Arquivo mensais:maio 2011

MESQUITINHA NO CINEMA

Ele foi um dos atores cômicos mais populares do nosso teatro e do nosso cinema, incomparável  em suas criações de tipos populares, principalmente encarnando o sofredor “barnabé” suburbano.

Seu nome verdadeiro era Olimpio Bastos e nasceu em Lisboa, Portugal no dia 19 de abril de 1902, tendo vindo ainda criança para o Brasil. Mesquitinha tinha a idade de oito anos quando ingressou no teatro, em São Paulo, na Companhia de Sebastião Arruda, fazendo o papel de “Pirralho” na revista “A Grande Fita”. Ele permaneceu nesta companhia durante algum tempo e depois fez excursões pelo interior do país em companhia do seu padrinho, o ator Mesquita (por isso, desde criança era conhecido como o pequeno Mesquita, o Mesquitinha).

Com a idade de dezoito anos, foi para o Rio de Janeiro, com a companhia do Teatro Boa Vista paulistano, aparecendo, em 13 de novembro de 1920, no Teatro Lírico, ao lado de Margarida Max, na revista Pé de Anjo de Cardoso de Menezes e Carlos Bittencourt (cf. Lafayette Silva na sua História do Teatro Brasileiro, Ministério da Educação, 1938). Foi na companhia de Antonio de Souza, no Teatro República, que Olimpio atingiu o estrelato (na revista Eu passo). Depois passou sucessivamente para o Teatro Recreio e para o Teatro Carlos Gomes, nos quais trabalhou ao lado da grande Margarida.

Fazendo o retrospecto das atividades teatrais em 1926, Mario Nunes, no seu insuperável livro, “40 Anos de Teatro”, escreveu este parágrafo: “Mesquitinha é o nome que lhe dão na intimidade teatral mas é, na verdade o ator Olimpio Bastos, hoje figura cômica de maior agrado da Companhia Margarida Max. Possuindo graça espontânea, compondo bem os tipos caricatos, Olimpio Bastos já conseguiu esta coisa definitiva em teatro de revista: a atmosfera de simpatia, o interesse vivo do público, que ri apenas o vê surgir dentre os bastidores”.

Daí para adiante Mesquitinha destacou-se sempre nas inúmeras revistas, operetas ou comédias das quais participou como, por exemplo, Gigolette, Comidas meu Santo!, Me Leva meu Bem, O Mello das Crianças, Amendoim Torrado, Dentro do Brinquedo, Amor sem Dinheiro, Pão de Açucar, Braço de Cera, Sol Nascente, Viva a Paz!, É da Pontinha!, Para Todos…, É da Fuzarca, Paulista de Macaé, Flôr de Sevilha, Cadê as Notas?, Cachorro Quente, As Manhãs do Galeão, Palácio das Águias, Miss Brasil, Pau-Brasil, Brasil do Amor, Malandragem, É do Balacobaco, Manda Quem Pode, Laranja da China, Banco do Brasil, Pátria Amada, Brasil da Gente, Dá Nela, Dá no Couro, Itararé, O Biriba, Ri…de…Palhaço, Pacificação (Mesquitinha de novo com Margarida Max), Não Adianta Você Chorar, Rio-Follies, Brasil da Gente, Linda Morena, Malandragem, Os Saltimbancos, Marquesa de Santos (no papel do Chalaça, que valeu uma verdadeira consagração artística), O Homem do Fraque Preto (no papel de Olimpio, um funcionário público que passou toda a vida na miséria e que, mercê de uma herança, tornou-se um milionário, o tipo do pobre serventuário que o ator mais interpretaria na sua carreira), Garçom de Casamento, Trampolim do Diabo, Alerta, Brasil!, Alvorada do Brasil,  Eu Quero é Movimento, Já Vi Tudo!, Balança mas Não Cai, A Imprensa é Livre, As Urnas Vão Rolar, Eu Quero é me Badalar, Folia no Catete, etc.


Na sua trajetória no teatro de revista os melhores parceiros de Mesquitinha foram os cômicos Augusto Anibal e o argentino Palitos. Foram muito lembrados os tipos magníficos de Camundongo (Mesquitinha) e Ratazana (A. Anibal) em É da Pontinha! e os de Maxambomba (Mesquitinha) e Molambo (Palitos) em É do outro mundo, revistas que tinham à frente do elenco, respectivamente, as maiores estrelas do gênero, Margarida Max e Araci Cortes.

No cinema nacional, Mesquitinha participou de 19 filmes entre 1923 e 1952, exercendo a função de diretor em  João Ninguém / 1936, O Bobo do Rei / 1936,  Está Tudo Aí? / 1938 e Onde Estás Felicidade / 1939.

Por ocasião do falecimento do ator, vitimado por um enfarte do miocárdio em 11 de junho de 1956, após ter escapado milagrosamente de um desastre automobilístico na estrada Rio-Bahia no ano anterior, o cronista Jota Efegê redigiu este obituário: “O efeito humorístico, a graça, resultava fácil e espontaneamente de sua exuberante “vis cômica” sem o recurso ao estapafúrdio, as excentrismo bufo. Suas “ficelles” (obs. manhas do ofício) e a expressividade do relato, a mímica inteligente é que produzia comicidade. Uma das notícias biográficas que a morte de Olimpio Bastos suscitou disse que este ator observava a “escola chapliniana”. Assim como Chaplin estandardiza o “pobre diabo”, fazendo rir com a sua desgraça, a sua miséria, Mesquitinha, na sua constância de funcionário público de vida difícil, seguiu-lhe as pegadas. Aparecia no palco de roupa surrada, olhar vago, humilde e contava as suas desditas, relatava numa queixa terna, compungente, em prosa ou em verso, as suas aperturas, a “ginástica” financeira em que se empenhava para atender os encargos da prole. E o público, ao invés de compadecer, ria a bom rir, tal como acontece quando na tela Carlitos é enxovalhado nas ruas das grandes cidades …”.

OS FILMES

1923

CARNAVAL CANTADO (ou VIVA O CARNAVAL ou CARNAVAL CANTADO DE 1923)

Cia. Prod: Patria Filmes. Prod / Dir / Foto: Carlos Comelli El: Sarah Nobre, Ida Riche, Albertina Rodrigues, Craide Nogueira, Elza Gomes, Alice Egito, Adelaide Teixeira, José Almeida, Carlos Haillot, Arthur Castro, Luis Fortini, Edmundo Silva, Olimpio Bastos.

O Carnaval de 1923 em Porto Alegre com elementos ficcionais humorísticos. Os atores do filme faziam parte do elenco da Companhia Nacional de Revistas e Operetas do Rio de Janeiro.

1933

ALÔ, ALÔ, BRASIL!

Cia. Prod: Waldow / Cinédia. Prod / Ass. Dir: Adhemar Gonzaga. Dir: Wallace Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro. Foto: Antonio Medeiros, Luiz de Barros, A. P. Castro, Edgar Brasil, Ramon Garcia, Fausto Muniz. Som: Charles Whalley.  Canções: Cidade maravilhosa de André Filho; Ladrãozinho de Custódio Mesquita com Aurora Miranda; Foi ela de Ary Barroso com Francisco Alves; Rasguei minha fantasia de Lamartine Babo com Mario Reis; Menina internacional de João de Barro e Alberto Ribeiro com Dircinha Batista, Arnaldo Pescuma e o conjunto dos Quatro Diabos; Primavera no Rio de João de Barro com Carmen Miranda, acompanhada ao piano por Muraro; Deixa a lua sossegada de João de Barro e Alberto Ribeiro com Almirante e o Bando da Lua; Garota colossal de Nássara e Ary Barroso com Ary Barroso; Fiquei sabendo de Custódio Mesquita com Elisa Coelho de Almeida e Salada portuguesa de Paulo Barbosa e Vicente Paiva com Manuel Monteiro; Muita gente tem falado de você de Mario Paulo e Arnaldo Pescuma. El: Mesquitinha, Barbosa Junior, Manuelino Teixeira, Afonso Stuart,  Cesar Ladeira, Cordélia Ferreira, Jorge Murad, Orquestra de Simão Boutman (com Ivan Lopes, Mineiro, Cavalo Marinho, Domingos Pececi). Figurantes: Adhemar Gonzaga e Nina Marina.

Comentário na Revista do Exibidor, fev. 1935: “Tratando-se de filme que representa o esforço de uma vontade que deseja fazer cinema, onde os elementos para isso são escassos, devemos aplaudir a iniciativa que é uma demonstração eloquente de que podemos  filmar assuntos nossos e isto desde que tenhamos os elementos necessários…” (apud 50 Anos de Cinédia de Alice Gonzaga, ed. Record, 1987).

NOITES CARIOCAS

Cia. Prod: Uiara Film Prod: Caio Brant. Dir: Henrique Cadicamo. Arg: F. Gianetti

Diál: Jardel Jercolis, Luis Iglésias. Diál. em espanhol: Henrique Cadicamo. Foto: Adam Jacko. Mont / Cenog: Raul de Castro. Ass. Prod: Luis Sapei. Som: Genaro Ciavarra Canções: Mais moches de champagne, (motivo condutor do filme,) de Juan Carlos Cobian com Carlos Vivan; Jardineiro do amor de Custódio Mesquita e Zeca Ivo com Lourdinha Bittencourt; Luar do sertão com os Singing Babies; Conheço um lugar onde se sonha, Hospedaria internacional e Tabuleiro, todas de Custódio Mesquita. Cenas de revista no Teatro João Caetano com as Singing Babies e Franklin Girls. El: Carlos Vivan, Maria Luisa Palomero, Lódia Silva, Carlos Perelli, Mesquitinha, Olavo de Barros, Oscarito, Manoel Vieira, Ana Maria, Carlos Machado, Mendonça Balsemão, Eduardo Arouca, Conceição Machado, De Carambola, Silva Filho, Chaves Florence, Abel Dourado, Lita Prado, Albertina Saikovsa, Henriqueta Romanita, Walter D’Avila, Grande Otelo e girls da Companhia Jardel Jercolis. Figurantes na platéia do João Caetano: Pery Ribas e Montenegro Bentes.

O filme foi produzido com a colaboração de elementos técnicos e artísticos argentinos. Carlos Vivan era muito conhecido no Rio de Janeiro, tendo atuado no Cassino da Urca. Maria Luisa Palomero e Carlos Perelli trabalhavam no cinema argentino. O filme tinha diálogos em português e espanhol com letreiros superpostos explicativos em português. Foi o primeiro filme brasileiro a incluir cenas de revistas com a participação da Companhia Jardel Jercolis (apud 50 Anos de Cinédia).

OS ESTUDANTES

Cia. Prod: Waldow / Cinédia. Prod: Adhemar Gonzaga. Dir: Wallace Downey. Arg: Alberto Ribeiro e João de Barro. Foto: Antonio Medeiros e Edgar Brasil. Orquestras: Simão Boutman e Conjunto Regional de Benedito Lacerda. Canções: Sonho de papel de Alberto Ribeiro; E bateu-se a chapa de Assis Valente com Carmen Miranda; Linda Mimi de João de Barro com Mario Reis; Linda Ninon de João de Barro e Cantídio Melo; Onde está o seu carneirinho de Custório Mesquita com Aurora Miranda; Ele ou eu de Alberto Ribeiro com Silvinha Melo, acompanhada pelos irmãos Tapajós; Lalá de Alberto Ribeiro e João de Barro com o Bando da Lua; Assim como o Rio de Almirante com o próprio. Som: Moacyr Fenelon. El: Barbosa Junior, Mesquitinha, Carmen Miranda, Silva Filho, Mario Reis, Jorge Murad, Aurora Miranda, Silvinha Melo, Irmãos Tapajós, Almirante, Hervê Cordovil, Jaime Ferreira, Dulce Weytongh, Nina Marina, Carmen Silva, Bando da Lua e Orquestra 5.

Comédia musical cujo primeiro título foi Folia de Estudantes. Carmen Miranda, no papel de uma cantora de rádio, é cortejada por três estudantes, colegas da mesma universidade que ela cursa, interpretados por Mario Reis, Mesquitinha e Barbosa Jr. Após muitas brigas e confusões entre os rivais, o galã Mario Reis conquista o amor da mocinha e acabam todos numa gloriosa festa de formatura. Como pano de fundo, as festas juninas com boa música popular brasileira.

1936

JOÃO NINGUÉM

Cia. Prod: Sonofilmes / Waldow. Prod: Albert Byington. Prod. Ass: Wallace Downey. Dir: Mesquitinha. Arg: João de Barro e Alberto Ribeiro. Rot / Mont / Cenog: Ruy Costa. Foto: Antonio Medeiros. Som: Moacyr Fenelon. Canções: Sonhos azuis e Cartinha cor-de-rosa de Noel Rosa. El: Mesquitinha, Grande Otelo, Déa Selva, Barbosa Junior, Darcy Cazarré, Paulo Gracindo, Rafael de Almeida, Plácido Ferreira, Antonia Marzullo, Dircinha Batista, Vicente Chagas, Rosita Rocha, Ary Barroso, Cesar Ladeira, Vicente Marchetti, Samuel Rosalves, Carlos Medina, Otelo Costa, Jaime Ferreira, Abel Pera, Arnaldo Coutinho, Mendonça Balsemão, Maria Vidal, Soledade Moreira, Hilda Joaniks, José Pereira, Oliveira Junior, Manoel Teffé, Pintacuda.

Comédia dramática não-carnavalesca contando a história de um compositor popular ingênuo (Mesquitinha), que tem sua música roubada por um amigo. O samba faz grande sucesso ao mesmo tempo em que o vilão rouba-lhe também a namorada. O compositor morre tragicamente. Para causar impacto, criou-se pela primeira vez no Brasil uma sequência de sonho em cores.

Alex Viany escreveu: “Dirigida e interpretada por Mesquitinha e demonstrando inegável influência chapliniana, João Ninguém, além de apresentar uma sequência colorida, tentava conscientemente captar um tipo carioca, o compositor popular irreconheciddo, e outros aspectos da vida no Rio de Janeiro”.

O BOBO DO REI

Cia. Prod: Sonofilmes. Prod: Alberto Byington. Prod. Ass: Wallace Downey. Dir: Mesquitinha, Moacyr Fenelon, Luiz de Barros. Rot: Joracy Camargo bas. sua peça. Foto: Manoel Ribeiro. Op. Câmera: Adam Jacko, Antonio Medeiros. Som: Moacyr Fenelon. Mús: Ary Barroso, Lamartine Babo, Canções: Amar até morrer, Maria, Confissão de Amor, Rancho Fundo, Mentira de Amor, No Tabuleiro da Baiana. Intérprete: Dircinha Batista. El: Mesquitinha, Déa Selva, Augusto Henriques, Conchita de Moraes, Manoel Pera, Wanda Marchetti, Nilza Magrassi, Batista Junior, Roque da Cunha, Elvira Pagã, Rosina Pagã, Emilia Pera, Brandão Filho, José Policena, Older Cazarré, Vicente Marchetti.

Um rico usineiro (Manoel Pera), viúvo, vive na companhia de seu único filho e sofre de melancolia. Procura então entretenimento na figura de um cretino qualquer que se queira prestar a isso. Entre os candidatos que seu secretario apresenta para preencher o lugar, um tal de “Pinguim” (Mesquitinha) agrada plenamente o milionário. Como “bobo” do rei do açúcar,  ele  engendra grandes transformações no lar do milionário excêntrico. Salvyano Cavalcanti de Paiva (História Ilustrada dos Filmes Brasileiros 1929-1988,  Francisco Alves, 1989) sentenciou: “Alta comédia recebida com menos  entusiasmo do que merecia”.

1938

BOMBONZINHO  ***

Cia. Prod: Sonofilmes. Prod: Alberto Byington. Arg. / Dir: Joracy Camargo bas. peça Viriato Correa. Foto: Manoel Ribeiro. Op. Câmera: Francisco de Almeida Fleming. Canções: Fon-Fon, Tralalá e Ciúme sem razão de Alberto Ribeiro e João de Barro. El: Oscarito, Conchita de Moraes, Palmerim Silva, Lu Marival, Augusto Henriques, Nilza Magrassi, Thamar Moema, Batista Junior, Custódio Mesquita, Maria Grillo, Francisco Moreno, Ana de Alencar.

*** (Todos os pesquisadores que publicaram a filmografia de Mesquitinha em livro, colocam-no como Diretor e / ou Ator e muitos apontam Joracy Camargo como autor da peça no qual o filme se baseia. Joracy Camargo nunca escreveu uma peça intitulada Bombonzinho mas sim Viriato Correa. Mesquitinha não participou do filme nem como diretor nem como ator conforme Cinearte de 5/11/1937, pg. 5 (Estréias na Cinelândia) e o anúncio em anexo. Incluí este titulo na filmografia apenas para esclarecer os erros que foram cometidos. O primeiro engano foi cometido por Alex Viany que, no seu livro pioneiro, Introdução ao Cinema Brasileiro, Ministério de Educação e Cultura, 1959, pg.189 colocou Mesquitinha como sendo o diretor do filme. Os autores dos livros posteriores, provavelmente confiando na informação do grande crítico, cineasta e estudioso do cinema, repetiram o erro. Já quanto à participação de Mesquitinha como ator, não tenho idéia de onde este dado surgiu, porque nem o Alex o mencionou no seu verbete sobre Bombonzinho.

TERERÉ NÃO RESOLVE

Cia. Prod: Cinédia. Prod: Adhemar Gonzaga. Dir / Mont: Luiz de Barros. Rot: Luiz de Barros baseado em No carnaval é assim de Bandeira Duarte. Foto: A. P. Castro. Mús: Ercole Vareto. Canção: Seu condutor de Herivelto Martins com Alvarenga e Ranchinho. Dir. Arte: Hippolito Collomb. Som: Hélio Barrozo Netto. El: Mesquitinha, Maria Amaro, Oscar Soares, Lygia Sarmento, Carlos Barbosa, Zizinha Macedo, Arnaldo Coutinho, Ana de Alencar, Ivan Villar, Carlos Ruel, Morais Cardoso., Orquestra do Cassino da Urca. Figurantes: dançando no baile: Procópio  Ferreira, Paulo Gracindo e Heloisa Helena.

A Cinédia acabara de filmar Samba da Vida e, como tinha os artistas contratados por mês, aproveitou para fazer um filme relâmpago, em sete dias. Assim surgiu esta comédia vaudeville, passada durante o Carnaval. Dois casais (Mesquitinha, Maria Amaro, Rodolpho Mayer, Ligia Sarmento), um residindo no Rio, o outro récem-chegado para passar o tríduo momesco. As mulheres apostam que todos os maridos são infiéis. Um tio leva as damas para ver os préstitos carnavalescos enquanto os maridos vão ao Baile das Atrizes no Teatro João Caetano fantasiados de dominó, com máscaras. Elas, também vestidas de dominó, vão no mesmo baile.  Mas uma criadinha previne os maridos, que entram na brincadeira, fingindo cada um namorar a mulher do outro. Salvyano Cavalcanti de Paiva observou: “Já era a chanchada a pleno vapor”.

MARIDINHO DE LUXO

Cia. Prod: Cinédia. Prod: Adhemar Gonzaga. Dir / Mont: Luiz de Barros. Rot: Luiz de Barros bas. peça Compra-se um marido de José Wanderley. Foto: A. (Afrodísio) P. Castro. Som: Hélio Barrozo Netto. Dir. Arte: Luiz de Barros. Cenog: Alcebíades Monteiro, Alceu Rodrigues. Bailados: Vallery Oiser. Orquestração: Joaquim Correa Rondon, Ernani Amorim. Canções: Cangaceiro chegou de Alberto Ribeiro e L. Teixeira com Linda Batista. Cândido Botelho interpreta outras canções. El: Mesquitinha, Maria Amaro, Oscar Soares, Maria Lino, Bandeira Duarte, Ana de Alencar, Lúcia Lamour, Arnaldo Coutinho, Rodolpho Mayer, Carlos Ruel, Carlos Barbosa, Augusto Anibal, Fada Santoro, Maria Lisboa, Manoelino Teixeira, Julio Penha.

No enredo, Partricia, moça rica e caprichosa (Maria Amaro), filha do Sr. Vastro (Oscar Soares), um comendador, “compra” um maridinho de luxo, só para causar inveja às amigas. Aparece Marcos, um boa-vida (Mesquitinha), que aceita as condições. Porém ele acaba se revoltando contra a sua situação. A meu ver, trata-se de uma agradável comédia de costumes, julgada com demasiada severidade pelos críticos. Num raro momento na sua carreira cinematográfica, Mesquitinha canta Toda mulher é sedução.

ESTÁ TUDO AÍ!

Cia. Prod: Cinédia. Prod: Adhemar Gonzaga. Dir: Mesquitinha. Ass. Dir: Carlos Barbosa. Rot: Mesquitinha e Marques Porto bas. peça Ri…de…palhaço de Paulo Orlando e Marques Porto. Orlando. Foto: A. P. Castro. Som: Hélio Barrozo Netto. Mús: Augusto Vasseur. Canções: Boneca de pixe de Ary Barroso com Déa Maia e Apollo Correia. El: Figurinos: Iracema Gomes Marques. Mesquitinha, Manoel Pera, Violeta Ferraz, Alma Flora, Nilza Magrassi, Paulo Gracindo, Oscarito, Apolo Correia, Déo Maia, Rodolpho Mayer, Abel Pera, Virginia Lane, Grijó Sobrinho, Abel Pera, Maria Amaro, Oscar Soares, Luiza Nazareth, Manoel Rocha, Sanny Castro, Zizinha Macedo, Nina Consuelo.

O filme apresenta conhecidos tipos da vida carioca às vésperas do Carnaval. Generoso (Mesquitinha), um chefe de família, ao contrário do seu pessoal, detesta carnaval mas necessitando de dinheiro, aceita as imposições do português Bragança (Manoel Pera), para entrar no cordão do seu clube e cair na farra. Daí por diante, não quer outra vida. Entre dois cômicos de grande prestígio, Mesquitinha e Oscarito, Apolo Correia, como o Trampolim, teve boa oportunidade de demonstrar seu talento.

1939

PEGA LADRÃO

Cia. Prod: Sonofilmes. Prod: Alberto Byington. Dir / Rot / Cenog: Ruy Costa. Foto: Manoel Ribeiro. Som: Moacyr Fenelon. El: Mesquitinha, Lídia Matos, Heloisa Helena, Grande Otelo, Manoel Pera, Armando Louzada, Jorge Murad, Manezinho Araujo, Nair Alves, Paulo Ferraz.

Um velhote fanático por romances policiais (Mesquitinha), mora numa pensão cuja dona se insinua para um ladrão sem importância conhecido como Engole Jóias (Manoel Pera). O velhote banca o sherloque, sem se dar conta de que o larápio está ali mesmo sob o seu nariz. Carlos de Alencar manifestou-se assim a respeito do filme em Cena Muda de 21/7/1942, pg. 6: “No que concerne às comédias, estamos absolutamente certos de que conseguímos situação bem interessante, conquistada com a colaboração de nossos melhores artistas cômicos do teatro. Basta que relembremos Pega Ladrão, que nos deu a atuação maravilhosa de Mesquitinha … “

ONDE ESTÁS FELICIDADE?

Cia. Prod: Cinédia. Prod: Adhemar Gonzaga. Dir / Mont: Mesquitinha. Ass. Dir: Arnaldo Coutinho. Rot: Mesquitinha bas. peça homônima Luis Iglésias. Som: Hélio Barrozo Neto. Foto: A. P. Castro. El: Rodolpho Mayer, Alma Flora, Oscar Soares, Nilza Magrassi, Luiza Nazareth, Carlos Barbosa, Mesquitinha, Grande Otelo, Paulo Gracindo, Wanda Marchetti, Dircinha Batista, Lourdes Mayer, Henriqueta Romanita Cardona, Pola Stuart, Sanny Castro, Ghyta Yamblousky, Ana de Alencar, Abel Pera. Participações: Manoel Pera,  Armando Braga, Fialho D’Almeida, Oscar Cardona, Alvaro Augusto. Mús: Radamés Gnatalli, Luciano Perrone executadas pela orquestra da Rádio Nacional. Canção: Onde estás felicidade? cantada por Alma Flora com a voz de Sônia Barreto.

Num subúrbio do Rio de Janeiro, Noêmia, a esposa fútil e autoritária (Alma Flora) de Paulo, um engenheiro (Rodolpho Mayer), administrador de uma fábrica, canta na rádio. O rapaz é amado em segredo por uma amiga de infância, Fernandinha (Nilza Magrassi). Quando ele se torna gerente da fábrica, instigado pela mulher ambiciosa, consente em se mudar para um palacete em Copacabana. A vida do engenheiro muda, ele sabe que a mulher o trai e ele mesmo tem um caso com uma amiga da esposa. Por isso volta para o subúrbio, mas continua sem consumar o seu amor pela amiga de infância, que sofre. A mulher, farta dos cassinos, da radio e da falsidade do ambiente  da alta burguesia, regressa também para o subúrbio e  o marido na véspera das festas de fim de ano. Segundo Salvyano Cavalcanti de Paiva, o filme foi saudado pela crítica da época como uma alta comédia bela e emotiva, explorando a psicologia feminina com razoável profundidade. Entretanto, o critico de O Globo, Pinheiro de Lemos, colocou o “bonequinho” saindo do cinema, considerando que, no filme que Mesquitinha fez para a Cinédia, a escravidão do teatro é tamanha, que ninguém se espantaria se visse, no limite interior de cada set, a caixa de ponto”.

SAMBA EM BERLIM

Cia. Prod: Cinédia. Prod /Arg: Adhemar Gonzaga. Dir / Mont: Luiz de Barros. Rot/ Cenog: Adhemar Gonzaga, Luiz de Barros. Foto: A. P. Castro, George Fanto. Op. Câmera: George Dusek. Som: Luiz Braga Junior. Canções: Vatapá de Dorival Caymi com Os Trigêmeos Vocalistas; Passou a não falar com Os Anjos do Inferno; Conceição de Herivelto Martins com Linda Batista e Escola de Samba; Nós as mulheres de Jararaca e Jorge Murad com Jararaca e Ratinho; Ela de Herivelto Martins e Príncipe Pretinho com Francisco Alves; China pau de Alberto Ribeiro e João de Barro com Luizinha Carvalho; Danúbio azulou de Nássara e Frazão com Viriginia Lane; Você sabe, moço com Zilda Fonseca; Lenda do Abaeté de Dorival Caymi com Trio de Ouro; Baianinha de Castro Barbosa com Alice Vianna imitando Carmen Miranda; Lua e Não me aguento não de Assis Valente com Stella Gil e Leo Albano. El: Mesquitinha, Laura Suarez, Dercy Gonçalves, Leo Albano, Brandão Filho, Manoel Rocha, Grande Otelo, Jesus Ruas, Ziembinski, Grijó Sobrinho, Mathilde Costa, Tulio Berti, Catalano,  Carlos Barbosa, Pedro Dias, Abel Pera, Milton Marinho, Ubi Vianna, João Baldy, Fialho D’Almeida, J. Silveira, Benito Rodrigues, Geraldo Freire, Paulo Gomes, José Garcia, Jorge Vianna, Lydia de Souza, Florisa Rios, Eunice Lopes, Antonieta Martinez, Edna França, A. Correa de Melo, Alvarenga e Ranchinho, José Gama, Silvino Neto.

Dois caipiras, interpretados por Mesquitinha e Brandão Filho,  vêm para o Rio de Janeiro atrás de uma moça, que os enganara, enviando- lhes, como se fosse sua, a foto de uma artista. A moça de quem a foto fora enviada é Leda Lea (Laura Suarez), noiva de um ricaço, Carneiro Leão (Manoel Rocha) mas apaixonada por um pracinha (Leo Albano). Conforme informou Sergio Augusto em Este Mundo é um Pandeiro (Companhia das Letras, 1989), “a crítica malhou o filme mas a Cinédia não teve como dobrar o número de cópias necessárias para atender à demanda do público, que se ligou na fita por vários motivos. Um deles era a presença do cômico radiofônico Silvino Neto, estreando no cinema com o seu personagem de maior audiência, o Pimpinela. Outro: suas gozações ao nazi-fascismo. Hitler recebia farpas de Alvarenga e Ranchinho enquanto Chiang Kai Chek, então visto como um herói sem mácula da resistência chinesa, despontava na última estrofe da marcha China pau de Braguinha e Alberto Ribeiro”. Por curiosidade, outra marcha que também brincava com a guerra, O Danúbio azulou, foi cortada pela censura do Estado Novo, pois a cenografia apresentava uma pintura de Stalin dentro de um barco.

É PROIBIDO SONHAR

Cia. Prod: Atlântida. Dir: Moacyr Fenelon. Arg / Rot: Ruy Costa. Foto: Edgar Brasil. Mont: Waldemar Noya, Moacyr Fenelon. Cenog: José Carlos Burle. Mús: Lirio Panicalli. Som: Cesar Abreu. El: Mesquitinha, Nilza Magrassi, Lourdinha Bittencourt, Mario Brasini, Yeda Fenelon, José Carlos Burle, Grace Moema, Déa Leal, Oswaldo Louzada, Armando Louzada, Edmundo Lopes, Oswaldo Loureiro, Sandro Polônio, João Martins, Teixeira Pinto, Consuelo Flores, As Três Marias (Marilia Batista, Bidu Reis, Regina Celia).

Moça de condição social modesta (Nilza Magrassi), récem-formada em canto, conhece um rapaz (Mario Brasini), vítima de um parente que se apossara de seus haveres. Após alguns incidentes, o pai da cantora, Seu Acácio (Mesquitinha), modesto negociante de objetos usados, concorre para que o jovem reconquiste a herança e se case com a sua filha. Segundo Salvyano, “técnica e artisticamente promissor, o filme conquistou as platéias”. Transcrevo dois trechos do comentário do responsável pela “Cotação da Semana” da Cena Muda (22/1/1944): “… história pela qual o espectador se interessa, realização cinematográfica razoável e uma interpretação digna de elogios … Mesquitinha é um elemento consagrado de nossa cinematografia e uma figura bem interessante sempre correto em seus trabalhos”.

1944

ROMANCE DE UM MORDEDOR

Cia. Prod: Atlântida. Dir: José Carlos Burle. Ass. Dir: Roberto Machado. Rot: José Carlos Burle, Galeão Coutinho bas. romance Vovó Morungaba de Galeão Coutinho. Foto: Edgar Brasil. Som: Jorge Coutinho. Mont: Waldemar Noya, José Carlos Burle. El: Mesquitinha, Maria Batista, Modesto de Souza, Sarah Nobre, Manoel Pera, Henriqueta Brieba, Carlos Melo, Estelinha, Iris Belmonte, Graça Melo, Gerdal dos Santos, Abel Pera, Armando Ferreira, Sandro Polônio, Rocyr Silveira, Diamantina Santos, Teixeira Pinto, Jorge Diniz, Natalia Ney, Domingos Martins, Ferreira Lima, Antonio de Cordoba, Mariquita Flores, Emilinha Borba, Wilson Musco.

Barramansa (Mesquitinha) e Mata Sete (Modesto de Souza) são dois malandros que vivem de expediente. Num de seus golpes, vendem a rifa de um cachorro, que roubaram de uma madame, anunciando-o como um legítimo Lulú da Pomerânia. Venderam tantos bilhetes quantos compradores apareceram embora para isso tivessem de emitir quatro, cinco e mais cartões com o mesmo número. E, para a coisa não estourar, eles adiavam a extração da rifa de um dia para outro, mediante o clássico aviso nos jornais. O crítico Pedro Lima (entre outros)  não gostou: “Que vemos em Romance de um Perdedor”? Uma história  mal escolhida, artistas falhos, sem direção, sem maquiagem, sem tomar conhecimento da técnica de cinema” (apud José Carlos Burle – Drama na Chanchada de Máximo Barro, Coleção Aplaudo, Imprensa Oficial de São Paulo, 2007. pg.128).

1945

CEM GAROTAS E UM CAPOTE

Cia. Prod: Milton Rodrigues. Prod: Vital Ramos de Castro.  Dir: Milton Rodrigues  (sob o pseudônimo de M. Falcão). Rot: Milton Rodrigues bas. conto O Homem e o capote de Anibal Machado. Foto: George Dusek. Op. Câmera: Jofre Magdaleni. Mont: George Dusek. Dir. Arte: Oswaldo Mota. Som: Tommy Olenewa. Mús: Lirio Panicalli. Canções: Babalu, Dança do Apache, Can Can, O Guarani (de Carlos Gomes), Frevo, Tico-Tico no Fubá (de Zequinha de Abreu).

El: Mesquitinha, Catalano, Sally Loretti, Modesto de Souza, Grijó Sobrinho, America Cabral, Mary Gonçalves, Haydée Marcondes, Olivinha Carvalho, Jaime Moreira Filho, Antonio Barros, Arthur Costa,  Waldemar Rodrigues, Balé Yuco Lindberg, Benedito Lacerda e seu conjunto, Sereia Negra.

O comentarista da Cena Muda (28/5/1946, pg. 32) fez graves restrições ao filme: “Película apressada, com algumas qualidades, que não poderemos deixar de apontar, e uma infinidade de defeitos … É inaceitável e banal aquela história do empresário que vai buscar em cidades do interior bailarinas mocinhas com más intenções. O resenhista foi impiedoso com relação à atriz principal: “Especialmente quando a bailarina mediocrizinha como é a jovem Sally Loretti, que tem muito que aprender e precisa especialmente perder peso”. A dupla de Romance de um Mordedor está de volta: Mesquitinha como Zefinho dos Santos e Modesto de Souza como Amigo da Onça.

1946

SEGURA ESTA MULHER

Cia. Prod: Atlântida. Dir / Rot: Watson Macedo. Ass. Dir: Roberto Machado. Arg: Helio do Soveral. Foto: Edgar Brasil. Op. Câmera: Roberto Mirilli. Cenog: José Cajado Filho. Som: Jorge Coutinho. Mont: Waldemar Noya. Canções: Carnaval do passado de Lamartine Babo com Orlando Silva; Carnaval no morro e Deus me perdoe de Lauro Maia e Humberto Teixeira; Hilda de Wilson Batista e Haroldo Lobo com Jorge Veiga; Sou eu quem dou as ordens de Heitor dos Prazeres com Aracy de Almeida; Barnabé de Bob Nelson e Vitor Simon com Bob Nelson, Adelaide e Afonso Chiozzo, Espanhola de Benedito Lacerda e Haroldo Lobo com Nelson Gonçalves; Laura de David Raksin e Johnny Mercer com os Brazilian Rascals; Maxixe acrobático com Colé Santana e Celeste Aida; Mulata com Joel e Gaucho; O Cordão dos puxa-sacos de Roberto Martins e Frazão com os Anjos do Inferno; Trabalhar, eu não com Almeidinha e os Quatro Azes e um Coringa. El: Colé Santana, Mesquitinha, Grande Otelo, Catalano, Marion, Hortência Santos, Arlindo Costa, Cesar Fronzi, Egon Delmonte João Fernandes, Roque da Cunha, Madame Lou, Aurea Rios, Marta Rissova, Celeste Aida, Grace Moema, Luiza Galvão, Alvarenga e Ranchinho, Yvette Garrido, Balé Yuco Lindberg, Léo Vilar, Moacir Ferreira Diniz.

O comentarista da Cena Muda (5/3/1946, pg. 14,15,31) achou que o filme tinha algumas qualidades de agrado e este agrado derivava mais de alguns números especiais do que mesmo de sua história. Esses números eram, segundo ele, os de Mesquitinha com o seu maestro Sinfonia, já popularizado nos cassinos, e o de Alvarenga e Ranchinho, que executavam uma  laparatomia surrealista, retirando da barriga do paciente os objetos mais estranhos. Elogiou também uma sátira às novelas de rádio e à maneira pela qual foram adaptados alguns gags dos filmes americanos como aquele em que Arlindo Costa falava com voz de mulher e Aurea Rios com voz de homem. Para o crítico, faltou um pouco de medida na parte musical, pois houve a preocupação de “meter músicas e mais músicas, empanturrando-a de sambas, marchas e frevos” e capacidade técnica na parte visual, marcada pela imobilidade da câmera e pela deficiência dos planos próximos.

1947

ESTA É FINA

Prod: Victor de Barros, Mario Falaschi (filmado nos estúdios da Cinédia). Dir / Rot / Mont / Cenog: Luiz de Barros. Dir. De 5 números musicais: Moacyr Fenelon. Arg: Gita de Barros bas. peça Folies Bergères de Rudolph Lother e Hans Adler. Foto: Antonio Gonçalves. Op. Câmera: Carlos Felten, Roberto Mirilli. Som: Tommy Olenewa. Canções: Baiana  escandalosa com Dircinha Batista; Enlouquecí com Linda Batista; Falta um zero no meu ordenado com Francisco Alves; Gabriela com Marlene; Minueto com o Trio de Ouro; Não me digas adeus com Aracy de Almeida; Quatro prá agarrar o homem com Nuno Roland; Princesa de Bagdad com Nelson Gonçalves; É com esse que eu vou com 4 Azes e um Coringa; A mulata é a tal com Joel e Gaucho. El: Mesquitinha, Claudio Nonelli, Olivinha Carvalho, Manoel Vieira, Badu, Augusto Anibal, Hortência Santos, Silva Filho, Carlos Cotrim, Telmo Faria, Jaime Faria Rocha, Silva Filho.

Típico filme musical carnavalesco no qual dois indivíduos sem dinheiro se vêem instalados num hotel de luxo em Copacabana usufruindo de toda a mordomia. Um deles se apaixona por uma jovem sem ser correspondido. As coisas se complicam para os vigaristas mas o final é feliz.

1949

ESTÁ COM TUDO!

Cia. Prod: Castelo Filmes (filmado no estúdio da Brasil Vita Filmes). Prod: Conceição  e Oscar Oliveira. Dir / Cenog. / Mont: Luiz de Barros. Rot: Luiz de Barros bas. peça A Cura do Amor de Mario Lago, José Wanderley e Daniel Rocha. Ass. Dir: Alberto Dines. Foto: Antonio Gonçalves. Op. Câmera; Ubirajara Viana. Mús: José Toledo. Som: Alberto Viana. El: Mesquitinha, Mary Gonçalves, Ronaldo Lupo, Jorge Murad, Cesar de Alencar, Marly Sorel, Oswaldo Elias, Zizinha Macedo, Manoel Vieira, Walter Sequeira, Manezinho Araujo, Silva Filho, Zé Bacurau, Carlos Tovar, Anilza Leone, Aurelina Lisboa, Altemar Matos, Antonio Nobre, Barbosa Junior, Cora Costa, Ester Souza, De Carambola, Grijó Sobrinho, Jesus Ruas, Natara Ney, Dirce Belmonte, Jimmy Lester, Lopes e Glória, Ruy Rey e sua orquestra,  Dircinha Batista, Virginia Lane, Linda Batista Trio de Ouro, Carmelia Alves, Jorge Veiga, Bill Farr, Pato Preto, 4 Azes e um Coringa.

Livio Dantas na Seção “Telas da Cidade” na Cena Muda (11/2/1953, pgs. 8 e 34) arrazou com o filme (e vamos citar apenas a parte menos implacável do texto)  nestes termos: “A impressão é de que estamos vivendo em plenos idos de 1935-36-37 quando os famigerados “Alôs” não se impunham a público de nenhum nível nem mesmo às pessoas que na feitura deles tomavam parte. Pois, com a diferença a mais de vinte anos, Está com Tudo não avançou um milímetro sequer na categoria dos tais “Alôs” de trágica memória”.

1952

SIMÃO, O CAOLHO

Cia. Prod: Maristela. Prod: Alfredo Palácios. Dir / Rot: Alberto Cavalcanti. Adapt. : Miroel Silveira, Oswaldo Moles do romance de Galeão Coutinho. Ass. Dir: Isaac Olitcher, Osvaldo Katalian, Roberto Perchiavalli. Foto: Ferenc Fekete. Op. Câmera; Guelfo Martini. Des. Prod: Ricardo Sievers, Francisco Balduino. Mont: Jose Canizares. Mús: Souza Lima. Som: Jacques Lesgards. Ass. Som: Tommy Plenewa. El: Mesquitinha, Raquel Martins, Yara Aguiar, Carlos Araujo, Sonia Coelho, Claudio Barsotti, Oswaldo de Barros, Carmen Torres, Eg;e Bueno, Isaura Bruno, Nair Bello, Osmano Cardoso, Mauricio de Barros, José Pazzolli, Juvenal da Silva, Carlos Tovar, Mario Giorotti, Edayr Badaró, Borges de Barros, Armando Peixoto, Henrique Fernandes, José Rubens, Gessy Fonseca, Maria Amelia, Wilson Viana, Orquestra Raul de Barros.

Simão (Mesquitinha) é um corretor de negócios caolho que vive na cidade de São Paulo nos anos 30. Sempre acompanhado de sua esposa Marcolina (Raquel Martins) e de amigos turbulentos, ele espera por um lance de sorte. Até que um inventor maluco lhe proporciona um olho artificial, que lhe permite ficar invisível. Simão enriquece e se candidata a Presidente da República. Mas tudo não passou de um sonho. Vinicius de Moraes  saudou Alberto Cavalcanti pelo seu primeiro trabalho de direção no Brasil, redigindo este texto inspirado: “A sua classe como diretor está presente em tudo o que constitui “cinema” na película: movimentação das cenas no ambiente familiar, o teor geral da ação, a articulação cinematográfica do cenário. Eu pessoalmente acho a história fraca e a atuação de Mesquitinha entrava pelos seus muitos tiques teatrais. Mas, a parte diretorial propriamente dita é viva e autêntica. Pela primeira vez no Brasil, dentro do difícil terreno do “popular”, um filme despido do cafajestimo típico do cinema brasileiro. De resto, as palavras “Cavalcanti” e “cafajeste” são antípodas, e só quem não conhece esse homem perceptivo, delicado, intransigente e bom pode dizer mal dele. Simão, o caolho é Brasil. Esta é para mim a sua melhor qualidade. Não Brasil, meu Brasil brasileiro, mas Brasil a Mario de Andrade, Brasil a Marques Rebelo, Brasil a Noel Rosa”.

Agradecimentos:

Biblioteca Cedoc / Funarte: Márcia Claudia Figueiredo

Biblioteca Jenny Klabin Segall: Paulo Simões de Almeida Pina, Cibele Velloso

O CINEMA DE DAVID LEAN

Representante de uma geração de classicistas – da qual também fizeram parte William Wyler, George Stevens e Fred Zinnemann – Sir David Lean pode ser considerado o supra-sumo de todos os profissionais de Cinema.

Dotado de notável intuição fílmica e delicadeza de sentimentos, ele era um inspirado contador de histórias, de temperamento romântico, que adornava seus filmes com requinte visual e perfeição técnica, imprimindo-lhes o sopro artístico.

Por causa de seu perfeccionismo, realizou apenas 16 filmes e logrou o respeito e a admiração dos seus pares e do público. Fazendo Cinema nos moldes tradicionais (“Gosto de uma boa história , bem consistente, com começo, meio e fim. A maioria dos filmes novos parecem diários. Não têm construção dramática. E devo dizer que gosto de uma boa construção dramática. Gosto de me emocionar quando vou ao cinema”) com afinco (“Se você quiser ser diretor, tem que ter espírito prático. É trabalho árduo , como o de um carpinteiro e quando termino um filme, estou absolutamente exausto”) e humildade (“Só agora comecei a ter a ousadia de pensar que tenho algo de artista”), Lean construiu uma carreira modelar marcada por uma inflexível busca de qualidade.

David Lean nasceu em Croydon, Surrey, Inglaterra a 25 de março de 1908, filho de Francis Williams Le Blount Lean e Helena Annie Tangye e foi educado  numa rígida disciplina quaker na Leighton Park School, perto de Reading. Após um currículo escolar sem grandes méritos, abandonou os estudos, indo trabalhar com aprendiz do pai, contador juramentado; mas achou o ofício insuportável. Sempre que podia, refugiava-se no cinema local, onde se entusiasmava com os filmes silenciosos americanos, impressionando-se fortemente com Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse / The Four Horsemen of the Apocalypse / 1921 e Mare Nostrum / 1926, ambos de Rex Ingram, diretor que admirava.

Em 1927, aos 19 anos, candidatou-se a um emprego nos estúdios Gainsborough, sendo contratado  por um período de experiência, sem receber salário. Um de seus primeiros  encargos foi o de segurar a claquete (primeira intervenção em Quinneys de Maurice Elvey), passando sucessivamente  a assistente de câmera e 3º assistente de direção. Lean queria aprender tudo e começou a assistir ao trabalho na sala de montagem. Ele aprendeu muito com o chefe do departamento de montagem, o americano Merrill White, que havia sido montador de Ernst Lubitsch em Hollywood.

Em 1930, Lean foi nomeado montador-chefe da Gaumont Sound News, transferindo-se, no início de 1931, para a British Movietone News. Nos meados da década voltou aos filmes de ficção e, depois de participar de algumas produções modestas e de três filmes bastante populares estrelados por Elizabeth Bergner  – Contudo és Meu / Escape Me Never / 1935, Como Gostais / As You Like It / 1936 e Lábios Pecadores / Dreaming Lips / 1937, todos dirigidos por Paul Czinner -, havia se tornado o montador mais bem pago da Inglaterra.

Sua reputação subiu ainda mais em 1938, quando funcionou em Pigmalião / Pigmalion do húngaro Gabriel Pascal, baseado na peça de Bernard Shaw e co-dirigido por Anthony Asquith e Leslie Howard. Um ano depois, esteve de novo com Asquith em Caçador de Corações / French Without Tears, adaptação da comédia de Terence Rattigan, e, subsequentemente, montou importantes filmes britânicos dos anos 40 como Major Barbara / Major Barbara / 1941, Invasão de Bárbaros / The 49th Parallel / 1942 e Um Avião Não Regressou / One of Our Aircraft is Missing / 1942. No começo da guerra, fez amizade com Ronald Neame, o fotógrafo de Major Barbara, em quem encontrou grande afinidade. “Nós acreditávamos que a câmera poderia conduzir a atenção dos espectadores para onde quisesse. Usávamos, Neame e eu,  a mesma linguagem, comum ao montador e ao cameraman”.

Lean recebeu várias propostas para dirigir filmes, todo eles “quota quickies”. Este foi o caminho que Michael Powell havia seguido e ele chegou ao topo rapidamente. Porém Lean rejeitou-os, temendo que a participação em filmes inferiores prejudicasse a sua carreira.

A oportunidade de dirigir surgiu, quando o produtor criativo Filippe Del Giudice persuadiu o consagrado teatrólogo das comédias sofisticadas e revistas musicais borbulhantes, Noel Coward, a realizar um filme para a sua companhia, Two Cities.

Coward escolheu Ronald Neame para diretor de fotografia e, por sugestão do produtor-associado, Anthony Havelock-Allan, entregou a David Lean – o melhor técnico que havia no cinema inglês – o cargo de diretor-associado.

A produção intitulou-se Nosso Barco, Nossa Alma / In Which We Serve / 1942 e narrava, em estilo semi-documentário, tom patriótico e com pano de fundo social, a história de um destróier da Marinha Britânica, o “H. M. S. Torrin”, desde a sua construção até seu torpedeamento durante a Segunda Guerra Mundial, e dos homens que nele serviam. O relato começava pelo afundamento do navio e então se concentrava  em três membros da tripulação – o Capitão Kinross (Noel Coward), o Imediato Walter Hardy (Bernard Miles) e um marujo, Shorty Blake (John Mills) -, quando eles se agarravam aos destroços no mar cheio de óleo e recordavam em retrospecto suas vidas a bordo, suas esposas (Celia Johnson, Joyce Carey e Kay Walsh) e familiares em Plymouth.

Com pouca vivência cinematográfica, Coward produziu, escreveu (reservando para si mesmo vários discursos emocionantes dirigidos à tripulação), interpretou e compôs a música do filme. Na elaboração do argumento, inspirou-se nas experiências pessoais do amigo Lord Mountbatten (o incidente envolvendo o marinheiro tomado de pânico – Richard Attenborough em sua primeira intervenção na tela, não creditado – foi extraído de um fato real presenciado por Mountbatten) e na folha de serviços do “H. M. S. Kelly”, embarcação realmente naufragada na Batalha de Creta.

Lean dirigiu a maior parte das cenas (sobressaindo a sequência da retirada de Dunquerque, rodada com a assistência do operador de câmera Guy Green na segunda unidade) e também montou magnificamente o filme embora nos créditos apareça apenas o nome de sua assistente, Thelma Myers. A abertura,  mostrando num tratamento documentário a construção e o lançamento do “Torrin” foi filmada por Anthony Havellock-Allan e Ronald Neame no Hawthorne-Leslie Yard em Newscastle. A voz do narrador que se ouve no início e no fim do filme é de Leslie Howard.

Nosso Barco, Nossa Alma concorreu ao Oscar nas categorias Melhor Filme e Melhor Roteiro Original e recebeu um certificado especial da Academia “por sua notável produção”. Na Inglaterra, foi considerado o filme mais popular do ano e o Monthly Film Bulletin aclamou-o o “melhor drama de guerra produzido até então”.

O cineasta russo, Vsevolod Pudovkin, assim se manifestou: “É um trabalho esplêndido, irresistível, com sua bem estudada sinceridade. Um de meus camaradas achou-o profundamente nacional e concordo com ele. O filme é totalmente inglês. A gente pode ver a face da verdadeira Inglaterra nele”.

O segundo filme nascido da colaboração Coward / Neame / Lean / Havelock-Allan, This Happy Breed / 1944 (título oriundo de uma fala do personagem John of Gaunt em Richard II de Shakepeare) baseado na peça de Coward (autor também do roteiro e da música), marcou o início das atividades de uma nova produtora independente, a Cineguild, formada pelos quatro, e foi totalmente dirigido por Lean.

O enredo mostrava, através de vinhetas episódicas, o cotidiano num lar suburbano em Clapham entre as duas guerras, contrastado com os acontecimentos mundiais nesse período de tempo (entre eles uma greve geral e a abdicação de um rei). Era uma propaganda do estoicismo, do temperamento e do poder de recuperação do povo inglês, cobrindo várias décadas de uma família inglesa comum.

Lean já empregava neste filme um de seus artifícios prediletos, o  de “vazar” uma cena na outra – uma nova cena começava antes que a anterior tivesse desaparecido completamente. Ele especialmente usava o som para antecipar a próxima cena, mantendo o espectador num estado constante de expectativa.

O filme começava em 1919 com o plano geral dos telhados cinzentos de Londres e, em seguida, tendo como fundo sonoro a narração de Laurence Olivier, a câmera penetrava lentamente pela janela de uma casa, focalizando o instante em que os Gibbons (marido, mulher, três filhos adolescentes, a mãe viúva da mulher e a irmã solteirona do marido) estavam se instalando; vinte anos depois, a câmera saía pela mesma janela, quando a família deixava o local para nova residência.

Crônica familiar com acuradas observações sobre o modo de vida da classe média baixa inglesa, fotografada por Neame em Technicolor reticente e de tonalidade realista, e controlada com firmeza por Lean, evitando o sentimentalismo e o clima de teatro filmado, o filme foi um dos maiores êxitos de bilheteria na Inglaterra em 1944.

No elenco, interpretações calorosas, destacando-se Robert Newton / Frank Gibbons, Celia Johnson / Ethel Gibbons, Kay Walsh / Queenie Gibbons, John Mills / Billy Mitchell, namorado de Queenie e Stanley Holloway / Bob Mitchell.

A produção seguinte da Cineguild, Uma Mulher do Outro Mundo / Blithe Spirit / 1945, era a versão da peça de Coward sobre um romancista cínico, Charles Condomine (Rex Harrison) que, a fim de escrever um livro sobre espiritismo, convidava uma excêntrica médium, Madame Arcati (Margaret Rutherford), para uma experiência. Tudo o que esta conseguia era invocar o fantasma da primeira mulher do romancista, Elvira (Kay Hammond), para desalento da esposa atual, Ruth (Constance Cummings).

Esta alta comédia ectoplásmica, deveu muito aos romances de Thorne Smith, criador do personagem Topper, inúmeras vezes trazido para o Cinema e, tal como sua fonte inspiradora, possuía ingredientes para divertir o público. Lean usou alguns truques engenhosos nas cenas dos fantasmas (o filme ganhou o Oscar de efeitos especiais) e deu um polimento às imagens com o Technicolor, mas o filme, na sua maior parte, não escondia a origem teatral.

Segundo James Agee, Margaret Rutherford era a alma do filme: “Sempre que Margaret está na tela como a médium que inicia e tenta controlar a encrenca, o filme é admiravelmente engraçado”. De fato, a interpretação de Margaret no palco tinha se tornado lendária e ela recriou o papel da médium extravagante e incompetente com muita eficiência.

A introdução espirituosa que ouvímos em voz over é de Noel Coward. Segundo consta, ele não gostou do filme e se queixou com Lean dizendo-lhe à queima-roupa: “Você destruiu a melhor coisa que eu escreví”. O mundo de Uma Mulher do Outro Mundo não era o de David Lean. Em consequência, não foi um filme muito feliz. Entretanto, alguns anos depois, ele demonstraria seu senso de humor em  um outro tipo de comedia, Papai é do Contra.

Em Desencanto / Brief Encounter / 1945, o terceiro filme da Cineguild e um dos filmes britânicos românticos mais populares de todos os tempos, revelou-se com maior amplitude o talento individual de Lean. Baseado em Still Life, exemplar da série de dez peças curtas escritas por Coward em 1938 e reunidas sob o título geral de Tonight at 8.30, girava em torno de um homem, Alec Harvey (Trevor Howard) e uma mulher, Laura Jesson (Celia Johnson), ambos de meia-idade e casados, que se encontram casualmente numa estação ferroviária. O homem era médico e pai de dois garotos; a mulher também tinha dois filhos. O encontro inocente transforma-se em algo mais sério. Após alguns momentos de felicidade, os dois compreendem que o amor clandestino não pode continuar e concordam em se separar, voltando cada qual para seus respectivos companheiros.

Narrando o frustrado romance com muita sinceridade e sutileza, através de flashbacks e em espaços confinados (a sala de espera da estação, a casa de Laura, o cinema, o apartamento do amigo de Alec), Lean realizou uma obra-prima intimista, transmitindo, do ponto de vista da mulher, o sentimento de uma existência insípida, embora não infeliz, subitamente perturbada por algo fora de seu controle.

A melhor cena do filme (lindamente fotografado por Robert Krasker) é aquela  muito lembrada na qual Laura, tendo dado o adeus final ao médico, avança para perto da plataforma da estação com ímpeto suicida. Enquanto o trem apita estridentemente e passa, as luzes do vagão refletem-se expressionisticamente  na sua face agoniada. Como tema do fundo musical, o Segundo Concerto para Piano de Rachmaninoff servia para incrementar o impacto emotivo.

Lean recebeu uma indicação para o Oscar de Melhor Diretor e outra, juntamente com Coward e Havelock-Allan, para o de Melhor Roteiro. Celia Johnson foi apontada para Melhor Atriz e arrebatou um Prêmio dos Críticos de Cinema de Nova York.  Em Cannes, o filme levou o Prix International de Critique.

No elenco, além de Celia Johnson e Trevor Howard, em tocantes desempenhos: Cyril Raymond (Fred Jesson, o marido), Joyce Carey (Myrtle  Bagot, a garçonete), Stanley Holloway (Albert Godby, o condutor do trem) e Everley Gregg, a tagarela).

Embora seja hoje considerado um clássico do cinema inglês, o filme não teve boa acolhida na sua primeira exibição. “Estávamos fazendo Grandes Esperanças em locação nos pântanos de Romney, quando Desencanto ficou pronto e eu trouxe a primeira cópia. Nós a levamos para o cinema local e a projetamos  como uma pré-estréia de surpresa. O filme começou e, durante a primeira cena de amor, uma mulher na fila da frente desatou a rir, um horrível gargalhada como cacarejar de galinha. Então todos começaram a rir, e o cinema inteiro a acompanhou. No dia seguinte, fiquei pensando como poderia entrar no laboratório de Denham e queimar o negativo. Estava tão envergonhado do meu trabalho…”.

Embora sua associação com Coward tivesse sido bastante proveitosa, Lean resolveu adaptar – extirpando personagens menores para condensar a intriga – Grandes Esperanças / Great Expectations de Charles Dickens. Ele e os demais roteiristas (Neame e Havelock-Allan) souberam preservar a estrutura da história, o verdadeiro espírito do autor e seu senso de observação, notadamente na primeira parte do filme, na qual se expressa muito bem o mundo da infância. O filme é até hoje considerado como a melhor transposição da obra do famoso escritor. E a cena do encontro assustador de Pip com o forçado Magwitch nos pântanos de Kent, um instante antológico do Cinema.

Outras cenas marcantes: a chegada de Joe Gargery a Londres, a morte de Miss Havisham com as vestes incendiadas, a tentativa de fuga de Magwitch e a caminhada de Pip até o leito de seu benfeitor, todas expostas com inteligência e rigor formal.

Os cenários contribuíram muito para o sucesso da fita, particularmente os interiores da mansão gótica e decadente de Miss Havisham (que parece assumir proporções maiores do que as freais porque o fotógrafo Guy Green usou uma lente de 24mm em vez da usual de 35 ou 40mm), as ruas de Londres de 1830, a estalagem Barnard, o escritório do advogado Mr. Jaggers (cujas paredes são decoradas pelas máscaras mortuárias dos clientes que ele perdeu para as galés), a prisão de Newgate, o Templo e o cemitério campestre, todos erguidos dentro dos estúdios Denham com a mesma mestria. E o resultado foi a obtenção do Oscar de 1947 para Melhor Fotografia e Direção de Arte em preto e branco (John Bryan), tendo havido ainda indicações para Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro.

O elenco, personificando admiravelmente os deliciosos tipos, perfeitamente delineados pelos roteiristas, além do menino Anthony Wager (Pip criança), incluía John Mills (Pip adulto), Valerie Hobson (Estella adulta), Jean Simmons (Estella criança), Bernard Miles (Joe Gargery), Martita Hunt (Miss Havisham), Francis L. Sullivan (Jaggers), Finlay Cutrrie (Magwitch) e Alec Guiness, iniciando sua longa colaboração com o diretor (ao todo, seis filmes) no papel do companheiro de quarto de Pip, Herbert Pocket. Como resumiu James Agee: “Grandes Esperanças fez por Dickens o que Henrique V fez por Shakespeare”.

Com o êxito de Grandes Esperanças, Lean e seus associados decidiram filmar – com a mesma integridade no tratamento e cuidadosa construção dramática – outro livro de Dickens e, para o papel central de Oliver Twist / Oliver Twist / 1948,  selecionaram – entre 1.500 candidatos – o jovem John Howard Davies.

Coube entretanto a Alec Guiness o penoso encargo de recriar a figura de Fagin,  inspirada no roteiro pelas ilustrações originais do romance feitas por George Cruikshank. O ator tinha que chegar a Pinewood às seis da manhã para ficar durante duas horas e meia sob os cuidados do maquilador Stuart Freeborn. “Guiness era muito moço, quando demonstrou desejo de interpretar Fagin, o corruptor dos jovens e chefe adulto da quadrilha de pequenos batedores de carteiras. Pensei que estivesse fora de si, mas ele me persuadiu a testá-lo, dizendo que não queria saber de maquilagem ou das roupas que iria usar: só queria caminhar pelos cenários e me surpreender. Bem, no dia do teste, foi isso o que ele fez. Maravilhoso!”.

Mas tal performance provocou fortes protestos de alguns grupos judaicos nos Estados Unidos, os quais a apontavam como acentuadamente anti-semita, tendo sido, por isso, cortados dez minutos de close-ups e de perfís de Fagin, quando o filme veio a ser normalmente exibido, dois anos após o lançamento, na Inglaterra. Por curiosidade, em 1922, a censura britânica havia objetado a versão americana muda com Lon Chaney, porque “poderia encorajar a delinquência juvenil no país”.

Para alguns, Oliver Twist (fotografado por Guy Green) é mais poético e visualmente excitante do que Grandes Esperanças. A sequência de abertura – inventada especialmente para o filme – mostrando a jornada da mãe de Oliver (Josephine Stuart) grávida pelo desolado pântano sob a tempestade, até falecer, após o nascimento do filho é, por exemplo, um momento de puro Cinema, sobressaindo também as cenas brutais e realistas no asilo, as de Fagin ensinando Oliver a roubar e a da morte de Nancy, ouvindo-se os gritos fora do quadro, enquanto o cachorro do assassino arranha em pânico a porta.

Ao lado dos lances melodramáticos – e é de um grande melodrama que se trata – , o aspecto social foi abordado com veemência, evocando-se as condições desumanas dos pobres, a miséria e a sordidez de Londres do século dezenove e, novamente, um elenco impecável no qual se destacavam, além de Guiness, Robert Newton (Bill Sykes, depois de cogitado Robert Donat), Anthony Newley (Artful Dodges), Kay Walsh (Nancy) e Francis L. Sullivan (Mr. Bumble), deu autenticidade à galeria de retratos dicksenianos.

O filme seguinte de Lean, História de uma Mulher / The Passionate Friends / 1948, baseado num romance de H. G. Wells, com roteiro de Eric Ambler, focaliza, por meio de retrospectos embutidos uns nos outros, as dificuldades afetivas de um triângulo  amoroso. “Gosto de fazer filmes sobre mulheres. Gosto de contar histórias de amor. Acho-as fascinantes … A história é sobre tentação e não segue inteiramente a obra original porém o espírito desta foi mantido”.

A mulher, Mary Justin (Ann Todd) de um banqueiro milionário, Howard Justin (Claude Rains) encontra um dia o antigo namorado, Stephen Stratton (Trevor Howard, substituindo Marius Goring) e um romance clandestino se inicia. Ao ter de optar por um dos dois, ela permanece com o marido, por conveniência. Tempos depois, reencontra acidentalmente o namorado mas já casado e com filhos. O marido descobre, pede o divórcio e quase leva a esposa ao suicídio. Lean explora mais uma vez o tema da resignação e da submissão às regras sociais e morais que já estavam no centro de Desencanto.

Rodado em parte na Suiça, o filme tem uma bela fotografia (Guy Green, assessorado pelo operador de câmera Oswald Morris), inspirada na iluminação de Lee Garmes, que filmou muitos trabalhos de Marlene Dietrich para Josef von Sternberg,  e comprova mais uma vez a segurança narrativa do diretor.

O crítico e professor de cinema Hugo Barcelos, de quem fui aluno e com quem trabalhei no extinto Diário de Notícias, comentou na época: “Sua linguagem, originalíssima, criando em torno dos personagens uma atmosfera de realismo a um só tempo forte e delicado, porque expressivo, e também sutil, dá ao filme um poder artístico invulgar, comunicando-se com a platéia de maneira imediata. Suas criaturas vivem perigosamente, porque assim as concebe a câmera que, por uma parte, é impregnada de bom Cinema, já pela riqueza em detalhes dinâmicos, já pela focalização expressionista, já ainda pelo sentido econômico das frases que se desenrolam sem convencionalismos, sem lugares-comuns, sem vacilações”.

Durante a filmagem de História de uma Mulher, Lean (então casado com Kay Walsh, sua segunda esposa – a primeira foi Isabel Lean, prima de David, que lhe deu um filho, Peter) apaixonou-se por Ann Todd. Eles se divorciaram de seus respectivos companheiros e se casaram no ano seguinte. Lean se casaria pela quarta vez com Leila Matkar, pela quinta vez com Sandra Hotz e pela sexta vez com Sandra Cooke. Apesar de casado, Lean morou muitos anos com sua continuísta, Barbara Cole.

Ann Todd manteve-se com Lean, protagonizando O Grito da Carne ou As Cartas de Madeleine / Madeleine / 1949, que relata o caso verídico, ocorrido nos meados do século XIX, com a filha de uma família rica e respeitada de Glasgow. Madeleine Smith foi levada ao tribunal sob a acusação de ter envenenado o amante, um francês chamado Emile L’Angelier (Ivan Desny). Embora fossem contra ela as circunstâncias, os jurados absolveram-na por falta de provas. Após a sentença, a ré se nega, com um olhar ambíguo, a responder ao eventual narrador: culpada ou inocente? O público fica sem saber se Madeleine era uma assassina ou não e este fato pode ter contribuído para o fracasso do filme no seu lançamento.

O ponto alto do espetáculo é o emprego da montagem, salientando-se  a cena em que Madeleine e Emile, assistindo às danças escocesas, sentem o perturbador ritmo da festa. Quando Madeleine cai, cresce sobre ela o corpo do amante e há o corte para um par de dançarinos excitados, fugindo para um local conveniente à satisfação de seus desejos. O virtuosismo prossegue no julgamento, apresentado de modo original, com inspiradas angulações de câmera e habilidoso uso do flashback.

Décio Vieira Ottoni, crítico de outro jornal que não existe mais, o Diário Carioca, sintetizou na ocasião: “Sem ser um grande filme, porque Lean não teve em mãos um argumento à altura de seu excepcional talento, O Grito da Carne é, contudo, a história maravilhosamente narrada de um mistério famoso”.

Lean só voltaria aos estúdios no final de 1951 quando, a convite de Alexander Korda, se reuniu com Ann Todd, Ralph Richardson e Nigel Patrick em Shepperton, para iniciar Sem Barreira no Céu / The Sound Barrier /1952.

Fascinado pelo tema, Lean passou três meses conversando com o pessoal das fábricas de aviões e pediu ao dramaturgo Terence Rattigan um roteiro original. Este entregou-lhe a história de um magnata visionário, John “J. R.” Ridgefield  (Ralph Richardson) em conflito com a filha, Susan (Ann Todd) e o marido desta, Tony (Nigel Patrick), um dos pilotos de provas, na obsessão de construir um engenho capaz de quebrar a barreira do som. Tony morre num teste. Susan acusa o pai de sacrificar vidas humanas inutilmente, inclusive a do outro filho, Christopher (Denholm Elliott) – e se afasta dele, compreendendo depois sua tarefa de pioneiro.

O roteiro (e argumento) de Rattigan foi indicado para o Oscar e o Departamento de Som da London Films ganhou a estatueta da Academia. A produção recebeu ainda da British Film Academy os prêmios de Melhor Filme e Ator (Ralph Richardson) e Richardson teve a aprovação dos críticos de cinema de Nova York como melhor ator do ano.

Faltou apenas o reconhecimento de que a verdadeira força do filme estava nas cenas aéreas (memorável a de abertura)  fotografadas por Jack Hildyard  com  a ajuda da equipe da 2ª unidade (Anthony Squire). As imagens dos jatos supersônicos cortando os céus deixam rastros de beleza na tela e confirmam que os filmes de Lean, tal como os de Antonioni, “florescem no espaço”.

Lean voltou à Inglaterra Vitoriana, precisamente a Salford, Lancashire de 1890, vertendo para a tela a peça de Harold Brighouse em Papai é do Contra / Hobson’s Choice / 1953, seu último filme em preto e branco, com a costumeira capacidade para captar a época.

Ruas de pedras arredondadas, lojas austeras, salas de estar afetadas, tavernas cheias de fumaça, troles, anquinhas, peitilhos de cartolina, leitos de quatro colunas e o ar poluído da pequena cidade industrial compõem a atmosfera ao mesmo tempo lúgubre e truculenta, que as lentes de Jack Hildyard captam com inspiração. Por meio de insolentes movimentos, a câmera descobre detalhes pitorescos que Malcom Arnold sublinha com irônico comentário musical, reforçando a excelente pintura de costumes.

Charles Laughton, como Henry Horatio Hobson, dono de uma loja de caçados, tirânico e beberrão, forja uma caricatura ruidosa – é notável a cena de seu delírio alcoólico – contrabalançando o jogo cênico quieto e delicado de Brenda de Banzie como Maggie, a filha mais velha que tem a coragem de desafiá-lo, casando-se com seu tímido e iletrado empregado, Willie Mossop (John Mills, substituindo Robert Donat e inspiradíssimo na pantomima gentil das preparações de Mossop para a sua noite de núpcias) e lhe fazendo concorrência comercial.  Com esses três intérpretes experimentados, Lean produziu enfim uma comédia cheia de espírito, sátira e sentimento, de humor tipicamente britânico, votada pela British Film Academy como o Melhor Filme do Ano.

Quando o Coração Floresce / Summer Madness / 1955, intitulado nos Estados Unidos e mais conhecido como Summertime, rodado em Veneza, inaugurou a carreira internacional de Lean.

Ultrapassando o filme turístico, Lean exprimiu, através das vistas fotogênicas da cidade,  a evolução de uma personagem feminina que descobre o amor. Baseado na peça The Time of the Cuckoo de Arthur Laurents, com roteiro de Lean e H. E. Bates, o filme continua de certa forma o ensaio de Desencanto, mostrando com extrema discrição a melancolia e a amargura que acompanham um amor impossível. É uma análise psicológica das emoções de uma solteirona americana, Jane Hudson (Katharine Hepburn), solitária e romântica, que, na sua primeira viagem à Europa, vem a conhecer um comerciante de antiguidades, Renato De Rossi (Rossano Brazzi). Os dois se apaixonam, vivem dias idílicos, até que ela fica sabendo que ele é casado e se separam.

A fotografia de Jack Hildyard dos canais, becos, pontes e da não menos tradicional Praça de São Marcos com a igreja e os pombos, enche os olhos. Lean, porém soube evitar que tais esplendores desviassem a atenção da história.

O diretor e um dos produtores, Ilya Lopert, passaram dois meses no período de preparação do filme escolhendo locações e tiveram de contornar alguns problemas como: acomodar as câmeras em ruelas estreitas ou sob as pontes e dar comida aos pombos no centro e não no canto sudoeste de São Marcos, quebrando uma praxe antiga.

Katharine Hepburn, em comovente desempenho, refletindo toda a luta interior entre o desejo e o medo de uma mulher de meia-idade frustrada, domina completamente o filme num papel sob medida para seu temperamento. Ela foi candidata ao Oscar de Melhor Atriz, tendo Lean também sido indicado como Melhor Diretor.

A Ponte do Rio Kwai / The Bridge on the River Kwai / 1957 marcou a entrada triunfal de Lean no superespetáculo em CinemaScope e tornou-o um diretor privilegiado, que podia impor condições de trabalho.

O autor do romance que serviu de base para o filme, Pierre Boulle, havia sido procurado em primeiro lugar pelo cineasta francês Henri-Georges Clouzot (que, apreensivo com os custos, desistiu de adaptar a obra para o Cinema) e depois por Alexander Korda; Sam Spiegel, porém, foi quem acertou definitivamente com Boulle, investindo três milhões e meio de dólares na produção.

Com locações no Ceilão, a produção levou três anos em preparo. Só a enorme ponte, onde se dá o clímax da narrativa, levou oito meses para ser construída, tendo sido usado também um trem de verdade.

O roteiro, assinado por Boulle – mas, na realidade, escrito por Carl Foreman e Michael Wilson, ambos então na Lista Negra de Hollywood – traz uma mensagem pacifista, atacando não só a guerra como também o espírito militar exacerbado, mostrando a relatividade de valores como a honra e a coragem.

A ação – em ritmo de aventura e inspirada num fato verídico da Segunda Guerra Mundial – transcorre na Malásia, onde japoneses forçam prisioneiros ingleses a trabalhar nas obras da estrada de ferro de Bangkok a Rangoon. O coronel britânico, Nicholson (Alec Guiness depois de cogitado Noel Coward e, embora pareça incrível, Charles Laughton), após ganhar uma batalha ética do comandante nipônico, Sato (Sessue Hayakawa), concorda em ajudá-lo a erguer uma ponte sobre o rio Kwai da melhor maneira possível. Seu argumento é o seguinte: as guerras passam mas a obra fica. Ela permanecerá nos séculos  vindouros como um testemunho da superioridade britânica sobre os bárbaros “momentaneamente” vitoriosos.

A narrativa, a principio, é linear porém, com a fuga do marujo americano Shears (William Holden, depois de cogitado Cary Grant), logo se bifurca em ações paralelas. De um lado, os prisioneiros esforçando-se na construção da ponte que serviria às manobras do inimigo, e do outro, um grupo de comandos (sob a orientação do Major Warden (Jack Hawkins) empenhados em sua destruição. No final, quando a montagem alternada se funde num episódio de intensa emoção e suspense, cheio de ironia, o médico do campo (James Donald), observador imparcial dos acontecimentos, com um amargo e profundo sentimento de absurdo, denuncia toda a loucura reinante.

O talento artístico e o sólido profissionalismo do diretor foram finalmente reconhecidos com o Oscar, cabendo também um estatueta da Academia para Sam Spiegel (Melhor Filme), Pierre Boulle, Michael Wilson, Carl Foreman (Melhor Roteiro Adaptado), Alec Guiness (Melhor Ator), Jack Hildyard (Melhor Fotografia), Peter Taylor (Melhor Montagem) e Malcolm Arnold (Melhor Música).

Animados  com o êxito da sua última realização, Lean e Spiegel continuaram juntos e discutiram a possibilidade de um filme sobre a vida de Gandhi mas, por vários motivos, voltaram sua atenção para a pessoa do legendário T.E. Lawrence, o jovem inglês do serviço secreto britânico que, durante a Primeira Guerra Mundial, conseguiu unir as tribos árabes contra os turcos, aliados dos alemães.

Tal como  A Ponte do Rio Kwai, o filme Lawrence da Arábia / Lawrence of Arabia / 1962, é uma superprodução espetacular e, ao mesmo tempo, o retrato de um homem: só que, desta vez, uma figura histórica complexa e ambígua. Agente secreto, líder militar, agitador, nevrosado, exibicionista, sádico, masoquista, homossexual, Lawrence pode ter sido tudo isso – e Peter O’Toole (então com 28 anos) tornou-se um astro, reconstituindo admiravelmente todas as nuances, as hesitações e o entusiasmo dessa tumultuosa personalidade.

Embora inspirando-se no livro The Seven Pillars of Wisdom de Lawrence, Robert Bolt usou a sua própria concepção sobre o biografado e, procedendo a uma economia dramática, criou um roteiro de grande senso visual que, em tom de epopéia, narra na realidade um drama intimista. “Emoções humanas, e não circos, é que fazem um grande filme. Em todos os filmes épicos, o conflito humano deve ficar em primeiro plano”.

Em 1958, Anthony Asquith esteve a ponto de realizar um Lawrence da Arábia com Dirk Borgarde. Antes de O’ Toole, foi anunciado Marlon Brando e testado Albert Finney para o papel de Lawrence. Pensaram também em Alec Guiness, por este ter vivido o personagem na peça Ross de Terence Rattigan. Os nomes de Cary Grant, Kirk Douglas e Horst Bucholz chegaram a ser cogitados para outros papéis.

Spiegel gastou 12 milhões de dólares, rodando o filme na Jordânia (cenas do deserto), Espanha, passando por Cairo, Damasco, Jerusalém e Marrocos (cenas da batalha na qual o regimento turco é dizimado). Andre de Toth trabalhou algum tempo como diretor da 2ª Unidade, sendo depois substituído por seu assistente Nicolas Roeg. Entre os momentos mais marcantes vale a pena serem citados aquele plano de detalhe de um fósforo aceso que se transforma subitamente nas escaldantes imagens do deserto (“Foi o corte  do qual eu mais orgulhei de tudo o que fiz”) e o ataque à ferrovia de Hejaz com Lawrence correndo por cima dos vagões.

Contando ainda com Omar Sharif, Alec Guiness, Anthony Quinn, Anthony Quayle, José Ferrer, Claude Rains, Jack Hawkins (dublado por Charles Gray, porque o ator perdera a voz em virtude de um câncer na garganta), Arthur Kennedy, Donald Wolfit no elenco, o filme conquistou sete Oscar – Melhor Filme, Direção, Fotografia em cores (Freddie Young), Montagem (Anne Coates), Direção de Arte e Decoração em cores (John Box, John Stoll, Dario Simoni), Música (Maurice Jarre),  e Som (John Cox e o Departamento de Som do Shepperton – assinalando o início da frutuosa colaboração de Lean com Robert Bolt, John Box, Maurice Jarre e, principalmente, com o excelente fotógrafo Freddie A. Young (vencedor do Oscar também por Doutor Jivago e A Filha de Ryan).

Questionado a respeito de seu enquadramento como “diretor de superespetáculos”, Lean respondeu : “Se você quiser fazer Lawrence da Arábia direito, não poderá fazê-lo barato. Custa uma fortuna levar uma equipe enorme – gruas, refletores e milhares de figurantes – para o deserto. Ao contrário, seria tolice gastar muito dinheiro em algo como Desencanto. Ele custou pouco, e eu o fiz em dez semanas. Trabalhei três anos em Lawrence. Se amanhã  encontrar um assunto que possa filmar sem dispender muito dinheiro e em dez dias, ficarei absolutamente encantado”.

Depois da cerimônia de entrega do Oscar, David recebeu um telefonema de Fred Zinnemann, que queria saber se ele poderia dirigir algumas cenas de A Maior História de Todos os Tempos / The Greatest Story EverTold, o filme de George Stevens sobre o Cristo, que estava sendo filmado há mais de um ano nos desertos de Nevada e Utah. Stevens ultrapassara o orçamento e os produtores o obrigaram a aceitar uma segunda unidade em duas sequências. Após certa hesitação, Lean concordou em dirigir as cenas envolvendo o Rei Herodes, na qual participariam Claude Rains e José Ferrer, atores que ele já conhecia.

O próximo assunto a interessar Lean – “por sua boa história de amor”- foi Dr. Zhivago, o volumoso romance de Boris Pasternak, laureado com o Prêmio Nobel.

O produtor Carlo Ponti, que havia adquirido os direitos de filmagem em 1962, induziu a MGM a investir no projeto 11 milhões de dólares e, na fase de pré-filmagem, o diretor visitou a Iugoslávia, Canadá, Itália e a Escandinávia à procura de exteriores semelhantes à paisagem russa, escolhendo finalmente a Espanha  e a Finlândia (fazendo as vezes de Sibéria).

Filmado na Iugoslávia, Doutor Jivago / Dr. Zhivago / 1965 traça a trajetória de Yuri Jivago (Omar Sharif depois de cogitados Paul Newman, Max Von Sydow e Burt Lancaster), médico e poeta, na Rússia do começo do século vinte. Ele contrai matrimônio com Tânia (Geraldine Chaplin), companheira da infância e mais tarde conhece Lara (Julie Christie, com a aprovação de John Ford que, consultado por Lean a respeito da atuação dela em O Rebelde Sonhador / Young Cassidy, respondeu: “Ela é ótima … Ninguém no passado demonstrou tanto talento com tão pouca idade”), protegida do negociante Komarowski (Rod Steiger, substituindo James Mason) e amiga do jovem revolucionário Parel Antipov (Tom Courtenay), com quem acaba se casando. A Primeira Guerra Mundial separa os dois casais e põe Jivago de novo diante de Lara, que se tornara enfermeira voluntária, a fim de localizar o marido, dado como desaparecido na linha de frente. Fugindo de Moscou para livrar a família  da epidemia, da revolução e da fome, Jivago tenta viver em paz numa casa solitária nos Montes Urais; mas é aprisionado e forçado a servir os guerrilheiros. Quando consegue voltar, a mulher e os filhos haviam partido para a capital e ele encontra mais uma vez Lara, com quem passa alguns dias de amor, antes dela ser levada “como folha morta” por Komarowski.

Esta intriga é acionada com a austeridade e a fluência peculiares do cineasta, irrompendo a cada instante imagens suntuosas e de grande força cinematográfica como a da carga dos cossacos contra a passeata socialista (em estilo eisensteiniano), o castelo de Varykino no meio de uma planície imensa toda florida ou o trem blindado cruzando as estepes, que garantiram vários Oscar: Melhor Roteiro Adaptado (Robert Bolt), Melhor Fotografia em Cores (Freddie Young), Melhor Música (Maurice Jarre), Melhor Direção e Arte e Decoração em cores (John Box, Terry Marsh, Dario Simoni), Melhor Figurino em cores (Phyllis Dalton, que já havia se destacado em Lawrence da Arábia).

Somente cinco anos depois da realização de Doutor Jivago (desde Quando o Coração Floresce o intervalo mínimo entre seus filmes é de pelo menos dois anos), Lean voltou à atividade, desta vez usando um argumento original de Robert Bolt sobre o amadurecimento de uma jovem em remota aldeia irlandesa durante a Primeira Guerra Mundial. Bolt descreveu o relato como a história da “universal tendência da juventude de querer obter algo à custa de nada … e a compreensão de que tudo tem seu preço”.

Rose Ryan (Sarah Miles) casa-se com o maduro Professor Charles Shaughnessy (Robert Mitchum, depois que Paul Scofield recusou o papel) mas a união se frustra, pois ele não a desperta sexualmente, e é sustentada apenas pelos conselhos do Padre Collins (Trevor Howard depois de cogitado Alec Guiness). Um incidente na taverna de Tom Ryan (Leo McKern), pai de Rose, aproxima-a do Major Doryan (Christopher Jones, depois de cogitados Marlon Brando,  Richard Burton, Richard Harris, Anthony Hopkins e Peter O’Toole), o novo comandante das forças inglesas na região, mutilado e neurótico de guerra. Eles se tornam amantes e as suas relações são divulgadas involuntariamente por Michael (John Mills), um idiota mudo. Quando, avisado à tempo, o major aprisiona um líder revolucionário local, O’Leary (Barry Foster) que, com o apoio do povo, descarregava armas na praia, as suspeitas recaem sobre Rose e não sobre seu pai, o verdadeiro traidor. A população invade a escola, corta os cabelos de Rose e Charles, embora já ciente de sua infidelidade, ampara-a. O major, que soubera da decisão de Rose de abandoná-lo, suicida-se. Rose e Charles deixam a aldeia.

Drama intimista à maneira de Thomas Hardy, emoldurado por amplos e belíssimos espaços, que as câmeras de Freddie Young fotografaram criativamente, A Filha de Eyan / Ryan’s Daughter / 1970 inclui-se na grande tradição romântica do Cinema. A meticulosidade (três anos de preparação, 14 meses de filmagem, um ano de montagem) e a gentileza de espírito do cineasta geraram cenas como a do fracasso na noite nupcial em alternância com a festa do casamento; a cena do desembarque da carga sob a tempestade; a cena do quase linchamento de Rose; a cena do primeiro encontro de Rose com o major na taverna e a lírica entrega amorosa na floresta, que empolgam pelo esmero estético. A meu ver uma obra-prima – apesar de ter sido mal recebido por muitos críticos -, o filme ocasionou dois Oscar: Melhor Ator Coadjuvante (John Mills) e Melhor Fotografia (Freddie Young).

Em outubro de 1973, o Directors Guild of America concedeu o D. W. Giriffith Award para David Lean. O prêmio lhe foi entregue por George Stevens que Lean havia ajudado filmando algumas cenas para A Maior História de Todos os Tempos.

Lean já tinha preparado, com Robert Bolt, os roteiros para dois longas-metragens que, sucessivamente, narrariam, de maneira mais completa, a saga do “Bounty” (o primeiro terminaria com a fantástica viagem do Capitão Bligh até a Austrália; o segundo contaria a perseguição de Fletcher Christian e seus companheiros pelo Capitão Edwards) e escolhido locações no Taiti, quando Dino de Laurentiis comunicou-lhe que a produção não poderia ir adiante por falta de recursos.

O diretor ficou praticamente inativo 14 anos desde A Filha de Ryan e finalmente escolheu como assunto do novo filme um clássico da literatura inglesa, A Passage to India de E. M. Foster. Lean havia visto a encenação teatral feita pela indiana Santha Rama Rau em 1958 e pretendeu levar a historia para a tela logo após Lawrence; mas isto não foi possível. A oportunidade surgiu em 1983 com a aquisição dos direitos pelos produtores John Brabourne e Richard Goodwin, responsáveis por recentes adaptações de romances de Agatha Christie. “Será um filme curioso e provocante, porque o livro é assim. Existem muitas coisas confusas, tal como corre na vida real. Você  conhece pessoas, compreende certos aspectos delas mas  outros permanecem ocultos e você tem quer adivinhar quais são … Quero dirigir filmes nos quais os espectadores saiam do cinema discutindo os personagens que acabaram de ver “.

No relato de Passagem para a Índia / A Passage to India / 1984, passado nos anos 20, Mrs. Moore (Peggy Ashcroft) chega a Bombaim na companhia da jovem Adela Quested (Judy Davis), para visitar o filho magistrado, Ronny Heaslop (Nigel Havers), com quem Adela está comprometida. As duas têm idéias avançadas e se incomodam com o tratamento dispensado pelos ingleses aos indianos. Fascinadas pelo país, depois de travarem conhecimento com o sensível Professor Fielding (James Fox), um brâmane fatalista, Dr. Goldbole (Alec Guniess) e um jovem médico indiano, Dr. Aziz (Victor Banerjee), elas partem numa excursão às famosas grutas de Marabar, onde ocorre um incidente enigmático, que levará Aziz a julgamento.

Com sua límpida maneira de narrar, Lean nos mostra um drama psicológico entrelaçado com os fatos da difícil convivência entre colonizadores e colonizados, vistos através do comportamento dos personagens – alguns (Mrs. Moore, Goldbole) simbólicos e cercados de misticismo -, deixando no final uma esperança de concórdia.

O diretor, autor também do roteiro, fez questão ainda de assinar a montagem (“No fundo continuo sendo montador. Não consigo manter minhas mãos afastadas da tesoura”) e, auxiliado por Ernest Day, operador de câmera em Lawrence da Arábia, Doutor Jivago e A Filha de Eyan, agora elevado a fotógrafo, forjou cenas magnificas, destacando-se a do passeio de bicicleta de Adela pelas ruínas eróticas habitadas por macacos, imaginada por Lean como modelo de Cinema puro.

O filme obteve 11 indicações para o Oscar (Lean concorreu ele próprio em três categorias) e conquistou os prêmios para Melhor Atriz Coadjuvante (Peggy Ashcroft) e Melhor Música (Maurice Jarre). Em 1990, Lean receberia o Life Achievement Award do American Film Institute.

David Lean faleceu em 16 de abril de 1991 de câncer na garganta, quando começava os preparativos para a filmagem do romance Nostromo de Joseph Conrad que, provavelmente, seria mais uma grande obra na carreira de um realizador, para quem o Cinema era, essencialmente, fonte de prazer (o prazer da narrativa) e expressão de beleza, e que estava sempre atento às pulsações da vida.

TRAJETÓRIA DE WALT DISNEY NO DESENHO ANIMADO

Walt Disney é, sem dúvida alguma, a personalidade do Cinema mais conhecida no mundo inteiro. Ele não inventou o desenho animado mas melhorou consideravelmente a sua técnica, criou um estilo inconfundível e deu ao gênero significação estética. Com seu formidável senso empresarial, formou uma fabulosa organização que, até hoje, após sua morte, em 1966, continua irradiando alegria e emoção para os fãs de todas as idades nos mais longínquos recantos do planeta. Perfeccionista e poeta, construiu um universo fantástico, onde a ternura e a graciosidade convivem harmoniosamente com a beleza. Grande orquestrador de talentos, induziu sua equipe de virtuosos a forjar, com entusiasmo e alto grau de profissionalismo obras-primas, nas quais o apuro técnico, vivacidade da mise-en-scène e a riqueza de imaginação produziram efeitos mágicos inesquecíveis. Em sucinta cronologia, eis alguns instantes marcantes da trajetória de Walt Disney no desenho animado.

Como a bibliografia de WD é muito extensa, não tenho a pretensão de trazer nenhuma novidade. Minha contribuição para o assunto reside somente na pesquisa dos títulos em português dos desenhos curtos e na identificação dos primeiros dubladores dos longas-metragens. Entre os livros, utilizei principalmente: The Animated Man – A Life of Walt Disney de Michael Barrier (University of California, 2007), The Disney Films de Leonard Maltin (Disney Editions, 2000), The Encyclopedia of Animated Cartoons de Jeff Lenburg (Checkmark Books, 2009) e Walt Disney, O Triunfo da Imaginação Americana de Neal Gabler (Novo Século, 2009). Para os nomes dos primeiros dubladores: jornais,  programas e revistas da época, principalmente, A Scena Muda.

1901:

Nascimento de Walter Elias Disney, a 5 de dezembro, em Chicago, Illinois, filho dos canadenses Elias e Flora Call Disney. Infância numa fazenda em Marceline, Missouri.

1910:

Mudança da família para Kansas City. O pai obteve concessão para distribuir o jornal “Star”. Walt e seu irmão mais velho, Roy, entregam o matutino nas portas dos assinantes. Primeira manifestação de seu pendor para o desenho. Matrícula no Kansas City Fine Art Institute.

1917:

Walter junta-se à sua família, que voltara para Chicago e estuda na Academy of Fine Arts.

1918:

Walt alista-se no Corpo de Ambulâncias da Cruz Vermelha e, já no final da Primeira Guerra Mundial, embarca para a França. Nas horas de folga faz desenhos e caricaturas.

1919:

Retorno à América. Walt emprega-se na a agência de publicidade Pesmen Rubin Commercial Art Studio, onde conhece Ubbe Iwwerks (que depois encurtou o nome para Ub Iwerks). Depois de fundarem a Iwerks-Disney Commercial Artists,  que durou apenas alguns meses, os dois ingressam na Kansas City Slides Co. (depois Kansas City Film Ad Company), produtora de anúncios exibidos nos cinemas locais.

1921:

Sem que seus patrões soubessem, Disney e Fred Harman, seu colega na Film Ad,  alugam um estúdio (que eles batizam de Kaycee Studios), compram um tripé e uma câmera usados, e tentam filmar a terceira convenção da American Legion realizada em Kansas City para o cine-jornal da Pathé. Eles começam também a idealizar um desenho animado, The Little Artist, que ficou inacabado.

1922-23:

Disney começa a fazer, à noite, seus próprios filmes, que ele vende para a Newman Theater Company exíbí-los na sua cadeia de cinemas. Assim nasceram os Newman Laugh-O-grams. No começo, os Laugh-O-grams duravam apenas um minuto e versavam sobre problemas do governo local como Cleaning Up!!?, Kansas City Girls are Rolling Their Own Now, Take a Ride Over Kansas City Streets e Kansas City’s Spring Cleanup.

Devido ao sucesso desses filmezinhos, ele passou a fazer filmes mais longos, usando como temas contos de fadas conhecidos e histórias para crianças. Foram sete ao todo: Little Red Riding Hood, The Four Musicians of Bremen, Jack and the Beanstalk, Jack the Giant Killer, Goldie Locks and the Three Bears, Puss in Boots e Cinderella.

Disney fez também filmes curtos chamados Lafflets, que combinavam ação ao vivo e animação. Entre eles: Golf in Slow Motion, Descha’s Tryst with the Moon, Asthgetic Camping, Reuben’s Big Day, Rescued, A Star Pitcher, The Woodland Potter, A Pirate for a Day. Ele realizou ainda um Sing-a-Long, exibido em 1923, para a canção “Martha: Just a Plain Old Fashioned Name”. A série de Laugh-O-grams obteve êxito muito popular mas financeiramente mal sucedida. A companhia teve que recorrer a outros projetos para pagar suas dívidas. Um deles foi um filme de higiene dental, Tommy Tucker’s Tooth. Com Disney, além de Ub Iwerks, estavam Hugh Harman, Walker Harman, Rudolf Ising, Carmen Maxwell,  William “Red” Lyon, etc.

1923:

Inspirado na série Out of the Inkwell dos irmãos Fleischer, na qual um personagem salta de um tinteiro e interage com o mundo real, Disney imaginou uma série na qual um ator ao vivo é colocado no mundo do desenho animado. Ele contratou uma jovem atriz de quatro anos de idade, Virginia Davis, e começou a filmar Alice’s Wonderland. Disney encontrou um distribuidor interessado na pessoa de Margaret J. Winkler, que já distribuía as séries Out of the Winkwell de Max Fleischer e Felix the Cat de Pat Sullivan e precisava de uma nova série, porque Fleischer resolvera distribuir seus filmes através de sua própria companhia, Red Seal, e Sullivan decidira procurar outro distribuidor, que lhe pagasse mais. Winkler e Disney assinaram um contrato para a realização de 12 filmes com a opção do contrato ser interrompido caso os primeiros seis filmes não fossem satisfatórios. Nesse ínterim, a Laugh-O-Gram Films Inc. faliu. Disney sabia que, se ele quisesse atrair a atenção nacional, teria que sair de Kansas City e ir para onde os filmes estavam realmente sendo feitos, ou seja, Hollywood.

1924:

Chegando em Hollywood, Disney começou a série Alice Comedies (ou Alice in Cartoonland), usando um pequeno espaço na Kingswell Avenue como estúdio, que chamou de Disney Bros. Para os primeiros filmes, ele mesmo cuidou de toda a animação enquanto seu irmão Roy se ocupava da câmera na cenas de ação ao vivo. Depois, outros desenhistas juntaram-se à equipe como Ub Iwerks, Lillian Bounds (que se tornaria Mrs. Disney), Rollin Hamilton, Hugh Harman, Rudolf Ising, Walker Harman, etc.

1925:

A série Alice Comedies (cujo primeiro dos 56 filmes foi Alice’s Day at Sea) obteve sucesso e Margaret Winkler decidiu renovar o contrato com Disney. Desta vez pediu mais 18 filmes em vez de 12 e que ele desse um jeito de reduzir as despesas. Disney estava ficando muito mais interessado no aspecto da animação dos filmes do que nas sequências de ação ao vivo, de modo que não queria dispensar seus desenhistas. Virginia Davis recebia um salário mensal. Quando as sequências de animação animação puderam ser filmadas num espaço de tempo menor, Disney quís pagar Virginia pelos dias nos quais ela efetivamente trabalhou. Os pais de Virginia não aceitaram esta mudança e a menina deixou a série. Virginia foi substituída sucessivamente por: Dawn O’Day (que depois faria carreira no cinema como Anne Shirley), Margie Gray e Lois  Hardwick.

1926:

Os estúdios Disney trabalhavam arduamente na consecução das Alice Comedies,  porém Margaret Winkler casara-se com Charles Mintz, e este passou a comandar a distribuidora. Mintz achou que os filmes não eram engraçados. Diante disso, Disney teve que reforçar os gags que, naturalmente, eram proporcionados pela parte animada dos curtas. O Disney Bros. mudou-se para a Hyperion Avenue e passou a se chamar The Walt Disney Studio.

1927-28

Em janeiro de 1927, Mintz pediu a Disney que criasse o personagem de um coelho. Em maio do mesmo ano, Mintz assinou contrato com a Universal Pictures para a distribuição uma série de 26 desenhos estrelados por um novo personagem: Oswald, The Lucky Rabbit. Disney e sua equipe trabalharam dobrado e mandaram o primeiro filme, Poor Papa para a Universal. Mintz e a Universal não gostaram deste primeiro filme. Desapontado, Disney concordou em reelaborar o personagem e começou a fazer um segundo filme, Trolley Troubles, que foi bem recebido pelos resenhistas e pelo público.

Disney tentou negociar com Mintz um novo contrato para uma segunda série de desenhos de Oswald, mas Mintz contratou secretamente alguns dos melhores animadores de Disney, para prosseguir a série sem ele. Disney ficou sem distribuidor e sem o personagem, pois não possuía os direitos sobre ele. Os desenhos de Oswald acabaram caindo nas mãos de Walter Lantz, que seria o criador do Picapau / Woody Wodpecker.

1928-29:

Criação do Camundongo Mickey, a princípio chamado Mortimer, com traços menos redondinhos e um tanto rude. A esposa de Disney mudou o seu nome para Mickey Mouse e entre nós, às vezes, acrescentaram-lhe o epíteto Camundongo da Fuzarca. No primeiro desenho, Plane Crazy / 1928, já surgem Minnie, a namorada de Mickey e Clarabela / Clarabelle Cow e no segundo, Galloping Gaucho, / 1928, o vilão Peg Leg Pete (João Bafo de Onça). No sétimo desenho, The Plow Boy / 1929 surge Horácio / Horace Horsecollar. Com o advento do cinema sonoro, Disney percebeu que a série muda não tinha possibilidades comerciais e realizou então o terceiro desenho de Mickey, Steamboat Willie, com som sincronizado (pelo clandestino Cinephone Process  da Pat Powers). Disney fez a voz de Mickey e Carl Stalling encarregou-se da música. Entre 1928 e 1929, foram feitos 15 desenhos. Na equipe: Ub Iwerks, Les Clark, Johnny Cannon, Wilfred Jackson.

Criação das cinco primeiras Sinfonias Singulares ou Sinfonias Malucas / Silly Simphonies. O desenho pioneiro, A Dança Macabra ou Os Esqueletos Dançam / The Skeleton Dance, descrevia um passeio noturno dos esqueletos num cemitério, onde se punham a dançar e a brincar ao som da música. A série, conjugando o som e a imagem, foi intensamente criativa, com pequenas jóias agraciadas com o Oscar: Flores e Árvores / Flowers and Trees / 1932, Os Três Leitãozinhos / Three Little Pigs / 1933, A Lebre e a Tartaruga / The Tortoise and the Hare / 1935, Três Bichaninhos Órfãos / Theree Orphan Kittens / 1935, O Primo da Roça / The Country Cousin / 1936, O Velho Moinho / The Old Mill / 1937, O Patinho Feio / The Ugly Ducking / 1939. Em 1969, a MGM distribuiu No Fantástico Reino da Fantasia / Academy Award Shorts Program reunindo 11 desenhos premiados com o Oscar e, na ocasião do lançamento no Brasil, foram alterados alguns títulos em português: O Lobo Mau / Three Little Pigs, A Tartaruga e o Coelho / The Tortoise and the Hare, Os Três Gatinhos Órfãos / Three Orphan Kittens, O Primo do Interior / The Country Cousin. As Sinfonias Malucas e os desenhos de Mickey distribuídos pela Columbia.

1930-31:

21 desenhos do Mickey. 20 Sinfonias Malucas. No desenho de Mickey, The Chain Gang / 1930, surge Pluto, que tomará mais vulto em Caçador Corajoso / The Moose Hunt / 1931 e terá desenho próprio a partir de Os Cinco Totós / Pluto’s Quintuplets / 1937.

Os colaboradores de Disney frequentam aulas noturnas no Chouinard Art Institute e já começam a se especializar. “O propósito não era apenas treinar jovens animadores, mas fazer com que cada artista aperfeiçoasse sua técnica e ficasse compreendendo melhor a natureza da animação”. Fred Moore passa a ser o responsável pelos desenhos do Mickey. Mickey, Pai de Órfãos / Mickey’s Orphans / 1931 é o primeiro desenho do Disney indicado para o Oscar.

Criação dos Clubes do Mickey Mouse, aparecimento da primeira tira de quadrinhos do Mickey e o merchandising dão um imenso impulso para a popularidade do personagem.

1932:

14 desenhos do Mickey. 8 Sinfonias Malucas. No desenho A Revista de Mickey / Mickey Revue estréia o Pateta / Goofy com a risada abobalhada de Vance “Pinto” Colvig, um dos colaboradores mais versáteis de Disney, falecido em 1975. Colvig, além de emprestar a voz para vários personagens dos desenhos, escreveu letras para algumas canções.

Em Flores e Árvores, Disney introduz o technicolor em três cores no desenho animado. O tema é o romance de duas pequeninas árvores, interrompido pelos avanços sinistros de um velho tronco, que tenta raptar a árvore feminina. Malogrado o intento, ele se vinga, botando fogo na floresta. Um bando de pássaros cutuca as nuvens. A chuva cai e apaga as chamas. O tronco malvado perece nas labaredas, as árvores enamoradas se casam e a floresta exulta, calma e feliz novamente. O antropomorfismo típico das Sinfonias Malucas é explorado ao máximo.

Além do Oscar por Flores e Árvores, Disney recebe um prêmio especial da Academia pela criação de Mickey Mouse. A distribuição dos desenhos passa a ser feita pela United Artists.

Disney contrata Herman Kamen, um talentoso vendedor, oriundo de uma família judia de Baltimore, e ele renova a Walt Disney Enterprises, o braço comercial do estúdio, aumentando consideravelmente os lucros da mercadização.

1933:

12 desenhos do Mickey . Sete Sinfonias Malucas.

Talvez a mais popular das Sinfonias Malucas, Os Três Leitãozinhos, tal como os outros desenhos da série, traz inovações. No caso, três personagens similares com personalidades diferentes. Até então, todos os personagens agiam da mesma maneira e se distinguiam apenas pelo tamanho ou pelas roupas, e não pelo caráter. “Sem que um personagem adquira personalidade, o público não acredita nele. Sem personalidade, ele pode fazer coisas engraçadas ou interessantes mas, a não ser que as pessoas sejam capazes de se identificar com ele, suas ações parecerão irreais”(Walt Disney).

O desenho lançou Os Três Porquinhos e levou o Oscar de 1931. Na saída dos cinemas os espectadores cantarolavam a canção “Who’s Afraid of the Big Bad Wolf” de autoria de Frank Churchill com letra de Ted Sears.

Na equipe de Disney, nessa época, também: Burt Gillett, Albert Hurter, Norm Ferguson, Dick Lundy, Art Babbitt, David Hand, Ben Sharpsteen, Dick Huemer, Clyde Geronimi.

Em A Grande Estréia / Mickey’s Gala Premiere, o camundongo encontra astros e estrelas de Hollywood: John. Ethel e Lionel Barrymore, Buster Keaton, Douglas Fairbanks, Joan Crawford, Mae West, George Arliss, Wallace Beery, Marie Dressler, Wheeler e Woolsey, Joe E. Brown, Charles Chaplin, Laurel e Hardy, Harold Lloyd, Boris Karloff, Bela Lugosi, etc., apresentados como caricaturas. Numa cena, Greta Garbo dá um beijo no Mickey.

Preparação de Alice in Wonderland com Mary Pickford, projeto arquivado quando a Paramount mostrou sua versão dirigida por Norman Z. MacLeod, com Charlotte Henry e um punhado de artistas de renome interpretando os personagens de Lewis Carroll.

1934:9 desenhos do Mickey. 8 Sinfonias Malucas.

Em Galinha Sabida / The Wise Little Hen, aparece pela primeira vez nas telas o Pato Donald / Donald Duck. Disney ouviu Clarence Nash imitando a voz do pato, contratou-o, e criou Donald com os traços e temperamento iguais aos que conhecemos hoje: a mesma roupa de marinheiro, o gênio irritadiço e agressivo – só tinha o bico mais alongado.

No mesmo ano, Donald chama a atenção num desenho do Mickey, Espetáculo de Benefício / Orphan’s Benefit e iria assumir uma personalidade em Don Donald / Don Donald / 1937, vestido de mexicano e cortejando Donna Duck (depois Margarida / Daisy Duck; o encontro entre o Pato Donald e Margarida é assinalado oficialmente em O Sr. Pato se Diverte / Mr. Duck Steps Out / 1940.

Nash foi a voz do Pato Donald durante 50 anos, de 1934 a 1984, falecendo em 1985. Ele emprestou também a voz para Margarida (até 1947) e os sobrinhos de Donald. A Academia homenageou-o numa de suas cerimônias.

No grupo de novos artistas contratados por Disney estão aqueles que, ao lado do veterano Les Clark, seriam chamados no futuro de “Os Novos Velhinhos” e constituiriam o núcleo dos responsáveis pelos desenhos de longa-metragem: Frank Thomas, Ollie Johnson, Milt Kahl, Marc Davis, Wolfgang Reitherman, Eric Larson, John Lounsbery, Ward Kimball. Além deles,  ingressam no estúdio: Walt Kelly, Virgil Partch, Fred Spencer, Hank Ketcham, Claude Smith, Sam Cobean, Shamus Culhane, Al Eugster, Bill Tytla, Zack Schwartz e muitos outros. Quanto a outros animadores no decorrer dos tempos, remeto o leitor para o livro de Leonard Maltin, que dá a equipe completa de todos os desenhos de longa-metragem de Disney.

1935:

8 desenhos do Mickey. 8 Sinfonias Malucas.

Disney apresenta o primeiro desenho do Mickey em cores, A Banda do Barulho / The Band Concert, fazendo o camundongo reger um grupo de animais num concerto. Enquanto rege, um ciclone se aproxima, colhe todo o grupo e joga os componentes da orquestra para vários lados, como se fossem confetes. Mas eles continuam tocando, arrastados pela ventania, rodopiando nos ares. Donald interrompe a audição a todo instante e tenta vender sorvetes aos espectadores.

Ainda em 1935, foi feito o último desenho do Mickey em preto e branco, Canguru de Mickey / Mickey’s Kangaroo, e três Sinfonias Malucas importantes: A Lebre e a Tartaruga, Três Bichaninhos Órfãos e Quem Matou o Pintarroxo? / Who Killed Cock Robin (paródia de Mae West no auge de sua popularidade com a voz de Martha Wentworth – não creditada – como Jenny Wren). Todos os três foram indicados para o Oscar, tendo os dois primeiros obtido a premiação.

1936:

11 desenhos do Mickey. 6 Sinfonias Malucas.

Em O Campeão de Polo / Mickey’s Polo Team, Disney usa novamente caricaturas de artistas, inclusive de Laurel e Hardy como jogadores de polo. A Sinfonia Maluca O Primo da Roça ganha o Oscar.

1937:

9 desenhos do Mickey. 1 Sinfonia Maluca. 1 do Donald.

Em O Velho Moinho, excelente desenho da série Sinfonias Malucas, usa-se pela primeira vez a câmera multiplana (Oscar técnico-científico de 1937), mecanismo que permite à câmera se deslocar, passando por diversos “Planos“(folhas de celofane ou camadas de vidro com os desenhos), colocados a várias distâncias da câmera. Fotografando-os à medida em que avança, a câmera multiplana propicia a ilusão de profundidade e perspectiva.

A história de O Velho Moinho versa sobre o que acontece a um velho moinho durante a noite, nada mais. A primeira cena mostra-o ao pôr do sol. As vacas seguem para o estábulo. Uma aranha tece a teia. Os pássaros vão para os ninhos. Cai uma tempestade e o moinho fica em polvorosa. De manhã cedo, quando as vacas retornam ao pasto, a teia de aranha está em pedaços e as penas dos passarinhos amarrotadas. “Os críticos exclamaram: ‘Poético!’, mas o importante para mim era a impressão de terceira dimensão que poderia usar nos meus desenhos”(Walt Disney). O Velho Moinho conquista o Oscar.

Em Valentes Caçadores / Moose Hunters, Pluto fala com a voz de “Pinto” Colvig e em Donald e seu Avestruz / Donald’s Ostrich, o pato torna-se astro, com desenho próprio. A distribuição dos desenhos passa à RKO.

1938:

3 desenhos do Mickey. 5 Sinfonias Malucas. 7 do Donald. 1 Especial, O Touro Ferdinando / Ferdinand the Bull, baseado na criação de Munro Leaf, obtém o Oscar.

Lançamento do primeiro desenho de longa-metragem, Branca de Neve e os Sete Anões / Snow White and the Seven Dwarfs, adaptação do conto dos irmãos Grimm. Clássico da animação cinematográfica, instante decisivo na carreira de Disney, o filme recebeu o Prêmio Especial dos Críticos de Cinema de Nova York, o Grande Troféu de Arte do Festival de Veneza e um Oscar especial da Academia, colocando-se  em 1º lugar na lista dos 10 melhores filmes do ano do New York Times. Disney pretendia gastar apenas 250 mil dólares mas cada cena se tornou um projeto intrincado, que exigiu muita criatividade e dinheiro, e as despesas subiram para 1 milhão e 15 mil dólares. “Você não pode imaginar o montão de coisas que tivemos de aprender, e de desaprender, fazendo Branca de Neve”. (Walt Disney). Na versão original, Adriana Caselotti (depois de cogitarem  Deanna Durbin) emprestou a voz para Branca de Neve; Marjorie Belcher, mais tarde conhecida como Marge Champion nos musicais da Metro, posou como modelo. Outras vozes principais: Harry Stockwell / The Prince; Lucille La Verne / The Queen; Moroni Olsen /The Magic Mirror; Scotty Mattraw / Bashful; Roy Atwell / Doc;  Pinto Colvig / Grumpy e Sleepy; Otis Harlan / Happy; Billy Gilbet / Sneezy; Stuart Buchanan / Humbert, The Queen’s Huntsman;  Na 1ª dublagem brasileira: Dalva de Oliveira (diálogos); Maria Clara Tati Jacome (canções) / Branca de Neve, Carlos Galhardo / Príncipe; Cordélia Ferreira / Rainha; Almirante / Espelho Mágico e o anão Mestre; Delorges Caminha / Feliz; Aristoteles Pena / Zangado / Edmundo Maia / Atchim / Baptista Junior / Soneca e Dengoso, Tulio Lemos / Caçador;  Os Trovadores. Canções: Frank Churchill, Leigh Harline, Paul J. Smith. Adaptação brasileira: Radamés Gnatalli. Tradução: João de Barro, Alberto Ribeiro. Parte técnica: Moacyr Fenelon.Obs.No Brasil foi também exibida a versão original inglêsa.

Em Donald e Seus Sobrinhos / Donald’s Nephews surgem Huguinho / Huey, Zezinho / Dewey e Luizinho / Louis. Em Fitas e Fiteiros / Mother Goose Goes Hollywood aparecem mais caricaturas de astros e estrelas como Katharine Hepburn, W.C. Fields, Charles Chaplin, Laurel e Hardy.

1939:

2 desenhos do Mickey.1 Sinfonia Maluca. 8 do Donald. 1 Especial, O Patinho Feio / The Ugly Ducking, ganha o Oscar.

Em O Caçador de Autógrafos / The Autograph Hound, mais caricaturas de ídolos da tela como Greta Garbo, Mickey Rooney, Shirley Temple, os Ritz Brothers.

1940:

2 desenhos do Mickey. 8 do Donald. 1 d oPateta. 3 do Pluto.

Pinóquio / Pinocchio, baseado na história de Collodi, é um dos mais inventivos desenhos em longa-metragem de Disney do ponto de vista visual, revelando notáveis avanços técnicos em relação à Branca de Neve e os Sete Anões. Levou três anos em produção e custou aproximadamente 2 e meio milhões de dólares. No elenco de vozes principais: Dickie Jones / Pinocchio; Cliff Edwards / Jimmy Crickett; Walter Catlett / J. Worthington Foulfellow; Frankie Darro / Lampwick; Evelyn Venable / The Blue Fairy; Charles Juddles / Stromboli and The Coachman; Don Brodie / Barker. Na 1a dublagem brasileira: Donald Thompson, o “Pinguinho” da Radio Clube / Pinocchio;  Mesquitinha (e, cantando, Paulo Tapajós) / Grilo Falante, Almirante / João Honesto, Grande Otelo / Pavio de Vela, Edmundo Maia / Gepeto / Lysandro Martins / Cocheiro, Zezé Fonseca / Fada, Heloisa Helena / as Bonecas de todas as raças / Linandro Sergenti / Stromboli. A canção “When You Wish Upon a Star”, de Leigh Harline e Ned Washington, arrebatou o Oscar, sendo também atribuída aos autores e a Paul J. Smith outra estatueta da Academia pelo melhor score original. Versão brasileira: João de Barro, Joracy Camargo.

Fantasia / Fantasia (ex-Concert Feature) é o projeto em longa-metragem mais ambicioso e controvertido de Disney. Primeiramente, a intenção era fazer um desenho curto de Mickey, inspirado em “O Aprendiz de Feiticeiro” de Paul Dukas. O maestro Leopold Stokowski aceitou reger o score e sugeriu a Disney  que expandisse a idéia e realizasse uma série de visualizações de temas musicais. O musicólogo Deems Taylor apresenta os segmentos do concerto sob a direção de Stokowski: “Tocata e Fuga em Ré Menor” de Bach; “Suite Quebra-Nozes”de Tchaikowsky; “O Aprendiz de Feiticeiro” de Paul Dukas; “Sagração da Primavera” de Stravinsky: “Sinfonia Pastoral” de Beethoven: “Danças das Horas” de Ponchielli; “Uma Noite no Monte Calvo” de Moussorgsky; “Ave Maria” de Schubert. O filme, por seu desafio técnico, pode ser considerado um tributo ao brilhantismo da equipe de artistas dos Estúdios Disney e, embora muitos críticos musicais apontassem os sacrilégios cometidos na ilustração dessas composições eruditas (“grotesca caricatura da cultura”), impressiona por sua ousadia e qualidade artística. Aspas para Vinicius de Morais: “Fantasia é a festa nupcial da música com a cor, do som com o desenho, da melodia com a forma. É a orgia do bizarro, numa equilibrada sucessão de imagens visuais e sonoras que vão desde o supra-realista ao anedótico, do didático ao satírico, do lírico ao cômico. É uma polifonia policrômica de nuances jamais vistas. Festa para os olhos e para o ouvido”. Disney manda construir um sistema especial de som – o Fantasound – que antecipa muitas inovações estereofônicas dos anos 50 e 60; mas tem problemas para implantá-lo em circuito e acaba lançando o filme no sistema comum. Disney, sua equipe de som e Stokowski receberam Oscars especiais. Ao filme coube um Prêmio Especial dos Críticos de Cinema de Nova York.

1941:

3 desenhos do Mickey. 8 do Donald. 3 do Pateta. 4 do Pluto, Deve-se fazer o  Bem / Lend a Paw ganha o Oscar.

O Dragão Dengoso / The Reluctant Dragon, documentário misturando desenho e “ação ao vivo” (dirigida por Alfred L. Werker e fotografada por Bert Glenon, Winton Hoch), tendo por finalidade promover os novos estúdios de Disney em Burbank. Ali acompanhamos os passos de um visitante curioso, Robert Benchley. Depois de percorrer todos os departamentos, Benchley assiste, na companhia de Disney e colaboradores, ao desenho O Dragão Dengoso. Durante a visita ele vê também um dueto entre o Pato Donald / Clarence Nash e Clara Cluck (Galinha Cantadeira) / Florence Gill e os desenhos Baby Weems e How to Ride a Horse, este último protagonizado pelo  Pateta.

Dumbo / Dumbo é o desenho de longa-metragem mais curto e menos pretencioso de Disney. Os animadores utilizaram uma história bem simples (de Helen Aberson e Harold Pearl) e a rechearam de idéias engenhosas e personagens memoráveis, produzindo cenas brilhantemente concebidas, por exemplo, a do pileque do elefantezinho. Como Dumbo não fala, o enredo é quase todo narrado visualmente e, na observação de um crítico, o filme tem mais ângulos de câmera do que Cidadão Kane. Entre as vozes: Edward Brophy / Timothy; Herman Bing / Ringmaster; Verna Felton / Elephant; Sterling Holloway / Stork; Cliff Edwards / Jim Crow. Na 1a dublagem brasileira: João de Barro / Ratinho Timóteo; Sarah Nobre / Elefoa Matrona; Sr. Cegonha / Almirante; Grande Otelo / Jim Crow; Iara Jordão, Olga Nobre, Mary May / Eleofas Bisbilhoteiras; Xavier de Souza / Mestre de Cerimônias do circo; Miguel Orrico / Empresário.

Estoura a greve nos estúdios Disney.

Entre 1941-42, Disney realiza para a National Film Board of Canada: Stop that Tank (essencialmente um filme de instrução com poucas cenas de animação),Thrifty Pig (com os Três Porquinhos), The Seven Wise Dwarfs (trazendo os amigos da Branca de Neve de volta às telas) e Donald’s Decision (com o Pato Donald)  e All Together (com vários personagens Disney).

1942:

2 desenhos do Mickey. 8 do Donald. 4 do Pateta. 5 do Pluto.

Bâmbi / Bambi, delicada transposição do clássico infantil de Felix Salten, distingue-se por seu estilo e atmosfera, maravilhosa estilização, principalmente no uso da cor, e retorno da veia idílico-elegíaca de Disney. O diretor Sidney Franklin cedeu os direitos de adaptação e serviu como consultor artístico. Na versão original não foram creditadas as vozes. Na 1ª dublagem brasileira: Peri Ribeiro,

Durante a Segunda Guerra Mundial, noventa por cento dos empregados de Disney se dedicaram a produzir filmes de treinamento ou de propaganda para o governo. Em 1942 eles fizeram  The New Spirit e, no ano seguinte: The Spirit of 43Educação para a Morte / Education for Death – The Making of a Nazi, Razão e Emoção / Reason and Emotion, O Automo-Bastão / Victory Vehicles, etc.

1943:

6 desenhos do Donald. 1 do pateta. 2 do Pluto. 1 do Figaro. 4 Especiais, Oscar para Vida de Nazista / Der Fuehrer’s Face. Obs. Figaro  é aquele gato que vive tentando apanhar Cleo, o peixinho em Pinocchio. O personagem apareceu também como coadjuvante em desenhos do Pluto.

Alô, Amigos! / Saludos Amigos cumpre o programa de aproximação com a América Latina, incentivado pela Política da Boa Vizinhança, proclamada por Roosevelt. Combina desenho e cenas de Disney e sua equipe “ao vivo”, para ligar os quatro episódios: o do turista Donald às voltas com um lhama no lago Titicaca; o do aviãozinho Pedro tentando atravessar os Andes; o do gaúcho Pateta nos pampas da Argentina e o episódio brasileiro, no qual se ouve “Aquarela do Brasil “de Ary Barroso e “Tico-Tico no Fubá” de Zequinha de Abreu, e surge o papagaio Zé Carioca / Joe Carioca, inspirado num desenho de J. Carlos e na figura do violonista Zezinho de Oliveira. (José do Patrocínio  de Oliveira). Supervisão: Gilberto Souto. Narração: Aloysio de Oliveira.

Vitória Pela Força Aérea / Victory Through Air Power, documentário de propaganda de guerra e encaixando desenho na ação  “ao vivo”, baseado no livro do Major Alexander de Seversky sobre o bombardeio estratégico de longo alcance. As cenas com o major são dirigidas por H.C. Potter e fotografadas por Ray Rennahan.

1944-45:

11 desenhos do Donald. 8 do Pateta. 6 do Pluto. 1 Especial.

Você Já foi à Bahia?  / The Three Caballeros expande e aperfeiçoa as idéias e os temas de Alô, Amigos!. Por seu desvairado surrealismo e espantosos efeitos  visuais, ritmo rapidíssimo e surpreendente modernidade, tornou-se de uns tempos para cá,  um dos longas-metragens mais admirados de Disney. Donald recebe três presentes: o primeiro, um projetor de cinema com os filmes Strange Birds e Little Gaucho, respectivamente  as histórias  do Paulinho Pinguim e do pássaro Aracuã (narrada por Ary Barroso) e a de Gauchito e seu burrinho voador; o segundo, um livro sobre o Brasil, de cujas páginas salta Zé Carioca, que Donald para conhecer nosso país; o terceiro, refere-se ao México, onde Donald e Zé encontram o Galo Panchito, vestido de rancheiro e fazendo acrobacias com seus revólveres. Na trilha sonora: “Na Baixa do Sapateiro”, e “Os Quindins de Iaiá” de Ary Barroso (cantada a segunda por Aurora Miranda), “Solamente Una Vez” de Agustin Lara, na voz de Dora Luz; “Mexico” por Carlos Ramirez, etc. Carmen Molina dança “Jerusita”. Consultores: Gilberto Souto, Aloysio de Oliveira (este, também narrador). Harold Young dirige as cenas “ao vivo”, fotografadas por Ray Rennahan. Almirante também participa da dublagem brasileira.

1946:

5 desenhos do Donald. 2 do Pateta. 4 do Pluto. 1 do Fígaro.

Música, Maestro / Make Mine Music, calcado no modelo de Fantasia mas sem a mesma inspiração, contém dez segmentos: A Baleia que Canta Ópera / The Whale Who Wanted to Sing At The Met,  cantado por Nelson Eddy; After You’ve Gone e All The Cats Join In, dois boogies executados por Benny Goodman e seu quarteto; Chapéus  de Vitrine / Johnny Fedora and Alice Blue Bonnnet cantado pelas Andrews Sisters; Castro, o Astro / Casey and the Bat, narrado por Jerry Colonna; Pedro e o Lobo / Peter and the Wolf, narrado por Sterling Holloway; Os Pereira e os Padilha / The Martins and the Coys, cantado pelo conjunto The King’s Men; Os Dois Corações / Two Silhouettes, com os bailarinos Tatiana Riabouchinska e David Lichine do Balé Russo e a voz de Dinah Shore: O Silêncio da Noite / Blue Bayou, cantado por Ken Darby; e Sem Você / Without You, cantado por Andy Russell. Na dublagem brasileira: Dircinha Batista, Nuno Roland, Sílvio Caldas, Quitandinha Serenaders, Cesar de Alencar, Aloysio de Oliveira, Carlos Galhardo. Supervisão: João de Barro.

Canção do Sul / Song of the South, comédia-dramática, baseada no livro de Joel Chandler Harris, sobre um menino, Johnny, que foge de casa por causa da separação dos pais. No caminho, encontra um negro velho, Tio Remus, cujas fábulas a respeito do Compadre Coelho, da Comadre Raposa e do Compadre Urso o fazem mudar de idéia. Combina animação com personagens de carne e osso, interpretados por: Bobby Driscoll / Johnny, James Baskett / Tio Remus, Ruth Warrick, Luana Patten, Erik Roff, Hattie McDaniel e Lucille Watson. Direção: Harve Forste. Foto: Gregg Toland. A canção “Zip-a-dee Doo-Dah”, de Allie Wrubel e Ray Gilbert, ganha o Oscar; James Baskett recebe uma estatueta especial da Academia.

1947:

1 desenho do Mickey. 7 do Donald. 2 do Pateta. 4 do Pluto. 1 do Fígaro.

Bongo / Fun and Fancy Free conjuga os atores Edgar Bergen e Luana Patten, os personagens de cartoon Mickey Mouse, Donald e Pateta, e os bonecos Charlie McCarthy e Mortimer Snerd, numa mistura musical que tem o Grilo Falante como coordenador e introduzindo o segmento de Bongo, um urso de circo fugitivo. As aventuras de Bongo originam-se de uma história de Sinclair Lewis e são narradas por Dinah Shore, também intérprete de três canções. Noutro segmento, Mickey and the Beanstalk, o camundongo enfrenta Willie, o Gigante. Na dublagem brasileira: Dircinha Batista, Dalva de Oliveira, Almirante, Cesar de Alencar, os Cariocas, Radamés Celestino, José Vasconcelos, etc. Direção da parte “ao vivo”: William Morgan. Foto: Charles P. Boyle.

Disney depõe na Comissão do Senado que apura as atividades comunistas em Hollywood e aponta os desenhistas Herbert Sorrell e Dave Hillberman como os fomentadores comunistas da greve nos seus estúdios em 1941.

1948:

2 desenhos do Mickey. 8 do Donald. 2 do Pateta. 4 do Pluto.

Melodia / Melody Time, última das antologias musicais de Disney, sobressaindo entre os segmentos a história de João das Maçãs / Johnny Appleseed com Dennis Day e a de Pecos Bill, cuja lenda  Roy Rogers e os Sons of the Pioneers contam para Bobby Driscoll e Luana Patten. Um outro episódio reúne de novo Donald, Zé Carioca e Panchito sob o som de “Apanhei-te Cavaquinho” de Ernesto Nazareth, executado pela organista Ethel Smith e o coro das Dinning Sisters. Os outros instantes “Toot”, o Rebocador / Little Toot com as Andrews Sisters; Três Árvores / Trees, com Fred Waring e seus Pennsylvanians; Romance no Inverno / Once Upon a Wintertime e o mais original: “O Vôo do Besouro” de Rimsky Korzakov, em ritmo de jazz pela orquestra de Fred Martin com Jack Fina ao piano. Na dublagem brasileira: Dircinha Batista, Heleninha Costa, Almirante, Dick Farney, Brandão Filho, Aloysio de Oliveira, As Três Marias, Quarteto Continental. Foto da parte “ao vivo”: Winton Hoch.

Tão Perto do Coração / So Dear to My Heart é um filme normal com breves sequências de animação – para muitos, desnecessárias. História sentimental e nostálgica sobre um menino e sua ovelhinha negra, baseada no livro Midnight and Jeremiah de Sterling North. “Tão Perto do Coração” está muito ligado a mim. É a vida que meu irmão e eu levamos como garotos no Missouri”. (Walt Disney).

1949:

8 desenhos do Donald. 2 do Pateta. 4 do Pluto. 1 EspeciaL

Dois Sujeitos Fabulosos / The Adventures of Ichabod and Mr. Toad reúne duas histórias. Basil Rathbone narra a de Mr. Toad, personagem do livro The Wind in the Willows de Kenneth Grahame; Bing Crosby narra o conto Ichabod Crane, extraído de The Legend of the Sleepy Hollow de Washington Irving.

1950:

6 desenhos do Donald. 3 do Pateta, 7 do Pluto. 2 Especiais.

A Gata Borralheira / Cinderella tenta repetir o êxito de Branca de Neve e os Sete Anões. Disney escolheu o conto de Perrault para retornar ao longa-metragem só de animação e, com charme e humor, deu força aos animais amigos da heroína, os ratinhos Jacques e Gus, o cão Bruno, os pássaros, e o inimigo de todos, Lúcifer, o gato vilão. Bosley Crowther sentenciou “Embora a Gata Borralheira não seja uma obra-prima, vale todo o amor e trabalho dispendidos para realizá-lo”. Na versão original: Ilene Woods / Cinderella; William Phipps / Prince Charming; Eleanor Audley / Stepmother; Rhoda Williams, Lucille Bliss / Step Sisters; Verna Felton / Fairy Godmother; Luis Van Rooten / King/Grand Duke; James Macdonald / Jaq/Gus/Bruno. Na dublagem brasileira: Simone Moraes, Jorge Goulart, Tina Vita, José Vasconcelos, Olga Nobre, Suzy Kirby, Ema D’Avila, Carlos Maia, Nuno Roland, Paulo Tapajós, Albertinho Fortuna, Heleninha Costa. Versões: Gilberto Souto, João de Barro.

1951:

1 desenho do Mickey. 6 do Donald. 7 do Pateta. 3 do Pluto.

Alice no País das Maravilhas / Alice in Wonderland, adaptação de duas histórias de Lewis Carroll (Alice in Wonderland e Through the Looking Glass) com mais música do que sátira. Disney de certa forma já fizera Alice, pois o tema geral de Carroll serviu de base para a série Alice Comedies / 1923-27. A idéia de uma adaptação mais fidedigna lhe ocorreu várias vezes nos anos seguintes. Em 1933, houve rumores de uma versão combinando live-action e animação com Mary Pickford. Em 1945, o estúdio anunciou que Ginger Rogers estrelaria o filme. Mais tarde, Disney pensou em aproveitar Luana Patten. Finalmente, decidiu realizar o projeto em desenho animado, inspirando-se no estilo das famosas ilustrações de Sir John Tenniel. A filha de Disney comentou: “Alice é um clássico literário mas exige muito esforço intelectual e é fraco sob o ponto de vista emocional. Tais histórias são tão traiçoeiras como TNT: elas podem ser um sucesso ou fazer um filme voar pelos ares”. Na versão original: Kathryn Beaumont / Alice; Ed Wynn / Mad Hatter;  Richard Haydn / Caterpillar; Sterling Holloway / Cheshire Cat; Jerry Colonna / March Hare; Verna Felton / Queen of Hearts; etc. Na dublagem brasileira: Terezinha (filha de Mara Rúbia), Estevão Matos, Jorge Goulart, Apolo Correia, Almirante, Sarah Nobre, Nuno Roland, Otávio França, Túlio Berti, Wellington Botelho, Orlando Drumond, Suzi Kirbi, Trio Madrigal, Trio Melodia, Sonia Barreto, etc.  e a participação de Gilberto Souto, Vinicius de Morais e João de Barro nas versões.

1952-53:

2 desenhos do Mickey. 9 do Donald. 11 do Pateta. 7 Especiais, O Tatá, o Fifi, o Plin e o Chibum / Toot, Whistle, Plunk and Boom, primeiro desenho curto de Disney em CinemaScope, imitando o estilo moderno da U.P.A. , premiado com o Oscar.

As Aventuras de Peter Pan / Peter Pan, deliciosa excursão no mundo do faz-de-conta, apesar de realizado com enfoque realista, dando primazia aos personagens humanos, mantém o espírito etéreo da obra de Sir James Barrie. Como ocorreu em Alice no País das Maravilhas, a fim de obter a maior aproximação possível com os movimentos reais, Disney rodou um filme normal com modelos, para serem estudados pelos animadores. “Os animadores, tal como os pintores ou escultores, precisam de modelos … Poderíamos, é claro, ter modelos interpretando as cenas num palco. Mas assim os animadores teriam que confiar na sua memória, quando voltassem às suas mesas de trabalho. Com um filme fica mais fácil, pois ele pode ser projetado tantas vezes quantas forem necessárias para os artistas. E estes poderão corrigir quaisquer erros antes do desenho ser feito” (Walt Disney). No original, as vozes de Bobby Driscoll / Peter Pan, Kathryn Beaumont / Wendy; e Hans Conried  / Capitão Hook. Na dublagem brasileira: Lauro Fabiano / Peter Pan; Terezinha / Wendy; Aloysio de Oliveira / Capitão Hook; e Orlando Rangel, Sonia Barreto, Castro Gonzaga, Newton Paiva, Paulo Roberto, Maria Alice Reis, Abelardo dos Santos. Versões: Gilberto Souto e João de Barro.

Disney adere à 3ª Dimensão com os desenhos Melody (Adventures in Music) e Working for Peanuts.

1954-55

11 desenhos do Donald. 3 Especiais.

A Dama e o Vagabundo / Lady and the Tramp baseia-se na história de Ward Greene em torno de Lady, uma cadelinha de nobre linhagem, e suas peripécias ao lado de Malandro, o vagabundo vira-latas, seu valente admirador. Primeiro desenho de longa-metragem em CinemaScope. O filme se apóia apenas no realismo dos cenários e da ambientação, na riqueza de detalhes e na forte e simpática caracterização dos heróis caninos, sendo pouco dotado de humor. Na versão original Barbara Luddy faz a voz de Lady e Larry Roberts a de Tramp. Na dublagem brasileira: Rosina Pagã substitui a voz de Peggy Lee  (Darling/Si/Am/ Peg). Versão: Aloysio de Oliveira, Orlando Lins. Os filmes da Disney passam a ser distribuídos pela Buena Vista, de propriedade de Disney.

1956-59:

3 desenhos do Donald. 7 Especiais.

O trabalho preliminar de A Bela Adormecida / Sleeping Beauty começa em 1950, interrompe-se em 1954 e é retomado em 1956. Após três anos de produção, atinge o custo final de 6 milhões de dólares. Repetindo o processo usado em Alice o País das Maravilhas e em As Aventuras de Peter Pan, Disney roda um filme normal com modelos para ajudar os animadores. Além do Technirama 70 e do som estereofônico, utiliza um design estilizado e angular e cenas de fundo em lugar dos antigos traços suaves  e arredondados que aos poucos já vinham sendo abandonados pelos artistas do estúdio.  Na opinião de muitos, o filme, apesar de ser muito elaborado tecnicamente e atraente sob o aspecto visual, é mais próprio para adultos do que para crianças. Na versão original: Mary Costa / Princess Aurora/Briar Rose; Eleanor Audley / Maleficent; Barbara Luddy / Merryweather; Taylor Holmes / King Stefan; Bill Shirley / Prince Phillip, etc. Na dublagem brasileira: Maria Alice, Maria Norma, Heloisa Helena, Roberto de Cleto, Hamilton Ferreira, Nancy Wanderley, Nádia Maria, Mauricio Sherman, Osny Silva, Joyce de Oliveira sob a  direção de Luis Delfino.

Primeiro Oscar técnico-científico em 1959 (o outro, em 1964) para Ub Iwerks. Iwerks criou Mickey junto com Disney, fez a animação dos primeiros desenhos da WD, e ficou a seu lado até 1930, quando montou seu próprio estúdio. Em 1940, voltou a trabalhar para Disney, até falecer em 1971. Considerado por seus colegas “um gênio da mecânica”, recebeu os prêmios da Academia por suas invenções no campo da trucagem ótica e efeitos fotográficos especiais, sobretudo aqueles misturando atores com desenhos. Foi consultor fotográfico especial de Os Pássaros / The Birds de Alfred Hicthcock e de outros filmes normais e documentários de Disney.

1960-61:

2 desenhos do Donald. 1 do Pateta. 2 Especiais.

A Guerra dos Dálmatas / 101 Dalmatians, baseado no livro The Hundred and One Dalmatians de Dodie Smith, narra as aventuras  de uma família de cães. Os pais (Pongo e Perdita) procuram os filhotes, raptados pela perversa Cruela Cruel, que quer transformá-los em casacos de peles, e acabam trazendo para a casa de seus donos 101 cachorros dálmatas. Menos pretencioso e ainda mais estilizado do que os desenhos anteriores, o filme conjuga imagens encantadoras com um enredo bastante espirituoso. Introdução do uso do lápis de cera e da técnica pela qual os desenhos originais são xerocopiados diretamente na folha transparente de celulóide, poupando muito trabalho. Na versão original:  Rod Taylor / Pongo; Lisa Daniels / Cate Bauer / Perdita; Betty Lou Gerson / Cruella De Vil/Miss Birdwell , etc. Na dublagem brasileira: Domingos Martins, Maria Alice, Hélio Colona, Simone Moraes, Margarida Rey, Mauricio Sherman, Hamilton Ferreira, Olga Nobre. Versão: Aloysio de Oliveira, Orlando de Figueiredo.

1962-63:

1 Especial.

A Espada Era a Lei / The Sword in the Stone apóia-se no livro de T. H. White, contando os lances da infância do Rei Arthur. Sem a atmosfera de conto de fadas ou de lenda e o mesmo brilho de outros exemplares da obra de Disney, o filme tem entretanto certos diálogos interessantes – os de Merlin e os da coruja Arquimedes – e a sequência memorável do duelo entre o mágico e Madame Mim. Na versão original: Ricky Sorenson / Wart; Karl Swenson / Merlin; Junius Matthews / Archimedes; Martha Wentworth / Madame Mim/Granny Squirrel; Sebastian Cabot / Sir Ector/narrator; Alan Napier / Sir Pelinore, etc. Na dublagem brasileira: João Carlos Barroso / Wart; Magalhães Graça / Merlim; Orlando Drumond (Coruja Arquimedes).

1964-66:

1 desenho do Pateta. 2 especiais.

Estrondoso sucesso dos estúdios Disney, Mary Poppins / Mary Poppins, inspirado nos livros de P. L. Travers, versa sobre uma governanta que causa profundas modificações na família Banks, em Londres, por volta de 1910. O filme insere trechos de animação nas cenas com atores. No elenco: Julie Andrews (estreando na tela), Dick Van Dyke, David Tomlinson, Glynis Johns, Karen Dotrice, Matthew Garber, Ed Wynn, Hermione Baddley, Elsa Lanchester, Jane Darwell, Reginald Owen. Direção: Robert Stevenson. Efeitos especiais: Peter Ellenshaw, Eustace Lycett, Robert A. Mattey. Diretor de Animação: Hamilton Luske. Mary Poppins teve 13 indicações para o Oscar, vencendo em cinco categorias: melhor atriz, montagem, score original, canção e efeitos especiais visuais.

A partir de 1964, as dublagens em português passam à supervisão de Telmo Avelar (Telmo Perle Munch). Morte de Walt Disney a 15 de dezembro de 1966.

1967-70:

2 Especiais, O Ursinho Puff em Ritmo de Aventura / Winnie the Pooh And The Blustery Day ganha o Oscar.


Ainda com participação de Disney, Mogli, o Menino Lobo / The Jungle Book inspira-se nas histórias de Rudyard Kipling. O filme, excelente sob o prisma pictórico e do estudo de caracteres, tem pouca excitação; mas, mesmo assim, muitos o elogiam entusiasticamente. “É a melhor coisa no gênero desde Dumbo” (Richard Shickel). Na versão original: Phil Harris / Baloo the Bear; Sebastian Cabot / Bagheera the Panther; Louis Prima / King Louise of the Apes; George Sanders / Shere Kahn, the tiger; Sterling Holloway / Kaa, the snake; J. Pat O’Malley / Clonel Hathi, the elephant; Bruce Reitherman / Mowgli, the man-cub, etc. Na dublagem brasileira: Alberto Perez, Joaquim Mota, José Manoel, Roberto maia, Magalhães Graça, Castro Gonzaga, MPB-4.

Aristogatas / The Aristocats também conta com sugestões de Disney na fase preparatória e se baseia na história The Aristocats de Robert M.   Sherman. No enredo, Edgar, o mordomo de madame  Adelaide Bonafamille,  uma rica cantora de ópera aposentada, decide livrar-se dos gatos da casa, Duquesa e seus três filhos, a fim de herdar a fortuna da família; pois a madame havia feito um testamento em favor deles. Um gato vagabundo, J. Thomas Malley e um camundongo, Roquefort, os ajudam, põem Edgar a correr e passam a viver entre os aristocráticos hóspedes da rica mansão. Na versão original: Phil Harris / Thomas O’Malley; Eva Gabor / Duchess; Sterling Holloway / Roquefort; Hermione Badelley / Madame Bonafamille, etc. Na dublagem brasileira: Ruth Schelske, Enio Santos, Monsueto, Lourdes Mayer, Magalhães Graça, Terezinha Moreira, Selma Lopes, Waldir Fiori, Orlando Dumond. Canções vertidas por Aloysio de Oliveira e interpretadas por Ivon Curi, Dóris Monteiro e o MPB-4.