o final de 1939, Sir Kenneth Clark até 1940 e, subsequentemente, Jack Beddington liderou a Films Division até 1946.

Sir Joseph Ball favoreceu claramente os “líderes” da indústria cinematográfica britânica, que para ele eram as companhias produtoras de cinejornais e alguns produtores-chave como Alexander Korda. Assim que tomou posse como chefe da Films Division, Ball concedeu um tratamento preferencial para os seus favoritos. Korda recebeu uma ajuda considerável para produzir O Leão tem Asas / The Lion Has Wings, o primeiro longa-metragem de guerra. O filme não foi comissionado oficialmente mas foi oficialmente sancionado e o MOI ganhou uma participação nos lucros pela assistência que deu. Os cinejornais receberam uma quantidade de comissões e indubitavelmente desfrutaram de um dos seus períodos mais influentes durante a guerra.

Entretanto, Ball não se interessou pelo movimento documentarista britânico, que havia conquistado uma boa reputação durante os anos 30. Seu mentor, John Grierson, encontrava-se no Canadá desde o começo da guerra mas muitos de seus membros e realizadores estavam por perto e prontos para contribuir para o esforço nacional. Ball não quís nada com eles.

Já o sucessor de Ball, Sir Kenneth Clark, logo fez circular pelo MOI um “Programa para a propaganda cinematográfica”, que pretendia  usar todas as espécies de filmes – longas-metragens, documentários e cinejornais – como parte de um esforço combinado para concretizar os princípios básicos da propaganda de guerra britânica. Apareceram comissões para a produção de documentários e, durante a sua gestão na Films Division, foram tomadas as providências iniciais para a realização de Invasão de Bárbaros / 49th Parallel, totalmente financiado pelo MOI.

Clark não ficou no posto de diretor o tempo suficiente para ver a consecução de seus planos; ele foi promovido após quatro meses no cargo. Muitos documentários não se materializaram e Invasão de Bárbaros somente viu a luz do dia depois de alguns retrocessos. Mas Clark abriu as portas da Films Division para mais do que apenas uma elite que Ball havia favorecido. Ele criou uma atmosfera saudável que incitava os realizadores a contribuir com idéias para a Division e alguns deles (como Michael Powell por exemplo) reconheceram o incentivo que Clark deu para o seu trabalho.

Felizmente, a cooperação foi também a marca da gestão de Jack Beddington e, sob sua direção, a Film Division progrediu muito. Beddington certamente se beneficiou do espírito de abertura que Clark havia trazido para a seção e do fato de que ele ficou no emprego o tempo suficiente para ver os planos e projetos até a sua conclusão.

Sob a instigação de Beddington, em junho de 1940, o programa de “theatrical distribution” (distribuição dos filmes de propaganda nos cinemas) e “non-theatrical distribution”(distribuição, por unidades móveis em 16mm, fora dos circuitos de cinemas, em igrejas, fábricas, etc.), foi reorganizado e expandido. Beddington nomeou Ian Dalrymple como supervisor da produção da GPO Film Unit (depois da saída de Alberto Cavalcanti – que havia substituído Grierson – para o Ealing Studios) e, em agosto de 1940, ela ressuscitou, rebatizada de Crown Film Unit, tendo, depois disso, uma participação mais significativa no processo de propaganda.

A virtude de Beddington foi que ele compreendeu que a Films Division tinha que trabalhar com ambos os polos da indústria cinematográfica: o negócio comercial de um lado e movimento documentarista do outro. A necessidade de equilibrar e reconciliar esses dois interesses diferentes tornou-se o princípio- condutor da sua administração.

A Crown Film Unit ocupou um lugar importante no mecanismo da propaganda cinematográfica durante a guerra. Ela foi responsável por inúmeros filmes para o MOI, uma produção que consistia principalmente de documentários curtos mas incluía também alguns longas-metragens. Embora esses filmes tivessem sido concebidos no contexto das exigências da propaganda do tempo de guerra, alguns deles obtiveram um grande sucesso crítico e popular e se tornaram clássicos do cinema britânico por força de suas qualidades estéticas.

Sob a direção de Dalrymple, a Crown Film Unit se especializou num certo tipo de filme – o documentário narrativo reconstruido – que teve origem na gestão de Alberto Cavalcanti durante os anos 30, servindo como exemplo North Sea / 1938, de Harry Watt, que descrevia o resgate de pescadores de um traineira avariada.

O que Dalrymple fez foi abraçar a tradição do documentário narrativo reconstruído e desenvolvê-lo ao máximo. Isso foi ilustrado na produção de uma série de documentários narrativos em longa-metragem como, por exemplo, Alvo para esta Noite / Target for Tonight / 1941, Comando da Costa / Coastal Command / 1942 e Western Approaches / 1944, que usaram cenários de estúdio e algumas das convenções formais narrativas do cinema comercial. Essas produções foram uma novidade no campo do documentário e elevaram o perfil deste tipo de filme diante do público frequentador dos cinemas.

No início de 1942, a Crown Film Unit foi transferida para o Pinewood Studios, um dos mais novos e melhor aparelhados estúdios na Inglaterra, que havia sido requisitado pelo governo. A mudança fazia parte de um processo de racionalização por meio do qual a Crown e as unidades de produção das Forças Armadas foram reunidas sob um mesmo teto, para compartilhar as instalações. Darlrymple continuou como supervisor da produção até maio de 1943, quando pediu demissão, ao sentir que sua influência estava se desvanecendo e o seu controle do Film Unit sendo corroído por alguns novos burocratas do funcionalismo público.

A Crown Film Unit não foi a única agência de produção oficial a fazer parte do mecanismo da propaganda cinematográfica durante a guerra. As Forças Armadas também tiveram as suas próprias unidades de produção de filmes, que realizaram filmes sobre os serviços militares. Estas Service Units  faziam parte das Forças Armadas mas procuravam o MOI para obter financiamento, orientação sobre o tipo de filme a ser feito e, uma vez que seu trabalho era direcionado ao público em geral, distribuição.

As atividades cinematográficas do Exército, que eram as mais extensivas, haviam aumentado bastante desde setembro de 1939, quando apenas um cameraman do War Office, Harry Rignold, estava vinculado à Força Expedicionária Britânica. A Army Film Unit (AFU) foi criada depois de Dunquerque; em outubro de 1941 ela foi reintitulada Army Film and Photographic Unit (AFPU). Mais ou menos em 1943, a AFPU havia aumentado tanto que passou a ter 80 cameramen e oito diretores, organizados em quatro seções ligadas a diferentes setores. Além da filmagem de instantâneos da frente de batalha a AFPU era também responsável pela produção de documentários, feitos com esse material. A maioria do pessoal recrutado pela APFU (tais como  David MacDonald, Roy Boulting e Hugh Stewart) veio da indústria do filme comercial.

De 1942 em diante, a AFPU estava alojada em Pinewood juntamente com a Crown e a RAF Film Production Unit, que havia sido criada em 1941. A RAF Film Production era responsável pela realização de filmes de treinamento de navegação e registros de operações importantes assim como de documentários, que eram exibidos para o público em geral. Havia ainda duas pequenas unidades de produção de filmes, que faziam alguns filmes de treinamento para uso interno das forças armadas: a Royal Navy Film Section, sediada em Plymouth e a AKS Production Unit, instalada no estúdio requisitado da Fox em Wembley. Esta última estava sob o controle do Army Kinematograph Service (AKS), que era responsável pela produção e distribuição de filmes no âmbito do Exército. A AFPU se distinguiu pela produção de documentários de longa-metragem sobre campanhas militares como Vitória no Deserto / Desert Victory 1943, Tunisian Victory / 1944, A Verdadeira Glória / The True Glory / 1945, Burma Victory / 1945, que ficaram conhecidos como “Victory Films”.

Em comparação com a AFPU, a RAF Film Production fez menos filmes para o público em geral. Esta unidade havia sido criada para fornecer registros fílmicos do papel da RAF na guerra, mas também para fazer filmes de treinamento e de informação. A maioria dos instantâneos filmados pela RAF era cedido gratuitamente aos cinejornais, que usaram muito as tomadas dos bombardeios das cidades alemãs. Entre o material mais espetacular filmado pela RAF foi o audacioso ataque pelos Mosquitos à prisão da Gestapo em Amiens em maio de 1944, para destruir as muralhas e ajudar a fuga de membros da Resistência Francesa e o afundamento do encouraçado alemão Tirpitz no Tromso Fjord em novembro de 1944 por aviões Lancasters. Quase no final da guerra, a RAF Film Unit começou a produzir documentários narrativos de longa-metragem como Journey Together / 1945 e School for Danger depois reintitulado Escola de Bravura / Now It Can Be Told /1947, filmado em 1944 mas só exibido posteriormente.

Se houve um tema que predominou sobre todos os outros na propaganda cinematográfica, foi o papel desempenhado na guerra pelos homens e mulheres comuns. A ideologia desta “guerra do povo” (The people’s war)  que emergiu dos filmes de guerra foi a da unidade nacional e coesão social: as diferenças de classe desapareceram e foram substituidas por um senso democrático de comunidade e camaradagem. Os filmes que Humphrey Jennings fez para a Crown Film Unit durante a guerra, representam bem o tema. Após ter colaborado nos documentários da GPO tais como The First Days e Londres Sabe SofrerLondon Can Take It!, Jennings fez, entre outros, os admiráveis Listen to Britain / 1942, Fires Were Started / 1943 e Diary for Timothy / 1946.

Os filmes de longa-metragem dos primeiros anos do conflito mundial eram thrillers ou  narrativas  românticas convencionais, que simplesmente usavam a guerra como pano de fundo. Este foi o período de filmes como Gestapo / Night Train to Munich / 1940 de Carol Reed no qual Rex Harrison resgata a heroína Margaret Lockwood dos vilões da Gestapo e Mister VPimpernel Smith / 1941 de Leslie Howard no qual o ator interpretava um Pimpinela Escarlate moderno, salvando refugiados da Alemanha Nazista. Embora estes filmes tivessem sido populares nas bilheterias, eles não retratavam o esforço de guerra das pessoas comuns

Foi somente em 1942 que surgiu um novo tipo de narrativa de guerra, como Querer é Vencer / The Foreman Went to France / 1942, de Charles Frend (e tendo Alberto Cavalcanti como produtor associado), inaugurando o “estilo Ealing” de produção de filmes de baixo orçamento derivados de incidentes reais da guerra, mostrando a “guerra do povo”.

Das três forças armadas, a Royal Navy foi a mais representada em filmes de guerra entre 1940 e 1943. A preferência dos produtores de filmes pelos assuntos navais explica-se em parte pela afeição e respeito tradicionais que os britânicos têm por este serviço militar e em parte pela natureza da guerra no mar que permitia um amplo espectro de ação e drama numa época em que o Exército Britânico ainda não havia obtido nenhuma grande vitória. Filmes como  Convoy / 1940, Barcos com Asas /Ships With Wings / 1941,  Nosso Barco, Nossa Alma / In Which We Serve / 1942, We Dive at Dawn / 1943 e O Navio Mártir / San Demetrio London / 1943 ilustraram aspectos da guerra no mar, alguns baseados em acontecimentos reais, outros  inteiramente ficcionais.

Em contraste com os numerosos dramas navais feitos durante os primeiros anos e meados da guerra, os assuntos relacionados com o Exército foram relativamente pouco representados pelos filmes de propaganda. Uma das razões para isso, como eu disse linhas atrás, foi que nesse tempo não houve vitórias em terra dignas de serem dramatizadas. Outro motivo, mais profundo, foi que provavelmente o Exército nunca tivesse desfrutado da mesma afeição que os ingleses tinham pela Marinha Real. Posso citar, entre os filmes relacionados ao Exército: Alguém Falou / The Next of Kin / 1942, Nine Men / 1943 e The Life and Death of Colonel Blimp / 1943 e Têmpera de Aço / The Way Ahead / 1944.

A última das três forças armadas, a Royal Air Force foi tema de menos narrativas ainda do que o Exército e a marinha real. A RAF, havia sido objeto do pioneiro O Leão tem Asas de Alexander Korda  enquanto o Bomber Command em particular havia sido o foco de um tratamento documentarista mais rigoroso no filme da Crown, Alvo para Esta Noite; porém enquanto dramas sobre aviação proliferassem em Hollywood durante a guerra, houve relativamente poucos saídos dos estúdios britânicos. Os três filmes principais envolvendo a RAF foram Luar Perigoso / Dangerous Moonlight /1941, Por Um Ideal The First of the Few /1942 e Além das Nuvens / The Way to the Stars /1945, todos muito bem recebidos pelos espectadores e pelos críticos.

Durante  a guerra, a Ealing, a Gaisnborough e a British National foram a espinha dorsal da produção britânica. Quando a Ealing foi fundada em 1931 por Basil Dean, ele declarou que ela seria “o estúdio com um espírito de equipe”. Michael Balcon, que assumiu o cargo de chefe da produção em 1938, continuou esta tradição, contratando um grupo de diretores – Basil Dearden, Charles Crichton, Robert Hamer, Charles Frend, Serguei Nolbandov e os documentaristas Albert Cavalcanti e Harry Watt. Na Ealing foram feitos Comboio Convoy, Alguém Falou / The Next of Kin, 48 Horas / Went the Day Well?, Nine Men, Querer é Vencer, etc.

A Gainsborough foi fundada por Michael Balcon em 1924 e, três anos depois, associada à Gaumont-British Picture Corporation, que havia sido criada pelos irmãos Ostrer. Balcon tornou-se diretor de produção de ambas as companhias. A matriz Gaumont-British, sediada em Shepherd’s Bush, produzia “filmes de qualidade enquanto os Gainsborough Studios em Islington dedicavam-se a filmes mais baratos. Quando veio a guerra, a Gainsborough transferiu-se para os estúdios da Gaumont British em Shepherd’s Bush, que eram maiores e menos prováveis de serem bombardeados do que os seus próprios estúdios em Billington. Na Gainsborough foram feitos For Freedom, Um Grito de Rebelião / Uncensored, Millions Like Us, We Dive at Dawn, etc.

A British National foi criada em 1934 por J. Arthur Rank e seus associados, o produtor John Corfield e a milionária Lady Yule. A dificuldade de distribuir a primeira realização da companhia rodada no estúdio em Elstree, levou à criação da General Film Distributors, para cuidar dos filmes da companhia. Em 1935, Rank comprou metade do Pinewood Studios mas a British nunca se tornou uma grande companhia e fez a maioria dos seus filmes de rotina durante os anos 30 mais nos estúdios Welwyn ou Walton do que em Pinewood. Durante a guerra, Lady Yule adquiriu o Rock Studios e uma série de filmes  foram rodados ali até que a companhia se extinguiu em 1948. Na British National foram feitos Mister V Pimpernel Smith, The Seventh Survivor, Morreremos ao Amanhecer / Tomorrow We Live, Sabotage at Sea, Salute John Citizen, etc.

Após 1942, um rival mais importante surgiu, a Two Cities. formada em 1937 com o objetivo inicial de operar em duas cidades, Londres e Roma, daí a sua denominação. A força motriz da companhia foi o italiano Filippo Del Giudice, que produziu uma quantidade de “filmes clássicos quintessencialmente ingleses”, como Tempero de Aço / The Way Ahead, Além das  Nuvens / The Way to The Star, e inclusive o filme mais popular durante a guerra, Nosso Barco, Nossa Alma.

À medida em que a guerra se encaminhava para o quarto ano cada vez mais, ela se tornou na Frente Doméstica uma guerra de mulheres. Primeiramente, as mulheres desempenhavam o papel de manter a casa enquanto os homens  lutavam no exterior. Agora, toda mulher disponível estava sendo requisitada para trabalhar nas fábricas ou vestir um uniforme. Os dois filmes mais conhecidos sobre as mulheres britânicas durante a guerra foram Millions Like Us e The Gentle Sex, lançados em 1943.  Antes destes filmes, ambos feitos com a cooperação do MOI, o trabalho durante a guerra e as responsabilidades das mulheres inglesas haviam sido apresentados principalmente através de documentários curtos (de cinco minutos) entre os quais posso apontar A Call to Arms / 1942 mostrando duas voluntárias para o trabalho numa fábrica de munições e Night Shift / 1942, sobre as condições de trabalho para as mulheres nas fábricas.

É preciso esclarecer que não foi somente o esforço de guerra britânico que serviu de tema para a propaganda cinematográfica mas também o papel dos aliados da Inglaterra contra o Nazismo. Jiri Weiss, documentarista tcheco exilado na Inglaterra após a ocupação do seu país, propôs que a cobertura documentarista britânica durante a guerra fosse extendida para cobrir todas as nações aliadas. A criação de uma Allied Film Unit para produzir os filmes como ele propunha não se concretizou porém os documentários britânicos cobriram os esforços de guerra de seus aliados como, por exemplo, em filmes curtos como Guests of Honor / 1941, Diary of a Polish Airman / 1942, Free French Navy / 1942, Fighting Allies / 1942 e Men of Norway / 1942.

Em acréscimo, um ciclo de filmes de longa-metragem dramatizou as histórias de resistência ao nazismo na Europa ocupada, abordando um dos temas principais da propaganda cinematográfica britânica: o contraste entre os povos democráticos e amantes da liberdade e o barbarismo agressivo da Alemanha Nazista. O mais sóbrio e sincero dos filmes anti-nazistas da guerra foi O Mártir / Pastor Hall / 1940 e depois vieram outros filmes que contavam histórias sobre a resistência nos países ocupados, prestando um tributo à coragem de seus habitantes que continuavam a enfrentar o Nazismo (vg. E Um Avião Não Regressou / One of Our Aircrafts is Missing / 1942, Surgirá a Aurora / The Day Will Dawn / 1942, Um Grito de Rebelião / 1942, Secret Mission / 1942, Guerrilhas / Undercover / 1943, The Silver Fleet / 1943, Escape to Danger / 1943, The Flemish Farm / 1943).

Com exceção das Channel Islands nenhuma parte das ilhas britânicas caíram sob a ocupação nazista durante a guerra. Enquanto as narrativas sobre a resistência mostravam como os estrangeiros heroicos enfrentavam seus opressores, algumas vezes com a ajuda dos ingleses, era muito mais difícil transmitir o que aconteceria se o povo inglês estivesse na mesma posição do que os aliados franceses, belgas, holandeses ou noruegueses. Existiram apenas dois filmes durante a guerra que consideraram seriamente as possibilidades do que poderia acontecer na Inglaterra sob ocupação inimiga: 48 Horas / 1942, dirigido por Cavalcanti e The Silent Village / 1943, dirigido por Humphrey Jennings.

FILMOGRAFIA

Marquei com um + entre parêntesis os filmes que eu ví,  graças à colaboração de vários colecionadores estrangeiros, do acervo do Imperial War Museum, da Ealing, da Granada Venture Pictures, e outras companhias que lançaram em dvd muitos filmes britânicos produzidos durante a Segunda Guerra Mundial. Consultei o The British Film Catalogue: 1895-1970 de Denis Gifford (McGraw-Hill, 1973) de onde recolhí os títulos dos filmes curtos. Incluí nesta filmografia apenas os filmes feitos para entretenimento,  extirpando-se os documentários feitos por órgãos públicos, alguns dos quais foram citados no texto. Os filmes curtos são assinalados por uma letra c entre parêntesis.

1939: O ESPIA SUBMARINO / The Spy in Black (+); INVASÃO / An Englishman’s Home (c); O LEÃO TEM ASAS / The Lion Has Wings (+); MARES SEM DONO / Sons of the Sea. 1940: All Hands Up (c); Dangerous Comment (c); Now You’re Talking (c); NAS SOMBRAS DA NOITE / Contraband (+); For Freedom (+); COMBOIO / Convoy (+); Bringing it Home (c); Miss Grant Goes to the Door (c); Channel Incident (c); Miss Knowall (c); John Smith Wakes Up (c); Neutral Post (c); Down Guard (c); Telefootlers (c). 1941: UMA VOZ NAS TREVAS / Freedom Radio (+); Home Guard (c); MISTER V / Pimpernel Smith (+); LUAR PERIGOSO / Dangerous Moonlight (+); Night Watch (c); An Airman’s Letter to His Mother (c); The Seventh Survivor; INVASÃO DE BÁRBAROS / 49th Parallel (+); BARCOS COM ASAS / Ships With Wings (+). 1942: This Was Paris (+); O GRANDE BLOQUEIO / The Big Blockade (+); Unpublished Story (+); FORTALEZAS VOADORAS Flying Fortress (+); E UM AVIÃO NÃO REGRESSOU / One of Our Aircraft is Missing (+); The Owner is Aloft (c); QUERER É VENCER / The Foreman Went to France (+); POR UM IDEAL / The First of the Few (+);  SURGIRÁ A AURORA/ The Day Will Dawn (+); ALGUÉM FALOU / The Next of Kin (+); Sabotage at Sea; UM GRITO DE REBELIÃO / Uncensored; Salute John Citizen; Secret Mission (+); NOSSO BARCO. NOSSA ALMA / In Which We Serve (+); 48 HORAS / Went the Day Well? (+); Squadron Leader X; Morreremos ao Amanhecer / Tomorrow We Live. 1943: Nine Men (+); The Silver Fleet (+); The Night Invader; We Dive at Dawn (+); The Gentle Sex (+); The Bells Go Down (+); The Life and Death of Colonel Blimp (+); GUERRILHAS / Undercover (+); Escape to Danger; The Flemish Farm (+); TARTU / The Adventures of of Tartu (+); Millions Like Us (+); The Volunteer, A ESPIÃ DA ARGÉLIA / Candlelight in Algeria (+); O NAVIO MÁRTIR  /  San Demetrio London (+); There’s a Future in It (c). 1944:  O  MÁRTIR / Pastor Hall (+); Browned Off (c); For Those in Peril (+); TEMPERO DE AÇO / The Way Ahead (+); VINTE MIL MULHERES / Twenty Thousand Women (+); The Two Fathers (c); ESCOLA DE BRAVURA / Now It Can be Told (lançado em 1946 mas filmado em 1944) (+); 1945: The World Owes Me a Living (c); The Man from Morocco; ALÉM DAS NUVENS / The Way to the Stars (+); Journey Together (+).

TIM MCCOY

Ele sabia cavalgar e atirar muito bem mas o atributo que o distinguia era uma retidão moral e o seu olhar duro como aço, que causava o terror entre os  bandidos.

Assim era Tim McCoy, um dos astros do western mais populares dos anos 20 e 30, compondo, ao lado de Tom Mix, Buck Jones, Ken Maynard e Hoot Gibson, o quinteto de ouro do gênero nessa época.

Tim McCoy nasceu, com o nome de Timothy John Fitzgerald McCoy, em Saginaw, Michigan em 10 de abril de 1891, filho de irlandeses. Seu pai, Timothy H. McCoy, era um soldado da União na Guerra Civil que depois  se tornou chefe de polícia. Tim estudou no St. Ignacius College em Chicago, preparando-se para ingressar na Academia de West Point, como desejava seu progenitor. Entretanto, fascinado por um Wild West Show saiu da escola e arrumou emprego num rancho no Wyoming, onde se tornou um exímio cavaleiro e conviveu com os índios, estudando seus costumes e  aprendendo seus dialetos.

Passado algum tempo, McCoy alistou-se no Exército, sendo rapidamente promovido a Segundo Tenente, graças aos conhecimentos que acumulara dos assuntos relacionados com os pele-vermelhas. Como oficial da Cavalaria, adido ao Departamento do Interior dos Estados Unidos, Tim trabalhou como tradutor-intérprete para o Escritório dos Negócios Indígenas e adquiriu o respeito e a admiração de membros de algumas nações indígenas, que lhe deram o nome de Nee-Hee Cha Uth (em inglês, High Eagle). Durante a Primeira Guerra Mundial, Tim prestou serviços em outras áreas do Exército, até dar baixa em 1919 no posto de Tenente-Coronel, voltando ao Wyoming como agente do governo federal junto a várias tribos.

Em 1922, quando a Famous Players-Lasky / Paramount estava preparando a produção de Os Bandeirantes / The Covered Wagon, o diretor James Cruze sentiu a necessidade de ter a seu lado um elemento de ligação entre a equipe do filme e os muitos índios autênticos que nele trabalhariam. Cruze solicitou a colaboração do Exército e o nome de Tim McCoy foi recomendado e imediatamente aceito.

Jovem e bem apessoado, McCoy foi contratado para um papel de coadjuvante em Almas Bravias / The Thundering Herd, dirigido por William K. Howard e baseado num romance de Zane Grey com Jack Holt, Lois Wilson, Noah Beery e Fred Kohler e também aproveitado como conselheiro técnico em Alma Cabocla / The Vanishing American, que George B. Seitz dirigiu para a mesma companhia, em 1926, com Richard Dix, Lois Wilson, Noah Beery e Malcolm McGregor nos papéis principais.

Percebendo o lucros que outros estúdios estavam tendo com Tom Mix, Buck Jones, Ken Maynard, Hoot Gibson e outros astros de filmes ambientados no Oeste, Irving Thalberg decidiu que era chegada a hora da MGM também fazer seus westerns e escolheu Tim McCoy para ser o astro-cowboy da Marca do Leão. Entre 1912 e 1919, McCoy foi o intérprete de 16 westerns, todos dentro do padrão de qualidade da MGM, a maioria com argumentos sobre a história americana.

Para dirigir o primeiro filme, Surpresas de um Beijo / War Paint / 1926, Thalberg escolheu W. S. “Woody” Van Dyke que já vinha trabalhando na indústria cinematográfica há muitos anos em seriados e westerns (principalmente com Buck Jones na Fox) e era capaz de filmar de uma maneira rápida e econômica. Van Dyke levou McCoy para a sua residência, pediu que ele se sentasse e insistiu para que ele falasse durante duas horas sobre índios, tudo o que sabia a respeito doa indios. Graças à essa conversa, muito do sucesso obtido pelo filme foi devido à autenticidade do seu cenário e à  exatidão histórica. Jon Tuska, no seu excelente livro, The Filming of the West (Robert Hale, 1978) conta que, na trama, Iron Eyes, interpretado por Chief Yowlachie, fica descontente com a vida na reserva Araphoe, e é preso pelo Exército por anarquia. Ele foge e assedia o quartel com um bando de bravos renegados. Após penetrar nas linhas inimigas, o personagem de McCoy, Tenente Tim Marshall, enfrenta Iron Eyes num emocionante duelo a faca e o derrota. Depois, ele convence os chefes da tribo que a guerra é uma solução trágica e só poderá levar à sua extinção; e faz isto por meio de uma linguagem de sinais, numa das pantomimas mais fascinantes da tela.

No segundo filme, Espadas e Corações / Winners of the Wilderness / 1926, também dirigido por Van Dyke,  McCoy faz o papel de um oficial irlandês, Coronel Sir Dennis O’Hara, lutando ao lado dos soldados de George Washington. O roteiro baseia-se em fontes históricas, sobretudo na descrição do próprio Washington da batalha na qual o general Edward Braddock é derrotado pelos franceses e pelos índios Pontiac, seus aliados, sendo um dos momentos mais importantes do espetáculo. Tuska diz que nenhum outro filme conseguiria detalhar uma derrota com a mesma precisão ou objetividade.

O terceiro filme, California / Califórnia / 1927, mudou o local da ação para o Sudoeste, abordando o conflito entre os Estados Unidos e o Mexico. McCoy continuou interpretando um militar, Capitão Archibald Gillespie, e Van Dyke conseguiu incluir novamente algumas cenas de batalha impressionantes, particularmente na emboscada do batalhão do General Kearney pelas tropas mexicanas.

O Terror das Selvas / The Frontiersman / 1927, dirigido por Reginald Barker, foi outro western de época ou pré-western com McCoy como  John Dale, membro  da milícia do Tennessee de Andrew Jackson, tentando celebrar um tratado de paz com os índios Creek; porém seus dois filmes seguintes, na MGM, com Van Dyke de volta atrás das câmeras, Demônios Brancos / Foreign Devils / 1927 e  O Aventureiro / The Adventurer / 1928  não tinham nada a ver com o Oeste. Em Demônios Brancos, McCoy era o Capitão Robert Kelly, adido à embaixada americana na China durante a Rebelião dos Boxer; em O Aventureiro, ele era um engenheiro de mineração envolvido numa revolução na América Latina.

Despojadores do Deserto / Spoilers of the West / 1927 e Ódio Fraternal / Wyoming / 1928, respectivamente o sexto e o sétimo filme da MGM, e os dois últimos dirigidos por Van Dyke, iriam ser rodados em locação em Lander, onde McCoy  havia passado anos de sua vida e ainda possuía uma fazenda.  David O. Selznick, futuro genro de Louis B. Mayer foi nomeado produtor supervisor desses filmes e propôs a Louis B. Mayer filmar ambos os filmes simultaneamente, para reduzir as despesas. O bom resultado dessa manobra econômica encorajou Mayer a conter os custos dos westerns da Metro e Harry Rapf ficou encarregado dos filmes a partir de então. O primeiro filme sob sua responsabilidade, A Lei do Deserto / Law of the Range / 1928, dirigido por William Nigh, mostra bem o contraste com os filmes anteriores de McCoy. A partir de então seus filmes (O Cavaleiro das Serras / Beyond the Sierras / 1928, O Foragido / The Bushranger / 1928, O Cavaleiro das Trevas / Riders of the Dark / 1928, Cavaleiros Invictos / Morgan’s Last Raid / 1929, Sangue Índio / Sioux Blood / 1929, O Telégrafo Transcontinental / The Overland Telegraph /1929 e O Estafeta / The Desert Rider / 1929),  ficaram mais parecidos com os westerns B que ele faria na Columbia, basta ver inclusive os seus diretores: Nick Grinde, John Waters, etc.

Quando a MGM se recusou a renovar o contrato de McCoy em 1929, ele fez um short musical, dirigido por Nick Grinde, intitulado  A Night on the Range, no qual cantava junto com um grupo de vaqueiros em torno de uma fogueira; depois foi para a Europa de férias, voltando direto para Wyoming. Ele estava casado com Agnes Miller e tinha dois filhos e uma filha e pensou em se tornar fazendeiro quando recebeu um telegrama de seu amigo Edward Small, agente de talentos (e depois produtor), convocando-o para retornar a Hollywood. Resultado: em 1930, a Universal contratou Tim McCoy para estrelar Os Índios do Oeste / The Indians are Coming, um seriado em 12 episódios , ao lado de Allene Ray, sob a direção de Henry McRae, em versões muda e falada. A versão falada estreou no  monumental Cinema Roxy de Nova York, o primeiro serial a alcançar um lançamento na Broadway. Apoiado por uma força promocional fora do comum, o filme teve uma renda de quase um milhão de dólares em seus primeiros meses de exibição pelos Estados Unidos. Quaisquer que fossem as falhas artísticas da realização, Os Índios do Oeste fizeram avançar o western tecnicamente. Foi um dos primeiros westerns importantes a usar a música de fundo durante as cenas de ação. Esta prática desapareceria nos anos que se seguiram devido à crença de que o público ficaria confuso sem saber de onde a música vinha e só foi restabelecida com O Cavaleiro Vermelho / The Red Rider / 1934, o segundo seriado de Buck Jones na Universal e, logo depois, nos westerns em geral.

O segundo seriado de Tim McCoy na Universal foi O Herói das Chamas / Heroes of the Flames / 1931. Dirigido por Robert F. Hill, foi o primeiro não-western de McCoy com um cenário contemporâneo e ele no papel de um bombeiro. McCoy estava escalado para um terceiro seriado, Battling with Buffalo Bill, que seria baseado, tal como Os Índios do Oeste, nas memórias de William F. Cody, e ele seria Cody; porém o ator foi para a Columbia e quem fez o papel de Buffalo Bill foi Tom Tyler. No Brasil o seriado chamou-se As Aventuras de Buffalo Bill.

Em 1931, McCoy assinou contrato com a Columbia, fazendo ali 32 filmes, dos quais 24 eram westerns e os demais, dramas criminais ou filmes de aventura. O orçamento desses filmes variavam de 15 a 20 mil dólares e foi nesse estúdio que McCoy aperfeiçoou a sua rapidez no gatilho, maior do que a de todos os outros cowboys da tela. Inicialmente, McCoy usou roupa toda preta. A partir do seu terceiro filme, Desforra de um Fugitivo / The Fighting Marshal / 1931, ele passou a usar um Stetson branco; mas alternou chapéus brancos e pretos através dos anos 30, em dimensões bem maiores do que os habitualmente usados por outros cowboys.

Enquanto a carreira de McCoy estava de novo se tornando segura, sua vida pessoal passava por severas mudanças. Em 20 de julho de 1931, Agnes pediu o divórcio. A decisão judicial deu-lhe o controle da fazenda no Wyoming e a posse e guarda dos filhos.

No outono de 1932, McCoy fez sua obra-prima no período sonoro para a Columbia: O Fim da Trilha / End of the Trail. No papel do Capitão Tim Travers,  McCoy é designado para escoltar uma pequena caravana através do território indígena com um destacamento de doze homens. Os índios atacam a caravana e somente Tim e dois outros escapam. Um colega invejoso, Major Jenkins (Wheeler Oakman), que estava suprindo secretamente os índios com rifles, desperta suspeitas sobre Tim perante os olhos do comandante do forte, Coronel Burke (Lafe McKee). Quando Jenkins coloca uma carta com a letra de Tim no bolso de um contrabandista morto, Tim é levado para uma corte marcial e desligado da tropa com deshonra. Ao proferir a sentença, o Coronel Burke, culpa Tim pela sua simpatia para com os peles-vermelhas. Amargurado e humilhado, Tim deixa o forte com Sonny, um órfão cujos pais foram mortos por índios, e que ele adotou. Sonny é mortalmente ferido numa perseguição e morre antes de receber socorro.  Tim e seu amigo, Sargento O’Brien (Wade Boteler), são capturados pelos índios e levados para o acampamento deles. Tim saúda o cacique Red Cloud (Chief White Eagle) como amigo e faz um discurso para os chefes da tribo dizendo: “Meu filho foi morto  por meu próprio povo. Ainda assim, eu falo pela paz. Não pelo o que possa acontecer ao homem branco, mas pensando em vocês, meus irmãos vermelhos”. Convencido de que Tim é uma ameaça para os brancos e uma má influência sobre os índios, o Coronel Burke manda prendê-lo, para ser acusado de traição. Os índios, enraivecidos, cercam o forte e começam um cerco. A maioria dos soldados são mortos antes que Burke, tendo ouvido a confissão do Major Jenkins antes de morrer, de que fora o responsável pelos crimes imputados a Tim, pede ao seu ex-capitão que impeça o massacre. Surgindo do lado de fora dos portões do forte com um lenço branco na lâmina de sua espada, Tim põe fim à luta mas é alvejado nas costas por um soldado enlouquecido. Preocupados com a reação do público, principalmente o infantil, diante do final infeliz, os executivos substituíram-no por outro no qual Tim, com um dos braços na tipóia, recebia sua nomeação como comissário na Reserva Indígena de Powder River.

Poucas horas antes de a Columbia comunicar a McCoy a decisão de renovar seu contrato, ele aceitou o convite dos produtores das séries da Puritan Pictures Sigmund Neufeld e Leslie Simmonds e iniciou uma nova fase de sua carreira. McCoy havia trabalhado para a MGM, Universal e depois Columbia, companhias com fortes sistemas de distribuição e uma rêde de distribuidoras; de modo que, assumir um compromisso com uma pequena companhia independente, que usava o sistema de state’s rights de distribuição, foi um risco.

Ele fez dez filmes na Puritan em 1935 e 1936, todos westerns, recebendo 4 mil dólares por filme, sendo que apenas três chegaram aos nossos cinemas. Em 1938, McCoy foi para a Monogram, onde atuou em quatro westerns. No mesmo ano, assinou com a Victory Pictures de Sam Katzman, ali fazendo oito westerns, que não encontraram importadores brasileiros. Em 1940, McCoy estava na Producers Releasing Company (PRC), onde fez cinco filmes neste ano e outros dois em 1941, totalizando sete, três dos quais não exibidos no Brasil. Nos seus filmes da Puritan e da PRC, McCoy fez muitas vezes o personagem Bill Carson, homem da lei destemido, sempre na defesa dos fracos e dos oprimidos. Em 1937, assinou contrato com a Imperial, para uma série de oito filmes porém os filmes não foram feitos, obrigando McCoy a entrar com uma ação na justiça contra a firma.

Em 1935, entre o lançamento de seu último filme da Columbia e o seu primeiro para a Puritan, McCoy participou de uma temporada no Ringling Brothers & Barnum and Bailey Circus. No começo de 1938, ele organizou o seu próprio circo, Col. Tim McCoy Real Wild West Show, mas esta aventura durou pouco, dando um prejuízo de algumas centenas de dólares.

Em 1941, McCoy voltou à Monogram como integrante do trio “The Rough Raiders” ao lado de Buck Jones e Raymond Hatton. A trinca produziu oito westerns até 1942, quando McCoy dele se desligou alegando que, com a Segunda Guerra Mundial, mesmo aos 51 anos, pretendia voltar ao seviço ativo do Exército e iria se alistar como voluntário. Ele foi designado para a Força Aérea Tática, servindo na Inglaterra, França e Alemanha. McCoy tinha a seu cargo a responsabilidade de coordenar as operações de bombardeio de aviões leves e médios com as táticas avançadas do Sétimo Exército dos Estados Unidos contra as forças inimigas na parte oeste da Alemanha. Ele foi condecorado com a Estrela de Bronze e com a Legião de Honra. Desligou-se do Exército no posto de Coronel e retornou aos Estados Unidos, passando a viver na sua fazenda em Nogales, Arizona.

Quinze anos depois do divórcio de Agnes Miller, McCoy casou-se com Inga Arvad. Tiveram dois filhos – Ronald (homenagem ao amigo Ronald Colman) e Terry. Inga era uma jornalista dinamarquesa investigada no início dos anos 40 por causa de rumores de que ela seria uma espiã nazista, baseados em fotografias dela na companhia de Adolf Hitler durante as Olimpíadas de 1936 e pelo fato de que ela o entrevistou duas vezes.

McCoy faleceu em 1978 num hospital em Serra Vista, Arizona. Seu corpo foi cremado e as cinzas depositadas na sua casa em Nogales.

Enquanto preparava a produção de Around the World in 80 Days / A Volta ao Mundo em 80 Dias / 1956, Michael Todd foi procurado por numerosos atores, interessados no papel do valoroso comandante de Cavalaria do Forte Kennedy, sendo John Wayne o mais insistente. Todd porém já tinha escolhido um autêntico Coronel da Cavalaria: Tim McCoy. O grande produtor explicou sua preferência: “Porque ele tem todo o jeito de como um verdadeiro oficial de cavalaria deve ser”. Ao saber disso, McCoy disse com um sorriso: “E por que não? Afinal nos últimos 40 anos, mais de 30 tenho vivido sob sabres cruzados…”

FILMOGRAFIA

Ví poucos filmes de Tim McCoy – Os Índios dos Oeste, O Fim da Trilha, Lightning Carson Rides Again, O Vaqueiro do Arizona,  O Agente Encoberto e O Mistério da Cidade Fantasma – e, portanto, não me sinto qualificado para apontar quais os seus melhores filmes. Dos que ví, gostei mais de O Fim da Trilha.

1923 – OS BANDEIRANTES / The Covered Wagon. 1925 – ALMAS BRAVIAS / The Thundering Herd. 1926 – ALMA CABOCLA / The Vanishing American; SURPRESAS DE UM BEIJO / War Paint; ESPADAS E CORAÇÕES / Winners of the Wilderness. 1927 –  CALIFÓRNIA / California; O TERROR DAS SELVAS / The Frontiersman; DEMÔNIOS BRANCOS / Foreign Devils; DESPOJADORES DO DESERTO / Spoilers of the West; A LEI DO DESERTO / Law of the Range. 1928 – O CAVALEIRO MASCARADO / Beyond the Sierras; O AVENTUREIRO / The Adventurer; O FORAGIDO / The Bushranger; O CAVALEIRO DAS TREVAS / Riders of the Dark; ÓDIO FRATERNAL / Wyoming. 1929 – O ESTAFETA / The Desert Rider; CAVALEIROS INVICTOS / Morgan’s Last Raid; SANGUE ÍNDIO / Sioux Blood; O TELÉGRAFO TRANSCONTINENTAL / The Overland Telegraph. 1930 – OS ÍNDIOS DO OESTE / The Indians are Coming. 1931 – O HERÓI DAS CHAMAS / Heroes of the Flames; A TRILHA DA MORTE / The One Way Trail; Shotgun Pass; DESFORRA DO FUGITIVO / The Fighting Marshal. 1932 –  A LEI DO REVÓLVER / The Fightin’ Fool; O CAVALEIRO DO TEXAS / Texas Cyclone; DESAFIANDO A MORTE / Daring Danger; O CAVALEIRO CICLONE / The Riding Tornado; A LEI DA CORAGEM / Two-Fisted Law; O CERCO DA MORTE / Cornered; CÓDIGO DO OESTE / The Western Code; TRIUNFO JUSTICEIRO / Fighting for Justice; O FIM DA TRILHA / End of the Trail. 1933 – O MISTÉRIO DO BANCO / Man of Action; INIMIGOS LEAIS / Silent Man; COMPANHEIROS ERRANTES / The Whirlwind; O FORASTEIRO SOLITÁRIO / Rusty Rides Alone; O AUTO POLICIAL 17 / Police Car 17;

DETETIVE DE IMPRENSA / Hold the Press; Straightaway. 1934 – ASAS DA VELOCIDADE / Speed Wings; UM GRITO NA NOITE / Voice in the Night; DETETIVE INVISÍVEL / Hell Bent for Love; A Man’s Game; JUSTIÇA IMPLACÁVEL /Beyond the Law; O FORASTEIRO / The Prescott Kid; O CAVALEIRO DO FAR-WEST / The Westerner. 1935 – ATIRADOR JUSTICEIRO / Square Shooter; A LEI DO TERROR / Law Beyond the Range; VINGANÇA DE SANGUE / The Revenge Rider; SANGUE NA NEVE / Fighting Shadows; JUSTIÇA SERRANA / Justice of the Range; VINGANÇA A GALOPE / Riding Wild; O FALSO DELEGADO / The Outlaw Deputy; DUELO SANGRENTO / The Man from Guntown; HOMEM SEM MEDO / Bulldog Courage. 1936 – Roarin’Guns; Border Caballero; Lightnin’ Bill Carson: Aces and Eights; The Lion’s Den’; Ghost Patrol; The Traitor. 1938 – VISÕES DAS PLANÍCIES / West of Rainbow’s End; CÓDIGO DE HONRA / Code of the Rangers; JUSTIÇA ABERRANTE / Two Gun Justice; O FANTASMA DA PLANÍCIE / Phantom Ranger; Lightning Carson Rides Again; Six-Gun Trail. 1939 – Code of the Cactus; Texas Wildcats; Outlaw’s Paradise; The Fighting Renegade; Straight Shooter; Trigger Fingers. 1940  – Texas Renegades; PALADINOS DA FRONTEIRA / Frontier Cruzader; Gun Code; A QUADRILHA DO ARIZONA / Arizona Gangbusters; CAVALEIROS DO PERIGO / Riders of the Black Mountain. 1941 – BANDIDOS FRONTEIRIÇOS / Outlaws of the Rio Grande; The Texas Marshal; Série Rough Riders: O VAQUEIRO DO ARIZONA / Arizona Bound;

O AGENTE ENCOBERTO / The Gunman from Bodie; OURO FATAL / Forbidden Trails. 1942 – ALÉM DA FRONTEIRA / Below the Border; O MISTÉRIO DA CIDADE FANTASMA / Ghost Town Law; RUMO AO TEXAS / Down Texas Way; CENTAUROS VINGADORES / Riders of the West; À MARGEM DA LEI / West of the Law. 1956 – A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS / Around the World in 80 Days. 1957 – RENEGANDO SEU SANGUE / Run of the Arrow. 1965 – DESAFIO À BALA / Requiem for a Gunfighter.

PRIMEIROS ESTÚDIOS AMERICANOS

Em dezembro de 1908, depois da chamada Guerra das Patentes, envolvendo centenas de processos judiciais, os representantes das nove companhias principais que atuavam na indústria cinematográfica americana – Edison, Biograph, Vitagraph, Essanay, Kalem, Selig, Lubin, as firmas francesas Pathé e Méliès, e a Kleine Optical de George Kleine, um importador de filmes, assinaram um acordo de paz.

Sob a liderança conjunta de Edison-Biograph, as companhias  se associaram em um consórcio intitulado Motion Picture Patents Company – MPPC e fizeram um pool de 16 patentes pertencentes a todos os produtores, que cobriam filmes, câmeras e projetores, estabelecendo o pagamento de royalties em troca de licenças para o uso destas patentes. Apesar desta primeira tentativa de concentração, os produtores e distribuidores independentes continuaram seus negócios, facilitados pela procura crescente de filmes.

Tomei a liberdade de chamar de Primeiros Estúdios Americanos as companhias americanas pertencentes ao MPPC e as companhias independentes, que emergiram naquele período de crescimento da indústria do cinema nos Estados Unidos, relacionando, de forma sucinta, as mais importantes. Minha pesquisa apoiou-se, principalmente em duas magníficas publicações (The New Historical Dictionary of the American Film Industry  de Anthony Slide (Scarecrow Press, 1998) e  History of the American Film, volumes 1 e 2, escritos respectivamente por Charles Musser e Eileen Bowser (University of California, 1994).

AMERICAN FILM MANUFACTURING COMPANY – Foi fundada em 1910 por John R. Freuler, Charles J. Hite, Samuel Hutchinson e Harry E. Aitken, para produzir filmes para as suas respectivas distribuidoras. Sediada em Chicago, a American conseguiu atrair artistas da Essanay Manufacturing Company, tais como os atores J. M. Kerrigan e Dot Farley, o roteirista Allan Dwan e os diretores Thomas Ricketts, Sam Morris e Frank Beal. Conhecida também pelo apelido de “Flying A”, por causa do seu símbolo, a American criou três companhias para realizar comédias, dramas e westerns. Em 1911, Frank Beal levou uma companhia para a Costa Oeste. Dwan substituiu-o como diretor quando a equipe se fixou em San Juan Capistrano, depois em La Mesa e, finalmente, em Santa Barbara. Em janeiro de 1914, a American começou a produzir a marca “Beauty” de comédias semanais e em 1915 realizou seu primeiro seriado, O Diamante do Céu / The Diamond from the Sky com Lottie Pickford, dirigido por Jacques Jaccard e William Desmond Taylor. No ano seguinte, a American adicionou mais marcas ao seu repertório, incluindo as comédias “Vogue”, os westerns “Mustang” e os dramas “Clipper”, estrelados por Harold Lockwood e May Allison. Em 1917, com seus astros Mary Miles Minter, William Russell e Margarita Fisher, tornou-se a principal fornecedora de filmes para a distribuídora Mutual.  O número de suas produções foi decrescendo, até que Fisher saiu da companhia em 1921, e ela acabou. Outros diretores dignos de nota da American foram Lloyd Ingraham, Henry King , Frank Borzage e Edward Sloman.

BIOGRAPH COMPANY – A mais conhecida das primeiras companhias produtoras americanas pelo fato de ter sido o estúdio onde D.W. Griffith começou a sua carreira diretorial (com Adventures of Dollie em 1908) e onde ele permaneceu até 1913. Na Biograph, Griffith formou uma equipe de atores que incluía: Mary Pickford, Blanche Sweet, Lillian and Dorothy Gish, Mae Marsh, Henry B. Walthalll e Robert Harron. A Biograph Company foi fundada em 1895 por Henry Norton Marvin como American Mutoscope Company. Seu objetivo inicial era fabricar uma máquina para competir com o Cinetoscópio, o Mutoscópio, juntamente com uma série de cartões com  imagens fotográficas em vez de tiras, para serem usados nela. Mais tarde, com o auxílio do ex-colaborador de Edison, W. K. L. Dickson, a companhia fabricou uma projetor que não infringia as patentes do “Mago da Luz” e apresentou seu primeiro programa em 12 de outubro de 1896 no Hammerstein’s  Olympia Music Hall em Nova York. Nesta época, a companhia passou a se chamar American Mutoscope and Biograph Company e depois abreviou sua denominação para Biograph Company. Em 1908, juntamente com a Edison, a Biograph ajudou a organizar o consórcio, Motion Pictures Patents Company e a distribuir seus filmes através da distribuidora do truste, General Film Company. O estúdio mais conhecido da Biograph situava-se na 11 East 14th Street em Nova York, onde a companhia produziu a maior parte de seus filmes entre 1908 e 1912.

Quando Griffith deixou a Biograph em 1913, basicamente contrariado pela recusa da companhia em permitir que ele fizesse filmes de longa-metragem, sem mencionar sua atitude de não dar publicidade ao seu nome como diretor nem aos nomes dos seus intérpretes, a Biograph perdeu sua importância. Ela permaneceu ativa até 1917, produzindo novos filmes por um curto período mas praticamente reprisando as velhas produções de Griffith.

CENTAUR FILM COMPANY / NESTOR FILM COMPANY – Fundada em 1908 por David Horsley, a Centaur Film Company localizou-se em Bayonne, New Jersey. Ela lançou seu primeiro filme  em 19 de setembro de 1908 mas como isto ocorreu algumas semanas depois da Kalem Company ter feito a mesma coisa, esta, e não a Centaur, foi selecionada para ser membro da Motion Picture Patents Company, enquanto a Centaur teve a distinção de se tornar a primeira companhia independente. A Centaur deixou de existir em 1910, quando a nova companhia de Horsley, a Nestor Film Company, foi formada com seu irmão William. Uma série baseada na história em quadrinhos “Mutt e Jeff” foi uma de  suas primeiras produções. Entre os atores da Nestor estavam: Violet e Claire Mersereau, Dorothy Davenport, Alice Davenport, e o cowboy Art Acord. Em outubro de 1911, a Nestor tornou-se a primeira companhia a se instalar em Hollywood, quando alugou um prédio no Sunset Boulevard e Gower Street. Em 1912, a maioria dos filmes da Nestor estavam sendo produzidos em Los Angeles e ela foi a primeira produtora a trazer três unidades de produção para a California: Thomas Ricketts dirigia os dramas; Milton Fahrney os westerns; e Al Christie as comédias. Quando a Universal foi organizada, a Nestor passou a distribuir seus filmes através desta companhia. Por causa de uma disputa pelo controle da Nestor com a Universal, da qual Horsley possuía ações, Horsley voltou para Bayonne em 1913 e ergueu ali um novo estúdio, onde reiniciou as produções da Centaur, especializando-se em comédias curtas sob a marca “Ace”.

EDISON MANUFACTURING COMPANY – Também conhecida como Thomas A. Edison, Inc., teve sua origem nos primitivos filmes para o Cinetoscópio, realizados no Black Maria Studio, em West Orange, New Jersey em 1893. A primeira apresentação pública do chamado Vitascópio de Edison, projetor construído por Thomas Armat e C. Francis Jenkins, teve lugar no Koster and Bial’s Music Hall em Nova York em 23 de abril de 1896. Embora o próprio Edison não tivesse muito interesse na produção de filmes, sua companhia floresceu e, em 1908 a Edison Company ergueu um estúdio na Decatur Avenue no Bronx em Nova York. O novo estúdio substituiu o estúdio provisório na  41 East 21st Street, onde Edwin S. Porter havia produzido e dirigido alguns dos primeiros filmes narrativos, entre os quais O Roubo do Grande Trem / The Great Train Robbery de 1903. Entre os artistas que trabalhavam na Edison estavam Viola Dana, Mary Fuller, Charles Ogle, Mabel Trunnelle, Marc McDermott, Gertrude McCoy, Bessie Learn e Herbert Prior. Mary Fuller estrelou o primeiro seriado da companhia, What Happened to Mary? / 1912. Como membro mais importante da Motion Picture Patents Company, a Edison Company gozou de considerável sucesso de 1908 a 1912 mas quando o poder do consórcio se dissipou, a companhia perdeu sua importância. A derradeira produção da Edison foi The Unbeliever, dirigido por Alan Crosland em 1918.

ESSANAY FILM MANUFACTURING COMPANY – Fundada em 1907, em Chicago, por George K. Spoor e Gilbert M. Anderson. Anderson (Max Aronson) era um artista do vaudeville que, após aparecer como um ladrão de trem em O Grande Roubo do Trem da Edison, continuou atuando em filmes. Spoor era dono do Kinodrome Circuit, que exibia filmes nos teatros de vaudeville Orpheum da Costa Oeste. Em 1909, Anderson, seu cameraman Jesse J. Robbins e um grupo de atores fixaram-se em Niles, Califórnia onde produziram uma série de westerns de Broncho Billy, estrelada por Anderson. A Essanay integrava o consórcio Motion Picture Patents Company e seus filmes eram distribuídos pela General Film Company. Em 1915, ela se uniu à Vitagraph, à Lubin e à Selig, formando a V-L-S-E, para distribuir seus filmes principais. Em 1911, Francis X. Bushman iniciou sua carreira cinematográfica na Essanay. Em 1913, William F. “Buffalo Bill” Cody assinou contrato com a Essanay, para aparecer em filmes descrevendo os seus dias de pioneiro do Oeste. Em 1915, a Essanay trouxe Charles Chaplin da Keystone mas Spoor não conseguiu impedir que o comediante fosse para a Mutual após o fim do seu contrato em 1916. Pouco depois, Spoor adquiriu a parte de Anderson na empresa e, embora tivesse contratado Max Linder como reforço em 1917, a companhia entrou em declínio, extinguindo-se em 1918. Outros astros (ou astros do futuro) que participaram do elenco da Essanay foram: Beverly Bane, Ben Turpin, Wallace Beery, Thomas Meighan, Gloria Swanson, Bebe Daniels, Tom Mix, Ann Little, Helen Dunbar, Harold Lloyd, Rod La Rocque.

FIRST NATIONAL PICTURES, INC. – Foi criada em 1917 como um circuito de exibidores independentes sob a denominação inicial de First National Exhibitors Circuit, Inc. Thomas L. Tally e J. D. Williams foram os dois homens responsáveis pela sua formação, aos quais se juntaram 25 outros exibidores fundadores. Por causa dos problemas envolvendo a obtenção de filmes dos produtores, o alto custo do aluguel, a venda por pacote e a qualidade inferior de algumas cópias, esses exibidores decidiram se unir e conseguir os filmes diretamente dos astros e diretores. A maior façanha da First National foi a assinatura de um contrato com Charles Chaplin, não somente oferecendo-lhe mais dinheiro do que a Mutual como também estabelecendo-o como produtor e com seu próprio estúdio em Hollywood na esquina de Sunset com La Brea. Chaplin fez seis filmes para a nova organização, entre eles, Ombro Armas / Shoulder Arms / 1918, O Garoto / The Kid / 1920 e O Emigrante / The Pilgrim / 1922. A First National atraiu também Mary Pickford da Paramount. Consta que, para evitar isso, Adolph Zukor ofereceu 250 mil dólares para Mary ficar afastada das telas por cinco anos mas ela rejeitou a proposta. A First National passou por uma reforma, adotando a denominação Associated First National Theatres Incorporated e conseguiu contratar Norma e Constance Talmadge, Marshall Neilan, Allan Dwan, Maurice Tourneur, Frank Borzage e outros.

Em 1921, a First National importou o filme alemão Madame du Barry / Madame du Barry / 1919, rebatizou-o de Passion, e o lançou com sucesso nos Estados Unidos, criando ao mesmo tempo uma carreira americana para a sua atriz Pola Negri e seu diretor Ernst Lubitsch. Em 1922, a First National resolveu criar a sua própria produtora e instalou estúdios em Burbank, California. Em 1928, a companhia foi comprada pela Warner Bros mas, como estipulado no contrato de compra e venda, os filmes da Warner Bros. foram chamados de “First National Pictures”. Os filmes da Warner Bros, e depois designados como First National Productions  até os anos 40.

FOX FILM CORPORATION – As raízes da companhia datam de 1904. Naquele ano, William Fox, um exibidor de Nova York, organizou a General Film Rental Company, para distribuir filmes, após ter sobrevivido a uma batalha legal com a General Film Company. Em 1913, William Fox decidiu entrar no ramo da produção e mudou o nome de sua companhia para Box Office Attractions Film Rental Company. O primeiro sucesso de Fox foi Escravo de uma Paixão / A Fool There Was, que fez de Theda Bara uma estrela da noite para o dia e deu novo significado à palavra “vampire”, criando toda uma geração de “vamps”. Em 1915, o nome da companhia foi mudado para Fox Film Corporation e instalado um estúdio permanente na California. Em 1919, foram abertos escritórios em Berlim, Londres e Dublin para distribuir os filmes da Fox e para ajudar na realização de jornais cinematográficos (uma vez que o Fox News havia sido lançado naquele mesmo ano). A companhia começou a se expandir durante os anos 20, para se tornar a 20th  Century-Fox, um dos grandes estúdios na Época de Ouro de Hollywood.

GEORGE KLEINE OPTICAL COMPANY – Fundada em 1907 em Chicago por George Kleine, para fabricar equipamento ótico, lentes, projetores e filmes virgens. Entretanto, Kleine ficou mais conhecido pela importação de filmes estrangeiros tais como Quo Vadis , Otello e Gli ultimi giorni di Pompei, trazidos da Itália. Em 1907,  Kleine organizou com Samuel Long e Frank Marion, a Kalem Company, Inc., que se juntou à Motion Picture Patents Company e distribuiu seus filmes pela Gerneral Film.

GOLDWYN PICTURES CORPORATION – Fundada em dezembro de 1916 por Samuel Goldfish e Archibald Selwyn (Goldwyn adotou o nome da companhia como seu em 1918). Com estúdios em Fort Lee, New Jersey, eles seguiram a política de Adolph Zukor, de utilizar grandes nomes do mundo teatral nas suas produções. Assim, foram contratados dramaturgos como Bayard Veiller, Avery Hopwood e Margaret Mayo; atrizes como Madge Kennedy, Maxime Elliott, e Jane Cowl; e cantoras de ópera como Mary Garden e Geraldine Farrar. Deste grupo, somente Geraldine Farrar e Madge Kennedy provaram a sua popularidade entre os espectadores. Uma outra personalidade do palco que iniciou uma carreira na Goldwyn foi Will Rogers. Percebendo a necessidade de ter no seu elenco personalidades do cinema já reconhecidas pelo público, Goldwyn contratou Mabel Normand e Mae Marsh porém nenhuma das duas alcançou o êxito esperado.

Igualmente decepcionante foi a Eminent Authors Pictures, Inc., organizada por Goldwyn em 1919, onde autores populares como Rex Beach, Gertrude Atherton, Gouverneur Morris, Rupert Hughes e Mary Roberts Rinehart, adaptariam suas obras para a tela. Os eminentes autores se recusavam a entender a técnica do filme e a experiência foi um fracasso embora tivesse ocasionado um filme superior, Satanás The Penalty / 1920, estrelado por Lon Chaney e baseado numa história de Gouverneur Morris. Em 1922, Goldwyn foi removido do cargo de presidente pelo voto dos acionistas. A Goldwyn Pictures Corporation se fundiu com a Metro Pictures Corporation e com a companhia produtora de Louis B. Mayer, para formar a Metro-Goldwyn-Mayer. Em 1924, Goldwyn fundou uma nova companhia, Samuel Goldwyn, Inc.

IMP (INDEPENDENT MOTION PICTURE CORPORATION) – Carl Laemmle fundou, com seu sócio num nickelodeon em Chicago, Robert Cochrane, a Laemmle Film Service, que se tornou uma das maiores distribuidoras do país. Quando a Motion Picture Patents Company começou a questionar a sua independência, Laemmle revidou, tornando-se produtor, formando, em 1909, a IMP Corporation.  O primeiro filme da companhia  foi uma versão em um rolo do poema “Hiawatha” de Longfellow, dirigida por William V. Ranous e protagonizada por Gladys Hulette. Um ano depois, Laemmle conseguiu atrair Florence Lawrence da Biograph, da qual ela era a atriz principal.

Ele institucionalizou o Star System , publicando num anúncio da Moving Picture World uma foto de Florence proclamando: “Ela é uma IMP”. Mary Pickford também trabalhou durante um curto período como atriz da IMP. Em junho de 1912, Carl Lammle fundou uma nova organização, Universal Film Manufacturing, Inc., fundindo a IMP com a Powers Picture Plays, Bison Life Motion Picture Company, Rex, Nestor e Champion.  A Universal operava dois estúdios em Los Angeles, um em Edendale e o antigo Nestor Studios no Sunset Boulvevard com Gower Street. Entre os filmes mais conhecidos desta primeira fase da Universal estavam: Traffic in Souls / 1913 e  A Filha de Netuno / Neptune’s Daughter / 1914. Em 15 de março de 1915,  a Universal City foi inaugurada no San Fernando Valley. A Universal se tornaria uma das grandes companhias do Sistema de Estúdio de Hollywood.

KALEM COMPANY, INC. – Fundada em 1907 em Nova York por George Kleine, Samuel Long e Frank J. Marion. Kleine era dono da Kleine Optical Company de Chicago; Long e Marion haviam sido respectivamente gerente de um estúdio da Biograph e promotor de vendas da mesma companhia. Sob a direção de Sidney Olcott, a Kalem realizou alguns filmes significativos como a primeira adaptação de Ben-Hur para a tela e uma versão de Dr. Jekyll and Mr. Hyde. A Kalem fazia parte da Motion Pictures Patents Company, distribuindo seus filmes pela General Film Company. Em 1910, Olcott, que tinha descendência irlandesa, levou para a Irlanda uma pequena unidade de produção, da qual faziam parte: Gene Gauntier (que além de ser a atriz principal exercia a função de roteirista), o ator Robert G. Eles Vignola e o cameraman George Hollister. A unidade se instalou em Beaufort, County Kerry e voltou lá no ano seguinte com uma equipe maior. Eles ficaram conhecidos com “os O’Kalem”. Em 1912, Olcott, Gauntier, Vignola e outros viajaram até a Palestina, para rodar Da Manjedoura à Cruz /  From the Manger to the Cross, considerado o filme mudo mais importante sobre a Vida do Cristo. Em 1914, J. P. McGowan produziu o primeiro dos 119 episódios do seriado As Façanhas de Helen / The Hazards of Helen com Helen Homes. Helen só trabalhou nos primeiros 26 episódios, sendo substituída por Elsie McLeod nos episódios 27-49, até que uma “Helen” permanente foi encontrada: Helen Gibson. Em 1917, a Kalem foi vendida para a Vitagraph.

KEYSTONE FILM COMPANY – Fundada em 1912 pelo ex-ator e diretor de comédias da Biograph, Mack Sennett, e pelos donos da New York Motion Picture Company, Adam Kessel, Jr. e Charles O. Baumann, esta companhia tinha escritórios em Nova York. Os filmes foram realizados inicialmente em Fort Lee, New Jersey. Depois, a companhia se fixou em Edendale, Califórnia. A procura pelas comédias da Keystone cresceu e logo Mabel Normand começou a dirigir uma segunda unidade de produção. Charles Chaplin fez sua estréia no cinema, em 1914, no filme da Keystone,  Carlitos Repórter / Making a Living. Antes de sair da companhia no final desse ano, Chaplin já havia criado o seu personagem do vagabundo e estava dirigindo e escrevendo seus próprios filmes. Em novembro de 1914, o filme de longa-metragem, Idílio Desfeito ou O Casamento de Carlitos ou Carlitos Casanova / Tillie’s Punctured Romance, estrelado por Mabel Normand, Marie Dressler, e Chaplin, foi exibido com grande êxito. Em 1915, a Keystone, juntamente com D.W. Griffith e Thomas H. Ince, formou a Triangle Film Corporation. Em 1917, a Keystone deixou de existir. No mesmo ano, Mack Sennett organizou a sua própria companhia e começou a produzir filmes independentes. Além dos artistas já citados, começaram suas carreiras na Keystone: Harold Lloyd, Gloria Swanson, Louise Fazenda, Raymond Griffith, Ford Sterling, Fatty Arbuckle, Ben Turoin, Harry Langdon e Chester Conklin.

LUBIN MANUFACTURING COMPANY – Siegmund Lubin, originariamente um perito em ótica e fotografia, construiu uma câmera / projetor, que batizou de “Cineograph” e,  em 1897, começou a fazer filmes para lançamento comercial no terraço de um edifício em Filadelfia. Neste mesmo ano, ele reencenou a luta pelo campeonato mundial de pesos pesados entre James Corbett e Bob Fitzsimmons, usando como “atores” dois ferroviários. Embora Lubin tivesse que cessar suas atividades de produtor por causa da ação proposta por Edison contra ele, sua companhia se juntaria mais tarde ao consórcio Motion Pictures Patents Company, distribuindo seus filmes através da General Film Company. Em 1904, Lubin refilmou O Roubo do Grande Trem de Edwin S. Porter com o título de The Bold Bank Robbery e, em 1910, construiu um estúdio bem moderno em Filadelfia, que ficou conhecido como “Lubinville”. A Lubin Manufacturing Company expandiu suas atividades de produção para Jacksonville, Los Angeles e Coronado e, em 1912, comprou terras em Betzwood no norte de Filadelfia, convertendo a propriedade num novo estúdio. Em 1915, a Lubin se uniu à Vitagraph, Selig e Essanay para formar a V-L-S-E. Alguns dos artistas que trabalharam na Lubin foram: Harry Myers, Florence Hackett, Alan Hale, Arthur Johnson, Lotte Briscoe, Florence Lawrence, Ethel Clayton, Gladys Brokwell Ormi Hawley, Billy Reeves, Rosemary Theby, Pearl White e Edwin Carewe e Frank Borzage, que começaram sua carreira como atores.

Em 19189,  o estúdio de Betzwood foi comprado por uma companhia récem-organizada, a Betzwood Film Company, da qual o genro de Lubin era o gerente geral. Devido a um incêndio que destruiu os negativos e vários de seus filmes ainda não lançados, à paralização das vendas para o exterior ao irromper a Primeira Guerra Mundial e ao fim do monopólio da Motion Picture Patents Company, a Lubin acabou pedindo falência e, em 1916, fechou as portas.

METRO PICTURES CORPORATION – A precursora da M-G-M foi fundada em 5 de março de 1915 com Richard Rowland como presidente da companhia. Ela teve origem na Alco Film Company constituída no ano anterior por Al Lichtman e W. H. Seeley, que servia de distribuidora para várias produtoras. Um ano após a sua fundação, a Metro havia se tornado uma importante produtora / distribuidora com astros como Francis X. Bushman, Mary Miles Minter e Olga Petrova sob contrato, além de atrair Mr. e Mrs. Sidney Drew da Vitagraph. Seus estúdios estavam localizados na Romaine Street em Hollywood, onde se originou uma série de filmes de alto orçamento, que a Metro chamava de “filmes de qualidade”, sob o nome de marca, Screen Classics, Inc. Apesar de produzir uma média de 60 filmes por ano, a Metro sofreu muito revezes financeiros, devido em parte pela enorme quantidade de dinheiro que ela estava disposta a pagar por direitos de adaptação de romances tais como The Four Horsemen of the Apocalypse. Em 1920, o acervo da Metro foi comprado pela Loews, Inc., o primeiro passo na transformação da companhia para Metro-Goldwyn-Mayer, um dos maiores estúdios de Hollywood na sua melhor fase.

MUTUAL FILM CORPORATION – Organizada em março de 1912 como um sistema de distribuição independente, para funcionar numa maneira semelhante à General Film Company. Harry Aitken, o presidente da Mutual e John R. Freuler, o vice-presidente, obtiveram o apoio dos financistas Crawford Livingston e Otto Kahn (da Kuhn, Loeb and Company) no empreendimento. Em 1911, Aitken havia fundado a Majestic com Thomas Cochrane como gerente geral e Mary Pickford e Owen Moore como astros. No mesmo ano, Aitken comprou a Reliance de Charles  O. Baumann. Em 1912, Adam Kessel e Baumann, formaram a Keystone Film Company com Mack Sennett para produzir filmes para a Mutual. Em outubro de 1913, a Mutual contratou D. W. Griffith como encarregado dos estúdios Reliance e Majestic. No mês seguinte, o cameraman de Griffith, Billy Bitzer, entrou para a Mutual juntamente com os diretores Edward Dillon e Christy Cabanne, o ator Courtenay Foote e o roteirista Frank Woods. Griffith logo se estabeleceu com sua companhia num estúdio na Sunset Boulevard em Hollywood. Os filmes supervisionados por Griffith eram denominados Fine-Arts Productions. No final de 1913, foi formada a Continental Feature Film Company, subsidiária da Mutual, para distribuir os filmes realizados pela Reliance.

Em janeiro de 1914, a Mutual acertou com Pancho Villa a  permissão e cooperação para a filmagem das batalhas da Guerra do México. De acordo com Terry Ramsaye (A Million and One Nights), Villa retardava o início das hostilidades, até que os cameramen da Mutual estivessem prontos para rodar, lutava durante o dia e não à noite para propiciar uma boa filmagem e se certificava de que a sua imagem estivesse sempre em destaque  no filme. Mais tarde, a Mutual usou algumas das cenas no filme de ficção Life of Villa, estrelado por Raoul Walsh. Em 1926, a Mutual contratou Charles Chaplin para produzir comédias para a companhia. A nova companhia de Chaplin, Lone Star Film Corporation, produziu 12 filmes e encerrou suas atividades em 1917, quando Chaplin foi para a First National. Em 1918, a Affiliated Distributor’s Corporation adquiriu 51% da Mutual, que estava perdendo dinheiro na ocasião em uma proporção alarmante. Pouco depois, foi constituída a Exhibitor’s Mutual Distributing Company, que era praticamente uma descendente da Mutual e da Affiliated.

NEW YORK MOTION PICTURE COMPANY – Fundada por Adam Kessel, Jr. e Charles O. Baumann. Eles se uniram ao cameraman Fred J. Balshofer para fazer seu primeiro filme, estreado em maio de 1909. Os filmes da NYMPC, conhecidos como ”Bison” Life Motion Pictures, usavam o emblema de um bisão na sua publicidade. Em 1909, a NYMPC tornou-se a distribuidora americana das companhias Itala e Ambrosio da Itália. Kessel e Baumann organizaram, com outros produtores, a Universal Film Manufacturing Company mas logo se separaram desta companhia, filiando-se à Mutual Film Corporation. No verão de 1909, a NYMPC mandou uma equipe sob a direção de Balshofer para Los Angeles, a fim de produzir filmes da “Bison” em Edendale. Faziam parte do grupo: J. Barney Sherry, Charles K. French, Jane Darrell, Evelyn Graham, William Edwards, William Gibbons, Charles Avery, Charles Inslee, James Youngdeer e Red Wing.  Em 1912, Kessel e Baumann chamaram Thomas H. Ince, para  assumir a função de diretor. Ele fez apenas alguns filmes antes de tomar posse de um rancho nas montanhas de Santa Monica, que ficou conhecido como “Inceville”. Nesta ocasião, Ince sugeriu a Kessel e Baumann que contratassem o Miller Brothers Ranch, um espetáculo do Velho Oeste itinerante muito popular. Depois que a companhia abandonou a Universal e teve que deixar as marcas Bison e Bison 101 para os filmes feitos com o Miller Brothers, ela criou novas marcas como Kay-Bee e Broncho. Em julho de 1912, Kessel e Baumann formaram a Keystone Film Company com Mack Sennett. Em 1913, a NYMPC criou uma nova marca, Domino. Em 1915, com a criação da Triangle Film Corporation e o fim do contrato da NYMPC com a Mutual, os estúdios Ince mudaram–se para Culver City. Ince formou sua própria companhia, para produzir os filmes Artcraft da Famous Players-Lasky Corporation.

PARAMOUNT PICTURES, INC. – Fundada em 1914, exclusivamente como  distribuidora, por W.W. Hodkinson. Como produtora, ela teve suas origens na Famous Players Film Company, organizada em 1 de junho de 1912 por Adolph Zukor e na Jesse L. Lasky Feature Play Company, organizada em 26 de novembro de 1913, por Lasky. A Famous Players Film Company foi responsável pela importação do filme francês, Elizabeth, Rainha da Inglaterra / La Reine Elizabeth / 1912,  com Sarah Bernhardt, o primeiro a dar respeitabilidade à indústria e um dos primeiros filmes de longa-metragem levado às telas nos Estados Unidos. A Jesse L. Lasky Feature Film Company produziu Amor que Sofre / The Squaw Man / 1914, dirigido por Cecil B. DeMille e Oscar Apfel, que foi a primeira produção de longa-metragem importante filmada em Hollywood. Como distribuidora, a Paramount cuidava não somente dos filmes da Lasky e da Famous Players como também dos filmes da Bosworth, Inc. (formada em 1913 pelo ator Hobart Bosworth) e Oliver Morosco Photoplay Company (formada em 1914 pelo produtor teatral Morosco). Em maio de 1916, 50% das ações da Paramount foi adquirida por Zukor e Lasky e, um mês depois, Hodkinson pediu demissão como presidente da companhia (para ser sucedido por Hiram Abrams). Em junho de 1916, foi incorporada a Famous Players-Lasky Corporation com Zukor como presidente mas a denominação Paramount permaneceu para fins comerciais.

Em julho de 1916, a companhia organizou a Artcraft Pictures Corporation, para lançar os filmes de Mary Pickford  porém mais tarde o nome Artcraft foi utilizado para toda grande produção da Paramount. Em maio de 1919, foi fundada a Realart Pictures Corporation, para cuidar das produções menores da Paramount.  Adolph Zukor foi o responsável pelo sucesso financeiro da companhia. Ele construiu uma cadeia de cinemas e tentou, sem êxito, dar à Paramount o monopólio da indústria cinematográfica. Jesse L. Lasky era a força criativa nos bastidores do estúdio, responsável pela contratação de astros como Mary Pickford, Rudolph Valentino, Geraldine Farrar, Wallace Reid, Pola Negri, Gloria Swanson e Thomas Meighan e diretores como Cecil B. DeMille, Maurice Tourneur e D. W. Griffith. A Paramount seria um dos grandes estúdios da Terra do Cinema nos seus melhores dias.

SELIG POLYSCOPE COMPANY – Fundada em 1896 em Chicago por William N. Selig, ex-mágico itinerante e  empresário de shows de menestréis, quando inventou uma câmera-projetor chamada Polyscope. Foi primeiramente denominada Mutoscope & Film Co. e, seis meses depois, Selig Polyscope Company. Selig realizou filmes de atualidades locais, comédias pastelão, filmes de viagem (travelogues) e industriais (um de seus clientes foi o frigorífico Armour and Company). Em 1904, Selig produziu o que ele chamou de  “realmente seu primeiro filme”, a comédia Humpty Dumpty. Ele se juntou com Edison e outras companhias para formar a Motion Picture Patents Company.  Em 1908, Selig enviou o ex-diretor de teatro Francis Boggs para a California com uma equipe que incluía: Thomas Santschi, James L. McGee, James Crosby, Harry Todd, Gene Ward e Mrs. Boggs. Eles filmaram algumas cenas de exteriores para The Count of Monte Cristo, razão pela qual a Selig costuma ser apontada como a primeira grande companhia  a rodar um filme em locação na área de Los Angeles (e depois voltar ali para abrir um estúdio em Edendale).  Em 1909, a Selig produziu, no seu estúdio em Chicago, Hunting Big Game in Africa, que recriava a recente expedição de caça do Presidente Theodor Roosevelt, obtendo um grande sucesso.

Em 1911, foi inaugurado o Selig Jungle Zoo, em Los Angeles. Este jardim zoológico acabou se tornando a maior coleção de animais selvagens do mundo. Mais tarde, foi aberto um estúdio em Glendale, onde Tom Mix dirigiu e estrelou seus western.

Em 1913, a Selig lançou o primeiro episódio daquele que foi considerado o primeiro seriado verdadeiro, As Aventuras de Catarina / The Adventures of Kathlyn, estrelado por Kathlyn Williams. Em 1915, juntamente com a Vitagraph, Lubin, e Essanay, a Selig formou a V-L-S-E. No ano seguinte, foi formado o grupo distribuidor K-E-S-E com Kleine e Edison substituindo Vitagraph e Lubin. A Selig Company cessou a produção em 1918, embora o “Colonel Selig  (como William Selig era chamado) continuasse a se envolver em várias atividades cinematográfica durante os anos 30. Entre os diretores que trabalharam para Selig podemos destacar: Colin Campbell, Tom Mix, Lawrence Marston, Thomas Santschi, George Nicholls, Lloyd Carleton, Marshall Neilan, Jack Le Saint e Frank Beal; entre os intérpretes: Kathlyn Williams, Thomas Santschi, Tom Mix, Wheeler Oakman, Charles Clary, Hobart Bosworth, Betty Harte, William V. Mong, Al Garcia, Herbert Rawlinson, Bessie Eyton, Nick Cogley, Baby Lilian Wade, Myrtle Stedman, Eugenie Besserer e Harold Lockwood.

LEWIS J. SELZNICK PRODUCXTIONS, INC – Fundada em 1916, depois que Selznick deixou seu cargo de vice-presidente e gerente geral da World Film Corporation e criou a Clara Kimball Young Film Corporation, com a ex-atriz principal da World. Selznick distribuiu filmes da Herbert Brenon Film Corporation da qual ele era metade sócio e que produzia filmes estrelados por Alla Nazimova e da Norma Talmadge Film Corporation. Em 1917, Adolph Zukor comprou secretamente 50% da companhia de Selznick. Este continuou presidindo a companhia mas ela adotou uma nova denominação, Select Pictures Corporation. Em janeiro de 1919,  o filho de Lewis, Myron, organizou a Selznick Pictures Corporation e começou a produzir filmes dirigidos por Ralph Ince e estrelados por Olive Thomas, Eugene O’Brien e Elsie James. O irmão de Myron, David era o tesoureiro. Em 10 de abril de 1919, Lewis J. Selznick comprou a outra metade da Select. Em maio de 1919, David Selznick, agora conhecido como David J. Selznick, tornou-se o gerente da Select em New England, que faliu em 1923.

THANHOUSER FILM CORPORATION – Fundada pelo empresário teatral Edwin Thanhouser em 1909 com estúdios em New Rochelle. A Thanhouser usava muitas crianças em seus filmes e entre as que ela mantinha sob contrato estavam: Helen Bagley, Marie Eline, e Marion e Madeline Fairbanks (as gêmeas da Thanhouser). Outros atores da Thanhouser eram: Florence La Badie, Mignon Anderson, Marguerite Snow, James Cruze e William Russell. Em 1912, a Thanhouser inaugurou um estúdio em Jacksonville, Florida e neste mesmo ano a companhia foi comprada por um sindicato liderado por C. J. Hite. No ano de 1913, houve a destruição dos estúdios da Thanhouser em New Rochelle num incêndio, a contratação da famosa atriz do teatro, Maude Fealy e o lançamento do primeiro seriado da companhia, O Mistério de Um Milhão de Dólares / The Million Dollar Mystery. Quando C. J. Hite foi morto em 1914 num desastre de automóvel, Edwin Thanhauser voltou como chefe do estúdio. Em 1916,  A Thanhouser realizou os filmes nos quais Jeanne Eagels fez sua estréia no cinema, The World and the Woman e Chamas da Juventude / Fires of Youth. Edwin Thanhouser aposentou-se em fevereiro de 1918 e o estúdio foi alugado por Clara Kimball Young. Em 1919, foi vendido para Crawford Livingston e Wilbert Shallemberger e, no mesmo ano, passo a ser  o local das filmagens da B.A. Rolfe Photoplays.

TRIANGLE FILM CORPORATION – Criada em 1915 por algumas figuras importantes associadas com a Mutual Film Corporation. Harry A. Aitken era o presidente, Adam Kessel, tesoureiro e os produtores D.W. Griffith, Thomas H. Ince e Mack Sennett, juntamente com Charles O. Baumann,  vice-presidentes. A companhia foi formada para produzir e distribuir filmes de múltiplos rolos realizados pelas firmas dos três produtores e alugar uma cadeia de cinemas de primeira classe nas maiores cidades dos Estados Unidos, para exibir suas produções mais elaboradas. A Triangle atraiu artistas do palco, vaudeville e comédia musical tais como Sir Herbert Beerbohm Tree, Mary Anderson de Navarro, Weber e Fields, DeWolf Hopper, William Collier, Billie Burke, Mario Doro, Elliott Dexter, Texas Guinan, Helen Ware, Jane Grey, Joe Jackson, Eddie Foy, Mary Boland e Julia Dean. Em 1916, a Triangle Distributing foi criada para administrar as produções da Fine Arts, Kay-Bee e Keystone. W.W. Hodkinson era o presidente e gerente geral. Quando Griffith, Ince e Sennnet deixaram a organização, a Triangle reteve o controle da marca da Keystone e H. O. Davis assumiu o controle da companhia. A Paralta Plays, Inc. (fundada em 1917 com Carl Anderson, Herman Katz e Robert T. Kane nos principais cargos de direção) distribuiu seus filmes pela Triangle por um curto período. Em setembro de 1917, houve um anúncio de que a Triangle estava planejando produzir filmes na India, China e Buenos Aires mas não se realizou nada de concreto. Nos meados de 1919, a Goldwyn comprou o estúdio da Triangle em Culver City.

VITAGRAPH COMPANY OF AMERICA – Foi a primeira a agrupar um elenco permanente de astros, a experimentar com êxito filmes de truques e de animação, a filmar clássicos de Shakespeare e Dickens e a usar o cinema como propaganda. Foi fundada por J. Stuart Blackton e Albert E. Smith em 1897; um terceiro sócio, o distribuidor William “Pop” Rock, aderiu à companhia na virada do século. O primeiro estúdio da Vitagraph estava localizado no terraço de um edifício na Nassau Street em Manhattan, onde foram produzidos dois filmes importantes: The Burglar on the Roof e The Battle of Manilla Bay. Em 1905, as operações da companhia foram transferidas para a área de Flatbush no Brooklyn e, pouco depois, constituiu-se um elenco de atores e diretores que incluía: Florence Turner, Maurice Costello, Paul Panzer, Lawrence Trimble (dono de Jean, o cachorro da Vitagraph), John Bunny (o mais famoso dos primeiros comediantes da tela), e Gladys Hulette (que apareceu no filme de truques de 1909, Princess Nicotine). Norma e Constance Talmadge iniciaram suas carreiras no cinema na Vitagraph assim como Anita Stewart e Corinne Griffith. Em 1913, a Vitagraph  inaugurou um estúdio em Santa Monica, California, que ficou sob a direção de Rollin Sturgeon.

Em 1915, a Vitagraph ajudou Theodore Roosevelt nos seus esforços de “prontidão” para a Primeira Guerra Mundial com a produção de The Battle Cry of Peace, o primeiro uso significativo do filme com propósito de propaganda. No mesmo ano, a Vitagraph formou com a Lubin, a Selig e a Essanay  a V-L-S-E. Em 1919, apoderou-se do que havia restado da Kalem Company. Blackton deixou a Vitagraph em 1917, para se dedicar à produção independente mas voltou ao estúdio em 1923. Nessa época, a Vitagraph havia perdido muito de sua importância graças ao crescimento da Paramount e da Metro, entre outras razões, porém ainda tinha grandes astros sob contrato como Antonio Moreno, Larry Semon, Alice Calhoun e Jean Paige e continuou a produzir filmes importantes como  Coração Imaculado / The Clean Heart / 1924 e Capitão Blood / Captain Blood / 1924. Entretanto, em 20 de abril de 1925 foi comprada pela Warner Bros. O nome da Vitagraph continuou a ser usado como marca pela Warner Bros, até os anos cinquenta.

WARNER BROS. PICTURES, INC. – A história dos quatro irmãos Warner – Harry, Albert, Sam e Jack – na indústria cinematográfica começou em 1906, quando eles adquiriram um Cinetoscópio Projetor, com o qual exibiram filmes nas cidades mineiras da Pennsylvania e Ohio. Em 1907, depois de terem aberto seu primeiro cinema, o Cascade Theater, em New Castle, os irmãos fundaram a Duquesne Amusement & Supply Company, sediada na Pennsylvania e, em poucos anos, estavam distribuindo filmes numa área que compreendia quatro Estados. Em 1918, os irmãos inauguraram o Warner Bros. Studio na Sunset Boulevard em Hollywood, California. Sam e Jack produziam os filmes enquanto Harry e Albert manipulavam as finanças e a distribuição. Neste ano, eles produziram o primeiro filme importante da companhia: My Four Years in Germany. Em 1923, os quatro  empreendedores incorporaram oficialmente a Warner Bros. Pictures, Inc.  Em 1925, a Warner comprou a Vitagraph Company  e, com a ajuda de  Rin-Tin-Tin, um cão pastor alemão, que arrebatou as platéias, tomou um impulso, que a colocaria entre os grandes estúdios da Idade de Ouro de Hollywood.

WORLD FILM CORPORATION – Fundada em fevereiro de 1914 por Emanuel  Mandelbaum com o apoio dos banqueiros W. A. Pratt e Van Horn Ely, para ser uma distribuidora de companhias independentes. Dentro de poucos meses, Mendelbaum saiu da companhia e a World se envolveu no ramo da produção, seguindo-se uma fusão com a Equitable Pictures Corporation, criada recentemente para produzir filmes para a ex-estrela da Vitagraph, Clara Kimball Young. O presidente da Equitable era Arthur Spiegel e o vice-presidente e gerente geral, Lewis J. Selznick., um vendedor de jóias agressivo com pouca experiência de cinema. Foi Selznick quem induziu o produtor teatral Lee Shubert a se tornar um grande investidor na World. Além da linha Equitable, a World administrava também o produto da Peerless, que fora fundada por Jules Brulatour., da Frohman Amusement Company de Daniel Frohman e do empresário da Broadway, William A. Brady. A maior parte dos filmes da World era produzida em Fort Lee, New Jersey no estúdio da Peerless ou no estúdio Paragon. Ali, Selznick e Brulatour, aproveitando-se do colapso das atividades francesas nos Estados Unidos, reuniram um grupo de artistas franceses do qual faziam parte os diretores Maurice Tourneur, George Archimbaud, Émile Chautard e Albert Capellani; o grande cenógrafo Ben Carré; e os cameramen René Guissart e Lucien Andriot. Selznick saiu da World em 1914 e foi substituído por William A. Brady. Entre os intérpretes que trabalharam na World estavam Clara Kimball Young, Alice Brady, Carlyle Blackwell, Maude Evans, Marie Dressler, Lillian Russell, Doris Kenyon, etc. ,