Arquivo diários:maio 2, 2010

CURTAS-METRAGENS NA HOLLYWOOD DOS ANOS 30 / 40

Um grande desafio para o pesquisador de Cinema Americano dos anos 30 / 40 é a área dos curtas-metragens, não só porque as fontes sobre o assunto são escassas como também pela dificuldade de se identificar os títulos em português dos filmes. Este artigo não pretende focalizar todos os curtas-metragens produzidos naquelas décadas, mas apenas recordar os mais conhecidos.

De uma maneira geral, esses filmes, na sua maioria de dois rolos (duração aproximada de 17 a 18 minutos) denominavam-se shorts. Eles podiam ser nos gêneros comédia, musical, esportivo, turístico, curiosidades, etc. e nada tinham a ver com as séries de longa-metragem ou com os seriados. As séries eram um grupo de filmes de 55 a 90 minutos cada qual contando uma historia diferente, porém conservando sempre os mesmos personagens; nos seriados, a trama continuava em outros episódios.

Laurel e Hardy em A Caixa de Música

As comédias curtas de O Gordo e o Magro destacavam-se dos outros shorts, mostrando a maior dupla cômica do Cinema na sua forma mais completa. Com o advento do som, as vozes de Stan Laurel e Oliver Hardy acrescentaram uma nova dimensão às suas respectivas personalidades. Ao lado da comicidade visual, incluindo os célebres maneirismos, havia agora saborosos diálogos, ditos de maneira inimitável pelos dois artistas inesquecíveis. De 1929 a 1935, foram realizadas 40 comédias faladas nos estúdios de Hal Roach. Uma delas – Caixa de Música / The Music Box – ganhou o Oscar de 1931-32 na categoria.

Outros grandes comediantes da era silenciosa como Buster Keaton e Harry Langdon fizeram shorts falados, porém mais popular nesse formato foi outro contratado de Roach, Charlie (ou Charley) Chase. Com aqueles óculos inseparáveis e, às vezes, o banjo e a guitarra, Charlie participou de 190 comédias curtas, das quais alguém há de se lembrar, por exemplo, de Cartola Mágica / You Said a Hateful! / 1934, O Neto do Vovô / Southern Exposure / 1935 ou O Marido que virou Mulher / Okay Toots! / 1935, para citar apenas três que foram exibidos no cinema Metro do Rio de Janeiro. Em O Marido que virou Mulher, Charlie e sua esposa misteriosamente trocam suas personalidades – a voz e a mente dela no corpo dele, e vice-versa.

Vocês devem se lembrar de Charlie Chase naquela magnífica comédia de média -metragem, Os Filhos do Deserto / Sons of the Desert / 1933, que Roach produziu entre os seus two-reelers com Laurel e Hardy. Charlie tem uma breve, mas fulgurante, intervenção como o turbulento cunhado de Oliver Hardy, roubando a cena em que aparece.

CharleyChase_Vol2_DVD

Como diretor, Charlie Chase foi responsável por A Grande Pechincha / The Bargain of the Century / 1933, uma das comédias mais engraçadas da dobradinha Thelma Todd / ZaSu Pitts, outro achado de Hal Roach. Entre outras, na sua maioria dirigidas por Gus Meins, fizeram muito sucesso: Ora, Pílulas / Sneak Easily / 1932, Salão da Fuzarca / Asleep in the Fleet / 1933, Vestidas à Francesa / Maids à la Mode / 1933 e principalmente A Caminho de Hollywood / One Track Minds / 1933, na qual Thelma ganha a chance de fazer um teste para o cinema com o diretor Von Sternheim no Roaring Lion Studios; mas o trem vai para o Oeste, pondo fim à sua carreira. Thelma e ZaSu formavam um contraste perfeito para uma boa dupla cômica: a bela e agitada Thelma sempre conseguindo tirar as duas das situações encrencadas causadas pela ingenuidade da feiosa ZaSu.

Em 1933, Patsy Kelly entrou no lugar da veterana atriz dramática de Stroheim e arrancou boas gargalhadas dos espectadores com as piadas maldosas sobre a parceira. Entre os melhores filmes da dupla Thelma Todd-Patsy Kelly, podemos apontar: Natureza Torta / Backs to Nature / 1933, Verifiquem nossos Preços / Babies in the Goods / 1934, Distintas Senhoritas / Soup and Fish / 1934, todos sob direção de Gus Meins, e Viagem Acidentada / Bum Voyage / 1934. Neste filme, dirigido por Nick Grinde, Thelma e Patsy acham duas passagens para uma viagem de navio, sem saber que sua cabine é também habitada por um gorila.

Charlie Chase, Laurel e Hardy em Filhos do Deserto

Com a trágica morte de Thelma Todd, que até hoje constitui um dos enigmas indecifrados de Hollywood, logo se encerraria o ciclo de comédias, sempre elogiadas aquí no Brasil pelos comentaristas da revista Cinearte, que as consideravam um “bom complemento de programa”, como se dizia na época.

Produzida por Hal Roach de 1922 a 1938 e compreendendo ao todo 228 filmes, a série de curtas Os Peraltas / Our Gang jamais perdeu o encanto, porque o espírito das crianças é o mesmo em qualquer tempo. Dos componentes do vasto elenco infantil, que mudava constantemente, Jackie Cooper, Dickie Moore, Scotty Beckett e Mickey Gubitosi (depois conhecido como Bobby Blake, fazendo o papel do indiozinho nos faroestes de Red Ryder e como Robert Blake no seriado de televisão Baretta), alcançariam fama nos filmes de longa-metragem: porém, os mais amados pelos fãs eram o fofo Spanky McFarland, os pretinhos Billy “Buckwheat” Thomas e Mathew “Stymie” Beard, e Cal “Alfafa” Switzer, o Espeto, que esteve impagável em Alfafa, a Voz das Vozes / Our Gang Follies of 1938. Uma das comédias, Fugindo da Escola / Bored of Education, arrebatou o prêmio da Academia em 1936.

ZaSu Pitts - Thelma Todd

Patsy Kelly Thelma Todd

Em 1938, a MGM adquiriu os direitos de produzir a série e o de usar o título, razão pela qual, quando os filmes originais foram reprisados na televisão, as emissoras tiveram que apresentá-los como Os Batutinhas / The Little Rascals. Houve muitos imitadores da série como as comédias Mickey McGuire com Mickey Rooney ainda bem garotinho, The Kiddie Troupers com o então menino Eddie Bracken, e as Baby Burlesks, estreladas por Shirley Temple.

Roach realizou ainda, entre outros, os curtas-metragens Os Choferes de Praça / The Taxi Boys com Billie Gilbert e Ben Blue e The Boy Friends com Mickey Daniels e Mary Kornman, dois ex-integrantes do cast de Os Peraltas; David Sharpe, mais tarde competente stuntman nos seriados; e Grady Sutton, que era quem provocava mais gargalhadas na platéia

Os Peraltas

Ninguém pensa em Andy Clyde quando se fala nos grandes comediantes da tela, porém ele foi um ator talentoso e versátil, cuja popularidade ficou intata por quatro décadas, de 1929 a 1956. Depois de trabalhar com Mack Sennett e na Educational, Clyde instalou-se na Columbia, em 1934, e ali permaneceu por mais de 20 anos, elaborando um personagem com bigodão e óculos bifocais, que teve esta peculiaridade: começou interpretando-o ainda jovem e envelheceu no papel, até que, no final da carreira, não precisava mais de quase nenhuma maquilagem.

Clyde fez ao todo 146 comédias. Velhos Gaiteiros / He Done His Duty / 1937 e Atores e Impostores / Mr. Clyde Goes to Broadway / 1940 parece que foram as favoritas do público. Nos anos 40, o popular comediante lutou lado a lado com William “Hopalong Cassidy” Boyd em mais de trinta westerns classe “B” e depois foi o sidekick de outro mocinho, Whip Wilson de 1949 a 1951.

Andy Clyde

A respeito de Leon Errol, alguém fez a seguinte distinção: existem os comediantes, os cômicos, os palhaços e os homens engraçados. O homem engraçado é aquele que consegue ser engraçado em qualquer circunstância. Não precisa de histórias para sustentá-lo como os comediantes; não precisa de piadas, como os cômicos; e não precisa de certos cenários como os palhaços. Ele é engraçado por si mesmo. Errol era um homem engraçado e suas pernas “de borracha”, a sua peça de resistência – principalmente quando interpretava bêbados. Oriundo do Ziegfeld Follies, o careca australiano trabalhou durante dezesseis anos na RKO, onde também atuou na série de média metragem Mexican Spitfire em papel duplo (como o tio Matt e Lord Basil Epping), ao lado de Lupe Velez, que vivia a esquentada Carmelita. O leitor de cabelos grisalhos se recordará de alguns two-reels de Leon Errol como marido Desastrado / Home Work / 1942, Foi Caçar e Saiu Caçado / Dead Deer / 1942 ou Quando os Maridos têm Idéias / Double Up / 1943.

Leon Errol

Impulsionados por Jules White, chefe do Departamento de Curtas-Metragens da Columbia, Os Três Patetas / The Three Stooges levaram muita gente aos cinemas, para ver 190 comédias de dois rolos. E a explicação é simples: seu humor baseava-se na violência e na vulgaridade, coisas que a maior parte do público adora. Moe Howard (o de franjinha) era o membro dominador do trio, sempre dando as ordens e os tapas e recebendo o troco dos colegas Jerry “Curly” Howard, (irmão de Moe na vida real, depois substituído por outro irmão, Sam “Shemp” Howard ) e Larry Fine. Em 1955 Shemp faleceu, Joe Besser entrou em seu lugar e finalmente Besser foi substituído por Joe DeRita.

Antes de trabalhar na Columbia, a trinca fez, com Ted Healy, comédias curtas para a MGM, algumas em cores como Voando em Parafuso / Plane Nuts / 1933, No Olho da Rua / Beer and Pretzels / 1933 e Uma Idéia Genial / The Big Idea / 1934. Na lista de seus melhores pastelões na Columbia, Empapelando o Mundo / You Nazty Spy 1940, Encanadores da Fuzarca / A Plumbing We Will Go / 1940 e Cozinheiros Peritos / An Ache in Every Stake / 1941 têm lugar garantido. Típica propaganda de guerra, Empapelando o Mundo era uma gozação de Hitler e seus capangas com Moe como ditador de Moronica. Um letreiro de apresentação dizia: “Qualquer semelhança entre os personagens deste filme e quaisquer pessoas, vivas ou mortas, é um milagre”.

Os 3 Patetas em Empapelando o Mundo

A série de comédias curtas de Edgar Kennedy, inicialmente intitulada The Average Man, produzida pela RKO de 1931 a 1948, apoiava-se em situações e personagens do dia-a-dia – um casal, o cunhado e a sogra, interpretados pela ordem por Kennedy, Florence Lake William Eugene (depois Jack Rice) e Dot Farley – uma família de loucos. A marca registrada do comediante era o denominado slow burn, que consistia no seguinte: após um ato desastrado, Kennedy esfregava o rosto com as mãos, como se estivesse dizendo para si mesmo: “Não vou deixar que isto me aborreça”. Depois, vinha uma reação retardada ao acontecimento e ele esfregava novamente o rosto com desespêro.

Alguns títulos de comédias de Edgar Kennedy exibidas no Brasil: Relógio do Azar / Clock Wise / 1939, O Pintor saiu Pintado / Feathered Pests / 1939, Louco por Cachaça / Mad About Moonshine / 1941, Feriado Sossegado / A Quiet Fourth / 1941, Cozinheiros e Trapaceiros / Cooks and Crooks / 1942, Com Calma se Arranja Tudo / Hold Your Temper / 1943, O Cacique Fantasma / Índian Signs / 1943, etc. Por curiosidade, há um curta de Kennedy com o mesmo título original de uma comédia dos irmãos Marx, Duck Soup, só que traduzida como Sopa de Pato enquanto o filme dos Marx intitulava-se em português O Diabo a Quatro.

A partir de 1931, Pete Smith, diretor de publicidade da MGM, começou a produzir e narrar shorts para o estúdio. A série de curtas mais famosa, Uma Especialidade Pete Smith / Pete Smith Specialties, composta de 209 filmes e produzida entre 1936 e 1955, continha temas variados, que podiam ser: a história de um cego e seu cão (Verdadeiro Amigo / Friend Indeed / 1938 ou a do negro escravo que se tornou um grande cientista (A História do Dr. Carver / The Story of Dr. Carver / 1938); a historia da maquilagem feminina (Embelezando o Belo / Gilding the Lily / 1937 ou da batata (A História da Batata / Romance of the Potato / 1939); o arqueiro Howard Hill demonstrando sua habilidade (Arco e Flecha / Follow the Arrow / 1938 ou a técnica do boxeador Max Baer (A Arte de Esmurrar / Fisticuffs / 1938; um tributo aos metereologistas (Profetas do Tempo / Weather Wizzards / 1939 ou aos radioamadores (Radioamadores / Radio Hams / 1939); a audácia dos stuntmen (Os Temerários de Hollywood / Hollywood Daredevils / 1943) ou os exercícios físicos dos soldados no Exército (Campeões do Exército / Army Champions / 1941 e na Marinha (Fuzileiros Navais de Tio Sam / Marines in the Making / 1942 e até mesmo o cachorro do Presidente Roosevelt, Fala, o Cachorrinho do Presidente / Fala, the President’s Dog / 1943.

O curta-metragem mais estranho e interessante foi Ferro Velho / Scrap Happy / 1943, contando a história de curiosos pedaços de metal encontrados nas pilhas de ferro velho para a Vitória durante a Segunda Guerra Mundial.

Outra série produzida por Pete Smith, MGM Specials, apresentava três shorts relacionados com a 3ª Dimensão ou “em relêvo”, como se falava naquele tempo: Audioscópios / Audioscopiks /1935, A Nova Audioscopia / New Audioscopiks / 1938 e Assassinato Metroscópico / Third Dimensional Murder / 1941.

Pete Smith, George Sidney e Dave O' Brien

Mais de uma dúzia de shorts de Pete Smith receberam indicações para o Oscar, dos quais dois, Penny Wisdom / 1937 e Prodígios Fotográficos / Quicker’n a Wink / 1940, ganharam a estatueta. Em 1953, Pete Smith foi agraciado com um troféu especial da Academia. A partir de 1942, Dave O’Brien (O Capitão Meia-Noite do seriado da Columbia) tornou-se a atração da série, pondo seus recursos de atleta a serviço do humor visual. O filme mais original com Dave O’ Brien foi Os Cacetes do Cinema / Movie Pests / 1944, revelando os freqüentadores importunos dos cinemas.

Abramos um parêntese para dizer que o Departamento de Curtas-Metragens da MGM foi uma verdadeira escola de aprendizagem cinematográfica para muito diretores talentosos como George Sidney, Fred Zinnemann, David Miller, Jacques Tourneur, Joseph Losey, Jules Dassin, Cyril Endfield, sendo que os curtas também revelaram Leo McCarey, Gordon Douglas, George Stevens, Jean Negulesco e Don Siegel, em outras companhias.

Entre os atores e atrizes que adestraram suas aptidões nos shorts dos vários estúdios estavam, por exemplo: June Allyson, Betty Grable, Lucille Ball, Danny Kaye, Bob Hope, Red Skelton, Sammy Davis Jr., Barry Sullivan, Tony Martin, Dorothy Lamour, Betty Hutton, Dane Clark, John Payne, Nina Foch, Dorothy Malone, Robert Taylor, James Stewart, Judy Garland e Deanna Durbin (cantando juntas em Todos os Domingos / Every Sunday / 1936), etc.

A Marcha do Tempo / The March of Time, série de curtas-metragens realizados por Louis de Rochemont entre os anos 1935 e 1951 sob o patrocínio da revista Time e distribuída pela 20thCentury-Fox, revolucionou o jornalismo cinematográfico, provocando grande impacto. O estilo da série caracterizava-se por uma montagem dinâmica e corajosas reportagens, narradas pela voz ostentória de Westbrook Van Voohris, que foi parodiada por Orson Welles em Cidadão Kane / Citizen Kane / 1941. Primeiramente, cada filme tinha vários segmentos, mas, desde 1938, passou a abordar apenas um tópico, tornando-se valioso repositório dos fatos cotidianos da América do Norte. Em 1936, mereceu um Oscar da Academia.

O êxito de A Marcha do Tempo abriu caminho para outro short no gênero. A RKO lançou Assim é a América / This is América que, tal como a predecessora, procurou enfatizar o aspecto humano de cada matéria. Esta série foi supervisionada por Slavko Vorkapich, o mestre do montage (seqüência de montagem), teve como diretor mais assíduo Larry O’Reilly e deu a primeira oportunidade para Richard Fleischer atuar atrás das câmeras. Fleischer depois fez outra série, Retrorelâmpagos / Flicker Flashbacks, baseada em compilações de filmes mudos.

Poster de A Marcha do Tempo

Louis de Rochemont

Um dos grandes contadores de histórias através dos shorts chamava-se John Nesbitt. Este canadense criou na MGM a série Um Mistério Histórico / Historical Mysteries e depois A Parada da Vida / John Nesbitt’s Passing Parade, que compreendia basicamente três tipos de temas: fatos pouco conhecidos sobre grandes homens, homens que mudaram o mundo e acontecimentos extraordinários. Entre os mistérios históricos encontramos, por exemplo, Nostradamus / Nostradamus / 1938 ou O Enigma de Santa Helena / Man on the Rock / 1939 e na série de 72 Paradas da Vida, assuntos que iam de A História de Alfred Nobel / The Story of Alfred Nobel / 1939 ou Uma Estrada Luminosa / Stairway to Light / 1945 a respeito do Dr.Pinel até O Último Ato / Your Last Act / 1941 sobre os mais estranhos testamentos de todos os tempos ou Tesouro Esquecido / Forgotten Treasure / 1943 e O Filme Perdido / The Film that was Lost / 1942, mostrando o acervo da filmoteca do Museu de Arte Moderna de Nova York e os filmes raros por ela recuperados.

Os dois melhores curtas-metragens sobre a cidade do cinema foram Instantâneos de Hollywood / Screen Snapshots da Columbia e Parada de Hollywood / Hollywood on Parade da Paramount que, entre outras atrações, ofereciam Bing Crosby cantando “Auf Wiedersehn”, um quarteto de música country composto por Barton McLane, Buster Crabbe, Fuzzy Knigth e Randolph Scott e o evento anual da divulgação das Wampas Baby Stars, grupo de estrelinhas promissoras da tela que, em 1932, incluía: Ginger Rogers, Gloria Stuart, Mary Carlisle, Patrícia Ellis, Evalyn Knapp, Lillian Bond e Lona Andre.

Uma série de shorts de alta qualidade O Crime não Compensa ou O Crime Não Paga Dividendos / Crime Does Not Pay, produzida pela MGM entre 1933 e 1947, conquistou dois Oscar e deu chance para atores e diretores aprenderem o seu ofício. A tônica era a denúncia de crimes e desonestidades que afetavam a vida dos cidadãos americanos. A partir dos anos 40, a série voltou-se para a propaganda de guerra, alertando contra os espiões nazistas e a sabotagem. Muitas das histórias foram escritas por um policial aposentado, Karl Kamb, e mereceram o aplauso das autoridades inclusive do próprio chefão do FBI, J. Edgar Hoover. No primeiro filme, Tesouro Enterrado / Buried Loot / 1935, Robert Taylor mostrou que tinha pinta de galã e em Desatinos da Juventude / The Wrong Way / 1938 Gustav Machaty, o tcheco que orientou Hedy Lamarr em Êxtase / Ekstase / 1933, assinou a direção.

Na Warner, além das pioneiras Vitaphone Varieties, nas quais figuravam Hal Le Roy, Mitzi Mayfair, Ruth Etting, Russ Columbo, Jane Froman, Frances Langford, etc, havia os shorts que trouxeram de volta às telas Roscoe “Fatty” Arbuckle e os que promoviam as big bands de Artie Shaw, Eddie Duchin, Hal Kemp, Woody Herman, Vincent Lopes, Freddy Martin, etc. Mas isso não foi tudo.

O estúdio permitiu que o montador Don Siegel evidenciasse suas qualidades como diretor em Uma Estrela Luminosa / Star in the Night, parábola moderna sobre o Cristo e Hitler Vive! / Hitler Lives!, ambos premiados com o Oscar em 1945. A Warner produziu ainda uma série patriótica, filmada em cores, cujos três expoentes máximos – Sons of Liberty / 1939 (Dir: Michael Curtiz) com Claude Rains e Gale Sondergaad, Give me Liberty / 1936 (Dir: B. Reeves Eason) com Robert Warwick como George Washington e Declaration of Independence / 1938 (Dir: Crane Wilbur) com John Litel como Thomas Jefferson – também arrebataram o premio da Academia.

Muitas outras séries de curtas-metragens desfilaram nos cinemas nos anos 30 / 40 como, por exemplo: Viagens de Fitzpatrick / Fitzpatrick’s Traveltalks (cognominada em nosso país de “A Voz do Globo”) e que sempre terminava com a frase: “E agora dizemos adeus a …” e aí vinha o nome do lugar; O Romance do Celulóide / Romance of Celluloid; Ainda que Pareça Incrível / Stranger than Fiction; Ao Redor do Mundo / Going Places; Cinemaluco / Goofy Movies; Ocupações Inusitadas / Unusual Ocupations; Aventuras do Operador Cinematográfico / Adventures of the Newsreel Cameramen; Parada dos Esportes / Grantland Rice Sportlights; Cinescope / Cinescope; Ciência Popular / Popular Science; Washington em Desfile / Washington on Parade; O Mundo Canta / Community Sing; Parece Incrível / Believe it or Not; Tapete Mágico / Lowell Thomas Magic Carpet of Movietone; No Mundo dos Esportes / World of Sports; Uma Miniatura Carey Wilson / Carey Wilson Miniatures; Clube de Máscaras / Masquers Club; Comédias All Star / All Star Comedies; Tolos que Passaram à Posteridade / Fools who Made History; Hugh Herbert / Hugh Herbert; Robert Benchley / Robert Benchley, esta com um filme vencedor do Oscar, Arte de Dormir / How to Sleep / 1935 e outro apenas indicado, Noite no Cinema / A Night at the Movies / 1937, etc.

É impressionante a quantidade de curtas-metragens trazidos para o Brasil pelas distribuidoras norte-americanas, no período que estamos abordando. Isto sem falar nos desenhos animados e na centena de shorts de propaganda de guerra, que chegaram aquí por intermédio do Office of the Coordinator of Inter-American Affairs, escritório criado em agosto de 1940 pelo governo americano, para promover as relações entre os Estados Unidos e a América Latina.

Existe ainda muita investigação a ser feita neste campo tão vasto de atividade filmíca, prato cheio para aqueles que gostam de examinar a História do Cinema com lentes de microscópio.