ANÁLISE DE SINDICATO DE LADRÕES / ON THE WATERFRONT / 1954 DE ELIA KAZAN

RESUMO DO ARGUMENTO

Terry Malloy (Marlon Brando) vagueia pelas docas de Nova York, fazendo pequenos serviços para Johnny Friendly (Lee J. Cobb), o desonesto chefão do sindicato local. Ele sonha com o mundo do boxe profissional, do qual participou por pouco tempo, enquanto cuida dos pombos que mantém no terraço do prédio onde mora. Certo dia, segue as ordens de Friendly e somente depois percebe que foi usado para atrair um homem à morte. Mais tarde, sente-se ainda mais perturbado, quando conhece Edie (Eva Marie Saint), a irmã do rapaz assassinado, por quem se apaixona. Sem saber do envolvimento de Terry, ela lhe pede ajuda para descobrir os responsáveis. Um deles, é Charley (Rod Steiger), irmão de Terry, advogado sem escrúpulos, que se tornou um simples capanga de Friendly. Terry se afasta deles, apoiado pelo Padre Barry (Karl Malden), um corajoso sacerdote do cais, que procura aliados contra a corrupção. Quando Friendly sabe da mudança de Terry, instrui Charley para que ele consiga o silêncio do rapaz. Como Charley não consegue cumprir a missão, Friendly manda matá-lo. Terry presta declarações à Comissão contra o Crime e, após um confronto brutal entre ele e Friendly, mesmo depois de ser espancado pelos asseclas deste, conduz heroicamente os estivadores para o trabalho, livres da exploração e do controle dos gângsteres.

Elia Kazan e Marlon brando

CONTÉUDO

O filme, em primeiro lugar, é uma transposição de fatos reais. O roteiro foi baseado numa série de reportagens, intitulada “Crime on the Waterfront”, premiada com o Pulitzer, feita em 1949 pelo jornalista Malcolm Johnson sobre a situação dos estivadores do porto de Nova York, explorados e atemorizados por uma quadrilha que dominava os sindicatos. O padre Barry do filme foi inspirado no padre John Corridan, que realmente existiu e prestou várias informações ao Kazan e ao roteirista Budd Schulberg.

O tema social aproxima Sindicato dos Ladrões dos filmes de tese que Kazan havia feito no final dos anos 40 como O Justiceiro / Boomerang, sobre erro judiciário, A Luz é Para Todos / Gentleman’s Agreement, sobre anti-semitismo, e O Que a Carne Herda / Pinky, sobre discriminação racial dos negros.

O roteirista Budd Schulberg, com base nos mesmos fatos, escreveu o romance intitulado “Waterfront”, que é mais fiel à realidade. O personagem central é o padre e não o jovem estivador e o desenlace é de um pessimismo completamente escamoteado no filme: o gângster denunciado continua à frente do sindicato, o padre é transferido para outra paróquia, após ter sido repreendido pelo bispo e, algumas semanas mais tarde, o corpo de Terry Malloy é encontrado numa lata de lixo, perfurado com 27 golpes de um pegador de gelo. Já o filme tem um final feliz de acordo com as regras impostas por Hollywood e nele os autores se interessaram menos pela denúncia social do que pelo drama de consciência do delator.

Marlon Brando e Eva Marie Saint

A ação do filme assemelha-se com a dos filmes de gângster, tem toda a iconografia do gênero; mas, além dessa aventura exterior e policial há uma Aventura Interior, que é a alma sobressaltada do jovem estivador, diante do dilema de delatar ou não a quadrilha da qual faz parte o seu próprio irmão e da qual e ele é ao mesmo tempo protegido e ingênuo comparsa. Enfim, mais do que um filme de gângster Sindicato de Ladrões é a Análise De Uma Consciência Que Desperta, daí a sua significação humana e cristã. Este é o primeiro tema do filme.

Lee J. Cobb e Brando

Aos poucos, duplamente influenciado pelo padre e pela moça que ama, Terry adquire a noção de um dever pessoal para com a coletividade, para com a justiça e com a verdade e, ao enfrentar com esforço sobrehumano a gangue sindical, ele se torna um mártir. Aquela caminhada final é sem dúvida uma via crucis, um calvário. Mas também por um desejo de vingança: ele fôra vendido pelos dois “pais”, o irmão mais velho (alguns anos antes Charley tinha manipulado o resultado da luta que afastara Terry dos ringues, provocando sua derrota) e o “meta-pai”, o Johnny Friendly (que de amigo não tinha nada). Numa das cenas memoráveis do filme, Terry pronuncia as frases que ficaram famosas, no seu jeito de falar, quase resmungando: “Eu poderia ter sido um lutador, em vez de um vagabundo. Que é o que eu sou”.

Rod Steiger e Marlon Brando

Uma originalidade do filme são os personagens da moça e do padre. O comportamento da moça (Edie) transgride uma das regras da moral social americana sempre ilustrada no cinema – em vez de se aproveitar da possibilidade de sucesso individual que lhe dá a instrução que recebeu, ela se volta para o seu meio humilde, chama a atenção do padre sobre a situação dos estivadores e até o recrimina, de forma brutal, dizendo-lhe: “O senhor fica na sua igreja enquanto sua paróquia é no cais”. É sem dúvida uma personagem pouco comum nas telas americanas na época em que o filme foi feito. O padre, por sua vez, é um padre também diferente do que o público estava acostumado a ver nos filmes americanos. É um padre moderno. Não prega a resignação e o amor ao trabalho qualquer que ele seja e se posiciona publicamente contra a opressão. “Aproveitar-se do trabalho dos outros para se enriquecer sem trabalhar é colocar de novo o Cristo na cruz”, diz o sacerdote a certa altura da trama. É um padre progressista ou operário, como dizem.

FORMA

O filme vale sobretudo, e por mais paradoxal que pareça, pelo seu lado teatral, isto é, pelas grandes confrontações de personagens, pela qualidade dos diálogos e pela interpretação. E aí nós temos o desempenho extraordinário de Marlon Brando, que aliás é mais do que uma interpretação, é uma verdadeira encarnação. É uma maravilha como ele transmite os gestos e o andar de um ex-boxeur, a maneira lenta de pensar e de falar. Ele fica como que procurando as palavras e titubeando, antes de pronunciá-las. Enfim, ele se identifica com o personagem confuso e iletrado, dando um exemplo perfeito de aplicação do método Stanislavski. É com uma sinceridade profunda que passa de fracassado a justiceiro.

Kazan sempre teve muita habilidade para conduzir atores e um dom especial para dramatizar o relacionamento entre os personagens. Temos dois exemplos marcantes na cena do taxi, quando Terry conversa com o irmão e naquela outra cena em que faz um convite tímido e embaraçado à moça para tomar uma cerveja. E a idéia de botar Rod Steiger como irmão de Brando foi um achado genial, porque Steiger usava os maneirismos de Brando. De modo que assim os dois ficaram bem parecidos.

Karl Malden, Brando e Eva Marie Saint

Podemos perceber também no filme algumas metáforas: 1. O símbolo dos pombos. Talvez eles queiram simbolizar a liberdade, ou a gentileza interior do Terry ou mesmo a traição (stool pigeon, ou seja, delator em inglês); 2. A metáfora arquitetônica daquele portão de aço que se fecha no final, significando talvez que as docas são uma prisão, ou que a luta estava apenas começando. Digo talvez, porque são meras suposições do crítico; 3. E há aquele objeto simbólico da jaqueta, que passa deum morto para outro, um prenúncio de uma provável morte do Terry.

O filme se passa grande parte em cenários naturais fotografados por Boris Kaufman, irmão do famoso Dziga Vertov. Filmar em pleno inverno, com neve de verdade, foi um grande desafio para o cinegrafista. A foto é rica em contrastes, reforçando o sentido trágico do filme. Já a música de Leonard Bernstein alterna estridência e ternura. Os ruídos criam o ambiente portuário, mas há também o uso do som como contraponto. Por exemplo: na cena em que Terry conta tudo a Edie, ouve-se o barulho estridente dos ruídos do cais.

Brando e seu Oscar

O filme recebeu oito prêmios da Academia:  Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Marlon Brando), Melhor Atriz Coadjuvante (Eva Marie Saint), Melhor Fotografia em preto-e-branco (Boris Kaufman), Melhor História e Roteiro (Budd Schulberg), Melhor Montagem (Gene Milford), Melhor Direção de Arte em preto-e-branco (Richard Day), tendo indicados Rod Steiger, Karl Malden e Leornard Bernstein.

CINEMATOGRAFIA BRITÂNICA

A conquista notável da cinematografia britânica tem sido consideravelmente reconhecida pelo simples número de prêmios internacionais ganhos pelos cinegrafistas britânicos incluindo mais de vinte Oscar a partir de 1940 em diante.

O potencial artístico da cinematografia começou a ser seriamente explorado no cinema britânico durante o período silencioso, principalmente devido ao número crescente de técnicos continentais de primeira-classe trabalhando nos estúdios britânicos como consequência de políticas de produção pan-européia. Esta tendência continuou na era do som com uma quantidade de emigrados ilustres tais como Georges Périnal, Gunther Krampf, Otto Kanturek e Mutz Greenbaum (também conhecido como Max Greene) dominando a cena. Apesar da excelência de seu trabalho, esta presença estrangeira foi ressentida em certas áreas por ameaçar as oportunidades para os cinegrafistas britânicos. Somente Freddie Young e Bernard Knowles fotogravam regularmente as grandes produções.

Porém esta situação logo mudou com a chegada da Segunda Guerra Mundial quando restrições sobre o trabalho estrangeiro permitiram que uma nova geração de talento nativo emergisse em um momento que é geralmente considerado como uma “idade de ouro” sem precedentes de realização criativa no cinema britânico.

Cena de Na Solidão da Noite

Cena de Condenado

Cena de O Terceiro Homem

Apesar de uma associação como o sóbrio realismo documentário, os anos quarenta são igualmente marcados por uma herança continentalmente expressionista que inspirou claramente jovens cinegrafistas como Erwin Hiller, Douglas Slocombe, Guy Green e Robert Krasker. Consequentemente seu trabalho envolve um estilo de iluminação low key (chave-baixa) preto-e-branco altamente contrastado exemplificado por filmes como Um Conto de Canterbury / A Canterbury Tale / 1944, Na Solidão da Noite / Dead of Night / 1945, Grandes Esperanças / Great Expectations / 1946, Condenado / Odd Man Out / 1947, Oliver Twist / Oliver Twist / 1948 e O Terceiro Homem / The Third Man / 1949.

Cena de As Quatro Penas Brancas

O Technicolor também começou a deixar sua marca, tendo chegado à Grã-Bretanha em 1936.  As primeiras produções em cores de antes da guerra como Idílio Cigano / Wings of the Morning / 1937, A Legião da Índia / The Drum / 1938, As Quatro Penas Brancas / The Four Feathers / 1939 e O Ladrão de Bagdad / The Thief of Bagdad / 1940 tenderam para uma celebração de paisagens exóticas, façanhas imperiais e fantasia.

Cena de Neste Mundo e no Outro

Cena de Narciso Negro

Cena de Os Sapatinhos Vermelhos

Porém o Technicolor Britânico alcançou novas alturas depois da guerra principalmente através da inovação e arte de Jack Cardiff, cuja fotografia em filmes como Neste Mundo e no Outro / A Matter of Life and Death / 1946, Narciso Negro / Black Narcissus / 1947 e Os Sapatinhos Vermelhos / The Red Shoes / 1948 é mais diferenciada pelo uso sutil de iluminação colorida e filtros e pelo claro-escuro sensível do que a de seus extravagantes antecessores.

Outros cinegrafistas como Freddie Young, Robert Krasker, Guy Green e Douglas Slocombe também começaram a trabalhar com a cor, aplicando as técnicas de iluminação utilizadas em preto-e-branco para criar maior profundidade e atmosfera na imagem, enquanto estagiários do Technicolor como Christopher Challis e Geoffrey Unsworth também começaram a iluminar filmes de longa-metragem. Nos anos cinquenta foram realizadas várias experiências para suavizar os tons vibrantes do Technicolor, Entre elas as mais interessantes foram as fotografias de Oswald Morris em Moulin Rouge / Moulin Rouge / 1953 e Moby Dick / Moby Dick / 1956.

Cena de Moby Dick

Os anos cinquenta testemunharam a emergência gradual de uma nova abordagem do Realismo envolvendo um uso maior de filmagens em locação, câmeras na mão e luz natural iniciada por técnicos como Morris, Gilbert Taylor e Freddie Francis em filmes como Um Amante sob Medida / Knave of Hearts / 1954, Uma Sombra em Sua Vida / Woman in a Dressing Gown / 1957 e Tudo Começou Num Sábado / Saturday Night and Sunday Morning / 1960.Mas o grande avanço veio com Walter Lassaly, um cinegrafista cuja sensibilidade foi aprimorada trabalhando regularmente tanto em filmes de longa-metragem como em documentários. Seu estilo cinéma verité (cinema verdade) intimista e fluente em Um Gosto de Mel / A Taste of Honey / 1961, The Loneliness of the Long Distance Runner / 1962 e até o período de produção em cores de As Aventuras de Tom Jones / Tom Jones / 1963, constituem uma resposta britânica à Nouvelle Vague Francesa. Outros cinegrafistas treinados no Documentário começaram a trabalhar em filmes de longa-metragem, inclusive Billy Williams e David Watkin, e sua preferência por soft light (luz suave) continuou o afastamento dos duros contastes das décadas anteriores.

Cena de Um Gosto de mel

Os anos sessenta foram outro período inovador com muitos cinegrafistas britânicos operando cada vez mais em uma arena internacional. O veterano Freddie Young ganhou três Oscar por seu trabalho nas produções épicas Lawrence da Arábia / Lawrence of Arabia / 1962, Doutor Jivago / Dr. Zhivago / 1965 e A Filha de Ryan / Ryan’s Daughter / 1970. Outros como Morris, Krasker, Slocombre, Unsworth, Challis, Heller, Jack Hildyard, Ted Moore, Gerry Fisher, Nicolas Roeg, John Alcott produziram uma série de excelentes trabalhos tanto em preto-e-branco como em cores, em uma variedade de gêneros, por toda a década e nos anos setenta. O fim dos velhos estúdios havia criado uma necessidade de novas formas de treinamento e cinegrafistas de longas-metragens começaram a emergir em uma variedade de áreas incluindo documentário, publicidade, televisão e as novas escolas de cinema, lideradas por gente como Chris Menges, Peter Suschitzky, Peter Biziou, Roger Deakins, Ian Wilson and Roger Pratt que se consagraram nos anos oitenta.

Cena de Lawrence da Arábia

Cena de A Filha de Ryan

Quando os filmes mais sensíveis à luz e um equipamento mais leve aumentaram as possibilidades de filmagem sob uma variedade de condições de iluminação os cinegrafistas foram obrigados a ser cada vez mais flexíveis e adaptáveis, particularmente nas filmagens em locação. Porém a arte de pintar com a luz possibilitada pela tela preta de um set de filmagem num estúdio escuro, um ambiente que tem que ser literalmente trazido à vida com luz, não desapareceu totalmente: uma série de cinegrafistas talentosos como Alex Thomson e Brian Tufano continuaram a demonstrar o tipo de sensibilidade e habilidade que fez a reputação da Cinematografia Britânica internacionalmente renomada.

AS MULHERES FATAIS DOS FILMES NOIRS

A mulher fatal que leva os homens para a sua destruição moral e algumas vezes à morte não é uma invenção ou exclusividade do filme noir, mas a personagem alcançou sua maturidade artística neste subgênero do drama criminal.

As raízes da mulher fatal do filme noir baseiam-se nas vamps do filme silencioso, Theda Bara e outras, assim como nas personagens de Marlene Dietrich nos melodramas de Josef von Sternberg dos anos trinta.

Mary Astor e Humphrey Bogart em Relíquia Macabra

Joan Bennett e Edward G. Robinson em Um Retrato de Mulher

Fred MacMurray e Barbara Stanwyck em Pacto de Sangue

A mulher fatal noir fez aparições marcantes no início, interpretadas por Mary Astor como Brigid O’Shaughnessy em Relíquia Macabra / The Maltese Falcon / 1941 (Dir: John Huston), por Joan Bennett como Alice Reed em Um Retrato de Mulher / Woman in the Window / 1944 de Fritz Lang e Barbara Stanwyck como Phyllis Dietrichson em Pacto de Sangue / Double Indemnity / 1944 de Billy Wilder. Estes papéis estabeleceram os padrões para todas as mulheres fatais vilãs que se seguiram e Bennet e Stanwyck interpretariam variações desses primeiros papéis em filmes posteriores: Bennett como Kitty March em Almas Perversas / Scarlet Street / 1945 (Dir: Fritz Lang) e Stanwyck como Martha Ivers em O Tempo Não Apaga / The Strange Love of Martha Ivers / 1946 (Dir: Lewis Milestone). Igualmente importante foi a performance de Lana Turner como Cora Smith em O Destino Bate à Porta / The Postman Always Rings Twice / 1946 (Dir: Tay Garnett) que, tal como Pacto de Sangue, foi baseado em um romance de James M. Cain.

John Garfield e Lana Turner em O Destino Bate à Porta

Outras mulheres fatais foram Ava Gardner como Kitty Collins em Assassinos / The Killers / 1946 (Dir: Robert Sidmak); Jane Greer como Kathie Moffett em Fuga ao Passado / Out of the Past / 1947 (Dir: Jacques Tourneur); Rita Hayworth como Elsa Bannister em A Dama de Shanghai / The Lady from Shanghai / 1948 (Dir: Orson Welles); Gloria Grahame como Vicki Buckley em Desejo Humano / Human Desire / 1954 (Dir: Fritz Lang); Marie Windsor como Sherry Peatty em O Grande Golpe /   The Killing / 1956 (Dir: Stanley Kubrick) etc.

Jane Greer e Robert Mitchum em Fuga ao Passado

Ava Gardner e Burt Lancaster em Assassinos

Orson Welles e Rita Hayworth em A Dama de Shanghai

Três das mais famosas mulheres fatais servem como exemplos ideais. Phyllis Dietrichson (Barbara Stanwyck) em Pacto de Sangue, primeiro atrai o corretor sem caráter Walter Neff (Fred MacMurray), depois o convence a matar seu marido e no final dá um tiro nele. Kathie Moffett (Jane Greer) em Fuga ao Passado, fascina o detetive Jeff Bailey (Robert Mitchum) e depois o induz a trair seu cliente gângster para que (sem conhecimento de Bailey) ela possa escapar com quarenta mil dólares. Três anos depois, Kathie aparece novamente, trai Bailey mais uma vez e finalmente o mata. Kitty Collins (Ava Gardner) em Assassinos, encanta de tal modo o Sueco (Burt Lancaster), que ele primeiro vai para. a cadeia para impedir que a moça seja presa. Dois anos depois, envolve-se em um assalto por causa de Kitty, apenas para ser traído por ela, deixando-o sem nenhum dinheiro e a culpa pela traição de Kitty de todo o bando de ladrões. O Sueco fica tão abatido por causa de Kitty que, seis anos mais tarde, aguarda, em uma aceitação passiva, ser perseguido por dois pistoleiros de aluguel e assassinado.

Barbara Stanwyck em A Confissão de Thelma

Barbara Stanwyck vive outra mulher fatal em A Confissão de Thelma / The File on Thelma Jordon / 1950 (Dir: Robert Siodmak). Ela mata sua tia quando esta a surpreendeu-a roubando suas jóias e destrói a vida de um assistente de promotoria até então íntegro, que faz uma acusação propositadamente inepta, conseguindo absolvê-la. Mas não é tão fria como a Phyllis Dietrichson que interpretou em Pacto de Sangue. Age impulsivamente, sem o cerebralismo da personagem de James M. Cain.

Ann Savage e Tom Neal em Curva do Destino

Umas das mulheres fatais mais perversas é a predatória Vera (Ann Savage) de Curva do Destino / Detour / 1945, produção modesta da PRC (Producers Releasing Company) dirigida por Edgar G. Ulmer. Neste filme o protagonista, Al Roberts (Tom Neal), sofre as artimanhas desta mulher traiçoeira, de quem o destino o aproximou e por causa dela se vê envolvido em duas mortes e termina preso por um assassinato que não cometeu.

Lizabeth Scott e Dan Duryea em Lágrimas Tardias

Em Lágrimas Tardias / Too Late for Tears / 1949 (Dir: Byron Haskin) encontramos outra femme-fatale, Jane Palmer, personificada por Lizabeth Scott. O filme gira em torno da protagonista feminina, levada à degradação e ao crime pela sua cupidez. No relato Alan Palmer (Arthur Kennedy) e sua esposa Jane encontram dentro de seu conversível uma maleta cheia de dinheiro. Jane recebe a visita de um escroque Danny Fuller (Dan Duryea), que reclama o dinheiro, na realidade fruto de uma chantagem. Depois ela mata Alan e comunica à polícia e à irmã de Alan, Kathy (Kristine Miller), o desaparecimento do marido. Um estranho chega ao apartamento de Jane, apresentando-se como amigo de Alan. Na verdade, ele é Don Blake (DonDeFore), o irmão do primeiro marido de Jane, que se suicidou por causa dela.

Para conservar os sessenta mil dólares, que por engano foram jogados no seu carro, Jane é capaz de tudo, espantando até o traquejado chantagista pela sua frieza. Danny tem que se embebedar para ter coragem de ajudá-la nos seus planos enquanto ela o envenena sem a menor piedade, mesmo depois de tê-lo beijado várias vezes.

Faith Domergue e Robert Mitchum em Trágico Destino

Em Trágico Destino, após tentar o suicídio, Margo Lannington  (Faith Domergue) é atendida pelo médico Jeff Cameron (Robert Mitchum). Ela diz que seu pai, o milionário Frederick Lannington, (Claude Rains) pretende levá-la para Nassau. Apaixonado, Jeff decide ir à sua casa para dizer ao pai dela que a ama e fica sabendo da verdade: Frederick não é pai, mas sim marido. Jeff sai furioso e Frederick bate em Margo. Ao ouvir os gritos de Margo, ,Jeff sai furioso e Frederick golpeia-o na cabeça com um atiçador, porém Jeff ainda consegue atingí-lo com um soco, deixando-o desacordado. Enquanto Jeff vai ao banheiro molhar um pouco a nuca,Margo mata Frederick, sufocando-o com um travesseiro. Jeff desmaia de dor. Quando volta a si, pensa que foi ele quem matou Frederick.

Robert Mitchum e Jean Simmons em Alma em Pânico

Em Alma em Pânico / Angel Face / 1953 (Dir: Otto Preminger) o chofer de ambulância, Frank Jessup (Robert Mitchum) salva uma senhora rica, Mrs. Tremayne (Barbara O’Neil), de morrer asfixiada por gás e é contratado como motorista particular da família. Frank apaixona-se por Diane (Jean Simmons), a enteada de Mrs.Tremayne, que odeia a madrasta. A jovem planeja um acidente, ocasionando a morte da madastra e também de seu pai, que estava no carro sem que ela soubesse. No essencial, o relato de assemelha com o de Trágico Destino, no qual um médico é envolvido com uma mulher desequilibrada e assassina.

Lizabeth Scott e Humphrey Bogart em Confissão

Em Confissão / Dead Reckoning / 1947 (Dir: John Cromwell) Coral Chandler (Lizabeth Scott), com sua aparência frágil e lágrimas falsas, ilude o ex-paraquedista Rip Murdock (Humphrey Bogart) e os espectadores e, somente no final, se apresenta como uma traiçoeira e perigosa mulher fatal.

Claire Treevor e Lawrence Tierney em Nascido para Matar

Em Nascido para Matar / Born to Kill / 1947 (Dir: Robert Wise) na noite em que está saindo de Reno depois de obter seu divórcio, Helen Trent (Claire Trevor) encontra os corpos de dois sujeitos na pensão de Mrs. Kraft (Esther Howard) onde reside; mas não avisa a polícia. No trem que a leva para San Francisco, conhece Sam Wild (Lawrence Tierney) o assassino, e sente forte atração por ele. Sam segue Helen até a casa de sua irmã adotiva Georgia Staples (Audrey Long) e volta sua atenção para para Georgia, herdeira do maior jornal da cidade. Sam e Georgia se casam. Helen é mercenária (“Toda a minha vida dependi do dinheiro dos outros. Agora quero ter algum só para mim”), traiçoeira (ela entrega Sam à polícia, para poder explorar Georgia) e insensível (“Você é a mulher iceberg mais fria que vi em toda a minha vida”, lhe diz Mrs. Kraft).

A mulher fatal deve inevitavelmente morrer – ou, no mínimo, ficar mortalmente ferida ou ser presa pelos seus crimes. São criaturas agressivas e sensuais, que levam os homens à destruição moral, e algumas vezes à morte, mas acabam sempre punidas, vítimas de suas próprias ciladas. Exemplos: Helen em Nascido para Matar; Phyllis em Pacto de Sangue; Thelma em A Confissão de Thelma, Elsa em A Dama de Shanghai, Kathie em Fuga ao Passado, Cora em O Destino Bate à Porta etc. e não posso deixar de citar a morte mais estranha de todas, a de Vera em Curva do Destino: depois de uma discussão violenta com Roberts, o homem que ela chantageia, tornando-o um  escravo em potencial, Vera se refugia num quarto, levando o telefone, e cai na cama bêbada, com o fio enrolado no pescoço. Roberts puxa o fio do outro lado da porta e, inadvertidamente, estrangula Vera.

O poder da mulher fatal é tão grande que o herói também tem poucas chances de sobreviver.  E quando consegue, acaba sempre como um homem alquebrado. Al Roberts, o protagonista de Curva do Destino, ao comentar seu infortúnio, raciocina: “Algum dia o destino ou alguma força misteriosa pode apontar o dedo, para você ou para mim sem nenhum bom motivo para isso … Para qualquer lado que você se mova, o destino estica a perna para lhe dar uma rasteira.”

A reflexão de Roberts dá bem uma idéia da emoção básica do protagonista noir, de como ele se sente incapaz de descobrir ou controlar as causas do seu infortúnio.

BEN HECHT

Ele foi o mais prolífico e requisitado dos roteiristas de Hollywood durante os anos trinta e quarenta, trabalhando em uma variedade de gêneros e com diretores notáveis como Howard Hawks, Alfred Hitchcock, William Wyler e outros.

Ben Hecht

Hecht ganhou destaque como roteirista com a história de gângster que eu origem ao filme Paixão e Sangue / Underworld / 1927 (Dir: Josef von Sternberg). Ele aprimorou o desenvolvimento do gênero com seu script para o clássico de Howard Hawks Scarface: A Vergonha de uma Nação / Scarface / 1932.Os elementos para estes filmes e outros, mais impressionantemente Última Hora / The Front Page / 1931(Dir: Lewis Milestone) pode ser rastreado até seus dias de jornalista em Chicago.

Cena de Paixão e Sangue

Cena de Scarface

Hecht (1893-1964) nasceu em Nova York, filho de imigrantes judeus do Sul da Rússia e foi criado em Racine, Wisconsin, onde começou a mostrar promessa como violinista aos dez anos de idade. Aos doze anos de idade ele foi acrobata de circo por um breve período de tempo e aos dezesseis anos fugiu para Chicago, onde, ao dezessete, começou sua carreira de escritor como repórter criminal no Chicago Journal. Como repórter, recebeu uma educação completa sobre o lado mais sórdido da natureza humana. Ele relatou os pontos fracos da polícia, políticos e gângsteres num estilo pitoresco e cínico – um estilo que mais tarde surgiria nos seus roteiros. Em 1919, aos vinte e cinco anos de idade foi correspondente de vários jornais na Alemanha e União Soviética.

Durante o período inicial em Chicago, Hecht estava desenvolvendo também suas habilidades como romancista e dramaturgo. Em1922 havia publicado os dois primeiros de seus vários romances, “Erik Dorn” e “Gargoyles”. Estava também envolvido na vida boêmia da cidade. Charles MacArthur, um colega repórter, e Hecht se uniram e trabalharam em Nova York como dramaturgos bem-sucedidos. Suas peças “The Front Page” e “Twentieth Century” foram sucessos de crítica e financeiro e ambas iriam se tornar grandes filmes.

A Primeira Página 1931

The Front Page 1940

The Front Page 1974

Houve três versões de “The Front Page”. Lewis Milestone dirigiu a primeira versão em 1931. Howard Hawks viu o filme como uma história de amor e mudou o sexo do repórter Hildy Johson (Pat O´Brien), de um homem para uma mulher (Rosalind Russell) em Jejum de Amor / His Girl Friday 1940.  A versão mais recente de Billy Wilder em 1974, aqui intitulada A Primeira Página, com Jack Lemmon como Hildy, foi a adaptação mais fiel da peça original. Suprema Conquista / Twentieth Century / 1934, também dirigido por Howard Hawks e estrelado por John Barrymore e Carole Lombard, tornou-se o protótipo para a screwball comedy – um gênero popular nos anos trinta.

A colaboração entre Hecht e Mac Arthur foi lendária em Hollywood bastando citar sua parceria em Duas Almas se Encontram / Barbary Coast / 1935 de Howard Hawks e O Morro dos Ventos Uivantes / Wuthering Heights / 1939 de William Wyler.

Devido ao seu sucesso como roteiristas, a Paramount lhes concedeu um contrato para quatro filmes, que lhe garantia controle completo sobre seu trabalho. Entre 1934 e 1936, Hecht e MacArthur assumiram o Paramount Studios em Astoria, Long Island, e produziram e dirigiram seus próprios filmes. Todos os quatro filmes foram fracassos financeiros, logo pondo um fim na sua experiência em autonomia artística. Dos quatro filmes, somente Crime Sem Paixão / Crime Without Passion / 1934 e The Scoundrel / 1935 foram bem recebidos pelos críticos.

Hecht dirigiu uma série de filmes sozinho (v.g. O Espectro da Rosa / Specter of the Rose / 1946) ou com outros colaboradores como o fotografo Lee Garmes (v. g. Anjos da Broadway / Angels over Broadway / 1940); Bastidores e Pecadores / Actors and SIn / 1952); mas sua contribuição para o Cinema Americano como diretor foi dificilmente comparável à influência que ele exerceu como roteirista.

O mais interessante e o mais pessoal, O Espectro da Rosa, melodrama muito sombrio, com um clima estranho de paixão, se desenrola no mundo do balé. O produtor teatral Max “Poli” Polikoff (Michael Chekvov) visita a instrutora de balé Madame La Sylph (Judith Anderson) para expor seu desejo de encenar um novo espetáculo estrelado por Andre Sanine (Ivan Kirov), dançarino brilhante que foi aluno de La Sylph. Sanine não dança desde a morte de sua esposa Nina no palco sete anos antes. O detetive da polícia Specs McFarlan (Charles Marshall) suspeita que o mentalmente instável Sanine assassinou Nina, embora La Sylph durante mêses estivesse tentando minimizar as proclamações do próprio Sanine de que matou sua mulher. O médico legista declarou que Nina morreu de um ataque cardíaco e a jovem bailarina Haidi (Viola Essen) ajudou a restaurar a saúde de Sanine para que ele próprio fosse capaz de refutar a acusação de McFarlan. Sanine admitiu que costumava ter alucinações ao ouvir a música de “O Espectro da Rosa”, o balé que ele e Nina estavam dançando na noite em que esta morreu, mas que agora está curado. O poeta Lionel Gans (Lionel Stander), apaixonado por Haidi, ressente-se da atenção que ela dá para Sanine e encoraja a polícia a continuar investigando-o. Sanine fica entusiasmado com a idéia de Poli de encenar uma nova produção do “Espectro da Rosa” e inicia os ensaios com Haidi. Os bailarinos rapidamente se apaixonam e logo se casam, para consternação de ambos LaSylph e Gans. Enquanto os ensaios começam, Sanine começa a manifestar sinais de estresse, e La Sylph se preocupa que ele esteja tendo alucinações, durante as quais imagina que a personagem de Rose o dominou e que ele deve matar sua parceira. Uma tarde, La Sylph confidencia a Haidi que na noite da morte de Nina, ela o viu atacando Nina. La Sylph cobriu as feridas de Nina com graxa e limpou o sangue, mas Nina morreu das consequências do ataque enquanto dansava.  Haidi se recusa a acreditar que Santine poderia machucá-la, mas a noite de estréia logo chega. Santine ataca Haidi com uma faca antes da cortina se levantar, mas ela cobre seus pequenos ferimentos e o casal é um sucesso.  O espetáculo sai em turnê e tudo parece estar correndo bem até uma noite em que Poli e La Sylph ficam preocupados quando Sanine e Haidi não aparecem no teatro. Ao questionarem o pianista, ficam sabendo que Haidi levou Sanine embora para   um hotel quando ele parecia ter ficado completamente louco. No hotel, Haidi passou três dias e noites acordada, cuidando de seu esposo na esperança de que se ele se curasse, não seria levado para ficar por longo tempo num hospital ou preso. Exausta, Haidi finalmente adormece e o “Espectro da Rosa” provoca Sanine a pegar sua faca e começar sua dança frenética. Pensando que Haidi é Nina, que ele odiava, Sanine dança como sua faca na garganta dela, mas lembranças das palavras de amor de Haidi fazem com que ele se desarme. Sabendo que vai matar Haidi, se não se matar primeiro, Sanine pula da janela para a morte.

Nijinsky e Tamara Karsavina

O balé que inspirou o filme era sobre uma jovem que sonhava dançar com o espírito de uma rosa, lembrança do seu primeiro baile. Produzido pela Companhia Ballets Russes em 1911, com coreografia de Michel Fukine, Nijinsky dançando a Rosa, e Tamara Karsavina dançando a jovem, tornou-se internacionalmente famoso pelo salto espetacular pela janela que ele dava no final.

A filmografia de Ben Hecht é muito extensa, de modo que vou citar apenas mais alguns filmes que usufruiram de sua colaboração, conjuntamente ou não com outros parceiros: Gunga Din / Gunga Din / 1939, Seis Destinos / Tales of Manhattan / 1942 (Dir: Julien Duvivier), O Cisne Negro / The Black Swan /1942 (Dir: Henry King), Quando Fala o Coração / Spellbound / 1945 e Interlúdio / Notorious / 1946 (ambos dirigidos por Alfred Hitchcock), O Beijo da Morte / Kiss of Death /1947 (Dir: Henry Hathaway), Do Lodo Brotou uma Flor / Ride the Pink Horse / 1947(Dir: Robert Montgomery), Passos na Noite / Where the Sidewalk Ends / 1950 (Dir: Otto Preminger), A Um Passo da Morte / The Indian Fighter (Dir: André De Toth) / 1955 etc.

Ele recebeu o Oscar de Melhor História Original por Paixão e Sangue e outro (este conjuntamente como Charles MacArthur) por The Scoundrel. No final dos anos quarenta foi boicotado pelos exibidores ingleses por sua crítica franca da política britânica na Palestina e seu apoio ativo ao movimento de resistência judaico. Hecht continuou escrevendo para a tela até o último dia de sua vida. Faleceu enquanto trabalhava no script de Cassino Royale / Casino Royale / 1967.

 

 

Miklos Rozsa

Nicholas Rozsa (1907-1995) nasceu em Budapest, Hungria, filho de Regina (cujo nome de nascença era Berkovits) e Gyula Rozsa, ambos de origem judaica. O pai de Gyula, Moritz Rosenberg, mudou o sobrenome para Rozsa em 1887. Nicholas estudou violino com seu tio, Lajos Berkovits e depois viola e piano. Frequentou escolas secundárias em Budapest e, em 1925, matriculou-se na Universidade de Leipzig na Alemanha, aparentemente para estudar química a mando de seu pai. Porém, determinado a se tornar um compositor, transferiu-se para o Conservatório no ano seguinte, onde estudou com Hermann Grabner.

Miklos Rozsa

Sua extensa carreira de compositor pode ser dividida em uma série de períodos distintos baseados em associações com certos estúdios ou gêneros. No entanto, apesar da diversidade de seu trabalho as partituras de Rózsa têm um estilo e consistência facilmente identificáveis.

O primeiro período de Rozsa começou com sua associação com os Korda (Alexander, Zoltan e Vincent), para quem compôs as partituras de uma série de grandes produções de época e fantasia tais como O Ladrão de Bagdad / The Thief of Bagdad / 1940 e Mogli, o Menino Lobo / The Jungle Book / 1942, ambos com o jovem ator indiano Sabu Dastagir, que depois se tornou cidadão americano.

O trabalho com os Korda resultou na migração de Rozsa para Hollywood, onde um contrato com a Paramount levou a uma associação com Billy Wilder. O score de Rozsa para o filme de Wilder Cinco Covas no Egito / Five Graves to Cairo / 1943 serviu para preencher o intervalo entre seu trabalho em filmes centrados em torno de locais exóticos e sua mudança para melodramas psicológicos mais sérios. Rozsa tornou-se um contribuinte eminente para a ascenção do estilo noir com seu trabalho para os filmes de Wilder Pacto de Sangue / Double Identity / 1944 e Farrapo Humano / The Lost Weekend / 1945.

Farrapo Humano também introduziu o theremin (teremim), para fornecer um acompanhamento lamentoso para o estado de delírio alcoólico do protagonista e este instrumento eletrônico tornou-se um preferido para temas psicológicos, empregado por Rozsa também em A Casa Vermelha / The Red House / 1947 e em Quando Fala o Coração / Spellbound / 1947 de Alfred Hitchcock. As partituras de Assassinos / The Killers / 1946, Brutalidade / Brute Force / 1947 e Cidade Nua / The Naked City / 1948 frutos da associação de Rozsa com o produtor Mark Hellinger também se encaixam neste período de psicológico contemporâneo.

A assinatura de um contrato com a MGM no final dos anos quarenta levou ao período de seu trabalho em filmes históricos e religiosos que continuou por mais de uma década. Em vez de ser considerado um passo atrás para o período Korda, os scores de Rozsa para a MGM podem ser vistos como uma espécie de progressão para um estilo reconhecível, combinando o exotismo dos scores de Korda com o forte impulso emocional do período do filme noir. Os scores também lhe deram a oportunidade de mergulhar na antiguidade musical, buscando um realismo no acompanhamento musical de obras como Quo Vadis / Quo Vadis / 1951, Ivanhoé, o Vingador do Rei / Ivanhoe / 1952, Ben-Hur / Ben-Hur / 1959 e El Cid / El Cid / 1961. Consequentemente os scores são caracterizados por uma série de fanfarras, marchas e danças tecidas em uma tapeçaria orquestral ricamente texturizada. O trabalho de Rozsa para estes épicos muitas vezes inclui passagens corais ascendentes combinadas com orquestra para causar forte impacto emocional. Apesar de Rozsa ter sido estereotipado como compositor de tais scores, o período MGM também proporcionou oportunidades para temas mais contemporâneos bem como para experimentação, como a combinação de romantismo e impressionismo propiciada para Sede de Viver / Lust fo Life / 1956.

Com a maior ênfase dada aos estilos modernos populares nos anos sessenta, Rozsa se tornou menos ativo em filmes e voltou sua atenção cada vez mais para obras de concerto. Seu famoso Violin Concerto, encomendado por Jascha Heifetz, serviu de inspiração para A Vida Íntima de Sherlock Holmes / The Private Life of Sherlock Holmes / 1970 de Billy Wilder e ocasionou a reunião de Rozsa com este diretor. Para o filme de Holmes Rozsa reorganizou e variou os temas principais do concerto bem como forneceu novo material, e o estilo deliberadamente nostálgico do filme e da trilha sonora foram repetidos em Fedora / Fedora / 1978, no qual a reflexão de Wilder sobre o fim da Idade de Ouro de Hollywood correspondeu ao acompanhamento manifestamente sinfônico de Rozsa.

O período mais recente de Rozsa na composição de música para filmes é caracterizado não pela identificação com um estúdio ou gênero específico, mas por um estilo musical distinto, que tem sido aplicado a uma ampla série de assuntos. Os Poderosos / The Power / 1968, por exemplo, contém um tema difícil tocado em um címbalo que depois é modificado para uma apresentação mais convencional por instrumentos de corda, inclusive um arranjo cigano florido para um solo de violino.

Entre outras trilhas músicais de Rozsa constam A Filha da Pecadora / Desert Fury / 1947, A Sedutora Madame Bovary / Madame Bovary / 1949, Baixeza / Criss Cross / 1949, Segredo da Jóias / The Asphalt Jungle / 1950, Júlio César / Julius Caesar / 1953, Os Cavaleiros da Távola Redonda / Knights of the Round Table / 1953, O Tesouro do Barba Rubra / Moonfleeet / 1955, A Encruzilhada dos Destinos / Bhowani Junction / 1956, O Rei dos Reis / King of Kings / 1961, O Buraco da Agulha / Eye of the Needle / 1981 etc. A última partitura de Rozsa foi para Cliente Morto Não Paga / Dead Men Don’t Wear Plaid /1982, homenagem cômica aos filmes noirs dos anos quarenta, gênero para o qual ele próprio compôs scores.

Rozsa recebendo de Gene Kelly seu Oscar por Ben-Hur

Rozsa ganhou o Oscar de Melhor Música em Quando Fala o Coração / Spellbound / 1945; Fatalidade / A Double Life / 1947 e Ben-Hur / Ben-Hur / 1959.

ALAN LADD NOS FILMES NOIRS

Após uma década no cinema, principalmente em pequenos papéis (por exemplo, em aparição não creditada como um repórter fumando cachimbo em Cidadão Kane / Citizen Kane / 1941), ele atingiu o estrelato como um assassino profissional no filme noir Alma Torturada / This Gun for Hire / 1942. Apesar de sua pequena estatura, Ladd projetava uma imagem de tenacidade e independência e seu rosto impassível era perfeitamente adequado para o subgênero do drama criminal em desenvolvimento nos meados dos anos quarenta.

Alan Ladd e Veronica Lake em Alma Torturada

Apesar da propaganda patriótica (segundo consta, inserida na última hora em face do ataque a Pearl Harbor), Alma Torturada pode, com boa vontade, ser considerado um filme noir puro, por causa do protagonista alienado, estóico e autodestrutivo, pela fotografia expressionista de John Seitz e porque parece mais um thriller de mistério do que de espionagem.

O filme tem como figura principal Philip Raven (Alan Ladd), um jovem assassino psicótico, contratado em San Francisco por Willard Gates (Laird Gregar), para cometer um crime. Gates, por sua vez, presta serviços a Alvin Brewster (Tully Marshall), velho aleijado, dono de uma fábrica de produtos químicos de Los Angeles, que vende fórmulas de gás venenoso para os japoneses. A vítima é um possível informante da polícia. Raven cumpre a tarefa, mas é pago por Gates com dinheiro falso. Perseguido pelo detetive Michael Crane (Robert Preston), parte para Los Angeles, a fim de ajustar cotas com Gates. No trem, seu caminho se cruza com o de Ellen Graham (Veronica Lake) que, coincidentemente, é noiva de Crane e trabalha na boate de Gates, tendo sido por isso convocada pelas autoridades federais como espiã. Ellen simpatiza com Raven e lhe pede que use Gates para chegar até Brewster e fazê-lo assinar uma confissão, servindo ao seu país. Raven consegue penetrar no escritório da fábrica, trancando-se em uma sala com Gate, Brewster e um outro empregado deste. Ele obriga Brewster a admitir por escrito os seus atos impatrióticos. Logo depois, o velho, tirando uma arma do bolso, tenta matá-lo, porém sofre um colapso, e morre. Raven executa Gates. Quase no mesmo instante, Crane surge pela janela e o acerta com um tiro.

Os roteiristas americanizaram a história de Graham Greene e substituíram a angústia metafisica do herói por uma perturbação mental. Na obra original, Raven era atormentado por um crime específico na sua carreira: o da velha secretária de um ministro. A anciã lutara com tal paixão para se defender, que este fato, ficou para sempre na memória do impiedoso assassino. No filme, o herói é obcecado por um sonho recorrente, no qual se vê esfaqueando a tia que batera nele quando criança e o queimara com um ferro em brasa, deformando-lhe o pulso. Os tipos humanos, porém, continuaram interessantes, tanto o criminoso solitário e perturbado como o chefe decrépito da quinta coluna e seu cúmplice covarde.

Há bons momentos de Cinema – a cena inicial, quando Raven defende com brutalidade o gato, mostrando imediatamente o clima do filme: o assassinato do casal, a mulher sendo alvejada atrás da porta; a primeira aparição de Ellen no número de canto e mágica; o episódio da fábrica onde Raven e Ellen se movem entre o dínamo e as tubulações de gás, aparecendo dentro ou fora. das sombras; a perseguição no pátio da estação ferroviária, Raven correndo por uma longa ponte de madeira e os policiais atirando até que o fugitivo consegue saltar sobre um trem em movimento; e a sequência final, quando Raven entra no escritório da fábrica disfarçado com uma máscara contra gases.

Além de Alma Torturada Ladd participou de mais três filmes noir: Capitulou Sorrindo / The Glass Key / 1942; A Dália Azul / The Blue Dahlia /1946 e Caminhos Sem Fim / Chicago Deadline / 1949.

Brian Donlevy, Alan Ladd e Veronica Lake em A Chave de Vidro

No enredo de Capitulou Sorrindo, Ed Beaumont (Alan Ladd), fiel assistente do líder político Paul Madvig (Brian Donlevy), fica preocupado quando seu patrão resolve apoiar a candidatura do senador Henry (Moroni Olsen) na próxima eleição. Ele acha que o senador e sua filha Janet (Veronica Lake), de quem Paul é noivo, estão apenas usando-o em proveito próprio. Além disso, o programa de reformas do senador implica o fechamento dos cassinos, que irá despertar a inimizade do gângster Nick Varno (Joseph Calleia). Pouco depois, o filho do senador, Taylor (Richard Denning), viciado em jogo, é assassinado. Taylor tinha um caso amoroso com Opal Madvig (Bonita Granville), irmã de Paul, e este, além de ser naturalmente suspeito, pois não aceitava tal situação, é acusado do crime por uma carta anônima, enviada ao Promotor Público. Certo de que se trata de uma armação de Varna, para incriminar Paul, Ed provoca um rompimento como o patrão e vai procurá-lo. O gângster quer que ele dê informações contra Paul para o jornal Observer, cujo editor está sob seu controle, a fim de prejudicar a candidatura do senador. Ed recusa e – depois de ser brutalmente espancado por Jeff (William Bendix), um dos capangas de Varna – consegue fugir. Ed acaba descobrindo que foi Janet quem mandou a carta anônima, pensando que Paul realmente matara seu irmão Desconfiado de que o senador foi o verdadeiro assassino, Ed convence o promotor da culpabilidade de Janet e vai com a polícia para prendê-lo, esperando arrancar a confissão do pai. Ao ver a filha presa, o senador admite que matou o filho após uma discussão e que, de fato, Paul ajudou-o a acobertar o crime.

Apesar de toda a sua lealdade a Paul, o herói tem certas atitudes amorais. Por exemplo, quando se deixa seduzir pela mulher do editor do jornal, ocasionando o suicídio deste. Ou na cena em que ele, impassível, fica vendo Jeff estrangular Varna com requintes de crueldade. E, finalmente, Ed não hesita em usar Janet para obter a confissão do seu pai, dizendo depois para os policiais: “Eu fiz o velho se entregar”. Só pelo fato de ter sido baseado em uma história de Dashiell Hammett, o filme já traz os temas e personagens noirs, inclusive o da corrupção política.

Veronica Lake e Alan Ladd em. A Dália Azul

Em A Dália Azul o herói de guerra Johnny Morrison (Alan Ladd) chega em Los Angeles na companhia de seus companheiros Buzz (William Bendix) e George (Hugh Beaumont), ansioso para rever a esposa, Helen (Doris Dowling). Ela está dando uma festa no apart-hotel onde reside. Helen apresenta-o a Eddie Harwood (Howard Da Silva), dono da boate A Dália Azul. Quando Johnny vê Harwood beijar sua mulher ao se despedir, percebe que estão saindo juntos. Furioso, agride Harwood. Quando encontram Helen assassinada, Johnny é um dos suspeitos, além de Harwood, Buzz e “Dad” Newell, o velho detetive chantagista do hotel, pois todos foram vistos nas imediações na noite do crime. No decorrer da trama Johnny faz amizade com Joyce Harwood (Veronica Lake) e descobre depois que ela é a esposa de Eddie Harwood.

O tema do veterano do serviço militar perdido no mundo tortuoso do pós-guerra (Johnny) ou emocionalmente instável (Buzz), roteiro de Raymond Chandler, cenário sufocante e artificial, fotografia noturna, produziriam, em princípio, um filme noir puro. Entretanto, não se percebe o mesmo tom angustiante de outros filmes noir, pois os acontecimentos, embora interessantes, são expostos de uma maneira direta e objetiva como um drama criminal rotineiro. Lembro ao leitor que faço um distinção entre filmes noirs puros e aqueles filmes que apenas contém elementos noirs, como é o caso deste.

A primeira versão do script trazia uma idéia razoavelmente original: Buzz era um assassino inconsciente. Sua placa de aço na cabeça começou a zunir quando Helen fez alusões injuriosas a respeito de Johnny; então ele perdeu a memória. Chandler imaginou um final pungente para história: Johnny percebe que seu amigo confuso é o culpado e deve decidir se o entrega ou não à polícia. Houve, porém, intervenção do Departamento da Marinha e, em uma conclusão banal, o criminoso passou a ser o detetive chantagista.

 

Ed Adams e Pig na redação do jornal em que trabalham

Em Caminhos sem Fim, um jornalista, Ed Adams (Alan Ladd), descobre o corpo de uma jovem. Rosita Jean d’Ur (Donna Reed), morta de tuberculose em um quatro de hotel barato.  Antes de a polícia chegar, ele rouba o caderno de endereços dela e investiga seu passado, que é recontado através de retrospectos. Ed encontra-se com Tommy (Arthur Kennedy), o irmão da falecida e com várias pessoas que conheceram Rosita até se confrontar com Solly Wellman (Berry Kroeger), o principal vilão.

Drama de mistério com uma história melancólica de base necrofílica (o jornalista se apaixona pelo cadáver de uma linda jovem e decide reabilitar sua memória), pode ser considerado um filme noir puro, não só pelo uso dos retrospectos e da magnífica iluminação contrastada de John Seitz, mas também pelo caráter mórbido da devoção do repórter pela morta.

Embora alguns pontos da trama sejam um tanto obscuros, a história é bem conduzida e Alan Ladd nos convence de que está realmente fascinado pela misteriosa heroína, principalmente quando se refere a ela nos diálogos. Há um instante em que Tommy diz: “Era uma garota linda, não é mesmo?” E Adams responde com emoção “Mais do que isso”.

A melhor cena de ação ocorre quando Adams e o colega, PIg (Dave Willoc), perseguidos por Solly e seus capangas, entram em uma enorme garagem. Após um tiroteio, Ed e Pig descem as rampas em um carro, atropelando um dos bandidos. Depois, Adams fica só com uma bala no revólver, mas consegue enganar Solly, fazendo-o crer que sua arma está descarregada. Quando Solly aparece, crente que a munição de seu adversário acabou, Adams o mata.

 

 

COMPOSITORES DA MÚSICA POPULAR AMERICANA NO CINEMA

O Cinema Americano não só utilizou as canções de seus grandes compositores de música popular como também os homenageou em cinebiografias. Como exemplo, selecionei as filmografias de cinco grandes compositores – George Gershwyn, Rodgers e Hart, Jerome Kern, Cole Porter e Irving Berlin – fazendo alusão a algumas das belas canções que ouvimos nos filmes.

George Gershwin

GEORGE GERSHWYN

Jacob Gershvin (1898-1937): The Sunshine Trail / 1923 (canção tema e interlúdios orquestrais); Deliciosa / Delicious /1931 com Janet Gaynor, Charles Farrell e a participação do brasileiro Raul Roulien; Vamos Dançar? / Shall We Dance / 1937 com Fred Astaire e Ginger Rogers ouvindo-se “Let’s call the thing off” e “They can’t take that away from me”; Cativa e Cativante / A Damsel in Distress / 1937 com Fred Astaire, Joan Fontaine e a dupla George Burns e Gracie Allen, ouvindo-se  “A foggy day” e “Nice work if you can get it”; Goldwyn Follies / Goldwyn Follies / 1938 com Adolphe Menjou, The Ritz Brothers, Vera Zorina, ouvindo-se “Love is here to stay”. Um filme sobre o compositor foi feito em 1945, Rapsódia Azul / Rhapsody in Blue, com Robert Alda como Gershwyn, utilizando suas melhores canções. Outros filmes utilizando suas músicas foram: Sua Alteza, a Secretária / The Shocking Miss Pilgrim / 1947, Sinfonia de Paris / An American in Paris (com destaque para uma encantadora sequência sob o som de “I’ve Got Rhytm” e o American in Paris Ballet); Beija-me Idiota / Kiss Me Stupid / 1964.

Rogers e Hart

RODGERS E HART

Richard Charles Rodgers (1902-1979), Lorenz Milton Hart (1895-1943): Caprichos de Mulher / The Hot Heiress / 1931 com Ben Lyon e Ona Munson, fracasso de bilheteria, salvando-se apenas as canções de Rodgers e Hart; Leathernecking / 1930, versão cinematográfica do musical Present Arms; Spring is Here / 1930 e A Ilha da Felicidade / Heads Up / 1930, baseado em musicais de Rodgers e Hart; Sempre Viva / Evergreen / 1935, filme britânico com a maravilhosa Jessie Mathews; Ama-me esta Noite / Love me Tonight / 1932, magnífica comédia musical de Rouben Mamoulian com Maurice Chevalier e Jeanette MacDonald, sobressaindo aquela canção inesquecível, “Isn’t it Romantic”; O Falso Presidente / The Phantom President / 1932, comédia musical com o também compositor George M. Cohan, que também era ator e dançarino; O Venturoso Vagabundo / Hallelujah, I’m a Bum / 1933 com Al Jolson, o famoso ator e cantor de O Cantor de Jazz / The Jazz Singer / 1927, o primeiro filme de longa-metragem com som sincronizado para breves sequências de diálogo; Festa de Hollywood / Hollywood Party / 1934 comédia musical com aparições de San Laurel e Oliver Hardy e até do Mickey Mouse; Vencido pela Lei / Manhattan Melodrama /1934, no qual a cantora Shirley Ross apresenta a versão original da canção “Blue Moon”; Naná / Nana / 1934, cuja canção “Let’s Love”, interpretada por Anna Sten, veio a ser difundida no Brasil, em versão para o português, pelo nosso grande cantor Orlando Silva; Mississipi / Mississipi / 1935, com Bing Crosby cantando “It’s Easy to Remember (and so Hard to Forget)”; Dançarina Russa / On Your Toes / 1939; Sangue de Artista / Babes in Arms / 1939, com Mickey Rooney e Judy Garland dirigidos por Busby Berkeley e Judy cantando “Where or When”; Casei com um Anjo / I Married an Angel / 1942 com Jeanette MacDonald e Nelson Eddy; Os Gregos Eram Assim / The Boys from Syracuse /1940 (ouvindo-se entre outras canções, “This Can’t Be Love” e “Falling in love with Love”); Garotas em Penca / Too Many Girls / 1940; Meus Dois Carinhos / Pal Joey / 1940 (com Frank Sinatra cantando “Bewitched”, “The Lady is a Tramp”, “There’s a Small Hotel”); A Mais Querida do Mundo / Billie Rose’s Jumbo / 1962. Em outros filmes ouve-se músicas de Rodgers e Hart na trilha sonora, por exemplo em: O Pirata Dançarino / The Dancing Pirate / 1936; Escândalos de Amor / Fools for Scandal / 1938; Conheceram – se na Argentina / They Met in Argentina / 1941; Dê-se com a Gente / Meet the People / 1944; Sabrina Sabrina / 1954 (como música tema). Uma cinebiografia um tanto ficcionalizada dos dois compositores, Minha Vida é uma Canção / Words and Music, foi realizada em 1948 com Mickey Rooney como Hart e Tom Drake como Rodgers.

Quando a parceria com Hart chegou ao fim por causa do alcoolismo de Rodgers, este passou a trabalhar com Oscar Hammerstein, surgindo então muitos sucessos na tela como Oklahoma! / Oklahoma! / 1955; Carrosel / Caroussel / 1956; No Sul do Pacífico / South Pacific / 1958; O Rei e Eu / The King and I / 1956; A Noviça Rebelde / The Sound of Music / 1959; Feira de Ilusões / State Fair / 1962.

Jerome Kern

JEROME KERN

Jerome David Kern (1885 -1945): Boêmios / Show Boat / 1929; Sally / Sally / 1929; Sunny / Sunny / 1930; O Gato e o Violino / The Cat and the Fiddle / 1934, reunindo Jeanette MacDonald e Ramon Novarro; Música no Ar / Music in the Air / 1934 com Gloria Swanson – infelizmente o filme omitiu “The Song is You”, a melhor canção do musical da Broadway no qual o filme foi baseado; Vivo Sonhando / I Dream Too Much / 1935; Tentação dos Outros / Reckless / 1935; Roberta / Roberta / 1935, no qual Fred Astaire canta “I won’t dance” e “A fine romance”; Alegre e Feliz / High, Wide and Handsome / 1937 com Irene Dunn cantando “Can I Forget You?”; Prelúdio de Amor / When You’re in Love / 1937; O Prazer de Viver / Joy of Living / 1938; Goldwyn Follies / Goldwyn Follies of 1938);  Noite Tropical / One Night in the Tropics / 1940; Se Você Fosse Sincera / Lady Be Good / 1941, no qual Ann Shotern canta “The Last Time I Saw Paris”; Sunny / Sunny / 1941; Bonita como Nunca / You Were Never Lovelier / 1942 com Rita Hayworth (dublada por Nan Wynn) cantando “I’m Old Fashionable”; Vivo para Cantar / Can’t Help Singing / 1944, com Deana Durbin cantando “Any Moment Now”; Modelos / Cover Girl / 1944; Canção da Russia / Song of Russia / 1944; Noites de Verão / Centenial Summer / 1946; Crepúsculo de uma Glória / Look For the Silver Lining / 1949; O Barco das Ilusões / Show Boat / 1951 com Ava Gardner cantando “Can’t Help Loving That Man”, dublada por Annette Warren; O Amor Nasceu em Paris / Lovely to Look At / 1952.

Em 1946 foi lançado Quando as Nuvens Passam / Till the Clouds Roll By, cinebiografia de Jerome Kern com Robert Walker como o compositor, utilizando 22 de suas canções mais conhecidas e um punhado de astros da MGM em números musicais como Judy Garland, Lena Horne, Frank Sinatra, Cyd Charisse, Dinah Shore, Kathryn Grayson, Tony Martin, June Allyson, Lucille Bremer, Virginia O´Brien, Van Jonhson, Angela Lansbury, sobressaindo aquele número com Judy, radiante, cantando “Who?”.

Cole Porter

COLE PORTER

Cole Albert Porter  (1891-1964): A Batalha de Paris / The Battle of Paris / 1929 com Gertrude Lawrence cantando “They all fall in Love”; Fuzarca a Bordo / Anything Goes / 1936 com Ethel Merman e Bing Crosby cantando juntos “You’re the Top”; Nascí para Dançar / Bon to Dance / 1936 com James Stewart cantando “Easy to Love” e Virginia Bruce cantando “I’ve Got You under my Skin”; Rosalie / Rosalie / 1937 com Nelson Eddy cantando “In the Still of the Night”; Melodia da Broadway de 1940 / Broadway Melody of 1940 com Fred Astaire e Eleanor Powell dançando ao som de “Beguin the Beguine”; Ao Compasso do Amor / You’ll Never Get Rich / 1941 com Fred Astaire e Rita Hayworth dançando ao som de “So Near and Yet So Far”; Lourinha do Panama / Panama Hattie / 1942 com Lena Horne cantando “Just One of Those Things”; Du Barry era um Pedaço / Du Barry Was a Lady / 1943 com Gene Kelly dançando ao som de “Do I Love You”; O Caradura / Let’s Face It / 1943 com Betty Hutton cantando “Let’s Not Talk About Love”; Canta, Coração ! / Something to Shout About / 1943, com Don Ameche cantando “You’d be so nice to come home to”; Um Sonho em Hollywood / Hollywood Canteen / 1944 com Roy Rogers  cantando “Don’t Fence Me In”; O Pirata / The Pirate / 1948, destacando-se entre as canções de Porter, Gene Kelly e Judy Garland interpretando “Be a Clown” , Kelly cantando sozinho “Nina” e Judy, sozinha, “You Can do No Wrong”; Pavor nos Bastidores / Stage Fright / 1950 com Marlene Dietrich cantando “The Laziest Gal in Town”; Dá-me um Beijo / Kiss me Kate / 1953 com Howard Keel, Kathryn Grayson, Ann Miller e músicas lindíssimas como “So in Love”, “Why Can’t You Behave”, “Always true to you in my fashion”, “From this moment on”; Maravihas em Desfile / Anything Goes / 1956 com Bing Crosby e Mitzi Gaynor cantando “You´re the Top”, Mitzi e Donald O´Connor cantando “It’s De-lovely”, Mitzi cantando sozinha “Anything Goes”, Crosby cantando sozinho “All Through the Night “, Crosby e  O’Connor cantando e dançando “You’re the Top” respectivamente com Mitzi Gaynor e Zizi Jeanmarie; Alta Sociedade / High Society / 1956 distinguindo-se entre outras canções de Porter,”True Love “ cantada por Bing Crosby para Grace Kelly e “You’re Sensational”, cantada por Frank Sinatra para a mesma Grace; Meias de Seda / Silk Stockings / 1957 avultando “Without Love” apresentada por Cyd Charisse (dublada por Carol Richards), “Red Blues”, dançada por Cyd Charisse, e “The Ritz Rock and Roll”, dançada por Fred Astaire e coro; Les Girls / Les Girls / 1957 com “Ça C’est l´Amour” cantada por Taina Elg (dublada por Thora Mathiason), “Why am I so gone (about that girl)?” dançada por Gene Kelly e Mitzi Gaynor, “Ladies in Waiting” interpretada por Kay Kendall (dublada por Betty Wand), Mitzi Gaynor e Taina Elg; Can-Can / Can-Can / 1960 com Shirley MacLaine cantando “Come Along with Me” e depois em dueto com Frank Sinatra,  “Let’s Do It”; Amor, Eterno Amor / At Long Last Love/1975, tentativa frustrada de Peter Bogdanovich de prestar uma homenagem às comédias musicais dos anos trinta, usando as canções de Cole Porter infelizmente utilizando atores, especialmente Burt Reynolds, que não eram cantores ou dançarinos talentosos.

Em 1945 foi realizado Canção Inesquecível / Night and Day /1946, uma cinebiografia fictícia do compositor (interpretado por Cary Grant), omitindo a verdade sobre vários fatos inclusive sua vida sexual.  Em 2004, surgiu uma nova cinebiografia, De-Lovely – Vida e Amores de Cole Porter / De-Lovely (com Kevin Kleine no papel de Porter), mais comprometida com a verdade dos fatos e com as fabulosas canções interpretadas por artistas contemporâneos.

Irving Berlin

IRVING BERLIN

 Israel Beilin (1888-1989): Aleluia / Hallellujah / 1229 no qual ouvimos “Waiting at the end  of the road” e “Swanee shuffle”; Bancando o Lord / Puttin’on the Ritz / 1929 com Harry Richman interpretando a canção que dá título ao filme; Minha Mãe / Mammy / 1929 com Al Jolson cantando “Let me sing – and I’m happy; O Príncipe dos Dólares / Reaching for the Moon / 1931, estrelado por Douglas Fairbanks com Bing Crosby cantando “When the Folks High Up Do the Mean Low-Down”; O Picolino / Top Hat / 1935, com Fred Astaire e Ginger Rogers, no qual ouvimos “Cheek to Cheek”, “Isn’t this a lovely day”, “No strings”, “The Picolino”, “Top Hat, white tie and tails”;  Nas Águas da Esquadra / Follow the Fleet / 1936 também com Astaire e Rogers, dançando (e ele também cantando ) sob o som de “Let’s face the music and dance” e Ginger sapateando sozinha sob o som de “Let Yourself Go”; Avenida dos Milhões / On the Avenue / 1937 com Dick Powell e Alice Faye e canções como “”I’ve got my love to keep me warm”; Dança Comigo / Carefree / 1938 com Fred Astaire dançando com Luella Gear e  cantando “Change Partners”, Fred e Ginger dançando sob o som de “The yam”; A Epopéia do Jazz / Alexander’s Ragtime Band / 1938 repleto de canções de Berlin como Blue Skies”,“Heat Wave” na voz de poderosa de Ethel Merman, “A Pretty Girl is Like a Melody” e a esfuziante “Alexander’s Ragtime Band”, cantada por Alice Faye, com Tyrone Power no violino, Don Ameche no Piano e Jack Haley na bateria; Dúvidas de um Coração / Second Fiddle / 1939 no qual vemos Sonja Henie patinando, Rudy Vallee cantando “I poured my heart into a cong” e “When Winter Comes”,  Mary Healy cantando “I’m sorry for Myself” e “Back to Back”; Duas Semanas de Prazer / Holiday Inn / 1942 com Bing Cosby cantando “White Christmas” e  Fred Astaire dançando e cantando com Virginia Dale “You’re easy to dance with”; Romance Inacabado / Blue Skies / 1946 no qual ouvimos A Pretty Girl is Like a Melody” cantada por Fred Astaire e dançada por ele e Joan Caulfield, “All by Myself” cantada por Big Crosby e Joan Caulfield (dublada por Betty Russell), “Blue Skies”, “Any Bonds Today” e “This is the Army Mr. Jones” cantadas por Bing Crosby ; “A Couple of Song and Dance Men”, cantada e dançada  por Fred Astaire e Bing Crosby; Desfile de Páscoa / Easter Parade / 1948  com Ann Miller sapateando ao som de Shakin´the Blues Away”, Fred Astaire e Judy Garland cantando e dançando “ A Couple of Swells” e o formidável “When the Midnight Choo Choo Leaves for Alabam’”,  Judy Garland cantando e Fred Astaire e Ann Miller dançando “It only happens when I dance with you”, “Steppin’ out with my baby” cantada e dançada por Fred Astaire; Bonita e Valente / Annie Get Your Gun / 1950 com Betty Hutton e Howard Keel cantando, entre outras, “You Can’t Get a Man with a Gun”; Sua Excelência, a Embaixatriz / Call me Madam / 1953 com Donald O´Connor e Vera-Ellen dançando e cantando “It’s a Lovely Day Today”e Ethel Merman e … George Sanders cantando “The Best Thing for You”; Natal Branco / White Christmas / 1954 repetindo várias canções famosas de Berlin desta vez apresentadas por Bing Crosby, Danny Kaye,Vera Ellen e Rosemary Cloney; O Mundo da Fantasia / There´s No Business Like Show Business / 1954 ouvindo-se as canções de Berlin, desta vez na voz de Ethel Merman, Donald O´Connor, Johnnie Ray, Mitzy Gaynor e Marilyn Monroe, esta cantando  sensualmente “Heat Wave”.

Não houve uma cinebriografia de Irving Berlin, mas ele apareceu pessoalmente cantando “Oh, How I Hate To Go Up In The Morning” no filme Forja de Heróis / This is the Army / 1943 que estava  repleto de suas canções como a patriótica “God Bless America”,entoada magnificamente por Kate Smith.

ROBERT DONAT

Ele foi o protagonista romântico mais famoso do cinema britânico nos anos 30 e brilhou também em Hollywood, mas como sofria de asma aguda, sua trajetória artística foi curta. Fez apenas 19 filmes.

Robert Donat

Friederich Robert Donat (1905-1958) nasceu em Withington, Manchester, Reino Unido, filho de um engenheiro civil de origem alemã da Prússia e foi educado na Manchester Central Grammar School for Boys. Para lidar com uma forte gagueira, aos 11 anos de idade, tomou lições de dicção com James Bernard, professor de “interpretação dramática”, do qual foi depois secretário, para financiar a continuidade de suas aulas. A libertação do seu embaraço vocal foi um incentivo para seguir a carreia de ator e assim, aos 16 anos, começou a interpretar papéis de peças de Shakespeare e outros clássicos em algumas companhias teatrais itinerantes ou de repertório por toda a Grã-Bretanha.

Seu trabalho foi notado por Alexander Korda que, em 1933, lhe ofereceu um contrato de três anos na sua recém-formada London Fim Productions. Após participar de três filmes de poucos méritos (Man of Tomorrow, That Night in London e Cash), Donat ganhou o papel do amante da rainha Katherine Howard, Thomas Culpepper em A Vida Privada de Henrique VIII / The Private Life of Henry VIII / 1933, grande sucesso com Charles Laughton obtendo um Oscar pela sua interpretação como o soberano britânico.

Donat em A Vida Privada de Henrique VIII

Em 1934 Donat recebeu uma oferta de Hollywood para estrelar O Conde de Monte Cristo / The Count of Monte Cristo e, seguindo o conselho de Korda, aceitou. Seu papel como o célebre personagem de Alexandre Dumas, Edmond Dantès, neste filme muito bem dirigido por Rowland V. Lee, proporcionou-lhe um reconhecimento internacional.

Donat em Conde de Monte Cristo

Donat retornou para a Inglaterra para aparecer em cinco filmes esplêndidos filmados em sequência. Primeiro, ele foi para a Gaumont British, onde interpretou o papel de Richard Hannay em Os 39 Degraus / The Thirty-Nine Steps / 1935 na versão cinematográfica caprichada do romance de John Buchan dirigida por Alfred Hitchcock. Em seguida, voltou a trabalhar para Korda nos seus dois filmes seguintes: Um Fantasma Camarada / The Ghost Goes West / 1935 e O Amor Nasceu do Ódio / Knight Without Armour / 1937, o primeiro filme dirigido por René Clair e o segundo filme por Jacques Feyder.

Donat em Os 39 Degraus

Depois que assinou contrato com a MGM em 1938, o estúdio colocou-o em dois filmes: A Cidadela / The Citadel e Adeus, Mr. Chips / Goodbye Mr. Chips. O primeiro filme, baseado em um romance de A.J. Cronin e dirigido por King Vidor, rendeu-lhe uma indicação para o Oscar, que ele acabou recebendo por sua atuação no segundo filme, baseado em um romance de James Hilton e dirigido por Sam Wood.

Robert Donat e Greer Garson em Adeus Mr. Chips

Quando irrompeu a Segunda Guerra Mundial, Donat foi rejeitado para o serviço militar por motivo de saúde, e a MGM insistiu para que ele viesse para Hollywood, pois havia planejado para ele um filme sobre a vida de Henri Dunant, fundador da Cruz Vermelha. Porém ele se recusou a deixar a Grã-Bretanha, rejeitou todos os projetos de filmes e retornou para o teatro. Então, em 1942, Donat voltou à tela em O Jovem Mr. Pitt / Young Mr.Pitt, de Carol Reed, no papel do político britânico William Pitt, que ascendeu ao cargo de Primeiro Ministro do Reino Unido com 24 anos de idade e fez uma brilhante careira política que ultrapassou a notoriedade de seu pai, William Pitt, o Velho, que assegurou a transformação de seu país em uma potência imperial.

Donat em O Jovem Mr.PItt

Durante grande parte da guerra Donat perseguiu seu sonho de se tornar um ator-gerente no teatro e houve várias brigas e eventualmente ações judiciais com a MGM, que exigia que ele cumprisse seu contrato e fizesse os quatro filmes restantes que lhes devia. Ele eventualmente cumpriu este contrato com dois filmes bastante agradáveis, o drama de espionagem As Aventuras de Tartu / The Adventures of Tartu / 1945 (Dir: Harold S. Bucquet) e o drama romântico em tempo de guerra Longe dos Olhos / Perfect Strangers / 1945 (Dir: Alexander Korda).

Donat em Um Caso de Honra

Após o final da guerra, em Capitão Boycott / Captain Boycott / 1947 (Dir: Frank Launder com Stewart Granger no papel-título, Donat fez uma breve aparição personificando o eminente político irlandês Charles Stewart Parnell. Em seguida foi o advogado arrogante Sir Robert Morton em Um Caso de Honra / The Winslow Boy / 1948; (Dir: Anthony Asquith); o sargento Jack Hardrake em Cure for Love / 1949,  filme que ele mesmo dirigiu; o inventor William Friese-Green; um dos primeiros pioneiros do Cinema em A Caixa Mágica / The Magic Box / 1951 (Dir: John Boulting), um reverendo idoso e moribundo de uma pequena aldeia em Lease of Life / 1954 (Dir: Charles Frend) e finalmente um velho mandarim chinês em A Morada da Sexta Felicidade / The Inn of the Sixth Happiness / 1958 (Dir: Mark Robson), papel que ele completou pouco antes de morrer.

Donat em A Caixa Mágica

Sua última cena neste filme pode ser classificada com uma das mais pungentes da história do cinema. Donat já estava fatalmente doente e trabalhando com muita dificuldade quando, naquele instante em que seu personagem está dizendo adeus a Gladys (Ingrid Bergman), enquanto os mais velhos se preparam para deixar a cidade, ele se virou para a câmera e disse: “não nos encontraremos novamente, eu acho”.

Lillian Gish

Chamada de “The First Lady of the Screen”, ela era a heroína típica do filme silencioso. Lillian Diana Gish (1893-1993) nasceu em Springfield, Ohio, filha de Mary Robinson McConnel e James Leigh Gish. O pai de Lillian Lillian, alcoólatra, abandonou a família; sua mãe tornou-se atriz para sustentá-la.

Lillian Gish

Lilian e sua irmã mais nova, Dorothy, estrearam no palco ainda meninas. De 1903 a1904 trabalharam juntas na peça Her False Step e, no ano seguinte, Lillian dançou numa produção da companhia de Sarah Bernhardt em Nova York. Em 1912, Lillian e Dorothy entraram num nickelodeon e reconheceram na tela sua amiga Gladys Smith, que era chamada nos filmes de Little Mary e se tornara a atriz Mary Pickford. Mary apresentou Lillian e Dorothy a David Wark Griffith e ajudou as irmãs Gish a obter um contrato com o Biograph Studios.

David W. Griffith ladeado pelas irmãs Gish

“Lembro-me de um dia no começo do verão em que atravessava o velho e escuro corredor do estúdio Biograph, quando subitamente as trevas desapareceram. Esta mudança na atmosfera foi causada pela presença de duas adolescentes sentadas lado a lado num banco. Elas eram lourinhas e estavam ternamente enlaçadas. Tenho certeza de que jamais vi uma imagem tão bela. Eram Lillian e Dorothy Gish” (cf. The Movies, Mr. Griffith and me, ed. Prentice-Hall, 1969). Griffith havia ensaiado An Unseen Enemy / 1912 com outras atrizes, mas depois de conhecer as irmãs Gish, decidiu que elas é que eram apropriadas para desempenhar os papéis principais.

Lillian e Dorothy em An Unseen Enemy

Lillian atuou em muitos dos filmes mais aplaudidos de Griffith, entre eles The Birth of a Nation / 1915 (jamais exibido comercialmente no Brasil), Intolerância / Intolerance / 1916, Lírio Partido / Broken Blossoms / 1919, Horizonte Sombrio ou Gente do Sertão / Way Down East / 1920, Orfãs da Tempestade / Orphans of the Storm / 1921.

Lillian e Richard Barthelmess em Lírio Partido

Em 1920 ela dirigiu (sob supervisão de Griffith) sua irmã Dorothy em Remodeling her Husband. Em 1923 atuou, sob direção de Henry King, em A Irmã Branca / The White Sister, filme religioso de muito sucesso (com uma bela cerimonia de tomada do véu quando a heroína resolve ser freira) para a pequena Inspirational Pictures, tendo a seu lado Ronald Colman em início de carreira.

Lillian em A Irmã Branca

Entre 1926 e 1928 Lillian tornou-se uma grande estrela da Metro-Goldwyn- Mayer, onde foi a atriz principal de La Bohème / La Bohème / 1926, formando par romântico com John Gilbert sob direção inspirada de King Vidor e de duas obras-primas do diretor sueco Victor Sjostrom no cinema americano: A Letra Escarlate / The Scarlet Letter /1926 e Vento e Areia / The Wind / 1928, ambos com Lars Hanson no papel principal masculino.

Lillian em A Letra Escarlat

Lillian em Vento e Areia

Lillian fez seu primeiro filme sonoro, Noite de Idílio / One Romantic Night / 1930, comédia romântica da Feature Productions baseada na peça de Ferenc Molnar “The Swan” (que seria refilmada em 1956 com Grace Kelly) e depois deixou a tela por algum tempo, retornando para o palco. Ela atuou com grande êxito em peças como A Dama das Camélias (no papel de Marguerite Gauthier); Tio Vanya (no papel de Helena ao lado de Walter Conolly (Vanya) e Osgood Perkings, pai de Anthony Perkins (Astroff); Hamlet (no papel de Ofélia ao lado de John Gielguld como o príncipe da Dinamarca).

Jennifer Jones e Lilian em Duelo ao Sol

Lilian em O Mensageiro do Diabo

Gish ocasionalmente continuou aparecendo em filmes, entre eles, Os Comandos Atacam de Madrugada / The Commandos Attack at Dawn / 1942, Duelo ao Sol / Duel in the Sun / 1946 (indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante), O Mensageiro do Diabo / The Night of the Hunter / 1955, O Passado Não Perdoa / The Unforgiven / 1960, Os Farsantes / The Comedians / 1967, As Baleias de Agosto / The Whales of August / 1987, seu último filme. Ela também foi muito vista na televisão mais notavelmente em Arsenic and Old Lace ao lado de Helen Hayes, versão de Este Mundo é um Hospício, a famosa comédia macabra maluca de Frank Capra.

A longevidade artística (75 anos, 1912-1987) e etária (faleceu aos 99 anos de idade) de Lillian Gish é impressionante. Em 1971, recebeu um prêmio honorário da Academia pelo talento e contribuição ao progresso do Cinema.

Em 1894 recebeu o Lifetime Achievement Award do American Film Institute.

MAX STEINER

De todos os nomes associados com a música de filmes ninguém se destaca mais claramente do que ele. Nascido em Viena, Austria, Maximiliam Raoul Walter Steiner (1888-1971) estudou música com Robert Fuchs, Herman Graedner, Felix Weingartner e Mahler, e na Academia Imperial de Música de seu país natal. Filho e neto de produtores teatrais de origem judaica envolvidos com Johan Strauss e outros compositores de opereta, foi um estudante brilhante de música e, aos onze anos de idade, escreveu uma opereta que ele próprio regeu.

Max Steiner

Aos dezoito anos mudou-se para Londres, aceitando a posição de maestro num teatro e lá ficou até o irromper da guerra em 1914, ocasião em que partiu para Nova York. Seu progresso como arranjador e maestro de musicais na Broadway foi lento, mas seguro e, ao longo da década de vinte, firmou uma boa reputação.

Max Steiner regendo a partitura de KIng Kong

Em 1929 a RKO decidiu filmar o musical Rio Rita de Harry Tierney e Tierney sugeriu que Steiner deveria reger também a versão para o cinema. Este trabalho único tornou-se uma nova carreira, quando a RKO ofereceu a Steiner a posição de diretor musical, com a incumbência de compor música para os intertítulos principais e finais bem como ocasionais “música na tela”. O score que ele compôs para King Kong / King Kong / 1933 representou uma mudança de paradigma na composição de músicas para filmes de fantasia e de aventura. Foi um marco na trilha sonora de filmes  e mostrou o poder que a música tem de manipular as emoções da platéia.

Após trabalhar sete anos na RKO, foi contratado pela Warner Bros. para compor a partitura de A Carga da Brigada Ligeira / The Charge of the Light Brigade / 1936. Seu contrato de longo-termo foi renovado repetidamente e, no decorrer dos próximos trinta anos, Steiner escreveu partituras para mais de cem dos principais filmes do estúdio – as aventuras de Errol Flynn, os dramas de amor de Bette Davis e filmes de gangster povoados por pessoas como James Cagney e Humphrey Bogart. Foi Bette Davis quem disse: “Max sabe mais sobre drama do que qualquer um de nós”. Felizmente ele também possuía o dom de compor lindas melodias de modo que suas partituras eram tão musicalmente atraentes quanto dramaticamente eficazes. Três delas lhe deram o Oscar: O Delator / The Informer / 1935, A Estranha Passageira / Now Voyageur / 1942 e Desde Que Partiste / Since You Went Away / 1944. E houve várias outras indicações: A Alegre Divorciada / The Gay Divorcee / 1934; A Patrulha Perdida / The Lost Patrol / 1934; O Jardim de Allah / The Garden of Allah / 1936; A Carga da Brigada Ligeira / The Charge of the Light Brigade / 1936; A Vida de Emile Zola / The Life of Emile Zola / 1937; Jezebel / Jezebel / 1938; Vitória Amarga / Dark Victory / 1939; … E O Vento Levou / Gone With the Wind / 1939; A Carta / The Letter / 1940; Sargento York / Sergeant York / 1941; Casablanca / Casablanca / 1942; As Aventuras de Mark Twain / The Adventures of Mark Twain / 1944; Rapsódia Azul / Rhapsody in Blue / 1945; Canção Inesquecível / Night and Day / 1946; Nossa Vida com Papai / Life With Father / 1947; Minha Rosa Silvestre / My Wild Irish Rose /1947; Belinda / Johnny Belinda / 1948; A Filha de Satanás / Beyond the Forest / 1949; O Gavião e a Flecha / The Flame and the Arrow / 1950; A Virgem de Fátima / The Miracle of Our Lady of Fatima / 1952; A Nave da Revolta / The Caine Mutiny / 1954; Qual Será Nosso Amanhã? / Battle Cry / 1955.

Steiner ganhou um prêmio internacional no Festival de Veneza de 1948 por sua partitura para O Tesouro de Sierra Madre / The Treasure of Sierra Madre e foi o responsável pela música da obra-prima de John Ford, Rastros de Ódio / The Searchers / 1956. Seus últimos scores foram para Somente os Fracos se Rendem / Those Calloways da Walt Disney Productions e para o filme de horror psicológico 7 Dias de Agonia / Two on the Guillotine da William Conrad Productions, ambos realizados em 1965. A falta de trabalho nos últimos anos de sua vida foi devido ao surgimento de um novo gôsto em matéria de música de filmes. Outra contribuição para a sua carreira em declínio foi a visão deficiente e estado de saúde deteriorado, que o obrigaram a se aposentar.

A contribuição de Max Steiner para a indústria cinematográfica é incomensurável. Ele foi um dos pioneiros da música de filmes e seu trabalho ajudou a moldar a forma pela qual a música é usada nos filmes hoje. Steiner foi o primeiro compositor a usar uma orquestra sinfônica completa em uma partitura e também o primeiro a usar o leit motif ou motivo condutor, espécie de “marca sonora” do personagem ou melhor, um tema musical que se repete frequentemente ao longo de uma obra, associado a um determinado personagem.

Em1937 Steiner compôs aquela fanfarra triunfante que se ouvia, acompanhando o logotipo da Warner Bros, no início da maioria dos filmes deste estúdio. Ela foi usada pela primeira na abertura do filme Nobres sem Fortuna / Tovarich, deliciosa comédia sofisticada com Claudette Colbert e Charles Boyer, dirigida por Anatole Litvak.

Steiner, o Pai da Música de Filme

A filmografia de Max Steiner é descomunal. Deixei de mencioná-la na sua totalidade, para não cansar os leitores. Porém não posso deixar de citar mais alguns filmes como Alma em Suplício / Mildred Pierce / 1945, As Aventuras de Don Juan / The Adventures of Don Juan / 1948 e Vontade Indômita / The Foutainhead / 1949. Sua influência sobre a arte da composição cinematográfica é enorme. Ele é frequentemente referido como “O Pai da Música de Filme”.