O cine-jornal americano (newsreel) era um pot-pourri de cenas com duração de cinco a dez minutos, cobrindo notícias filmadas, que costumava ser exibido duas vezes por semana nos cinemas.
Por mais de meio século, de 1911 a 1967, ele sobreviveu intacto e, durante este tempo, fez parte da programação de praticamente todas as salas de exibição dos Estados Unidos.
Antes de 1900, as “atualidades” (vg. L’Arrivée d’un train a La Ciotat, 1895) e seus sucessores, os filmes de notícias (vg. Couronnement du Czar, 1895), tinham sido uma novidade suficiente para satisfazer o público. Entretanto, na medida em que o filme de ficção foi ganhando popularidade, o atrativo desse tipo de filmes declinou proporcionalmente.
Durante os primeiros anos da História do Cinema, o filme de “atualidades” e o de notícias foi mais promovido na Europa do que nos Estados Unidos por um imperativo tecnológico: o Cinematógrafo dos irmãos Lumière era uma máquina portátil (relativamente leve e acionada manualmente, não dependendo de eletricidade) e mais versátil (usada como câmera, projetor e copiadora) do que o Vitascópio de Edison e os aparelhos patenteados por outras firmas americanas.
Com a câmera/projetor/copiadora, os cinegrafistas dos Lumière podiam filmar instantâneos nos próprios lugares onde estivessem, tirar cópia dos filmes e exibí-los no mesmo dia, à noite. Por outro lado, a facilidade de deslocamento do Cinematógrafo permitia a filmagem de cenas de eventos e personagens importantes do mundo todo, inclusive em regiões distantes.
Esses filmes de “atualidades” e de “notícias” deram à firma francesa uma evidente vantagem em termos de competição.
Os Cine-Jornais Mudos
Significativamente, foi uma firma francesa – Pathé Frères – que introduziu um rolo de filmes de notícias (isto é, um “newsreel”), regularmente distribuído sob a sua marca registrada, o galo dourado. Segundo consta, Leon Franconi, um empregado de Charles Pathé, que trabalhava na sucursal americana, convenceu seu patrão a lançar uma “revista” semanal de notícias. Assim, em 1909, surgiu o primeiro cine-jornal, intitulado inicialmente Pathé Fait Divers e depois Pathé Journal.
O primeiro cine-jornal da Pathé produzido na América, intitulado Pathé’s Weekly, estreou em 8 de agosto de 1911. Ele se tornaria o cine-jornal americano de maior longevidade.
O Pathé’s-Weekly foi anunciado como uma revista ilustrada num filme, “as notícias do mundo em imagens”. O programa inaugural misturava eventos estrangeiros e domésticos. Os eventos estrangeiros consistiam em cenas de um desfile militar e da inauguração do monumento em homenagem à Rainha Vitória em Londres; cenas da apresentação dos estandartes de um regimento de zouavos franceses no Hôtel des Invalides, em Paris; cenas da visita do príncipe herdeiro alemão e sua esposa em São Petersburgo; cenas de um torneio aquático em Nice, França e cenas de uma inspeção das tropas germânicas em Postdam. Os eventos americanos mais notáveis eram o navio de guerra “North Dakota” atracado no estaleiro da Marinha no Brooklyn para reparos; o concurso hípico anual em Long Beach e as regatas no Lago Saratoga.
Durante o primeiro ano de sua distribuição, o Pathé’s Weekly continha uma média de sessenta por cento de assuntos americanos. A princípio, a cobertura americana centralizava-se em torno de eventos ocorridos em Nova York, porém, gradualmente, a companhia começou a cobrir eventos em outras partes do país.
Em 1911, foi contratado o primeiro cameraman ou cinegrafista em tempo integral, J. A. Dubray. Em 1913, a equipe de cinegrafistas incluía ainda Victor Milner, Faxon Dean, Eddie Snyder, Berton Steene, Bill Harison e Ben Strutman enquanto que, além do editor geral P.D. Hogan, havia mais dois editores, Emanuel (“Jack”) Cohen e Al Richard. Em 1914, o Pathé’s Weekly estava empregando 37 cinegrafistas através do continente norte- americano.
Logo depois que o Pathé’s Weekly foi introduzido nos Estados Unidos, cine-jornais concorrentes começaram a aparecer: The Vitagraph Monthly of Current Events, Gaumont Animated Weekly, Mutual Weekly, Kinograms, Hearst-Selig News Pictorial e, mais tarde, Universal Animated Weekly e Fox Newsreel.
O Vitagraph Monthly of Current Events surgiu em 18 de agosto de 1911, mas teve vida curta, sendo absorvido, depois de um ano de existência, pelo cine-jornal de William Randolph Hearst. O Gaumont Animated Weekly estreou em 1912 e encerrou suas atividades em cinco meses, porém a sua versão internacional, Gaumont Weekly, continuou a ser distribuída nos Estados Unidos, fundindo-se posteriormente com o Kinograms. O Mutual Weekly deu seus primeiros passos em 1912 com Pell Mitchel como editor e Larry Darmour e Al Gold como cinegrafistas, que continuaram desempenhando um papel importante na produção de cine-jornais, depois que o Mutual desapareceu. O Kinograms, fundado por George Baynes e editado por Terry Ramsaye, estreou em 1919, sendo distribuído originariamente pela World Film Corporation, de propriedade de Lewis J. Selznick. A certa altura, o Kinograms foi controlado pela Associated Screen News que, durante o início dos anos 20, distribuiu um cine-jornal chamado Selznick News, de pouca duração. A partir de 30 de janeiro de 1921, o material filmado do Kinograms e do Gaumont Weekly foi combinado e distribuído pela Educational Film Exchanges, Inc. Esta firma expandiu as operações do Kinogram a ponto dele ter sido selecionado pelo Capitol de Nova York, o maior cinema do mundo na época, como o seu cine-jornal exclusivo. O Kinogram fechou as portas em 1931.
O exame dos primeiros trade papers e as memórias e reminiscências de pioneiros do cinema, revelam ainda os nomes de outros cine-jornais, que apareceram brevemente nas telas e então sumiram para sempre. Entre esses, incluíam-se o New York Weekly, um cine-jornal local exibido por Marcus Loew na cidade de Nova York por volta de 1914; o Celebrated Players Screen News, distribuido em Chicago em 1921; o Item Animated Weekly, produzido por John W. Boyle em New Orleans em 1913; o Argus Weekly (“The Argus Sees All”) produzido em Hollywood em 1912 por Enrique Vallejo, Harry Revere, Dal Clawson e Bert Longnecker; e o Golden Gate Weekly, distribuído pela Golden Gate Film Exchange de Sol Lesser em 1914. De interesse também foi um cine-jornal intitulado Newspictures, introduzido entre 1915 e 1916 pela Paramount. Ele fracassou imediatamente e, somente em 1927 a companhia iria se se aventurar novamente no mesmo negócio, com o seu cine-jornal sonoro.
Durante o mesmo período, entretanto, despontou um competidor mais tenaz, para rivalizar a liderança do Pathé’s Weekly; e, o que foi mais importante, ele trouxe um dos nomes mais celebrados do jornalismo – o de William Randolph Hearst – para a indústria cinematográfica como produtor de cine-jornal. No início de 1914, foi celebrado um acordo entre a Selig Poliscope Company e o grupo Hearst, para a produção mútua de um cine-jornal chamado Hearst-Selig News Pictorial. A primeira edição foi distribuída em 28 de fevereiro de 1914. Com o lançamento dessa série, a organização Hearst iniciou uma associação com o negócio de cine-jornais, que sobreviveria até o encerramento das operações do Hearst Metrotone em 1967. Por alguma razão, a primitiva aliança com Selig teve breve duração, tendo sido concluída em dezembro de 1915.
No mês seguinte, Hearst ajustou um novo acordo, desta vez com a Vitagraph Company, pelo qual o Vitagraph Monthly of Current Events seria descontinuado e substituído por um novo cine-jornal, intitulado Hearst-Vitagraph Weekly News. Entretanto, o Hearst-Vitagraph Weekly News naufragou dentro de poucos meses e foi abandonado. Por um curto período de tempo, em 1916 e começo de 1917, o grupo Hearst distribuiu seus filmes sob o titulo International Weekly.
Em 1 de janeiro de 1917, Hearst acertou uma nova aliança para produção e distribuição, desta vez com o seu rival, Pathé. O novo produto tomou o nome de Hearst-Pathé News e foi distribuído com este título a partir de 10 de janeiro de 1917. Todavia, a nova associação durou pouco mais de um ano, no fim do qual ambas as companhias seguiram caminhos separados.
O nome Hearst foi retirado do cine-jornal (provavelmente por causa da controvérsia sobre os seus sentimentos pro-germânicos), que passou a se chamar International Newsreel Ele passou a ser distribuído, durante os anos 20, pela Universal e, após a introdução do som, pela Metro-Goldwyn-Mayer.
Subsequentemente à ruptura com Hearst em dezembro de 1915, a Selig Polyscope Company se uniu ao jornal Chicago Tribune e produziu um cine-jornal sob o título Selig-Tribune , anunciado vistosamente como “O Maior Cine-Jornal do Mundo”. Apesar de sua rápida expansão, o Selig-Tribune não sobreviveu por muito tempo e em 1917 não estava mais disponível.
Outros cine-jornais, melhor financiados e distribuídos, apareceram no mercado e foram prosperando. Em 1913, a Universal apresentou o Universal Animated Weekly tendo Joseph T. Rucker, U.K. Whipple e Frank Dart como seus principais cinegrafistas. Um dos vários furos jornalísticos obtidos pela companhia foi a filmagem em 1914 da tripulação e oficiais a bordo do cruzador britânico Caronia, que havia ancorado secretamente em Sandy Hook, Nova York, durante os primeiros dias da Primeira Guerra Mundial, tentando aprisionar os navios alemães que saíam do porto.
Numa indústria na qual a taxa de mortalidade das companhias produtoras de cine-jornais era muito alta, o produto distribuído pela Universal foi o mais duradouro de todos; ele somente se extinguiu em 1967, quando era o mais antigo do país.
O último dos cine-jornais mais bem sucedidos nasceu em 11 de outubro de 1919, produzido pela Fox, e sobreviveu até 1963. O Fox News foi o primeiro cine-jornal afiliado a um serviço telegráfico – no caso, a United Press. Conforme os termos desta associação, a UP cedeu seu serviço telegráfico com exclusividade para a Fox e colocou à sua disposição a assistência de seus próprios repórteres e fotógrafos.
O Fox News recebeu um impulso sem precedente, quando veio a público uma carta do Presidente Wilson elogiando o seu lançamento. Em 1922, a Fox afirmava que tinha 1.008 cinegrafistas, a maioria dos quais, é claro, correspondentes. Seu departamento de cine-jornais, chefiado por Pell Mitchell (outrora encarregado do Gaumont Weekly), tinha uma agenda agressiva, assegurando matérias exclusivas dos principais acontecimentos e levando-as para os cinemas antes de seus competidores. Apenas em 1921, ele deu nada menos do que 17 furos de reportagem, entre os quais se incluíam: cenas do bandido mexicano Pancho Villa no seu rancho; o príncipe herdeiro da Alemanha no exílio; imagens do interior do dirigível americano Roma: as primeiras fotos oficiais” da Ku Klux Kan; fotos aéreas da inundação do rio Arkansas em Pueblo, no Colorado; a primeira filmagem de aeroplano do Grand Canyon e cenas do primeiro vôo de Nova York a Chicago.
Material extraordinário do Monte Vesúvio em erupção também foi obtido pelo cinegrafista Russell Muth, que vôou diretamente sobre o vulcão e quase morreu no desastre do seu avião. Menos espetacular, porém mais importante, foi uma edição especial, exibida pela Fox em 1922, sobre a política expansionista do Japão. Esta série, em capítulos, intitulada Face to Face with Japan, tentava responder a pergunta: Existe ameaça de guerra entre os Estados Unidos e o Japão?
Nos anos seguintes, a Fox consolidou e manteve sua posição. Sob a direção de Truman Tulley e depois Edmund Reek, ela introduziu na indústria o primeiro cine-jornal sonoro em 1929, após o que aumentou sua equipe, ampliou sua cobertura e elaborou novas técnicas de produção.
Em 1918, quatro nomes da História do Cine-Jornal Americano haviam introduzido as suas séries: Pathé, Hearst, Universal e Fox. A Paramount, só faria isso com sucesso em 1927, quando os editores pioneiros, Emanuel Cohen e Al Richard pediram demissão da Pathé para chefiarem o seu próprio departamento de cine-jornais, levando com eles excelentes cinegrafistas. Apresentado primeiramente ao público como um cine-jornal mudo (“Os Olhos do Mundo”), o Paramount News adquiriu uma voz logo após a introdução do som e se tornou “Os Olhos e Ouvidos do Mundo”. Quanto à Metro-Goldwyn-Mayer, ela começou, naquele mesmo ano, a distribuir o cine-jornal de Hearst.
De 1918 em diante, embora muitos outros cine-jornais tivessem aparecido brevemente nas telas dos cinemas, a História do Cine-Jornal Americano se concentraria nas operações dessas cinco grandes firmas.
Talvez o episódio mais curioso dessa História na sua fase silenciosa, tenha sido o contrato celebrado entre a Mutual Film Corporation e o líder mais conhecido da Revolução Mexicana, Pancho Villa. De acordo com os termos do contrato, a Mutual pagaria 25 mil dólares ao famoso rebelde na data da assinatura do documento e mais 50 por cento de percentagem sobre a renda do filme. Villa se comprometeria a não deixar que nenhuma outra companhia filmasse as suas batalhas. Nos termos deste ajuste extraordinário, o general mexicano e a Mutual produziram cenas de combate artisticamente elaboradas, especificando que, sempre que possível, os combates se dariam durante o dia e nas horas que fossem convenientes para os cinegrafistas. Villa chegou a atrasar um ataque à cidade de Ojinaga, até que a Mutual pudesse trazer seus cinegrafistas para o local. Charles Rosher, que depois se tornaria um grande fotografo do filme de ficção, era um dos técnicos convocados pela Mutual para filmar a guerra. Outros cinegrafista que atuaram durante a Primeira Guerra Mundial e que se tornaram grandes fotógrafos e / ou diretores no futuro foram: Josef von Sternberg, Hal Mohr, Victor Fleming, Ernest Schoedsack, Farciot Edouart, Wesley Ruggles, George Hill, etc
Os Cine-Jornais Sonoros
Depois da Warner, outra companhia que apressou a conversão para o som foi a Fox Film Corporation; porém William Fox preferiu usar o sistema Movietone em jornais cinematográficos. Com o acréscimo do som, o produto da Fox obteria uma vantagem, pois o outro único estúdio com capacidade para utilizar o som, a Warner, não tinha um jornal cinematográfico. Nos primeiros meses de 1927, a Fox lançou seu cine-jornal sonoro, Fox-Movietone News com duas reportagens de grande sucesso: a partida do vôo transatlântico de Charles A. Lindbergh e a recepção calorosa que A Águia Solitária teve em Washington e Nova York. Elas foram aplaudidas de pé por uma platéia de 6.200 pessoas. Essas duas reportagens sobre Lindbergh foram na verdade edições especiais do Fox-Movietone News. Somente em 28 de outubro de 1927, o primeiro cine-jornal sonoro da Fox estreou no Cinema Roxy, contendo os seguintes tópicos: Cataratas do Niagara: Romance do Cavalo de Ferro: Jogo de Futebol no Estádio de Yale: Rodeio em Nova York. Seis semanas depois, em 3 de dezembro de 1927, o Fox Movietone News passou a ser exibido regularmente nos cinemas de todo o país.
O cine-jornal da recepção de Lindbergh em Washington havia sido encenado e produzido por Jack Connolly, ex-editor de jornal, que aderiu ao cine-jornalismo. Depois de captar a voz de Lindbergh e do Presidente Coolidge, Connolly empenhou-se em fotografar outras celebridades internacionais para o Fox-Movietone News. Juntamente como os cinegrafistas Ben Miggins e os técnicos de som Harry Squires, D.F. Whitting e Eddie Kaw, Connolly partiu para a Europa a fim de registrar o rosto e a voz de toda personalidade importante da época.
Um dos primeiros líderes políticos estrangeiros a ser fotografado foi o ditador italiano Benito Mussolini. Após a gravação, Mussolini teria dito: “Seu cine-jornal falado tem possibilidades políticas extraordinárias … Deixe-me falar através dele em vinte cidades da Itália uma vez por semana e eu não vou precisar de mais nenhum outro poder”.
Provavelmente a entrevista mais popular foi a de George Bernard Shaw que, a princípio, foi um dos que mais relutaram em aparecer diante das câmeras do Fox-Movietone News. Um dia, inesperadamente, Shaw convocou Connolly e disse que consentiria em falar, desde que lhe fosse permitido dirigir a produção. Connoly concordou e o resultado foi um das aparições mais encantadoras em cine-jornais.
Em 1927, o International Newsreel de Hearst, que durante anos distribuiu suas séries através da Universal, assinou um contrato com a Metro-Goldwyn-Mayer para produzir outro cine-jornal mudo inteiramente diferente para esta companhia. Dois anos depois, em 1929, Hearst firmou novo pacto com a MGM, comprometendo-se a produzir duas versões do seu cine-jornal: uma versão silenciosa intitulada MGM International Newsreel e outra sonora, intitulada Hearst Metrotone News. O novo contrato entre Hearst e a MGM fez com que a Universal, decidisse introduzir o seu próprio cine-jornal.
Vários cine-jornais tentaram penetrar num mercado dominado pelos grandes estúdios. Mudos ou sonoros, de âmbito nacional ou regional, no final das contas, todos fracassaram. Entre esses: Selznick News, (Henry) Ford Animated Weekly, American Newsreel (editado e produzido por Lowell Thomas), Junior Newsreel (para crianças), Eve’s Film Pictorial (para mulheres), Iwoa News Flashes, Chicago Daily News Newsreel e All American News, estes três últimos expressamente para comunidades negras.
Apenas um cine-jornal independente, introduzido nos anos 30, sobreviveu. Não era, estritamente falando, um cine-jornal; não era distribuído para o mercado cinematográfico e não competia com as cinco grandes companhias. Em junho de 1937, Eugene Castle, produtor de curtas-metragens industriais e publicitários, lançou o Castle News Parade, oferecendo para venda direta aos espectadores. o material dos cine-jornais das majors, reduzido para 16mm e 8mmm. A primeira edição do Castle News Parade mostrava o desastre com o Hindenburg; a segunda, a coroação de George VI; e a terceira, a história da vida do Duque de Windsor. A Castle Films prosperou por muitos anos na sua produção de cine-jornais e curtas-metragens para os entusiastas do cinema-em-casa.
Porém, nos cinemas comerciais somente os cinco grandes cine-jornais conseguiram sobreviver: Fox-Movietone News, Hearst Metrotone News (depois reintitulado News of the Day), Paramount News (“The Eyes and Ears of the World”), Pathé News (depois RKO-Pathé News e Warner-Pathé News) e Universal News (também conhecido como Universal Newsreel e Universal intenational News). Seus títulos no Brasil eram, pela ordem: 20th Century-Fox Atualidades; Metrotom Atualidades (depois Notícias do Dia); A Voz do Mundo; Atualidades RKO-Pathé (depois Warner-Pathé); Noticiário Universal.
O Fox Movietone News era o cine-jornal mais importante, empregando um grande número de cinegrafistas e mantendo o maior número de escritórios regionais em todo o mundo. Ele caracterizava-se pela divisão das notícias por categorias, cada qual com seu próprio título e narrador. Lowell Thomas, por exemplo, atuou como narrador principal durante muitos anos enquanto Ed Thorgensen descrevia o material filmado sobre esportes.
No Pathé News, editado por Courtland Smith, a partir de 1935, o locutor de rádio Harry Von Zell atuava regularmente como a ˜”Voz do Pathé News” e Clem McCarthy, narrava os acontecimentos esportivos. Durante o período silencioso, a Pathé servia aos cinemas independentes. Em 1933, houve uma fusão entre a organização Pathé e a RKO Pictures, promovida pelo financista Joseph P. Kennedy. A fusão forneceu à RKO um cine-jornal (RKO-Pathé News) com o qual ela podia preencher a sua programação na competição com os outros grandes estúdios. A associação durou até agosto de 1947, quando a Pathé deixou a RKO e começou a distribuir seus cine-jornais através da Warner Brothers. Em agosto de 1947 a Warner Bros. comprou o Pathé News e começou a distribuir o Warner Pathé News nos seus próprios cinemas.
O sucesso dos cine-jornais sonoros foi tanto que, em 2 de novembro de 1929, a Fox inaugurou o cinema Embassy na Broadway com a Rua 46 em Nova York e o devotou exclusivamente para a exibição de cine-jornais. Em março de 1931, outro cinema de cine-jornais, o Trans-Lux, abriu também em Nova York, gerenciado por dois ex-membros da equipe do Fox Movietone, Courtland Smith e Jack Connolly. Um terceiro cinema de cine-jornais, surgiu em 1939, quando um grupo de negocistas de Nova York liderado por Alfred A. Burger e Herbert L. Sheftel fundaram o Telenews Theater em San Francisco. Ele abriu suas portas em 1 de setembro de 1939 e, no primeiro programa, o assunto era a invasão germânica da Polonia. Durante as próximas duas décadas, o Telenews abriria uma cadeia de treze cinemas similares através do país e também a sua própria produtora de cine-jornais.
Depois do advento do som, alguns fatores começaram a contribuir para o declínio da qualidade dos cine-jornais e o eventual malogro das organizações, que os produziam nos anos 50 e 60. Um desses fatores foi o fim da rivalidade selvagem, que havia sido a característica da produção de cine-jornais durante a era do cinema silencioso.
Enquanto o cinegrafista dos anos 20 fazia de tudo para conseguir um furo jornalístico, exibir seu material filmado antes dos outros e até sabotar seus competidores, os cinegrafistas dos anos 30 cooperavam entre si e participavam de um sistema de cobertura, no qual um único cinegrafista ou um número limitado de cinegrafistas filmava um determinado evento e o material filmado era compartilhado por todos os produtores de cine-jornais interessados.
Com a deflagração da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos teve necessidade de estabelecer esse sistema, para proporcionar uma cobertura civil da guerra satisfatória. Havia operações militares demais em andamento para que um único cine-jornal pudesse cobrir todas elas. O dito sistema terminou oficialmente em 1945, mas a sua prática continuou na cobertura de muitos cine-jornais de prestígio.
Em acréscimo aos cine-jornais comerciais domésticos que operavam durante a guerra, o governo dos Estados Unidos financiou o seu próprio cine-jornal para espectadores de além mar, intitulado United Newsreel. A produtora era uma empresa privada (United Newsreel Corporation), de fins não lucrativos, criada em 1942 pelas cinco maiores companhias produtoras de cine-jornais – Paramount, Pathé, Fox, Universal e MGM – em associação com o Office of War Information. O United Newsreel foi planejado como um meio de contra-propaganda e era exibido em dezesseis idiomas, não somente nos países amigáveis, neutros ou em dúvida como também jogados atrás das linhas inimigas numa versão em alemão. O contrato do governo com a United Newsreel Corporation findou-se em 15 de dezembro de 1945.
O cine-jornal americano beneficiou-se de suas experiências do tempo de guerra na medida em que atingiu uma nova maturidade. Entretanto, ele passou por outras mudanças, que iriam agir em seu detrimento. Primeiro, a falta de competição entre cinegrafistas e estúdios, como vimos algumas linhas atrás. Segundo, a uniformidade na cobertura, que ocorreu na medida em que cada cine-jornal oferecia tópicos quase idênticos aos seus espectadores. Os cinemas sobreviveram apenas por causa do grande interesse pelas notícias de guerra assim como pelos esquemas de promoções tais como aquele que fornecia gratuitamente ampliações de fotogramas de cenas de combate aos espectadores que reconheciam parentes ou entes amados nos filmes. Terceiro, o material filmado que chegava aos cinemas era severamente censurado, particularmente na primeira fase da guerra. O cine-jornal sobre o ataque a Pearl Harbor só foi liberado um ano depois do acontecimento. Tal censura estendia-se à apresentação de cenas de soldados americanos feridos ou mortos. Algumas vezes os próprios gerentes dos cinemas extirpavam cenas dos cine-jornais de guerra que eles achavam demasiadamente repulsivas. O Radio City Music Hall recusou exibir cine-jornais dos campos de concentração de Dachau e Buchenwald. Quarto, a duração padrão de um rolo do cine-jornal americano que nunca havia sido suficiente, para permitir uma exposição satisfatória em tempos normais, foi abreviada ainda mais por ordem do governo no período de 1942-1945. Quinto, assuntos controversos, especialmente os de natureza política, virtualmente desapareceram das telas. Esta ausência produziu efeitos que duraram até muito depois da guerra e tornaram o cine-jornal mais inócuo. A Marcha do Tempo / The March of Time, por exemplo, que era anteriormente uma das revistas cinematográficas mais polêmicas do mundo nunca mais conseguiu retomar o seu estilo impudente e iconoclástico de antes da guerra.
A Marcha do Tempo, lançada em 1935 pela Time Inc., produzida por Louis de Rochemont, distribuída pela 20th Century-Fox e narrada pela voz inconfundível de Westbrook Van Voorhis (“Time…marches on!”), revolucionou os conceitos existentes de jornalismo e fílmico e durante dezesseis anos causou um grande impacto sobre o público americano e internacional. A partir de outubro de 1942, a RKO lançou uma revista concorrente, Assim é a América / This is America, na qual muitos episódios foram dirigidos por Richard Fleischer e por Slavo Vorkapich, o mestre de sequências de montagem.
Em 1949, a indústria da televisão comercial estava bem estabelecida e seus serviços de notícias iniciaram uma concorrência real aos produtores de cine-jornais cinematográficos. Com o passar do tempo, a cobertura de notícias pela televisão do pós-guerra melhorou rapidamente assim como a qualidade de sua imagem.
A partir de 1950, os cinemas especializados e as grandes companhias produtoras de cine-jornais começaram a fechar. No outono de 1951, A Marcha do Tempo cessou suas operações. O mesmo aconteceu com o Warner Pathé News em agosto de 1956; com o Paramount News em fevereiro de 1957; com o Fox- Movietone News em setembro de 1963; com o Hearst Metrotone (News of the Day) em novembro de 1967; com o Universal Newsreel em dezembro de 1967.
Neste artigo, que teve como fonte inestimável de consulta, o magnífico livro de Raymond Fielding, The American Newsreel (University of Oklahoma, 1972), fizemos apenas um resumo da História do Cine-Jornal Americano. Quem quiser conhecer melhor esta matéria, encontrará informações mais detalhadas na obra de Fielding, que recomendamos entusiasticamente.