Arquivo diários:fevereiro 16, 2010

O HOMEM DAS MIL FACES

Lon Chaney ficou conhecido como “O Homem das Mil Faces” por sua incrível habilidade de se transformar nas mais estranhas criaturas, usando a maquilagem e a capacidade que ele tinha de contorcer seu corpo.

Às vezes ficava difícil reconhecê-lo em alguns disfarces como O Corcunda de Notre Dame ou O Fantasma da Ópera, dois de seus papéis mais famosos no tempo em que trabalhava para a Universal. “Não pise naquela aranha. Ela pode ser o Lon Chaney” era uma piada muito popular nos anos 20.

À medida em que sua carreira foi evoluindo, ele se sentiu cada vez mais atraído para interpretar dois tipos básicos de discriminados socialmente: o criminoso e o aleijado. Parece que ele se identificava profundamente com esses personagens e assim foi se perpetuando o conceito de que Chaney era um mero ator de filmes de horror ou um criador de monstros. Mas Chaney era mais do que isso.

Quando a gente vê os filmes que ele fez de “cara limpa” na fase de seu contrato com a MGM, é que percebemos que grande ator ele era. Nesta fase de seu percurso artístico eu acho que ele fez os seus dois melhores filmes, que são os meus preferidos: Os Fuzileiros / Tell it to the Marines / 1927 (Dir: George Hill) e O Monstro do Circo / The Unknown / 1927 (Dir: Tod Browning).

Os Fuzileiros

No primeiro Chaney faz o papel do Sargento O’Hara, um militar durão que tenta fazer com que seus recrutas sejam bons fuzileiros navais. Entre seus comandados está um rapaz muito prosa (William Haines), que resiste aos treinamentos e entra em conflito com O’Hara, ainda mais quando surge uma bela enfermeira (Eleanor Boardman), objeto da afeição dos dois. É um filme bem divertido com muita ação e um soberbo desempenho de Chaney. Aquí ele é O’Hara e não Lon Chaney.

O segundo tem uma trama de amor louco mais estranha do que qualquer outro filme que eu tenha visto. Nele Chaney é Alonzo, um criminoso procurado pela policia, que pode ser facilmente reconhecido, porque tem dois polegares numa das mãos. Ele se esconde num circo e usa uma camisa de força bem apertada, para que possa fingir que é um atirador de facas sem braço. Alonzo ama secretamente Nanon (Joan Crawford), a filha do dono do circo, mas a moça tem uma fobia: não suporta ser abraçada por um homem. Alonzo acredita que ela nunca poderá amá-lo enquanto ele tiver os braços e então chantageia um médico para amputá-los. Quando volta a ver Nanon, fica sabendo que ela superou a fobia e se apaixonou pelo Homem Forte do circo, Malabar (Norman Kerry).

Joan Crawford e Lon Chaney em O Monstro do Circo

Muito da efetividade do filme depende da caracterização de Chaney. Na cena em que Alonzo reencontra Nanon depois de ter amputado seus braços e ela lhe dá um beijo na face, Chaney interpreta o seu excitamento como amor, especialmente quando Nanon diz que está contente por ele ter voltado, para que ela possa se casar. Quando Nanon vai chamar Malabar, Chaney fica perplexo. Ao ver Malabar saudando-o, Chaney cerra os dentes e força um sorriso, quando ao perceber que Nanon está planejando se casar com Malabar e não com ele. Neste ponto Chaney começa a construir a sua intensidade emocional. Enquanto o Homem Forte envolve Nanon em seus braços, o rosto tenso de Chaney se contorce num sorriso louco. Quando Nanon lhe diz que não tem mais medo de abraços masculinos, os lábios de Alonzo começam a tremer na medida em que ele compreende que mutilou seu corpo por nada. Seu riso maníaco vai crescendo até chegar a um clímax impressionante. Ele parece que está chorando e rindo ao mesmo tempo.

Aí não temos mais dúvidas de que Lon Chaney era um ator único na História do Cinema. Jamais aparecerá outro igual a ele.

FRANÇOISE E MARTINE

Durante anos tentei encontrar cópias de Tormentos do Desejo / L’Épave / 1949 (Dir:Willy Rozier) e Os Amores de Carolina / Caroline Chérie / 1950 (Dir: Richard Pottier), respectivamente estrelados por Françoise Arnoul e Martine Carol, dois símbolos sexuais famosos nos anos 50, porque eu tinha a frustração de ter sido barrado na porta do cinema na época dos seus lançamentos, por ser menor de idade.

Naquele tempo não se via cenas de nudez nos filmes americanos e nós adolescentes, com a curiosidade natural desta fase da vida, ficávamos atentos para os filmes franceses, nos quais às vezes aparecia uma atriz com seio de fora. Esses dois filmes, segundo os seus “trailers” (curiosamente os menores de 18 anos não eram impedidos de ver os “trailers”, que passavam na semana anterior antes da projeção de um filme de censura livre) prometiam cenas bem quentes.

Francoise Arnoul

Há uns dois anos, um amigo me mandou os dois filmes, gravados da televisão francesa. Para surpresa minha, em Os Amores de Carolina não tinha uma cena sequer de nudismo de Martine Carol e em Tormentos do Desejo, François Arnoul aparecia despida da cintura para cima, porém não era ela, mas uma dublê, porque a atriz na ocasião ainda não tinha a maioridade pela lei francesa.

Tormentos do Desejo, cuja trama mostrava os amores tumultuados de um escafandrista com uma jovem prostituta, não tem nenhum mérito artístico. Os Amores de Carolina, adaptação de um romance histórico campeão de vendas é um bom filme, não só pela presença sensual de Martine Carol, mas também por causa das aventuras rocambolescas essencialmente galantes vividas pela sua personagem.

Martine Carol e Alfred Adam em Os Amores de Carolina

Finalmente, em 1952, ambas as atrizes apareceram como a gente esperava, Françoise agora com mais de 21 anos, mostrava um seio para Fernandel em O Fruto Proibido / Le Fruit Défendu (Dir: Henri Verneuil) e Martine deixava o público ver o seu de perfil dentro de uma banheira em forma de concha em Caprichos de uma Mulher / Un Caprice de Caroline Chérie (Dir: Jean Devaivre ).

O Fruto Proibido

Caprichos de Mulher

Felizmente no decorrer de suas carreiras tanto Françoise quanto Martine tiveram a chance de trabalhar com grandes diretores, que lhes deram papéis nos quais não tinham que tirar a roupa e extraíram delas atuações bastante competentes. Como exemplo, Martine estava muito bem em Esta Noite é Minha / Belles de Nuit / 1952 de René Clair e em Lola Montez / Lola Montez / 1954 de Max Ophuls e Françoise em French Can Can / French Can Can / 1954 de Jean Renoir e em Vidas sem Destino / Des Gens sans Importance / 1955 de Henri Verneuil.

Martine faleceu em 1967 de um ataque cardíaco aos 45 anos de idade. Françoise está viva com 79 anos e – como verifiquei em uma entrevista que ela concedeu para um canal a cabo faz pouco tempo – muito bem conservada, com aquele seu sorriso maravilhoso, a expressão no olhar que ainda é um convite ao pecado e o corpinho admiravelmente esbelto.