Arquivo mensais:novembro 2010

UMA TRADIÇÃO DE QUALIDADE

No meu livro, Uma Tradição de Qualidade – Cinema Clássico Francês, examino a obra dos grandes diretores e os principais filmes do cinema francês clássico (1930-1959), que legou uma herança de excelentes espetáculos populares e realizações duradouras para a cultura cinematográfica.

Em linguagem acessível, faço um resumo da situação da indústria de cinema francesa até os primeiros tempos do cinema sonoro e abordo temas como o cinema da Frente Popular, da Ocupação e do pós-guerra até o advento da Nouvelle Vague, destacando a participação de René Clair, Marcel Pagnol, Jacques Feyder, Jean Renoir, Marcel Carné, Julien Duvivier, Henri-Georges Clouzot, Christian-Jaque, Jean Grémillon, Jean Cocteau, Jacques Becker, Robert Bresson entre outros realizadores.

O presente trabalho é também uma obra de referência com sinopses e fichas técnicas complementadas por comentários de 150 filmes, contendo ainda 36 fotos de algumas realizações importantes do período.

O livro pode ser encontrado principalmente na Livraria Carga Nobre na PUC-Rio e na Contraponto Editora  (site: www.contrapontoeditora.com.br).

AS SÉRIES POLICIAIS AMERICANAS DOS ANOS 30/40

Graças à novidade dos filmes falados, a indústria cinematográfica americana resistiu um pouco à crise econômica de 1929, mas logo começou a sofrer o seu impacto e, em 1933, a situação se agravou.

Neste ano, havia cerca de 11 milhões de desempregados nos EUA. Quase um terço dos cinemas foi obrigado a fechar as portas. As salas remanescentes tiveram que abaixar o preço dos ingressos, para não perderem a clientela. Algumas companhias escaparam por um triz da falência.

A fim de reconquistar o público, os estúdios de Hollywood generalizaram a prática do chamado programa duplo (double bill) que consistia na exibição de um filme de orçamento modesto (“B picture”) antes do filme principal. Os filmes “B”, por causa de sua duração mais curta, tinham enredos simples, enquadrados em determinadas fórmulas e, muitas vezes, constituíam-se num grupo, chamado de série, cada qual contando uma história diferente, porém conservando sempre os mesmos personagens centrais e a ambientação geral. Mas convém esclarecer que, às vezes, uma série poderia ser constituída de filmes classe “A” como, por exemplo, a série The Thin Man.

As séries (series), distintas dos seriados (serials), dos curtas-metragens (shorts) e das continuações (sequels) abrangiam os mais variados gêneros e, às vezes, alguns atores ou atrizes chegaram a dar, aos filmes em que participaram, o caráter de “personality series” como ocorreu com alguns cowboys (vg. Roy Rogers, Charles Starrett, o Durango Kid); comediantes (vg. Judy Canova, ZaSu Pitts-Slim Summerville, Wheeler e Woolsey, Olsen e Johnson, Joe E. Brown); astros infanto-juvenís (vg. Frankie Darro, Jane Withers, Jackie Moran-Marcia Mae Jones), o mesmo ocorrendo com um produtor (Val Lewton) e um novelista (Mignon Eberhart).

Neste artigo abordaremos – em forma de dicionário – apenas as séries policiais do cinema, deixando para uma próxima oportunidade as pertencentes a outros gêneros.

BIG TOWN – Produzida pela dupla William H. Pine – William C. Thomas na Paramount e interpretada por Philip Reed e Hillary Brooks nos papéis principais do editor Steve Wilson e da repórter Lorelei Kilburne, empenhados em combater o crime numa grande cidade. A série foi oriunda de um programa de rádio, iniciado em 1937, primeiramente com Edward G. Robinson e Claire Trevor), que abria com a voz de um menino jornaleiro gritando:” Pegue o seu Illustrated Press!”  Em 1940, entrou Ona Munson  no lugar de Claire Trevor e, a partir de 1943,  J. Pawley substituiu Edgard G. Robinson.

Filmes: 1947 – ESCÂNDALO QUE MATA / Big Town; TRAMA SINISTRA / Big Town After Dark; AUDÁCIA DE MULHER / I Cover Big Town. 1948 – NOS LABIRINTOS DO CRIME / Big Town Scandal.

BOSTON BLACKIE – O ladrão de jóias que virou detetive amador está sempre às voltas com o Inspetor Farraday (Richard Lane) e acompanhado de seu melhor amigo “The Runt” (George E. Stone) e de um ricaço, Arthur Manleder (Lloyd Corrigan), disposto a ajudá-lo. O personagem criado em 1910 por Jack Boyle estreou no cinema mudo interpretado por Bert Lytell em dois filmes (A CENTELHA DO BEM / Boston Blackie’s Little Pal / 1918, REDENÇÃO / Blackie’s Redemption / 1919) e depois por vários outros atores – Sam de Grasse (LADRÃO DE LUVA DE PELICA / The Silk-Lined Burglar / 1919, David Powell (DIGNA DO MEU AMOR / Missing Millions / 1922), Lionel Barrymore (VOLÚPIA E OURO / The Face in the Fog / 1922), William Russell (O SUPLÍCIO DA ÁGUA / Boston Blackie / 1923), Thomas Carrigan (CAMINHOS TORTUOSOS / Crooked Alley / 1923), Forrest Stanley (OS TRÊS APACHES / Through the Dark / 1924), Raymond Glenn (A VITÓRIA DO BEM / The Return of Boston Blackie / 1927). Retomado pela Columbia em 1941, surgiram 14 filmes todos estrelados por Chester Morris, também o primeiro intérprete do programa de rádio iniciado em 1944, em cuja abertura o locutor exclamava: “Boston Blackie! Inimigo dos que fazem dele um inimigo; amigo dos que não têm amigos!”.

Filmes: 1941 – RASTRO NAS TREVAS / Meet Boston Blackie, O SEGREDO DA ESTÁTUA / Confessions of Boston Blackie. 1942 – VINGANÇA FRUSTRADA / Alias Boston Blackie, AVENTURA EM HOLLYWOOD / Boston Blackie Goes Hollywood. 1943 – AVENTURA À MEIA-NOITE / After Midnight with Boston Blackie, SENDAS TORTUOSAS / The Chance of a Lifetime. 1944 – O CASO DO DIAMANTE AZUL / One Mysterious Night. 1945 – SUSPEITA INJUSTA / Boston Blackie Booked on Suspicion, NOITE DE SURPRESAS / Boston Blackie’s Rendezvous. 1946 – A CHANTAGISTA / Close Call for Boston Blackie, O SEGREDO DE ANN DUNCAN / The Phantom Thief, MÁGICO AMADOR / Boston Blackie and the Law. 1948 – O TRIUNFO DE BOSTON BLACKIE / Trapped by Boston Blackie. 1949 – BOSTON BLACKIE NO BAIRRO CHINÊS / Boston Blackie’s Chinese Venture.

BULLDOG DRUMMOND – O Capitão Hugh “Bulldog Drummond” é um ex-oficial do exército britânico, que se tornou detetive particular. O personagem foi concebido em 1920 por Herman Cyril McNeille, que escrevia sob o pseudônimo de “Sapper”. Drummond chegou primeiramente nas telas em dois filmes britânicos, Bulldog Drummond / 1922 e Bulldog Drummond’s Third Round / 1925, interpretado respectivamente por Carlyle Blackwell e Jack Buchanan. No cinema americano, Ronald Colman assumiu as feições do detetive em Amante de Emoções / Bulldog Drummond / 1929 e A Volta de Bulldog Drummond / Bulldog Drummond Strikes Back / 1934, tendo sido indicado para o Oscar por seu desempenho no primeiro dos dois filmes. Houve outros Bulldog Drummond tanto no cinema inglês (Ralph Richardson, John Lodge, etc.) como no americano (Rod La Roque, Randell, Tom Conway, etc.) e até mesmo numa co-produção anglo-americana (Walter Pìdgeon); porém a série propriamente dita é a da Paramount com John Howard no papel principal (substituído apenas uma vez por Ray Milland). Nela atuam também: John Barrymore (e depois H.B. Warner) como o Inspetor Neilson da Scotland Yard; E.E. Clive, o fiel mordomo Tenny; Reginald Denny, o amigo Algy Longworth; Louise Campbell (em alternância com Heather Angel), a namorada de Drummond, Phyllis Clavering. No programa de rádio, que começou em 1941 com George Colouris, havia ainda um assistente, Denny (Everett Sloane) e, na apresentação, ouvia-se o som de buzinas de carros, passos lentos, tiros, a sirene da polícia e a voz do locutor dizendo: “Surgindo da névoa…surgindo da noite…para viver suas aventuras americanas…aí vem…Bulldog Drummond!”.

Filmes: 1937 – BULLDOG DRUMMOND REAPARECE / Bulldog Drummond Comes Back, A VINGANÇA DE BULLDOG DRUMMOND / Bulldog Drummond’s Revenge, A EVASÃO DE BULDOG DRUMMOND / Bulldog Drummond Escapes. 1938 – BULLDOG DRUMMOND EM PERIGO / Bulldog Drummond’s Peril, BULLDOG DRUMMOND NA ÁFRICA / Bulldog Drummond in Africa. 1939 – O TESOURO DE BULLDOG DRUMMOND / Bulldog’s Dummond Secret Police, O CASAMENTO DE BULLDOG DRUMMOND / Bulldog Drummond’s Bride, RENDE-TE BULLDOG DRUMMOND / Arrest Bulldog Drummond.

CHARLIE CHAN – Curiosamente, o detetive chinês da polícia de Honolulu, criado por Earl Derr Biggers em 1925 nunca foi interpretado por um ator daquela nacionalidade. Ele chegou ao Cinema, um ano depois, no seriado A Casa sem Chave / The House Without a Key, encarnado pelo ator japonês George Kuwa. Depois, Chan apareceu sob os traços de outro intérprete nipônico, Kamiyama Sojin e um britânico, E. L. Park, até surgir a famosa série da 20thCentury-Fox, inaugurada com os 16 filmes do sueco Warner Oland, geralmente considerados os melhores. Após a morte de Oland, em 1938, depois de testados Leo Carillo e Noah Beery, o americano do Missouri Sidney Toler assumiu o papel e fez 22 filmes que, a partir de 1944, passaram a ser realizados pela Monogram. Quando Toler faleceu em 1947, foi substituído por Roland Winters, nascido em Boston, nas seis produções derradeiras. Chinês, entretanto, era Kaye Luke, que personificou Lee Chan, o filho número um do detetive Chan em vários filmes. Já Victor Sen Yung, intérprete do filho número dois, Jimmy Chan, era americano. Outros descendentes de Chan foram interpretados por: Benson Fong, Layne Tom Jr., Frances Hoo, etc. Além dos sábios e deliciosos aforismas (“Um mau álibi é como peixe morto” – disse Charlie numa observação típica – “Não resiste ao teste do tempo”), a série mostrou, em filmes distintos, Rita Hayworth e Jon Hall quando ainda usavam os nomes de Rita Cansino e Charles Locher e os mestres do horror Boris Karloff e Bela Lugosi. No período Monogram, foi introduzida a figura do chofer negro de olhos esbugalhados, Birmingham Brown, interpretado por Manton Moreland. No rádio, Chan começou em 1952 com a voz de Walter Connoly (e depois Ed Begley). Biggers concebeu o personagem de Charlie Chan como uma alternativa para os estereótipos do Perigo Amarelo tipo Fu Manchu. Quando perguntaram ao ator Keye Luke o que achava da criação de Biggers, ele respondeu: “Ele era um herói chinês!”. Os filmes de Warner Oland estavam entre os maiores sucessos da Fox na época, atraindo tanto público e lucros quanto os das produções classe “A”.

Filmes: (Fase Warner Oland) 1931 – A ASTÚCIA DE CHAN / Charlie Chan Carries On, O CAMELO PRETO / The Black Camel. 1932 – A VEZ DE CHAN / Charlie’s Chan Chance. 1933 – O MAIOR CASO DE CHAN / Charlie’s Chan Greatest Case. 1934 – O MISTÉRIO DAS PÉROLAS / Charlie’s Chan Courage, CHARLIE CHAN EM LONDRES / Charlie Chan in London. 1935 – CHARLIE CHAN IN PARIS / Charlie Chan in Paris, CHARLIE CHAN NO EGITO / Charlie Chan in Egypt, CHARLIE CHAN EM SHANGHAI / Charlie Chan in Shanghai. 1936 – O SEGRÊDO DE CHARLIE CHAN / Charlie Chan’s Secret, CHARLIE CHAN NO CIRCO / Charlie Chan in the Circus, CHARLIE CHAN NO PRADO / Charlie Chan in the Race Track, CHARLIE CHAN NA OPERA / Charlie Chan at the Opera. 1937 – CHARLIE CHAN NAS OLIMPÍADAS / Charlie Chan at the Olympics, CHARLIE CHAN NA BROADWAY / Charlie Chan on Broadway, CHARLIE CHAN EM MONTE CARLO / Charlie Chan at Monte Carlo. (Fase Sidney Toler) 1938 – CHARLIE CHAN EM HONOLULU / Charlie Chan in Honolulu. 1939 – CHARLIE CHAN NO RENO / Charlie Chan in Reno, CHARLIE CHAN NA ILHA DO TESOURO / Charlie Chan at Treasure Island. CHARLIE CHAN NA CIDADE DAS TREVAS / Charlie Chan in the City of Darkness. 1940 – CHARLIE CHAN NO PANAMA / Charlie Chan in Panama, CHARLIE CHAN E O ESTRANGULADOR / Charlie Chan Murder Case, CHARLIE CHAN NO MUSEU DE CERA / Charlie Chan at the Wax Museum, UM TIRO MISTERIOSO / Murder Over New York. 1941 – MORTOS QUE MATAM / Dead Men Tell, CHARLIE CHAN NO RIO / Charlie Chan in Rio. 1942 – CASTELO NO DESERTO / Castle in the Desert. 1944 – CHARLIE CHAN NO SERVIÇO SECRETO / Charlie Chan in the Secret Service, CHARLIE CHAN EM “O GATO CHINÊS” / The Chinese Cat, CHARLIE CHAN NA MACUMBA / Black Magic. 1945 – A MÁSCARA VERDE / The Jade Mask, O MISTÉRIO DO RÁDIO / The Scarlet Clue, A COBRA DE SHANGHAI / The Shanghai Cobra, CHARLIE CHAN NO MÉXICO / The Red Dragon. 1946 – AS LUVAS JUSTICEIRAS / Dark Alibi, CHARLIE CHAN NO BAIRRO CHINÊS / Shadows Over Chinatown, DINHEIRO SINISTRO / Dangerous Money. 1947 – O SEGREDO DA CAIXA / The Trap, (Fase Roland Winters) O ANEL CHINÊS / The Chinese Ring. 1948 – O RÁDIO DA MORTE / The Docks of New Orleans, CRIME POR ALFABETO / The Shanghai Chest, O OLHO DE OURO / The Golden Eye, CHARLIE CHAN E O TESOURO AZTECA / The Feathered Serpent. 1949 – O VÕO DA MORTE / The Sky Dragon.

CRIME CLUB – No final dos anos 30, a Universal adquiriu da editôra Doubleday os direitos de filmagem das histórias de mistério, publicadas na coleção Doubleday Crime Club e deixou à produção a cargo de Irving Starr (Crime Club Productions). Três histórias – O Caso Westland, Aventura Cavalheiresca e O Último Aviso – tinham como protagonistas os detetives Bill Crane e Doc Williams, inventados por Jonathan Latimer e encarnados respectivamente por Preston Foster e Fred Jenkins. Muitos romances da coleção Crime Club foram adaptados para o rádio em 1931 no programa The Eno Crime Club, tendo sido criado um personagem especialmente para as transmissões radiofônicas: o detetive Spencer Dean, conhecido como “The Manhunter” e interpretado por Edward Reese. Dez anos depois, foi ao ar um novo programa com o personagem chamado “The Librarian” (Raymond Edward Johnson e depois Barry Thomson). O programa começava com um telefone tocando. “Alô, espero não tê-lo feito esperar. Sim, este é o Crime Club. Eu sou o bibliotecário. ‘O Assassinato aluga um Quarto?’. Sim temos esta história Crime Club para você”.

Filmes: 1937 – O CASO WESTLAND / The Westland Case. 1938 – A BONECA MISTERIOSA / The Black Doll, AVENTURA CAVALHEIRESCA / The Lady in the Morgue, PERIGO PELO RÁDIO / Danger on the Air, O ÚLTIMO AVISO / The Last Warning, The Last Express. 1939 – O CRIME DO CIRURGIÃO / Mystery of the White Room, TESTEMUNHA FORAGIDA / The Witness Vanishes.

CRIME DOCTOR – O personagem do Dr. Robert Ordway, ex-gângster que se tornou psiquiatra, infalível solucionador de casos policiais, nasceu no programa de rádio de 1940, escrito por Max Marcin, interpretado inicialmente por Ray Collins e com o prenome de Benjamin. Quase no fim de cada episódio, o locutor dizia: “O Dr. Ordway voltará exatamente daquí a 57 segundos com a solução para o caso desta noite”. A Columbia aproveitou o Dr. Ordway numa série de dez filmes com Warner Baxter, eliminando as figuras do Inspetor Ross (Walter Greaza) e do Promotor Miller (Edgar Stehli), presentes na emissão radiofônica.

Filmes: 1943 – O ORÁCULO DO CRIME / Crime Doctor, DILEMA DE MÉDICO / Crime Doctor’s Strangest Case. 1944 – SOMBRAS DA NOITE / Shadows in the Night. 1945 – MÉDICO DESTEMIDO / Crime Doctor’s Courage, O CRIME PERFEITO / Crime Doctor’s Warning. 1946 – A LUVA REVELADORA / Crime Doctor’s Man Hunt, O CASO DA AGULHA ENVENENANDA / Just Before Dawn. 1947 – MORTE EM FÉRIAS / The Millerson Case. 1948 – O ARDIL DO MÉDICO / Crime Doctor’s Gamble. 1949 – A VOZ DO MORTO / Crime Doctor’s Diary.

DEAD END KIDS – Os delinqüentes juvenís interpretados por Leo Gorcey, Huntz Hall, Billy Halop, Bobby Jordan, Bernard Punsley e Gabriel Dell fizeram tanto sucesso em Beco sem Saída / Dead End / 1937, que a Warner os colocou em mais seis melodramas criminais; porém sua carreira como o grupo Dead End Kids foi curta. Halop, Huntz, Dell e Punsley rumaram para a Universal, contratados como astros da série Little Tough Guys. Jordan e Gorcey transferiram-se para a Monogram, entrando na série East Side Kids. Depois, Huntz, Dell, David Gorcey (irmão de Leo), Benny Bartlett, Stanley Clements e Billy Benedict uniram-se a eles. Transcorrido algum tempo, a série passou a denominar-se Bowery Boys. Essas outras séries citadas descambaram para a comédia, razão pela qual deixarão de fazer parte deste dicionário.

Filmes: 1938 – NO LIMIAR DO CRIME / Crime School, ANJOS DE CARA SUJA / Angels with Dirty Faces. 1939 – TORNARAM-ME UM CRIMINOSO / They Made me a Criminal, SUCURSAL DO INFERNO / Hell’s Kitchen, OS ANJOS DE CARA LIMPA / Angels Wash Their Faces, OS ANJOS ACERTAM O PASSO / The Dead End Kids on Dress Parade.

DICK TRACY – Criado nos quadrinhos em 1931 por Chester Gould, com os mais incríveis e estranhos bandidos, o famoso detetive de rosto quadrado surgiu na tela primeiramente num quarteto de seriados da Republic – Dick Tracy, o Detetive / Dick Tracy / 1937, A Volta de Dick Tracy / Dick Tracy Returns / 1938, Novas Aventuras de Dick Tracy / Dick Tracy’s G-Men, Dick Tracy contra o Crime / Dick Tracy vs. Crime Inc. / 1941 -, interpretados por Ralph Byrd. Depois é que veio a série de quatro filmes da RKO com Morgan Conway nos dois primeiros e Byrd nos restantes, aproveitando mais os tipos grotescos dos vilões dos comics como Gruesome (Boris Karloff), Cuesome (Dick Wessell), Splitface (Mike Mazurki), etc. O programa de rádio começou em 1940 com Ned Wever emprestando a voz para Tracy. Na apresentação, o locutor dizia: “E agora…Dick Tracy!” A seguir ouvia-se o som dos sinais dde código da radiopatrulha e Tracy falava: “Aqui é Dick Tracy no caso de …Preparem-se para agir” Entrava então o ruído dos carros arrancando e o barulho das sirenes e novamente a voz de Tracy: “Vamos, homens!”, após a qual vinha a do anunciante: “Sim, é Dick Tracy. Protetor da lei e da Ordem.”

Filmes: 1945 – DICK TRACY, O AUDACIOSO / Dick Tracy. 1946 – O PUNHAL SANGRENTO / Dick Tracy vs. Cueball. 1947 – DICK TRACY EM LUTA / Dick Tracy’s Dilemma, DICK TRACY CONTRA O MONSTRO / Dick Tracy Meets Gruesome.

ELLERY QUEEN – Heterônimo usado por dois primos, Frederic Dannay e Manfred Bennington Lee (pseudônimos de Daniel Nathan e Maniord Lepofsky), para assinarem seus romances policiais e que serviu também como nome do personagem criado por eles, o escritor de histórias de mistério, filho de um inspetor de polícia, que entrava em ação, para ajudar o pai. Ou seja, Ellery Queen era um personagem que imitava os seus próprios autores. Durante muito tempo, o público acreditava que Ellery Queen seria um escritor verídico e não apenas uma heterônimo e, mais ainda, de duas pessoas.  Os romances de EQ apresentavam crimes incomuns, uma sucessão complexa de pistas e aquilo que se tornaria a parte mais famosa dos livros: “Ellery Queen’s Challenge to the Reader”, uma única página próxima do desenlace, desafiando o leitor a tentar resolver o mistério antes da leitura do restante da obra. Os dois autores eram também especialistas na pesquisa histórica do gênero policial, publicando inúmeras coleções e antologias de contos policiais Dannay e Lee criaram também a Ellery Queen’s Mystery Magazine, revista que publicou o que havia de melhor em ficção policial na época, ainda hoje considerada uma das melhores do gênero. Houve dois filmes de Ellery Queen, um produzido pela Liberty com Donald Cook (O Mistério da Capa Espanhola / The Spanish Cape Mystery / 1935) e outro pela Republic com Eddie Quillan (The Mandarin Mystery / 1937), porém a série é composta por sete filmes da Columbia, primeiramente com Ralph Bellamy até o quarto filme e depois com William Gargan. Em todos os filmes participaram a secretária de Ellery, Nikki Porter (Margaret Lindsay), criada especialmente para a série cinematográfica, o Inspetor Queen (Charley Grapewin) e o Sargento Velie (James Burke). No rádio, Ellery Queen iniciou suas aventuras em 1939, interpretado por Hugh Marlowe. Uma das atrações do espetáculo radiofônico era a presença de um convidado célebre, para tentar adivinhar a solução do mistério, antes de Ellery dar a resposta certa, uma variante do artifício usado nos livros.

Filmes: 1940 – A LINDA IMPOSTORA / Ellery Queen, Master Detective. 1941 – JÓIAS FATAIS / Ellery Queen’s Penthouse Mystery, A SOMBRA DA MORTE / Ellery Queen and the Perfect Crime, QUADRILHA DIABÓLICA / Ellery Queen and the Murder Ring. 1942 – HERDEIRA DESAPARECIDA / Close Call for Ellery Queen, ARRISCANDO COM A SORTE / Desperate Chance for Ellery Queen, CONTRABANDO DE GUERRA / Enemy Agent Meet Ellery Queen.

FALCON, THE – O personagem derivou de um conto de Michael Arlen (pseudônimo do búlgaro Dikran Kouyoumdjian) intitulado “The Gay Falcon”. A RKO fez 13 filmes: os primeiros quatro filmes, com George Sanders no papel de Gay Lawrence; nos restantes, atuou seu irmão na vida real, Tom Conway e o aristocrático detetive amador passou a se chamar Tom Lawrence. No quarto filme da série, O Irmão do Falcão, George Sanders e Tom Conway atuaram juntos como Gay e Tom. Quando Gay é ferido mortalmente, Tom promete ao irmão moribundo que vai levar adiante a sua luta contra os criminosos. Posteriormente, a Falcon Productions Inc. realizou mais três filmes com John Calvert (mudando o nome do herói para Michael Waring), distribuindo-os pela Film Classics. A série radiofônica começou em 1945 com James Meigham. O personagem do Falcão era quase uma cópia em papel-carbono do Santo (The Saint), criado por Leslie Charteris e também objeto de uma série feita pela RKO.

Filmes: 1941 – O FALCÃO ALEGRE / The Gay Falcon, UM ENCONTRO COM O FALCÃO / A Date with the Falcon. 1942 – NAS GARRAS DO FALCÃO / The Falcon Takes Over, O IRMÃO DO FALCÃO / The Falcon’s Brother. 1943 – O FALCÃO CONTRA-ATACA / The Falcon Strikes Back, O FALCÃO EM PERIGO / The Falcon in Danger, O FALCÃO E AS ESTUDANTES / The Falcon and the Co-eds. 1944 – O ANEL DA MORTE / The Falcon Out West, O MISTÉRIO DO MORTO / The Falcon in México, O FALCÃO EM HOLLYWOOD / The Falcon in Hollywood. 1945 – O FALCÃO EM SAN FRANCISCO / The Falcon in San Francisco. 1946 – O ALIBI DO FALCÃO / The Falcon’s Alibi, A AVENTURA DO FALCÃO / The Falcon’s Adventure, CARGA SINISTRA / The Devil’s Cargo. 1948 – ENCONTRO COM A MORTE / Appointment with Murder. 1949 – Search for Danger.

HANK HAYER – Detetive particular (Lynne Overman) e repórter (Roscoe Karns) se unem no combate ao crime. Produzida pela Paramount, a série, baseada nestes personagens criados por Kurt Steel, foi desativada após o segundo filme.

Filmes: 1937 – O CRIME NA UNIVERSIDADE ou MISTÉRIO NA UNIVERSIDADE / Murder Goes to College, NO MUNDO DOS ESPERTOS / Partners in Crime.

HILDEGARD WITHERS – Professora de meia idade (Edna May Oliver) que é uma detetive amadora e sempre procura resolver os casos criminais antes do Inspetor Oscar Piper (James Gleason); porém, apesar de rivais, os dois são ligados por uma genuína afeição. As marcas registradas dessa solteirona magricela são os seus chapéus pouco comuns, um guarda-chuva de algodão preto e temperamento irritadiço. Hildegard e Oscar, personagens tirados das histórias de Stuart Palmer, integram uma série de seis filmes da RKO, que vale mais pela combinação da dupla. A partir do quarto filme, Edna May Oliver foi substituída sucessivamente por Helen Broderick e ZaSu Pitts e o espetáculo perdeu muito do seu charme.

Filmes: 1932 – The Penguin Pool Murder. 1934 – SHERLOCK DE SAIAS / Murder on the Blackboard. 1935 – CRIME NA LUA-DE-MEL / Murder on a Honeymoon. 1936 – O MISTÉRIO DA FERRADURA / Murder on a Bridle Park, O ENIGMA DA PÉROLA / The Plot Thickens. 1937 – A CENA O AUTOR ou MULHER DO DELEGADO / Forty Naughty Girls.

HOOVER – Baseada no livro campeão de vendas Persons in Hiding, redigido (com a ajuda Courtney Riley Cooper), pelo célebre diretor do FBI, Edgar J. Hoover, a série, escrita por William R Lipman e Horace McCoy, compõe-se de quatro filmes sem um personagem principal fixo. Os elencos de cada filme são liderados respectivamente por: Lynne Overman, Lloyd Nolan, Robert Paige e Ralph Bellamy. O primeiro dos quatro thrillers criminais foi inspirado remotamente nas façanhas infames de Bonnie Parker e Clyde Barrow e o último descrevia a carreira de Ma Baker e seus filhos assassinos.

Filmes: 1939 – PERFUME DELATOR / Persons in Hiding, O MÉDICO CLANDESTINO / Undercover Doctor. 1940 – MERCADORES DO CRIME / Parole Fixer, MULHER DIABÓLICA / Queen of the Mob.

I LOVE A MYSTERY – Histórias de mistério originadas de um programa de rádio muito popular, no qual havia três personagens centrais – Jack Packard, Doc Long e Reggie Yorke – que começaram sendo interpretados por Michael Raffetto, Barton Yarborough e Walter Paterson em 1939. O espetáculo radiofônico relatava as aventuras de três soldados mercenários, que lutavam contra os japoneses na China. Mais tarde, eles se encontram em San Francisco, onde decidem formar uma agência de detetives. A secretária da agência, Jerry Booke, era interpretada por Gloria Blondell. Na série cinematográfica – que não passou do terceiro filme – produzida para a Columbia por Wallace MacDonald, Jim Bannon interpretava o papel de Jack, Barton Yarborough o de Doc e o personagem de Reggie foi extirpado.

Filmes: 1945 – MISTÉRIO DO ORIENTE / I Love a Mystery. 1946 – A MÁSCARA DIABÓLICA / The Devil’s Mask, TESTAMENTO MACABRO / The Unknown.

JOEL E GERDA SLOANE – Colecionador de livros raros e sua esposa e a vocação de ambos para serem detetives amadores foram vistos numa série de três filmes da MGM, cada qual interpretado por artistas diferentes (pela ordem, Melvyn Douglas / Florence Rice; Franchot Tone / Ann Sothern; Robert Montgomery / Rosalind Russell), todos com a palavra “fast” no título e personagens criados por Marco Page. Page tornar-se-ia um argumentista permanente da MGM sob o seu verdadeiro nome: Harry Kurnitz.

Filmes: 1938 – DUPLO ENIGMA / Fast Company. 1939 – UM CASAL COMO POUCOS / Fast and Furious, UM SUSTO POR MINUTO / Fast and Loose.

JOHN J. MALONE – O personagem criado pela escritora Craig Rice é um advogado – detetive de Chicago. No primeiro filme da série, Malone tem dois amigos, Helene Brand (Carole Landis), uma atraente mulher da sociedade e Jake Justus (George Murphy), um jornalista. No segundo filme, saem Helene e Justus e entram Maggie Cassidy (Claire Trevor), a secretária leal de Malone e Daniel Von Flanagan, o chefe do Departamento de Homicídios. Pat O’ Brien e Brian Donlevy fazem respectivamente os papéis de Malone. Em 1950, a MGM decidiu produzir uma nova série sobre a colaboração entre a professora Hildegard Withers e o advogado John J. Malone, como ocorria nas seis histórias curtas escritas conjuntamente por Craig Rice e Stuart Palmer. O estúdio adquiriu os direitos de duas dessas histórias e lançou a Mrs. O’Malley and Mr. Malone. O personagem do advogado John Malone foi mantido e surgiu sob as feições de James Whitmore enquanto que o da professora Hildegard Withers foi substituída por Mrs. O’ Malley, uma caipira de Montana, interpretada por Marjorie Main. Porém a nova série não teve seguimento.

Filmes: 1945 – UM CRIME MARAVILHOSO / Having Wonderful Crime. 1949 – DEUSA DO MAL / The Lucky Stiff. 1950 – O TREM DAS SURPRESAS / Mrs. O’Malley .and Mr. Malone.

KITTY O’DAY – As aventuras da telefonista detetive escritas por Victor Hammond fazem parte de uma série de três filmes da Monogram, os dois primeiros com Jean Parker na protagonista, Peter Cookson como seu parceiro Johnny Jones e Tim Ryan como o Inspetor Clancy. No terceiro filme, os dois personagens centrais passam a se chamar Peggy Rooney e Danny O’Brien, interpretados respectivamente por Marjorie Weaver e Robert Lowery, permanecendo Tim Ryan como o Inspetor Clancy.

Filmes: 1944 – DETETIVE KITTY O’DAY / Detective Kitty O’Day. 1945 – AS AVENTURAS DE KITTY O’DAY / Adventures of Kitty O’ Day, Fashion Model.

LONE WOLF, THE – O personagem criado por Joseph Louis Vance, Michel Lanyard, conhecido como O Lobo Solitário, é um ex-ladrão de jóias, que deixou de furtar, para ajudar pessoas amigas metidas em encrencas policiais. Lanyard tem um mordomo fiel, Jamison, ex-batedor de carteiras na maior parte da série, interpretado por Eric Blore. O Lobo Solitário já estava na tela desde o cinema mudo encarnado por Bert Lytell em cinco filmes (O Lobo Solitário / The Lone Wolf / 1917, A Volta do Lobo Solitário / The Lone Wolf Returns / 1926, O Lobo Solitário / Alias the Lone Wolf, A Atração do Alheio / The Lone Wolf’s Daughter / 1929, Lágrimas de Rainha / The Last of the Lone Wolf / 1930), Henry B. Walthall (Caras Falsas / The False Faces / 1919 e Jack Holt (O Lobo Social / The Lone Wolf). Na fase sonora, foi revivido por Melvyn Douglas (A Volta do Lobo Solitário / The Lone Wolf Returns / 1935 e Francis Lederer (As Jóias da Coroa / The Lone Wolf in Paris / 1938. Finalmente, em 1939, surgiu a série da Columbia com nove filmes estrelados por Warren William até 1943. Em 1946, a série voltou, desta vez com Gerald Mohr em três filmes e  Ron Randell em um .

Filmes: 1939 – ALIBI NUPCIAL / The Lone Wolf Spy Hunt, PÉROLAS FATÍDICAS / The Lone Wolf Strikes. 1941 – NOIVA DA FATALIDADE / The Lone Wolf Meets a Lady. 1941 – AS JÓIAS DO IMPERADOR / Secrets of the Lone Wolf, O LOBO ENTRE LOBOS / The Lone Wolf Keeps a Date, O LOBO SE ARRISCA / The Lone Wolf Takes a Chance. 1942 – DAMA EM PERIGO / Counter-Espionage. 1943 – UMA NOITE PERIGOSA / One Dangerous Night, PASSAPORTE PARA SUEZ / Passport to Suez. 1946 – O ROUBO DA SAFIRA INDIANA / The Notorious Lone Wolf. 1947 – O LOBO SOLITÁRIO NO MÉXICO / The Lone Wolf in México, O LOBO SOLITÁRIO EM LONDRES / The Lone Wolf in London. 1949 – NAS GARRAS DO LOBO / The Lone Wolf and His Lady.

MICHAEL SHAYNE – O personagem foi concebido em 1934 por David Dresser, usando o nome literário de Brett Halliday. Em 1940, a 20thCentury-Fox comprou os direitos de usá-lo numa série de sete filmes produzidos por Sol Wurtzel com Lloyd Nolan no papel do detetive de origem irlandesa. Somente o primeiro filme aproveitou uma história de Halliday; os demais recorreram a autores de renome como, por exemplo, Raymond Chandler, cujo romance The High Window serviu de base para Hora para Matar, um dos melhores da série. A partir de 1946, a PRC (Producers Releasing Company) passou a utilizar Shayne em mais cinco filmes produzidos por Sigmund Neufeld e interpretados por Hugh Beaumont. Michael Shayne foi ouvido pelo rádio em três programas: The Adventures of Michael Shayne (1944-47) com a voz de Wally Maher; The New Adventures of Michael Shayne (1948-50) com a voz de Jeff Chandler; e Michael Shayne Private Detective (1952-53) com a voz de Donald Curtis.

Filmes: 1940 – UM DETETIVE APAIXONADO / Michael Shayne, Private Detective. 1941 – TESTEMUNHA OCULAR / Sleeper’s West, CEIA FATAL / Dressed to Kill, DOIS TIROS SILENCIOSOS / Blue, White and Perfect. 1942 – A SEPULTURA VAZIA / The Man Who Wouldn’t Die, PUNHAL ASSASSINO / Just Off Broadway, HORA PARA MATAR / Time to Kill. 1946 – Murder is My Business, Larceny in her Heart, Blonde for a Day. 1947 – Three on a Ticket, Too Many Winners.

MR. DISTRICT ATTORNEY – O promotor público Tom F. Winton, “campeão do povo”, defensor da verdade…guardião dos nossos direitos fundamentais à vida, liberdade e à felicidade, tal como era anunciado no programa de rádio de 1939, no qual nasceu, criado por Phillips H. Lord e com a voz de Dwight West, chegou ao cinema em 1941 numa série de três filmes da Republic. Cada filme tinha um ator diferente (Stanley Ridges, Paul Harvey, Lloyd Corrigan). O promotor tinha um assistente de nome curioso, P. Cadwallader Jones, representado na tela sucessivamente por Dennis O’ Keefe, James Ellison e John Hubbard. Em 1947, o personagem foi revivido como Maurice Vaughn num filme da Columbia sob os traços de Adolphe Menjou, tendo sido mudado também o nome de seu assistente para Steve Bennett, interpretado por Dennis O’Keefe.

Filmes: 1941 – INTRIGAS DESVENDADAS / Mr. District Attorney, TESTEMUNHO DO CADÁVER / Mr. District Attorney in the Carter Case. 1943 – Secrets of the Underground. 1947 – PAIXÕES TURBULENTAS / Mr. District Attorney (nova versão).

MR. MOTO – O detective japonês Mr. Kentaro Moto, míope e mrado, mas muito eficiente ao usar uma arma e no jiu-jitsu, foi criado por John P. Marquand. Notando o sucesso de Charlie Chan, a 20thCentury-Fox adquiriu os direitos dos livros de Marquand e produziu oito filmes com Peter Lorre interpretando o detetive. No rádio, o personagem foi ao ar em 1951 na voz de James Monk. Em 1939, a Warner realizou um desenho animado, Porky’s Movie Mystery, que era uma sátira a Mr. Moto – o Gaguinho, como o detetive, acabava desmascarando o criminoso, que não era outro senão…Hugh Herbert!

Filmes: 1937 – O MISTERIOSO MR. MOTO / Think Fast, Mr. Moto, OBRIGADO MR.MOTO / Thank You, Mr. Moto. 1938 – O PALPITE DE MR. MOTO / Mr. Moto’s Gamble, MR.MOTO SE AVENTURA / Mr. Moto Takes a Chance ou Look Out Mr. Moto, A FUGA DE MR. MOTO / The Mysterious Mr. Moto. 1939 – MR. MOTO CHEGA A TEMPO / Mr. Moto’s Last Warning, MR. MOTO NA ILHA DO TERROR / Mr. Moto in Danger Island, MR. MOTO EM FÉRIAS /  Mr. Moto Takes a Vacation.

MR.WONG – Animada com o êxito de Charlie Chan e Mr. Moto na 20thCentury-Fox, a Monogram tentou repetir a façanha, realizando uma série de filmes tendo como personagem principal o detetive chinês James Lee Wong, criado por Hugh Wiley em histórias publicadas na revista Collier’s. Cinco dos seis filmes foram estrelados por Boris Karloff no papel-título e Grant Withers apareceu em todos eles como o Inspetor Sam Street. Depois que Karloff deixou a série, a Monogram fez uma tentativa para continuá-la, colocando Keye Luke no papel de um detetive bem mais moço, Jimmy Wong. Os assassinatos sempre envolviam um método de execução singular e, ocasionalmente, forçados. Os filmes tinham muitos diálogos e pouca excitação e neles a burrice do inspetor contrastava com a inteligência de Mr. Wong.

Filmers: 1938 – MR.WONG DETETIVE / Mr. Wong Detective.  1939 – O MISTERIOSO MR. WONG / The Mystery of Mr. Wong, MR.WONG NO BAIRRO CHINÊS / Mr. Wong in Chinatown. 1940 – NOITE DE TERROR / The Fatal Hour, CONDENADO À MORTE / Doomed to Die. 1941 – Phantom of Chinatown.

NANCY DREW – Edward Stratemeyer escreveu três livros de mistério sobre Nancy Drew e, após sua morte, a filha, Harriet S. Adams, sob o pseudônimo de Carolyn Keene, o substituiu, publicando mais 46 títulos, que obtiveram muito sucesso. Em 1938, a Warner produziu a série, constituída de quatro filmes, com adaptação feita por Kenneth Gamet e interpretados por Bonita Granville e Frankie Thomas, como detetives amadores adolescentes.

Filmes: 1938 – NANCY DREW: A DETETIVE / Nancy Drew, Detective. 1939 – NANCY DREW A  REPÓRTER / Nancy Drew, Reporter, NANCY DESVENDA UM CRIME /  Nancy Drew, Troubleshooter, NANCY DREW E A ESCADA SECRETA / Nancy Drew and the Hidden Staircase.

NERO WOLFE – Personagem criado por Rex Stout, o obeso gourmet e cultivador de orquídeas, solucionava seus casos no próprio domicílio. Embora fosse bastante popular entre os fãs da literatura policial, o detetive, surprendentemente, só apareceu na tela em dois filmes produzidos pela Columbia: um, interpretado por Edward Arnold; o outro, por Walter Connolly. Em ambos, Lionel Stander atuou como o assistente Archie Goodwin. O personagem surgiu no rádio em: The Adventures of Nero Wolfe (1943-1944) com a voz de J.B.Williams e depois Santos Ortega e Luis Van Rooten; The Amazong Nero Wolfe (1946) com Francis X. Bushman e The New Adventures of Nero Wolf (1951) com Sidney Geenstreet.

Filmes: 1936 – A ASTÚCIA DE NERO WOLFE / Meet Nero Wolfe. 1937 – A LIGA DOS AMEAÇADOS / The League of Frightened Men.

NICK CARTER – Inventadas por John R. Coryell em 1884, as aventuras do detetive foram depois continuadas por Frederick Van Rensselaer e outros autores. O personagem surgiu no cinema francês em 1908 na série da Éclair, Nick Carter, le Roi des Detectives, dirigida por Victorin Jasset.. No final dos anos 30, a MGM anunciou que havia comprado os direitos das histórias de Nick Carter para usá-las em filmes; porém, quando a série de três filmes começou a ser produzida em1939, todos eles foram baseados em argumentos originais. Walter Pidgeon fazia o papel do detetive e Donald Meek o do seu assistente Bartholomew, tímido e gentil criador de abelhas, espécie de Dr. Watson, injetando humor e humanidade nos espetáculos. Em 1943, o Nick Carter foi para o rádio com a voz de Lon Clark.

Filmes: 1939 – NICK CARTER, SUPERDETETIVE / Nick Carter, Master Detective. 1940 – NICK CARTER NOS TRÓPICOS / Phantom Raiders, NICK CARTER NAS NUVENS / Sky Murder.

NOVELAS DE MIGNON EBERHART – Histórias de mistério da escritora Mignon G. G. Eberhart, criadora dos personagens da enfermeira Keate e do detetive Lance O’ Leary. Foram quatro filmes com elencos diversos na frente dos quais, pela ordem, estavam: Aline MacMahon / Guy Kibbee, Jane Darwell / Sig Ruman e, nos dois últimos exemplares da série, Ann Sheridan / Dick Purcell, formando a dupla imaginada por Eberhart. O primeiro, o terceiro e o quarto filme saíram dos estúdios da 20th Century-Fox e o segundo foi produzidos pela Warner.

Filmes: 1935 – ENQUANTO A CIDADE DORME / While the City Sleeps. 1937 – Great Hospital Mystery. 1938 – A DAMA DO QUARTO NÚMERO 18 / The Patient in Room 18, A CHAVE DO MISTÉRIO / Mystery House.

PERRY MASON – O célebre personagem criado por Erle Stanley Gardner foi levado à tela pela Warner em seis filmes muito antes da conhecida série de televisão com Raymond Burr. Os quatro primeiros filmes, estrelados por Warren William, eram razoavelmente fiéis às fontes originais, mas com poucas cenas de ação, valendo mais pelas inteligentes discussões legais e pelas surpresas das tramas. No quarto e último filme, Mason se casava com a secretária Della Street, que foi sucessivamente interpretada por: Helen Trenholme, Claire Dodd, Genevieve Tobin, Claire Dodd outra vez, Junes Travis e Ann Dvorak. Nos dois derradeiros exemplares da série, o papel do advogado-detetive coube respectivamente a Ricardo Cortez e Donald Woods. O personagem de Paul Drake, o investigador particular que ajudava Mason, apareceu em alguns filmes com este nome e em outros como Spudy Drake; o promotor público Hamilton Burger só se apresentou em um filme e o Tenente Arthur Tragg, em nenhum. No rádio, Mason começou em 1943 com a voz de Bartlett Robinson, depois substituído por Santos Ortega e outros.

Filmes: 1934 – O CASO DO CÃO UIVADOR / The Case of the Howling Dog. 1935 – A NOIVA CURIOSA / The Case of the Curious Bride, O CASO DAS PERNAS BONITAS / The Case of the Lucky Legs. 1936 – GARRAS DE VELUDO / The Case of the Velvet Claws, O MISTÉRIO DO GATO PRETO / The Case of the Black Cat. 1937 – O MISTÉRIO DA DOCA / The Case of the Stuttering Bishop.

PHILO VANCE – O elegante e culto detetive amador, imaginado por S. S. Van Dine (pseudônimo de Willard Huntington Wright), começou no cinema na Paramount em O Drama de uma Noite, interpretado por William Powell enquanto E.E. Calvert fazia o papel do promotor público John F. X. Markham e Eugene Palllette o do Sargento Ernest Heath. Este ficava enciumado quando Vance resolvia os casos com brilhantes deduções científicas, porém aceitava de bom grado a sua ajuda. Um dos filmes da série The Benson Murder Case só passou no Brasil na versão espanhola El Cuerpo de Delito aquí intitulada Corpo de Delito com Ramon Pereda no lugar de William Powell. Powell fez ainda mais dois filmes na Paramount (A Casa do Crime, O Bispo Misterioso) e um terceiro (O Caso de Hilda Lake) na Warner. Porém houve vários outros filmes com o personagem, produzidos por diversas companhias e com intérpretes variados: MGM / 1930 Basil Rathbone; Warner / 1934 / Warren William; MGM / 1935 / Paul Lukas; MGM / 1936 / Edmund Lowe; Paramount / 1937 / Grant Richards; Paramount / 1939 / Warren William; Warner / 1940 / James Stephenson; PRC / 1947 / William Wright; PRC 1947 / Alan Curtis; Eagle Lion / 1947 / Alan Curtis – os títulos dos filmes vêm na filmografia nesta ordem, depois dos primeiros quatro, que são os filmes de William Powell.  A trama dos três últimos filmes da série tem pouca relação como o personagem de Philo Vance. No rádio, Jackson Beck e depois José Ferrer emprestaram suas vozes para o sofisticado investigador.

Filmes: 1929 – O DRAMA DE UMA NOITE / The Canary Murder Case. A CASA DO CRIME / The Greene Murder Case. 1930 – O Bispo Misterioso / The Bishop Murder Case, CORPO DE DELITO / The Benson Murder Case. 1933 – O CASO DE HILDA LAKE / The Kennel Murder Case. 1934 – O CRIME DO DRAGÃO / The Dragon Murder Case. 1935 – O MISTÉRIO DO CASSINO / The Casino Murder Case. 1936 – ASTÚCIA DE CRIMINOSO / The Garden Murder Case. 1937 – A Night of Mystery. 1939 – A COMÉDIA DE UM CRIME / The Gracie Allen Murder Case. 1940 – TRÊS HORAS TRÁGICAS / Calling Philo Vance. 1947 – Philo Vance Returns, Philo Vance’s Gamble, Philo Vance’s Secret Mission.

ROVING REPORTERS – Esta série, composta de apenas três filmes produzidos pela 20thCentury-Fox, apresenta um audacioso repórter, interpretado por Michael Whalen, que passa por perigosas aventuras criminais juntamente com seu fotógrafo assistente, papel representado por Chick Chandler. A séria era originariamente chamada Meridian 7-1212, que é o número de telefone da hora certa de Nova York, um título inteligente, mas que poderia confundir os espectadores do interior, razão pela qual foi mudado.

Filmes: 1938 – CONVITE AO CRIME / Time out for Murder, SOMBRAS DA NOITE / While New York Sleeps, Inside Story.

SAINT, THE – A série propriamente dita do personagem criado por Leslie Charteris (Leslie Charles Bower Lin) foi a da RKO, iniciada e terminada com Louis Hayward no papel do galante detetive Simon Templar, mas com George Sanders identificando-se mais com o herói em cinco filmes intermediários.Em 1941, Hugh Sinclair estrelou dois filmes da série, porém um deles (O Santo Enfrenta o Tigre) não chegou a ser lançado pela RKO – foi vendido para a Republic, que o exibiu em 1943. No rádio, a partir de 1944, Templar recebeu as vozes de Edgar Barrier, Brian Aherne, Vincent Price, Tom Conway e Barry Sullivan. Uma das características do Santo, além do seu cartão de visita original, era a melodia que ele assobiava, geralmente ouvida durante a projeção dos créditos do filme e a introdução de suas aventuras radiofônicas.

Filmes: 1938 – O SANTO EM NOVA YORK / The Saint in Nova York. 1939 – A VOLTA DO SANTO / The Saint Strikes Back, O SANTO EM LONDRES / The Saint in London. 1940 – O SANTO E SEU SÓSIA / The Saint’s Double Trouble, O SANTO E A MULHER / The Saint Takes Over. 1941. O SANTO NO BALNEÁRIO / The Saint in Palm Spings, AS FÉRIAS DO SANTO (TV) / The Saint’s Vacation. 1943 – O SANTO ENCONTRA O TIGRE / The Saint Meets the Tiger. 1955 – O SANTO NO CASTELO SINISTRO / The Saint’s Girl Friday.

SHADOW, THE – O personagem evoluiu de um programa de rádio de 1930, chamado The Detective Story Magazine Hour, no qual havia um narrador conhecido como O Sombra, para as páginas da The Shadow Magazine, cujas histórias eram escritas por Walter B. Gibson. O primeiro número da revista pulp, publicado em abril de 1931, vendeu imediatamente todos os exemplares e a criação de um detetive, O Sombra, foi um sucesso. Em 1937, foi ao outro programa radiofônico, desta vez com a voz de Orson Welles, a introdução da personagem Margo Lane e o estabelecimento do jovem rico e elegante Lamont Cranston como a identidade secreta do Sombra, um detalhe deixado propositadamente vago nos enredos da revista. O novo espetáculo radiofônico deu também ao personagem o poder da invisibilidade – “a fim de obscurecer as mentes dos homens, para que eles não possam vê-lo”. Após este programa de rádio, surgiu uma história em quadrinhos sobre o Sombra, desenhada por Vernon V. Greene, que havia ilustrado revistas de mistério. Aquí no Brasil, a partir do final de 1943 às 22.05 min. das terças-feiras, a Rádio Nacional transmitia “O Sombra”, programa escrito por Herrera Filho e o herói com a voz de Saint Clair Lopes. No mesmo programa atuaram como criminosos os radio-atores Floriano Faissal, Rodolfo Mayer e outros grandes artistas do microfone. Margo, a noiva de Lamont Cranston, era Ismênia dos Santos. Ficou famosa a frase de abertura: “Quem sabe o mal que se esconde nos corações humanos? O Sombra sabe!” No cinema, surgiram dois filmes na década de trinta (Mr. Sombra / The Shadow Strikes / 1937, International Crime / 1938 ), realizados por pequenas produtoras e distribuídos pela Grand National, ambos protagonizados por Rod La Roque. Nos anos quarenta, a Monogram proporcionou a série de três filmes com Kane Richmond e Barbara Reed e houve um seriado A Sombra do Terror / The Shadow / 1940 com Victor Jory.

Filmes: 1946 – O SOMBRA RETORNA / The Shadow Returns, A MÁSCARA DO SOMBRA / Behind the Mask, A DAMA DE JADE / The Missing Lady.

SHERLOCK HOLMES – Sem dúvida o mais famoso detetive de todos os tempos, criação imortal de Arthur Conan Doyle, o personagem apareceu no cinema inúmeras vezes desde 1903 e continua fornecendo assunto para filmes das mais variadas nacionalidades. As versões americanas mais conhecidas são Sherlock Holmes / Sherlock Holmes / 1922 com John Barrymore e Sherlock Holmes / Sherlock Holmes / 1932 com Clive Brook. A série é a iniciada pela 20thCentury-Fox em 1939 e que prosseguiu na Universal, mantendo-se os dois principais intérpretes, Basil Rathbone e Nigel Bruce este, como o Dr. Watson, o também célebre auxiliar, amigo e memorialista do grande investigador de Baker Street. Os dois filmes da Fox passavam-se na época Vitoriana, procurando recriar com fidelidade o ambiente dos romances de Doyle enquanto que, nos doze filmes da Universal, houve uma atualização para os anos quarenta, alguns servindo à propaganda anti-nazista. Rathbone e Bruce ainda representaram Sherlock e Watson como convidados especiais em uma comédia da dupla Ole Olse e Chic Johnson intitulada Casa de Loucos / Crazy House / 1943. No rádio, o programa baseado nas histórias de Conan Doyle entrou no ar em 1930 com as vozes de Richard Gordon e Leigh Lovel e depois Rathbone e Bruce, entre outros, sucederam-lhes como Sherlock Holmes e Dr. Watson. Por curiosidade, um dos muitos redatores do programa de rádio era Leslie Charteris, o autor de O Santo, escrevendo sob pseudônimo.

Filmes: 1939 – O CÃO DOS BASKERVILLES / The Hound of the Baskervilles, SHERLOCK HOLMES / The Adventures of Sherlock Holmes.1942 – SHERLOCK HOLMES E A VOZ DAS TREVAS / Sherlock Holmes and the Voice of Terror, SHERLOCK HOLMES E A ARMA SECRETA / Sherlock Holmes and the Secret Weapon. 1943 – SHERLOCK HOLMES EM WASHINGTON / Sherlock Holmes in Washington, SHERLOCK HOLMES ENFRENTA A MORTE / Sherlock Holmes Faces Death. 1944 – SHERLOCK HOLMES E A MULHER ARANHA / Sherlock Holmes and the Spider Woman, A GARRA ESCARLATE / The Scarlet Clue, PÉROLA NEGRA / The Pearl of Death. 1945 – A CASA DO MEDO / The House of Fear, A MULHER DE VERDE / The Woman in Green, DESFORRA EM ARGEL / Pursuit to Algiers. 1946 -NOITE TENEBROSA / Terror by Night. MELODIA FATAL / Dressed to Kill.

SOPHIE LANG – Ladra de jóias que quer levar uma vida honesta, mas se envolve sempre em aventuras policiais. A personagem, criada por Irving Anderson, aparece em três filmes da série da Paramount, encarnada por Gertrude Michael, glamourosa atriz de certo renome nos anos 30.

Filmes: 1934 – A CÉLEBRE MISS LANG / The Notorious Sophie Lang. 1936 – A VOLTA DE SOPHIE LANG / The Return of Sophie Lang. 1937 – MISS LANG EM HOLLYWOOD / Sophie Lang Goes West.

THATCHER COLT – Comissário de polícia, personagem extraído de um romance de Anthony Abbott (pseudônimo de Fulton Oursler) que se apresentou em dois filmes da Columbia, sob a aparência física do ator Adolphe Menjou. A série não foi além do segundo filme.

Filmes: 1932 – A DAMA DO CABARÉ / Night Club Lady. 1933 – Circus Queen Murder.

THIN MAN, THE – Curiosamente, tanto a série como o personagem Nick Charles, criado pelo ilustre escritor de romances policiais Dashiell Hammett, ficaram conhecidos no Cinema, no rádio e na televisão como The Thin Man, por causa do título original do primeiro filme, que não se referia a Charles, mas sim a um indivíduo magro, que era a chave do enigma. A série misturava comédia sofisticada com policial de mistério e lançou o mais charmoso casal de detetives de Hollywood, Nick e Nora Charles, saborosamente personificados por William Powell e Myrna Loy. De 1934 a 1947, o estúdio da MGM realizou seis filmes em produção classe “A”, que tinham ainda o cãozinho Asta como atração à parte. No rádio, a dupla começou em 1941 com as vozes de Leste Damon e Claudia Morgan.

Filmes: 1934 – A CEIA DOS ACUSADOS / The Thin Man. 1936 – A COMÉDIA DOS ACUSADOS / After the Thin Man. 1939 – O HOTEL DOS ACUSADOS / Another Thin Man. 1941 – A SOMBRA DOS ACUSADOS / Shadow of the Thin Man. 1944 – O REGRESSO DAQUELE HOMEM / The Thin Man Goes Home. 1947 – A CANÇÃO DOS ACUSADOS / Song of the Thin Man.

TORCHY BLANE – Personagem inventada pelos roteiristas da Warner Brothers, embora suas aventuras fossem baseadas em histórias da coleção Black Mask, escritas nos anos 30 por Frederick Nebel. Nebel havia imaginado um jornalista chamado Kennedy, que se imiscuía nos casos policiais do tenente de polícia Steve McBride. No Cinema, Kennedy foi transformado na repórter Torchy Blane, que os publicistas do estúdio anunciavam como “O Perigo de Cabelos Louros”. Garota corajosa e de língua solta, ela era sempre a primeira a chegar ao local do crime e a descobrir o assassino e levá-lo para polícia. Os nove filmes da série da Warner foram muito populares, especialmente os sete interpretados por Glenda Farrell e Barton, que tiveram ainda no elenco Tom Kennedy como o Sargento Gahagan, responsável pelos lances cômicos introduzidos nas tramas de mistério. Em Quando nos Casamos e Torchy Blane Brinca com Fogo, os personagens de Torchy e McBride foram interpretados respectivamente por Lola Lane / Paul Kelly e Jane Wyman / Allen Jenkins.

Filmes: 1936 – UMA LOURA SABIDA / Smart Blonde. 1937 – CAÇADA AÉREA / Fly-Away Baby, LOURA DO OUTRO MUNDO / The Adventurous Blonde. 1938 – FLERTANDO COM O PERIGO / Blondes at Work, QUANDO NOS CASAMOS / Torchy Blane in Panamá, CAÇANDO UM HOMEM / Torchy Gets Her Man. 1939 – VENDO A CHINA / Torchy Blane in Chinatown, Torchy Runs for Mayor, TORCHY BRINCA COM FOGO / Torchy Plays With Dynamite.

THE WHISTLER –  Personagem conhecido apenas como The Whistler  ( voz de Otto Forrest) é o apresentador e narrador desta série oriunda do rádio. Filmes: 1944 – ESTA NOITE MORRERÁS / The Whistler, LEGADO PERIGOSO / The Mark of the Whistler. 1945 – O CRIME DO FAROL APAGADO / The Voice of the Whistler, ALMA SATÃNICA / The Power of the Whistler. 1946 – O INTRUSO MISTERIOSO / Mysterious Intruder. 1947 – A PÁGINA DENUNCIADORA / The Secret of the Whistler, ASSALTO NAS TREVAS / The Thirteenth Hour. 1948 – A CONSCIÊNCIA  ACUSA / The Return of the Whistler.

WHISTLING – Nesta série, que combina mistério e comédia, Red Skelton é Wally Benton, o astro de um programa de rádio semanal, no qual ele interpreta o papel de “The Fox”, um detetive. Os outros dois personagens fixos da série são a namorada de Wally, Carol Lambert (Ann Rutherford) e Sylvester, um criminoso meio-abobalhado (Rags Ragland). Sylvester fez tanto sucesso, que Ragland repetiu o papel no segundo filme da série  juntamente com o do seu irmão gêmeo, Chester, e este, por sua vez, foi levado para o terceiro filme.

Filmes: 1941 – HERDEIRO EM APUROS / Whistling in the Dark. 1942 – O SHERLOQUE NO AR / Whistling in Dixie. 1943 – SHERLOQUE ASSUSTADO / Whistling in Brooklyn.

JOHNNY WEISSMULLER-O TARZAN MAIS QUERIDO DO CINEMA

De todos os Tarzans da tela, Johnny Weissmuller foi o que mais se identificou com o papel, permanecendo como um símbolo do próprio herói, e será eternamente lembrado pelos fãs.

Janos (Johann) Weiszmueller, filho de Petrus Weiszmueller e Ersebert (Elisabetha) Kersch nasceu em 2 de junho de 1904 na cidade de Szabadfalu, na região de Banat, cuja população era uma mistura de rumenos, austríacos, sérvios, húngaros, com os austríacos que falavam a língua alemã perfazendo vinte e três por cento do total. A família Weissmueller (originariamente Weiszmueller e depois Weissmüller) era de etnia austríaca. Após a Primeira Guerra Mundial, foram feitas mudanças nas fronteiras e a área de Banat da Hungria tornou-se parte da Rumenia e da Yugoslavia. Nesta ocasião, a cidade de Szabadfalu passou a se chamar Freidorf. Em 1905, os Weiszmueller tiveram outro filho, Petrus, que nasceu em Windber, Pennsylvania nos Estados Unidos, para onde a família se emigrara.

Aos doze anos de idade, Johnny saiu da escola pública e, para ajudar nas despesas da família, trabalhou como mensageiro de hotel e depois como ascensorista, freqüentando, nas horas vagas, uma escola de natação. Em 1916, ele entrou para a equipe de natação da YMCA (Young Men’s Christian Association). Pouco tempo depois, encontrou o homem que mudaria sua vida: o técnico “Big Bill” Bachrach, principal treinador do Illinois Athletic Club de Chicago. Johnny começou seu treinamento sob as ordens de Bachrach em outubro de 1920, mas aprendeu também observando o estilo de seus colegas Norman Ross, Perry McGillivray e Harry Hebner. Johnny incorporou o melhor de cada um desses estilos e se preparou para a Olimpíada.

Como Johnny Weismuller Jr., recorda no seu excelente livro, Tarzan My Father (ECW Press, 2002) – do qual extraímos quase todas as informações para este artigo -, durante alguns mêses de 1922 e de todo o ano de 1923, Johnny venceu prova após prova. Ele estava em ótima forma, porém sua grande preocupação era com a Olimpíada, que se realizaria em Paris. Havia um sério problema. Para integrar a equipe olímpica dos Estados Unidos seria preciso comprovar a cidadania americana, apresentando uma certidão de nascimento válida. Johnny não possuía tal documento.

Então ele e sua mãe, com a conivência do irmão Peter, armaram um plano: os dois irmãos trocariam suas identidades, mediante uma falsificação. Dessarte, Peter passou a ser o estrangeiro e, por necessidade, o irmão mais velho de Johnny.

Na Olimpíada de 1924, Johnny Weissmuller ganhou medalhas de ouro nos 100 e 400 metros em estilo livre, e uma terceira medalha de ouro integrando a equipe de revezamento para os 800 metros. O Presidente da França ofertou-lhe uma medalha especial como reconhecimento pela sua incomparável performance. Johnny ficou muito feliz e orgulhoso, mas também muito nervoso, atormentado por pensamentos sobre as possíveis conseqüências do ato ilícito que ele e sua mãe cometeram.

No seu retorno aos Estados Unidos, Johnny. descobriu que havia se tornado uma celebridade. Ele foi convidado para ir à Casa Branca receber as congratulações do Presidente Calvin Coolidge e as pessoas mais importantes do país queriam conhecê-lo pessoalmente. Seu treinador vetou a maioria dos convites, mas como era fã de Douglas Fairbanks, aprovou uma visita ao estúdio da MGM, onde o famoso ator estava trabalhando num filme intitulado O Pirata Negro / The Black Pirate. / 1926. Conforme nos conta Johnny Weissmuller Jr., durante o almoço, Johnny foi apresentado a um homem chamado Sol Lesser, que o ignorou completamente. Lesser estava tentando convencer Fairbanks a realizar um projeto de filme baseado em Tarzan of the Jungle de Edgar Rice Burroughs porém,. Fairbanks não estava interessado. De repente, Fairbanks olhou para Johnny e disse: “E este rapaz? Seu nome é Johnny Weissmuller, ele é um ídolo nacional da natação, e até que se parece com Tarzan, você não acha?”.Lesser se virou e olhou realmente para Johnny pela primeira vez. “Acho que não”, respondeu Lesser. “O que precisamos para este papel é de um astro!”. Assunto encerrado. Seis anos mais tarde, a MGM implorou a Johnny Weissmuller para assinar um contrato para interpretar o papel principal de Tarzan, o Filho das Selvas, mas ele recusou.

Na Olimpíada de 1928, em Amsterdam, Johnny ganhou mais duas medalhas de ouro para a equipe dos Estados Unidos e foi recebido com todas as honras em Nova York. O prefeito Jimmy Smith lhe entregou as chaves da cidade, mas ele não teve tempo de passear por Manhattan como desejava, porque o treinador Bachrach levou-o logo para o Japão, a fim de competir com os japoneses. Poucos dias antes do evento, Bachrach ficou sabendo de que os japonêses treinavam na água fria e assim planejavam aumentar suas chances de vitória enchendo a piscina com água gelada. Bachrach  tornou essa ameaça inofensiva, obrigando Johnny a sentar numa banheira de água gelada, até se acostumar com a baixa temperatura. Ele venceu todas as provas.

Os treinadores japoneses ficaram muito impressionados com o jovem nadador americano e lhe ofereceram um emprego como treinador de seus estudantes para a próxima Olimpíada, que se realizaria no Japão. Johnny recusou e os japoneses lhe disseram que ele iria se arrepender. Johnny deu uma risada e disse: “Veremos, meu amigo Buster Crabbe também estará competindo e eu estou apostando nele”. Na Olimpíada de 1932, Crabbe ganhou uma medalha de ouro, vencendo por apenas um décimo de segundo o campeão francês Jean Taris. Crabbe comentaria mais tarde que aquele um décimo de segundo mudou sua vida. A Paramount lhe ofereceu um contrato de 200 dólares por semana.

Johnny deixou a natação competitiva em 1929 e passou a fazer exibições ou a dar aulas em hotéis da Florida em troca de hospedagem e refeição. Ele participou – ao lado de outros atletas das piscinas – de um curta-metragem de onze minutos, Crystal Champions (Dir: Jack Eaton), produzido por Grantland Rice. Posteriormente assinou, por intermédio de Bachrach, um contrato com a BVD (Bradley, Voohries, and Day), uma firma que vendia maiôs. Johnny funcionou como representante dessa firma, atuando em espetáculos de natação, comparecendo a programas de entrevistas no rádio, dando autógrafos, e distribuindo folhetos de promoção dos produtos. Johnny escreveu um pequeno livro autobiográfico com Clarence A. Bush, Swimming the American Crawl, e dedicou a obra para William Bachrach e os membros do Illinois Athletic Club. Ele trabalhou para BVD por cerca de dois anos e nunca imaginou que pudesse ganhar tanto dinheiro.

Entretanto, quase perdeu o emprego, por ter feito uma breve aparição num filme da Paramount chamado A Glorificação da Beleza / Glorifying the American Girl / 1929 (Dir: Millard Webb), supervisionado por Florenz Ziegfeld com vários convidados especiais (Eddie Cantor, Adolph Zukor, Helen Morgan, Rudy Vallee, Noah Beery, Texas Guinan, etc.). Johnny surgia numa cena sobre grandes amantes, a começar por Adão e Eva. Ele fazia o papel de Adão e juntamente com a estrela, Mary Eaton, tinha o corpo coberto somente por uma folha de figueira. Preocupada com o fato de que aquela imagem de seu empregado pudesse prejudicar as vendas de sua mercadoria, a BVD obrigou a Paramount a tirar o nome de Johnny dos créditos e a cortar quase toda a cena, deixando somente os planos mais afastados.  Segundo consta, Weissmuller participou também dos shorts esportivos: Big Splash, Swim or Sink, Water Bugs, The Human Fish, etc., mas Johnny Weismuller, Jr. não os menciona no seu livro.

No começo de 1931, a MGM não sabia o que fazer com as tomadas que haviam sobrado de sua produção Trader Horn / Trader Horn sobre uma deusa branca nas selvas africanas com Edwina Booth, Harry Carey e Duncan Renaldo nos papéis principais, quando surgiu a idéia de aproveitá-las em filmes de Tarzan.

Escolhido para dirigir Tarzan, o Filho das Selvas, W. S. Van Dyke, que havia firmado sua reputação com Trader Horn, começou a procurar o ator ideal para o Rei das Selvas. Depois de rejeitados, entre outros, Clark Gable, Charles Bickford, Johnny Mac Brown e Tom Tyler, o roteirista Cyril Hume “descobriu” o novo Tarzan. Vendo Johnny Weissmuller nadar na piscina do hotel onde estava hospedado, ele se apresentou e o convidou para fazer um teste nos estúdios da MGM. Hume explicou a Johnny que havia acabado de ser designado para escrever um roteiro baseado no personagem Tarzan de Edgar Rice Burroughs. Johnny respondeu:”E o que isto tem a ver comigo?”. “Estou lhe oferecendo a chance de trabalhar no cinema, Mr. Weissmuller”. “Ah, é? Eu vou encontrar Jean Harlow?”. No dia seguinte, Hume levou sua descoberta para almoçar no restaurante do estúdio e Johnny de fato viu Jean Harlow – assim como Joan Crawford, Norma Shearer, Clark Gable, Wallace Beery, Marie Dressler, Jackie Cooper e até Greta Garbo. Ele ficou fascinado.

Depois, Hume levou Johnny para conhecer Bernard Hyman, o produtor do filme sobre Tarzan e Woody Van Dyke, o diretor. A carreira de Weissmuller quase acabou ali mesmo. Hyman pediu-lhe que tirasse sua camisa, para que pudessem ver seus músculos. Hyman e Van Dyke beliscaram e apalparam Johnny e então Hyman perguntou qual era o seu nome. Quando Johnny respondeu, Hyman lhe disse, “Weissmuller? Não podemos usá-lo. Muito longo para uma marquise. Não importa. Podemos achar um nome menor”. A esta altura, Hume percebeu que Johnny estava ficando nervoso e, para acalmá-lo, falou: “Mr. Hyman, o senhor não sabe quem ele é? Este é Johnny Weissmuller, o campeão mundial de natação! O homem é famoso! O senhor não pode mudar o seu nome!” Hyman replicou que nunca havia visto o nome “Weissmuller” no Variety, de modo que o rapaz não deveria ser tão importante. Hume sugeriu que eles autorizassem um teste cinematográfico e Van Dyke achou que isto não era necessário: “Este é o cara que eu quero para o papel de Tarzan. Ele tem o físico ideal para o personagem e, na verdade, não vai precisar interpretar muito. Só vai ter que cumprir ordens”.

Após Hyman e Van Dyke terem discutido a sós por alguns minutos, eles ofereceram a Johnny um contrato opcional de sete anos e um salário inicial de 175 dólares semanais. Johnny delicadamente não aceitou. Hyman e Van Dyke lhe perguntaram a razão da recusa. Johnny lhes disse que a BVD já estava lhe pagando 500 dólares por semana e que ele ainda tinha de cumprir três anos desse contrato. Além disso, não tinha certeza de que tinha qualificações para ser ator e preferia não trocar o certo pelo duvidoso. Depois de mais um pouco de discussão, Johnny simplesmente se retirou.   Nunca ninguém havia rejeitado uma oferta da MGM e a ordem dos chefões do estúdio foi: “Tragam-no de volta! Tragam Weissmuller!”. Não foi fácil, mas finalmente a BVD entrou em acordo com a MGM. A BVD abriria mão de Weissmuller desde que a MGM permitisse que todos os seus artistas contratados fossem fotografados em trajes de banho, inclusive Garbo, Crawford e Harlow.

Johnny foi chamado pela MGM para assinar um contrato de sete anos com o salário inicial de 250 dólares semanais com promessa de aumento, que iria chegar a mais de dois mil dólares por semana. Ele estava prestes a pôr sua assinatura no contrato quando um dos executivos disse: “Ah, há uma  pequena condição da qual você deve estar ciente”. “E qual é esta condição?”. “Você deve se livrar de sua mulher. Não podemos ter um homem casado no papel de Tarzan. Aceita ou não aceita?”. Para surpresa dos executivos, Johnny foi embora de novo. No dia seguinte, ele foi chamado ao estúdio e assinou o contrato. Ainda estava casado.

Todavia, o estúdio continuou pressionando, não somente Johnny, mas também sua esposa, Bobbe Arnst, propondo gastar dez mil dólares, para ajudá-la na sua carreira de cantora, se deixasse o marido livre. Johnny foi fazer Tarzan, o Filho das Selvas e, em abril de 1932, rumou para Nova York para a pré-éstréia, deixando Bobbe em Hollywood. Quando voltou, ela lhe propôs o divórcio.

A próxima esposa “oficial” de Johnny Weissmuller – e a mais famosa – foi Lupe Vélez. Ele teria mais três esposas (Beryl Scott, Allene Gates, Maria Bauman), mas seu filho desconfiava que teria havido ainda outras, além das que foram reconhecidas como tal. Lupe atingiu o estrelato ao lado de Douglas Fairbanks em O Gaúcho / The Gaucho / 1927 e, no cinema sonoro, notabilizou-se como a temperamental Carmencita na série Mexican Spitfire da RKO ao lado de Leon Errol. Lupe enfernizou a vida de Johnny, até que se divorciaram em 1938. Em 20 de agosto de 1939, ele se casou com Beryl Scott, mãe de seus filhos Johnny Jr., Wendy e Heidi.

Johnny não gostou de Van Dyke, quando foi apresentado a ele no escritório de Bernard Hyman; porém depois reconheceu sua capacidade como diretor. Ele declarou: “Woody era duro, mas justo, e ele realmente sabia como filmar cenas de ação. Aprendí tudo sobre disciplina e como seguir as regras com Bachrach, de modo que não tive muitos problemas de relacionamento com Woody. Nunca nos tornamos amigos, mas sempre trabalhamos bem juntos, desde que eu fizesse o que ele me pedia”.

Tarzan, o Filho das Selvas (na reprise, Tarzan, o Homem-Macaco) / Tarzan, the Ape Man (Dir: W.S.Van Dyke) foi rodado nos estúdios da MGM com todos os requisitos das produções classe “A”, tendo o departamento de som providenciado o célebre berro, os roteiristas um dialeto tarzânico e, para as cenas mais arriscadas nos cipós, haviam os trapezistas The Flying Codonas (Alfredo e Tony Codona). O roteiro de Hume guardava pouca semelhança com o Tarzan de Burroughs e omitia todas as referências à origem do Homem-Macaco, concentrando-se  primordialmente nas relações românticas entre ele e a jovem inglesa Jane Parker, interpretada por Maureen O’ Sullivan, hoje mais conhecida como a mãe de Mia Farrow. Jane Parker penetra na selva africana num safári juntamente com seu pai e dois caçadores em busca de um misterioso cemitério de elefantes. Tarzan rapta Jane e o safári é capturado por uma tribo de pigmeus. Tarzan vai resgatá-los – com a ajuda de uma manada de elefantes num final excitante. A combinação de Johnny Weissmuller e Maureen O’ Sullivan foi uma mágica da tela absoluta. “Me Tarzan, You Jane” subitamente tornou-se uma expressão conhecida em todo o mundo, (embora a verdadeira frase dita por eles tivesse sido “Tarzan, Jane”).

O segundo exemplar da série Tarzan feito na MGM, A Companheira de Tarzan / Tarzan and His Mate / 1934 (Dir: Cedric Gibbons) tinha a campeã olímpica Jacqueline McKim dublando Maureen nas cenas subaquáticas de nudismo – desaprovadas por Joseph I. Breen – e um desenlace sensacional com Tarzan provocando uma debandada de elefantes para salvar Jane. Este filme é considerado o melhor da série, não só pelo cuidado com a produção como pelo teor erótico dos encontros entre Tarzan e Jane.

No terceiro espetáculo, A Fuga de Tarzan / Tarzan Escapes /1936 (Dir: Richard Thorpe) estreou a macaca Cheeta (Chita), responsável pela parte humorística. Jane é procurada na selva por seus primos que irão informá-la sobre uma fortuna herdada de seus falecidos tios Ela terá direito à herança desde que abandone Tarzan e retorne à civilização. O filme teve uma primeira versão intitulada The Capture of Tarzan, que a MGM reputou demasiado violenta e, visando o público juvenil, submeteu-o a uma reedição com a filmagem de cenas adicionais.

Na aventura seguinte, O Filho de Tarzan / Tarzan finds a Son / 1939 (Dir: Richard Thorpe), surgiu Boy (Johnny Sheffield), o garotinho recém-nascido, único sobrevivente de um desastre aéreo, adotado por Tarzan e sua companheira. A Legião da Decência vinha protestando contra o fato de Taran e Jane nunca terem se casado oficialmente na tela e, para evitar críticas, a MGM resolveu realizar este filme, dando a Tarzan um filho adotivo e fazendo subntender que o Rei das Selvas levava com Jane uma vida casta.

O quinto filme, O Tesouro de Tarzan / Tarzan’s Secret Treasure / 1941 (Richard Thorpe), foi o mais caro e laborioso dos seis filmes de Tarzan produzidos pela MGM, tendo consumido dois anos de filmagem. Depois de salvarem Boy das garras dos nativos que pretendiam torturá-lo, os membros de uma expedição científica explicam a Tarzan que estão no encalço de certo rio, mas o Homem-Macaco descobre que, na verdade, eles cobiçavam o ouro da região.

No último filme da série, Tarzan contra o Mundo / Tarzan’s New York Adventure / 1942 (Dir: Richard Thorpe), três caçadores invadem os domínios de Tarzan, a fim de capturar leões para um circo. São repelidos por Tarzan que, a seguir, tenta salvá-los da tribo Swahili, mas cai de um cipó em companhia de Jane. Os dois ficam desacordados. Supondo que estão mortos, os forasteiros seqüestram Boy e o levam para Nova York, com o propósito de explorar num circo a habilidade do menino em domar animais selvagens. Ao descobrirem o rapto, Tarzan, Jane e Chita partem para a grande metrópole.  A mudança de cenário, colocando Tarzan na selva do asfalto, proporciona curiosidade extra à aventura, uma das mais saborosas e inventivas da série.

Em 1939, o salário de Johnny na MGM havia atingido a soma de 2.500 dólares por semana. Os filmes de Tarzan estavam sendo realizados em intervalos cada vez maiores . Os executivos do estúdio acharam que isso era uma extravagância e “alugaram” Tarzan para Billy Rose por 5.000 dólares semanais, para que ele se exibisse no seu Aquacade na New York World’s Fair. Tarzan continuou a receber seu salário normalmente e a MGM embolsou a diferença. A companheira de Johnny no espetáculo era a campeã olímpica Eleanor Holm. Por causa de problemas com uma infecção no ouvido, Johnny não pôde continuar no Aquacade e foi substituído por Buster Crabbe. Depois, Eleanor saiu e entrou uma jovem e promissora Esther Williams no seu lugar.

Quando a MGM se desinteressou pela série de Tarzan, Sol Lesser ofereceu um lance pelo contrato de Weissmluller e o levou (juntamente com Johnny Sheffield) para a RKO. Maureen O’ Sullivan não aceitou a proposta, forçando Lesser a omitir Jane nos dois primeiros filmes da nova produtora. No filme inicial, Tarzan, o Vingador / Tarzan Triumphs / 1943 (Dir: William Thiele), Tarzan e Boy enfrentam os nazistas e no elenco estava Frances Gifford, a linda Nyoka do seriado A Filha das Selvas / Jungle Girl. Como era tempo de guerra, o público delirou quando Tarzan diz a frase: “Now Tarzan Makes War!”. A última cena ninguém esquece: os alemães escutam os guinchos de Chita pelo rádio e pensam que é o seu Führer dando as ordens. No segundo filme, Tarzan e o Terror do Deserto / Tarzan’s Desert Mystery / 1943 (Dir: Kurt Neumann), Tarzan e Boy voltam a lutar contra o Reich.  Na terceira aventura, Tarzan e as Amazonas / Tarzan and the Amazons / 1945, com a nova Jane (Brenda Joyce), recompunha-se o trio familiar da jungle. Na subseqüente, Tarzan e a Mulher Leopardo / Tarzan and the Leopard Woman / 1946 (Dir: Kurt Neumann), a exótica Acquanetta liderava uma tribo de “homens-leopardos”.

Captura de Tela 2015-08-02 às 16.44.22Nessa ocasião, cumprindo um contrato sem exclusividade que Lesser o deixara celebrar com a Pine-Thomas Productions, Johnny acertou a filmagem de Chamas de Ódio / Swamp Fire / 1946 (Dir: William H. Pine). Ele era Johnny Duval, piloto da Marinha, dispensado em virtude de uma crise nervosa, que ia trabalhar num cargueiro fluvial. A seu lado, no filme, Virginia Grey e o velho companheiro de piscina, Buster Crabbe.

Retomando a série Tarzan da RKO em Tarzan e a Caçadora / Tarzan and the Huntress / 1947 (Dir: Kurt Neumann), o Rei das Selvas viu-se de novo envolvido com caçadores de animais para o Jardim Zoológico. A derradeira personificação do herói de Burroughs deu-se em Tarzan e as Sereias / Tarzan and the Mermaids / 1948 (Dir: Robert Florey), sem Boy (que em breve se tornaria Bomba, na Monogram), mas com a belíssima Linda Christian e música de Dimitri Tiomkin. A história segundo a qual o dublé de Johnny, Angel Garcia, morreu ao cair dos altos rochedos junto ao mar em Acapulco, foi pura invenção dos publicistas. Aliás, o nome do dublé não era Angel e sim Raúl Garcia. Durante os entendimentos a respeito de novos filmes, Johnny pressionou Lesser para receber uma participação nos lucros e o produtor  preferiu não renovar o contrato do ator, declarando  à imprensa que ele estava sem forma física para o papel.

Então Sam Katzman, produtor da Columbia, ofereceu a Johnny uma percentagem nas rendas, para interpretar Jim das Selvas, personagem dos quadrinhos criado por Alex Raymond, o talentoso desenhista de Flash Gordon. Entre 1948 e 1956, Weissmuller  apareceu em 16 filmes de média-metragem. Os enredos eram geralmente absurdos, as caracterizações inverossímeis, o ambiente africano falso, a estupidez dos bandidos implausível e Jim gostava de se arriscar à toa.

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Em 1955, Jungle Jim foi para a televisão em 26 episódios de meia hora de duração. À frente do elenco Johnny, envelhecido e pesadão, encarava melancolicamente seu final de carreira, só voltando diante das câmeras em “pontas” nos filmes Conjunto de Espiões / The Phynx / 1970 e Won Ton Ton, o Cachorro Que Salvou Hollywood / Won Ton Ton, The Dog That Saved Hollywood / 1976.

No dia 21 de janeiro de 1984, aos 79 anos, ele veio a falecer no México, vitimado por um edema pulmonar. Sua morte emocionou os fãs do mundo inteiro, pois estes sabiam que jamais haveria outro Tarzan igual a Johnny Weissmuller.

Para não encerrar este artigo com uma notícia triste, reproduzimos uma história engraçada, contada por Johnny Weissmuller Jr. Numa viagem à Florida, no Biltmore Hotel em Coral Gales, Johnny passava muito tempo na piscina do hotel, onde conheceu um menino que tinha uma fisionomia muito triste Ficou amigo dele e o ensinou a nadar. O menino parecia solitário, mas nunca estava só. Dois grandalhões vestindo roupas espalhafatosas, sempre o acompanhavam. Johnny ficou intrigado, mas não perguntou nada. Isto continuou por algum tempo, Johnny pacientemente lhe ensinava a nadar. Os dois guarda-costas sempre observando. Um dia, o menino foi embora e nunca mais voltou. Pouco depois, Johnny recebeu um embrulho, entregue no seu quarto, que continha um magnífico relógio de ouro. Junto com ele veio um bilhete que dizia: “Obrigado por ter cuidado de meu filho” – Al Capone.

HOLLYWOOD NA GUERRA – AS MULHERES NA FRENTE DOMÉSTICA

Após o ataque japonês a Pearl Harbor em 7 de dezembro de 1941 e a entrada oficial dos Estados Unidos na guerra então em curso contra o Japão, Alemanha e Itália, começaram as advertências para as mulheres americanas jovens por parte dos pais, do clero, no rádio, jornais e revistas. Algo como: “Tomem cuidado com o romance do tempo de guerra. Casamentos apressados nesta época estão fadados ao fracasso. Não se comprometam com um futuro incerto. O verdadeiro amor pode esperar”. Parece que ninguém ouviu esses conselhos, porque 1.8 milhões de casais contraíram matrimônio em 1942, um aumento enorme comparado com o ano anterior.

Então os casais se casaram às pressas. Provavelmente não se conheciam bem nem estavam apaixonados ou talvez a mulher cobiçasse o cheque mensal no valor de cinqüenta dólares que receberia como esposa de pracinha e aguardava com interesse a indenização de 10.000 dólares do seu seguro de vida, que ganharia como viúva. Cinqüenta dólares por mês era pouco, mas um soldado na frente de batalha, sem nada para gastar, normalmente mandava parte de seu soldo para casa. Com a renda de 50 dólares mensais e mais esta parte do soldo uma garota ambiciosa poderia almejar quatro, cinco, seis ou mais maridos, para levar uma vida bem confortável.

Imediatamente ao pós-guerra, Esposas Errantes / Allotment Wives / 1945 (Dir: William Nigh) descrevia uma espécie diferente de delito, tendo como vítima os pracinhas. O Major Pete Martin (Paul Kelly) é convocado pelo Office of Dependence Benefits, para investigar mulheres que se casaram com vários soldados, para receber os cheques mensais do Departamento do Tesouro e a indenização do seu seguro de vida, caso os pracinhas viessem a ser mortos. Em vez de umas poucas mulheres inescrupulosas, Pete descobre uma organização criminal largamente expandida, que controlava suas empregadas como rufiões fazem com prostitutas.

Com a declaração de guerra contra as potências do Eixo, não somente as jovens noivas, mas também mulheres que já eram casadas há algum tempo e tinham filhos, viram seus maridos partirem para o além-mar. A princípio, somente homens que tinham família ficavam isentos do sorteio militar. Porém, quando a guerra se incrementou, entre 1942 e 1943, a maioria dos homens aptos entre 18 e 35 anos foram convocados ou se alistaram voluntariamente.

Muitas mulheres não se conformaram com a idéia de que tinham que se separar de seus maridos e decidiram permanecer ao lado deles o maior tempo possível enquanto eles ainda estivessem nos Estados Unidos. Essas mulheres eram frequentemente chamadas de “camp followers”, porque seguiam seus maridos de uma base militar para outra através do país.

Elas encontravam moradia o mais perto possível deles e passavam grande parte do tempo a seu lado. Entretanto, sua presença era quase sempre mal acolhida nos trens já superlotados, em cidades que não eram as suas e até em longas filas nas mercearias, quando o racionamento de comida foi implementado. Muitas pessoas achavam que, em vez delas passearem pelo país, ocupando um espaço e recursos valiosos, essas mulheres deviam ficar nos seus lares e fazer alguma coisa mais útil, menos egoísta, para o esforço de guerra. Porém quando os homens embarcaram para a frente de batalha, as mulheres voltaram para suas casas.

Não existe um número exato de quantas mulheres se tornaram “camp followers” durante a guerra, porque não havia nenhuma agência que tivesse uma informação coordenada a respeito. Somente quando as mulheres passavam por alguma dificuldade, agências como a Traveler’s Aid entravam em contato com elas. A Traveler’s Aid relatou 885.000 casos em 1942, cerca de seis vezes o total de 1941. Nos primeiros seis meses de 1943 o total aumentou para 1.250.000 casos..

Essas “camp followers” não se confudiam com as chamadas “V (for Victory) girls”, que eram adolescentes que ficavam à toa em torno das estações de ônibus e trens, drugstores ou em quaisquer lugares onde soldados ou marujos de licença podiam se reunir, flertando com eles e os convidando para um programa. Elas eram amadoras na sua maioria. O preço de seus favores era uma ida ao cinema, ou a um lugar onde pudessem dançar, um refrigerante ou uma bebida mais forte. As “V-girls” podiam ser facilmente reconhecíveis pelos seus suéteres usados, meias curtas, fitas no cabelo, muita maquilagem e lábios pintados de vermelho cor de sangue, tentando parecerem mais velhas. Elas estavam a um passo da prostituição, mas ofereciam aos pracinhas solitários uma diversão transitória despida daquela indiferença profissional do lenocínio. Podiam também, é claro, oferecer-lhes uma doença venérea, cuja incidência era maior entre as amadoras do que entre as profissionais.

A mulher do tempo da guerra teve que resolver as perplexidades e os problemas do seu mundo novo e estranho sem marido. Muitas mulheres procuraram ajuda de suas próprias mães ou foram morar com outros membros da família. Porém o maior impacto na vida das mulheres encarregadas de sustentar o lar dizia respeito à sua rotina diária. Mudar a atitude dos americanos com relação ao consumo não era uma tarefa fácil.

Tudo o que era produzido, tinha que ir primeiramente para o esforço de guerra. As fábricas e as fazendas estavam em plena atividade, mas os cidadãos estavam sendo intimados a reduzir o seu consumo. As invasões de áreas de produção de borracha pelos japoneses afetaram o suprimento desta matéria prima para os Estados Unidos. A solução encontrada pelo governo americano foi racionar não somente pneus, mas também a gasolina e depois roupas e sapatos. O primeiro alimento a sofrer restrição foi o açúcar, ocorrendo o mesmo pouco tempo depois com o café. No final de 1942, o governo ordenou o racionamento da carne vermelha. Embora a manteiga, o leite e os ovos nunca tivessem sido racionados, eles estavam escassos em alguns lugares. As pessoas também foram encorajadas a plantar frutas e verduras em qualquer pequeno espaço de terra excedente. Esses espaços ficaram conhecidos como Victory Gardens (Jardins da Vitória).

Rationing / 1944 (Dir: Willis Golbeck) – filme não exibido no Brasil – zombava do racionamento (e a concomitante burocracia do governo) mas, ao mesmo tempo, justificava a sua existência por meio de um discurso patriótico. Tem uma cena na qual o açougueiro Ben Barton, interpretado por Wallace Beery, responde a uma mulher que quer saber como ela e seu marido podiam ter um “bom jantar”, apesar das restrições impostas pelo governo. Ele diz: “Primeiro você tira um bife de um fuzileiro em Guadalcanal e cozinha ele com batatas, que deveriam ser para um dos Guardas Costeiros nas ilhas Aleutas; depois você adiciona algumas verduras da comida de nossas tropas lá no Norte da África e põe ainda algumas gramas de manteiga, que você ia enviar para alguns marujos num submarino, e duas chícaras de café, que pertencem a um aviador no Pacífico Sul”.

Em certas partes dos Estados Unidos houve falta de moradia devido ao incremento da produção de guerra. Vários filmes ridicularizavam esta situação na capital do país, destacando-se, entre eles, Original Pecado / The More The Merrier / 1943 (Dir: George Stevens) e Esposas Solteiras / The Doughgirls / 1944 (Dir: James V. Kern). Em Original Pecado, no auge da crise de habitação, a funcionária do governo Constance “Connie” Milligan (Jean Arthur) subloca um dos dois quartos de seu apartamento para Mr. Dingle (Charles Coburn) que, por sua vez, o divide com o jovem Joe Carter (Joel McCrea), criando uma situação muito apropriada para uma comédia-romântica. Em Esposas Solteiras, Arthur (Jack Carson) e Vivian (Jane Wyman) acabam de se casar. Arthur vai se encontrar com seu novo chefe (Charles Ruggles) e, quando retorna ao hotel, encontra três garotas na suíte nupcial: Edna (Ann Sheridan), Nan (Alexis Smith) e Natalia Moskorof, uma franco-atiradora russa). Ele manda Vivian se livrar delas, mas elas são amigas de Vivian.  Enquanto as moças não forem embora, Arthur não vai ficar ali e não haverá lua-de-mel. O cômodo também fôra prometido a um pomposo comentarista do rádio (Alan Mowbray), gerando mais confusão.

Durante a guerra, as revistas femininas desempenharam um papel fundamental, refletindo e influenciando a vida das mulheres. Artigos e anúncios ofereciam informações sobre o racionamento, sugestões para manter a família saudável e economizar nas compras, recomendações com relação aos cuidados maternais e conselhos para que as mulheres tivessem sempre uma boa aparência, apesar de todas as vicissitudes. Os jornais, o rádio e os cartazes em lugares públicos eram outros meios de comunicação, que alcançavam uma vasta audiência. Mas quando o governo precisava transmitir mensagens para a mulher americana, ele recorria em primeiro lugar às revistas femininas, enviando um Magazine War Guide para centenas de editores dessa área jornalística, ensinando como os seus artigos e fotografias podiam sustentar o esforço de guerra.

Um dos primeiros filmes, que trazia uma mensagem contundente relacionada com as obrigações das mulheres e dos homens em tempos tão difíceis, foi Rosa de Esperança / Mrs. Miniver, estreado em junho de 1942. Dirigido por William Wyler, o espetáculo era estrelado por Greer Garson como a dona-de-casa inglêsa, que passava por apuros durante o bombardeio contínuo dos alemães sobre a Grã Bretanha.  Na cena final, numa igreja semi-destruida, o vigário profere um sermão depois das mortes de um menino do coro, do chefe de estação ferroviária e da nora de Mrs. Miniver. Ele diz: “Esta não é uma guerra de soldados de uniforme. É uma guerra do povo – de todo o povo – e deve ser lutada não somente no campo de batalha, mas nas cidades e aldeias, nas fábricas, nas fazendas e nos lares, e no coração de cada homem, mulher e criança que ama a liberdade”. Winston Churchill mandou um telegrama para Louis B. Mayer, nestes termos: “Mrs. Miniver é propaganda que vale cem encouraçados”. O filme arrebatou seis Oscar da Academia.

O maior sofrimento para as mulheres que ficavam na frente doméstica era, naturalmente, a ansiedade constante por aqueles que elas amavam e a preocupação de como elas poderiam se ajustar à ausência dos homens em suas vidas.

Dois filmes principais cuidaram desse tema: Mulheres de Ninguém / Tender Comrade / 1943 (Dir: Edward Dmytryk) e Desde que Partiste / Since You Went Way / 1944 (Dir:John Cromwell). Mulheres de Ninguém mostrava quatro mulheres, operárias da fábrica da Douglas Aircraft  no Sul da Califórnia, que decidem fazer uma vaquinha e alugar uma casa juntas. Jo (Ginger Rogers) acabou de ver o marido, Chris (Robert Ryan), seguir para um posto deconhecido no exterior. Helen (Patrícia Collinge), tem um marido e um filho servindo no exército. Doris (Kim Hunter) casou-se com um pracinha poucos momentos antes dele partir com sua unidade. Barbara (Ruth Hussey) é casada com um marujo do Yorktown. O filme se tornou notório durante as investigações da HUAC no pós-guerra, quando a mãe de Ginger Rogers, uma das testemunhas “amigáveis” da Comissão do Senado Americano, apontou a sua suposta mensagem “comunista” (isto é, mulheres dividindo recursos em uma casa habitada por um grupo). No final do filme chega a notícia de que Chris foi morto em ação e Jô diz ao filho que o sacrifício do pai foi importante para a criação de um novo mundo. Porém fica bem claro que sua presença não seria necessária. No novo mundo que está sendo criado por Jô e pelas outras, as mulheres poderão tomar suas próprias decisões e viver independentemente dos homens.

Com quase três horas de duração, Desde que Partiste conta “a história de uma fortaleza inconquistável: o lar americano”. O marido de Mrs. Anne Hilton, (Claudette Colbert) alista-se nas forças armadas, apesar de ser um pai de meia idade com duas filhas Jane (Jennifer Jones) e Bridget (Shirley Temple). A partida do homem que sustenta a família causa algumas privações nesta casa da classe-média: sua criada negra, Fidelia (Hattie McDaniel), tem que se despedida (ela depois volta, dizendo que não gostou de trabalhar para uma família “da parte rica da cidade”). Para reforçar o orçamento doméstico, Mrs. Hilton decide aceitar como inquilino um coronel reformado, William G. Smollett (Monty Woolley), cujo neto, “Bill” (Robert Walker), torna-se namorado de Jane. Joseph Cotten é Tony Willett, um oficial da Marinha amigo da família, mas que talvez gostaria de fazer algo mais para Mrs. Hilton. Jane arruma emprego como ajudante de enfermeira, adiando seu ingresso na universidade. Mrs. Hilton vai trabalhar como soldadora num estaleiro. O filme termina no Natal, que é uma época doce-amarga para toda a família, até que vem a notícia de que o marido de Mrs. Hilton foi localizado e está passando bem.

Uma organização chamada Gold Star Mothers of América foi formada durante a Segunda Guerra Mundial. O nome tinha a ver com a prática de pendurar estrelas nas janelas das famílias cujos homens serviam nas Forças Armadas. Quem tinha um membro da família nestas condições, pendurava uma estrela azul na sua janela. Se ele morresse, pendurava-se uma estrela de ouro. Depois da guerra, as viúvas criaram uma nova organização intitulada Gold Star Wives of América.

Possivelmente, a família de luto mais conhecida durante a Segunda Guerra Mundial foram os Sullivan de Waterloo, Iowa. Todos os cinco filhos de Thomas e Alleta Sullivan morreram juntos em 1942, quando o USS Juneau, o navio no qual os irmãos estavam servindo, afundou no Pacífico logo após a Batalha de Guadalcanal. Depois disto, Mrs. Sullivan, seu esposo e sua única filha, Genevieve, foram recrutados pela Marinha para visitar fábricas de defesa e pedir por mais produção de guerra. Em 1943, Genevieve alistou-se na U.S. Naval Reserve.

Em 1944, foi realizado um filme de ficção de longa-metragem, Eram Cinco Irmãos / The Fighting Sullivans (Dir: Lloyd Bacon). O enredo mostra mais os irmãos crescendo muito unidos no seio de sua família irlandesa-americana do interior do que sua atuação na guerra. Quando se torna adulto, um dos irmãos, Albert (Edward Ryan) se casa. Diante do ataque a Pearl Harbor os outros quatro irmãos (James Cardwell, George Offerman Jr, John Campbell, John Alvin) decidem se alistar na Marinha. Com o consentimento da esposa Katherine Mary (Anne Baxter), o irmão casado se junta aos quatro e, por sua insistência, são designados para o mesmo navio, onde todos perecem. Este incidente trágico é pressagiado no começo do filme, quando os rapazes constroem um barco que afunda. O espetáculo é um tributo a um casal (Thomas Mitchell, Selena Royle) de uma pequena cidade dos Estados Unidos e aos cinco filhos que eles perderam e também uma descrição calorosa dos valores familiares e do americanismo provinciano, concluindo que o sacrifício dos Sullivans não foi em vão. No ínicio da narrativa, vemos uma montagem do batismo dos cinco irmãos e no final Mrs. Sullivan “batizando” o navio com o nome dos filhos. O papel da filha dos Sullivan, Genevieve, foi interpretado por Trudy Marshall.

A simples necessidade induziu mais de 60 milhões de mulheres para a força de trabalho da América durante os anos de guerra, abrindo oportunidades de emprego para mulheres em muitos lugares predominantemente ocupados por homens como fábricas, estaleiros e usinas siderúrgicas. Os homens americanos estavam partindo para a guerra justamente quando a indústria americana estava assinando contratos lucrativos com o governo para produzir um número expressivo de bombas, armas, navios e aviões. De repente, a idéia corrente de ver as mulheres como criaturas frágeis, inadequadas para o trabalho fora de casa, e muito menos para o trabalho duro, parecia um luxo dos tempos de paz. Mais do que nunca, a América pedia às mulheres que vestissem uniforme, para se juntarem à produção da maquinaria vital de guerra.

Foi uma mudança profunda em relação ao que ocorria antes. Durante a Depressão dos anos 30, quando os empregos eram escassos, as mulheres foram desencorajadas a trabalhar fora de casa. Em 1936, uma pesquisa de opinião apurou que 82 por cento dos americanos achavam que as mulheres não deveriam trabalhar se os seus maridos estivessem empregados. As mulheres foram informadas de que não tinham o direito de tirar os empregos dos homens que realmente precisavam deles para sustentar a família. A Segunda Guerra Mundial começou a mudar isso. Então, começam a aparecer anúncios oferecendo empregos para as mulheres.

Mais do que qualquer outra guerra na História,  o Segundo Conflito Mundial foi uma batalha de produção. Os alemães e os japoneses tinham uma vantagem inicial de dez anos acumulando armas e, além disso, os aliados haviam sofrido perdas materiais consideráveis em Dunquerque e Pearl Harbor.  Evidentemente que o lado com maior número de bombas, aviões e armamento seria aquele que ganharia a guerra. A produção era essencial para a vitória e as mulheres indispensáveis para a produção.

As primeiras mulheres a responder ao apelo das fábricas já integravam a força de trabalho em 1940. Muitas eram mães casadas que sempre precisavam trabalhar, para ajudar o marido. A maioria eram trabalhadoras em funções tradicionalmente de baixo salário tais como, por exemplo, empregadas domésticas. Aproximadamente 500.000 mulheres deixaram os serviços domésticos durante a guerra, a maioria delas mulheres negras, que finalmente encontraram melhores oportunidades. Elas ficaram compreensivelmente contentes com a oportunidade de arrumar uma ocupação industrial.

Em 1943, emergiu uma figura que personificava a mulher operária solteira ideal. Seu nome era Rosie the Riveter. Ela tinha tudo o que o governo queria numa operária de guerra. Era leal, eficiente, patriótica, submissa, até bonita. O seu mito nasceu numa canção interpretada por um quarteto masculino chamado os Four Vagabonds. Na canção, o namorado de Rosie, Charlie, estava no exterior lutando na guerra e ela trabalhava patrioticamente, a fim de que o conflito acabasse logo, ele voltasse para casa e eles pudessem se casar. Então, presumivelmente, ela teria que abandonar o trabalho, para criar uma família. O ícone de Rosie decolou. Depois da canção, apareceu o pôster de Norman Rockwell na capa do Saturday Evening Post em 29 de maio de 1943. Sua operária de guerra robusta está de macacão e lenço no cabelo, segurando um suculento sanduíche. Ela repousa um de seus braços musculosos sobre uma lancheira e mantém um rebite no seu colo.  Seus pés pisam em cima de um exemplar do Mein Kampf de Adolph Hitler.

Poucos meses depois, surgiu uma versão mais suave de Rosie toda maquilada e um grande lenço vermelho com bolinhas brancas no cabelo. Neste pôster, encomendado pelo governo, Rosie arregaça a manga de seu uniforme para mostrar o seu bíceps e em cima da imagem vêm as palavras “We Can Do It”.(“Nós podemos”).

Em 1944, foi feito um musical, intitulado Rosie, the Riveter (Dir: Joseph Santley) – não exibido no Brasil -, que tinha como personagens duas trabalhadoras de fábricas de defesa. Durante o dia, Rosalind “Rosie” Warren (Jane Frazee) e sua amiga, Vera Watson (Vera Vague), dividiam com dois colegas do turno da noite, Charlie (Frank Albertson) e Kelly (Frank Jenks), o único quarto restante da cidade. Entre as desventuras cômicas que esta situação provocava, os dois casais acabam se apaixonando. No clímax, acontecia uma festa em homenagem ao prêmio concedido à fábrica pela excelência na produção de materiais de guerra.

Quando a escassez de mão de obra chegou ao auge, o Office of War Information, uma agência formada em maio de 1942 para administrar o fluxo de noticias e de propaganda, promoveu campanhas, estimulando os empregadores a contratar mulheres e as mulheres a se tornarem “soldados da produção”.

Recrutar donas de casa para o trabalho de guerra era sem dúvida uma tarefa delicada. Mesmo as mulheres que gostariam de trabalhar tiveram que discutir com os maridos. No início de 1943, o instituto Gallup revelou que somente 30 por cento dos maridos deram apoio irrestrito à idéia de suas mulheres trabalharem nas fábricas. Embora persista a noção de que a maioria das mulheres que trabalhavam durante a guerra eram casadas com soldados, na verdade, apenas uma entre dez novas operárias estavam nessas condições. E apenas oito por cento de todas as mulheres tinha maridos no serviço militar. Num outro poster, apareciam três operárias de guerra sob o slogan “Soldados sem armas”. As campanhas de propaganda glamourizavam o trabalho de guerra, sempre mostrando que as mulheres podiam manter a sua feminilidade, sendo úteis.

Embora o patriotismo tivesse alguma influência no recrutamento, eram ainda os incentivos econômicos que atraíam muitas donas de casa. Para muitas mulheres casadas o trabalho proporcionava aquele primeiro gosto de liberdade financeira. Elas puderam ganhar mais dinheiro do que imaginavam antes da guerra, e o dinheiro era delas. Uma exclamou: “Posso abrir também a minha primeira conta bancária e é um grande e glorioso sentimento assinar um cheque só meu”. Quase cinquenta por cento de todas as mulheres adultas foram empregadas durante o auge da produção de guerra em 1943 e início de 1944, a maior percentagem até então.

Uma grande mudança ocorreu no número de mulheres que trabalhavam para o governo. Em junho de 1940 havia 186.210 mulheres trabalhando no Poder Executivo. Um ano depois havia 266.407 mulheres, um aumento de 43% em um ano. Nos Departamentos de Guerra e da Marinha, mais de 60.000 mulheres foram contratadas nesse período de um ano. Depois de Pearl Harbor, 2.000 mulheres jovens chegavam a Washington a cada mês, atendendo à propaganda feita através de todo o país em busca de escriturárias e datilógrafas. Essas “government girls” estavam quebrando a tradição de que os empregos federais eram reservados apenas para os homens.

Porém a cada momento havia um lembrete de que esses empregos eram oferecidos às mulheres apenas temporariamente.  Quando os homens voltassem da guerra, Rosie tinha que sair de cena.

Muitas foram as atividades servidas pelo trabalho feminino, destacando-se a fabricação de bombas e munição, de aviões e navios; mas nem todas estavam relacionadas com a produção de defesa. Das mais de seis milhões de mulheres que se integraram na produção de defesa de 1940 a 1945,  mais de dois milhões de mulheres encaminharam-se para empregos em escritórios. De fato, um pôster revelador mostrando três empregadas de escritório sorridentes tinha a legenda “Secretaries of War” (Secretárias de Guerra). Ainda assim a maior percentagem de mulheres trabalhadoras numa ocupação foi no trabalho agrícola, onde havia oito por cento de mulheres em 1940 e 22.4 por cento em 1945, um aumento de 14.4 por cento.

Houve também um grande esforço para preencher o que eram chamados de “empregos civís essenciais”, que haviam perdido trabalhadores, tanto masculinos quanto femininos, para empregos mais bem pagos e de maior status na indústria de defesa ou para os militares. As mulheres responderam prontamente ao chamado das empresas, assumindo tarefas de barbeiro, açougueiro, chofer de táxi, trabalhador de matadouro, bombeiro, etc.

Durante a Guerra deu-se uma nova ênfase na construção de aviões. Em 1940, toda a indústria aeronáutica havia produzido um total de apenas 13.000 aviões. Em 1942, o Presidente Roosevelt pediu a construção de 60.000 aviões. A Douglas Aircraft era uma das maiores fábricas nos Estados Unidos no começo dos anos 40. Ela empregou 22.000 mulheres durante a guerra para ajudar a construir muitos bombardeiros e aviões de transporte usados na Europa e no Pacífico. A maioria das mulheres nunca havia visto o interior de um avião; não conseguia distinguir uma fuselagem de um trem de aterrissagem, mas elas deixaram suas cozinhas para ir trabalhar nessas indústrias, aprenderam rapidamente e foram maravilhosamente bem sucedidas.

Elas eram geralmente aceitas com pouca desavença por parte dos trabalhadores masculinos, porém houve exceções. A construção de navio, em contraste com a fabricação de aviões, era uma atividade industrial antiga. Há muito tempo acostumados com uma mão-de-obra totalmente masculina, os estaleiros custaram a aceitar as mulheres, apesar do encorajamento do governo para que fizessem isso. A tremenda expansão necessária para substituir os navios afundados em Pearl Harbor, e depois os desastres no Pacífico, logo mostraram essa necessidade. Em 1939, quando irrompeu a guerra na Europa, havia 36 mulheres empregadas nos estaleiros. Em março de 1943, pelo menos 23.000 mulheres estavam trabalhando neles, com previsões de que, no final 1944, este número teria que subir para 225.000. A tarefa mais comum exercida pelas mulheres nos estaleiros era a de soldador, porém elas também operavam máquinas de furar e tornos mecânicos, atuavam como despachantes e dirigiam caminhões, eram encontradas em oficinas de metalurgia ou de instalações elétricas, almoxarifados, etc.

Os chefes de turmas nas fábricas eram praticamente unânimes ao afirmarem que, em tudo, o trabalho produzido pelas mulheres podia ser considerado igual ao dos homens. As mulheres aprendiam mais facilmente do que os homens e demonstravam maior interesse do que eles, para saber o “Porquê” e o “Como”.

Enquanto que o sucesso industrial das mulheres foi uma surpresa para os construtores de navios, a indústria de munição havia percebido, desde longa data, que as mulheres eram excelentes empregadas. Neste trabalho literalmente explosivo, as tradições femininas de cautela, precisão e consciência da necessidade de segurança eram imensamente valiosas. Já em 1941, antes da América se envolver na guerra, pelo menos 30.000 mulheres trabalhavam com carregamento de cartuchos de balas, pequenos armamentos e detonadores. Quando a luta na Europa piorou, as mulheres entraram em áreas de fabricação de munições previamente interditadas para elas – e fizeram isso com muito êxito, sem treinamento prévio.

A maioria das fábricas ditava regras de como as mulheres deveriam se vestir. O objetivo era não somente o de protegê-las como também os homens que trabalhavam com elas. Uma mulher usando um suéter apertado, por exemplo, distraia a atenção dos rapazes, que assobiavam quando elas passavam. Calças compridas e sapatos de salto baixo eram obrigatórios. Cabelos longos e soltos estavam terminantemente proibidos e se os seus cabelos não fossem tão curtos quanto o dos homens, elas tinham que prendê-los sob um turbante. Esta era uma proteção contra acidentes – uma operária poderia ser escalpelada se o seu cabelo ficasse preso numa das máquinas.  Outro problema eram as brincadeiras de mau gosto que elas sofriam por parte dos homens. A resposta da administração das fábricas foi segregá-las em tarefas nas quais elas trabalhavam separadas dos seus colegas masculinos.

Quanto ao assédio sexual, a solução foi desenhar uniformes que tornassem as mulheres indistinguíveis dos homens e contratar uma “dama de companhia de cabelos grisalhos” para “flagrar” aquelas distraídas no lavatório feminino e aconselhá-las a disfarçar sua aparência. Entretanto, as próprias mulheres imaginaram o melhor meio de se defenderem da excessiva atenção por parte do sexo oposto. Quando os homens passaram a se defrontar com assobios e com a agressão sexual das mulheres, seu comportamento mudou.

Foi nesse clima que talvez o “soldado de produção” feminina mais famosa de todas foi localizada no verão de 1944 por um fotógrafo da primeira Unidade Cinematográfica do Exército. A operária de guerra Norma Jeane Dougherty logo se transformaria na personalização de um ideal masculino de feminilidade. Mas quando o fotógrafo a descobriu, ela era apenas mais uma operária de guerra, empacotando pára-quedas em uma fábrica de guerra em Burbank na Califórnia. A equipe de fotógrafos do Exército chegou sob as ordens de seu comandante, Ronald Reagan, para documentar o papel da mulher no esforço de guerra, fotografando as mulheres mais bonitas da linha de montagem, trabalhando patrioticamente nos seus empregos de guerra. Norma Jeane Dougherty, então com 18 anos, se destacava. Ela era uma esposa de guerra típica, que começou trabalhando na Radio-plane Company em abril de 1944, depois que seu marido, Jim Dougherty, alistou-se na Marinha Mercante. Norma estava vivendo com a família de seu esposo no Sul da Califórnia e tinha arrumado um emprego na mesma fábrica de guerra, onde sua sogra, Ethel Doughery, trabalhava.

Segundo consta, o fotógrafo David Conover disse a Norma Jeane: “Eu vou tirar sua foto para manter a moral dos rapazes do Exército alta”. Conover telefonou para Norma alguns dias depois, para lhe dizer que as fotos tinham saído maravilhosamente bem e convidou-a para trabalhar como modelo. Ele disse que queria tirar mais algumas fotos e que a colocaria em contato com alguns de seus conhecidos, para lhe arranjar outros trabalhos. Uma das fotos tiradas por Conover apareceu em 26 de junho de 1945 na capa da revista do Exército chamada Yank e, em junho de 1946, a ainda morena Norma Jeane havia aparecido na capa de 13 revistas populares inclusive Laff, Stars and Stripes e Family Circle. Em agosto de 1946, ela assinou contrato com a 20th Century Fox e, em setembro de 1946, se divorciou de Jim Dougherty. Depois, Norma Jeane tingiu seu cabelo de loura e mudou seu nome para Marilyn Monroe.

De 1940 a 1945, a proporção de mulheres na força de trabalho americana aumentou de 25 por cento para 36 por cento. Em 1945, quase 20 milhões de mulheres estavam na força de trabalho, um grande aumento em comparação com os 11.5 milhões em 1940.

Quando as milhares de mulheres ingressaram nas fábricas, não havia lugar para deixarem seus filhos. A WPA (Work Progress Administration), um vestígio burocrático do tempo da Grande Depressão, redirecionou as creches que havia criado para cuidar das crianças muito pobres. Havia 1.500 creches (pelo menos uma em cada estado), mas elas não eram suficientes para atender a demanda. A assistência privada à infância não era prioridade de tempo de guerra e os programas públicos constituíam-se mais de palavras do que de ação.

Muitas mulheres não teriam a opção de continuar trabalhando quando a guerra acabou. A promessa feita no príncipio da guerra de que aqueles empregos para as mulheres seriam apenas temporários até que os homens voltassem da frente de batalha, foi cumprida. As mulheres foram convidadas a sair do caminho e retornarem ao seu devido lugar no lar, com suas famílias. Tão rapidamente quanto Rosie the Riveter foi criada, uma campanha igualmente eficiente foi lançada para afastá-la.

Os homens que haviam partido para lutar na Segunda Guerra Mundial a fim de preservar o American Way of Life, voltariam para o lugar onde, para muitas mulheres, aquele modo de vida havia sido transformado. Um grande número de mulheres americanas das classes baixa e média havia experimentado uma espécie de liberdade que elas nunca haviam conhecido antes. As mulheres haviam provado o sabor de ganhar o seu próprio dinheiro e viverem a sua própria vida fora de casa, e muitas gostaram disso.

Embora a sociedade em geral não pudesse perceber isso imediatamente, estava claro – como disse Emily Yellin no seu magnífico livro, Our Mothers War (Free Pres, 2004), de onde extraímos, muitas informações para este artigo – que o gênio havia saído da lâmpada e, por mais que tentassem dissuadí-lo, não iria voltar para dentro. Uma revolução começava na vida do trabalho e do lar na América.