Ao irromper o cinema sonoro, as principais companhias de Hollywood ficaram com receio de perder o vasto mercado de língua não-inglesa. Daí a idéia de se fazerem produções americanas em vários idiomas. Todos os grandes estúdios fizeram versões estrangeiras de seus filmes (Warner, RKO, MGM, Fox, Universal, Columbia), porém a companhia que mais se empenhou nas produções desse tipo foi a Paramount.
As primeiras versões foram feitas em Hollywood e nos estúdios Astoria em Nova York, explorando o potencial do cantor-ator francês Maurice Chevalier para a produção bilíngüe.
Ele impressionou os parisienses em La Chanson de Paris /1929 – tal como havia feito na versão original, Innocents of Paris – e nos subseqüentes La Parade D’Amour (Alvorada do Amor / The Love Parade / 1929, Le Petite Café (O Café do Felisberto / Playboy of Paris / 1930, La Grande Mare (Um Romance de Veneza / The Big Pond / 1930).
Face a esse sucesso, Adolph Zukor resolveu abrir uma subsidiária de sua companhia em Paris, a Société Ciné-Studio-Continental, cuja direção foi entregue a Robert T. Kane. Kane alugou e reformou um estúdio na rue des Réservois em Saint-Maurice no limite com Joinville-le-Pont, transformando-o em uma gigantesca fábrica de imagens, apelidada de Babel-sur-Marne, pois alguns filmes chegaram a ter versões em até 14 idiomas, envolvendo atores, atrizes, diretores e técnicos de diversas nacionalidades.
Paramount on Parade / 1930, por exemplo, teve nada menos do que 11 versões (francesa, espanhola, tcheca, holandesa, polonesa, italiana, romena, japonesa, húngara, sueca e dinamarquesa). No Brasil, passaram a original e a espanhola (Galas de la Paramount), ambas com o título em português de Paramount em Grande Gala.
Her Wedding Night /1930 de Frank Tuttle, farsa sobre um compositor popular que se casa “por procuração”, estrelado por Clara Bow, teve versões francesa (Marions-nous), espanhola (Su noche de Bodas), alemã (Ich heirate meinem Mann) e portuguesa (A Minha Noite de Núpcias, tendo na frente do elenco Beatriz Costa e “o príncipe do teatro brasileiro”, Leopoldo Froes).
Entretanto, a Paramount não fez apenas versões múltiplas de filmes americanos, mas também muitos filmes originais, principalmente franceses e espanhóis. Nos filmes franceses trabalharam inúmeros atores e atrizes, que depois se tornariam grandes cartazes da tela: Arletty, Fernandel, Edwige Feuillière (com o nome de Cora Lynn), Pierre Fresnay, Jean Gabin, Raimu, Fernand Gravey, Louis Jouvet, Viviane Romance, Simone Simon, etc. Nos filmes espanhóis, a Paramount tinha como trunfo o carismático cantor de tangos Carlos Gardel, que empolgou o público em Luzes de Buenos Aires / Las Luces de Buenos Aires / 1931.
Após este êxito, o estúdio americano colocou Gardel ao lado da dançarina Império Argentina em duas comédias românticas Espera-me Coração / Espéra-me / 1932 e Melodia de Arrabal /Melodia de Arrabal / 1933. Quando a Paramount deixou Paris, mandou Gardel para seus estúdios Astoria, para fazer uma nova série de filmes espanhóis (O Amor Obriga / Cuesta Abajo / 1934, O Tango na Broadway / El Tango en Broadway / 1934, No dia que me Queiras / El Dia que me Quieres / 1935 e Tango Bar / Tango Bar / 1935.
Os executivos da empresa cinematográfica pensaram então em fazer filmes de língua inglesa com Gardel, tal como Maurice Chevalier havia feito. Se o seu inglês fosse aceitável, o popular cantor-ator teria um papel em Rumba / Rumba / 1935, ao lado de George Raft e Carole Lombard. Mas a trajetória artística de Gardel foi interrompida tragicamente. Ele veio a falecer, juntamente com dez músicos, num acidente de avião.